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1 L Ferramentas da Genética Molecular Humana Urn dos principals objetivos da genética médica moderna é com- preender a base molecular das mutações que levam a uma doen- ça genética e usar esía informação para melhorar os métodos de diagnostic© e trataraento- Os avanços em nossa compreensão da genética molecular tern contribm'do consideravelmente para o desenvolvimemo de novas e revolucíonárias tecnologias que permitem a análise detalhada de genes normals e anormais. A aplicação destas técnicas tern tanto aurnentado a compreensão dos processos moleculai'es em todos os m'veis, do gene ao orga- nismo inteiro, quanio apoiado o desenvolvimento de uma ampla gama de procedimentos laboratoriais para a detecção e o diag- nóstico das doenças genéticas. Este capííulo não preíende ser um livro de receitas para expe- rimentos genéticos ou métodos de diagnóstico laboratorial. Ao conírário, serve apenas corao uma inírodução para as técnicas que têm sido e continuarn a ser amplamente responsáveis pelos avan- ços tanto na pesquisa básica quanto na genética aplicada Os conteúdos desíe capftulo suplementam o material básico apre- sentado nos Caps. 3 e 5 e fornecern uma base para a compreen- são de grande parte da inforrnação genéíica conlida nos capítu- ios que se seguem. Os leitores que tiveram um curso ou uma experiência laboiatoriaí em genética molecular humana podem usar este capítulo como uma revisão ou pulá-lo inteiramente sem que isso vá mterferii na continuidade do texto Para outros que acham o material deste capítulo muito resumido, as técnicas modernas mais detalhadas, juntamente com referências comple- tas, podem ser encontradas nas Referências Gerais citadas ao final deste capítulo. ANÁLÍSE DO DNA INDIVIDUAL E SEQÜÊNCIAS DE RNA Os geneticistas moleculares enfrentam dois obstáculos fun damentals para desenvolver suas investigates sobre a base molecular das doenças hereditárias. O primeiro obstáculo é obter uma quantidade suficiente de uma seqüência de DNA ou RNA de interesse que permita sua análise, pois em geral cada célula tern apenas duas cópias de um gene e alguns ge nes podem ser transcritos apenas em certos tecidos ou apenas em pequena quantidade, ou ambos, gerando urn pequeno nii- mero de moléculas de RNA mensageiro (mRNA). 0 segundo obstáculo é o de purificar a seqiiência de interesse dentre to- dos os outros segmentos de DNA ou moléculas de mRNA presentes na célula. As ultimas três décadas testemunharam uma revolução tecnológica que resolveu tanto os problemas de quantidade quanto os de purificação Estas duas tecnolo gias completares são a clonagem molecular e a reação em cadeia da polimerase (PCR) (Fig 4 1) Como muitos avanços tecnológicos, estes possuem seu jar- gao, cujo dominio pode parecer mais importante que os concei- tos envolvidos (ver boxe). Clonagem Molecular O processo de clonagem molecular envolve a tiansferência de uma seqüência de DNA de interesse para uma tínica célula de um microrganismo. 0 microrganisrno é subseqüentemente cul- tivado, de modo a reproduzir a seqüência de DNA junto com seu próprio complemento de DNA, Grandes quantidades da seqiiên- cia de interesse podem ser isoladas em forma pura para uma análise molecular detalhada (ver Fig. 4 1), Enzimas de Restrição Um dos principals avanços no desenvolvimento da clonagem molecular foi a descoberta, no inicio da década de 1970, das endonucleases de restrição bacterianas (em geral chamadas de enzimas de restrição), enzimas que reconhecem seqüênci- as bifilamentares especificas no DNA e clivam o DNA no sitio de reconhecirnento ou proximo a ele Por exemplo, a enzima de restrição EcoRl reconhece a seqüência especi'fica de seis pares de bases 5'-GAATTC-3' sempre que ela ocorre na molécula bifílamentar de DNA A enzima cliva o DNA neste sitio introduzindo um corte em cada filarnento entre o G e o A adjacente. A clivagem gera dois firagmentos, cada um com quatro bases, com pontas unifilamentares (Fig. 4.2). Tais pon- tas "adesivas" são úteis para as reações subseqüentes de união na consírução de moléculas recombinantes de DNA. Outras enzimas de restrição reconhecem seqüências diferentes de nucleotideos que são especificas para cada enzima em parti cular Hoje são conhecidas mais de 1 000 destas enzimas, Algumas das mais comurnente usadas são mostradas no Qua- dro 4.1 A maioria das enzimas de restrição tem sitios de re conhecirnento que consistem em quatro ou seis pares de ba- FERRAMENTAS DA GENÉTICA MOLECULAR HUMANA I 29 A Linguagem da Tecnologia do DNA Recombinante Biblioíeca: urna coleção de clones recombmantes de uma fonte conhecida como contendo o gene, o cDNA ou outras seqüências de DNA de interesse. Em prindpio, uma bibiiote- ca pode confer todas as seqüências de DNA ou cDNA repre- sentadas na célula, no tecido ou no cromossomo original. Uso: "uma biblioteca de cDNA de músculo" ou "uma biblioteca genòmica humana", Clone: uma molécula de DNA recombinante contendo um gene ou outra seqüência de DNA de interesse Também, o ato de gerar tal molécuía Uso: "para isolar um clone" ou "para clonai umgene". DNA Complementar (cDNA); um DNA sintético feito por uma DNA polimerase especial conhecida como transcrip- tase reversa, que usa o RNA mensageiro (mRNA) como mol- de, Usado para se referir seja a uma cópia unifilamentar seja a seu derivado bifilamentar. Uso: "um clone de cDNA", "uma biblioteca de cDNA" ou "para isolar um cDNA". End on tic leases de restrição (enzimas de restrição): en- zimas que reconhecem seqüências bifilamentares específícas de DNA e cortam o DNA no sitio de reconhecimento ou pro ximo a ele. Uso:" uma digestão com enzima de restrição" (ou apenas "uma digestão de restrição") ou "a enzima de restri- ção EcoBÍ". Hibridização: o ato de duas moléculas de ácido nucleico complementares e unifilamentares formarem ligações de acor- do com as regras de pareamento de bases (A com T ou U, G com C) e se transformarem em uma molécula bifilamentar. Uso: "A sonda hibridizada a urn gene," Hospedeiro: o organisrno usado para isolar e propagar uma rnolecula de DNA recombinante Em geral uma linhagem da bacteria Escherichia coli ou da levedura Saccharomyces ce- revisiae. Uso: "Em que hospedeiro clonar?" Inserção: um fragmento de DNA clonado em um deter- minado vetor. Uso: "Eles purificaram a inserção," Ligação: o ato de formal ligações fosfodiéster para unir duas moléculas bifilamentares de DNA com a enzima DNA ligase. Uso: " Os fragmentos foram ligados." Oligonucleotideo: um filamento curto de ácido nucleico que varia de tamanho desde alguns pares de bases até algu- mas dezenas de pares de bases, em geral sintetizado quimica- mente. Em geral chamado de um "oligo" Primers (para PCR): dois oligonucíeotídeos, um de cada lado de uma seqüência-alvo, de modo a que um dos primers seja complementar a um segmento de DNA de um filamento e o outro seja complementar a um segmento de DNA do outro filamento de uma molécula de dupla hélice de DNA, Um par especifico de primers serve para iniciar a sintese de DNA em uma reação de PCR. Uso: "Fiz pri- mers para PCR." Reação em cadeia da polimerase (PCR): amphficação enzimática de um fragmento de DNA situado entre um par de primers. Uso: "fiz uma PCR do fragmento" ou "isoíei o fragmento usando PCR". Sonda: uma rnolecula de DNA ou RNA clonada, marcada com radioatividade ou outro traçador detectável, usada para iden- tificar suas seqiiências complementares por hibridização mole cular; também, o ato de usar tal molécula. Uso: "a sonda de j3- globina" ou "sondar o DNA de um paciente'V Transferência de Southern: um filtro para o qual o DNA foi transferido, em geral após a digestão com a enzima de restrição e eletroforese em gel para separar as moléculas de DNA por tamanho (assim nomeada em homenagem a querndesenvolveu a técnica, Ed Southern); tambérn, o ato de gerar tal filtro e hibridizá-io a uma sonda especifica. Uso: "sondar uma transferência de Southern" ou "eles fizeram uma Sou thern". Transferência Northern: um filtro para o qual o RNA foi transferido após eletroforese em gel para separar as molécu- las de RNA por tamanho, assim denominada em comparação à transferência de Southern (ver mais adiante); também, o ato de gerar tal filtro e hibridizã-lo a uma sonda especifica. Uso: "sondar uma transfèrência Northern" ou "fizeram uma Nor thern". Transferência Western: um filtro para o qual foi transfe- rida uma molécuía de proteína após eletroforese em gel para separar as moléculas de proteinas por tamanho (assim desig- nada como uma brincadeira com o nome de Southern, tal como a Northern); também, o ato de gerar tal filtro e expô-lo a um anticorpo especifico Uso: "sondar uma Western" ou "eles fi zeram uma Western" Vetor: a rnolecula de DNA na qual o gene ou outro frag mento de DNA de interesse é clonado, capaz de se replicar em um determinado hospedeiro.. Os exemplos incluem plas- mídeos, bacteriófago lambda, cosmídeos e cromossomos ar- tificiais de leveduras ou bactérias Uso: "um vetor de clona- gem" ou "o vetor cosmideo". ses, embora algumas tenham sitios maiores Em geral, as se- qüências são palindromos, isto é, a seqüência de bases no si tio de reconhecimento, lida de 5' para 3', é a mesma em am- bos os filamentos, A clivagem de uma rnolecula de DNA com uma determina- da enzima de restrição digere o DNA em uma coleção caracte- ristica e reproduzivel de fragmentos, os quais refletem a fre- qüência e a localização de sitios específicos de clivagem. Esta propriedade das enzimas de restrição tern duas implicações im portances e centrais ao seu papel na tecnologia do DNA recom binante e à sua aplicação em genética médica. Primeira, a di- gestão de amostras do DNA genômico com, por exemplo, a enzima EcoRl gera uma coleção de cerca de 1 milhão de frag mentos de £coRI, cada um de um determinado local no geno- ma. Como EcoRl cliva um DNA bifilamentar especificarnente em cada 5'-GAATTC-3' que encontra, e como mesmo uma única mudança de base em um potencial sitio de clivagem abole seu reconhecimento e clivagem pela enzima, tal digestão per mute que se examine, de fato, esta seqüência particular de seis nucleotideos em aproximadamente 1 milhão de locais no ge- noma, (Em media, uma enzima com um sitio de reconhecimento de seis pares de bases deve cortar o DNA humano a cada 46 pares de bases, ou uma vez a cada 4 kb. Na realidade, entretan- to, tais sitios não estão situados aleatoiiamente, refletindo a cornposição particular' de bases e seqüências de diferentes re- giões do genoma, e são observados fragmentos de EcoRl vari- ando de tamanho desde alguns pares de bases até mais de 1 rnilhão de pares de bases.) 30 ' FERRAMENTAS DA GENÉTICA MOLECULAR HUMANA Seqúência de interesse Céiula humana *-o°c o 0 Digestão corn enzima de restrição 0-* ísolar e replicar o clone com a seqüência de interesse Biblioteca de diferentes fragmentos Mistura de fragmentos de restrição Fragmentos com seqüência de interesse amplificada por PCR Fig.. 4.1 O uso da clonagem molecular e da reação em cadeia da polirnerase (PCR) para isolar arbitrariamente grandes quantidades de uma seqiléncia em particular de DNA de interesse na forma pura Segunda, todas as moléculas de DNAdigeridas com EcoRl, não importa sua origem, tern pontas adesivas unifilamentares idênticas, independents da naiureza das seqüências de DNA flan- queadoras de um determinado sitio de EcoRl, Portanto, quais- quer duas moléculas de DNA que tenham sido geradas por di- gestão com EcoRl podem ser unidas in vitro pela interação de suas pontas complementares de quatro bases, que é seguida pelo término das seqüências fosfodiéster em cada filamento por uma enzima chamada DNA ligase. Esta etapa de ligação cria uma molécula de DNA "recombinante", com uma ponta derivada de uma fonte de DNA e a outra derivada de uma fonte diferente (ver Fig, 4.2), Muitas enzimas de restrição, tais corno a EcoRl, ge- ram pontas adesivas curtas. Outras, entretanto, cortam ambos os Filamentos no mesmo local, deixando pontas retas. A DNA liga se pode unir pontas retas criadas por uma enzima de restrição que corte o DNA sem deixar pontas adesivas- Vetores Um vetor é uma molécula de DNA que pode se replicar de modo autônomo em um hospedeiro, tal como uma bacteria ou células de levedura, do qual pode ser subseqüentemente isolado em for ma pura para análise, A clonagem de fragmentos de DNA hu- rnano em um vetor por meio de enzimas de restrição e DNA li gase, como descrito, permite a propagação de um fiagmento clo- nado juntamente com a molécula vetor. Como os vetores repli- cantes em geral podem ser obtidos em um alto núrnero de cópias por célula, e como o hospedeiro bacteriano ou de levedura pode ser cultivado indefinidamente no laboratório, podem ser obtidas grandes quantidades de seqüências do DNA de interesse. A ha- bilidade de gerar qualquer número desejado de cópias idênticas (clones) de urna seqüência em particular é um produto da tec- nologia do DNA recombinante O nome "DNA recombinan- te" refere-se a novas combmações de DNA criadas in vitro entre seqüências de DNA humano (ou outro) de interesse e moléculas vetores bactenanos (ou outro) capazes de duplicação indefinida dentro de uma linhagem de laboratório de microrganismos, Vá- rios vetores são comumente usados para este fim, cada um com suas vantagens e limitações (Quadro 4.2) PLASMÍDE05 Os plasmideos são moléculas circulares e bifilamentares de DNA que se replicam extracromossomicamente em bactérías ou leveduras. Os plasmideos usados como vetores são deriva- dos de rnoléculas circulares de ocorrência natural que foram descobertas primeiro em bactérias porque levavam genes de resistência a antibióticos e podiam ser facilmente passadas de uma bacteria para outra, espalhando assim a resistência a anti- bióticos com rapidez pela população rnicrobiana. Os plasmi deos especificarnente destinados à clonagem molecular em geral são pequenos (vários kb de tamanho) e contêm uma origem de repücação (para se replicar em Escherichia coli ou em levedu ra), um ou mais marcadores selecionáveis (tais como um gene que confere resistência a antibióticos) e um ou mais sitios de restrição que podem ser cortados e usados para a ligação de moléculas exógenas de DNA, Um esquema das etapas impor- tantes envolvidas na clonagem de DNA no sitio de EcoRl de um plasmfdeo é mostrado na Fig. 4.2. A identificação de colô- nias que contêm o plasmfdeo recombinante desejado, seguida de um crescimento em massa e do isolamento de DNA plasmi- dial puro, permite o isolamento de grandes quantidades da in- serção clonada A clonagem em plasmideos é um procedimen- to padrão para a analise de moléculas pequenas de DNA (ver o Quadro 4,2). BACTERIÓFAGO LAMBDA Outro vetor muito usado é o bacteriófago lambda, um virus bacteriano com uma molécula de DNA bifilamentar relativa- mente grande (cerca de 45 kb)- Após infectar uma E. coli, lambda replica-se para produzir grandes numeros de virus infecciosos, rompendo a bacteria (Use) e liberando cerca de 1 milhão de bacteriófagos Cerca de um terço do genoma de bacteriófago não é essencial (indicado como "fragmentos in- ternos" na Fig. 4.3) para o crescimento e a lise e pode ser substituido por outras seqüências de DNA, Assim, o fago lambda é extremamente adequado à clonagem de trechos de DNA humano de até 20 kb FERRAMENTAS DAGENÉTICA MOLECULAR HUMANA * 31 DNA humano Vetor Bacteria DNA cromossômico DNA do plasmfdeo Crescimento em placas seletivas Crescimento bacteriano Isolamento do DNA do plasmfdeo em grandesquantidades Fig. 4.2 O processo de clonagem de urn segmento de DNA humano {entre dois sítíos de EcoRI) em urn vetor de clonagem plasmidiai Aqui, ori' indica a origem da repíicação dò DNA para replicação do plasmideo nas células bacterianas; "ampr" e tetr" indicam genes bacterianos que conferem resistência à amplcilina e à tetraciciina 0 crescimento de bactérias em placas contendo antibióticos seleci- ona as céíulas que contêm cópias do plasmideo, com a inserção humana clonada. (Modificada de Fritsch E R. Wozney j.M [19941 Me thods of molecular genetics ifi Stamatoyannopoulos G , Nienhuis A W , Majerus P W, Varmus H |eds | The Molecular Basis of Blood Diseases. 2aed WB Saunders, Philadelphia ) COSMÍDEOS E CROMOSSOMOS ARTIFICIAL DE BACTÉRIAS Uma desvantagern dos plasraídeos padrão corao vetores é que eles são ineficientes para a inüodução de moléculas de DNA recombinante nas bactérias se as inserções forern maiores que cerca de 20 kb. Um método para superar esta ineficiência foi o desenvolvimento de vetores cosmideos, Os cosmideos são essen- cialmente plasmideos que usam a habilidade das partfculas in- fecciosas do bacteriófago lambda para "embalar" eficientemen- te grandes pedaços lineares de DNA em capas de proteina que então se ligam à superficie das bactérías e injetam seus conteú- dos de DNA. A limitação do tamanho de inserção do cosrnideo é que lambda não é capaz de acomodar seu DNA (ou um cosrni deo), haja ou não uma inserção, se o cromossomo do bacteriófa- go exceder a aproximadamente 50 kb de tamanho, Após a infec- ção da bacteria de um modo simiiai ao do virus lambda, o cos rnideo rectrculariza-se e replica-se como um grande plasmideo, Os fragmentos de DNA exógeno com duas vezes o tamanho das inserções de fago lambda podem ser clonados em vetores cos mideos. No final da década de 1990, tomou-se disponfvel a tecnologia paia clonai, em bactérias, fragmentos de DNA muito maiores que os cosmideos.. Tais plasmideos enormes são chamados de cromos- somos artificiais de bactérias (BACs). Os BACs podem levarin- serções de DNA humano de 100 a 300 kb de tamanho, O uso de vetores cosrnideo ou B AC para clonagem é essenci- almente o mesmo que o mostrado para os plasmideos na Fig- 4,2, A diferenca entre plasmideos, cosmideos e BACs é como os vetores portadores destas grandes inserções são introduzidos nas bactérias, 32 < FERRAMENTAS DAGENÉT1CA MOLECULAR HUMANA QUADRO 4-1 Exemplos de Enzimas de Restrição e suas Seqüências de Reconhecimenio Enzimas de Restrição Fonte Seqüências de Reconhecimento* BamHl EcoW HaeW HindUl Noã Sau 3A Sim Bacillus amyloliquefaciens H Escherichia coli RY 13 Haemophihts aegyptius Haemophilus influenzae Kó Nocardia otirídh-cavarium Slaphylococcus aureus 3A Streptomyces Stanford 5'~GAGATCC-3' 3'-CCTAGAG-5' G A AATT C C TTAA A G GGACC CCAGG A A AGCT T T TCGA A A GC A GGCC GC CG CCGG A CG AGATC CTAGA CC GC A GG GG A CG CC * Todas as seqiiencias de reconhecimenio sao dadas na polandade 5' -> 3', como moslrado para BamHl Os sitios de clivagem em cada Ftlamento são indicados por circunflexos CROMOSSOMOS ARTIFICIAIS DE LEVEDURA Para muiios dos enfoques de clonagem gênica e mapeamento gênico, ilustrados no Cap 8, é vantajoso isolar o maior pedaço possfvel de DNA humano O vetor de clonagem com a maior capacidade é o cromossomo artificial de levedura (YAC). Dois braços, urn contendo um telômero de levedura, urn centromere e um marcador selecionável e outro contendo um telômero e um segundo marcador selecionável, estão íigados às pontas de gran- des fragmentos de restrição gerados pela digestão parcial do DNA genômico, ciiando assim um cromossomo artificial (Fig. 4.4). Estes fragmentos são transferidos para um hospedeiro, Saccha- rornyces cerevisiae (levedura do pao), onde se repíicam e se se- gregam corno cromossomos normais lineares de levedura. Os YACs permitem a clonagem e o isolamento de fragmentos de DNA de até i 000 a 2.000 kb de tamanho, bem menores que um cromossomo humano normal, mas aproximadamente do mesmo tamanho de um cromossomo normal de levedura. Construção de Bibliotecas A finalidade da clonagem molecular, logicamente, é isolar um determinado gene ou outra seqúência de DNA em grandes quan- tidades para posterior estudo Um enfoque comum para gerar grandes quantidades de uma seqüência é construir um conjunto de clones de bactérias ou leveduras que contenham um vetor no qual os fragmentos de DNA fòram inseridos Tal coíeção de clo- nes é chamada de biblioteca, a qual, pelo menos teoricamente, contém todas as seqüências encontradas na fonte original, inclu- indo sua seqüência de interesse. Temos, então, que identificar o clone ou os clones de interesse na biblioteca usando métodos sensíveis de triagem que, em alguns casos,. são capazes de en- contrar até mesmo uma única cópia do clone de interesse em uma coleção de até 10 milhões de clones iniciais BIBLIOTECAS GENOMICAS Um enfoque para consrruk uma biblioteca de DNA genômico é mostxado na Fig. 4.3. O DNA genômico humano é parcialmente digerido com uma enzima de restrição como a Sau3 A de tal modo que alguns dos sitios são cortados e outros, não. Deste modo, se ocorrer a clivagem aleatória de tais sitios, poderá ser obtida uma coleção de fragmentos superpostos de tamanhos adequados para clonagem e ligados aos "braços" do bacteriófágo lambda prepara- dos de modo que as pontas SauSK dos fragmentos de DNA hu mano possam ser ligados ao vetor (ver Fig. 4.3). Após o acondici- onamento do cromossomo lambda recombinante em particulas infecciosas de bacteriófago, a biblioteca, contendo 1 milhão ou mais fragmentos do DNA genômico, pode ser estocada para futu re isolamento de muitos genes. Bibliotecas genômicas contendo fragmentos muito maiores de DNA genôrnico têm sido feitas por meio da produção de YACs contendo DNA parcialmente digeri do com, por exemplo, EcoBl (ver Fig. 4 4). BIBLIOTECAS DE DNA COMPLEMENTAR Outro tipo comum de biblioteca usada para isolar genes é a bi blioteca de cDNA, a qual representa cópias de DNA complemen- tar (logo, cDNA) da população de mRNA presente em um de terminado tecido. Tais bibliotecas de cDNA em geral são prefe- ríveis às bibliotecas genômicas como uma fonte de genes clona- dos (1) porque o clone obtido é uma representação direta das QUADRO 4-2 Exemplos de Vetores Comumente Usados em Clonagem Molecular Tipo de Tamanho Vetor Hospedeiro Clonagem da Inserçao Plasmfdeos Bacteriófago lambda Cosmideos BACs YACs Bactérias, leveduras Bactérias Bactérias Bactérias L-eveduras Genômica, cDNA GenórnJca, cDNA Genômica Genõrrüca Genômica Até ± 15 kb Até± 20 kb Até ± 45 kb delOOa 300 kb delOOa 2.000 kb BAC = cromossomo artificial de bactérias; YAC ~ cromossomo artificial de leveduras. FERRAMENIAS DA GENÉTICA MOLECULAR HUMANA ' 33 Sitios de Bam HI "Braço esquerdo" "Braço direito" DNA vetor Digestão com Bam HI DNA genómíco humanp Fragmentos internos Remover fragmentos internos não essenciais à replicação do fago Digestão parcial com Sau 3A para obter fragmentos de ± 20 kb de tarnanho -■^s'~< "Braço esquerdo" "Braço ínserção de "Braço direito" esquerdo" ± 20 kb "Embalar" em bacteriófago e infectarE. coli Biblioteca de fragmentos de DNA humano etc Fig. 4.3 Construçãode uma "biblioteca" de DNA do genoma humano em um bactenofago vetor Cada uma das particulasde fago recom- binante na parte inferior content um fragmento diferente do DNA humano Uma coleção de vários milhares de tats fagos representaria todo o DNA do genoma humano seqüências codificantes, sem introns ou outras seqüências não- codificantes encontradas no DNAgenômico, e (2) porque o uso de uma determinada fonte de mRNA em gerai enriquece subs- tancialmente as seqüências derivadas de um determinado gene conhecido como expresso seletivamente neste tecido. Por exenv plo, o gene de /3-globina é representado em apenas uma parte por miíhão em uma biblioteca genôrnica humana, mas é o principal mRNA transcrito nas hemácias. Assim, uma biblioteca de cDNA preparada de hemácias representa uma excelente fonte de clo- nagem para isolax cDNAs do gene de jS-globina. Similarxnente, uma biblioteca de cDNA de figado ou mtlsculo é uma boa fonte de clones para genes conhecidos como expressos preferenciai ou exclusivamente nestes tecidos. Um cDNA, entretanto, contém apenas os éxons de um gene, mas não os introns ou seqüências promotoras. Alem disso, um cDNA não fornece nenhuma indi- cação do tarnanho ou do nurnero de éxons ou a seqüência dos pontos de corte em 5' e 3'. Vários métodos foram desenvolvidos para clonar cDNAs, todos eles baseados na enzima fcranscriptase reversa, uma DNA polirnerase dependente de RNA derivada de retrovirus que pode sintetizar um Filamento de cDNA a partir de um mol- de de RNA (Fig. 4.5). A transcriptase reversa necessita de um primer para iniciar a sintese de DNA Em geral, é usado um oligonucleotídeo contendo timinas (oligo-dT) Este curto ho- mopolímero liga-se à cauda poliA na ponta 3' das moléculas de mRNA (ver Cap, 3) e assim inicia a sintese de uma copra complementar Este cDNA unifilamemar é então convertido em uma molécula bifilamentar por um dos vários rnétodos dispo- nrveis, e o cDNA bifilamentar' pode então ser ligado a um ve tor adequado, em gerai um plasmideo ou um bactenofago, para 34 ' FERRAMENTAS DAGENÉTICA MOLECULAR HUMANA Braços do YAC DNA genômico humano ( Telõmero Mar. !2 selecionável Centrômero Telômero — z » — Marcador ne1 selecionável —:_cr rrS Q ^ C l ^ / f " Digestao parcial com ~s -\-xy-*- i v EcoRi para obier "~^_^i^/~m^ fragrnentos > 500 kb »-®-l r—g VAC Transformar em levedura Selecionar marcadores nB1 e n°2 Biblioteca de leveduras, cada uma contendo urn YAC que leva um fragmento genômico humano diferente Fig. 4.4 Construçâo de uma biblioteca genômica em cromossomos artificials de levedura (YACs) Grandes fragrnentos ( > 500 kb) de DNA humano são gerados por digestão parcial com EcoR] do DNA genôrnico humano Cada braço do vetor contém um teiôrnero em uma ponta e uma EcoR! compatfvel na outra ponta Cada um tambérn tern um marcador selecionávej diferente. e um braço contém ainda um centrômero Os braços do vetor são ligados aos fragrnentos de DNA humano para gerar um cromossomo linear artificial com telômeros de levedura e marcadores selecionáveis em cada ponta e um centrômero de levedura em uma ponta Os YACs são transferidos para a levedura. e os marcadores selecionãveis são usados para selecionar apenas as leveduras que contêm o YAC apro- priadamente construfdo criar uma biblioteca de cDNA que represente todos os mJRNA oiiginalmente transcritos encontiados no tipo de célula ou te- cido inicial (ver Fig. 4.5). Alguns vetores inteligeniernente construidos, chamados de vetores de expressão, contêm sinais de transcrição e tradução adjacentes ao sítio de inserção do cDNA, para faciliiar a expressão da proteina codificada pelo cDNA clonado em E coli ou em levedura. Bibliotecas representative de cDNA de muitos tecidos dife rentes ou de épocas diferentes do desenvolvimento são fontes valiosas para a clonagem gênica, Hqje, centenas de tais bibliote cas estão amplamente disponfveis e são a fonte de clones usados em seqiienciamento para gerar enormes bancds de dados de se- qüências marcadas expressas como parte do Projeto do Geno- ma Humano (ver Cap. 8). Sondas de Ácidos Nucleicos Uma vez feita uma biblioteca, a etapa seguinte é identificar o clone portador da seqüência de interesse dentre os milhões de outios clones portadores de outros fragrnentos. A identifícação do clone portador de uma inserção de interesse é chamada de triagem de biblioteca, A tiiagem de uraa biblioteca era geral é feita com uma técníca muito usada em genética molecular, conhecida como hibridização de ácidos nucleicos. Em uma reação de hibridização, ácidos nucleicos unifilamentares são rnistitrados sob condições de temperatura e concentração de sal que permitem apenas o pareamento correto de bases (A com T, G com C) entre os filamentos de DNA. Apenas os filamentos de pares de bases que são corretos podem formar um ácido nucleico bifilameníar estável. Não serão formadas moléculas bifllamentares estáveis entre seqüências não-complementares na mistura (Fig.. 4.6).. A especificidade da hibridização de ácidos nucleicos para fi lamentos complementares possibilita o uso de sondas de ácidos nucleicos. Uma seqüência (o "alvo") em uma mistura de ácidos nucleicos é testada quanto à sua complementariedade a um frag mento de DNA ou RNA de seqiiência conhecida (a "sonda"), que foi marcada com um traçador radioativo, um composto bioqui- mico ou um corante fluorescente para permitir que a sonda seja subseqüentemente detectada, Por exemplo, um rnodo comum de marcar uraa sonda é com o fósforo 32 (32P), cuja alta energia é exposta em um filme de raios X. Podemos introduzir 32P em uma sonda por uma variedade de métodos que adicionam o 32P à es- trutura fosfodiéster de um filamento de DNA. Se a sonda for FERRAMENTAS DA GENÉTÍCA MOLECULAR HUMANA ! 35 compiementar ao alvo, ela forrnará uma molécula bifilameníar estável. A seqüência-aivo no DNA original ou amostra de RNA agora é identificada pela marcação na sonda, facilitando, assim, sua subseqüente detecção e analise ou isolamento. As sondas podem ser clonadas genomicamente ou as molé- cuias de cDNA podem ser obtidas pelo uso da tecnologia do DNA recombinante, fragmentos de DNA gerados por PCR (ver discussão mais adiante) ou moléculas de ácido nucleico sinté- ticas (em geral DNA) As sondas derivadas de DNA clonado ou geradas por PCR em geral são de várias centenas a vários milhares de nucleoíídeos de tamanho. Também podemos usar como sondas quimicamente sintetizadas moléculas unifilamen- tares de DNA, tipicamente com 15 a 60 nucleotideos de tama nho, conhecidas como sondas oligonucleotidicas ou, apenas, oligonucleotideos. A hibridização dos ácidos nucleicos é um conceito fundamen tal em biologia molecular A técnica é usada não só para a tria- gem de bibliotecas de DNA clonado, mas tarnbém, de modo mais geral, para a analise de DNA ou RNA nas células e tecidos, como descrito na próxima seção deste capítulo. METODOS DE ANALISE DOS ACIDOS NUCLEICOS A analise de RNA ou DNA, ou de ambos, requer a detecção de uma determinada seqüência de DNA ou RNA dentre todas as outras muitas seqüências presentes em uma amostra de células ou tecidos. Ao analisar o DNA genômico, o problema é encon- trar e examinar o fragmento especifico de DNA de interesse em uma mistura complexa de DNA genômico que contém vários milhões de fragmentos de DNA. For exemplo, podemos usar uma sonda para o gene de /3-globina para examinar uma amos tra do DNA de um paciente pela analise de Southern (ver mais adiante) quanto a uma mutação especifica tida como responsá- vel pela anemia falciforme. Com amostras de RNA, o proble ma é detectar e medir a quantidade e a qualidade de um deter minado mRNA em uma amostra de RNA de um tecido no qual o mRNA desejado possa constribuir com apenas 1/1.000 ou menos do total de RNA transcribe Por exemplo, podemos que- rer usar uma sonda para o gene da distrofina ligado ao X para fazer uma analise Northern (ver mais adiante) de uma amostra de RNA de músculo obtida de um paciente portador de distro- fia muscular Duchenne ligada ao X para mRNA transcritos de distrofina. A soíução para este problema de detectar uma se- qüência raradentre muitas envolve o uso de eletroforese em gel para separar as moléculas de DNA ou RNA pelo tamanho e então fazer a hibridização dè ácidos nucleicos com uma sonda para identificar a molécula de interesse, Transferência de Southern A técnica da transferência de Southern, desenvolvida em mea- dos da década de 1970, é o método padrão para a analise da es- tiutura do DNA cortado porenzimas de restrição, Neste proce- dimento, diagramado na Fig 4 7 para uma amostra de DNA ge- nômico, o DNA primeiro é isolado de uma fonte acessivel. Qualquer célula do corpo pode ser usada como fonte de DNA, exceto as hemácias maduras, que não têm núcleo. Para a anali se de amostras do DNA de um paciente, preparamos o DNA genômico de linfócitos obddos por venopunção rotineira. Uma amostra de 10 ml de sangue periférico contém cerca de 108 leu- cócitos e fornece mais de 100 fig de DNA, o que é suficiente para dezenas de digestões com enzimas de restrição, 0 DNA genômico também pode ser preparado de outros tecidos, inclu- indo culturas de fibroblastos, liquido amniótico ou céluías de vilosidade coriônica para diagnóstico pré-natal (ver Cap 18), bem como qualquer amostra de biópsia de órgão (p, ex., figa- mRNA 5' A A A A 3' Rlamenlo de cDNÁ 31 cDNA 5' bifilamentar 3' -<■ Transcriptase reversa A A A A 3' ~ T T T T 5 ' I Remover mRNA, sfntese do segundo filamento - ^ . 3' — 5' Clonar em vetor apropriado Vetor Biblioteca de clones de cDNA etc cDNAl cDNA2 cDNA3 Fig, 4,5 Construção de uma biblioteca de cDNA em um plasmideo vetor O RNA de um determinado tecido é copiado no DNA pela enzima transcriptase reversa Após a si'ntese do segundo filamento compiementar. 0 cDNA bifilamentar é então clonado 36 i FERRAMENTAS DA GENÊTICA MOLECULAR HUMANA DNA bifilarnentar DNA unifilamentar DNA bifilarnentar renaturado Fig. 4.6 O princfpio da hibridização dos ácidos nucleicos Os dois filarnentos cornple men tares de uma dupla hélice de Watson-Crick podem ser "desnaturados" por uma variedade de tratamentos (tats como aita temperature. pH alto ou condições de pouco sal) para produzir uma coleção de moíéculas unifilamentares de DNA Sob condições que favorecem a formação de DNA bifilarnentar renaturado. os filarnentos corn piemen tares irão se "hibridizar" uns corn os outros, mas não com outros filarnentos de DNA que tenham uma seqüên- cia de nucleotfdeos diferente do, rins, placenta). Os fragmentos distmtos de DNA, ceica de 1 rrúlhão, gerados por clivagern com enzimas de iestríçSo de uma amostra de DNA genômico são separados, com base no tarnanho, por eletroforese em gel de agarose, na qual os frag mentos pequenos movem-se mais depressa em urn campo elé- trico do que os maiores. Quando o DNA digerido separado deste modo é corado com um DNA fluorescente, tal como o brome- to de etidio, os fragmentos de DNA genômico surgem como um esfregaço de material fluorescente, porque em geral exis- tem muitos fragmentos de DNA para que algurn se destaque dos outros (Fig 4.8, esquerda). A técnica da transferência de Sou thern nos permite encontrar e examinar, em um m'vel grossei- ro, um ou dois fragmentos de ínteresse nesta aparente coleção não-informativa de um milhão ou mais de fragmentos de res- trição. Os fragmentos bifilamentares de DNA sao primeiro desnaturados com uma base forte para separar os dois filarnen tos complementares de DNA (ver Fig. 4,6). As rnoléculas de DNA, agora unifilamentares, são então transferidas do gel para um filtro de nitiocelulose ou náilon por capilaridade (donde o nome "transferência de Southern") Para identificar um ou mais fragmentos de interesse dentre os milhões de fragmentos no filtro, é usada uma sonda especí- fica marcada. Como descrito antes, a sonda em geral é um tre- cho de DNA clonado que foi marcado radioativamente e des- naturado para se toraar unifilamentar. A sonda marcada e o fil tro são incubados juntos em uma solução sob condições que favorecem a formação de moléculas bifilamentares de DNA (como na Fig. 4 6). Devido à extrema especificidade do parea mento de bases do DNA, a sonda se helicoidiza e forma pontes de hidrogênio estãveis apenas com seu filamento complemen tar no filtro, e não com todos os outros fragmentos de DNA. Se a sonda for um trecho de DNA genôrnico clonado, ela em ge ral se hibridizará a apenas um ou dois fragmentos no filtro, dependendo de como o gene (ou genes) na amostra original de DNA foi cortado pela enzima de restrição específica usada. Se a sonda for um cDNA clonado, entretanto, muitos fragmentos podem se hibridizar, pois o DNA genômico em geral não é colinear ao mRNA transcrito do gene devido à presença de ni trons (ver Cap. 3). Após ter sido lavado para remover a sonda não-ligada, o filtro (com sua sonda radioativa ligada) é expos- to a um filme de raios X para revelar a posição de um ou mais fragmentos aos quais a sonda se hibridizou. Assim, como mostra a Fig. 4.8 (direita), bandas radioativas específicas são detectá- veis no filme de raios X para cada coluna de DNA humano no gel de agarose original. Nesta amostra, a técnica de transferên- cia de Southern mostra que o gene para o receptor de andróge- no ligado ao X, que é responsável pelas características sexuais secundárias masculinas (ver Cap. 10), está ausente na amostra de DNA genômico de um paciente com smdrorne de insensibi- lidade androgênica ligada ao X (tambérn conhecida como fe- minização testicular). A transferência de Southern permanece o procedimento padrao para o diagnóstico de muitas doenças genéticas nos laboratories de diagnóstico molecular ao redor do mundo, mas tem sido freqiientemente substitufda por rnéto- dos baseados em PCR Análise corn Sondas Oligonucleotidicas Alelo-Especificas Quando uma determinada rnutação é conhecida em pelo me- nos alguns casos de uma doença genética, podemos refinar a anãlise de mutações para investigar se esta rnutação está pre- sente ou ausente em uma amostra de DNA de um determina- do paciente. A melhor sonda a usar para a detecção de uma determinada mutação de uma só base é um oligonucleotideo sintético, porque seu tarnanho curto o torna mais sensfvel até mesmo a um só pareamento enado entre a sonda e a amostra a ser analisada. Assim, uma sonda oligonucleotidica sinteti- zada para complementar exatamente a seqüência normal de DNA de um gene (um oligonucleotideo alelo-espedfico, ou ASO) só se hibridiza com a seqüência complementar normal, mas não com uma seqiiência complementar imperfeita, na qual há um ou mais pareamentos errados entre o alvo e a sonda (Fig. 4.9). De modo similar, uma ASO feita para a seqüência cor- respondente a um gene rautante so" se hibridiza com a seqüên- cia complementar, mas não com a seqüência em um gene normal E importante reconhecer a distinção entre a análise ASO e a análise convencional de Southern com sondas de DNA clona do, No caso das sondas de DNA clonado, a análíse em geral FERRAMENTAS DA GENEÍICA MOLECULAR HUMANA Í 37 DNA genõmico 2 • Digestão com . I enzima de 1 restrição Transferir DNA para ftltro de nitrocsluiose ou náilon Rltro K: K-- - - * ■ F v— %t-Â "!~ — » * , ^ , < * , . • K • * - ! \ 2 Gel Hibridização DNA-DNA com sonda marcada com «p' ■ a- Filtro Fiime de raios X Fig. 4.7 O procedimento da transferência de Southern para a analise de seqüèncias específicas de DNA em uma mistura complexa de seqüências diferentes. tais como o DNA genômíco Neste exemplo, a amostra 3 tern um padrao diferente de enzima de resitição para a seqüència de DNA detectada pela sonda. Esta variação pode ser decorrente de urn poiimorfismo de comprímento do fragmento de res- trição (ver Cap 6} ou a de uma deleção do DNA perto da seqüência detectada nao revela uma única alteração de base, a menosque, por aca- so, a iínica mudança de base crie ou destiua um sitio de enzima de restrição proximo à região de complementariedade da son da, aiterando assim o tamanho do fragmento detectado pela sonda Na grande maioria dos casos, os genes mutantes devi- dos a mudanças de uma so base ou a pequenas mudanças no DNA (pequenas deleções ou inserções, por exemplo) sao in- distinguiveis dos genes noimais por análise de Southern feita usando sondas de DNA clonado padrão. Apenas as sondas ASO pequenas tern a habiHdade de de tec tar de modo confíável as alteracões de um nucleotfdeo. A análise de ASO permite a exata identificação de uma se- qiiência de DNA em particular e pode distinguir as pessoas que poitam a seqüência normal de DNA em ambos os cromossomos, a seqüência mutante em ambos os cromossomos ou as pessoas com a seqüência normal em um cromossomo e a seqüência mu tante no outro (ver Fig. 4.9), Entretanto, devemos tomar cuida- do ao interpretar os resultados da análise de ASO, pois nem to- dos os genes mutantes em um determinado locus compattilham exatamente a mesma alteração de seqüência do DNA. Assim, a falta de hibridízação ao gene mutante ASO não significa neces- saiiamente que o gene do paciente seja normal em toda a sua 38 ' FERRAMENTAS DA GENÉT1CA MOLECULAR HUMANA f 1 h ■ ' > f [ * '; - 'l ' 1 ;, !. si f- % Í" IK a» £ If 35 $ , í* « ,-L " T * *,-* T- ' Í? •tf r -' s--,4 Hi # « i # *-"i 4 „*i. -C -■i HI f 44! h i ^ ' - =S-;. 1 íii ' *'M'> ' X " T 1 3 -u* Í a *1 4 *i 1 I 1 ' ? '^ n 5 Ir Í Í w^- , ■ . ^ i c -'t * a- t - "Ju ■-?** • ÜÍ' : -jC 1 t* ;; i ' i - " • ;- Í * 'i *; V -• -^ I " » ' * Fig. 4.8 Detecção de uma deleção gênica pela transferência de Southern Ouando o DNA genõmico dos membros de uma famflia é digerido com uma enzima de restrição e o DNA é corado com urn corante fluorescente de DNA (tal como o brometo de etídio) após eletroforese. todas as amostras parecem íguais (esquerda). Após a transferência de Southern e a hibridização a uma sonda de cDNA para o gene humano Ügado ao X de receptor de andrógeno. pode- se ver que a pessoa com a smdrorne de insensibilidade androgêni- ca tern a deleção deste gene [direila. coluna do meio) O individuo com insensibilidade androgênica tern o cariótipo 46.XY, mas é fenotipicamente feminino (Figura por cortesia de R Lafreniere. Stanford University) seqüência. Pode haver uma mutação em outra parte do gene, em outra localização que não a examinada por urn deterxninado ASO. A anãlise de ASO é usada principalrnente nos casos em que há uma forte probabilidade, baseada em outras linhas de evidência, de que uma famflia ou urn individuo esteja em risco de uma mutação específíca conhecida O uso da análise de ASO é, por- tanto, restrita a situações nas quais uma determinada mutação em uma famflia é conhecida ou para distúrbios genéticos que são caracterizados por urn nlirnero fmito de mutaçoes diferentes, Os exemplos especfficos de tais doenças serão considerados nos Caps. 5, 11 e 12. Transferência Northern A contraparte da técnica de Southern para a análise de amostras de RNA é chamada de "Northern" ou blotting (borrão) de RNA A transfèrência Northern é o enfoque padrão para detenninar o tamanho e a abundância do mRNA de urn gene especifico em uma amostra de RNA.. O RNA não pode ser cortado pelas enzi- mas de restrição usadas para a análise de DNA Os diferentes RNAs transcritos são de tamanhos diferentes, entretanto, depen- dendo do tamanho e do nümero de éxons dentro do gene trans- crito (ver Cap. 3). Assim, urn RNA celular total (ou mRNA pu- rificado) obtido de urn determinado tipo de célula é separado de acordo com o tamanho pela eletroforese em gel de agarose e trans- ferido para filtros de nitrocelulose ou náilon Como no procedi- mento da transferência de Southern, o filtro é então jncubado corn uma sonda marcada desnaturada, que se hibxidiza a urn ou mais RNA transcritos. Após a exposição do filtro lavado a um filme de raios X, uma ou mais bandas podem surgir, revelando a posi- ção e a abundância dos transcritos especfficos de interesse. A REACÃO EM CADE!A DA POLIMERASE A reação em cadeia da polimerase (PCR) é uma alternativa à clonagem para gerar essencialmente quantidades iiimitadas de uma seqüência de interesse (ver Fig. 4 1) A PCR pode amplifi- car seletivamente uma única molécula de DNA ou RNA vários biihões de vezes em algumas horas e revolucionou tanto o diag- nóstíco molecularquanto a análise das doenças genéticas. A PCR é uma amplifícação enzimática de um fragmento de DNA (o alvo) situada entre dois "primers" oligonucleotidicos. Estes primers são criados de modo a que um deles seja complementar a um filamento da rnolécula de DNA de um lado da seqüência-alvo e o outro seja complementar ao outro filamento da molécula de DNAnoladoopostodaseqüência-alvo. Comoaponta3' decada primer oligonucleotfdico (ver Fig. 3.2) segue para a seqüência- aívo a ser amplificada e os primers são flanqueadores da seqüên- cia-alvo, os primers são ampíificados pela sintese, pela DNA polimerase, da seqüência entre eles. Como esquematicamente diagramado na Fig. 4.10, os primers são orientados de modo que iniciem dois novos filamentos de DNA que sejam complemen- tares e formem essencialmente uma segunda cópia da seqüên- a a o c » » +\ Hibridização Genóiipo: +/+ Muíação T -~> C ASO normal -0„.O. i . 0 ~ p O «^ T»--8- (-) Pareamento errado, sem hibridização +h -h ASO mutante -O O-.p B- 1+) Pareamento errado, sem hibridização Genótipo: +/+ -Q Q O i QI.IIIQ.«.4>— Qj.iiip.ii-it>- I ! I Hibridização +/- Fig. 4.9 Detecção de mutações de um só par de bases usando sondas oligonucieotidicas alelo-especfficas A sonda "normal' fare pareamento de bases apenas com as seqüéncias de DNA que forem idêntícas à sonda (em cima) A sonda "mutante" só írá parear com as seqüências de DNA que difiram da seqüência "normal" por uma mutação especffica de um par de bases (embaixo) As pes- soas com todos os três genótipos podem ser diferenciadas por este método FERRAMENTAS DA GENÉTICA MOLECULAR HUMANA ! 39 cia-alvo original, Ciclos repetidos de desnaturação poi aqueci- menío, hibridização aos primers e sintese enziraãtica de DNA resultam em uma amplifícação exponenciai (2, 4, 8, 16, 32,.... cópias) da seqüência-alvo de DNA (ver Fig. 4.10). Com o uso de "máquinas de PCR" especifícamente criadas, uma rodada de amplificação leva apenas alguns minutos, Em apenas algumas horas, muitos bilhões de cópias podem ser criadas a partir de uma seqüência inicial. A amplificação rápida de seqüências específicas por PCR pode ser usada para facilitar a clonagem de genes especificos a partii' de arnostras de DNA para a análise de rnutação (ver Fig, 4,1). Trechos particulares de um gene (em geral éxons) de um DNA podem serrapidamente amplificados usando-se primers especi ficos para o gene normal O gene mutante pode então ser ou fa- cilmente seqiienciado (ver discussão posterior) ou testado pelos rnétodos de hibridização ASO 0 que era um procedimento muito trabalhoso, envolvendo a constmção de uma biblioteca genômi- ca ou de cDNA a partir do DNA ou do RNA dos pacientes, se- guido da triagem do gene de interesse, agora pode ser feito em menos de um dia. A PCR facilitou muito o desenvolvimento e a aplicãção clínica de muitos testes diagnósticos de DNA. A PCR também pode ser aplicada à análise de pequenas arnos tras de RNA, um procedimento em geral chamado de PCR de tianscriptase reversa Um unico fiiamento de cDNA é primeiro sintetizado a partir do rnRNA de interesse com a mesma trans- criptase reversa que é usada parapreparar bibliotecas clone de cDNA (ver Fig, 4,5). Os primers de PCR são então adicionados, juntamente com a DNA polimerase, como no caso da PCR de Segmento de DNA a ser amplificado W- »H Desnaturar e heiicoidizar primers Primer para adiante issna Primer reverso c.- . ' t "m!lmN!lim!!!nil!l|]l[l!l]lll!!]ll!H!imi!lim!ll!l!!!U!!UHI]l!lll(llliril!!lI iiiiiiiiiiiiiiHUiiiiJiiiir ..liiiiiitiiiiitiHiiat latfimil! fnioMiMHiMi)ii[tnn1.|imiiiiMtmMmilniHittlinM!iiMl|iiii»tii»iiiPii< SfnEese de DNA V ■TmBmimwimmiiiwtBWBiwi^itflWlllíliHlliliiiliilililllliliWi ■■'■' ' ' wmmthMjMmmim. r Heiicoidizar primers ilSHHIHill»miiHimiitni|iH|||||liin»uiHP»mii um i)iiiiiii»i!)iNj!iiinm)iiHiiironnnniiiuriH|;|H||ni]iiii SEntese de DNA => Desnaturar miíHiiri!'m«iintiii»iiiiiiiHiiniiHminiii'iii f) 11 ri [ M [fl \\\\ \ \\ jMf'I fi i t^ ttlUIM.m"' r'" <\ " f mmmmmsmmmmmmm Heiicoidizar primers SEntese de DNA ! I1!'.1III1 It W I » II Id II Wl III1U11 HI MM llll I 111 3> DtiiiiiH|iii||ti||i|||i;|p|"iiiiiniul|Hiin|iiiH|ir| ;v ".wiTiHf »i ii IIIII i(ij ii i ii iji iijimiiirin iwapai 11 B-ai nm W','i''.','»'i.'.'|*'i'i!'i?») row j ' iw 'il r* iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiliimiiiiKiiiii Heiicoidizar primers lliiiHitinHimiiiitiiiiiaiiiHiMmiiMimiiitmiit unniiHinHiHiiiiiiuiHHHiHiimiJiiiiiiiiiiiiiii liliiUrajJUlllil^lJlUUMUiUllUiUliUUliS Kill 11 ill I III 111 imm 11 um nl lli'i I! IÍHVHÍITIHJIII SEntese de DNA 4> íltiinitinnmmnmtiiimiHHiiiiiinii um jiiiiiiii»iiiii»niiiimi;;iiimiiniimnnniimB l"."'.li.l!.l!l»j!'™!1R"'.í.ü'!'!'!?l'Jüll1!''!': 111" ,mi i ii mi nil i mil ii i ii 11 ii i ii HI ii i ii ii mi i ill nTniTinnmnfflmrnmmn ; i " .ii ii in nil ii HI uin i mil 11 N II i KM 11 um iii ijuimmprj Fig. 4.10 A reação em cadeia da polimerase Pelasfnteserepetidade uma regiãodo DNA situadaentredois primers de DNA. esta região do DNA é especffíca e selerivamente amplificada de modo exponenciai Ires rodadas sucessivas de ampiificação são rnostradas. resul- tando em um total de oito cópias da seqüéncia-alvo Após 30 rodadas de ampíifícação. são criadas mais de um bilhão de cópias da seqüência 40 ' FERRAMENTAS DA GENÉT1CA MOLECULAR HUMANA DNA. Um dos oligonucleotideos inicia a sintese do segundo fi- lamento do cDNA, que em sua forma bifilamentar serve como alvo para a arnplificação pela PCR A PCR é uma técnica extremameníe sensível Ela permite a detecção e a análise de seqüências gênicas especfficas em uma amostia do paciente sem clonagem e sem a necessidade de trans- ferência de Southern ou Northern. As análises podem ser feitas até mesmo em uma única célula obtida de um fio de cabelo, das poucas células bucais presentes em um bochecho, de um unico blastômero removido de um ernbrião no estágio de quatro célu- las, de espermatozóides colhidos de uma amostia vaginal de uma vitima de estupro ou de uma gota de sangue seco da cena de um crime A PCR elimina, poitanto, a necessidade de preparar gran- des quantidades de DNA ou RNA das amostras de tecido. A PCR rapidarnente está se tornando um método padrão para a análise de amostras de DNA e RNA nos laboratories de pes- quisa, nos laboratories de diagnóstico clínico molecular e nos laboratories forenses e de medicina legal. A PCR é mais rápida, menos dispendiosa, mais sensível e usa menos amostras do pa ciente que qualquer outro método de anáíise de ácidos nuclei- cos. Exernplos especificos de seu uso para a detecção de muta- ções nos distúrbios genéticos são apresentados no Cap. 19. Como se faz para identificar uma mulação em um gene de um paciente com um distúrbio genéíico que se sabe ou sus- peita que seja decorrente de defeitos neste gene? Por exem- plo, considere um paciente com um diagnóstíco de /3- talassemia, um defeito recessivo autossômico no gene de /3-globina (ver Cap. 11). O diagnóstico inicial em geral é feito apenas com base em achados clfnicos e hematológi- cos. É importante examinar o próprio gene, primeiro para confirmar o diagnóstico clfnico e, segundo, para determi- nar a mutação específíca no locus de /3-globina tanto para uso future no teste de portador quanto para um possivel diagnóstíco pré-natal na famflia do paciente. Alérn disso, a identificação da mutação aumenta nossa compreensão da relação entre mutações específícas em um gene e a fisio- patologia resultante Vários testes podem ser inicialmente usados para exami nar a integridade do próprio gene de /3-globina e seu mRNA. Ambas as cópias do gene estão presentes no paciente e sua estrutura está normal? Ou uma ou ambas as cópias do gene estão deletadas, como foi descrito em alguns casos de jS- talassemia? A transferência de Southern do gene de /3-globi na pode abordar a questão de se o gene está presente e se sua estrutura está normal. Por este método, podemos detectar gran- des defèitos moleculares (p. ex., deleções, rearranjos) que estão bem abaixo do nivel de sensibilidade da análise cromos- sômica. A tiansferência de Southern não pode revelar a pre- sença da maioria das mutações únicas, contudo, tais como mu- danças de um pai' de bases ou deleções muito pequenas de Um tipo comumente usado de sonda para FISH é uma seqüên- cia genômica contigua unica, clonada como inserção em um cosmfdeo, um BAC ou um vetor YAC que se hibridize no local da seqtiência-sonda em um par de croraossomos homologos. A HIBRIDIZAÇÃO IN SITU EM CROMOSSOMOS Do mesmo modo que as sondas de ácidos nucleicos podem ser hibridizadas com amostras de DNA digerido por enzimas de res- trição ou RNA purificado imobilizado em filtros para análise de Southern e Northern, as sondas tambérn podem ser hibridizadas ao DNA contido dentro de cromossomos imobilizados em lâmi- nas de microscopia (ver Cap. 3). Esta técnica é chamada de hi- bridização in situ porque o DNA nos cromossomos metafási- cos fixados em lâminas é desnaturado no local (donde o "in situ") para expor os dois filamentos do DNA, permitindo assim que uma sonda rnarcada se hibridize ao DNA crornossômico 0 método mais comum de marcar sondas para a hibridização in situ nos cromossomos é com um corante fluorescente. A sonda hibridi- zada fluoresce quando os cromossomos sao vistos com um com- primento de onda que excita o corante fluorescente A localiza- ção do sinal de hibridizaç ao e, portanto, a localização do segmen- to de DNA ao qual a sonda se hibridiza é então determinada ao microscópio (ver Figs. 8.8 e 9 4). Esta técnica, conhecida como hibridização in situ com fluorescência (FISH), é amplamentè usada em citogenética clínica diagnóstíca (Ver Caps. 9 e 10), bem como em mapeamento gênico (ver Cap. 8) apenas um par de bases, a menos que elas perturbem o sitio da endonuclease de restrição. Se o gene estã presente, ele é transcrito? Para deterrainar se um transcrito específico está presente, é usada a transfe- rência Northern. Este enfoque também nos possibilita de tectar grandes mudanças nos m'veis de mRNA ou na estrutu ra de um gene espeeffico, mas não permite detectar pequenas alterações (p. ex., uma mutação que mude um códon em um éxon). Tendo questionado se há grandes mudanças no gene ou em seu mRNA, podemos examinar a estrutura gênica e a expres- são em nfveis progressivamente mais refinados de análise Na /3-talassemia, como em rnuitos outros distúrbios genéticos, muitas rnutações jã conhecidas são responsãveis pela doen- ça. Para determinar se uma das mutações conhecidas é res- ponsável por um determinado caso de /3-talassemia, podemos usar oligonucleotideos alelo-especificos (ASOs), que possi- bilitam a detecção de mutações específicas de um único par de bases (ver texto principal). Se a análise ASO não revelar uma mutação conhecida, pode ser necessário comparar a se- qiiência do gene mutante de /3~globina (ou cDNA) do paci ente comum gene normal de /3-globina usando a reação em cadeia da polimerase (PCR) para gerar especificamente rnuitos milhoes de cópias de um determinado fragmento gê- nico e seqüenciá-lo. Deste modo, a mutação específica res- ponsável pelo distúrbio genétíco no paciente pode ser identi- fícada e usada para desenvolver testes diretos de triagem para esta mutação na familia do paciente. sonda FISH também pode ser uma mistura complexa de DNA de uma parte de um braço cromossômico, um braço inteiro de um cromossomo ou mesmo um cromossomo inteko. Dependendo de como a sonda é constituída, uma grande parte de um braço A Análise Molecular de uma Mutação Humana FERRAMENTAS DAGENÉHCA MOLECULAR HUMANA I 41 cromossômíco, o braço inteiro ou o cromossomo ínteiro irá se corar com a sonda hibridízada fluorescente, Tal mistura de son- das é conhecida como sondas multicolor idas de cromossomos (ver Cap. 9 para exernplos), Duas íécnicas recentemente desenvolvidas ampiiam ainda mais o poder da tecnologia FISH para a anáiise dos cromossomos hu manos. A primeira destas técnicas, a hibrídização genômica com- parativa, é usada para medir as diférenças no rtúmero de cópias ou dosagem de um segmento cromossòmico em particular entre duas amostras diferentes de DNA O DNA total de uma amostra é marcado com um corante fluorescente vermelho e a outra amos tra é marcada com um corante verde. As duas amostras de DNA marcado são misturadas em quantidades iguais e usadas como uma sonda multicolorida para FISH com cromossomos metafãsicos humanos normals. A proporção de fluorescencia de vermelho para verde emitida pela sonda ao longo de cada cromossomo é então medida Se o DNA de uma determinada região de um cromosso mo for igualmente representado nas duas amostras que constitu- em a sonda, a proporção de fluorescencia de vermelho para verde no sinal FISH será de 1:1 (Fig. 4.11). Se, entretanto, o DNA mar cado com verde for de uma linhagem celular normal e o DNA marcado com vermelho vier de células que tern falta de material (monossomia, ver Cap. 9) ou que tern material adicional (trisso- mia, ver Cap. 9) de um cromossomo todo ou de parte de um cro mossomo, a proporção de fluorescencia de vermelho para verde mudará de 1:1 para menos de I, no caso de monossomia, ou mais de 1, no caso de trissomia, na região do cromossomo com a dosa gem gênica anormal. Por exemplo, como rnostra a Fig 4.11, o DNA marcado com vermelho dos tecidos de uma pessoa com tris somia parcial da ponta do cromossomo 18p resulta em uma pro- porção de vermelho para verde de 1,5:1 em 18p distal De modo similar, se a pessoa tiver monossomia 18p, a proporção de fluo rescencia de vermelho para verde ao longo de ISp será de 0,5:1 A hibridização genômíca comparativa é particularxnente útil para encontrar mudanças na dosagem gênica em tecidos que podem servir como uma fonte de DNA para fazer uma sonda, mas não podem ser facilmente cariotipadas (ver Cap, 3), tal como tumores sólidos e sarcomas de tecidos moles A técnica tem sua aplicação mais ampla no estudo das abeirações cromossômicas nas células cancerosas(verCap 16). Uma segunda técnica FISH poderosa é a cariotipagem espec- tral (SKY). Um reagente essencial para SKY é ter 24 diferentes sondas raulticoloridas de cromossomos, uma para cada um dos 24 cromossomos humanos, Estas sondas especfficas de cromossomos são obtidas pela separação de cada cromossomo com base no tama- nho e nas característícas de bandeamento de todos os outros cromos somos usando a distribuiçao cromossômica atívada por fluorescen cia. Cada amostra de DNA especffica de cromossomo é marcada com uma combinaçao diferente de corantes fluorescentes, que emi- tem comprimentos de onda diferentes, Deste modo, cada cromos somo humano é representado por uma sonda com seu proprio es- pectro característíco de comprimentos de onda de fluorescencia. Todas as 24 sondas para os cromossomos humanos são então com- binadas e usadas para FISH de cromossomos metafásícos (ver Fig. 9.5B, encarte em cores). Como cada sonda especifica de cromos somo emite seu proprio comprimento de onda de fluorescencia, os rearranjos estruturais são facilmente vistos, e os cromossomos en- volvidos podem seridentirlcados com facilidade. ANALISE DA SEQUENCIA DO DNA 0 enfoque mais amplamente usado para a análise da seqüência de DNA é o seqiienciamento de Sanger (em homenagem a Fred San- ger, que, com Walter Gilbert, recebeu o Prêmio Nobel em 1980 por desenvoiver o seqiienciamento do DNA). Agora, a seqüência de qualquer segmento de DNA purificado pode ser determinada, seja um fragrnento clonado seja uma seqiiência-alvo amplificada por PCR. 0 seqiienciamento de Sanger tira proveito de análogos químicos de nucleotídeos para inibir a enzima DNA polimerase à medida que ela sintetiza o filamento complementar ao molde ori ginal que está sendo seqüenciado (Fig. 4 13). Para fazer a reação + Verde + Vermelho Sinal fluorescente Proporção vermelho:verde: 0,5 1 2 + Verde A + Vermelho Sinal fluorescente 0,5 1 2 DNA de trissomia distal 18p marcado com vermelho e DNA normal marcado com verde Proporção vermeiho:verde - 1,5:1 na area da trissomia, 1:1 nas outras areas DNA de monossomia distal 18p marcado com vermelho e DNA normal marcado com verde Proporção vermelho:verde = 0,5:1 na area da monossomia, 1:1 nas outras areas Fig,, 4 11 Resuitados de híbridização genõrnica comparativa. tipicamente relatados por um grafico de intensidade de fluorescencia ao longo da extensão de um cromossomo O DNA de duas fontes diferentes é purificado. cada um é marcado com um corante fluorescente diferente. e as sondas são misturadas e usadas como corantes cromossômicos em metáfases normais A intensidade de hibridização a cada corante sera igual em todas as regiões dos cromossomos metafásicos que estiverem presentes em quantidades iguais nas duas fontes diferentes de DNA Se um segmento de um cromossomo estiverduplicadooudeletado em uma linhagem celular versus a outra. a intensidade relativa de hibridização com o corante não será mais de I: I 42 ' FERRAMENTAS DA GENÉTICA MOLECULAR HUMANA dPtf* * j . . - ' - a - - - Fig. 4 12 Cariotipagem espectral (SKY) As 24 sondas multicolori- das de cromossomos individuals são marcadas com corantes fluo rescentes diferentes e usadas como corantes cromossôrnicos do genoma total Os sinais fluorescentes sao anaiisados por urn so- fisticadoso/ltrarc de irnagern e arquivados em um computador Para gerar a fotografia. o computador atribui uma cordiferente para cada um dos 24 espectros diferentes de fluorescência gerados pelas son das multicoloridas de cromossomos individuais Nesta metáfase de uma mulher 46.XX. apenas 23 cores estão presences O espec- troünicogeradopela sonda multicolorida docromossomoYnãoé visto (Ver Fig 9 5B. encarle em cores) (Figura por cortesia da Dra Amalia Dutra. National Human Genome Research Institute ) DNA a ser sequenciado ATCGCCTTGC . 5' > 3' 3 ' < ■■ — 5' A,rA G —-*-G -G Veior G A T C 3' T' - P 5' Fig. 4 . 1 3 0 método de Sanger para determinação da seqüência nucleotfdica de um fragmento de DNA clonado Ver o texto para a descrição para detenninar a seqüência de nucleotideos do fragmento de DNA que está sendo analisado (ver Fig. 4,13). Hqje, as máquinas autorriatizam o procedimento de seqiien ciamento de DNA, que é rotineiramente aplicado paia a analise tanto de genes normais quanto mutantes.. A infbrmação da se- qiiência de DNA é crucial para prever a seqüéncia de aminoáci- dos codificada por um gene recém-isolado, par'a detectar rrmta- ções individuals em doenças genéticas e para ciiar sondas ASO ou primers de PCR usados em procedimentos diagnósticos mo- leculares. O seqiienciamento automatizado também está sendo ^V^X & #wvc de seqiienciamento,a sintese de DNA é iniciada por um oligonu- cleotideo pequeno, e a DNA polimerase continua ao longo da se- qüência molde, arnpliando a primer (iniciador) e incorporando ou nucleotideos radioativamente marcados ou nucleotideos com marcadores fluorescentes na nova seqüência sintetizada. Obtemos informações da seqiiência adicionando um dos análogos inibido- res, juntamente com todos os quatro nucleotideos normais, em cada uma das quatro reações de seqiienciamento. Assim, na reação para definir a localização das unidades G, um análogo de G é inclufdo na reação, de modo que a ampliação de uma parte das moléculas individuais irá parar quando a DNA polimerase incorporar o ana- logo. As quantidades relativas de nucleotideo G normal e análogo de G nesta reação são ajustadas de modo que a polimerase incor- pore o análogo de G em alguns filamentos recém-sintetizados no mesmo momento que incorporaria uma G, enquanto em outros fi lamentos um análogo de G é incorporado no momento seguinte à incorporação de G, alguns no terceiro, e assim por diante. Quando esta amostra é então analisada por eletroforese em gel, observa-se uma série de bandas de comprimentos conespondentes aos Socais de cada unidade G, Reações sirnilares para A, T e C fornecem series conespondentes de fragmenios- O conjunto de quatro reações pode então ser Hdo como uma "escada" direcional de seqiienciamento Distrofina 427 kDa Fig, 4.14 Uma transferência Western demonstrando a presença ou a ausência da proteína muscular distrofina (seta) nos extratos de protefna de pacientes com a forma grave Duchenne ou branda Be cker dedistrofia muscular HgadaaoX Ver Cap 12 para maiordes- crição (Foto original por cortesia deP Wray. Hospital for Sick Chil dren. Toronto) f ERRAMENIAS DAGENÉTÍCA MOLECULAR HUMANA 1 43 muito aplicado no Projeto do Genoraa Humano para obter a se- qüência de nucleotideos de todos os três bilhões de bases de todo o genoma humano (ver Cap. 8), bem como para completar a se- qíiência de outros organismos de importância médica e cientiii- ca, incluindo a E coli, a leveduta 5. cerevisiae, o verme Cae- norhabditis elegans, a mosca-das-frutas Drosophila melanogas- ter, o camundongo e muitos microrganismos patogênicos, MÉTODOS DE ANÁLISE DE PROTEÍNAS A análise do f'uncionamento gênico tanto normal quanÊo anor- mal em geral requer um exarne da proteina codificada por um gene normal ou mutante de interesse, Na maioria dos casos, de- seja-se conhecer não só o defeito molecular no DNA, mas tam- bém como este defeito altera a proteina codificada para produzir o fènótipo ciínico. Transferência Western Logo depots do desenvolvimento das trans ferências de Southern e Northern para o DNA e o RNA, um procedimento conceitual- mente conelato para a detecção de proteínas específicas foi des- crito como íransferência Western. Esta tecnica pode ser usada para obter informações sobre o tamanho e a quantidade da pro teina mutante nos extratos celulares de pacientes com doenças genéticas, Neste método, as protefnas isoladas de um extrato celular são separadas de acordo com o tamanho por uma eletro- forese em gel de poliacrilamida e então transferidas para uma mernbrana, A membrana contendo as protefnas separadas é en- tão incubada com anticorpos que reconhecem especifícamente a proteina a ser analisada. A interação específica entre o anticorpo e seu antígeno pode então ser detectada por um segundo anticor po contra o primeiro, marcado com uma substância detectável histoquimicamente, por fluorescência ou radioativa. Um exem- plo de transferência Western usada para detectar a presença ou ausência e, se presente, o tamanho da proteina muscular' distro- fina em pacientes com distrofia muscular ligada ao X é mostra- do naFig. 4,14, Referências Gerais Davies K (1995) Human Generic Disease Analysis: A Practical Ap- ' proach, 2nd ed. ÍRL Press, Oxford, England Dieflcnbach C, Dveksier G (1995) PCR Primer: A Laboratory Manual. Cold Spring Harbor Laboratory, Cold Spring Harbor, New York Fritsch EF, Wozney j M (1994) Methods of molecular genetics, hi Staniutoyannopoulos G, Nienhuis AW, Maj'erus PW, Varmus H (eds) The Molecular Basis of Blood Diseases, 2nd ed W,B. Saunders, Philadelphia.. Samhrook J, Russell D (2001) Molecular Cloning: A Laboratory Manual, 3rd ed Cold Spring Harbor Laboratory, Cold Spring Harbor, New York Referências Espectficas aos Tópicos Particukres Handyside AH (1998) Clinical evaluation of preimplamation ge netic diagnosis Prenat Diagn 18:1345-1348 Monaco AP, Larin Z (1994) YACs, BACs, PACs and MACs: Artifi cial chromosomes as research tools Trends Biotechnol 12:280-286 Vnencak-Jones CL (1999) Molecular testing for inherited diseases Am j Clin Pathol 112 (suppi 1): S19-S32 Weetln VW (1996) Forensic DNA tests Clin Lab Med 16:187-596 Problemâs 1 Considere as situações diagnósticas que se seguem Que método (ou métodos) de laboratório seria o mais apropriado? (a) Diagnóstico pré-natal de um feto rnasculino com risco de por- tai' distrofia muscular Duchenne (DMD) Estudos anteriores nesta família já documentaram uma deleção gênica completa (b) Você deseja avaliar a quantidade de mRNA de distrofina pre sente em uma amostra de müscuío de uma portadora obrigató- ria brandarnente afetada por DMD (c) DÍagnóstico pre-natal de um feto rnasculino com risco de por- tar DMD. Estudos anteriores já documentaram uma determi- nada mudança de base nucleotídica que é responsável pelo de feito nesta famflia 2 Quais são aigumas das vantagens ou desvantagens da PCR para o diagnóstico de defeitos genétícos em comparação com a transferèn- cia de Southern? Com as dosagens bioquímicas de níveis enzimáti- cos para diagnóstico de defíciências enzimáticas? 3. De qual dos seguintes tecidos pode ser obtido DNA para procedi- mentos diagnostics: amostra de tecidos de biópsia, leucócitos, cul- tura de células de líquido amnídtíco, hemácias? 4 Por que a cionagem de um gene é considerada um avanço significa- tivo para o campo da genética médica? O que a disponibilidade de um gene clonado permite fazer que não se podia antes? 5. Você qtier clonar um gene que é expresso no fígado e que se suspei- ta de que esteja envolvido em uma doença genética Tanto uma bi- biioteca de DNA genômico humano quanto uma biblioteca de cDNA de fígado estão disponi'veis Qual você escolheria e por què? 6. Um paciente com uma doença genética tern uma mutação (C para T, sublinhada) no éxon 18 de um gene, A seqüência normal é: CTGTGCCGT ATGAAAAGACCAATCfiGA- GAAGTTCCTGTTACCAAACTCATAGAC A seqüência no paciente é: CTGIGCCGTATG A AAAGACC AATC1GA- G AAGTTCCTGri ACCA A ACTC ATAGAC (a) Qua! é a conseqüènçia desta mutação no funcionamento do gene? (Os primeiros três nucleotideos de cada seqüência cons- tituem um códon do gene) (b) Você precisa desenvolver um ASO para a mutaçâo no DNA genõmico. Quai(is) do(s) seguinte(s) oíigonucleotídeo(s) seria(m) util(eis) em um ASO para a seqüência normal? Para a seqüêncía mutante? Explique seus motivos para selecionar ou rejeitar cada oligonucleotideo. 1. 5'GCCGTAT'GAAAAGACCAATCTG 2 5' GACCAATCCGAGAAGTTCC 3 5' GACCAATCTGAGAAGTTCC 4. 5' GGAACrrCTCAGATTGGTC 5 5'ATCTGAG
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