Buscar

ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO E PSICOTERAPIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 122 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 122 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 122 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

BIBLIOTECA PIONEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
PSICOLOGIA
Aconselhamento Psicológico & Psicoterapia
Auto-afirmação - um determinante básico
OSWALDO DE BARROS SANTOS
Conselho Diretor:
Anita de Castilho e Marcondes Cabral 
Nelson Rosamilha
Oswaldo de Barros Santos
In memorian:
Dante Moreira Leite
LIVRARIA PIONEIRA EDITORA São Paulo
Capa:
Jairo Porfírio
1982
Todos os direitos reservados por
ENLO MATHEUS GUAZZELLI & CIA. LIDA. 02515 - Praça Dirceu de Lima, 313 Telefone: 266-0926 - São Paulo
índice
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
PARTE I VISÃO GLOBAL DOS PROCEDIMENTOS ORIENTADORES E TERAPÊUTICOS
1. Diagnóstico, Orientação, Aconselhamento e Psicoterapia .. . . . . . . . . . . .
O longo caminho: do diagnóstico para a assistência psicológica. O uso de testes psicológicos. Orientação, aconselhamento e psicoterapia.
2. Métodos Centrados no Contexto Sócio-Cultural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 	
Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas.
3. Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 	
Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas.
4. Métodos Mistos e Métodos Centrados no Problema. " . . . . . . . . . . . . . . 
Fundamentos. Procedimentos comuns. Técnicas específicas. Aconselhamento e terapia em processos de grupo.
5. A Revolução Rogeriana no Campo do Aconselhamento Psicológico e da Psicoterapia . . . 
Síntese histórica. Idéias básicas e originais. As condições terapêuticas essenciais. Evolução das idéias: o experienciar e as atuações em grupo.
PARTE 11 OBSERVAÇÕES PESSOAIS
6. Hipótese Sobre a Auto-Afirmação Como Determinante Básico do Comportamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Resultados de terapia e fundamentos para uma nova hipótese. Seria possível um neo-rogerianismo? A motivação e os determinantes do comportamento. A auto-afirmação como motivo básico e emocionalmente preponderante.
7. A Personalidade e a Auto-Afirmação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O Eu Pessoal, o Eu Social e a emergência da auto-afirmação. A ocorrência patológica. Neurose e significado da vida. Valores sociais e a auto-afirmação. Perspectivas humanísticas e filosóficas.
8. Contribuições à Terapia Psicológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 
Objetivos básicos: desenvolvimento pessoal e psicoterapia. Metodologia psicoterápica: a dinâmica do processo.
PARTE III
APLICAÇÕES EM SITUAÇÕES ESPECIAIS
9. Filhos e Alunos Difíceis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .	
Como ocorrem os problemas. Medidas gerais.
10. Ações Preventivas na Educação, na Família e no Trabalho. . . . . . . . . . . .. 
11. A Vida na sua Terceira Fase: a Valorização do Idoso. . . . . . . . . . . . . . . . 
Técnicas de orientação e psicoterapia
Referências bibliográficas. . . . . ., . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 
English-abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
Introdução
Os métodos, técnicas ou modelos de atuação, originários de atitudes naturais ou de comportamentos direcionados, freqüentemente usados para ajudar as pessoas com problemas psicológicos, são extremamente variados; dependem de concepções filosóficas e sociais, como, igualmente, dos recursos situacionais, profissionais, éticos e operacionais. Ademais, as ciências do comportamento colocam dúvidas e interrogações sobre os efeitos dos procedimentos orientadores ou terapêuticos em virtude de pesquisas pouco elucidativas.
Os conceitos e as indicações ou lembretes existentes neste livro resultam, de um lado, de informações bibliográficas e, de outro, de observações e inferências pessoais que, em muitos anos, logramos realizar. É uma ligeira coletânea de posições teóricas e da metodologia correspondente, seguida de uma hipótese sobre a auto-afirmação como determinante básico do comportamento e, em conseqüência, de procedimentos e técnicas terapêuticas.
Todas as considerações, sugestões e hipóteses estão francamente abertas à crítica de todos aqueles que se dedicam ao estudo ou à aplicação prática do aconselhamento psicológico e da psicoterapia, seja na situação natural e espontânea dos relacionamentos humanos, seja na situação profissional. O que se pretende é colocar nossas observações - ainda que falhas ou limitadas - a serviço desses alvos. Serão especialmente acolhidas as apreciações e contribuições relacionadas com a proposição original, isto é, com a hipótese de ser a auto-afirmação o determinante básico do comportamento no plano psicológico.
Agradeço a meus alunos e ex-alunos da Universidade de São Paulo pelo incentivo e pistas que me ofereceram e aos clientes que _e proporcionaram o mais, fecundo material para estudos e conclusões. Agradeço, também, às psicólogas Alice Maria de Carvalho Delitti e Walderez B.F. Bittencourt pela gentileza em rever e comentar o texto do capítulo 4, oferecendo úteis contribuições.
			O.B.S.
PARTE I
VISÃO GLOBAL DOS PROCEDIMENTOS ORIENTADORES E TERAPÊUTICOS
1 - Diagnóstico, Orientação, Aconselhamento e Psicoterapia
O longo caminho: do diagnóstico para a assistência psicológica
Poucos terão definido tão bem a evolução da Psicologia no plano operacional, como Rogers (1942) o fez ao examinar sua contribuição ao bem-estar e à assistência que dela se poderia esperar. Disse o fundador do método centrado na pessoa que, na década de 1920, o interesse pelo ajustamento do indivíduo era essencialmente de estilo analítico e de diagnóstico. "Floresceram os estudos de casos, os testes, os registros e observações e os rótulos de diagnóstico psiquiátrico. Com o tempo, essa tendência voltou-se da diagnose para a terapia, para a procura de meios e de processos pelos quais o indivíduo encontre a ajuda de que necessita. Atualmente, preocupamo-nos mais com a descoberta de recursos terapêuticos mais efetivos na assistência ao indivíduo. A dinâmica do processo de ajustamento substitui a longa fase de descrições e rotulações".
Realmente, se nos detivermos no estudo das teorias e das técnicas psicológicas, parece ser possível inferir que a maioria dos trabalhos psicológicos era orientada mais no sentido de conhecer a personalidade do que em intervir no complexo enredo do comportamento humano. As técnicas de diagnóstico tiveram seu apogeu nos anos de 1920 a 1960. A psicometria e os estudos estatísticos relacionados com a sensibilidade, a precisão e a validade dos instrumentos de avaliação psicológica desenvolveram-se de forma sensível dando origem, inclusive, a um conjunto de normas publicadas, em 1954, pela American Psychological Association, conseqüência natural do crescente interesse pelos pormenores sobre os métodos de construção e de aferição de testes. A classificação de reações ou de sintomas e o relacionamento de traços e de fatores da personalidade era a tendência dominante. E a psicologia, como estudo e avaliação do comportamento, passa a ser reconhecida como ciência na medida em que é capaz de prever e descrever, por testes, questionários, inventarmos e outros recursos, o comportamento de indivíduos ou de grupos. O próprio comportamento é analisado, identificado e classificado por idades, sexo, grupos sócio-econômicos ou em variáveis estatisticamente determinadas. Com Binet, Kuhlmann, Stern, Terman, Claparede, Spearman e outros, surgem o estudo e a elaboração de testes mentais e escalas métricas. Os conceitos de idade mental, quociente de inteligência e a psicometria atingem níveis de alta sofisticação; há preocupações em se desvendar as "habilidades" primárias ou básicas e têm lugar os estudos fatoriais com Thurstone, Goodman, Thomson, Vernon, Kelley, Cattell e outros mais; aparecem famosos testes tais como o "Differential Aptitude Test" , o "California Test of Mental Maturity" , o "Guilford Zimmerman Aptitude Sorve", o "General Aptitude Test Bater".Na década de 1940-1950, Wechsler estuda a inteligência e desenvolve as não menos famosas escalas denominadas W AIS e WISC. Por último, surge a contribuição de Guilford, baseada em estudos fatoriais pelos quais 120 combinações de habilidades são teoricamente possíveis (Guilford e Hoepfner, 1971) e os famosos estudos de Piaget sobre o desenvolvimento intelectual da criança. Na área da personalidade, além do Teste de Rorschach, do M.M.P.I., do T.A.T., do Teste de Machover surgem notáveis técnicas expressivas tais como o P.M.K. e inúmeros questionários, provas situacionais e clínicas (Anastasi, 1948, 1957; Van Kolck, 1975). Esses estudos e trabalhos de mensuração se distanciavam muito dos procedimentos terapêuticos como se estivéssemos em campos independentes.
O aperfeiçoamento das técnicas de diagnóstico conduziu o Psicólogo a um conhecimento razoável das reações humanas, mas não lhe ofereceu recursos suficientes no sentido de manipulá-las. O objetivo fundamental, que seria conhecer para orientar, prevenir, corrigir, recuperar ou tratar, continuava distante. Ainda encontramos essa situação em muitos serviços psicológicos: a preocupação com um bom diagnóstico. Se tal exigência é por vezes necessária, não menos o é a do estudo dos meios e dos recursos pelos quais possamos ajudar as pessoas atendidas, por uma razão ou outra, em uma clínica psicológica ou de orientação ou em um grupo assistencial.
O cenário retratado marca a longa trajetória da Psicologia para seu aspecto aplicado, assistencial. Professores, chefes, supervisores, orientadores, pais e até mesmo psicólogos tinham diante de si um quadro, tão perfeito quanto possível, do ponto de vista descritivo, etiológico, causal, mas poucos sabiam para alterá-lo. O mais acurado diagnóstico ficava, assim, inoperante, simplesmente porque os recursos de ajuda, de intervenção, não eram conhecidos ou não aplicados.
A literatura psicológica, farta em técnicas de exame psicológico, conservou.-se relativamente pobre em estudos e informações sobre procedimentos para atuação na conduta. Estes se limitavam, principalmente, a manipulações ambientais, a técnicas de apoio, avisos, recomendações e conselhos. Por outro lado, em outro universo, desenvolvia-se a Psicanálise com teorias e técnicas delas derivadas; surgiu a contribuição rogeriana, e brotaram os processos de Skinner bem como outras teorias e técnicas. A conjunção entre a medida dos fenômenos psíquicos de um lado e o tratamento desses mesmos fenômenos produziu-se de maneira lenta e até mesmo hostil como se fossem campos mutuamente exclusivos. O relacionamento entre a psicometria e a psicoterapia e as preocupações com solução de problemas psicológicos foram devidos, também, ao considerável impulso motivacional a partir da II Grande Guerra, quando contingentes imensos de ex-combatentes precisavam se reintegrar na vida civil. Como assinalam Sundberg e Tyler (1963), drásticas alterações ocorreram. "Uma nova ênfase nos problemas de adultos e de crianças desenvolveu-se rapidamente. Os exames de inteligência e de aptidões continuaram sendo necessários, porém, maior atenção foi dirigida aos complexos e difíceis campos da personalidade e da motivação. A Psicoterapia tornou-se a preocupação essencial".
o uso de testes psicológicos
Os testes e as medidas em psicologia remontam aos estudos da psicologia experimental iniciados por Wundt no século passado, desenvolvidos no começo do século por Binet e consideravelmente valorizados até a década de 1950-1960, quando teve início forte tendência contrária a seu uso. As razões que lhes foram opostas são, em geral, técnico.científicas e filosóficas. As primeiras questionam a validade técnica das medidas psicológicas e as últimas o direito que teriam as pessoas de invadir e medir um campo de fenômenos nitidamente pessoais ou de utilizar os dados obtidos em benefício de grupos ou de instituições, sejam estas educacionais, políticas ou empresariais.
Parece ao autor que estamos em vias de passar de um modismo psicológico a outro, ambos impregnados de vantagens e de desvantagens, eis que negar a existência de testes ou exames é desconhecer a realidade da própria vida. O que se faz, na verdade, é tentar substituir a avaliação psicométrica por entrevistas e observações clínicas, mudando-se o método mas não a intenção. A avaliação não pode, porém, deixar de existir seja por um processo seja por outro. O excessivo apego a resultados psicométricos sem a devida interpretação do contexto individual e social foi, e com razão, a origem da resistência aos testes.
O problema do diagnóstico e particularmente dos testes parece concentrar-se em dois pólos essenciais: 1) a validade das medidas; 2) o uso das medidas obtidas uma vez comprovada sua validade técnico-científica.
O primeiro ponto parece ser o mais relevante pois, se a medida for precária, insegura e instável, tudo o mais que dela partir é falso e altamente prejudicial. O segundo ponto envolve problemas sociais, políticos e essencialmente éticos. Testes e avaliações sempre existiram e sempre existirão, sob diferentes títulos e calcados no conhecimento acumulado e na filosofia da época. Nosso problema é aperfeiçoar as avaliações no seu sentido intrínseco e nas suas implicações culturais, éticas e terapêuticas. 
Quando se coloca o problema do diagnóstico prévio em aconselhamento ou terapia, podem os testes ser necessários ou não. A tendência atual é esperar que o diagnóstico ocorra como produto de interação entre psicólogo e cliente e na qual este atue como participante no seu propalo Julgamento A .pessoa irá ao pouco firmando sua Imagem e, seu autoconceito. Para fins de pesquisa e para outras atividades no campo da psicologia, os testes funcionam como medidores ou indicadores de comportamento e sua utilização é, às vezes, indispensável, desde que válidos e adequadamente aplicados e Interpretados *
* . No Brasil como no restante do mundo, os testes e técnicas de diagnóstico também floresceram nas décadas de 1930 a 1950. Vários instrumentos de avaliação foram elaborados, dentre os quais o Teste SENAI AG-3 e o Teste DEP, a cargo do autor e de seus colaboradores. Tais testes destinam-se à medida da inteligência geral, em termos do Fator G.
Orientação, aconselhamento e psicoterapia
Orientar, do ponto de vista psicológico, significa facilitar o conhecimento e a análise de caminhos ou direções para a conduta, com base em referenciais pessoais e sociais. Aconselhar, paralelamente, refere-se: ao processo de indicar ou prescrever caminhos, direções e procedimentos ou de criar condições para que a pessoa faça, ela própria, o julgamento das alternativas e formule suas opções. Psicoterapia é o tratamento de perturbações da personalidade ou da conduta através de métodos e técnicas psicológicas,
É fácil admitir que esses três conceitos, expressos em atuações práticas de ajuda, estão constantemente se intercruzando, seja nos hábitos e costumes do dia-a-dia, seja nos processos educacionais ou psicológicos formais e intencionais. Às vezes, uma simples ação orientadora, em que se facilita o acesso a informações e se deixa à pessoa decidir por si só, pode ser muito mais eficaz do que um conselho ou controle da conduta; noutros casos, principalmente em situações de emergência e de grande ansiedade, um conselho pode ser mais produtivo da que um demorado processo de orientação ou de terapia; em muitos casos porém, orientações e conselhos não são suficientes para alterar a conduta, recorrendo à terapia, como processo mais complexo, mais difícil e mais demorado A efetividade de uma atuação depende de inúmeros fatores nos quais sobressaem a personalidade do cliente, as emergências existentes, os recursos disponíveis e principalmente, os objetivos que se quer atingir e os critérios sociais e filosóficos que os determinam.
Os conceitos de orientação e de aconselhamento, vistos pelo lado de seus efeitos, têm variado ao longo da história. Já dizia Sócrates quatro séculos antes de Cristo: "Conhece-te a ti mesmo", conceito que parece se renovar noposicionamento atual da linha existencialista e rogeriana, e que com algumas alterações de forma e de conteúdo vem prevalecendo através dos tempos. Todavia, há pensamentos diferentes,
Williamson (1939), um dos pioneiros do movimento acadêmico de Orientação, identificava, em certos aspectos, o aconselhamento com a Educação, considerando que "à parte da moderna Educação referida como aconselhamento é a que se refere a processos individualizados e personalizados, destinados a ajudar o indivíduo a aprender matérias escolares, traços de cidadania, valores e hábitos pessoais e sociais e todos os outros hábitos, habilidades, atitudes e crenças que irão constituir um ser humano normal e ajustado'" ,	.
Como uma das grandes expressões no campo do aconselhamento, Rogers (1942, 1951) não se preocupa em estabelecer conceitos e definições, De toda sua obra, porém, se depreende que o aconselhamento é um método de assistência psicológica destinado a restaurar no indivíduo> suas condições de crescimento e de atualização, habilitando-o a perceber, sem distorções, a realidade que o cerca e a agir, nessa realidade, de forma a alcançar ampla satisfação pessoal e social. Aplica-se em todos os casos em que o indivíduo se defronta com problemas emocionais, não importando se se trata de doenças ou perturbações não patológicas. O aconselhamento consiste em uma relação permissiva, que oferece ao indivíduo oportunidade de compreender a si mesmo e a tal ponto que a habilita a tomar decisões em face de suas novas perspectivas, O cliente passa a se dirigir através da liberação e reorganização de seu campo perceptual. A orientação rogeriana afetou profundamente os princípios e os métodos até então existentes, e em face dessa repercussão dedica este livro um capítulo especial (Cap. 5) à obra desse psicólogo,
Para Robinson (1950), baseado principalmente nas técnicas de comunicação, e originariamente colega de Rogers, o aconselhamento é a atuação que "cobre todos os tipos de situações de duas pessoas, na qual, uma delas, o cliente, é ajudado a ajustar-se mais eficazmente a si propalo e a seu melo", Sua técnica principal é a comunicação, através de entrevistas cuidadosamente conduzidas e testadas de momento a momento, que facilitam a tomada de decisões e atuam terapeuticamente.
De ponto de vista dos efeitos da relação ocorrida no processo de aconselhamento, Pepinskye Pepinsky (1954) os definem como resultantes da interação que ocorre entre dois indivíduos, conselheiro e cliente, sob forma profissional, sendo iniciada e mantida como melo de facilitar alterações no comportamento do cliente.
Hahn e Maclean (1955), representantes, como Williamson, da corrente clássica de aconselhamento, dão ênfase ao processo de diagnóstico e tomam o aconselhamento no sentido de informações prestadas ao cliente sobre alternativas que se oferecem na solução de seus problemas. Há casos, dizem esses autores, sobre os quais o cliente precisa ser instruído! Há fatos que precisa conhecer; há aprendizagem a ser realizada.
Patterson (1959) é de opinião que o aconselhamento pode ser focalizado em termos de áreas de problemas (educacionais, vocacionais, conjugais, etc.), assim como em termos de ajustamento pessoal ou mesmo terapêutico. Segundo esse mesmo autor, o aconselhamento não se limita a pessoas normais; aplica-se ao excepcional, ao anormal ou ao desajustado; manipula as tendências adaptativas do indivíduo a fim de que este possa usá-los efetivamente.
Shoben (1966), analisando as implicações científicas e filosóficas envolvidas nos processos de assistência psicológica, afirma que do ponto de vista educacional e clínico, há dois alvos: o primeiro é ajudar o estudante ou o paciente a desenvolver suas capacidades para aperfeiçoar sua auto-avaliação "sem, necessariamente, se determinar o conteúdo de suas conclusões". Um segundo alvo, de certa forma contraposto ao primeiro, é o de se recusar ajuda técnica sempre que esta possa ser solicitada num contexto que venha violar os princípios intrínsecos do valor pessoal.
Na corrente comportamentista, encontramos Bijou (1966) afirmando ser "o objetivo final do aconselhamento ajudar o cliente a lidar mais eficazmente com seu melo e a substituir o comportamento mal ajustado pelo ajustado". "Parece claro, do ponto de vista da análise experimental do comportamento, que uma das mais eficientes formas de produzir as alterações desejáveis é pela modificação direta das circunstâncias que as suportam, e um dos meios mais efetivos de manter essas alterações é organizar um melo que continue a suportá-las." A aplicação das leis de aprendizagem é o melo pelo qual se adquire comportamentos desejáveis.
Krumboltz (1966), da corrente comportamentista, coloca os alvos do aconselhamento na mesma direção dos psicólogos contemporâneos. Segundo seus conceitos, "orientadores e psicólogos dedicam-se a ajudar as pessoas a resolverem mais adequadamente certos tipos de problemas. Alguns desses problemas relacionam-se com importantes decisões escolares e profissionais, tais como: Que curso devo fazer? A que profissão devo me dedicar? Outros problemas se relacionam com dificuldades pessoais, sociais e emocionais, tais como: Como posso salvar meu casamento? Como poderei suportar esses horríveis sentimentos de ansiedade, solidão e depressão? Como deverei agir para fazer valer meus direitos? Como posso relacionar-me melhor com os outros?" A essas questões o conselheiro acrescenta outras: Como se conceituam os problemas? Como colocar alvos? Que técnicas serão úteis para atingir esses alvos? Como avaliarei meu propalo trabalho? Tais questões são tão familiares e nos apegamos tanto a elas que os novos procedimentos (refere-se ele ao método comportamental) podem justificar uma verdadeira revolução no aconselhamento
A posição européia, notadamente à francesa, face ao aconselhamento psicológico, é bem diferente da americana. Piéron (Nepveu, 1961), em um de seus últimos trabalhos, dizia que os métOdos americanos aproximam-se muito da Psicanálise e que a concepção francesa e a americana divergem muito no juízo que fazem sobre o papel do conselheiro. "No regime americano, onde a educação não tem caráter nacional e onde a tendência geral é a de favorecer em tOdos os domínios as iniciativas individuais. o conselheiro se aproxima muito do psicoterapeuta; dirige-se a 'clientes' e não participa, de modo algum, dos problemas gerais da educação, nem se preocupa em participar de uma obra coletiva. Na França, ao contrário, tem-se procurado reduzir, ao máximo, a comercialização em matéria de Orientação. Esta, que tende a se integrar, cada vez mais, na obra nacional de educação, não visa satisfazer clientes, mas a servir os interesses dos Jovens encarando o seu futuro..."
Embora haja movimentos renovadores, Nepveu pareceu exprimir bem a tendência na época dominante na França e, talvez, na Europa quando, analisando os métodos de Rogers, de Super e de Bordin e baseando-se em contribuições européias de Nahoum, Delys e de outros, afirma que uma das atitudes correntes é o "conselheiro adotar uma atitude de peritO, ou de amigo desinteressado". "Esforça-se em compreender os problemas e as pessoas, em prever uma certa possibilidade de êxito, em formular conselhos adequados, bem-vindos e liberais".
Não obstante algumas controvérsias, o aconselhamento psicológico parece ter tOmado corpo e expressão na década de 1950-1960. De acordo com relatO de Super (1955), "essa nova expressão resultou do consenso geral de um grande número de psicólogos reunidos no Congresso Anual da American Psychological Association, em 1951, na Northwestern University". O "Counseling Psychology" substitui os antigos conceitos e métodos, originários da orientação profissional, modelada por Parsons e seus seguidores, pela idéia de um trabalho mais sensível à "unidade da personalidade, mais sensível às pessoas do que aos problemas, pois que a adaptação a um aspecto da vida está em relação com todos os outros". "O novo movimento encerra dados teóricos e técnicos da psicoterapia, inclui orientaçãoprofissional e ocupa-se, sobretudo, do indivíduo como pessoa, procurando ajudá-lo a adaptar-se com sucesso aos vários aspectOs da vida. Os conselheiros ou orientadores, nesse novo ponto de vista, ocupam-se de pessoas normais podendo cuidar, ainda, daquelas que apresentam deficiências e são mal ajustados, porém, de uma maneira diferente daquela que caracteriza a Psicologia Clínica".
Stefflre e Grant (1976), ao escreverem sobre aconselhamento psicológico, chegam a algumas considerações que parecem exprimir a dimensão hoje dominante: a) "a definição de aconselhamento depende dos diferentes pontos de vista das autoridades no assunto. Essas diferenças têm origem em diferentes pontos de vista filosóficos..."; b) "não se pode fazer uma distinção muitO clara e precisa entre aconselhamento e psicoterapia"; c) "o aconselhamento é uma forma deliberada de intervenção na vida dos clientes". Esse mesmo autor classifica o aconselhamento em quatro diferentes posições ou "sistemas", baseado em quatro diferentes teorias: a) Teoria do traço-fatOr, segundo a qual a mudança do comportamento "depende do conhecimento que o cliente tenha de informações"; b) Teoria centrada no cliente, pela qual o comportamento é modificado pela "reestruturação do campo fenomenológico"; c) Teoria comportamental, segundo a qual, após um diagnóstico da situação, determina-se os comportamentos a serem extintos ou reforçados; d) Teoria psicanalítica, que se propõe' 'claramente a uma redução de ansiedade na crença de que daí resulte um comportamento mais flexível e discriminador".
Para Rollo May (1977), o campo do aconselhamento situa-se entre os problemas da personalidade, para os quais há necessidade de um terapeUta e o_ problemas de imaturidade ou de carência de instrução, para os quais há necessidade de um educador.
Uma revisão de alguns textos sobre aconselhamento, aliada a nossa própria experiência, poderia nos levar às seguintes considerações:
1. A orientação, o aconselhamento psicológico e a psicoterapia não são meros procedimentos técnicos ou operacionais. Subjacente a eles há todo um arcabouço de posições filosóficas operantes tanto no terapeuta ou 'conselheiro. como nas pessoas assistidas, o que estabelece marcantes diferenças entre a psicologia e outras ciências humanas. Mesmo na posição clássica de liberdade e de não-diretividade há, por parte do psicólogo, uma deliberada e consciente postura filosófico-social. Noutro extremo, em que o conselheiro visa instalar um comportamento específico, há, igualmente, um papel social idealizado.
2. O posicionamento conceitual do orientador, conselheiro ou terapeuta flutua, em geral, entre três premissas: a) o homem é um produto predominantemente social; possui impulsos naturais, bons ou maus, que precisam ser canalizados para um tipo de sociedade na qual nos localizamos e que nos assegura a sobrevivência e o bem-estar; b) o homem é suficientemente capaz de decidir por si mesmo e escolher as ações mais. adequadas para si propalo e p?ra os outroS desde que sejam criadas condições facilitadoras para avaliação auto e hetero-referente e para as opções individuais; c) a autodeterminação é uma utopia; o homem é o produto de múltiplas variáveis; temos que atuar nos agentes que o controlam e nos comportamentos tal como ocorrem na vida. quotidiana.
Na prática pedagógica ou psicológica é difícil à distinção entre orientação, aconselhamento e psicoterapia e a maioria dos autores não se preocupa muito com essa diversificação teórica. Alguns, entretanto, tentam traçar linhas demarcatórias. Assim, Perry (1960) distingue o aconselhamento da psicoterapia, baseando-se nos papéis e funções sociais visados pelo primeiro e na dinâmica da personalidade proposta pela psicoterapia. Outros autores parecem diferençar estas duas atuações atribuindo ao aconselhamento os procedimentos que se focalizam no plano intelectual, cognitivo, consciente, e à psicoterapia os que se relacionam com fatores afetivos e inconscientes. Rogers (1942; 1955) usa os dois termos de forma indiferente - como fará o autor neste trabalho - porquanto, segundo ele, não há o que distinguir na série de contactos individuais que visam assistir a pessoa na alteração de atitudes ou do comportamento. Wolberg (1977) salienta que a psicoterapia é uma forma de tratamento para problemas de natureza emocional e na qual uma pessoa, especialmente treinada, estrutura uma relação profissional com o cliente, com o objetivo de remover ou de modificar os sintomas ou padrões inadequados de comportamento e promover crescimento e desenvolvimento da personalidade. Analisando o relacionamento cada a vez mais intenso entre aconselhamento e psicoterapia, Albert (1966), por outro lado, declara que o mesmo processo informativo, concerne-se ao aconselhamento acadêmico e vocacional, não pode se limitar aos planos conscientes e racionais da personalidade, já que os níveis profundos refletem-se em todos os aspectos do comportamento.
Nossa experiência vem indicando uma razoável ocorrência de casos nos quais os métodos de orientação e aconselhamento confundem-se com os de terapia. Se um jovem tem dificuldade de relacionamento. Com os pais _ se aplicarmos determinadas técnicas de tratamento emocional, sejam elas rogenanas, comportamentais ou outras, estaremos fazendo aconselhamento ou terapia? Se uma mulher procura o psicólogo para libertar-se de um contínuo desinteresse sexual pelo marido, tendo-se constatado, previamente, não haver problemas na área orgânica que possam ser responsáveis pelo fato e verificar-se haver uma real incompatibilidade emocional entre mulher e marido e se técnicas psicológicas forem usadas para tentar soluções, seria essa tarefa aconselhamento ou psicoterapia? Se um jovem, movido por profundos sentimentos de insegurança na escolha de carreira, não consegue tomar decisões e o psicólogo passa a cuidar do problema nos seus aspectos emocionais, estaria efetuando intervenção terapêutica?
Atualmente, a tendência é distinguir aconselhamento de psicoterapia mais em termos de grau do que em forma de atuação. Esta última é semelhante e até certo ponto indistinguível do primeiro, tanto no seu feitio profilático como no de recuperação ou .. Cura' '. Deixar ao psicólogo os chamados" casos normais com problemas", diferenciando-os dos patológicos ou anormais para os psiquiatras, é praticamente impossível, mesmo porque o conceito de normalidade é apenas uma proposição teórica (Mowrer, 1954). Quer nos parecer, pois, que a psicoterapia ou o aconselhamento são melhor descritos em termos de um continuum, em lugar de um julgamento dicotômico. A flexibilidade do trabalho do orientador e do psicólogo deve ser assegurada, em benefício do propalo cliente por ele assistido. Essa atuação, face a casos claramente patológicos, pode ser associada à de outros profissionais. A evolução de cada caso indicará a colaboração pessoal de outros especialmente sem que tenhamos de determinar, com base em supostas demarcações, os limites da atuação orientadora e da ação terapêutica.
Uma das mais explícitas conceituações e descrições dos papéis atribuídos aos que se especializam em Aconselhamento Psicológico é proposta por Jordaan (1968), em seu levantamento sobre as funções do Conselheiro Psicológico. Segundo dados por ele compilados, este atua em diferentes setores da vida social (consultórios, centros universitários, escolas, hospitais, centros de reabilitação, serviços de orientação profissional, departamentos de pessoal, serviços de colocação e de treinamento, etc.). Analisando as eventuais diferenças entre Clínica e Aconselhamento, assinala que alguns especialistas apontam diferenças entre essas duas especializações, outros, porém, consideram tais diferenças como irrelevantes. Segundo muitos especialistas, o psicólogo-conselheiro tende a trabalhar com pessoas normais, convalescentes ou recuperadas e a encaminhar casos mais sérios a outros especialistas. Usa técnicas psicoterápicas e outros recursos, tais como exploração de condições ambientais, informações, testes, experiências exploratóriase outros procedimentos mais freqüentemente do que o psicólogo clínico. .Em geral, o conselheiro terá desempenho profissional de acordo com a formação que recebeu e das expectativas de trabalho que se oferecem..
	Os dados hoje existentes parecem caracterizar o psicólogo-conselheiro como o profissional da psicologia de formação mais eclética o que não impede, contudo, que se dedique também a um determinado tipo de atuação na qual, particularmente, venha a especializar-se, a exemplo dos que se dedicam a problemas psicológicos do Trabalho, da Educação, da Família, etc.
Do ponto de vista psicológico, a atuação assistencial, profilática, terapêutica ou corretiva pode assumir diferentes rótulos classificados por alguns autores como formas suportivas, reeducativas ou reconstrutivas de tratamento (Pennington & Berg, 1954; Wolberg, 1977). Sem nos apegarmos a essa classificação, pois parece-nos difícil distinguir o que realmente ocorre, em face de um rótulo predeterminado, vamos nos limitar a mencionar apenas exemplos de métodos mais conhecidos, dando maior extensão ãqueles com os quais está o autor mais familiarizado. Procurou-se, porém, agrupá-los, tanto quanto possível, em capítulos próprios, pelo critério de seu posicionamento conceitual. Essa divisão setorial não reflete, porém, nenhuma tentativa de introduzir uma nova taxionomia no campo da psicoterapia. O Quadro 1, a seguir, relaciona exemplos de métodos, devendo-se notar que muitos destes, consoante a situação, podem se enquadrar em outras categorias.
QUADRO 1
EXEMPLOS DE MÉTODOS DE ORIENTAÇÃO, ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO E PSICOTERAPIA
MÉTODOS ENTRADOS NO CONTEXTO SÓCLO-CULTURAL
MÉTODOS CENTRADOS NO CONTEXTO PESSOAL
MÉTODOS MISTOS E MÉTODOS CENTRADOS NO PROBLEMA
· Informação - orientação · Persuasão · Manipulação ambiental · Aproveitamento de interesses e recursos pessoais e ambientais · Terapia ocupacional · Socioterapia · Comunidades terapêuticas e vivenciais; processos de grupo
· Psicanálise e técnicas analiticamente orientadas · Técnicas de reorganização cognitiva · Técnicas de crescimento pessoal e autodeterminação · Técnicas suportivas ou de tranquilização · Terapia gestáltica · Terapia biofuncional e bioenergética · Psicodrama · Análise transacional · Terapia primal · Psicobiologia · Logoterapia · Existencialismo 
· Terapia médica ou somática · Fisiocultura e esportes · Técnicas sugestivas e hipnóticas · Arteterapia · Ludoterapia · Biblioterapia · Semântica · Modificação do comportamento · Fé, misticismo, parapsicologia e áreas correlatas · Processos de grupo 
Nota: Alguns métodos podem ser classificados em uma ou mais categorias: outros não são apresentados sob a nomenclatura habitual e enquadram-se na classe geral em que são colocados no texto (capítulos 2, 3 e 4).
2 - Métodos Centrados no Contexto Sócio-Cultural
Fundamentos
A imposição de padrões culturais, nos seus vários aspectos, é, sempre, teoricamente repelida, na ânsia de liberdade e autenticidade que envolve o ser humano. O homem busca afirmar-se e talvez nisto consista todo o móvel da conduta humana e sobre o qual falaremos no Capítulo 6.
Não obstante o alvo tantas vezes cultivado, vê-se o homem julgado, aceito ou rejeitado pela forma como se ajusta aos padrões que o cercam. A acepção é válida em todas as épocas e em todos os lugares, em todas as classes e faixas etárias. Mesmo a adolescência contestatória, às vezes iconoclasta e irreverente, mas criativa e pura em muitos ideais que tenta opor à tradição e aos hábitos e costumes, cria, para si mesma, um modelo ao qual os adolescentes aderem, com normas e valores próprios. Estes passam a ser os critérios de conduta e de ajustamento pelos quais os próprios adolescentes são entre si aceitos ou rejeitados. O comportamento grupal, diluído em pequenas castas e classes ou generalizado em amplos segmentos populacionais, envolve princípios normativos. Chega-se ao paradoxo de propor-se a liberdade, a autenticidade, o ser-ele-próprlo e essa atitude transforma-se em valor Imposto, o que contraria a idéia fundamental de liberdade.
A adaptação da pessoa a certas normas, estilos ou formas de vida é, pois, um critério comum de ajustamento, embora tentemos rejeitá-lo. Daí se deduz que muitos procedimentos profiláticos ou educacionais, como técnicas de reeducação ou de terapia, pautam-se, inexoravelmente, por padrões sócio-culturais, alguns transitórios ou superficiais, frutos de modismos ou situações de emergência, outros permanentes e profundos, produtos da experiência acumulada na sucessão de gerações em uma espécie de inconsciente coletivo de que nos fala Jung. Como ser diferente, marginalizado, ou não reconhecido socialmente, pode, em certos casos ter o sentido de destruição, a pessoa procura adaptar-se aos sistemas existentes para atender à necessidade biológica, básica, de sobreviver. A sociedade indica-lhe os caminhos para se preservar; exige, de forma aparente ou velada, que se "eduque", isto é, que saiba falar, andar, vestir-se e usar o sistema social tal como existe; exige que estude, trabalhe, cuide dos filhos ou de pessoas, segundo certos padrões; espera que participe da vida comunitária, que pague impostos e que desfrute de seus bens, móveis e imóveis, segundo certas regras e limitações. Em suma, estabelece certos determinismos cuja observância é essencial para que a pessoa seja aceita. O aconselhamento e a terapia são, nestes casos, uma proposta de adaptação a uma vida pré-definida. A liberdade seria apenas a possibilidade de escolha entre os determinismos que nos pressionam.
Muitos procedimentos de aconselhamento psicológico e de psicoterapia visam atingir os alvo_ de que falamos: tentam conduzir as pessoas às situações que os valores sociais estabelecem como adequadas. Essa imposição, se, em muitos casos, produz reações de crítica e de oposição e até de uma alienação conducente a quadros patológicos, por outro lado pode gerar segurança aos que se incorporam à massa, às tradições, ao pensamento grupal. E coletivo. É a tendência sociocêntrica em oposição à linha individualista ou centrada na pessoa. Até que ponto as tendências socializantes ou personalizantes são benéficas ou prejudiciais, aprazíveis ou aterradoras não sabemos. É assunto Dara os filósofos, sociólogos e psicólogos sociais. O que nos parece evidente é a ausência de padrões, valores ou pressões que, de uma forma ou outra, balizam o comportamento humano.
Do ponto de vista do aconselhamento psicológico e de tratamento, há recursos terapêuticos que visam adaptar o homem a seu contexto sócio-cultural embora se procure, atualmente, limitar ao máximo a subserviência a valores preestabelecidos, sem, porém, ignorá-los; tenta-se colocar a pessoa em condições de opção, ampliando-se o leque de escolha; procura-se aproveitar as potencialidades individuais e abrir perspectivas para mudanças sociais; procura-se facilitar o questionamento de problemas e situações de vida. E de forma tal que as transições ocorram na pessoa e na sociedade sem violentá-las na sua essência, mas vigorosas no seu posicionamento. O aconselhamento imposto, extremamente autoritário, é coisa do passado, ainda que as informações, os conselhos, as advertências atuem em certos casos. Se os conselhos e recomendações fossem; por si sós, eficientes, as Prisões estariam vazias e os instrumentos; de repressão teriam amplo sentido. Há, pois, que estabelecer um sistema de comunicação, de orientação e de atuação psicológica que produza resultados benéficos para a pessoa e para a sociedade. E, no caso em que os valores sociais sejam predominantes, muitos processos são usualmente aplicados com maior ou menor benefício pessoal ou social consoante as exigências que, naquele momento, fluem da pessoa ou do grupo.
Procedimentos comuns
Como se verifica em vários autores (hahn & MacLean, 1955; Stefflre & Grant, 1976; Sundberg & Tyler, 1963; Wolberg, 1977), há grande variação nos procedimentos adotados nesta categoria metodológica de tipo "orientador" ou “diretivo" .
Ainda que prevaleça o sentidosociocêntrico,. Baseado em padrões culturais, tenta-se, do ponto de vista psicológico, reduzir ao mínimo a diretividade procurando-se reduzir tensões e preparar a pessoa para decisões socialmente desejáveis. Em geral, os procedimentos mais comuns são: 1) Discussão com o psicólogo dos prós e contras de cada situação; 2) Informação, pelo psicólogo, com base no diagnóstico, das possíveis causas e da possível evolução das reações observadas; 3) Opinião do psicólogo no sentido de estimular ou de impedir a consecução de certos planos; 4) Planejamento de situações, com o cliente, envolvendo assuntos relacionados com os problemas tratados.
Dificilmente se encontra, na literatura, a citação de pormenores técnicos do método, isto é, sobre o tipo de diálogo e atuação pelo qual o psicólogo conduz o relacionamento com o cliente. Em geral" são citados métodos de interpretar resultados de testes face a uma situação considerada e prognósticos que podem ser levantados. Limitam-se os autores a afirmar que "o cliente deve ser informado", que" deve tomar conhecimento J' , que o psicólogo deve considerar isto ou aquilo e que o cliente deve decidir.
Em geral, qualquer dos procedimentos aqui citados, como outros, análogos, ,embora com nomenclatura diferente, compreendem três etapas:
Fase catártica
O psicólogo ouve o cliente mantendo atitudes não críticas, facilitando sua expressão. O cliente expõe seus problemas e o psicólogo usa várias intervenções, tais como repetição, sumário e proposição de questões, esperando que o problema seja devidamente enquadrado em hipóteses prováveis. Essa fase pode durar uma ou mais sessões, na medida em que seja necessário chegarem, psicólogo e cliente, a uma estruturação formal dos problemas a enfrentar.
Fase de diagnóstico
Preparado emocionalmente o cliente na fase catártica, pode seguir-se o diagnóstico, orientando-se sua execução de acordo com os problemas ou hipóteses fixados na etapa anterior. Anamnese, testes, questionários, entrevistas com familiares.e outras pessoas são usados. Exames médicos e pareceres escolares ou profissionais podem ser incluídos no diagnóstico. Este envolve mais de uma pessoa e, em algumas clínicas, uma grande equipe participa do estudo do caso e da formulação de hipóteses e de planos (Vide outros comentarmos sobre o diagnóstico, no Capítulo anterior).
	Ao mesmo tempo, o psicólogo procura conhecer as oportunidades de estudos, de trabalho, de vida social, de recreação e de eventuais tratamentos específicos disponíveis para o cliente; precisa recorrer a diferentes especialistas, entre os quais orientadores educacionais, assistentes sociais, médicos, professores e até mesmo a outros profissionais. Como tem que julgar a disponibilidade de recursos da comunidade, seu trabalho pessoal geralmente é insuficiente.
Quando o diagnóstico é necessário, temos notado ser mais eficaz o procedimento que identifique: 1) o nível potencial do cliente, e que se estende desde suas condições de saúde até seus níveis de escolarização e de condições sócio-econômicas, incluindo nível de inteligência, de aptidões e reações sensoriais e motoras; 2) as condições de adaptabilidade que favorecem ou delimitam o uso de suas potencialidades, penetrando-se no estudo da personalidade do cliente e nos seus dinamismos. Todos os planos geralmente consideram as expectativas sociais e, de outro lado, as potencialidades individuais, inclusive as facilitações ou barreiras que a pessoa pode encontrar (Barros Santos, 1978).
Fase de decisões
Com o quadro do cliente diante de si, o psicólogo é levado à compreensão do comportamento do cliente e à decisão sobre os procedimentos aplicáveis para prevenção, ajustamento ou alteração de conduta. A característica básica reside na maior dose de iniciativa e decisão atribuída ao psicólogo. Este espera o cliente colocar os problemas e as soluções, mas, se estas não surgirem, assume o psicólogo o papel de proponente. O diálogo é Uma troca de idéias. O psicólogo informa, de modo impessoal, sobre os dados apurados, baseando-se em interpretações clínicas e estatísticas (Meehl, 1954; Super, 1955; Coule, 1960; Goldman, 1961). Evita personalizar as situações e oferece panoramas gerais, impedindo o aparecimento de nova ansiedade quando certos dados possam contrariar os alvos do cliente. Ao discutir com este, o psicólogo, ao mesmo tempo que informa, tenta explorar em cada idéia ou fato novo os sentimentos manifestos. Essa atuação, informativa e exploratória, leva o cliente a conhecer suas possibilidades e, desde que não gere tensões, produz condições favoráveis para escolhas e decisões. É uma etapa difícil, principalmente quando existem dados fortemente contrários às expectativas da pessoa. Em geral, é mais cauteloso esperar que esta, pouco a pouco, com a atmosfera de conforto criada pelo psicólogo, possa ir, ela própria, inferindo conclusões. As interferências no sentido de ordenar, proibir, persuadir não têm, em geral, mostrado eficácia. A informação e a exploração subseqüentes e imediatas nos parecem ser o procedimento mais adequado até agora encontrado. O psicólogo julga e avalia as possibilidades do cliente, mas o faz atenuando qualquer grau de dependência ou de ansiedade, na medida em que seja capaz de, concomitantemente com a informação, incluir atitudes que conduzam o cliente a explorar-se a si mesmo e à tomada de decisões.
Variações no processo
Em inúmeros casos, na fase catártica ou na fase de decisões, o cliente se sente mais à vontade "falando dos seus problemas" do que dos motivos originariamente expostos como razões para consulta. A redução da ansiedade criada pelas atitudes do psicólogo permite, pois, distinguir os casos em que ocorrem problemas emocionais generalizados dos que procuram, apenas, informações para uso predominantemente intelectual. Nessas circunstâncias, vê-se o psicólogo na contingência de continuar o processo no esquema original previsto, de transformá-Lo em processo terapêutico específico ou, ainda, de combinar ambos.
O atendimento do caso pode ter início com atitudes e técnicas centradas na pessoa, o que, além de preparar o cliente para um melhor diagnóstico, quando este se revelar necessário, permite iniciar uma assistência terapêutica que será útil nas situações em que, ao lado dos aspectos intelectuais, haja situações emocionais a serem manipuladas.
Quando o método é aplicado principalmente em casos de orientação vocacional ou profissional, sem problemas emocionais graves, temos notado que os clientes, quando submetidos apenas à reflexão de sentimentos, mostraram pouco ou nenhum avanço no sentido de equacionar melhor suas opções. Sempre que o psicólogo intervinha apenas com técnicas rogerianas, não se notava o aparecimento de respostas que revelassem modificação de comportamento associada a eventuais decisões. Em se tratando de casos em que predominavam problemas cognitivos 
O que se supôs antes e se verificou posteriormente - a técnica de informação, discussão e explanação refletiu-se favoravelmente no aumento das possibilidades de decisão. Tais efeitos concordam, em parte, com o que afirmam os partidários desse método e segundo os quais os problemas de escolha nem sempre são originariamente emocionais. Estudos de Watley (1967), concernentes à predição do sucesso de estudantes atendidos por conselheiros de orientação doutrinária e técnicas diferentes, demonstraram que os conselheiros filiados à teoria informativa (teoria e traços da personalidade) predisseram com mais exatidão o grau de sucesso dos indivíduos estudados do que os filiados à orientação não diretiva, dos chamados ecléticos ou dos que não tinham doutrina técnico-científica bem definida.
A maioria das técnicas ou de recursos terapêuticos baseados no contexto sócio-cultural não tem nomes consagrados. Muitos mesclam-se entre si. Vamos enumerá-los com pequenas explicações já que constituem variações do procedimento geral descrito.
Informação-Orientação
É um processo tradicional de interação, de natureza predominantemente Profilática. Visando oferecer.E discutir alternativas de ação conduzidas, em geral, Sob a forma de: a) procedimentos de apoio; b) análise de opções envolvendo Questões. Lembretes. Consulta a dados existentes. Observação da realidade circunstancial confrontação com modelos de conduta e resultados; c) reflexão dos sentimentos provocados pelas alternativas estudadas. Aplica-se, em geral, a pessoas que mantenham contato com a realidade. Motivadas e suficientemente desenvolvidas para análise de informações.
Os procedimentos informativos ou orientadores atuam geralmente no plano racional, desde. que haja prévia liberação de estados emocionais que perturbem a tomada de decisões. É um dos procedimentos mais usados através do tempo e útil sempre que a pessoa precise de informações para comparar os possíveis efeitos de suas opções. Enquadram-se estes procedimentos no campo habitual dos Orientadores ou conselheiros. Seja no campo familiar, escolar, profissional ou social.
Persuasão
Trata-se de imposição comportamental, no plano da ideação e da ação, baseada em padrões de conduta previamente definidos como únicos possíveis e válidos. De efeito sugestivo, atua sob a forma de dissuasão racional, geralmente associada a recompensas e punições. É de valor ético discutível e somente indicado em situações de emergência e de perigo para o cliente ou para outras pessoas. Inclui, muitas vezes, a doutrinação e a orientação das pessoas para comportamentos sociais ou políticos emanados de um grupo dominante. Um exemplo extremado deste procedimento é a chamada "lavagem cerebral".
Manipulação ambiental
Consiste em uma atuação planejada e diretiva sobre agentes externos, presentes na família, na escola, no trabalho ou na comunidade, visando eliminar ou atenuar a exposição do cliente às fontes de frustração ou de conflito. Pode exigir amplo diagnóstico do cliente e dos fatores externos atuantes em seu comportamento para localizar as variáveis nele intervenientes e a aplicação de medidas que conduzam alvos desejados. Muitas vezes o processo é indireto, ou seja, o próprio cliente não tem conhecimento dos alvos e das intenções que visam alterar seu comportamento, o que ocorre em casos de deficiência grave e incapacitante no plano intelectual ou emocional.
Aproveitamento de interesses e de recursos pessoais e ambientais
Partindo de prévio diagnóstico global! E diferencial, visa utilizar ao máximo o potencial e a estrutura individual, usando caminhos não bloqueados. Inclui o Estudo da dinâmica do comportamento e dos alvos e das necessidades individuais, procurando-se conciliá-las com as ofertas e as necessidades sociais. Multo usado no Campo da Orientação Vocacional e Profissional e na Educação, baseia-se nas possibilidades da comunidade ou da instituição, procurando-se facilitar à pessoa seu ajustamento a uma ou mais alternativas que a sociedade oferece. É menos diretivo Do que os procedimentos _tj.anteriores, já que oferece opções no campo do trabalho, Do lazer, da família, das atividades comunitárias ou em outras áreas do comportamento social. 
Terapia ocupacional
Compreende atividades de lazer, de recreação e, principalmente, tarefas que revelem utilidade e sentimento de auto-afirmação. As atividades podem ser livres, dirigidas ou semidirigidas e propiciam redução de tensões, exploração de aptidões e de interesses, melhora de comunicação e: da expressão e podem ter ação preventiva. educativa ou terapêutica (Willard &Spackman. 1970). Pode atuar como procedimento complementar ou como técnica terapêutica essencial, principalmente quando outros métodos são inviáveis. Pode incluir outras atividades, tais como esporte, teatro, movimentos associativos, atividades artísticas, cívicas, sociais, religiosas, bem como trabalhos manuais e artesanais. É aplicável, também, no campo empresarial para liberação de tensões, desenvolvimento pessoal enriquecimento do trabalho e melhora da comunicação.
A laborterapia é algo paralelo que se diferencia de terapia ocupacional porque estabelece um padrão mínimo de (desempenho a atingir, periodicamente revisto e neste sentido, tem amplos efeitos pedagógicos e psicológicos tanto para pessoas ditas normais corno deficientes. Muitas vezes recorre-se a oficinas especiais ou "protegidas", mas a tendência atual é usar o ambiente normal de trabalho.
Socioterapia
Confunde-se com outros métodos e técnicas já que o aconselhamento e a psicoterapia de qualquer estilo são, também, socioterápicos. Mescla-se, mais comumente, com a manipulação ambiental, com comunidades terapêuticas e com as técnicas de grupo em geral. Em essência, visa um contexto grupal, de que são exemplos a terapia familiar (Bowen, 1978), a terapia institucional (para pessoas que têm vida em comum) e equipes de trabalho. Nestes e noutros casos, a ênfase é dirigida para os sentimentos e as relações intragrupos e intergrupos; concentra-se nos problemas de agrupamentos humanos em geral como, também, em grupos especiais tais como grupo de doentes, grupo de viciados (o A.A.A. é um exemplo), grupo de minorias raciais, grupo de delinqüentes, etc.
Os procedimentos aplicados correspondem, em geral, às técnicas de grupo, sob orientações psicológicas as mais diversas (vide capítulo 4).
Comunidades terapêuticas e vivenciais; processos de grupo
São geralmente usadas quando se busca um relacionamento grupal e um trabalho de grupo e, neste caso, assemelha-se à socioterapia. As comunidades terapêuticas e vivenciais são, também, destinadas aos casos que não possam ser atendidos em clínicas ou consultórios comuns por dificuldades diversas. Aplicam-se igualmente às pessoas que tenham problemas de residência, de locomoção e as que precisam de constante assistência, seja médica ou psicológica.
Em alguns casos caracteriza-se uma internação ou seja um regime de vida em clínica, hospital ou comunidade em que a pessoa submete-se a um tratamento médico, psicológico e social em geral programado pela instituição que a acolhe. Modernamente, os "internos" são convidados para colaborar, podendo até participar da direção dos programas em regime de co-gestão, visando-se confrontação com a realidade e auto-afirmação. A interação entre os participantes é discutida em sessões especiais prevendo-se, também, relações externas e o gradativo término da internação com o conseqüente autogoverno.	.
Os procedimentos e todas suas variações médicas, psicológicas ou sociais são planejados e aplicados por equipes multidisciplinares, com a cooperação dos participantes, podendo ser usados tanto em hospitais como em escolas, empresas, estabelecimentos penais, centros de abrigo e proteção e obras assistenciais.
O hospital-dia, centro-dia ou centro terapêutico é uma variação metodológica na qual o cliente conserva o vínculo com a família e freqüenta o centro diariamente ou algumas vezes por semana. Aplica-se a pessoas para as quais a tarefa terapêutica de consultório ou de ambulatório é insuficiente e para as quais a internação comum é desnecessária ou contra-indicada.
Tanto a internação ou hospitalização comum como o centro-dia implicam na existência de várias atividades que compreendem, em geral: 1) Assistência médica em geral; 2) Atividades psicoterápicas tais como sessões de grupo, jogos, dança, esporte, artes plásticas e musicais, artesanato, participação em tarefas para o centro; 3) Psicoterapia específica, conforme o caso; 4) Contacto com a realidade; 5) Trabalho com a família, fazendo desta uma ativa participante.
O centro-dia, ou centro terapêutico, vem sendo usado também no campo da gerontologia, pelo qual conserva o idoso seus vínculos familiares sendo, simultaneamente, assistido por uma equipe especializada, em um melo que lhe proporciona convivência e atividade produtiva.
A vivência comunitária é outra variação do procedimento de internação e comunidade terapêutica. Pode assumir várias formas, desde instituições destinadas a menores excepcionais ou desemparados, até instituições penais ou conjunto residencial para idosos. Esse sistema tem algumas vantagens e algumas desvantagens. Em geralprovê meios assistenciais mais facilmente e menos onerosos mas, por outro lado, afasta o indivíduo da realidade existencial contribuindo, até certo ponto, para uma segregação social ou etária. Outro perigo é o envelhecimento ou saturação da comunidade ou seja, o cansaço resultante de uma constante vida em comum. Os inconvenientes apontados podem ser removidos com uma organização suficientemente ampla e flexível, com programações variadas e com população parcialmente rotativa. Pode-se, também, em certos casos, limitar a estada residencial a alguns dias por semana ou intercalá-la com temporadas em outros locais, principalmente junto à família.
3 - Procedimentos Centrados no Contexto Pessoal
Fundamentos
Ao longo dos tempos, a sociedade revê os focos de referência em que balisa seus alvos, concentrando-se ora na pessoa, ora no grupo ou 'sistema, o que acarreta, no campo do aconselhamento psicológico ou da psicoterapia, correspondentes alterações. O conceito humanístico, 'voltado para uma atitude antropocêntrica, geralmente se sucede ao período sociocêntrico, no retorno a um equilíbrio natural. Essas tendências se alternam e, às vezes, coexistem. Hoje parece estarmos diante de uma orientação predominantemente personalista em que o indivíduo é o centro. Nesta conceituação, acentuada depois da II Grande Guerra, o foco preferencial tem sido o homem, a pessoa antes do grupo, embora alguns sistemas sociais existam como alvo prioritário.
Embora essas colocações e a luta pelos direitos humanos definam uma marcante filosofia social, a distância é bem grande entre a idéia e a ação. Mesmo no aconselhamento tipicamente centrado na pessoa, quando terapeuta e cliente buscam libertar-se das amarras sociais, estas não conseguem ser eliminadas. Os seres vivos têm medo de mudanças e apegam-se às estruturas existentes. No humanismo psicológico, pois, o efeito máximo atingido parece limitar-se a uma proposição para o futuro, isto é, ao planejamento para geração posterior. O humanismo é um desenvolvimento e um aproveitamento daquilo que é a pessoa, com ênfase na inovação, no enriquecimento experiencial e no crescimento, o que não significa constante oposição social mas a capacidade e a habilidade de extrair do melo o que é útil à pessoa e, em contrapartida, oferecer ao melo o que pode ser a ele necessário para o equilíbrio geral. Neste ponto, o aconselhamento e a psicoterapia de linha chamada' 'humanística" são contrários à educação de massa, à modelagem social e à socialização planejada.
Os métodos e técnicas dirigidos pelo enfoque humanístico partem do princípio de que a pessoa, como organismo total, é um ser com características próprias, que age e interage de acordo com as coordenadas básicas, biopsíquicas e sociais de sua personalidade, em uma equação pessoal de que nos falam tantos autores. O meio social é um corpo à parte, tão significativo quanto O ente biopsíquico, mas não o alvo irremovível e indiscutível. A pessoa é o centro e não o sistema de valores e de hábitos sociais. Francamente opostos ao domínio sóclo-cultural, da primeira categoria de métodos (Capítulo 2), coloca como objetivo básico a satisfação e o bem-estar individual, sem que isto implique em rebeldia ou subversão mas, ao contrário, em busca de valores e de opções que conciliem o EU pessoal com o EU social.
Os métodos e os procedimentos práticos atuam tanto no plano consciente como no inconsciente da personalidade e tendem a ser fenomenológicos ou, como diz Tyler: "Lida com o mundo como a pessoa o vê mais do que com a realidade existente" (Sundberg e Tyler, 1963).
A pessoa atingida pela orientação individualista passa a sentir-se segura e tranqüila à medida em que entende e vivencia seus problemas pessoais e quando se torna capaz de enfrentar a realidade em todos os seus aspectos; sente redução de tensões; o autoconceito se eleva; a crítica a si mesmo e aos outros tende a diminuir e os sucessos e fracassos são percebidos como fatos naturais próprios do viver e do vivenciar de cada um no seu momento de vida.
O aconselhamento psicológico e as técnicas psicoterápicas que freqüentemente se intitulam humanísticas, ou centradas na pessoa, nem sempre assim atuam, quer colocando como referencial o contexto sóclo-cultural (ver capítulo anterior), quer focalizando o problema em si, a exemplo de outras ciências. No enfoque centrado na pessoa, o trabalho terapêutico ou profilático é intencionalmente voltado para o processo particular pelo qual os eventos psíquicos ocorrem em uma dada pessoa. I 'Os erros da vida ocorrem quando o indivíduo tenta representar algum papel que não o seu". Esta frase de May (1977) esclarece bem a individualidade de cada um de nós. Não há tipos, nem rótulos ou categorias de indivíduos ou de problemas. Há pessoas nas quais condições orgânicas ou sociais geraram dificuldades, as quais foram manipuladas de acordo com recursos pessoais em um dado momento. Todo psicólogo experiente sabe que não há dois clientes iguais, embora, aparentemente, os problemas sejam os mesmos. A vivência de cada um deles é sempre “sui-generis". Diz Jung que cada um de nós traz em si uma constituição específica de vida, indeterminável, que não pode ser substituída por outra. A singularidade de cada pessoa e sua harmonia intrínseca são os alvos. A Psicanálise de Freud, bem como as teorias e técnicas que dele se originaram, constituem exemplos clássicos da orientação antropocêntrica, embora o controle social e cultural esteja sempre presente.
Procedimentos comuns
A abordagem inicial, muitas vezes, é semelhante à usada na metodologia da primeira categoria (capítulo 2), ou seja, há uma fase de relacionamento e catarse na qual o cliente expõe seus problemas, formula sua "queixa" e o psicólogo o assiste, refletindo seus sentimentos e demonstrando aceitação e empatia (o que não significa aprovação ou reprovação). A partir dessa fase e de acordo com um pré-julgamento que o psicólogo efetua sobre o cliente e as possibilidades de atendimento, é fixado um sistema de encontros periódicos, individuais ou em grupo.
Pode ou não haver diagnóstico psicológico no seu sentido tradicional. Geralmente essa providência é dispensável em certas modalidades de atuação; noutras, faz parte do processo e noutras é contra-indicado, como na metodologia rogenana.
As técnicas de atuação são bastante variadas, subordinadas a uma nomenclatura clássica e bem definida, como a Psicanálise, o Psicodrama, a Gestalt e outras mais. Todas' lidam com a dinâmica do comportamento e procuram levar o cliente a descobrir e manipular fontes profundas de ansiedade que, conscientemente ou não, atuam sobre ele. À medida em que o cliente consegue recompor as situações traumatizantes, em termos que suavizem suas frustrações e conflitos, pela redução da sensibilidade (nível de tolerância), pela melhor compreensão de si mesmo, do outro e do mundo que o cerca, ocorre maior enriquecimento e fortalecimento do EU e conseqüentemente maiores e melhores recursos para enfrentar e resolver dificuldades emocionais. A seguir veremos, resumidamente, alguns exemplos de técnicas desta categoria.
Psicanálise e técnicas analiticamente orientadas
A Psicanálise parece constituir o mais significativo movimento no campo da Psicologia, em todos os tempos. Embora os efeitos de seus métodos terapêuticos sejam questionados por muitos, os referenciais teóricos por ela estabelecidos vieram contribuir poderosamente para que o homem entendesse muito do que se passa em seu comportamento. De tal forma suas proposições corresponderam à necessidade de explanação da conduta humana, que seus conceitos e sua terminologia tornaram-se elementos comuns, quer na linguagem científica ou profissional, quer no dia-a-dia; impregnaram muitos dos conceitos atuais sobre as reações humanas e tendem a universalizar-se pelo uso corrente.
Devida a Sigmund Freud, seu genial criador, as teorias e técnicas passaram, posteriormente, por grandes e minuciosas elaborações e que se classificam, hoje, em métodos freudianos ou ortodoxos, e muitos outros,classificados de analiticamente orientados; envolvem associação livre, catarse, interpretação de idéias, de atos, de atitudes, de sonhos, de resistências e a manipulação do fenômeno de transferência (Freud, 1949, 1958).
Os conceitos básicos, derivados da Psicanálise, não se limitam atualmente à tradicional relação terapeuta-cliente, no inviolável gabinete do psicanalista, mas estendem suas aplicações a quase todos os campos do comportamento humano, seja na educação, na política, na religião, como, mais recentemente, dento das organizações de trabalho, a serviço do bem estar e da produtividade. Assim, conflitos existentes nas relações profissionais, enriquecimento do trabalho e o desempenho de chefes e subordinados têm sido analisados e interpretados em termos freudianos.
Como processo terapêutico, a Psicanálise t': seus derivados constituem tratamentos demorados e dispendiosos, aplicáveis às pessoas com repressões e conflitos profundos, servindo o terapeuta como uma espécie de ponte pela qual o cliente revive suas experiências passadas e o "aqui e agora" e reorganiza seus sentimentos em relação a essas experiências e ao quadro geral da personalidade.
A topografia da vida mental é entendida em termos de Id, Ego e Superego, quando se utiliza a linguagem freudiana, ou com nomenclatura diversa, mas de conceitos equivalentes, quando empregada por outras correntes psicológicas. Na sua mais ampla acepção, o método empregado tem em vista o estudo e a manipulação das forças psicológicas inconscientes que motivam o comportamento humano. Este é analisado e interpretado, seja na atividade manifesta no dia-a-dia, seja nos seus simbolismos mais diversos no trabalho, na vida social, na arte e noutros aspectos do pensamento e da ação.
O alvo terapêutico básico e original é dotar a pessoa de consciência de suas características e dos dinamismos que emprega para lidar com suas experiências traumáticas anteriores, com seus instintos e suas energias. Como técnica, o terapeuta assume um comportamento neutro, distante, de certa forma ambíguo. A essência da terapia é a análise, interpretação e manipulação da transferência, isto é, o encontro, pelo cliente, na figura do terapeuta, de um substituto aceitável que simboliza seus problemas. Qualquer modificação profunda na personalidade implica em compreender e explorar ativamente essa transferência, de forma que o cliente perceba como seu passado interfere no presente. À medida que o processo continua, o cliente liberta-se, pouco a pouco, da dependência do analista e reformula suas atitudes básicas, o que geralmente exige longo tempo e considerável habilidade do terapeuta.	.
Muitas e profundas alterações ocorreram no campo aberto por Freud, de tal forma que algumas delas passaram a constituir “escolas" ou movimentos com concepções e métodos dificilmente ligados às raízes originais. Não vamos comentá-las, dada a magnitude do assunto mas, apenas, citar os nomes mais expressivos devendo-se notar que alguns destes aparecem nos itens seguintes, uma vez que suas concepções podem se enquadrar em classificação metodológica diferente. Dentre, pois, tais "escolas" ou movimentos significativos, poderiam ser lembrados, em ordem alfabética: Abraham (1927); Alexander e French (1946); Berne (1976); Binswanger (1956); Erickson (1950); Fenichel (1941); Ferenczi (1926); Fromm (1941); Horney (1950, 1959); Jung (1927, 1939, 1968); Klein (1949); Lacan (1968, 1977, 1979); Laing (1963, 1967); Lowen (1967); Perls (1976); Rank (1945); Reich (1945); Reik (1948); Rosen (1953); Stekel (1940); Sullivan (1940, 1954)*. Algumas das contribuições destes autores são mencionadas mais adiante.
. As datas mencionadas neste trecho, bem como em todo o livro, correspondem às datas das publicações citadas nas referências bibliográficas.
Técnicas de reorganização cognitiva
A ênfase terapêutica, nesta linha de ação, é dirigida para os conceitos e valores que o cliente desenvolveu e em função dos quais as dificuldades vivenciais emergiram. Procura o psicólogo descobriras concepções "errôneas" ou "inadequadas" do cliente e trazê-las a sua compreensão, modificando, assim, o que Adler denominou de "estilo de vida" (1917).
O processo varia muito entre seus aplicadores consistindo, genericamente, em entrevistas com o cliente, seus familiares, professores e outras pessoas da sua constelação de vida, a fim de se ter idéias precisas das desordens comportamentais. O mapa cognitivo é explorado; as dificuldades são francamente discutidas, apontando-se as incoerências, ilogicidades e erros interpretativos, atuando-se, principalmente, no plano consciente, racional e do chamado bom senso. Adler dá grande atenção ao clima e às relações familiares (1917); Ellis procura detectar as principais falsas concepções e tenta modificá-las (1958, 1971); Phillips (1956), Dreikurs (1959), Mowrer (1953) e Frankl (1955) têm idéias básicas correlatas, no sentido de uma abordagem cognitiva e racional dos problemas. Este último de quem falaremos mais adiante, salienta-se pelo foco dirigido ao encontro de um sentido de vida e à responsabilidade que a pessoa assume no contribuir para a vida mais do que no usá-la. Um extenso estudo da terapia cognitiva é encontrado em Beck (1976).
O cliente é instruído a lutar contra as falsas concepções, a ignorar as depressões ou ansiedades, enfrentando-as como algo passageiro, até certo ponto inevitável, e a aceitar seus efeitos, bem como a culpa e as falhas pessoais como indicadores de algo errado no seu estilo de vida.
A terapia cognitiva envolve técnicas especiais (Beck, 1976) que abrailgem, também, a análise do que o cliente pensa e diz para si mesmo, no seu monólogo interior. A teoria da dissonância cognitiva (Festinger, 1957) pode oferecer pistas para estratégias de tratamento na linha comportamentalista (Jensen, 1979). As técnicas de persuasão são também incluídas e analisadas por diversos autores (Harrell, 1981) e, além disso, muito relacionadas com a terapia comportamental na medida em que se cuida de um processo de aprendizagem. Neste enfoque, os procedimentos têm em vista manipular os sintomas e os problemas de ajustamento sem atentar para eventuais causas. As sessões terapêuticas assumem, muitas vezes, as características de instruções e de aulas. O uso de reforços, comportamento imitativo e observação de modelos são largamente usados (vide Capítulo 4).
Técnicas de crescimento pessoal e autodeterminação
Embora haja algo em comum com outras posições psicodinâmicas, coube a Rogers (1942) dar início a um posicionamento considerado, na ocasião, revolucionário em matéria de aconselhamento e de psicoterapia. Em virtude de sua larga repercussão e de tratar-se de uma linha de atuação que interessou particularmente ao autor e a seus alunos dos cursos de Psicologia, é dedicado um espaço especial sobre o assunto, apresentado no capítulo seguinte.
Técnicas diversas
Presenciamos, atualmente, uma babel de terapias, seja nesta categoria, seja em outras, assinaladas nos Capítulos 2 e 4. Há grupos, movimentos e serviços públicos e particulares (centros pastorais, centros de valorização da vida, centros de emergência e de assistência a ansiosos, viciados ou marginalizados, encontro de casais, encontro de jovens, grupos comunitários e grupos de encontro em geral, grupos de gestantes e de idosos e um sem-fim de proposições). Alguns se utilizam de lazer, entretenimentos, recreação comum; outros utilizam o' esporte e os exercícios físicos; alguns empregam o esforço, outros o repouso; uns propugnam o relaxamento e a descontração, outros, ao contrário, a assunção da responsabilidade e da preocupação; alguns promovem estados solitários e de meditação, outros o companheirismo e a convivência grupal; outros, enfim, propõem a criatividade, a libertação e a expressão de si mesmo, enquanto outros proclamam a submissão, a obediência e o conformismo. Todos eles têm em comum a busca de soluções para problemas emocionais ou circunstanciais, no plano existencial. As proposições terapêuticas parecem estar ao sabor daatividade de muitos, bem como do charlatanismo de alguns, embora haja um bom número de profissionais seriamente empenhados em aplicar, controlar e estudar novas técnicas e seus efeitos nos clientes. Dentre as técnicas que têm merecido considerável estudo, poderiam ser citadas algumas, tais como:
·	As técnicas suportivas ou de tranquilização, individuais ou em grupo, geralmente destinadas a clientes em estado de grande ansiedade ou depressão. Usam-se vários procedimentos, dentre os quais a catarse, atividades físicas, compreensão e empatia, sugestão, persuasão, hipnose, relaxamento físico e mental, repouso, placebos, em geral como procedimentos iniciais seguidos, depois, por atividades programadas no sentido lúdico, artístico, filantrópico, profissional, etc.
Nas técnicas suportivas procura-se, inicialmente, baixar o nível de ansiedade, ou de depressão, elevando-se, por outro lado, o nível de tolerância às frustrações e conflitos, principalmente quando estes são irremovíveis (redução do autoconceito, perda de bens ou de parentes, incapacidade física, convivência forçada com fontes de atrito, etc.). Não se cogita de reorganizar a personalidade, mas de reduzir ou eliminar os sintomas agudos, propiciando condições para uma programação terapêutica posterior.
·	A terapia gestáltica que parte da experiência organísmica, colocando o corpo, com seus movimentos e sensações, no mesmo plano da mente. A ênfase terapêutica consiste em colocar a pessoa em contacto com as necessidades correntes e imediatas do organismo, Perls (1976), seu principal fundador, coloca como fundamental a estrutura e a configuração da percepção, isto é, o processo ativo que leva à construção de um todo perceptivo organizado e significativo entre o organismo e seu meio. Os desajustes e neuroses são conseqüências de separações e espaços não naturais na formação das "gestalten" (configurações) e a ansiedade seria a sensação de ameaça a essa unificação criativa.
O tratamento é, em geral, grupal, sob a forma de "workshops", nos quais são usadas dramatizações, troca de posições e papéis, visando-se "minimizar o espaço vazio entre os processos subjetivos e objetivos e restaurar na pessoa a totalidade da experiência não-verbal concebida como uma espécie de elam vital" (Kovel, 1976). Uma extensão do método é a terapia gestáltica centrada na pessoa, como forma de conjunção entre a posição rogeriana e gestaltista e da qual falamos a seguir.
·	A terapia gestáltica centrada na pessoa é, no dizer de Maureen MilIer * , uma' 'terapia de movimento; movimento através do espaço, do tempo e dos níveis de consciência. O objetivo é a libertação do movimento natural de energia de vida, através de ação espontânea e livre que leva a pessoa à percepção e à satisfação de suas necessidades através de harmonioso contacto com o universo de onde provém energia para a vida".
* Tradução do autor, de manuscrito a ele enviado pela autora.
Os seguintes conceitos são básicos:
1. O universo é um todo; é racional; comporta-se' de acordo com suas próprias leis e está em evolução;
2. A vida, inclusive a vida humana, segue um caminho de crescimento em direção à complexidade. Essa tendência formativa é um movimento no sentido da realização construtiva de possibilidades que lhe são inerentes e que não podem ser destruídas sem se destruir todo o organismo;
3. É da natureza da consciência humana procurar sempre contacto cada vez mais profundo com uma realidade absoluta;
4. A consciência tem capacidade para expandir-se aprofundando o contacto com a realidade absoluta.
A postura do terapeuta na abordagem gestáltica centrada na pessoa é a de fé nesses conceitos, de humildade face ao reconhecimento de que aquilo que é conhecido como personalidade é, apenas, um pequeno fragmento da totalidade. É uma postura de curiosidade à procura de uma visão mais ampla da realidade; é uma postura de incursão e experimento, do cliente e do terapeuta, em novos e mais ricos contactos com o mundo. O terapeuta é alguém em quem se confia como co-explorador dós mistérios internos e externos que constituem a existência do cliente e que o ajuda a descobrir os limites de sua energia.. de seu movimento e de sua capacidade para nutrir seu contacto com seu mundo (Miller, 1981).
·	A terapia biofuncional e bioenergética, resultante das contribuições de Reich (1945), tem como núcleo a idéia de que o estado emocional depende da função. do organismo; vivemos e atuamos fundamentalmente através do corpo e de suas energias, expressas ou reprimidas. Neste sentido, a função vital e saturar do orgasmo é um exemplo frisante. É necessário penetrar na "couraça muscular" que o cliente desenvolve a fim de libertar o material inconsciente. Essa liberação de emoções reprimidas, através da manipulação dos estados e tensões corporais, permite a mobilização da energia orgânica. Daí Q nome de orgonoterapia a essa posição. Posteriormente, Lowen desenvolveu o pensamento reichiano, com algumas contribuições, sob o nome de terapia bioenergética.
·	O Psicodrama criado por Moreno (1959) visa à .expressão de sentimentos gerados por situações propostas pelo terapeuta ou pelos clientes e pela audiência, através de determinados papéis desempenhados pelos participantes. O psicodrama pode atuar sob diferentes orientações doutrinárias e tem evoluído muito como técnica terapêutica, preventiva ou educativa. Dentre suas alternativas há situações que enfocam o "aqui e agora" no relacionamento pessoal e social, bem como situações que antecipam dificuldades futuras e outras que focalizam problemas já vividos e que possam ser revistos. Há, também, dramatizações de situações hipotéticas que possam trazer à tona repressões e comportamentos não suficientemente explorados.
 O psicodrama, além de sua função terapêutica, é usado, também, como procedimento didático.	.
·	A análise transacional, criada por Berne (1976), enfatiza as respostas e os papéis que as pessoas adotaram nas relações ambientais e interpessoais, as situações de segurança, auto-estima e de inferioridade comumente assumida por clássicas figuras de Pai, Adulto e Criança e seus simbolismos. A terapia focaliza o Ego adulto e os estados de OK, ou seja, ser julgado positivamente por si mesmo e pelos outros, ajudando a pessoa a compreender seus papéis e seu significado.
·	A terapia primal ou do grito primal, originária de Janov (1970), baseia-se na liberação de sentimentos profundamente reprimidos e que pode ocorrer sob forma dramática. O cliente é instruído para seguir uma programação terapêutica, tal como permanecer em um hotel durante três semanas e abster-se de drogas ou distrações redutoras,de tensão e dedicar-se intensa e unicamente ao tratamento, nesse período. Nessa fase, o cliente tem sessões de duas ou três horas diárias com o terapeuta, como único diante a ser atendido. Em cada sessão lida-se com um objetivo específico para levar o cliente a expressar seus mais profundos sentimentos relacionados com seus pais e isto ocorre através de palavras, gestos e vigorosas expressões físicas e verbais. Seu tratamento pode continuar, depois, em grupo no qual o cliente continua centrado no seu problema (Kovel, 1976).
·	A psicobiologia, de A. Meyer (1958), que enfatiza as vantagens de um amplo diagnóstico e, a seguir, a integração de todas as formas de psicoterapia, bem como as atuações biológicas e médicas. O posicionamento é global ou holístico com base no senso comum e na vivência do cliente em seu meio.
·	Já parcialmente mencionada no item relativo aos métodos de contexto sócio-cultural, a logoterapia é aqui citada por constituir um conjunto de princípios e de técnicas de certa forma deles independente. Criada por Victor Frankl (1955), sucessor de Freud em sua cátedra em Viena, opõe-se ao princípio do prazer e ao pansexualismo freudiano. Sua técnica consiste em facilitar ao cliente o encontro de um sentido em sua vida o que, paralelamente, implica em aceitação do Dever e da Responsabilidade. A saúde psíquica decorre do preenchimento do vazio existencial; de um espiritualismo

Continue navegando