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MACROECONOMIA Teoria, Ana´lise e Me´todos Joa˜o Basilio Pereima Departamento de Economia Universidade Federal do Parana´ - UFPR Curitiba - Parana´ Brasil joaobasilio@ufpr.br 5 de abril de 2016 Parte I OFERTA E DEMANDA AGREGADA: o problema da flexibilidade prec¸os e sala´rios 1 Cap´ıtulo 1 OA-DA com prec¸os e sala´rios flex´ıveis - Caso cla´ssico Este cap´ıtulo apresenta a teoria macroeconoˆmica tal como concebida pelos economistas cla´ssicos, a qual tem como principal pressuposto a hipo´tese de que os prec¸os (P ) dos bens e servic¸os e o sala´rio nominal (W ) sa˜o flex´ıveis, e na parte final introduzum pressuposto importante para a versa˜o keyenesiana do modelo de OA-DA: a rigidez de sala´rio nominal. Em linhas gerais, o pressuposto da flexibilidade de prec¸os e sala´rios significa afirmar que eventuais choques de demanda provocam ajustes ra´pidos nos prec¸os e no sala´rio nominal enquanto as quantidades sa˜o mantidas esta´veis. Ao fim do processo de ajuste da economia, um excesso de demanda em termos agregados provoca inflac¸a˜o, fazendo variar o n´ıvel dos prec¸os (dP/dt > 0) sem aumentar o n´ıvel de renda ou produto (Y ) ou, em outras palavras, sem aumentar a quantidade de bens e servic¸os ofertados. No caso de um choque negativo de demanda, os prec¸os e sala´rios caem, mas as quantidades de bens e servic¸os e o n´ıvel de emprego sa˜o mantidos. O principal motivo pelo qual as quantidades de bens e servic¸os e o pro´prio n´ıvel de emprego na˜o caem e´ o fato de que o sala´rio real (W/P ) se mante´m constante. Com o sala´rio real constante as empresas continuam contratando a mesma quantidade de trabalho os trabalhadores continuam ofertando a mesma quantidade de ma˜o de obra e adquirindo as mesmas quantidades de bens e servic¸os. Este mecanismo sera´ explicado em mais detalhes ao longo deste cap´ıtulo. Tal meca- nismo descreve o funcionamento agregado da economia na visa˜o dos economistas chamados cla´ssicos, e se contrapo˜e a explicac¸a˜o keynesiana segundo a qual variac¸o˜es na demanda agregada podem provocar simultaˆneamente variac¸o˜es nos prec¸os, nas quantidades de bens e servic¸os e no n´ıvel de emprego. A visa˜o macroeconoˆmica “keynesiana” sera´ apresentada no cap´ıtulo 4. 1.1 OA-DA - Uma visa˜o geral A interac¸a˜o entre oferta e demanda agregada para diferentes casos pode ser resumida no gra´fico 1.1. O gra´fico mostra treˆs situac¸o˜es poss´ıveis para as relac¸o˜es entre oferta e demanda agregada: o caso cla´ssico, onde a curva de oferta e´ vertical, o caso keynesiano puro, onde a curva de oferta agregada e´ horizontal e o caso intermedia´rio, mais realista, onde desloca- mentos da curva de demanda causam variac¸o˜es simultaˆneas nos prec¸os e quantidades. Os modelos macroeconoˆmicos de oferta e demanda agregada, especialmente os modelos de curto e me´dio prazo, sa˜o criados para analisar as variac¸o˜es de prec¸os e do n´ıvel de 2 Figura 1.1: Oferta e demanda agregada - treˆs casos emprego mais do que explicar os determinantes do crescimento econoˆmico. Um diferenc¸a dos modelos de oferta e demanda em relac¸a˜o aos modelos de crescimento e´ que estes u´ltimos em geral assumem que os prec¸os sa˜o flex´ıveis e que as principais varia´veis que explicam o deslocamento da curva de oferta sa˜o os efetios do investimento sobre a ampliac¸a˜o do estoque de capital e aumentos de produtividade. Nos modelos macroeconoˆmicos de curto e me´dio prazo em geral assume-se que a curva de oferta e´ dada, isto e´, a capacidade de produc¸a˜o da economia e´ constante ou pode variar de forma exo´gena. Nestes modelos o investimento e´ um compenente da demanda agregada apenas e seu efeito capacidade ou de ampliac¸a˜o da oferta na˜o e´ levado em conta diretamente. Um modo de expressar esta ide´ia de exogeneidade e´ assumir que o produto potencial (ou capacidade de produc¸a˜o) da economia cresce a` uma taxa constante e que a inflac¸a˜o pode ser expicada por uma variac¸a˜o da demanda maior que a variac¸a˜o do produto potencial. Assim sendo, nos modelos de oferta e demanda de curto e me´dio prazo, em geral sa˜o enfatizados os determinantes da curva de demanda a qual pode se deslocar ao longo de uma curva de oferta dada, cuja posic¸a˜o num gra´fico e´ fixa e cuja inclinac¸a˜o pode ser um dos treˆs casos tal como mostrado na figura 1.1. Isto posto, a construc¸a˜o de um modelo do tipo OA-DA, em geral e´ realizado em treˆs etapas. A primeira consiste em encontrar uma curva de oferta agregada que expresse as relac¸o˜es entre Y e P , isto e´ encontrando uma func¸a˜o Y OA = F (P ) onde dY/dP > 0. A segunda etapa consiste em encontrar uma curva de demanda agregada que tambe´m relacione Y e P e que contenha outras varia´veis varia´veis exo´genas como consumo das famı´lias, gastos e tributos do governo, investimento, saldo da lanac¸a comercial e por fim alguma varia´veis que represente a pol´ıtica moneta´ria, como por exemplo o estoque nominal de moeda ou meios de pagamentos (M). Esta func¸a˜o incluira´ por tanto a seguintes varia´veis: Y DA = F (C, T,G, I,BC,M), ondem podem ser dados choques de pol´ıtica fiscal ou moneta´ria que provoquem deslocamentos da curva de demanda agregada ao longo da curva de oferta agregada. A terceira etapa consiste em encontrar o ponto de equil´ıbrio geral no mercado de bens e mercado de trabalho fazendo Y OA = Y DA = Y ), como que obteˆm os valores de equil´ıbrio para a varia´vel prec¸o (P ∗) e quantidade (Y ∗). Estas treˆs etapas sa˜o explicadas a seguir. 3 1.2 Construindo a Curva de Oferta Agregada A construc¸a˜o de uma curva de oferta, passo a passo e em detalhes, e´ um processo muit instrutivo para o aprendizado da teoria macroeconoˆmica. Ao deduz´ı-la neste cap´ıtulo es- tamo sinteressados na˜o apenas em encontrar a curva de oferta agregada´propriamente dita, a qual na˜o passa, do ponto de vista matema´tico, de uma simples equac¸a˜o ou func¸a˜o ma- tema´tica que relaciona produto e prec¸o, mas estamos interessados em compreender o que acontece no mercado de trabalho e compreender os va´rios pressupostos sobre o comporta- mento das firmas e trabalhadores. Veremos ao fim do processo de deduc¸a˜o, que uma curva de oferta agregada significa os pontos para os quais o mercado de trabalho, demanda e oferta de ma˜o de obra, esta´ em equil´ıbrio. A importaˆncia da deduc¸a˜o na˜o esta´ no resultado final, na forma de uma euqac¸a˜o Y = F (P ), mas no processo de sua obtenc¸a˜o e nas va´rias teorias econoˆmicas intermedia´rias utilizadas para construir a curva de oferta.. A principal conclusa˜o a que chegaremos e´ que a oferta agregada representa as va´rias combinac¸o˜es de sala´rio e quantidade de trabalho que equilibram o mercado de trabalho. No final desta sec¸a˜o tambe´m ficara´ inequivocamente claro a diferenc¸a entre oque convencionou- se chamar de macroeconomia “cla´ssica” e “keynesiana”, cuja diferenc¸a reside num ponto aparentemente ino´cuo, que e´ a flexibilidade dos sala´rios nominais. Se os sdala´rios nominais forem perfeitamente flex´ıveis, estaremos no mundo cla´ssico onde obtemos uma curva de oferta vertical no plano Y, P . Se os sala´rios forem r´ıgidos estaremos no mundo keynesiano onde obtemos uma curva de oferta positivamente inclinada e no limite da rigidez, uma curva horizontal. Isto sera´ discutido com mais riqueza de detalhes ao final deste cap´ıtulo, depois de deduzirmos a curva de oferta agregada. A curva de oferta significa uma combinac¸a˜o de Y e P para as quais o mercado de traba- lho esta´ em equil´ıbrio. A construc¸a˜o da curva de oferta agregada e´ a etapa mais trabalhosa. Ela consiste m encontrar o n´ıvel de produc¸a˜o e a quantidade de ma˜o de obra de equil´ıbrio a partir do comportamento maximizador das firmas e dos trabalhadores. A partir da func¸a˜o de produc¸a˜o das firmas e da sua maximizac¸a˜o de lucros encontra-se a curva de demanda de ma˜o de obra (Ld). A partir da func¸a˜o utilidade sujeitaa` restric¸a˜o orc¸amenta´ria do tra- balhador encontra-se a curva de oferta de ma˜o de obra (Ls). Igualando-se as duas curvas obte´m-se o n´ıvel de emprego de equil´ıbrio (LD = Ls = L∗). Por fim, substituindo-se o n´ıvel de emprego de equil´ıbrio de volta na func¸a˜o de produc¸a˜o obte´m-se o n´ıvel de produto de equil´ıbrio Y ∗ = F (K,L∗). Ao substituir L∗ encontraremos a curva de oferta agregada na forma Y = F (φ, P ) com dY/dP ≥ 0 e φ indicando outras varia´veis que va˜o aparecer no resultado final que na˜o o prec¸o P . A curva de oferta agregada relaciona o n´ıvel de produc¸a˜o e o n´ıvel prec¸o da economia, quando o mercado de trabalho esta´ em equil´ıbrio. Demanda de ma˜o de obra por parte da firma - Ld A curva de demanda de ma˜o de obra expressa a quantidade de ma˜o de obra que as firmas esta˜o dispostas a contratar para cada n´ıvel de sala´rio nominal e prec¸o, ou juntando os dois, para cada n´ıvel de sala´rio real (W/P ). Para encontrar esta curva partimos de uam func¸a˜o de uma func¸a˜o de produc¸a˜o qualquer Y = F (K¯, L). A barra sobre a varia´vel capital significa que no curto prazo as empresas ajustam-se aos ciclos econoˆmicos fazendo variar primeiro a quantidade de trabalho. Variac¸o˜es no estoque de capital sa˜o processos de longo prazo, geralmente tratados nas teorias de crescimento e acumulac¸a˜o de capital. No momento estamos precupados com o curto e me´dio prazo, portanto soa bastante razoa´vel admitir que u´nico fator de produc¸a˜o que varia e´ o trabalho. Existe uma grande quantidade 4 de formas funcionais espec´ıficas para representar uma func¸a˜o de produc¸a˜o. Uma das mais conhecidas e´ a forma Cobb-Douglas, cujas propriedades matema´ticas facilitam muito a obtenc¸a˜o de soluc¸o˜es anal´ıticas, como veremos a seguir. Assuma enta˜o que a func¸a˜o de produc¸a˜o seja expressa pela func¸a˜o Cobb-douglas a seguir: Y = KαL1−α (1.1) A partir desta func¸a˜o de produc¸a˜o podemos encontrar o produto marginal do tralaho (PMgL) tomando a derivada parcial do produto Y em relac¸a˜o ao trabalho L, com o que obtemos: dY dL =PMgL = (1− α) ( K L )α > 0 dY 2 d2L =α(1− α)KαL−(1+α) < 0 (1.2) As duas derivadas acima mostram duas propriedades da func¸a˜o Cobb-Douglaas com importante significado econoˆmico. Estas duas propriedades sa˜o: a primeira diz que a func¸a˜o possui rendimentos constantes ao n´ıvel da escala, pois trata-se de um polinoˆmio (mais precisamente de um monoˆmio) com grau 1 (soma dos expoentes da func¸a˜o = 1)1; a segunda diz que a func¸a˜o possui rendimentos decrescentes ao n´ıvel do fator e que portanto a func¸a˜o de produc¸a˜o e´ coˆncava. O produto marginal e´ positivo (primeira derivada maior que zero), pore´m e´ decrescente (segunda derivada e´ negativa). A figura 1.2 abaixo mostra estes resultados de forma conjunta. A parte superior da figura mostra afunc¸a˜o de produc¸a˜o, na qual observa-se que o produto aumenta a medida que a quantidade L de ma˜o de obra contratada, pore´m este aumento e´ progressivamente menor. A func¸a˜o de produc¸a˜o e´ coˆncava.A parte inferior da figuramostra o produto marginal do trabalho,o qual e´ positivo (primeira derivada maior que zero), pore´m decrescente (sdgunda derivada menor que zero). Figura 1.2: Produtividade marginal do trabalho Uma vez conhecido o produto marginaldo trabalho o pro´ximo passo e´ encontrar a curva de demanda de ma˜o obra da firma, usando este resultado. O problema econoˆmico da firma 1Uma outra forma de dizer isso a afirma que a func¸a˜o e´ homogeˆnea de grau 1. 5 e´ decidir pela quantidade de ma˜o de obra a ser contratada e isto depende so sala´rio real W/P . Para ver como essa decisa˜o e´ tomada e´ preciso supor algum comportamento da firma que reflita seu interesse em contratar ma˜o de obra. O modo mais simples de fazer isso e´ supor que a firma opera em um mercado de bens finais competitivo, onde o prec¸o e´ determinado pela demanda, restando a` firma negociar o n´ıvel de sala´rio nominal W . O comportamento da firma e´ tal que ela procura ajustar sua produc¸a˜o Y , e portanto, sua demanda de ma˜o de obra L num n´ıvel que possa maximizar seus lucros Π. A equac¸a˜o de lucros totais e´ dada pela remunerac¸a˜o do capital e do trabalho conforme a seguir: Π = PY − rK −WL (1.3) onde r e´ o prec¸o unita´rio do capital e W o valor unita´rio da ma˜o de obra, o sala´rio hora, por exemplo, se o trabalho for medido em quantidade de horas trabalhadas. Como estamos interessados em analisar o curto prazo, podemos assumir que o estoque de capital (K) e´ constante e na˜o varia. Dados, num determinado momento,, os prec¸os e o sala´rio nominal, a firma ira´ maximizar lucros ajustando a quantidade de ma˜o de obra e a produc¸a˜o. Ale´m da maximizac¸a˜o de lucros assumimos outra hipo´tese comportamental importante que e´ o fato de que os sala´rios reais da economia sa˜o determinados de acordo com a teoria do sala´rio eficieˆncia, a qual diz que o sala´rio real sera´ igual a produtividade marginal do trabalho. Isto fica claro quando diferenciamos a equac¸a˜o 1.3 no tempo, em relac¸a˜o as varia´veis Π, Y,K ee L. Relembrando que estamos no curto prazo, de forma que K tambe´m na˜o varia, enta˜o a equac¸a˜o pode ser reescrita, no seu ponto de ma´ximo, como: dΠ = PdY −WdL = 0 (1.4) A firma maximixa seu lucro quando o custo de variar a ma˜o de obra e´ igual receita que ela obte´m com a venda da respectiva produc¸a˜o, de forma que a variac¸a˜o do lucro e´ zero (dΠ = 0). Apo´s igualar a` zero, podemos reorganizar os termos e obter uma expressa˜o para o produto marginal do trabalho, que e´ a pro´pria afirmac¸a˜o da teoria do sala´rio eficieˆncia: dY dL = W P (1.5) Esta igualdade do produto marginal do trabalho com o sala´rio real e´ fruto de dois pressupostos sobre o comportamento da firma: o primeiro refere-se ‘estrate´gia de maximizar lucros no curto prazo; e o segundo a` negociar sala´rios de acordo com o produto marginal do trabalho. Para finalmente encontrar a curva de demanda de ma˜o de obra tudo o que temos que fazer e´ substituir a equac¸a˜o 1.2 na equac¸a˜o 1.5 e resolver para L. Para caracterizar a func¸a˜o demanda de ma˜o de obra vamos chamar L de Ld. Fazendo isto obtemos: (1− α) ( K L )α = W P (1.6) Isolando L obtemos: Ld = [ (1− α)Kα P W ]1/α (1.7) A equac¸a˜o 1.7 representa a curva de demanda de ma˜o de obra que tanto procuravamos. Como pode ser observado, esta curva e´ negativamente inclinada no plano (L,W/P ), pois quanto maior o sala´rio W/P menor sera´ a demanda de ma˜o de obra. Ale´m disto a func¸a˜o e´ coˆncava para cima, dado que o termo W/P depende de α o qual se situa entre 0 < α < 1. 6 Figura 1.3: Demanda de ma˜o de obra das firmas Oferta de ma˜o de obra pelos trabalhadores - Ls A derivac¸a˜o da oferta de trabalho e´ realizada a partir de pressupostos teo´ricos acerca do comportamento dos trabalhadores em sua decisa˜o de disponibilizar ou vender seu tempo de trabalho no mercado, em troca de um sala´rio real. Para construir a curva de oferta de ma˜o de obra dos trabalhadores o procedimento mais fa´cil e´ assumir que os trabalhadores procuram maximizar uma func¸a˜o utilidade que depende da quantidade de horas trabalhadas e horas destinadas ao laser. O aumento de ambas as horas, se fosse poss´ıvel, proporcionaria mais bem estar, no entanto, o trabalhador na˜o consegue aumentar as duas ao mesmo tempo e precisa fazer uma escolha que dependera´ da taxa de substituic¸a˜o entre as duas. Para aumentar uma, precisa diminuir a outra. Consideremos enta˜o que um trabalhador representativo oferta uma quantidade H de horas trabalhadas por dia em troca de um sala´rio hora de W/P , que lhe da´ acesso a` quantidade C de bens de consumo e cujo consumo lhe proporciona um certo n´ıvel de satisfac¸a˜o material medido por uma func¸a˜o utilidade. Por outro lado, o trabalhador pode aumentar seubem estar quando decide poralocar uma quantidade de horas L para seu laser. Assim, se a quantidade total de horas dispon´ıveis por dia for 24 horas, enta˜o temos 24 = H + L ou ainda, generalizando 24 como sendo um total de horas dispon´ıveis, T = H + L. A figura 1.4 mostra o problema da escolha do trabalhador entre a quantidade de horas trabalhas e horas destinadas ao laser. As curvas de utilidade U(C,L) interceptam a restric¸a˜o orc¸amenta´ria linear nos pontos de maximizac¸a˜o. A medida que o sala´rio hora aumenta, o maior n´ıvel de renda e consumo que esta renda possibilita, estimulam o trabalhador a ofertar mais ma˜o de obra ate´ um certo limite ma´ximo a partir do qual, a renda seria ta˜o alta e o tempo de laser ta˜o curto que o trabalhador comec¸a a valorizar mais o laser do que o trabalho, quando a curva de expansa˜o inverte. A representac¸a˜o gra´fica pode ser matematicamente deduzida atrave´s do exemplo a seguir onde se usa um func¸a˜o utilidade do tipo Cobb-Douglas. O problema do trabalhador pode ser expressado enta˜o pelo seguinte problema de ma- ximizac¸a˜o de utilidade, sujeita a` uma restric¸a˜o dada pela quantidade de bens de consumo que o trabalhador pode adquir com um certo nivel de sala´rio W obtido por uma certa quantidade de horas trabalhadas H e por uma certa quantidade de horas de laser L. 7 Figura 1.4: Oferta de Ma˜o de obra pelos trabalhadores maxU = U(C,L) suj. a C = W P H (1.8) Podemos assumir uma forma funcional espec´ıfica para a func¸a˜o utilidade do trabalhador U(C,L) como sendo uma forma Cobb-Douglas U = CβL1−β. No entanto solucionar o pro- blema de maximizac¸a˜o neste formato de func¸a˜o gerara´ uma expressa˜o alge´brica complicada de analisar. Uma alternativa e´ aplicar logaritmos naturais na func¸a˜o utilidade e assumir a seguinte forma, para o problema do trabalhador: maxU = β lnC + (1− β) lnL suj. a W P T − W P L − C = 0 (1.9) onde a restric¸a˜o orc¸amenta´ria foi obtida considerando que H = T − L, portanto C = W P (T − L). A restric¸ao orc¸amenta´ria diz que o trabalhador na˜o pode consumir mais que sua renda obtida pelas horas de trabalho, isto e´, WP (T−L) ≥ C. No formato 1.9 o problema de maximizac¸a˜o tem uma soluc¸a˜o anal´ıtica fa´cil de encontrar. O lagrangeano desta equac¸a˜o sera´: L = β lnC + (1− β) lnL+ λ(W P T − W P L − C) (1.10) e as condic¸o˜es de primeira ordem sera˜o: dL dC =β 1 C − λ = 0 dL dL =(1− β) 1 L − λ W P = 0 (1.11) Da primeira condic¸a˜o sabemos que λ = β/C. Substituindo λ na segunda condic¸a˜o e resolvendo para L obtemos a expressa˜o para calcular as horas de laser como func¸a˜o dos sala´rios: 8 L = (1− β) β C P W (1.12) Mas na˜o estamos interessados nas horas de laser. Lembre-se que estamos em usca da curva de oferta de ma˜o de obra, enta˜o tudo que resta fazer agora e´ trocar as horas de laser pelo seu equivalente em horas trabalhadas. Como o total de horas trabalhadas e´ T = H + L, enta˜o podemos substituir L = T −H na equac¸a˜o 1.12 e resolver para H, com o que obtemos: T −H = (1− β) β C P W H = T − (1− β) β C P W (1.13) A equac¸a˜o 1.13 e´ a curva de oferta de ma˜o de obra que estamos procurando. Como H representa as horas trabalhadas por dia e assumindo a figura do trabalhador representativo, enta˜o podemos extrapolar este comportamento para todos os trabalhadors da economia agregando a oferta de ma˜o de obra e chamando H = Ls de oferta agregada de ma˜o de obra. Com isso temos uma equac¸a˜o do tipo Ls = F (W ) ou Ls = F (W/P ) se tivemos colocado W/P desde o comec¸o do problema. Note que ha´ um sinal negativo na equac¸a˜o e que W esta´ no denominador, portanto, um aumento do sala´rio real causara´ um aumento na oferta de ma˜o de obra. A curva de oferta de ma˜o de obra sera´ enta˜o: Ls = T − (1− β) β C P W (1.14) Isto pode ser comprovado observando que: dLs dW = (1− β) β C P W 2 > 0 dLs2 d2W =− 2(1− β) β C P W 3 < 0 (1.15) O equil´ıbrio no mercado de trabalho - Ls = Ld Uma vez que as curvas de demanda e oferta de ma˜o obra foram obtidas, equac¸o˜es 1.6 e 1.14 respectivamente, o pro´ximo passo em direc¸a˜o a` obtenc¸ao de uma de oferta agregada e´ obter o equil´ıbrio no mercado de trabalho, fazendo Ls = Ld = L∗. Igualando estas duas equac¸o˜es obteremos os valores de equil´ıbrio do sala´rio real e do n´ıvel de emprego da economia. T − (1− β) β C P W = [ (1− α)Kα P W ]1/α (1.16) Quando igualamos Ls = Ld, a varia´vel L e a expressa˜o fica apenas em func¸a˜o de W , com o que estamos calculando o seu valor de equil´ıbrio que denominaremos de W ∗. Isolando W na equac¸a˜o 1.16 obtemos um polinoˆmio em W cuja soluc¸a˜o na˜o e´ trivial. Esta 9 dificuldade decorre dos formato Cobb-Douglas tanto das func¸o˜es de produc¸a˜o quanto da func¸a˜o utilidade. Uma vez que 0 < α < 1 o polinoˆmio e´ de grau −1/α, que sera´ o maior expoente. Se α = 0.5 enta˜o teremos um polinoˆmio de grau -2, no entanto os expoentes sa˜o negativos de forma que a soluc¸a˜o do pol´ınomio e´ uma tarefa mais dificil. Para evitar mais complicac¸o˜es sabemos que a soluc¸a˜o final dependera´ basicamente dos valores de α, β, C,K, com o que podemos fazer a seguinte indicac¸a˜o de soluc¸a˜o: W P ∗ = soluc¸a˜o do polinoˆmio = f∗(α, β, C,K) (1.17) Uma vez encontrado o sala´rio de equil´ıbrio, basta substituir W ∗ em uma das equac¸o˜es de demanda ou oferta de ma˜o obra para obter a quantidade de trabalho de equil´ıbrio L∗. L∗ = Ls = T − (1− β) β C 1 f∗(α, β, C,K) (1.18) Obtendo o L∗, o pro´ximo e u´ltimo passo e´ substituir este L∗ na func¸a˜o de produc¸a˜o para obter a curva de oferta agregada da economia. Note que que uma vez encontrado sala´rio real W/P , e prec¸o desapareceu da expressa˜o final, restando na curva de oferta agregada apenas varia´veis exo´genas tal como expresso na func¸a˜o de equil´ıbrio f∗(α, β, C,K). O que teremos em termos de soluc¸a˜o final e´: Y ∗ = KαL∗1−α = Kα [ T − (1− β) β C 1 f∗(α, β, C,K) ]1−α (1.19) ou simplesmente Y ∗ = f∗2 (α, β, T, C,K) (1.20) Estavamos procurando uma equac¸a˜o que fosse do tipo Y = F (φ, P ), mas o que acon- teceu aqui e´ que o prec¸o P desapareceu da soluc¸a˜o final, de modo que se analisarmos a variac¸a˜o do produto (dY ) em relac¸a˜o a` variac¸a˜o de prec¸os (dP ) encontraremos uma de- rivada igual a zero, isto e´, dY/dP = 0, a partir da equac¸a˜o 1.19, pois de fato a soluc¸a˜o final e´ do tipo Y = F (φ) apenas, sem prec¸o. Isto significa que a curva de oferta e´ vertical, um t´ıpico resultado dos chamados modelos cla´ssicos. Isto so´ acontece se assumirmos como hipo´tese inicial que os sala´rios nominais e os prec¸os sa˜o flex´ıveis, de forma que ambos esta˜o variando na mesma direc¸a˜o e velocidade e portanto o sala´rio real ficara´ sempre constante, na˜o alterando o n´ıvel de emprego, que ficara´ sempre no pleno emprego. E uma vez o em- prego na˜o variou, a produc¸a˜o tambe´m na˜o varia e por isso a curva de oferta e´ vertical, configuando assim o caso cla´ssico. 10
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