Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Cap´ıtulo 2 Conceitos Fundamentais 2.1 O Fluido como Cont´ınuo Os fluidos, de uma maneira geral, sa˜o classificados como newtonianos e na˜o-newtonianos. Um fluido e´ newtoniano quando a tensa˜o cisalhante aplicada e´ diretamente proporcional a` taxa de deformac¸a˜o sofrida por um elemento de fluido. Caso contra´rio, e´ considerado na˜o-newtoniano. Exemplo: a a´gua, o o´leo e o ar sa˜o fluidos newtonianos. Todos os fluidos newtonianos obedecem a` lei de Newton de viscosidade, que diz que a tensa˜o de cisalhamento e´ proporcional ao gradiente de velocidade, ou seja, a variac¸a˜o de velocidade em func¸a˜o do deslocamento: τ α dv dy ou τ = −µ dv dy O gradiente de uma grandeza fornece a sua taxa de variac¸a˜o ma´xima em relac¸a˜o a` distaˆncia. Assim, considerando um campo de temperatura descrito por T = T (x, y, z) , o gradiente e´ dado por: −→∇T = ∂T ∂x −→ i + ∂T ∂y −→ j + ∂T ∂z −→ k No caso da velocidade, temos: −→∇v = ∂v ∂x −→ i + ∂v ∂y −→ j + ∂v ∂z −→ k As grandezas envolvidas num sistema podem ser classificadas como: • Grandezas extensivas: sa˜o aquelas que dependem do volume ou da massa do sistema e sa˜o consideradas propriedades do sistema com um todo. Exemplo: massa, energia, quantidade de movimento. • Grandezas intensivas: sa˜o aquelas definidas em um ponto e que na˜o dependem do volume ou da massa do sistema. Exemplo: velocidade, acelerac¸a˜o, temperatura. Em muitos casos, as grandezas intensivas possuem valores diferentes em pontos distintos do sistema, criando um campo. Campo e´ uma distribuic¸a˜o cont´ınua de uma grandeza intensiva, descrita por func¸o˜es de coorde- nadas espaciais e do tempo. Se a grandeza e´ escalar, cria-se um campo escalar; se e´ vetorial, cria-se um campo vetorial. 11 2.2 Campo de Velocidades Podemos descrever o movimento de um fluido de duas formas diferentes: • Regime permanente: quando a velocidade e suas componenetes na˜o sa˜o func¸o˜es do tempo. Assim, temos: −→v = −→v [x, y, z, t] −→vx = −→vx(x, y, z) −→vy = −→vy(x, y, z) −→vz = −→vz(x, y, z) Como −→a = d −→v dt , podemos escrever: −→a = ∂ −→v ∂x dx dt + ∂−→v ∂y dy dt + ∂−→v ∂z dz dt mas dx dt = −→vx , dy dt = −→vy , dz dt = −→vz enta˜o temos: −→a = ∂ −→v ∂x −→vx + ∂ −→v ∂y −→vy + ∂ −→v ∂z −→vz e −→ax = ∂ −→vx ∂x −→vx + ∂ −→vx ∂y −→vy + ∂ −→vx ∂z −→vz −→ay = ∂ −→vy ∂x −→vx + ∂ −→vy ∂y −→vy + ∂ −→vy ∂z −→vz −→az = ∂ −→vz ∂x −→vx + ∂ −→vz ∂y −→vy + ∂ −→vz ∂z −→vz Exemplo 2.1 Dado um campo de velocidades por vx = 2xy+3 e vy = x 2y , calcular o valor da acelerac¸a˜o no ponto P (x, y) , com x = 1 cm e y = 1 cm . Soluc¸a˜o Nesse caso, o regime e´ permanente porque as componentes de velocidade na˜o dependem do tempo. As equac¸o˜es de acelerac¸a˜o ficam: 12 −→ax = ∂ −→vx ∂x −→vx + ∂ −→vx ∂y −→vy + ∂ −→vx ∂z −→vz −→ay = ∂ −→vy ∂x −→vx + ∂ −→vy ∂y −→vy + ∂ −→vy ∂z −→vz onde: ∂−→vx ∂x = 2y , ∂−→vx ∂y = 2x , ∂−→vx ∂z = 0 ∂−→vy ∂x = 2xy , ∂−→vy ∂y = x2 , ∂−→vy ∂z = 0 Enta˜o: −→ax = 2y.(2xy + 3) + 2x.(x2y) + 0 = 4xy2 + 6y + 2x3y −→ay = 2xy.(2xy + 3) + x2.(x2y) + 0 = 4x2y2 + 6xy + x4y No ponto P (1, 1) : −→ax = 4.1.12 + 6.1 + 2.13.1 = 12 −→ay = 4.12.12 + 6.1.1 + 14.1 = 11 A acelerac¸a˜o, portanto, sera´: −→a = √−→ax2 +−→ay2 −→a = √ 122 + 112 −→a ∼= 16 cm/s2 Exemplo 2.2 Num escoamento, o campo de velocidades e´ dado por: vx = xy 2 , vy = xy e vz = √ xyz. (cm/s) Determine: a) a velocidade no ponto P (1, 2, 1) b) a acelerac¸a˜o no ponto P (2, 1, 2) 13 Soluc¸a˜o a) No ponto P (1, 2, 1) , temos: vx = 1 · 22 = 4 vy = 1 · 2 = 2 vz = √ 1 · 2 · 1 = √ 2 v = √ v2x + v 2 y + v 2 z ∼= 4, 7 cm/s b) As derivadas parciais sa˜o: ∂−→vx ∂x = y2 , ∂−→vx ∂y = 2xy , ∂−→vx ∂z = 0 ∂−→vy ∂x = y , ∂−→vy ∂y = x , ∂−→vy ∂z = 0 ∂−→vz ∂x = yz 2 √ xyz , ∂−→vz ∂y = xz 2 √ xyz , ∂−→vz ∂z = xy 2 √ xyz As componentes de acelerac¸a˜o ficam: −→ax = y2.(xy2) + 2xy.(xy) + 0 = xy4 + 2x2y2 −→ay = y.(xy2) + x.(xy) + 0 = xy3 + x2y −→az = yz 2 √ xyz .(xy2) + xz 2 √ xyz .(xy) + xy 2 √ xyz .( √ xyz) = xy3z 2 √ xyz + x2yz 2 √ xyz + xy 2 No ponto P (2, 1, 2) : −→ax = 10 , −→ay = 6 , −→az = 4 A acelerac¸a˜o, portanto, sera´: −→a = √−→ax2 +−→ay2 + +−→az2 −→a = √ 102 + 62 + 42 −→a ∼= 12, 33 cm/s2 14 • Regime variado: descreve-se o movimento das part´ıculas ao longo de suas trajeto´rias em func¸a˜o do tempo, ja´ que nesse caso, as coordenadas de posic¸a˜o variam com o tempo. Dessa forma, podemos escrever: −→v = −→v [x(t), y(t), z(t), t] −→vx = −→vx(x, y, z, t) −→vy = −→vy(x, y, z, t) −→vz = −→vz(x, y, z, t) A acelerac¸a˜o e´ calculada por: −→a = ∂ −→v ∂x −→vx + ∂ −→v ∂y −→vy + ∂ −→v ∂z −→vz + ∂ −→v ∂t e −→ax = ∂ −→vx ∂x −→vx + ∂ −→vx ∂y −→vy + ∂ −→vx ∂z −→vz + ∂ −→vx ∂t −→ay = ∂ −→vy ∂x −→vx + ∂ −→vy ∂y −→vy + ∂ −→vy ∂z −→vz + ∂ −→vy ∂t −→az = ∂ −→vz ∂x −→vx + ∂ −→vz ∂y −→vy + ∂ −→vz ∂z −→vz + ∂ −→vz ∂t Podemos desmembrar a acelerac¸a˜o em duas partes: – acelerac¸a˜o de transporte ( ou convectiva): variac¸a˜o da velocidade com mudanc¸a de posic¸a˜o – acelerac¸a˜o local: variac¸a˜o de velocidade com o tempo Portanto,temos: −→a = −→a transporte +−→a local onde: −→a transporte = ∂ −→v ∂x −→vx + ∂ −→v ∂y −→vy + ∂ −→v ∂z −→vz −→a local = ∂ −→v ∂t 15 Exemplo 2.3 Num escoamento no plano Oxy , o campo de velocidades e´ dado por vx = 2xt e vy = y 2t . Determinar a acelerac¸a˜o na origem e no ponto P (x, y) , com x = 1 cm e y = 2 cm , no instante t = 5 seg . Soluc¸a˜o Como as componentes de velocidade sa˜o func¸o˜es do tempo, o regime de movimento e´ variado. Logo: −→ax = ∂ −→vx ∂x −→vx + ∂ −→vx ∂y −→vy + ∂ −→vx ∂z −→vz + ∂ −→vx ∂t −→ay = ∂ −→vy ∂x −→vx + ∂ −→vy ∂y −→vy + ∂ −→vy ∂z −→vz + ∂ −→vy ∂t onde: ∂−→vx ∂x = 2t , ∂−→vx ∂y = 0 , ∂−→vx ∂z −→vz = 0 , ∂ −→vx ∂t = 2x ∂−→vy ∂x = 0 , ∂−→vy ∂y = 2yt , ∂−→vy ∂z −→vz = 0 , ∂ −→vy ∂t = y2 Enta˜o: −→ax = 2t.2xt+ 0.y2t+ 0.0 + 2x = 4xt2 + 2x −→ay = 0.2xt+ 2yt.y2t+ 0.0 + y2 = 2y3t2 + y2 Na origem, temos x = y = 0 . Logo −→ax = −→ay = 0. No ponto P (1, 2) , apo´s decorridos 5 segundos: −→ax = 4.1.52 + 2.1 = 102 −→ay = 2.23.52 + 22 = 404 A acelerac¸a˜o, portanto, sera´: −→a = √−→ax2 +−→ay2 −→a = √ 1022 + 4042 −→a ∼= 417 cm/s2 2.3 Campo de tenso˜es Como ja´ foi visto anteriormente, a tensa˜o envolve uma forc¸a de contato e a a´rea em que ela atua e pode ser escrita como: Tij = lim ∆Ai→0 ∆Fj ∆Ai onde: Tij e´ a componente de tensa˜o i e´ a direc¸a˜o normal ao plano no qual a forc¸a atua j e´ a direc¸a˜o da componente da forc¸a. 16 Para um elemento de a´rea ∆Ax , com normal na direc¸a˜o x, sobre o qual atuam as componentes de forc¸a ∆Fx , ∆Fy e ∆Fz , resultam uma componente de tensa˜o normal σxx e duas componentes de tensa˜o cisalhante τxy e τxz , que sa˜o definidas pelas equac¸o˜es: σxx = lim ∆Ax→0 ∆Fx ∆Ax τxy = lim ∆Ax→0 ∆Fy ∆Ax τxz = lim ∆Ax→0 ∆Fz ∆Ax Analogamente, considerando elementos de a´reas nas direc¸o˜es y e z , encontraremos mais uma tensa˜o normal e duas cisalhantes em cada direc¸a˜o. A tensa˜o total no ponto e´ especificada pelas 9 componentes da matriz T = σxx τxy τxzτyx σyy τyz τzx τzy σzz e e´ conhecida como tensor de tenso˜es. Os fluidos submetidos a esforc¸os normais sofrem variac¸o˜es volume´tricas finitas.Quando essas variac¸o˜es sa˜o muito pequenas considera-se os fluidos incompress´ıveis. Em geral os l´ıquidos sa˜o incompress´ıveis e os gases sa˜o compress´ıveis. Para um fluido em repouso, a tensa˜o e´ exclusivamente normal, sendo seu valor chamado de pressa˜o esta´tica p que, em um ponto, e´ igual em todas as direc¸o˜es, ou seja σxx = σyy = σzz = −p (Principio de Pascal) 17 Supondo duas placas paralelas, com um so´lido entre elas e aplicando-se uma forc¸a constante sobre a placa superior, o so´lido se deforma angularmente ate´ alcanc¸ar uma nova posic¸a˜o de equil´ıbrio esta´tico. Para o caso de um fluido entre placas, nota-se que o movimento causado pela aplicac¸a˜o da forc¸a na placa superior, parte de uma velocidade nula e, a partir de certo instante, atinge uma velocidade constante v0 . Em cada sec¸a˜o normal a`s placas, surge um diagrama de velocidades, onde cada camada de fluido desliza sobre a adjacente, originando uma tensa˜o de cisalhamento. Como, para fluidos newtonianos, a tensa˜o cisalhante e´ proporcional ao gradiente de velocidade, temos τyx = −µ dvx dy Para pequenos movimentos, quando a distaˆncia d entre as placas e´ pequena, podemos considerar que a variac¸a˜o de v com y e´ linear, sem grandes erros e sem que tenhamos que enfrentar ca´lculos mais sofisticados. Dessa forma, podemos ter τyx = −µ v0 d 18 Exemplo 2.4 Considere um escoamento de a´gua entre duas placas, onde µ = 0, 001 Pa.s , vx = 1 m/s e d = 0, 005 m . Calcular: a) o gradiente de velocidade b) a tensa˜o de cisalhamento no placa superior Soluc¸a˜o a) dvx dy = v0 d = 1 0, 005 = 200 s−1 b) τ = −µ dvx dy = −0, 001× 200 = −0, 2 Pa Exemplo 2.5 No exemplo anterior, considere que existe um o´leo no lugar da a´gua e que seja necessa´ria uma tensa˜o cisalhante de 40 Pa para que a velocidade permanec¸a constante. Determine a viscosidade dinaˆmica desse o´leo. Soluc¸a˜o −40 = −µ 1 0, 005 ⇒ µ = 0, 2 Pa.s Exemplo 2.6 O perfil da velocidade do escoamento de o´leo em um tubo de diaˆmetro D = 20 cm e´ expresso por: v = 10 [ 1− ( r R )2] (m/s) onde R e´ o raio do tubo. Sabendo que ρo´leo = 905 kg/m 3 e µo´leo = 0, 02 Pa.s , calcule: a) a velocidade de uma part´ıcula situada em r = R2 . b) a acelerac¸a˜o de uma part´ıcula situada em r = 0. c) a tensa˜o de cisalhamento na parede do tubo. Soluc¸a˜o a)v = 10[1− (R/2R )2] = 10[1− (12)2] = 10[1− (14)] = 10(34) = 7, 5m/s b) a = dv dr = −20r R2 ∣∣ r=0 = 0m/s 2 c) τ = −µ dv dr = −0, 02(−20R R2 ) = −0, 02(−20 R ) = −0, 02(−20 0, 1 ) = 4Pa. 19 Tensa˜o Superficial: A superf´ıcie livre de um l´ıquido assemelha-se a uma pel´ıcula esticada, de maneira que existe uma tensa˜o atuando no plano da superf´ıcie. Esta tensa˜o esta´ associada a` falta de simetria de forc¸as atuando sobre as mole´culas do fluido na interface de separac¸a˜o l´ıquido - vapor. Suas principais caracter´ısticas sa˜o: • e´ definida como forc¸a por unidade de comprimento ( N/m ), por atuar sobre a linha da superf´ıcie • diminui com o aumento da temperatura • depende do fluido que esta´ sobre a superf´ıcie livre. • e´ responsa´vel pelas gotas de l´ıquido serem esfe´ricas, por esta ser a forma geome´trica que apresenta menor a´rea de superf´ıcie por igual volume. A tensa˜o superficial tem como principal efeito a capilaridade, que e´ o fenoˆmeno de subida e descida de um l´ıquido dentro de um tubo de pequenas dimenso˜es. Temos que: W = mg = ρV g ∼= ρ(pir2h)g F = 2pirσs cos θ Pelo balanc¸o de forc¸as: F = W ⇔ h = 2σs ρrg cos θ 20 Observac¸o˜es: 1. Quando o l´ıquido molha a superf´ıcie (a´gua-vidro, a´gua-madeira) o aˆngulo θ e´ muito pequeno, de modo que podemos considerar cos θ = 1. 2. No caso de l´ıquidos que na˜o molham a superf´ıcie, como e´ o caso do mercu´rio, temos θ > pi/2 , tal que cos θ < 0 , o que torna h negativo. Exemplo 2.7 Determine a altura h acima do n´ıvel de um reservato´rio em que a a´gua se eleva em um tubo capilar de diaˆmetro d = 2 mm, sabendo que a uma temperatura T = 20oC , σs = 0, 074 N/m e γ = 9810 N/m3. Soluc¸a˜o: Temos que γ = ρ.g = 9810 N/m3 e θ ∼= 0. Logo: h = 2σs γ r = 2× 0, 074 N/s2 9810 N/m3 × 0, 001 m = 0, 015 m = 1, 5 cm 2.4 Viscosidade Sobre a viscosidade, ja´ sabemos do cap´ıtulo anterior que: • e´ uma propriedade do fluido associada a` resisteˆncia que ele oferece a` deformac¸a˜o por cisalha- mento. • e´ causada fundamentalmente pelo atrito entre mole´culas, quando ha´ gradiente de velocidade na direc¸a˜o transversal ao movimento do fluido. • e´ func¸a˜o da temperatura. Os gases, por terem menos coliso˜es entre part´ıculas, possuem baixa viscosidade. Entre os l´ıquidos , verificamos o grau de viscosidade pela capacidade de se moldarem aos recipientes que os conteˆm. Entre a a´gua e a glicerina, podemos notar que este u´ltimo e´ mais viscoso. Em va´rias equac¸o˜es de mecaˆnica dos fluidos, aparece o quociente entre a viscosidade dinaˆmica e a massa espec´ıfica de um fluido, sendo convenientemente definida como viscosidade cinema´tica, ou seja: ν = µ ρ Exemplo 2.8 Considerando ainda o exemplo 2.4 anterior e supondo que a massa espec´ıfica do o´leo seja ρ = 0, 85 kg/m3 , qual e´ o valor da viscosidade cinema´tica? Soluc¸a˜o ν = 0, 2 Pa.s 0, 85 kg/m3 = 0, 2353 m2/s Observac¸a˜o: 1 Pa = 1 N/m2 e 1 N = 1 kg.m/s2 Exemplo 2.9 Um pista˜o de peso W = 4 N desliza dentro de um cilindro vertical com uma velocidade constante v = 2 m/s . Sabendo que o diaˆmetro do cilindro e´ dc = 10, 1 cm e o do pista˜o e´ dp = 10 cm , determine a viscosidade do lubrificante colocado na folga entre o pista˜o e o clindro. 21 Dado: comprimento do pista˜o: L = 5 cm. Soluc¸a˜o Se v = cte , enta˜o a = 0. Logo, o pista˜o esta´ em equil´ıbrio dinaˆmico e: F = m.a = 0 Para manter esse equil´ıbrio, a forc¸a causada pela tensa˜o de cisalhamento dever ser igual ao peso do pista˜o, ou seja: F = W τ.A = W µ dv dy pi.dp.L = G Como a distaˆncia entre o pista˜o e o cilindro e´ muito pequena ( d = 0, 05 cm), podemos considerar o perfil de velocidade linear, de modo que: dv dy = v d Assim: µ v d pi.dp.L = G µ = d.W v.pi.dp.L µ = 0, 05× 10−2 × 4 2pi × 0, 1× 0, 05 µ = 6, 37× 10−2 n.s/m2 22 2.5 Descric¸a˜o e classificac¸a˜o dos movimentos dos fluidos Aqui sera˜o apresentados alguns conceitos u´teis para a representac¸a˜o de escoamentos, sua classi- ficac¸a˜o e uma descric¸a˜o dos movimentos dos fluidos. 2.5.1 Conceitos • Trajeto´ria: a trajeto´ria de uma part´ıcula fluida consiste no caminho percorrido pela part´ıcula, em func¸a˜o do tempo, ao longo do escoamento. • Linha de corrente: e´ uma linha imagina´ria trac¸ada no campo de escoamento, num instante de tempo, de forma que, em cada ponto, os vetores velocidade de escoamento sa˜o tangentes a ela. Essas linhas fornecem informac¸o˜es sobre as direc¸o˜es e as velocidades dos escoamentos. Uma linha de corrente pode ser descrita em func¸a˜o das componentes de velocidade de esco- amento num ponto, relacionando as componentes de velocidade com a geometria do campo de escoamento. Num escoamento bidimensional, descrito em relac¸a˜o a um sistema de coor- denadas cartesianas, o vetor velocidade ~v e´ tangente a L.C., de forma que ~v = d~r dt = dx dt ~i+ dy dt ~j onde dx dt = vx dy dt = vy Dessa forma, para um mesmo intervalo de tempo dt , podemos ter: dx vx = dy vy Para um escoamento tridimensional: dx vx = dy vy = dz vz Observac¸a˜o: As linhas de corrente nunca se cruzam, pois uma part´ıcula fluida na˜o pode ter duas velocidades diferentes simultaneamente. 23 • Linha de emissa˜o: a linha de emissa˜o de um ponto,num instante de tempo, pode ser definida como a linha formada por todas as part´ıculas fluidas que passaram anteriormente pelo ponto. Observac¸a˜o: Quando o escoamento e´ invariante no tempo (regime permanente), tem-se que as trajeto´rias, as linhas de corrente e as linhas de emissa˜o, com origem no mesmo ponto, sa˜o coincidentes. 2.5.2 Classificac¸a˜o Os escoamentos podem ser classificados, de acordo com alguns crite´rios, de diversas maneiras: • permanente ou variado • incompress´ıvel ou compress´ıvel • uni, bi ou tridimensional • laminar ou turbulento a) Escoamento permanente e variado: um escoamento e´ chamado de permanente ou estaciona´rio quando as suas propriedades, em qualquer ponto, permanecem invariantes no tempo. Isto significa que, apesar de o fluido estar em movimento, a configurac¸a˜o de suas propriedades em qualquer instante permanece a mesma. Caso contra´rio, quando as condic¸o˜es do fluido em alguns pontos ou regio˜es variam com o passar do tempo, o escoamento e´ chamado de regime variado. b) Escoamento incompress´ıvel e compress´ıvel: escoamento incompress´ıvel e´ aquele em que as va- riac¸o˜es de massa espec´ıfica sa˜o insignificantes. Quando essas variac¸o˜es na˜o podem ser desprezadas, dizemos que o escoamento e´ compress´ıvel. Os l´ıquidos sa˜o incompress´ıveis e escoam dessa forma; os gases sa˜o compress´ıveis, mas podem escoar de forma incompress´ıvel quando as velocidades de escoamento sa˜o pequenas. c) Escoamento uni, bi e tridimensional: a classificac¸a˜o se da´ em func¸a˜o do nu´mero de coorde- nadas espaciais necessa´rias para a especificac¸a˜o do campo de velocidade. d) Escoamento laminar e turbulento: um escoamento e´ laminar quando o movimento do fluido se da´ como se fosse constitu´ıdo de placas paralelas que deslizam umas sobre as outras, sem troca de massa entre elas. No escoamento turbulento, as part´ıculas fluidas se movem em trajeto´rias irregulares e ocorrem misturas, geralmente atrave´s de turbilho˜es. Observac¸o˜es: 1. Os escoamentos laminares e turbulentos esta˜o diretamente vinculados ao Nu´mero de Reynolds, que estabelece uma relac¸a˜o entre a velocidade de escoamento, o diaˆmetro do tubo, a massa espec´ıfica e a viscosidade dinaˆmica do fluido e e´ definido por Re = ρ v d µ Para Re < 2100 , o escoamento e´ laminar. Para Re > 2500 , o escoamento e´ turbulento. Na regia˜o de transic¸a˜o, onde 2100 < Re < 2500 , o escoamento pode ser laminar ou turbulento, dependendo das condic¸o˜es ambientais, principalmente da existeˆncia de vibrac¸o˜es no sistema. 2. Para um escoamento laminar em dutos circulares, o perfil da velocidade numa sec¸a˜o e´ pa- rabo´lico, e dado pela expressa˜o v(r) = vmax [ 1− ( r R )2] 24 onde vmax e´ a velocidade de escoamento no centro da sec¸a˜o e R e´ o raio do duto. 3. Para um escoamento turbulento em dutos circulares, o perfil da velocidade numa sec¸a˜o e´ dado pela expressa˜o v(r) = vmax [ 1− ( r R )]1/7 2.5.3 Outros conceitos • Vaza˜o em volume: Define-se vaza˜o em volume como sendo o volume de fluido que atravessa certa sec¸a˜o do escoamento por unidade de tempo, ou seja Q = V t e pode ser expressa nas unidades m3/s, l/s,m3/h, l/min, ... . Existe uma relac¸a˜o importante entre a vaza˜o volume´trica e a velocidade do fluido. Num intervalo de tempo t , o fluido se desloca atrave´s da sec¸a˜o de a´rea A a uma distaˆncia igual a s . O volume que atravessa a sec¸a˜o A nesse intervalo de tempo e´ dado por V = sA Logo, podemos afirmar que a vaza˜o pode ser escrita como Q = V t = sA t Como s t = v , temos Q = vA Observac¸a˜o: A expressa˜o acima so´ e´ va´lida para o caso em que a velocidade e´ uniforme na sec¸a˜o. Num caso geral, em que a velocidade e´ diferente em cada ponto, temos dQ = v dA ou Q = ∫ A vdA 25 • Velocidade me´dia Define-se velocidade me´dia da sec¸a˜o como sendo a velocidade uniforme que , substitu´ıda no lugar da velocidade real, reproduziria a mesma vaza˜o, ou seja Q = ∫ A vdA = vmA Portanto: vm = 1 A ∫ A vdA Exemplo 2.10 No escoamento bidimensional abaixo, determinar a velocidade me´dia do di- agrama de velocidades. Soluc¸a˜o Inicialmente, temos que determinar v = ay + b atrave´s das condic¸o˜es de contorno. – para y = 0→ v = 0→ b = 0 – para y = h→ v = v0 → a = v0 h Logo: v = v0 h y A velocidade me´dia sera´: vm = 1 A ∫ A vdA onde: A = sh e dA = sdy . 26 Logo: vm = 1 sh ∫ h 0 v0 h y sdy = v0 h2 ∫ h 0 y dy = v0 2 • Vaza˜o em massa Analogamente a` vaza˜o em volume, podemos definir a vaza˜o em massa como sendo Qm = m t = ρ V t Como V t = Q e Q = vmA , podemos escrever Qm = ρQ = ρ vmA Exemplo 2.11 Um ga´s escoa em regime permanente no trecho de tubulac¸a˜o da figura abaixo. Na sec¸a˜o (1) tem-se A1 = 20 cm 2, ρ1 = 4 kg/m 3 e v1 = 30 m/s. Na sec¸a˜o (2) os valores sa˜o: A2 = 10 cm 2 e ρ2 = 12 kg/m 3. Determine a velocidade me´dia na sec¸a˜o (2). Soluc¸a˜o A equac¸a˜o de continuidade de um fluido para um regime permanente nos permite escrever que Qm1 = Qm2 ou ρ1 v1A1 = ρ2 v2A2 Logo: v2 = v1 ρ1 ρ2 A1 A2 = 30 4 12 20 10 = 20 m/s Exemplo 2.12 Resolver o problema anterior supondo que, em vez de ga´s, exista a´gua ( ρ = 1.000 kg/m3 ) escoando pelo tubo. Soluc¸a˜o Como a a´gua e´ um fluido incompress´ıvel, na˜o havera´ variac¸a˜o da massa espec´ıfica durante o escoamento, ou seja: ou ρ v1A1 = ρ v2A2 Logo: v2 = v1 A1 A2 = 30 20 10 = 60 m/s Observac¸a˜o: Atrave´s do exemplo anterior, podemos notar que a vaza˜o em volume de um fluido incompress´ıvel e´ a mesma em qualquer sec¸a˜o do escoamento. 27
Compartilhar