Buscar

pentateuco garcia - INTRODUÇÃO À LEITURA DOS CINCO PRIMEIROS LIVROS DA BÍBLIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FÉLIX GARCÍA LÓPEZ
O PENTATEUCO
INTRODUÇÃO À LEITURA 
DOS CINCO PRIMEIROS LIVROS 
DA BÍBLIA
Siglas e abreviaturas
AAT Apócrifos do Antigo Testamento (Ed. A. Díez Macho)
AB Anchor Bible, New York
AnBib Analecta Biblica, Roma
ANET Ancient Near Eastern Texts, Princeton (J.B. Pritchard, ed.)
AOAT Alter Orient und Altes Testament, Kevelaer
ATD Das Alte Testament Deutsch, Göttingen
AThANT Abhandlungen zur Theologie des Alten und Neuen Testaments, 
 Zurich
BA The Biblical Archaeologist, New Haven
BBB Bonner Biblische Beiträge
BE Biblische Enzyklopädie, Stuttgart
BETL Bibliotheca Ephemeridum Theologicarum Lovaniensium
Bib Biblica, Roma
BI Biblical Interpretation, Leiden 
BIS Biblical Interpretation Series, Leiden
BJS Brown Judaic Studies, Chico
BK Biblischer Kommentar, Neukirchen-Vluyn
BN Biblische Notizen, Bamberg
BS Bibliotheca Salmanticensis
BTB Biblical Theology Bulletin, New York
BWANT Beiträge zur Wissenschaft vom Alten und Neuen Testament, 
 Stuttgart
BZAW Beihefte zur Zeitschrift fur die alttestamentliche Wissenschaft, Berlin
CB Cuadernos Bíblicos, Estella
CBET Contributions to Biblical Exegesis and Theology, Kampen
CB.OTS Coniectanea Biblica – Old Testament Series, Stockholm
CBQ Catholic Biblical Quarterly, Washington, DC
CE Cahiers Evangile, Paris
CRB Cahiers de la Revue Biblique, Paris
CR:BS Currents in Research: Biblical Studies
EB Études Bibliques, Paris
EdF Erträge der Forschung, Darmstadt
EHS Europäische Hoschschulschriften, Frankfurt am Main
EstBíbl Estudios Bíblicos, Madrid
ETR Études Théologiques et Religieuses, Montpellier
FAT Forschungen zum Alten Testament, Tubingen
FRLANT Forschungen zur Religion und Literatur des Alten und Neuen 
 Testaments, Göttingen
FS Festschrift
HAT Handbuch zum Alten Testament, Tubingen
HBS Herder Biblische Studien, Freiburg im Bresgau
HK Handkommentar zum Alten Testament, Göttingen
HSM Harvard Semitic Monographs, Atlanta
HUCA Hebrew Union College Annual, Cincinnati
Id. Idem
Interp Interpretation, Richmond
IOSOT International Organization for the Study of the Old Testament
JAOS Journal of the American Oriental Society, Boston
JBL Journal of Biblical Literature, Atlanta
JBTh Jahrbuch fur Biblische Teologie
JJS Journal of Jewish Studies, Oxford
JSOT Journal for the Study of the Old Testament, Sheffield
JSOT SS Journal for the Study of the Old Testament Supplement Series, 
 Sheffield
KAI Kanaanäische und aramäische Inschriften, I, 1966 (H. Donner- 
 W. Röllig, eds.)
9
LD Lectio Divina, Paris
MB Le Monde de la Bible, Genève
NCBC New Century Bible Commentary, Grand Rapids
NEB Neue Echter Bibel, Wurzburg
OBO Orbis Biblicus et Orientalis, Fribourg
OTG Old Testament Guides, Sheffield
OTL Old Testament Library, London
OTS Oudtestamentische Studien, Leiden
PT Presencia Teológica, Santander
RB Revue Biblique, Paris
RHPhR Revue d’Histoire et de Philosophie Religieuses, Strassbourg
RHR Revue de l’Histoire des Religions, Paris
RSB Ricerche Storico Bibliche, Bologna
RSR Recherches de Sciences Religieuses, Paris
RivBibIt Rivista Biblica Italiana, Bologna
RSR Recherches de Sciences Religieuses, Paris
SBAB Stuttgarter Biblische Aufsatzbände, Stuttgart
SBL DS Society of Biblical Literature Dissertation Series, Atlanta
Salm Salmanticensis, Salamanca
SBS Stuttgarter Bibel-Studien
SCE Supplement au Cahiers Evangile, Paris
SET Semanas de Estudios Trinitarios, Salamanca
SJOT Scandinavian Journal of the Old Testament
SRivBibIt Supplementi alla Rivista Biblica Italiana, Bologna
StB Studia Biblica, Leiden
SubBib Subsidia Biblica, Roma
SVT Supplements to Vetus Testamentum, Leiden
TeD Teología en Diálogo, Salamanca
ThB Theologische Bucherei, Munchen
ThLZ Theologische Literaturzeitung, Leipzig
ThR Theologische Revue, Munster
ThRu Theologische Rundschau, Tubingen
ThW Theologische Wissenschaft, Stuttgart
ThZ Theologische Zeitschrift, Basel
TWAT Theologisches Wörterbuch zum Alten Testament, Stuttgart
UF Ugarit-Forschungen
UTB Uni-Taschenbucher, Göttingen
VF Verkundigung und Forschung, Munchen
VT Vetus Testamentum, Leiden
WBC Word Biblical Commentary, Dallas
WMANT Wissenschaftlichen Monographien zum Alten und Neuen 
 Testament, Neukirchen-Vluyn
ZA Zeitschrift fur Assyriologie
ZAR Zeitschrift fur Altorientalische und Biblische Rechtsgeschichte, 
 Wiesbaden
ZAW Zeitschrift fur die alttestamentliche Wissenschaft, Berlin
ZDMG Zeitschrift fur Deutschen Morgenländischen Gesellschaft
ZLTh Zeitschrift fur lutherische Theologie
ZThK Zeitschrift fur Theologie und Kirche, Tubingen
Apresentação
Com este volume, o benévolo leitor tem em suas mãos mais um livro da 
série editorial intitulada “Introdução ao Estudo da Bíblia”. Esta coleção nas-
ceu aproximadamente quinze anos antes da primeira publicação deste livro, no 
âmbito da Associação Bíblica espanhola, como contribuição de um grupo de 
especialistas espanhóis no campo específico da literatura introdutória da Bíblia. 
Nasceu em continuidade histórica com outra obra muito significativa e mais an-
tiga: Comentário ao Antigo e Novo Testamento, vol. I, II e III, de La Casa de la 
Biblia (publicada pela Editora Ave-Maria), composta por biblistas espanhóis da 
geração anterior. E nasceu como oferta ao mundo universitário e ao leitor culto 
interessado na Bíblia. Hoje, o volume dedicado ao Pentateuco, escrito por Félix 
García López, catedrático do Antigo Testamento na Faculdade de Teologia da 
Universidade Pontifícia de Salamanca, completa esta série composta de onze 
volumes. É, sem dúvida, curioso e, talvez, significativo que o último volume 
publicado seja correspondente aos primeiros livros da Bíblia. Como disse al-
guém, dentre os especialistas que trabalharam nesta coleção, trata-se de uma 
“inclusão”, isto é, de um final que inevitavelmente volta a ser o início. Porque, 
se é verdade que a coleção já está completa, não o é por menos que nunca estará 
acabada. Com efeito, iniciou-se uma revisão dos distintos volumes, que pro-
curará colocar em dia cada título desta série. É este o compromisso da equipe 
editorial, responsável por toda a obra. Equipe que, além disso, tem outro agra-
dável dever de cumprir, o do agradecimento. Primeiro à Associação Bíblica 
Espanhola, que acolheu o projeto hoje concluído. Em seguida, aos autores de 
cada um dos trabalhos, que escreveram com competência uma obra notável, um 
contínuo na história da produção bíblica espanhola. Depois, à Editoral Verbo 
12 O Pentateuco
Divino, que materializou com dignidade e beleza cada um dos exemplares da 
coleção. Finalmente, e sobretudo, aos leitores que – em espanhol, em italiano 
e em português (Editora Ave-Maria), cujas línguas a coleção fora traduzida – 
acolheram e continuam acolhendo com agrado e benevolência o nosso trabalho. 
Podem ter a certeza de que continuaremos atualizando e melhorando toda esta 
obra. Mas isso será nos próximos meses e anos. Agora, neste final do ano 2002, 
o verdadeiramente importante é, simplesmente, nos alegrar por ter nas mãos 
uma obra completa e expressar nossa alegria com esta bonita palavra. Obrigado. 
Natividade de 2002
José Manuel Sánchez Caro
Coordenador do Conselho de Direção
Prólogo
Os estudos sobre o Pentateuco mudaram radicalmente nos quinze anos que 
precederam esta publicação. Desmoronou-se o paradigma alicerçado pela teoria 
documentária, e ainda não veio à luz um novo paradigma. Reina a desordem, 
quando não a confusão. Existe quem pensa que tudo vale ou, pelo contrário, 
nada vale. 
Durante o tempo dedicado à preparação desta obra, tive que afastar essas 
pequenasimportunações que me acometiam, perguntando se valia a pena ou 
não escrever um livro sobre o Pentateuco em um mundo abarrotado de livros 
prescindíveis. Além disso, tive que me colocar seriamente algumas questões 
metodológicas fundamentais, como: devia prescindir dos estudos histórico-crí-
ticos, tão desprestigiados em alguns setores? Conviria apostar exclusivamente 
pelos estudos literários ou teológicos, como alguns pretendiam? Qual a opção a 
ser feita e ser seguida neste momento?
Sempre pensei que os exclusivismos não são bons companheiros de via-
gem. Melhor seria integrar do que eliminar. Depois de analisar as obras mais 
significativas, clássicas e recentes, fiz um balanço da história da investigação 
(Cap. II, § 5) e me propus quatro objetivos: 1) partir do texto final, valorizando 
mais o texto em si do que o que está por trás dele; 2) integrar, na medida do pos-
sível, os estudos sincrônicos e diacrônicos; 3) estudar o texto a partir do ponto 
de vista literário e teológico, sem descuidar o seu substrato histórico; 4) nunca 
dar por concluídas as questões em discussão. Esses são os principais sinais da 
identidade desta obra.
O Pentateuco é o centro da Bíblia Hebraica e parte essencial da Bíblia 
Cristã. Esta simples apreciação deveria estimular a sua leitura. Não é suficiente 
14 O Pentateuco
ter vontade de ler o Pentateuco. Falta para esse trabalho um certo esforço. Como 
também, estou seguro de que aqueles que o fizerem sairão muito enriquecidos 
de sua leitura. Refiro-me, evidentemente, à leitura do Pentateuco. No final de 
tudo, a presente obra não é mais que uma Introdução a esta leitura: “Feliz aquele 
que se compraz no serviço do Senhor [Javé]” (Sl 1,2).
Félix García López
Festa de São Jerônimo, 2002
CAPÍTULO I
Características do Pentateuco
O Pentateuco é uma grande composição literária, integrada por narrações 
e leis. Os personagens principais se desenvolvem, em geral, num marco espacial 
e temporal muito amplo, quando não o transcende, como no caso de Javé. Embora, 
em muitos aspectos, se assemelhe às obras literárias modernas, o Pentateuco apre-
senta alguns problemas específicos. Dessas e de outras questões nos ocuparemos no 
primeiro capítulo, depois de explicar a origem e o significado do nome. 
1. Nomes
São dois os nomes comumente empregados para designar os cinco primei-
ros livros da Bíblia: Torá e Pentateuco.
O substantivo hebraico torá significa basicamente “instrução”, mas tem, 
além disso, outros significados. Na Bíblia Hebraica se refere com frequência a 
uma lei ou coleção de leis (cf. Lv 11,46; 26,46; Ez 43,11.12) e também a um ou 
mais livros (cf. Dt 31,26; Js 8,34; 2Rs 22,8.11; Ne 8,1; 2Cr 34,14). Na tradição 
judaica, usa-se a expressão “os cinco quintos da Torá” para referir-se aos cinco 
primeiros livros da Bíblia1. 
A versão grega dos LXX traduz o termo Torá por nómos (lei)2. O Prólogo do 
tradutor grego do livro do Eclesiástico (século II a.C.) distingue a “Lei” (nómos) 
 1. Em Esdras, Neemias e Crônicas, a expressão “Torá de Moisés” provavelmente se refere ao Pentateuco 
como unidade (cf. Cap. VIII, § 2, c; GARCÍA LÓPEZ, F. Tôrah, TWAT VIII. Stuttgart, 1995, 597-637; 
Id. Dalla Torah al Pentateuco. RSB 3, 1991, 11-26). A divisão em cinco livros é posterior. O Talmud 
alude reiteradas vezes “aos cinco quintos da Torá” numa clara referência aos cinco primeiros livros da 
Bíblia (cf. bMegilla 15a; bNedarim 22b; bSanhedrim 44a ). 
 2. Muitos autores pensam que a versão dos LXX contribuiu para a concepção nominalista da Torá. No en-
tanto, L. Monsengwo Pasinya (La notinon de nómos dans le Pentateuque grec [AnBib 52], Roma 1973, 
88), mostrou que nómos no Pentateuco grego significa divina revelação, considerada como um todo e 
composta por uma parte doutrinal e outra legislativa; exatamente o mesmo que torá.
16 O Pentateuco
dos “Profetas” e os “Escritos” sem nenhuma outra precisão sobre cada um dos 
livros.3 Por sua vez, Filón de Alexandria (na primeira metade do século I d.C.) 
comenta que o primeiro dos cinco livros nos quais estão escritas as santas leis se 
chama Gênesis, um nome dado pelo próprio Moisés.4 E Josefo (segunda metade 
do século I d.C.) afirma que dos 22 livros próprios dos judeus “cinco são os livros 
de Moisés”. Nestes, se encontram as leis e a história tradicional desde a criação do 
homem até a morte do legislador.5 
A palavra grega pentateujos (penta: cinco e teujos: estojo, que contém os 
livros / rolos) aparece pela primeira vez no século II d.C. (o primeiro a usá-la foi 
o gnóstico Ptolemaios, morto em 180 d.C.). A forma latina pentateuchus liber 
se encontra a partir de Tertuliano.6 
No hebraico, os livros da Torá denominam-se com a primeira palavra 
importante de cada livro: 1) beresit (“no princípio”), 2) semot (“nomes”), 
3) wayyiqra’ (“e chamou”), 4) bemidbar (“no deserto”), 5) debarim (“palavras”).
A tradução grega dos LXX lhe deu um título referido ao conteúdo do livro: 
1) Genesis (“origem”), porque trata das origens do mundo, da humanidade e de 
Israel; 2) Exodos (“saída”), alude à saída de Israel do Egito; 3) Leuitikon (“leví-
tico”), refere-se ao núcleo central das leis e ritos levítico-sacerdotais; 4) Aritmoi 
(“números”), deve-se aos recenseamentos contidos no livro; 5) Deuteronomion 
(“segunda lei”: deuteros-nómos: cf. Dt 17,18), entendido no sentido de uma 
nova lei dada em Moab, que viria completar a lei do Sinai.
As versões latinas adotaram e adaptaram os nomes gregos (Genesis, Exodus, 
Leviticus, Numeri, Deuteronomium), em seguida passaram para as línguas vernáculas. 
2. Narrativas e leis
O gênero narrativo predomina na primeira parte (Gn 1–Ex 19); a lei, 
na segunda parte (Ex 20–Dt). Na realidade, dos cinco livros que formam o 
Pentateuco, o único livro “completamente” narrativo é o do Gênesis; nos outros 
quatro livros, as narrativas alternam-se com as leis.
A partir de uma perspectiva canônica, a Torá é uma mescla de narrativa e 
lei; ambas percorrem juntas, formando uma “unidade”. A inserção das leis numa 
trama narrativa é o aspecto mais característico do Pentateuco.7 
 3. O Novo Testamento distingue “a lei de Moisés, os profetas e os Salmos” (Lc 24,44) ou “a lei e os pro-
fetas”: cf. Mt 5,17; 7,12; Lc 16,16; At 13,15; 24,14; Rm 3,21.
 4. FILÓN. De Aeternite Mundi, 19 (Opera VI, 78).
 5. JOSEFO. Contra Apionem, I, 37-39.
 6. TERTULIANO. Adversus Marcionem, 1,10.
 7. Cf. SANDERS, J. A. From Sacred Story to Sacred Text. Philadelphia, 1987, 43; CAZELLES, H. 
La Torah ou Pentateuque. In: Id. (ed.). Introduction à la Bible, II, Introduction critique à l’Ancien 
Testament. Paris, 1973, 100.
17
A partir de uma perspectiva literária, a interrupção da narrativa por séries 
mais ou menos amplas de leis é um fenômeno que choca a sensibilidade estética 
do leitor atual, pois não correspondem aos cânones próprios da literatura moder-
na. Compreende-se por que já o jovem Goethe mostrara sua estranheza diante 
desse fenômeno.8 
Historicamente, o mais provável é que os códigos de leis no Pentateuco 
tiveram sua origem independentemente das seções narrativas.
a) A narrativa bíblica
Na opinião de Sternberg, a narrativa bíblica é regida por três princípios: o 
ideológico, que procura estabelecer e transmitir uma determinada concepção do 
mundo; o historiográfico, que insere alguns fatos com outros, e o estético, que 
organiza o texto a partir do ponto de vista formal.9 
1o Historiografia
Por regra geral, as narrações do Pentateuco têm um caráter marcadamente 
histórico. Não é puramente casual que os acontecimentos se encontram dispos-
tos numa sequência cronológica, mas isso não significa que seja uma crônica 
dos fatos (que “realmente” aconteceram); trata-se muito mais de relatos com 
aparência de crônica.
Influenciados pelos estudos modernos sobre a literatura de ficção, Schneideau 
define as narrativas bíblicas como “ficçãohistoriada”10 e Alter como “história de 
ficção”11. Embora mudem os termos, a realidade não muda: as narrativas bíblicas 
têm um objetivo e um substrato histórico inegável, mas não são história no senti-
do moderno da palavra. A “história bíblica” não pode ser interpretada no sentido 
ciceroniano clássico da “história” como “memória do passado”12. Recorda-se o 
passado tanto quanto dele se possa extrair lições para o presente e para o futuro.
A história do antigo Israel constitui o objeto de uma vasta obra narrativa 
que abrange desde a criação do mundo até a queda de Jerusalém e o exílio da 
Babilônia (Gênesis–Reis). O Pentateuco compreende a primeira parte desta nar-
rativa: a partir da criação do mundo até a morte de Moisés nos umbrais da terra 
prometida. Embora a promessa da terra é feita a Abraão no início do livro do 
Gênesis, sua conquista não é narrada até o livro de Josué.
 8. GOETHE, J.W. Israel in der Wuste. In: Beutler, E. (ed.). West-Östlicher Diwan, 1943, 240.
 9. STERNBERG, M. The Poetics of Biblical Narrative. Ideological Literature and the Drama of Reading. 
Bloomington, 1987, 41-45.
 10. SCHNEIDAU, H.N. Sacred Discontent. Louisiana, 1976, 215.
 11. ALTER, R. Sacred History and Prose Fiction. In: The Creation of Sacred Literature. Berkeley, 1981, 8.
 12. CICERÓN. Tusculanae Disputationes, III, 33.
Características do Pentateuco
18 O Pentateuco
A partir da perspectiva dos israelitas no processo de formar sua nação em 
Canaã, se pode dizer que o relato da conquista e do assentamento na terra é história 
contemporânea; a história de Israel no Egito e o êxodo é a história antiga; a narrativa 
dos patriarcas é a história legendária; o relato de Gn 1–11 é a história mítica.13 Essa 
classificação coloca em realce o caráter singular da “história” do Pentateuco.
Na consagrada obra Em busca da história: a historiografia no mundo antigo 
e as origens da história bíblica, Van Seters propõe cinco critérios para identifi-
car a historiografia israelita antiga: 1o) é uma forma literária intencional e não 
meramente acidental; 2o) não consiste somente numa descrição objetiva do passa-
do, mas compreende também a valorização e a interpretação dos acontecimentos 
históricos; 3o) examina as condições atuais com a sua casualidade moral; 4o) é 
obra de uma nação ou um grupo étnico; 5o) forma parte das tradições literárias 
de um povo e possui um papel importante na configuração de sua identidade na-
cional.14 Para o autor, a primeira história bíblica escrita segundo esses critérios é 
a “Historiografia Deuteronomista” (Deuteronômio–2Reis). Nela se relata a his-
tória de Israel a partir de sua fundação como nação na época de Moisés até a 
queda de Jerusalém. Posteriormente foram escritas a “Historiografia Javista” e 
a “Historiografia Sacerdotal” (Gênesis–Números), a estilo de prólogo e comple-
mento da anterior, ampliando a história até o início do mundo.15 
A tendência atual de concluir tardiamente os textos do Pentateuco nos con-
vida a desconfiar de sua credibilidade histórica. Quanto mais tardio forem os 
documentos, mais se distanciam dos acontecimentos aos quais se referem, dimi-
nuindo a esperança de que possam oferecer informação histórica.16 Os enfoques 
neo-historicistas da literatura bíblica em geral, e do Pentateuco em particular, 
 13. Cf. AVERBECK, R.E. The Sumerian Historiographic Tradition and Its Implications for Genesis 1–11. 
In: MILLARD, A.R. e outros (eds.). Faith, Tradition, and History. Old Testament Historiography in 
Its Near Eastern Context. Winona Lake, 1994, 79-102 (98-99). LICHT, J. (Storytelling in the Bible, 
Jerusalém, 1978, 14-16) distingue três classes de narrativas: fictícias, históricas e tradicionais. Estas 
últimas incluem mitos, lendas e poesia épica ou heroica. As narrações do Antigo Testamento pertencem 
à segunda e terceira categoria. As partes mais antigas (criação, paraíso e queda, dilúvio e torre de Babel) 
são míticas e as narrações dos patriarcas são legendárias. Por sua vez, as narrações do Êxodo e dos even-
tos do Sinai constituem um tipo especial de história, distinto da história comum. Para KNAUF, E.A. 
(Der Exodus zwischen Mythos und Geschichte. Zur priesterschriftlichen Rezeption der Schilfmeer-
Geschichte in Ex 14. In: KRATZ, R.G. e outros [eds.]. Schriftauslegung in der Schrift [BZAW 300]. 
Berlin, 2000, 73-84 e PROPP, W.H.C. (Exodus 1–18 [AB 2]. New York 1999, 560-561), Ex 14 se situa 
entre o mito e a história. 
 14. VAN SETERS, J. In Search of History. Historiography in the Ancient World and the Origins of Biblical 
History. New Haven, 1983, 4-5.
 15. VAN SETERS, J. In Search of History (n. 14), 359-362. Segundo BAUKS, M. (La signification de 
l’espace et du temps dans “l historiographie sacerdotale”, em RÖMER, T. [ed.]. The Future of the 
Deuteronomistic History [BETL 147]. Leuven, 2000, 29-45), as categorias de espaço e tempo em P têm 
um valor cultural e, consequentemente, a “Historiografia Sacerdotal” não é uma verdadeira historiogra-
fia. Sobre o significado e o alcance dos termos “Javista” e “Sacerdotal”, ver o Cap. II, § 2, a. 
 16. Cf. RENDTORFF, R. The Paradigm is Changing: Hopes and Fears, BI 1, 1993, 34-53 (45).
19
contribuíram para um novo reajuste das dimensões históricas dos textos e para 
uma nova consideração da literatura como reflexo da época em que foi escrita, 
mais do que como prova dos fatos supostamente acontecidos.17 
2o Ideologia
O interesse pela “mensagem” teológica do Pentateuco é um dos intentos 
mais importantes nos estudos realizados nas últimas décadas.18 A “história bí-
blica” foi classificada numa pequena “história da salvação”, sublinhando, desta 
forma, seu aspecto teológico. Mais que uma história de Israel, as narrações do 
Pentateuco se assemelham a um relato das gestas de Javé.
O Pentateuco não somente apresenta Deus salvando na história, mas 
também abençoando. No aspecto geral, podemos distinguir duas categorias: a 
histórica e a da providência. Os livros do Êxodo e dos Números são orientados 
para os acontecimentos históricos; o Gênesis e o Deuteronômio, para a bênção.19 
Criação e história estão intimamente inter-relacionadas.
Além disso, o Pentateuco é fruto de um processo espiritual e canônico. 
Alguns estudos recentes mostraram a importância de considerar a Torá / o 
Pentateuco como Escritura normativa para uma comunidade.20 
3o Estética
Para a composição do Pentateuco, seguiram-se regras e cânones estéticos 
em parte já estabelecidos nas culturas sobre Israel. Impulsionados pela sua ca-
pacidade criativa, os autores bíblicos elaboraram os seus relatos servindo-se das 
diversas formas literárias (diálogos, monólogos interiores, conselhos etc.) e de 
diferentes recursos estilísticos (simetria, repetição, jogo de palavras etc.).21 O 
Pentateuco é pluriforme em estilo, linguagem e voz.
Um aspecto característico dos textos bíblicos narrativos é a mudança da pro-
sa à poesia para “expressar sentimentos fortes”22, para realizar algumas ideias 
importantes23 ou para outros fins estéticos. Os textos poéticos se encontram no fi-
 17. Cf. CARROLL, R.P. Enfoques postestructuralistas. Neohistoricismo y modernismo. In: Barton, J. (ed.). 
La interpretación bíblica, hoy. Santander, 2001, 70-88 (76).
 18. Cf. RENDTORFF, R. Directions in Pentateuchal Studies. CR:BS 5, 1997, 43-65 (57).
 19. Cf. WESTERMANN, C. Blessing in the Bible and in the Life of the Church. Philadelphia, 1978, 26-59.
 20. Cf. SANDERS, J.A. Torah and Canon. Philadelphia, 1972; CHILDS, B.S. Introduction to the Old 
Testament as Scripture. Philadelphia, 1979, 96-99. 127-135.
 21. Cf. ALTER, R. Art of Biblical Narrative. New York, 1981; BERLIN, A. Poetics and Interpretation of 
Biblical Narrative. Sheffield, 1983; STERNBERG, M. The Poetics of Biblical Narrative (n. 9).
 22. SKA, J.L. “Our Fathers Have Told Us”. Introduction to the Analysis of Hebrew Narratives 
(SubBib 13).Roma, 1990, 91.
 23. FOKKELMAN, J.P. Genesis. In: KERMODE, F. ; ALTER, R. The Literary Guide to the Bible. London, 
1987, 37-44; WEITZMAN, S. Song and Story in Biblical Narrative. Bloomington, 1997.
Características do Pentateuco
20 O Pentateuco
nal de um pequeno relato, de uma seção ou de um livro. No primeiro caso, se pode 
tratar de textos poéticos curtos; nos outros dois casos, se encontram poemas mais 
amplos. Assim, as últimas duas cenas do relato da bênção de Isaac são coroadas 
com alguns versos (27,27-29.39-40); a primeira parte do Êxodo (Ex 1,1–15,21) 
culmina com um canto de ação de graças (Ex 15,1-21) e os livros do Gênesis e do 
Deuteronômio terminam com textos poéticos (cf. Gn 49 e Dt 32; 33).
b) As leis
Na segunda parte do Pentateuco, são conservadas três grandes coleções de 
leis: o Código da Aliança (Ex 20,22–23,19), a Lei de Santidade (Lv 17–26) e o 
Código deuteronômico (Dt 12–26). A estas coleções é preciso somar mais ou-
tras três pequenas coleções: duas versões do Decálogo (Ex 20,2-17; Dt 5,6-21), 
mais o “Direito de privilégio de Javé” (Ex 34,10-26). Basicamente, abarcam 
todos os âmbitos da vida, com especial ênfase em três áreas: a jurídica (jus), a 
ética (ethos) e a cultual (cultus).
As leis nascem da história e na história, sendo, por isso mesmo, temporais 
e caducas. No antigo Oriente Próximo, o mesmo que na Grécia ou em Roma, 
as leis tinham uma origem humana. Teoricamente, isso vale também para as 
leis do antigo Israel, mas a Bíblia as faz remontar todas a Javé. Estabelece uma 
distinção fundamental entre o Decálogo e as outras leis: somente o Decálogo foi 
transmitido diretamente por Deus (Ex 20,2; Dt 5,6); as outras leis foram trans-
mitidas por Moisés (cf. Ex 20,18-21.22; Dt 5,22-31).
As leis do Pentateuco nasceram no seio da comunidade israelita. Uma co-
munidade de pessoas livres que experimentaram o poder de Deus no momento da 
libertação do Egito e sua presença próxima na ratificação da aliança, acontecimen-
tos decisivos para que o povo crescesse em Javé, o reconhecesse como seu Deus e 
aceitasse suas leis como norma de vida. Por isso, a legislação bíblica não somente 
aparece como um dom de Deus, mas também como uma tarefa para Israel.
Com frequência, as leis bíblicas se fundamentam recorrendo à história e se 
inculcam mediante exortações e admoestações. O tom parenético e as “cláusulas 
motivantes”, orientadas para convencer e persuadir os israelitas a que fossem fiéis 
à vontade de Deus, figuram entre as notas características da legislação bíblica. 
3. Os personagens
Dos numerosos personagens do Pentateuco, aqui se centralizará a atenção 
unicamente em Javé, Abraão, Jacó / Israel e Moisés. Também seriam dignos de 
consideração Henoc, Noé, Isaac, Aarão, Fineias, José e Caleb – evocados por 
21
Ben Sirac em seu “Elogio dos antepassados ilustres” (44,1–46,12) – ou Adão e 
Eva, Sara, Rebeca, Lia, Raquel e Miriam, entre outros, mas sua relevância no 
conjunto da obra é muito menor, por isso, o estudo deles será relegado aos livros 
ou seções onde são protagonistas.
Nas narrativas bíblicas, os personagens podem estar a serviço da trama; 
poucas vezes são apresentados por si mesmos. Não obstante, “muitas das con-
cepções se encarnam na narração por meio dos personagens; especialmente por 
meio de sua palavra e de seu destino final”24. Nas leis do Pentateuco, o protago-
nismo corresponde a Javé, como legislador; Moisés, como mediador; e Israel, 
como destinatário.25 
a) Javé
O Deus da Bíblia pode ser considerado como um ser real ou como um 
personagem literário. Em geral, as teologias bíblicas clássicas apresentam 
Deus como um ser real. Os novos estudos literários tratam Deus normalmente 
como personagem de um livro. Ambas as aproximações são legítimas e com-
plementares.
Como Deus da Bíblia, é um personagem complexo, com uma gama muito 
vasta e variada de aspectos conflitivos e inclusive contraditórios,26 o que difi-
culta sua compreensão e sistematização. Mais que “um personagem”, o Deus da 
Bíblia contém em si “muitos personagens”.27 
No Pentateuco, sua presença é constante (somente o nome de Javé [ou 
no caso da Bíblia Ave-Maria: Senhor] aparece 1.820 vezes); suas palavras e 
ações são decisivas. Nos momentos cruciais, sempre intervém. Javé é prota-
gonista por excelência do Pentateuco; todos os outros personagens dependem 
dele. O nome Javé aparece diretamente ligado à época de Moisés (Ex 3,13-15 
relata o momento de sua revelação); indiretamente, também em épocas anteriores 
(cf. Gn 2,4; 4,26; 12,1...).
Javé define-se a si mesmo como “o Deus de Abraão, Isaac e Jacó” 
(Ex 3,6.15) e como “o que fez sair Israel do Egito” (Ex 20,2). O Deus dos 
 24. BAR-EFRAT, S. Narrative Art in the Bible (JSOT SS 70). Sheffield, 1989, 47.
 25. Cf. WATTS, J.W. Reading Law. Rhetorical Shaping of the Pentateuch. Sheffield, 1999, 89-130.
 26. Cf. BERLIN, A. Poetics (n. 21), 1983, 23-24. “O conjunto de aspectos que forma a fotografia de Deus 
emerge só e gradualmente e somente através da ação mesma, começando com a criação da luz mediante 
um conciso fiat” (STERNBERG, M. The Poetics [n. 9], 322). Ver também CLINES, D.J.A. God in the 
Pentateuch: Reading against the Grain. In: Id. Interested Parties: The Ideology of Writers and Readers 
of the Hebrews Bible (JSOT SS 205). Sheffield, 1995, 187-211; Id. Images of Yahweh: God in the 
Pentateuch. In: HUBBARD, R. L. e outros (eds.). Studies in Old Testament Theology. Dallas, 1992, 79-98. 
 27. GUNN, D.M. ; FEWELL, D. N. Narrative in the Hebrew Bible. Oxford, 1993, 89.
Características do Pentateuco
22 O Pentateuco
antepassados de Israel (Gn 12–50) possui as características de um patrão; o 
Deus do Êxodo-Deuteronômio, as de um guerreiro e de um legislador. A estes 
se somam os aspectos próprios do Deus criador (Gn 1–11), assim já ficam esbo-
çadas as características mais salientes do Deus do Pentateuco. 
b) Abraão
Os relatos do livro do Gênesis mostram Abraão como o pai de Isaac 
e o avô de Jacó, isto é, como o grande antepassado de Israel. Com Abraão 
começa uma nova etapa. Na perspectiva do livro do Gênesis, a história do 
começo da humanidade avança para Abraão, com quem Deus fará “uma 
grande nação” (Gn 12,2). Abraão é o pai de todo o Israel, como Adão o é de 
toda a humanidade. 
Abrão, Nacor e Arã (Gn 11,26), tal qual os descendentes de Sem (Gn 11,10-
25) ou de Adão (Gn 5), aparecem como elo de uma longa cadeia de seres humanos. 
O que faz de Abraão um personagem realmente distinto e singular é o chamado 
de Deus para romper com todo o seu passado (Gn 12,1) e a empreender uma nova 
aventura (Gn 12,2-3), sua fé e obediência ao mandato divino (Gn 12,4a). 28 E tudo 
isso aos 75 anos! (Gn 12,4).29 O texto bíblico não narra nada dos 74 anos de vida 
de Abraão. Ao autor do livro do Gênesis somente lhe interessa a figura de Abraão 
a partir do chamado divino.
As narrativas sobre Abraão não procuram oferecer uma biografia do 
personagem. São em grande parte legendárias e teológicas. Redigidas mui-
tos séculos depois da suposta época de Abraão,30 em sua maioria durante o 
exílio da Babilônia ou inclusive na época pós-exílica, essas narrativas têm 
por objetivo oferecer um paradigma para os judeus que viviam ou haviam 
vivido no exílio e procuravam refazer sua vida na terra de Canaã, o que não 
deixava de constituir uma nova aventura equiparável de certo modo à do 
mesmo Abraão. 
 28. Cf. GARCÍA LÓPEZ, F. Abraão, amigo de Deus e pai dos crentes. In: Creyentes ayer e hoy (TeD 15). 
Salamanca, 1998, 53-76 (59-70).
 29. Quando Abraão sai de Harã, seu pai, Taré, ainda está vivo. Com efeito, Taré tinha 70 anos quando 
Abraão nasceu (Gn 11,26). Se Abraão saiu de Harã aos 75 anos (Gn 12,4), Taré morreu com 205 anos 
(Gn 11,32), este ainda vivia quando Abraão partiu. O narrador conclui o relato de Taré (Gn 11,32), antes 
de iniciar o de Abraão (Gn 12,1–25,11),apesar dos dois terem vivido simultaneamente durante muitos 
anos. É uma técnica narrativa utilizada também com outros personagens bíblicos (cf. SKA, J.L. Essai 
sur la nature et la signification du cycle d–Araham (Gn 11,27–25,11). In: WÉNIN, A. [ed.]. Studies in 
the Book of Genesis [BETL 155]. Leuven, 2001, 153-177 [157] ).
 30. Fora do Pentateuco, Abraão aparece relativamente pouco e sempre nos textos exílicos e pós-exílicos: 
cf. Js 24,2-4; 1Rs 18,36; 2Rs 13,23; Is 29,22; 41,8. 51,2; 63,16; Jr 33,26; Ez 33,24; Mq 7,20; Sl 47,10; 
105,6-10.42; 1Cr 1,27-34; 16,16; 29,18; 2Cr 20,7; 30,6; Ne 9,7-8.
23
c) Jacó/Israel
Nos textos bíblicos, o nome de Jacó aparece pouco ligado intimamente 
ao de Israel. Unem-se pela primeira vez em Gn 32,29 (“Teu nome não será 
mais Jacó, mas Israel”; cf. 35,10) e há um intercâmbio na História de José 
(comparar Gn 37,13 / 34; 42,5 / 1.4.29.36; 45,21.28 / 25.27; 46,1-2.5.30 / 2.5-
6.8.18-19.22.25-27; 47,27 / 7-10; somente em Gn 43 se usa Israel, sem mudar 
ou mesclar-se com Jacó: cf. os v. 6.8.11). A partir de Gn 45,25–46,5 se usam na 
busca de alternância: primeiro Jacó (Gn 45,25), em seguida Israel (45,28; 46,1-2) 
e, finalmente, Jacó (Gn 46,5).
A série de episódios relativos ao nascimento e juventude de Jacó (Gn 25,21-
34; 27,1-40), sua fuga e o encontro no poço com a que seria sua futura esposa (Gn 
27,41-45; 29,1-14), o matrimônio e o nascimento de seus filhos (Gn 29,15–30,24) 
e o retorno e o encontro com seu irmão (Gn 31,1–32,22; 33,1-20) apresentam 
sua personalidade individual, que vai transformando-o num herói epônimo de 
Israel. Nos aspectos individuais de Jacó, se pode perceber alguns componentes 
essenciais do povo de Israel. A História de Jacó, situada na última parte do livro 
do Gênesis (25–50), conduz para a história do povo de Israel, que começa no 
livro do Êxodo.31 
A tradição bíblica não conservou um retrato “hagiográfico” de Jacó. Pelo 
contrário, aparece desde o início marcado pela ambiguidade (cf. Gn 27,18-
19.36). No entanto, Jacó / Israel é o escolhido por Deus, a quem deve a sua 
posição especial diante de seu irmão e diante das outras nações. A escolha divi-
na é um sinal do caráter misterioso de Deus, de sua gratuidade.
d) Moisés
A presença e o protagonismo de Moisés no Êxodo-Deuteronômio são tão 
decisivos que sem eles não se entenderia os acontecimentos apresentados nesses 
livros.
A riqueza e a variedade de facetas da figura de Moisés32 explicam satisfa-
toriamente os numerosos estudos a ele consagrados. Desde o século I d.C., em 
 31. Conforme PARDES, I. (Biography of Ancient Israel. National Narratives in the Bible, Berkeley, 2000, 
1-11), nos textos bíblicos – especialmente do livro do Êxodo e o livro dos Números, nos quais são 
colocadas as questões fundamentais sobre a origem e a singulariedade de Israel, onde a nação israelita 
está personificada, é um personagem com voz própria. A comparação com personagens individuais 
paradigmáticos – especialmente com Jacó e Moisés – é apresentado assim; cf. PURY, A. As duas lendas 
sobre a origem de Israel (Jacó e Moisés) e a elaboração do Pentateuco, EstBibl 52, 1994, 95-131.
 32. A título de exemplo, cf. VOGELS, W. Moïse aux multiples visages. De l’Exode au Deutéronome. 
Montréal, 1997.
Características do Pentateuco
24 O Pentateuco
que Filón escreve De Vita Mosis, até os nossos dias, exegetas, historiadores, 
artistas, literatos e músicos sentiram-se atraídos por esse personagem singular, 
do qual fizeram as mais diversas representações: “tantas são as fotografias de 
Moisés quanto os autores que lhe dedicaram um estudo”33. 
Para Baltzer, as narrações de Moisés constituem parte de sua “biografia”34. 
Segundo Knierim, o Pentateuco consta de duas grandes seções: Gênesis 
e Êxodo-Deuteronômio. Contrariamente ao que pensam muitos, Êxodo-
Deuteronômio não seria tanto uma história narrativa de Israel quanto uma 
“biografia de Moisés”, introduzida pelo livro do Gênesis.35 Na opinião de Van 
Seters, no Êxodo-Deuteronômio, se encerra uma biografia especial de Moisés 
(desde o nascimento [Ex 2] até sua morte [Dt 34]). Não é a biografia de um lí-
der no sentido moderno, mas uma pseudo-biografia, completamente orientada 
para o interesse e o destino do povo. “A vida de Moisés é a vida do primeiro 
e maior líder do povo.”36 
Moisés aparece como um instrumento de Deus a serviço do povo. Sua 
vocação e missão lhe configuram como um chefe e como um profeta (cf. 
Ex 3,10ss; cf. Dt 34,10-12). No monte Sinai intervém como mediador entre 
Deus e Israel (cf. Ex 20,18-19; Dt 5,5). Cada vez que o povo se queixa e 
murmura no deserto, Moisés intercede diante de Javé, pedindo o perdão ou 
a ajuda para o povo (cf. Ex 14,31; Dt 34,5) com quem manteve uma relação 
singular (cf. Nm 12,6-8; Dt 34,10).
Numa palavra, a personalidade de Moisés está estreitamente unida por 
Javé e Israel. Continua viva e presente na Torá, da qual Javé, Jacó / Israel e o 
mesmo Moisés são indiscutivelmente os protagonistas.
4. Tempo e espaço
As categorias cronológicas e geográficas possuem um papel importante no 
Pentateuco. Algumas vezes percorrem juntas (cf. Ex 19,1-2 e Nm 10,11-12); ou-
tras vezes, a maioria, separadamente. Sua função estruturante em alguns textos 
e seções lhes confere um valor a mais.
 33. Cf. MARTÍN-ACHARD, R. Moïse, figure de médiateur selon l’Ancien Testament. In: MARTÍN-
ACHARD, R. e outros (eds.). La figure de Moïse. Écriture et relectures. Genève, 1978, 13; GARCÍA 
LÓPEZ, F. O Moisés histórico e o Moisés da fé, Salm 36, 1989, 5-21. Entre as obras recentes, consultar 
KIRSCH, J. Moses. A Life. New York, 1998; OTTO, E. (ed.). Mose. Ägypten und das Alte Testament 
(SBS 189). Stuttgart, 2000.
 34. BALTZER, R.E. Biographie der Propheten. Neukirchen-Vluyn, 1975, 38.
 35. KNIERIM, R.P. The Composition of the Pentateuch. In: Id. The Task of the Old Testament Theology. 
Substance, Method, and, Cases. Grand Rapids, 1995, 351-379.
 36. VAN SETERS, J. The Life of Moses. The Yahwist as Historian in Exodus-Numbers. Louisville, 1994, 2-3.
25
a) A dimensão temporal
Um aspecto fundamental da narrativa é sua dimensão temporal. A sucessão 
dos elementos narrativos possuem uma íntima relação com a sequência cronológica 
desses elementos. Nas análises de tipo narrativo se pode distinguir entre o tempo 
narrado e o tempo de narrar. O primeiro é o tempo em que as ações e os aconteci-
mentos relatados duram. Mede-se por minutos, dias, anos etc. O segundo se refere 
ao tempo material necessário para contar uma coisa. Mede-se por palavras, versícu-
los, capítulos etc. A relação entre as duas determina o ritmo da narrativa.
O tempo narrado na primeira parte do Pentateuco é consideravelmente 
mais longo que na segunda. Desde a criação do mundo (Gn 1) até a saída do 
Egito (Ex 12,40-41) transcorreram 2.666 anos, isto é, dois terços exatos de um 
período do mundo de 4.000 anos. Por sua vez, desde a saída do Egito até a morte 
de Moisés (Dt 34,7) passaram-se somente 40 anos. O tempo narrado no livro do 
Deuteronômio se reduz a um dia: o último dia da vida de Moisés (Dt 1,3; 32,48).
A enorme extensão do tempo narrado no livro do Gênesis corresponde ao 
seu caráter mítico e legendário. Boa prova disso é a longevidade excepcional 
atribuída aos antepassados da humanidade, que vai diminuindo à medida que se 
aproximam à história. Antes do dilúvio, os seres humanos viviam entre 969 e 
777 anos (excetua-se Henoc, do qual não se diz que morreu: cf. Gn 5). Depois 
do dilúvio, vivem entre 600 e 205 anos (cf. Gn 11,10-26) e, a partir de Abraão, 
entre 200 e 100 anos. Embora esses números distanciam muito dos oferecidos 
por algumas listas de reis sumérios anteriores ao dilúvio, que viveram entre 
43.200 e 18.600 anos,37 ultrapassam com o crescer da idade o normal da raça 
humana: 70-80 anos, conforme diz o salmista (Sl 90,10), e entre 21 e 66 anos, a 
julgar pela idade dosreis que reinaram em Israel entre 926 e 597 a.C.38
Sobre o tempo de narrar, dão uma ideia muito aproximada os versículos 
de cada livro: Gênesis, 1.534; Êxodo, 1.209; Levítico, 859; Números, 1.288 e 
Deuteronômio, 955.39 
b) A dimensão de espaço
“Meu pai era um arameu prestes a morrer, que desceu ao Egito com um pu-
nhado de gente para ali viverem como forasteiros” (Dt 26,5). Essa frase sintetiza 
 37. Cf. BOADT, L. Reading the Old Testament. An Introduction. New York, 1984, 123.
 38. HARRIS, J.G. Old Age. In: FREEDMAN, D.N. (ed.). The Anchor Bible Dictionary, V. New York, 
1992, 11; cf. HUGHES, J. Secret of Times. Myth and History in Biblical Chronology (JSOT SS 66). 
Sheffield, 1990, 5-54.
 39. Sobre o número de palavras nos livros do Pentateuco, cf. Cap. VIII, § 1.
Características do Pentateuco
26 O Pentateuco
uma das facetas mais significativas não somente de Jacó, mas também dos pa-
triarcas em geral e do povo de Israel, especialmente antes da tomada da posse 
da terra. Uma das notas mais características do Pentateuco é o caráter itinerante 
de seus personagens.
Os patriarcas (a História das Origens é um caso à parte) transcorrem gran-
de parte de suas vidas errando de um lugar para outro. Seu itinerário cobre 
um amplo raio que vai desde Ur dos Caldeus (Gn 11,28), na Mesopotâmia, 
até o Egito (Gn 46,6-7), passando por Harã (Gn 11,31) e Canaã (Gn 12,5), 
onde residem a maior parte do tempo. Em Canaã vivem como “estrangeiros” / 
“residentes” e como “peregrinos” (Gn 15,13; 17,8; 23,4; 28,4). Ali se movem 
frequentemente de um lugar para outro (Gn 12,5.6.8.9; 13,3.17.18; 20,1; 22,2; 
etc.). Os itinerários patriarcais contribuem para a coesão dos textos e dos perso-
nagens do livro do Gênesis.40 
Os israelitas viajaram do Egito a Canaã, passando pelo deserto do Sinai. 
Salvo o ano aproximado que permaneceram ao pé da montanha santa, os ou-
tros 39 anos transcorreram-se no deserto e se caracterizam pelas mudanças 
constantes de lugar. Em Nm 33,1-49 se conserva uma lista de paradas que 
vão do Egito – concretamente de Ramsés (Ex 12,37) – até Moab, onde Moisés 
morreu (Nm 22,1; Dt 34,1.8). Entre estes dois extremos, os textos vão assina-
lando passo a passo, mediante uma série de “fórmulas itinerário”, as diversas 
etapas que – a seu modo – estruturaram o conjunto dos textos.41 
O objetivo final dos itinerários dos patriarcas e de seus descendentes é 
a terra de Canaã. Esta aparece desde o início ligada a uma promessa divina e 
constitui um dos temas dominantes do Pentateuco.42 Na realidade, o Pentateuco 
– desde Gn 12 até Dt 34 – se encontra marcado pelas referências à terra prometi-
da (cf. Gn 12,1-8; 13,14-17; Dt 34,1-4). Javé convida Abraão a dirigir seu olhar 
para o norte e o sul, para o leste e o oeste (Gn 13,14), e contemplar a terra com 
a promessa de que “toda a terra que vês eu a darei a ti e aos teus descendentes 
para sempre” (Gn 13,15). A expressão “toda a terra” aparece aqui pela primeira 
vez no Pentateuco e voltará a aparecer pela última vez em Dt 34,1, onde Javé 
convida Moisés a olhar para os quatro pontos cardeais da terra prometida, como 
um dia fizera Abraão (cf. Dt 34,1-4).
Em síntese, a terra de Canaã é a meta das grandes viagens dos patriarcas e 
israelitas: desde a Mesopotâmia, através de Canaã, até o Egito (patriarcas), e do 
 40. Cf. DEURLOO, K.A. Narrative Geography in the Abraham Cycle, OTS 26, 1990, 48-62 (48-53); 
COLLIN, M. Une tradition ancienne dans le cycle d’Abraham. Don de la terre et promesse en Gn 12–13. 
In: HAUDEBERT, P. (ed.). Le Pentateuque. Débats et recherches (LD 151). Paris, 1992, 209-228.
 41. Cf. Cap. IV, § I, 3.
 42. CLINES, D.J.A. The Theme of the Pentateuch (JSOT SS 10). Sheffield, 1978.
27
Egito, através do deserto, até Canaã (israelitas). Dois grandes itinerários simé-
tricos que abarcam praticamente todo o Pentateuco.43 
5. Problemas especiais
a) Duplicações e repetições
Tanto nos textos narrativos como nos legais, aparecem duplicações e repe-
tições que dão ao Pentateuco uma fisionomia peculiar.
Nas narrativas, às vezes aparecem duas ou mais versões de um mesmo acon-
tecimento. Estas podem estar superpostas (Gn 1,1–2,3; 2,4–3,24: dois relatos da 
criação); separados por textos diferentes (Gn 12,10-20; 20,1-18; 26,1-11: três ver-
sões da mulher-irmã; no Ex 16; Nm 11,4-35: episódios do maná e das codornizes; 
em Ex 17,1-7; Nm 20,1-13: episódios da água em Meriba) ou entremesclados 
(Gn 6–9: duas versões do dilúvio; em Ex 14: duas versões dos acontecimentos do mar).44 
Nas leis, a duplicação mais notória é a do decálogo (Ex 20,2-17; Dt 5,6-
21). Merecem ser destacadas, assim mesmo, as duplicações-repetições das leis 
sobre os escravos (Ex 21,2-11; Lv 25,39-55; Dt 15,12-18), as festas (Ex 23,14-
17; Lv 23; Dt 16,1-17), os juízes (Ex 23,2-8; Lv 19,15-16; Dt 16,18-20) e os 
empréstimos por interesses (Ex 22,24; Lv 25,35-37; Dt 23,20-21).45 
b) Linguagem, estilo e teologia
O livro do Deuteronômio emprega uma série de rodeios típicos, sem pa-
ralelos nos outros quatro livros do Pentateuco. Assim, as expressões “amar 
a Javé” (Dt 6,5; 10,12; 11,1.13.22; 13,4; 19,9; 30,6.16.20), “com todo o teu 
coração e com toda a alma” (4,29; 6,5; 10,12; 11,13; 13,4; 26,16; 30,2.6.10), 
“fazer o que é reto e bom aos olhos de Javé” (6,18; 12,25.28; 13,19; 21,9), “o 
lugar que Javé escolhera para fazer morar/colocar ali o seu nome” (12,5.11.21; 
14,23.24; 16,2.6.11; 26,1), etc. Esses e muitos outros rodeios46, juntamente com 
a tonalidade parenética, dão um distintivo especial ao livro, conhecido como 
“linguagem e estilo deuteronomistas”. 
 43. As categorias de “espaço” e “tempo” têm também uma dimensão cultual (cf. nota 15).
 44. Para uma análise completa deste problema, cf. NAHKOLA, A. Double Narratives in the Old Testament. 
The Foundations of Method in Biblical Criticism (BZAW 290). Berlin, 2001.
 45. Cf. GARCÍA LÓPEZ, F. El Deuteronomio. Una ley predicada (CB 63). Estella, 1989, 30; (Tradução em 
português, Paulus) LASSERRE, G. Synopse des lois du Pentateuque (SVT 59). Leiden, 1994.
 46. Sobre a fraseologia deuteronômica, cf. WEINFELD, M. Deuteronomy and the Deuteronomic School. 
Oxford, 1972, 320-365; Id. Deuteronomy 1-11 (AB 5). New York, 1991, 36.
Características do Pentateuco
28 O Pentateuco
Por outro lado, os livros Gênesis-Números utilizam termos e expressões 
que nunca aparecem no livro do Deuteronômio. Entre os muitos exemplos, 
cabe mencionar o par verbal “crescer e multiplicar-se” (Gn 1,22.28; 8,17; 9,1.7; 
17,20; 28,3; 35,11; 47,27; 48,4; Ex 1,7; Lv 26,9), as expressões “aliança eterna” 
(Gn 9,16; 17,7.13.19; Ex 31,16; Lv 24,8; cf. Nm 18,19; 25,13) e “glória de Javé” 
(Ex 16,7; 24,16; 40,34.35; Lv 9,6.23; Nm 14,10.21; 16,19; 17,7; 20,6) ou os ter-
mos edah (“comunidade”), miskan (“santuário”), qorban (“oferenda”) etc., que 
são repetidos sobretudo em Ex 25–Nm 10 e em outras passagens afins.47 Esses 
termos possuem relação com o sacerdócio, o santuário e o culto e podem ser 
qualificados de “sacerdotais”.
Via de regra, os termos e expressões anteriores encerram uma concepção 
bem definida. Por exemplo, a frase “no lugar que Javé escolhera...” denota a 
centralização do culto, uma ideia tipicamente deuteronomista. Analogicamente, 
a expressão “aliança eterna” caracteriza os textos sacerdotais; embora o tema 
da aliança seja fundamental no livro do Deuteronômio, ele nunca emprega essa 
expressão. A aliança deuteronomista é bilateral, implica alguns compromissos 
e pode ser rompida; por sua vez, a aliança sacerdotal é unilateral, não implica 
propriamente compromissos dos quais dependa e não pode ser rompida, razão 
pela qual é “eterna”.
c) Tetrateuco, Pentateuco, Hexateuco e Eneateuco48
As diferenças terminológicas, estilísticas e teológicas entre o livro do 
Deuteronômio e os quatro primeiros livros da Bíblia (= Tetrateuco) – esbo-
çadas brevemente notratado anterior – levaram alguns autores a separar o 
Tetrateuco do livro do Deuteronômio e a considerá-los como dois blocos distin-
tos. Neste sentido, dever-se-ia falar de Tetrateuco – deixando de lado o livro do 
Deuteronômio – e não de Pentateuco.
A partir de outra perspectiva, por sua vez, seria preferível falar de 
Hexateuco (Gênesis-Josué). Efetivamente, Deus promete primeiro aos antepas-
sados de Israel (Gn 12–50) e em seguida a Moisés e aos israelitas (Ex 3 e 6) de 
dar-lhes a terra de Canaã. Pois bem, o Pentateuco termina com o relato da morte 
e o sepultamento de Moisés em Moab, diante de Jericó, fora da terra prometida 
 47. Cf. DRIVER, S.R. An Introduction to the Literature of the Old Testament. Edinburgh, 1961, 130-135; 
HURVITZ, A. A Linguistic Study of the Relationship between the Priestly Source and the Book of 
Ezekiel. A New Approach to an Old Problem (CRB 20). Paris, 1982.
 48. Cf. MOWINCKEL, S. Tetrateuch-Pentateuch-Hexateuch. Die Berichte uber die Landnahme in den 
drei altisraelitischen Geschichtswerken (BZAW 90). Berlin, 1964; AULD, A.G. Joshua, Moses and the 
Land. Tetrateuch-Pentateuch-Hexateuch in a Generation since 1938. Edinburgh, 1980; RÖMER, T. La 
fin de l–historiographie deutéronomiste et le retour de lHexateuque, ThZ 57, 2001, 269-280.
29
(Dt 34). A entrada em Canaã e a distribuição da terra entre as tribos é narrada no 
livro de Josué. Originariamente, esse livro pode ter formado parte de uma obra 
juntamente com os cinco primeiros livros da Bíblia.
Mas a História de Israel não termina com Josué. A partir da conquista da 
terra (Josué), ela se estende até sua perda, exílio (2Reis). Tal história se encontra 
unida à anterior (Gênesis-Deuteronômio), formando uma grande composição 
literária que abrange desde a criação do mundo até o exílio da Babilônia. De 
fato, algumas referências conectam os acontecimentos relatados no começo e 
no final desses livros. Assim, em 1Rs 6,1 se diz que o templo de Salomão foi 
construído 480 anos depois do êxodo. A partir deste ponto de vista, poder-se-ia 
falar de Eneateuco (Gênesis-Reis).49 
Por mais razoável que fossem essas hipóteses, o certo é que com a morte 
de Moisés (Dt 34) termina um período da História de Israel e se estabelece um 
corte entre os cinco primeiros livros da Bíblia e os livros que se seguem. Surge 
assim o Pentateuco, uma obra com um final aberto, no qual, coexistem ao me-
nos dois tipos de linguagem, estilo e teologia.
Desta série de características se deduz que o Pentateuco é uma composição 
literária complexa, suceptível das mais diversas interpretações. Como inter-
pretar as duplicações e as repetições ou as mudanças de vocabulário, estilo e 
ideologia? Quais os motivos que se passaram entre os responsáveis pela obra no 
momento de “concluí-la” como Pentateuco e não como Tetrateuco, Hexateuco 
ou Eneauteuco? Essas e outras questões serão o assunto do próximo capítulo.
BIBLIOGRAFIA
ARTUS, O. Aproximación actual al Penteteuco (CB 106). Estella, 2001.
BLENKINSOPP, J. The Pentateuch. An Introduction to the First Five Books 
of the Bible. New York, 1992 (tradução em espanhol: El Pentateuco. 
Introducción a los primeros cinco libros de la Biblia. Estella, 1999). 
CAMPBELL, A. F.; O’BRIEN, M. A. Sources of the Pentateuch. Texts, Introductions, 
Annotations. Minneapolis, 1993.
CLINES, D. J. A. The Theme of the Pentateuch (JSOT SS 10). Sheffield, 1978.
CORTESE, E. Le tradizioni storiche di Israele. Da Mosè a Esdra. Bologna, 2001.
 49. Cf. SCHMID, K. Erzväter und Exodus. Untersuchungen zur doppelten Begrundung der Ursprunge 
Israels innerhalb der Geschichtsbucher des Alten Testaments (WMANT 81). Neukirchen-Vluyn, 1999, 
18ss.
Características do Pentateuco
30 O Pentateuco
CRÜSEMANN, F. Die Tora. Theologie und Sozialgeschichte des alttesta-
mentlichen Gesetzes. Munchen, 1992.
ESTUDIOS BÍBLICOS 52, 1994, 5-239 (Número monográfico especial, consa-
grado à Nueva crítica del Pentateuco).
FRETHEIN, T. E. The Pentateuch. Nashville, 1996.
GARCÍA LÓPEZ, F. Torah. In: Fabry H. J.; Ringgren H. (eds.). Theologisches 
Wörterbuch zum Alten Testament, VIII. Stuttgart, 1995, 597-637.
______. Dalla Torah al Pentateuco, Ricerche Storico Bibliche 3, 1991, 11-26.
______. (dir.) El Pentateuco (Reseña Bíblica 9). Estella, 1996.
GARCÍA SANTOS, A. A. El Pentateuco. Historia y sentido. Salamanca, 1998.
KNIERIM, R. P. The Composition of the Pentateuch. In: ______. (ed.) The Task 
of the Old Testament Theology. Substance, Method, and Cases. Grand 
Rapids, 1995, 351-379.
LOHFINK, N. Las tradiciones del Pentateuco em torno al exilio (CB 97). 
Estella, 1997.
LOZA VERA, J. El Pentateuco. I. El problema literário. México, 1999.
MANN, T. W. The Book of the Torah. The Narrative Integrity of the Pentateuch. 
Atlanta, 1988.
MCEVENUE, S. Interpreting the Pentateuch. Collegeville, 1990.
MICHAUD, R. Débat actuel sur les sources et l’age du Pentateuque. Montréal, 
1994.
SAILHAMER, J. H. The Pentateuch as Narrative. A Biblical-Theological 
Commentary. Grand Rapids, 1992.
SKA, J. L. Introduzione alla lettura del pentateuco. Chiavi per l’interpretazione 
dei primi cinque libri della Bibbia. Roma, 1998 (tradução em espanhol: 
Introducción a la lectura del Pentateuco. Claves para la interpretación de 
los cinco primeros libros de la Biblia). Estella, 2001.
VAN SETERS, J. The Pentateuch. A Social-Science Commentary. Sheffield, 
1999.
WATTS, J. W. Reading Law. The Rhetorical Shaping of the Pentateuch. 
Sheffield, 1999.
WHYBRAY, R. N. Introduction to the Pentateuch. Grand Rapids, 1995.
ZENGER, E. Die Bucher der Tora/des Pentateuch. In: Id. (ed.) Einleitung in das 
Alte Testament. Stuttgart, 1998 (1995), 66-176.
CAPÍTULO II
A Interpretação do Pentateuco 
Cada época tem a sua própria maneira de ler a Bíblia, de acordo com as 
correntes intelectuais do momento. Os trabalhos de Fr. Luís de León e de Arias 
Montano, por exemplo, refletem as correntes humanistas do renascimento. 
Durante o iluminismo, começaram a ser aplicados os métodos histórico-críticos. 
Mais tarde, a filosofia de Hegel, o positivismo e o evolucionismo e estudos 
antropológicos, psicológicos e sociológicos contribuíram também para o desen-
volvimento da investigação bíblica. 
A partir de meados do século XX, a tendência mais aguçada na interpreta-
ção bíblica é a da nova crítica literária. Apresenta os estudos histórico-críticos 
que haviam acampado durante mais de dois séculos e, nas últimas décadas, 
aberto passagem para os novos métodos literários. Do mesmo modo que foram 
se diversificando os métodos histórico-críticos, também foram se multipli-
cando os novos métodos literários. A pluralidade dos estudos é um sinal dos 
tempos atuais.1
Neste capítulo o que nos interessa são os métodos utilizados no estudo do 
Pentateuco, pelos seus principais expoentes e pelos resultados obtidos. Depois 
de uma breve apresentação dos estudos pré-críticos, será dedicado um espaço 
mais amplo aos estudos histórico-críticos e aos literários, para concluir com 
uma breve avaliação e assinalar as pautas a serem seguidas.
 1. Clines, D.J.A.; Exum, J.C. The New Literary Criticism. In: EXUM, J.C. ; CLINES, D.J.A. (eds.). 
The New Literary Criticism and the Hebrew Bible (JSOT SS 143). Sheffield, 1993, 14-15. Conforme 
CARROLL, R.P. (enfoques pós-estruturalistas, neo-historicistas e pós-modernistas em BARTON, J. 
[ed.]. La interpretación bíblica, hoy [PT 113]. Santander, 1998, 86), “o futuro dos estudos bíblicos 
parece ser brilhante, mas bastante confuso”.
32 O Pentateuco
1. Período pré-crítico
A tradição judaica e a cristã atribuíram, desde os primórdios, a Torá a 
Moisés; 2 conforme Filón e Josefo, Moisés escreveu inclusive o relato de sua mor-
te (Dt 34,5ss)3. Essa tradição, praticamente unânime durante séculos, toma ao 
pé da letra algumas afirmações do Pentateuco sobre a atividade de Moiséscomo 
escritor. Afirma-se, por exemplo, que Javé encarregou a Moisés escrever num 
“Livro de memórias” a vitória de Israel sobre os amalecitas (Ex 17,14) e que 
Moisés escreveu o “Código da Aliança” (Ex 24,4) e o “Direito de privilégio de 
Javé” (Ex 34,27). Assim mesmo Nm 33,2 nos informa que Moisés foi registrando, 
numa espécie de diário ou livro de viagens, as diferentes etapas da caminhada pelo 
deserto. Finalmente, Dt 31,9.24 alude a Moisés como escritor da Torá.
No entanto, algumas das indicações anteriores nos convidam muito mais 
a pensar que Moisés não pode ser o autor de todo o Pentateuco. Já Ibn Ezra 
(+1167) advertiu que Dt 31,9 se refere a Moisés na terceira pessoa (“Moisés 
escreveu”), quando o normal seria que o fizesse em primeira pessoa se fosse o 
autor do livro do Deuteronômio. Cabe duvidar, assim mesmo, que se Josefo e 
Filón se viram na necessidade de afirmar que Moisés escreveu o relato de sua 
morte é porque havia boas razões para duvidar disso. Não é estranho, pois, que 
o Talmud o coloque em dúvida, ao mesmo tempo nos indica que o Dt 34,5-12 
foi acrescentado por Josué. 4 Ibn Ezra aponta para outras possibilidades adicio-
nais à Torá, posteriores a Moisés. Mas tanto ele como os demais comentaristas 
medievais aceitaram a tradição mosaica do Pentateuco.
A exegese pré-crítica é fundamentalmente a-histórica. Interessa-se so-
bretudo pelas ideias teológicas, subjacentes nos textos. O problema do autor o 
admite pacificamente, sem deter-se em sua discussão.
2. Estudos histórico-críticos clássicos
A crítica histórica se caracteriza pela utilização dos métodos histórico-críti-
cos. Estes têm como principal objetivo analisar o processo da formação dos textos. 
Para isso, servem-se de critérios “científicos”, buscando a maior objetividade 
possível. Trata-se, em definitivo, de analisar os textos bíblicos com os mesmos 
métodos empírico-racionais empregados para o estudo de outros textos antigos.
O iluminismo supôs uma mudança de orientação: os textos bíblicos co-
meçaram a ser considerados como textos do passado muito mais que textos 
 2. Cf. Cap. I § 1.
 3. FILÓN, De Vita Mosis, II, 51; Josefo, Antiquitates Iudaicae, IV, viii, 48.
 4. Cf. bBathra, 14b.
33
inspirados. Mas, concretamente, que tipo de textos formam o Pentateuco? Em 
seguida saltaram aos olhos as duplicações, as repetições, as tensões, as mudan-
ças frequentes de estilo etc.5, que teriam que pensar que o Pentateuco não podia 
ser obra de um só autor. Ao precaver-se da complexidade dos textos, a crítica 
literária, primeiro, e a crítica da forma, em seguida, se perguntaram: como pode 
um só autor ter escrito isto? Mas a crítica literária e a da forma não são mais que 
as primeiras etapas de um processo que, com o passar do tempo, desembocou 
na crítica das tradições e na crítica da redação. Todas juntas constituem os 
métodos histórico-críticos.
a) Crítica literária
A primeira tarefa da crítica literária consiste em determinar se um texto 
é homogêneo ou não, isto é, se se deve a um ou mais autores. A literatura bí-
blica não é uma literatura moderna, cuja unidade não é colocada. 6 Na Bíblia 
Hebraica, ao lado dos textos perfeitamente acabados e coerentes, com uma uni-
dade inegável, encontram-se outros compostos. Neste caso, a crítica literária se 
preocupa em separar os elementos acrescentados dos originais, determinando a 
unidade ou heterogeneidade do texto. As análises da crítica literária conduziram 
para soluções muito diferentes.
1o Primeiros passos: O Tostado e Simon
Alfonso de Madrigal (ca. 1410-1455), conhecido como O Tostado, marca 
o final da época pré-crítica e permite prever o início do período crítico. No 
seu Comentário ao Deuteronômio (questão III sobre o cap. 34), se pergunta: 
“An Moyses potuerit scribere prophetice in verbis suis ista quae habentur hic 
vel scripserit literam istam Esdras et Josue”. E, em termos similares, enuncia a 
questão IV: “An istud capitulum Esdras tanquam historiographus scriberet sine 
prophetica revelatione” 7. O problema de fundo das duas questões transformar-se 
num dos temas centrais das discussões dos especialistas: se o Pentateuco era in-
tegralmente obra de Moisés ou se se devia também a Esdras. Já ficava colocada 
a questão crítica do Pentateuco, que seria definida melhor nos séculos XVI e 
seguintes.
O Tostado se interessou pelas novas correntes humanísticas do renasci-
mento, nas quais surgiu a Poliglota Complutense, qualificada de “peça mestra” e 
 5. Cf. Cap. I, § 5. 
 6. RICHTER, W. Exegese als Literaturwissenschaft. Entwurf einer alttestamentlichen Literaturtheorie und 
Methodologie. Göttingen, 1971.
 7. TOSTATI, A. Comentaria in Deuteronomium, III/2. Coloniae, 1613, 317-319.
A Interpretação do Pentateuco
34 O Pentateuco
“obra monumental” da arte tipográfica e da ciência bíblica. 8 Neste marco, apa-
receram Gaspar de Grajal, Luis de León, Cantalapiedra, Arias Montano e outros 
biblistas espanhóis de primeira linha que merecem um lugar de destaque entre 
os pioneiros da exegese moderna. M. Andrés, bom conhecedor da história da 
teologia do século XVI, não duvida em afirmar: “são os fundadores da exegese 
moderna, anteriores a Ricardo Simon, Juan Morin e Luis Cappel”. 9 
No entanto, se pode considerar que foi Simon (1638-1712)10 o verdadeiro 
inaugurador da crítica bíblica moderna. Na sua obra Historie critique du Vieux 
Testament (1678), observa a existência de duplicações, tensões, mudanças de es-
tilo e outra série de aspectos formais e temáticos, que seriam os critérios sobre 
os quais trabalharia normalmente a crítica literária. Essas observações vêm con-
firmar as dúvidas de que Moisés não pode ter sido o autor do Pentateuco. Simon 
defende que no Pentateuco existem fontes, anteriores a Moisés, e acréscimos (adi-
ções) posteriores a ele. Em sintonia com O Tostado e avançando sobre o que foi 
apontado por esse autor, reconhece a Esdras como o compilador do Pentateuco. 
Segundo Simon, uma verdadeira cadeia de “escritores públicos”, que trabalharam 
desde a época de Moisés até a de Esdras, foram registrando os principais aconte-
cimentos da História de Israel assim como os textos legislativos que foram sendo 
transmitidos de geração para geração até a sua definitiva compilação por Esdras.
2o Hipótese documentária antiga: Witter e Astruc
Witter e Astruc, independentemente, observaram que, em algumas pas-
sagens do Pentateuco, Deus se chama Elohim, enquanto que em outras é 
denominado Javé. Witter limita seu estudo aos primeiros capítulos do livro 
do Gênesis.11 Astruc, por sua vez, estende esse trabalho para todo o livro do 
Gênesis e aos primeiros capítulos do livro do Êxodo. Da aplicação do critério 
da mudança dos nomes divinos, surge a hipótese documentária: a existência de 
dois documentos, o elohista e o javista, ao menos nas seções analisadas.
Além das duas fontes ou documentos principais, Astruc admitia a existên-
cia de outras fontes secundárias. Moisés serviu-se de outras formas para compor 
o Pentateuco.12
 8. AVILÉS, M. A teologia espanhola no s. XV. In: ANDRÉS, M. (dir.). Historia de la teología española. 
I. Desde sus orígenes hasta fines del s. XVI. Madri, 1983, 495-577 (520).
 9. ANDRÉS, M. A Teologia no século XVI. In: Id. (dir.). Historia de la teología española (n. 8), 579-
735 (641).
 10. Cf. STUMMER, F. Die Bedeutung Richard Simons fur die Pentateuchkritik. Munchen, 1912; 
STEINMANN, J. Richard Simon et les origines de l’exégèse biblique. Paris, 1959.
 11. Cf. LODS, A. Un précurseur allemand de Jean Astruc: Henning Bernhard Witter. ZAW 43, 1925, 134-135.
 12. ASTRUC, J. Conjectures sur les mémoires originaux dont il paraît que Moyse s’est servi pour compo-
ser le récit de la Genèse. Bruxelles, 1753; cf. ASTRUC, J. Conjectures sur la Genèse. Introduction et 
Notes de P. Gibert. Paris, 1999.
35
3o Hipótese dos fragmentos: Geddes e Vater
No finaldo século XVIII, surge a hipótese dos fragmentos. Recebe os pri-
meiros impulsos da dificuldade de encontrar fontes contínuas fora do livro do 
Gênesis, sobretudo nas partes legais do Pentateuco. Os seus expoentes máximos 
foram Geddes, em 1792, e Vater, em 1802-1805.
Segundo Geddes, o Pentateuco é uma coleção de fragmentos mais ou me-
nos longos, independentes entre si e sem continuidade, cuja colocação atual se 
deve a dois grupos diferentes de recompiladores: o elohista e o javista.13
Vater centraliza a sua atenção na “Lei”, pois a considera o fundamento 
do Pentateuco. O núcleo dessa lei se encontrava no livro do Deuteronômio, 
composto na época davídico-salomônica e redescoberto e reeditado na época 
de Josias.
Embora essa hipótese esclarecesse vários problemas do Pentateuco, espe-
cialmente das seções legais, deixava sem explicação muitos outros, sobretudo 
das seções narrativas menos fragmentadas.
4o Hipótese dos complementos: Kelle e Ewald
Kelle (1812) é o pai da hipótese dos complementos; Ewald (1823), seu 
principal intérprete. Ao contrário dos autores da hipótese anterior, Ewald im-
punha unidade na trama narrativa do Pentateuco. Mas não escapavam de sua 
consideração certas divergências nos textos. Por isso pensou que a melhor forma 
de explicar a composição do Pentateuco era aceitar “um escrito fundamental” 
(elohista, que em seguida receberia o nome de sacerdotal), completado pela 
adição de outros textos.14
5o Datação: de Wette15
Não basta distinguir os documentos; além disso, é preciso datá-los. O gran-
de mérito de de Wette (1780-1849)16 está em ter identificado o “Livro da lei”, 
encontrado no templo na época de Josias (2Rs 22), com o livro do Deuteronômio 
e em ter sabido utilizar esse livro como base para a datação do Pentateuco. 
Para ele, as medidas adotadas por Josias como consequência da descoberta do 
“Livro da lei”, em especial as da centralização do culto, se correspondem com 
 13. Cf. FULLER, R.C. Alexander Geddes, 1737-1802. Pioneer of Biblical Exegesis. Sheffield, 1984.
 14. Cf. EWALD, H. Die Composition der Genesis kritisch untersucht. Braunschweig, 1823.
 15. Cf. ROGERSON, J.W. ; DE WETTE, W.M.L. Founder of Modern Biblical Criticism An Intellectual 
Biography (JSOT SS 126). Sheffield, 1992.
 16. DE WETTE, W.M.L. Dissertation critica qua Deuteronomium a prioribus Pentateuchi libris diversum 
alius cujusdam recentioris auctoris opus esse monstratur. Halle, 1805.
A Interpretação do Pentateuco
36 O Pentateuco
as leis deuteronomistas (comparar 2Rs 23,4-20 com Dt 12–26). A centralização 
do culto se transforma no “ponto arquimédico” (Eissfeldt) para a datação do 
Pentateuco: as leis que pressupõem a centralização do culto são contemporâneas 
ou posteriores à reforma de Josias (622 a.C.); e não anteriores.17
6o A nova hipótese documentária: Hupfeld, Graf e Wellhausen
Em um estudo feito sobre “as fontes do livro do Gênesis” (1853), Hupfeld 
propõe uma nova versão da antiga hipótese documentária. Observa que a fonte 
Elohista não é homogênea, o que o levou a distinguir três fontes no Gênesis: E1, 
E2 e J. A primeira (E1, que mais tarde se identificou com P = Priesterkodex ou 
Código sacerdotal) é a fundamental, pois contém a essência da “Lei”. E2 (que 
em seguida se identificou com o Elohista) é uma fonte independente e posterior, 
como ocorreu também com J (Javista), a mais antiga das três.18
O desdobramento do Elohista foi um passo importante na crítica literá-
ria, pois vinha reconhecer que o nome divino Elohim não bastava, por si só, 
para atribuir alguns textos a um documento. Uma operação desse gênero teria 
sido puramente mecânica. Mas a crítica literária não é somente uma técnica, 
mas também uma arte, que requer uma sensibilidade educada e habituada para 
aplicar adequadamente os critérios que permitam decidir quando uma peça é 
homogênea ou não. Como bom crítico, Hupfeld não se limitou a separar alguns 
textos dos outros, mas analisou cuidadosamente o vocabulário, o estilo, o con-
teúdo etc., chegando à firme conclusão de que nem todos os textos que utilizam 
o nome Elohim pertencem ao mesmo autor ou documento.19
Hupfeld deu um novo passo, muito significativo, ao afirmar que a união 
das três fontes numa só obra se deve a um redator, cujo trabalho consistiu em 
ordenar e unir os textos das três fontes.
Graf aceitou a hipótese proposta por Hupfeld, mas mudou a ordem e a da-
tação das fontes, apoiando-se em algumas observações de seu mestre E. Reuss. 
Numa obra sobre “os livros históricos do Antigo Testamento” (1886), Graf ob-
serva que nem o livro do Deuteronômio, nem os livros históricos de Josué-Reis, 
nem os livros proféticos pré-exílicos oferecem indícios claros de haver conheci-
do as leis sacerdotais do Pentateuco (argumento do silêncio). Estas, juntamente 
 17. Outros dados sobre este autor, consultar a Historia de la investigación do Deuteronomio (Cap. VII, § I, 1, a).
 18. HUPFELD, H. Die Quellen der Genesis und die Art ihrer Zusammensetzung. Berlin, 1853.
 19. A hipótese documentária, em sua forma clássica, manuseia fundamentalmente cinco critérios para dis-
tinguir fontes ou documentos: 1o) duplicações e repetições; 2o) variação (mudança) nos nomes divinos; 
3o) contradições no texto; 4o) variação (mudança) na linguagem e estilo; 5o) sinais de compilação e 
redação de relatos paralelos (cf. CAMPBELL A.F. M.A.; O’Brien. Sources of the Pentateuch. Texts, 
Introductions, Annotations. Minneapolis, 1993, 6).
37
com seu marco narrativo, deviam ser datadas, consequentemente, numa época 
exílica ou pós-exílica. Desta observação, e para estes estudos, colaboraram ou-
tros contemporâneos seus, chegando à conclusão de que o documento sacerdotal 
(= E1/P) era o mais recente e J, o mais antigo.20
Wellhausen nasceu em Hamelin em 1844. Aos 18 anos mudou-se para 
Gotinga para estudar teologia. A leitura da obra de Ewald, Geschichte des Volkes 
Israel, suscitou nele vivo interesse pelo estudo da Bíblia. Em 1871 publicou o 
seu primeiro trabalho sobre os livros de Samuel. Ao inteirar-se das conclusões 
de Graf, imediatamente se precaveu de que este autor estava correto, pois de seu 
estudo sobre o livro de Samuel se deduzia que nem Samuel e nem Reis pressu-
punham as leis sacerdotais do Pentateuco (= E1 ou P).
Escreveu duas obras muito influentes na investigação do Pentateuco: uma 
sobre a composição do Hexateuco e outra sobre a História de Israel. 21 No final 
da primeira, sintetiza desta forma a composição do Hexateuco:
De J e E surgiu JE (= Jeovista) e com JE se uniu D; Q (= P) é uma obra 
independente. Ampliada como Código Sacerdotal, Q se uniu com JE + D, 
de onde surgiu o Hexateuco.22
De acordo com isso, o Hexateuco consta de quatro fontes ou documentos 
de diversas épocas, o J (Javista/Iavista) e E (Elohista), as mais antigas, serviram 
de base para o Jeovista (JE), uma composição literário-redacional do século 
VIII. A fonte D (= Deuteronômio) corresponde à época de Josias, enquanto 
que a fonte sacerdotal (que, em Prolegomena, qualifica de Priestercodex [P] 
e, em Die Composition des hexateuchs, de Q [Quattuor, em razão das “quatro 
alianças”, com Adão, Noé, Abraão e Moisés, existentes, segundo ele, no Código 
sacerdotal]) pertence à época pós-exílica. A redação final do Pentateuco foi rea-
lizada no contexto da reforma de Esdras.
Wellhausen colocou em destaque, como ninguém o teria feito até este 
momento, o substrato histórico dos textos do Hexateuco, com repercus-
sões consideráveis para o modo de conceber a evolução da religião de Israel. 
Interessava-lhe em especial a evolução das instituições cultuais, refletidas nas 
 20. Cf. GRAF, K.H. Die geschichtlichen Bucher des Alten Testaments. Zwei historisch-kritischen 
Untersuchungen, Leipzig, 1866.
 21. WELLHAUSEN, J. Die Composition des Hexateuchs und der historischen Bucher des Alten Testaments. 
Berlin, 1893 (1876-1877); Id.,Prolegomena zur Geschichte Israels. Berlin, 1883. Esses dois títulos são 
significativos dos problemas que realmente preocupavam a Wellhausen: as fontes do Pentateuco e seu 
substrato histórico. As duas questões se encontravam indissoluvelmente unidas. Dividir as fontes e datá-
-las, isto é, relacioná-las com uma época histórica, em especial com a história de sua religião, eram duas 
faces da mesma moeda (cf. RENDTORFF, R. The Paradigm is Changing: Hopes and Fears, BI 1, 1993, 36.
 22. Cf. WELLHAUSEN, J. Die Composition des Hexateuchs (n. 21), 207.
A Interpretação do Pentateuco
38 O Pentateuco
fontes. Os textos Jeovistas admitem diferentes lugares de culto (altares, santuá-
rios patriarcais, templos etc.). A reforma deuteronomista centraliza o culto no 
templo de Jerusalém (Dt 12). A fonte sacerdotal pressupõe a centralização como 
um dado adquirido, porém a situa no exílio (o santuário).23
Como se do flautista de Hamelin se tratasse, esse autor trouxe atrás de si uma 
multidão de exegetas. A dizer de Kraus, “com a suas investigações filológicas, 
históricas e da crítica literária, Wellhausen fundou uma escola que determinou 
durante decênios a vida da ciência veterotestamentária. Mas inclusive todo o tra-
balho realizado foi desta escola e, na época mais recente, é inconcebível sem o 
sólido fundamento que ele colocou para a ciência bíblica do Antigo Testamento”. 
“Quem poderá contar” – se pergunta Kraus – “os nomes de todos os exegetas que 
dependem de Wellhausen nas questões decisivas de seu trabalho científico?”24
b) Crítica da forma e da tradição: Gunkel, von Rad e Noth
No estudo da forma – um aspecto fundamental da exegese crítica – não se 
deve identificar a forma com o gênero; a forma é individual e concreta (é o texto 
particular), enquanto que o gênero é abstrato (é o tipo de texto).25 Na literatura 
real não existem mais que as formas; o gênero é um resultado teórico da ciência, 
uma forma “ideal” ou “típica”. Quando duas ou mais unidades, literariamente 
independentes, apresentam uma forma idêntica ou similar, se pode falar de um 
“Gênero”. Muitos textos do Antigo Testamento foram compostos originaria-
mente para uma ocasião determinada. A análise da forma procura determinar a 
situação e as circunstâncias vitais em que os textos nasceram. Para essa busca se 
pode remontar, teoricamente, ao menos à pré-história dos textos.
O estudo da tradição consiste fundamentalmente na análise da pré-his-
tória dos textos. O termo tradição designa um conteúdo oral ou escrito que se 
 23. A contribuição decisiva de Wellhausen à composição do Pentateuco não se deve tanto às análises 
crítico-literárias da Composition des Hexateuch, mas ao fato de que, partindo da Dissertation exegetico-
-critica, segundo de Wette, proporcionou um só fundamento à análise histórico-literário do Pentateuco 
em seus Prolegomena zur Geschichte Israels e isso graças à reconstrução do culto. Se o calendário 
festivo dtr de Dt 16 tem a ver com a centralização do culto de Josias, então é preciso distinguir entre 
alguns estágios cultuais pré-josiano / dtr (J / E) e outros posteriores (P). Aqui está a força de convicção 
da hipótese documentária. Por isso, a obra de de Wette (e o Deuteronômio) era o “ponto arquimédico” 
para o Pentateuco (cf. OTTO, E. Do Livro da Aliança à Lei de Santidade. A reformulação do direito 
israelita e a formação do Pentateuco, EstBíbl 52, 1994, 195-217 [196]). 
 24. KRAUS, H. J. Geschichte der historisch-kritischen Erforschung des Alten Testaments. Neukirchen-
Vluyn 1982, 258s.275. Num estudo recente sobre o legado de WELLHAUSEN, E. ; NICHOLSON, W. 
(The Pentateuch in the Twentieth Century: The Legacy of Julius Wellhausen. Oxford, 1998), o autor de-
fende que a hipótese documentária, embora necessite de algumas revisões, é ainda a que melhor explica 
o crescimento (desenvolvimento) do Pentateuco e que está longe de seu desaparecimento.
 25. RICHTER, W. Exegese als Literaturwisswnschaft (n. 6), 72-152.
39
transmite de uma geração para outra, no sentido apresentado em 1Cor 15,3-4. 
Uma tradição pode ser narrativa, legislativa etc. A crítica das tradições deve 
começar pela forma dos textos; pressupõe, pois, a crítica da forma. Os dois 
aspectos metodológicos estão muito próximos entre si. Gunkel se interessou so-
bretudo pela forma dos textos, mas os seus estudos deram as bases para a crítica 
das tradições. Esta adquiriu maior peso na obra de von Rad e de Noth.
Coube a Gunkel26 o mérito de ter incorporado a crítica da forma à análise 
do Antigo Testamento. Daí ter sido considerado o “fundador da crítica da for-
ma” nos estudos bíblicos. O seu objetivo não era romper com a crítica literária 
nem com a teoria das fontes, mas superá-las, apesar de que “concebeu a sua obra 
mais como um complemento da Hipótese Documentária que como alternativa 
a ela”.27 Para Gunkel, não é suficiente determinar os estratos literários do texto 
bíblico; é preciso perguntar-se, além disso, pelos relatos que estão além das 
fontes e identificadas pelos críticos.
A literatura do antigo Israel, na opinião de Gunkel, forma parte da vida 
do povo e assim deve ser entendida. Consequentemente, se pergunta pelo 
“contexto vital” (Sitz im Leben), pelo ambiente de origem das pequenas uni-
dades literárias. Essa questão o leva a sair dos textos escritos para considerar 
os estágios pré-literários (os protótipos / as tradições orais) de alguns textos 
bíblicos. 
No seu comentário ao livro do Gênesis, formula uma pergunta capital do 
ponto de vista metodológico: qual é a unidade determinante pela qual a inves-
tigação deve começar? Para Gunkel, a unidade não está nas “fontes”, mas nas 
“pequenas unidades”. No livro do Gênesis, esse tipo de unidade são as lendas: 
“O Gênesis é uma coleção de ‘lendas’ (Sagen)”; assim reza o frontispício de sua 
obra. Define a “lenda” (Sage) como “uma narração poética, popular, transmitida 
desde antigamente, que versa sobre pessoas ou acontecimentos do passado”.28 
As lendas no livro do Gênesis, em sua forma primitiva, eram peças indi-
viduais e independentes, com um começo e um final bem definidos. No curso 
de sua transmissão oral foram se agrupando paulatinamente em ciclos, o que se 
deve, talvez, aos narradores profissionais. Mais tarde foram recolhidas e colo-
cadas por escrito numa obra maior. Neste estágio, Gunkel sintetiza tudo isso na 
sua teoria documentária. O Javista e o Elohista foram os primeiros compiladores 
das lendas do livro do Gênesis. As diferenças, as tensões ou as contradições 
 26. Cf. KLATT, W. Gunkel. Zu seiner Theologie der Religionsgeschichte und zur Entstehung der formges-
chichtliche Methode (FRLANT 100), Göttingen, 1969.
 27. WHYBRAY, R. N. El Pentateuco. Estudio metodológico. Bilbao, 1995, 43.
 28. GUNKEL, H. Genesis. Göttingen, 1910 (1901), viii, xix-xx.
A Interpretação do Pentateuco
40 O Pentateuco
no texto atual não se devem necessariamente à justaposição das fontes; estas 
podem ser explicadas também pela heterogeneidade das lendas recompiladas.
No julgamento de von Rad, a origem do Hexateuco está no “pequeno credo his-
tórico” (sumário da história salvífica com o caráter de profissão de fé) de Dt 26,5b-9,29 
relacionado com a festa da aliança em Siquém. As tradições germinalmente contidas 
neste “credo” (as dos patriarcas, do êxodo, da caminhada pelo deserto e da entrada na 
terra [faltam as do Sinai e da História das Origens]) foram se desenvolvendo pouco 
a pouco até formar diferentes complexos de tradição (peças de tipo intermediário em 
relação às “pequenas unidades” de Gunkel e das “fontes” de Wellhausen).
O primeiro em dar forma literária a essas tradições foi o Javista, um gran-
de narrador e teólogo, que escreveu sua obra na época davídico-salomônica, 
considerada por von Rad como a época do iluminismo em Israel. Ao Javista 
se deve a incorporação da tradição do Sinai e às outras tradições mencionadas.

Continue navegando