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10/4/2014 1 MÓDULO I 1. ESTADO - Conceito: * Segundo Balladore Pallieri: “O Estado é uma ordenação que tem por fim específico a regulamentação global das relações sociais entre os membros de uma dada população sobre um dado território, na qual a palavra ordenação expressa a idéia de poder soberano, institucionalizado.” * Segundo Miguel Reale: “ O Estado é uma pirâmide de três faces: uma face social, uma face jurídica e uma face política.” * Segundo Georges Burdeau: “OEstado é a nação institucionalizada.” - Elementos Essenciais do Estado: Povo Território Soberania (Poder devidamente constituído) I - INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL 10/4/2014 2 3. PODER DEVIDAMENTE CONSTITUÍDO Conceito “O poder é o próprio Estado, como uma expressão ordenada de convivência. É abstrato, não sendo afetado pela modificação de outros agentes ou elementos do Estado.” Georges Burdeau Separação dos poderes • Teoria dos freios e contra- pesos. • Poder moderador • Poder fiscalizador • Tribunais de contas • Ministério Público 4. FORMAS DE ESTADO Classificação: Tendo em vista o modo pelo qual o Estado se estrutura, pode ser: simples ou unitário: É formado por um único Estado. Existe uma unidade de poder, cujo exercício se efetiva de forma centralizada. Qualquer grau de descentralização fica submetido à concordância do poder central. composto ou complexo: É formado por mais de um Estado, havendo uma pluralidade de poderes políticos. 10/4/2014 3 5. FORMAS DE GOVERNO De acordo com a organização política do Estado, existem duas formas básicas de governo: a) Monarquia: Governo de um só. Caracteriza-se pela vitaliciedade, hereditariedade e irresponsabilidade do Chefe de Estado. A escolha é realizada dentro da linha de sucessão dinástica, e o rei não possui responsabilidade política. Monarquia absoluta: Todo o poder fica concentrado nas mãos de uma só pessoa, exercendo-o de maneira ilimitada. Monarquia limitada ou constitucional: O poder do soberano é delimitado pela Constituição. 5. FORMAS DE GOVERNO b) República: Governo em que o povo governa no interesse do povo. Caracteriza-se pela eletividade, temporariedade e responsabilidade do Chefe de Estado. A escolha deste é feita por meio de eleições periódicas, o qual deve prestar contas de seus atos para o povo ou para um órgão de representação popular. 10/4/2014 4 6. SISTEMA DE GOVERNO Tendo em vista ao modo como se relacionam os poderes Legislativo e o Executivo, existem três sistemas de governo: a) Parlamentarismo: Neste sistema de governo o Executivo e o Legislativo são interdependentes. Apresentam as seguintes características: Atribuição a pessoas distintas da chefia de Estado e da chefia de governo; Na chefia de governo há responsabilidade política, vez que o Primeiro-Ministro não possui mandato; Possibilidade de dissolução do Parlamento pelo Chefe de Estado; Interdependência do Poderes Legislativo e Executivo, uma vez que compete ao próprio Parlamento a escolha do Primeiro-Ministro 6. SISTEMA DE GOVERNO b) Presidencialismo: Neste sistema de governo os Poderes Executivo e Legislativo são independentes. Apresentam as seguintes características: Atribuição a uma mesma pessoa da chefia de Estado e da chefia de governo; Eleição, pelo povo, de forma direta ou indireta; Mandato certo para o exercício da chefia do poder; Participação do Poder Executivo no processo legislativo; Separação entre os Poderes Executivo e Legislativo. 10/4/2014 5 6. SISTEMADE GOVERNO c) Diretorialismo: Neste sistema de governo há absoluta subordinação do Poder Executivo ao Legislativo. Caracteriza-se pela concentração do poder político do Estado no Parlamento, sendo a função executiva exercida por pessoas escolhidas por este. 7. REGIMES POLÍTICOS Tendo em vista ao grau de respeito à vontade do povo nas decisões do Estado, os regimes políticos podem ser : a) Democrático: Governo do povo. É o regime político cujo poder emana da vontade popular. Na clássica conceituação é o governo do povo, pelo povo e para o povo. b) Não Democrático: É o regime político cuja característica é a não-prevalência da vontade popular na formação do governo. 10/4/2014 6 1. Conceito: - “É um ramo do Direito Público, destacado por ser fundam ental à organi zação e funcionamento do Estado, à articulação dos elementos primários do mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura política”. (Alexandre de Moraes) - “Ramo de Direito Público interno que disciplina a organização do Estado, define e delimita a competência de seus poderes, suas atividades e suas relações com os indivíduos ao qual atribui e assegura direitos fundamentais de ordem pessoal e social”. (Vicente Ráo) - “A parcela da ordem jurídica que rege o próprio Estado, enquanto comunidade e enquanto poder. É o conjunto de normas (disposições e princípios) que recordam o contexto jurídico correspondent e à comunidade política como um todo e aí situam os indivíduos e os grupos uns em face dos outros e frente ao Estado-poder e que, ao mesmo tempo, definem a titularidade do poder, os modos de f ormação e ma nifestação da vontade política, os órgãos de que esta carece e os atos em q ue se concretiza". (Jorge Miranda) - “É o conjunto de normas jurídicas que regula a estrutura do Estado, designa as suas funções e define as atribuições e os limites dos supremos órgãos do poder político”. (Marcelo Caetano) II - DIREITO CONSTITUCIONAL - “É a parte do Direito Público que “fixa os fundamentos estruturais do Estado”. (Pontes de Miranda) - “É o conjunto de princípios e normas que regulam a própria existência do Estado moderno, na estrutura e no seu funcionamento, o modo de exercício e os limites de sua soberania, seus fins e interesses fundamentais, e do Estado brasileiro, em particular”. (Meirelles Teixeira) 2. OBJETO O Direito Constitucional tem por objeto a constituição política do Estado, no sentido amplo de estabelecer sua estrutura, a org anização de suas instituições e órgãos, o modo d e aquisição e limitação do pod er, atra vés, inclusive, da p revisão de diversos direitos e garantias fundamentais. 3. NATUREZA JURÍDICA O Direito Constitucional pertence ao ramo do Direito P úblic o, juntamente com o Direito Administrativo, Internacional, Criminal, Tributário e Processual. Encontra-se numa posição de superiori dade e m relação às demais ciências jurídicas, uma vez que, através da Constituição, estabelece princípios e normas para os outros ramos do Direito. 4. RELAÇÕES COM OUTROS RAMOS DO DIREITO a) Direito Constitucional e Direito Administrativo: O Direito Administrativo é considerado o ramo jurídico mais afim ao Direito Constitucional. Vide artigos 37 a 43 (Administração Pública); Artigos 84 e 87, parágrafo único (poderes do Presidente e funções dos ministros de Estado); Artigos 182, 184 e 185 (desapropriação) da Constituição Federal. b) Direito Constitucional e Direito Tributário: Os p rincípios aplicáveis à atividade tributária do Estado encont ram-se consignados na Constituição. Vide artigos 145 a 162 (Tributação) da Constituição Federal. c) Direito Constitucional e Direito Penal: Vide princípio estabelecido no artigo 5º, inciso XXXIX da Constituição: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pré via cominação legal”. A Constituição Federal t rata d e dive rsas garantias de caráte r penal nos incisos XXXVII a LXVII do artigo 5º. 10/4/2014 7 d) Direito Constitucional e Direito Processual: Na Constituição há um conjunto de normas denominadas de “princípios constitucionais do processo”. Pode-se citar na Constituição Federal as seguintes normas processuais: Artigo 5º incisos LXXIV (assistência judiciária), LXIX (mandado de segurança)e LXXIII (ação popular). e) Direito Constitucional e Direito Internacional: O artigo 4º, incisos I a X da Constituição trata dos princípios que reg em a atuação internacional do Estado Brasileiro. f) Direito Constitucional e Direito do Trab alho: Os di reitos do trab alhador encont ram-se assegurados nos artigos 6º, 7º, 8º e 9º da Constituição. g) Direito Constitucional e Direito Privado: A Constituição trata do amparo à família, aos filhos e aos idosos (artigos 226 a 230) e da defesa do consumidor (artigo 5º, inciso XXXII), dentre out ras norm as voltadas pa ra a regulamentação do Direito Privado. MÓDULO II 10/4/2014 8 CONSTITUIÇÃO 1. CONCEITO - Em sentido lato sensu, Constituição é o ato de constituir, de estabelecer, de firma r; ou, ainda, o m odo pelo q ual se constitui uma coisa, um ser vivo, um grupo de pessoas; organização, formação. - J. J. Gomes Ca notilho define a Constituição, em seu carát er ju rídico, como “a lei funda mental e sup rema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governa r, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos. Além disso, é a Constituição que individualiza os órgãos competentes para a edição de normas jurídicas, legislativas ou administrativas”. - José Afonso da Silva define como sendo “considerada sua lei fundamental, seria, então, a organização dos seus elementos essenciais: um sistema de normas ju rídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a fo rma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias; em síntese, é o conjunto de norm as que organi za os elementos constitutivos do Estado”. - André Ramos Tavares traz a definição de Constituição em seu aspecto formal, substancial e material: * Aspecto formal: “é um conjunto de normas jurídicas elaboradas de maneira especial e solene”. * Aspecto substancial: “é o conjunto de normas organizacionais de determinada sociedade política”. * Aspecto material: “a Constituição será o conjunto ju ridicizado de fo rças sociais, políticas, econômicas, religiosas e ideológicas que configuram determinada sociedade”. 2. CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO Existem três grandes concepções de Constituição: - Sociol ógi ca: Segundo Ferdinand Lassale é a “soma dos fatores reais do poder q ue regem nesse país, sendo esta a Constituição real e efetiva, não passando a Constituição escrita de uma folha de papel”. - Polí tica: Carl Schmitt considera-a como “decisão política fundamental, decisão concreta de conjunto sobre o modo e forma da existência da unidade política”, fazendo distinção entre Constituição e leis constitucionais. - Jurídic a: Consoante Hans Kelsen a Constituição é considerada “norma pura ”, ou seja, sem qualquer pretensão a fundamentação sociológica, política ou filosófica. Em sentido lógico-jurídico a Constituição é a “norma fundamental hipotética”. É o vértice de todo o sistema normativo. 3. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES Há diversas classificações de Constituição adotas pelos autores, sendo principais as seguintes: a) Quanto ao conteúdo: - Cons titui ção material: consiste no conjunto de regras mate rialmente constitucionais, estejam ou não codificadas em um único documento. - Cons titui ção for mal: é aquela consubstanciada de form a escrita, por meio de um documento solene estabelecido pelo poder constituinte originário. b) Quanto à forma: - Cons titui ção escrita: é o conjunto de regras codificado e sistematizado em um único documento, para fixar-se a organização fundamental. - Cons tituição não escrita: é o conjunto de regras não aglutinadas em um texto solene, mas baseado em leis esparsas, costumes, jurisprudência e convenções. Exemplo: Constituição Inglesa. 10/4/2014 9 c) Quanto ao modo de elaboração: - Constituição dogmática: se apresenta como produto escrito e sistematizado por um órgão constituinte, a partir de princípios e idéias fundamentais da teoria política e do direito dominante. - Constituição histórica: é fruto da lenta e contínua síntese da História e tradições de um determinado povo. Exemplo: Constituição Inglesa. d) Quanto à origem: - Constituição promulgada (popular, democrática, votada): proveniente do trabalho de uma Assembléia Nacional Constituinte composta de representantes do povo, eleitos com a finalidade de sua elaboração. Exemplos: Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988. 10/4/2014 10 - Constituição outorgada: é elaborada e estabelecida sem a participação popular, através de imposição do poder da época. Exemplos: Constituições brasileiras de 1824, 1937, 1967 e EC n.° 01/1969. - Constituição cesarista: é aquela que, não obstante outorgada, depende da ratificação popular por meio de referendo. e) Quanto à estabilidade: - Constituição imutável: onde se veda qualquer alteração, constituindo-se relíquia histórica. - Constituição rígida: é aquela que só pode ser alterada através de um processo legislativo mais solene e dificultoso do que o existente para a edição das demais espécies normativas. Exemplo: Artigo 60 da Constituição de 1988. - Constituição flexível: em regra não escrita, excepcionalmente escrita, poderá ser alterada pelo processo legislativo ordinário. 10/4/2014 11 - Constituição semi-rígida ou semiflexível: uma parte poderá ser alterada pelo processo legislativo ordinário, enquanto outra parte somente por um processo legislativo especial e mais dificultoso. Para Alexandre de Moraes a Constituição Federal de 1988 pode ser considerada como super-rígida, uma vez que em regra poderá ser alterada por um processo legislativo diferenciado, mas, excepcionalmente, em alguns pontos é imutável, por conta das cláusulas pétreas (artigo 60º, parágrafo 4º da Constituição Federal). f) Quanto à extensão e finalidade: - Constituição analítica (prolixa, abrangente): examina e regulamenta todos os assuntos relevantes à formação, destinação e funcionamento do Estado. Exemplo: Constituição brasileira de 1988. 10/4/2014 12 - Constituição sintética (concisa, negativa): prevê somente os princípios e as normas gerais de regência do Estado, organizando-o e limitando seu poder, por meio da estipulação de direitos e garantias fundamentais. Exemplo: Constituição Norte-americana. 4. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 Nossa atual Constituição Federal possui a seguinte classificação: formal, escrita, dogmática, promulgada, rígida e analítica. 5. SINÔNIMOS DE CONSTITUIÇÃO Várias denominações de Constituição são utilizadas pelos autores, objetivando destacar o caráter de superioridade das normas constitucionais em relação às demais normas jurídicas, tais como: Magna Carta, Lei Fundamental, Lei Superior, Lei Máxima, Lei Maior, Código Supremo e Carta Política. 10/4/2014 13 6. ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO Segundo José Afonso da Silva a estrutura normativa da Constituição apresenta cinco categorias de elementos: a) Elementos orgânicos: são normas que regulam a estrutura do Estado e do poder. Exemplo: Títulos III (Da Organização do Estado), IV (Da Organização dos Poderes e do Sistema de Governo), Capítulos II e III do Título V, Capítulos II e III (Das Forças Armadas e da Segurança Pública) e VI (Da Tributação e do Orçamento). • b) Elementos limitativos: são normas que tratam dos limites da atuação do Estado, assegurando os direitos e garantias fundamentais. Exemplo: Título II (Direitos e Garantias Fundamentais, excetuando-se o Capítulo II). • 10/4/2014 14 • c) Elementos sócio-ideológicos: encontram-se consubstanciadosnas normas sócio- ideológicas, que • revelam a caráter de compromisso das constituições modernas entre o Estado individualista e o social intervencionista. • Exemplo: Capítulo II do Título II (Direitos Sociais) e Títulos VII (Da Ordem Econômica e Financeira) e VIII (Da Ordem • Social). d) Elementos de estabilização constitucional: são normas destinadas a assegurar a solução dos conflitos constitucionais, a defesa da constituição, do Estado e das instituições democráticas. Exemplo: Artigo 102, inciso I, “a” (ação de inconstitucionalidade), artigos 34 e 36 (Da Intervenção nos Estados e Municípios), 59, inciso I e 60 (Processo de emendas à Constituição), 102 e 103 (Jurisdição constitucional) e Título V. e) Elementos formais de aplicabilidade: encontram-se consubstanciados nas normas que estatuem regras de aplicação das constituições, assim, o preâmbulo, o dispositivo que contém as cláusulas de promulgação e as disposições transitórias, assim, as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. 10/4/2014 15 7. ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO PREÂMBULO TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS TÍTULO II – DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS TÍTULO III – DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO TÍTULO IV – DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES TÍTULO V – DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS TÍTULO VI – DA TRIBUTAÇÃO E DO ORÇAMENTO TÍTULO VII – DA ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA TÍTULO VIII – DA ORDEM SOCIAL TÍTULO IX – DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS GERAIS ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS EMENDAS CONSTITUCIONAIS MÓDULO III 10/4/2014 16 1. APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS - José Afonso da Silva, em relação a aplicabilidade das normas constitucionais, as classifica em: a) Normas constitucionais de eficácia plena: "aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou têm possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e situações, que o legislador constituinte, direta e normativamente, quis regular". Exemplo: os "remédios constitucionais". Assim, tais normas possuem aplicabilidade imediata, e, portanto independem de legislação posterior para sua plena execução. NORMAS CONSTITUCIONAIS b) Normas constitucionais de eficácia contida: São aquelas "que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do poder público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados". Exemplo: Artigo 5°, XIII da Constituição Federal. 10/4/2014 17 b) Normas constitucionais de eficácia contida Desta forma, tais normas também possuem aplicabilidade imediata, mas admitem redução de seu alcance pela atividade do legislador infraconstitucional. Michel Temer prefere a designação de “normas constitucionais de eficácia redutível ou restringível”. c) Normas constitucionais de eficácia limitada: São aquelas que apresentam "aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, porque somente incidem totalmente sobre esses interesses, após uma normatividade ulterior que lhes desenvolva a aplicabilidade". Exemplo: Artigos 37, VII e 7º, XI da Constituição Federal. Assim, tais normas dependem de regulamentação futura, na qual o legislador infraconstitucional vai dar eficácia. 10/4/2014 18 - Maria Helena Diniz propõe outra forma de classificação: a) Normas constitucionais de eficácia absoluta: "as intangíveis; contra elas nem mesmo há o poder de emendar. Daí conterem uma força paralisante total de toda a legislação que, explícita ou implicitamente, vier a contrariá-las. Distinguem-se, portanto, das normas constitucionais de eficácia plena, que, apesar de incidirem imediatamente sem necessidade de legislação complementar posterior, são emendáveis. Por exemplo, os textos constitucionais que ampararam a federação (art. 1.°), o voto direto, secreto, universal e periódico (art. 14), a separação de poderes (art. 2.°) e os direitos e garantias individuais (art. 5.°, I a LXXVII), por serem insuscetíveis de emenda são intangíveis, por força dos arts. 60, § 4.°, e 34,VII, a e b". 10/4/2014 19 b) Normas constitucionais com eficácia plena: "são plenamente eficazes..., desde sua entrada em vigor para disciplinarem as relações jurídicas ou o processo de sua efetivação, por conterem todos os elementos imprescindíveis para que haja a possibilidade da produção imediata dos efeitos previstos, já que, apesar de suscetíveis de emenda, não requerem normação subcons-titucional subsequente. Podem ser imediatamente aplicadas". c) Normas constitucionais com eficácia relativa restringível: “(...) por serem de aplicabilidade imediata ou plena, embora sua eficácia possa ser reduzida, restringida nos casos e na forma que a lei estabelecer; têm, portanto, seu alcance reduzido pela atividade legislativa. São preceitos constitucionais que receberam do constituinte normatividade capaz de reger os interesses, mas contêm, em seu bojo, a prescrição de meios normativos ou de conceitos que restringem a produção de seus efeitos. São normas passíveis de restrição". 10/4/2014 20 • d) Normas com eficácia relativa dependente de complementação legislativa: "há preceitos constitucionais que têm aplicação mediata, por dependerem de norma posterior, ou seja, de lei complementar ou ordinária, que lhes desenvolva a eficácia, permitindo o exercício do direito ou do benefício consagrado. Sua possibilidade de produzir efeitos é mediata, pois, enquanto não for promulgada aquela lei complementar ou ordinária, não produzirão efeitos positivos, mas terão eficácia paralisante de efeitos de normas precedentes incompatíveis e impeditiva de qualquer conduta contrária ao que estabelecerem. 10/4/2014 21 Não recebem, portanto, do constituinte normatividade suficiente para sua aplicação imediata, porque ele deixou ao Legislativo a tarefa de regulamentar a matéria, logo, por esta razão, não poderão produzir todos os seus efeitos de imediato, porém têm aplicabilidade mediata, já que incidirão totalmente sobre os interesses tutelados, após o regramento infraconstitucional. Assim, como v isto acima, Maria Helena Diniz f az uma distinção entre normas constitucionais de eficácia absoluta, sendo as de aplicação imediata e não admitindo alteração por emenda constitucional, as denominadas cláusula pétreas, e as normas constitucionais de eficácia plena, que embora de aplicação imediata, admitem alteração pelo poder constituinte deriv ado de ref orma. 10/4/2014 22 - Normas programáticas Segundo André Ramos Tavares as normas programáticas “são as que estabelecem programas a serem desenvolvidos mediante a vontade do legislador infraconstitucional”. Tais normas fixam princípios, programas e metas a serem alcançadas pelos órgãos do Estado. Conforme Tercio Sampaio Ferraz Jr., "a eficácia técnica, neste caso, é limitada. E a eficácia social depende da própria evolução das situações de fato. Daí resulta uma aplicabilidade dependente". Maria Helena Diniz cita exemplos de normas programáticas: Artigos 21, IX, 23, 170, 205, 211, 215, 218, 226, parágrafo 2º, da Constituição Federal de 1988. 10/4/2014 23 - Teoria da recepção: No momento em que uma nova Constituição é colocada em vigor há, automaticamente, um processo de reconhecimento da legislação pretérita e uma verificação de sua conformidade com a nova ordem que se estabelece. • Quanto às leisinfraconstitucionais que foram editadas sob fundamento de validade de Constituição anterior, não haverá necessidade de votação de novas leis, uma vez que, se uma determinada lei editada antes for compatível com a nova Constituição, será recepcionada por esta, possuindo, então, um novo fundamento de validade. 10/4/2014 24 • Caso as leis infraconstitucionais não sejam compatíveis com o novo Diploma Constitucional, serão revogadas. Assim, uma lei que não for recepcionada será revogada, servindo a Constituição como uma espécie de “filtro”. - Teoria da desconstitucionalização A desconstitucionalização consiste na manutenção de regra da Constituição anterior, mas recepcionado pela nona Constituição, expressamente, como lei infraconstitucional, desaparecendo o status de norma constitucional. A Constituição Federal de 1988 não adotou este sistema. 10/4/2014 25 2. INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: - Tendo em v ista a solução de conf litos, compatibilizando-se as normas constitucionais, a f im de que todas tenham aplicabilidade, a doutrina apresenta div ersas regras de hermenêutica constitucional em auxílio ao intérprete. - Conf orme Vicente Ráo, "a hermenêutica tem por objeto inv estigar e coordenar por modo sistemático os princípios científ icos e leis decorrentes, que disciplinam a apuração do conteúdo, do sentido e dos f ins das normas jurídicas e a restauração do conceito orgânico do direito, para ef eito de sua aplicação e interpretação; por meio de regras e processos especiais procura realizar, praticamente, estes princípios e estas leis científicas; a aplicação das normas jurídicas consiste na técnica de adaptação dos preceitos nelas contidos assim interpretados, às situações de f ato que se lhes subordinam". - O termo “intérprete”, salienta Fernando Coelho, "tem origem latina - interpres - que designav a aquele que descobria o f uturo nas entranhas das v ítimas. Tirar das entranhas ou desentranhar era, portanto, o atributo do interpres, de que deriv a para a palav ra interpretar com o signif icado específico de desentranhar o próprio sentido das palav ras da lei, deixando implícito que a tradução do v erdadeiro sentido da lei é algo bem guardado, entranhado, portanto, em sua própria essência". - Canotilho enumera v ários princípios e regras interpretativ as das normas constitucionais: • da unidade da constituição: a interpretação constitucional dev er ser realizada de maneira a ev itar contradições entre suas normas; • do efeito integrador: na resolução dos problemas jurídico-constitucionais, dev erá ser dada maior primazia aos critérios fav orecedores da integração política e social, bem como ao ref orço da unidade política; • da máxima efetividade ou da eficiência: a uma norma constitucional dev e ser atribuído o sentido que maior ef icácia lhe conceda; • da justeza ou da conformidade funcional: os órgãos encarregados da interpretação da norma constitucional não poderão chegar a uma posição que subv erta, altere ou perturbe o esquema organizatório-f uncional constitucionalmente estabelecido pelo legislador constituinte originário; • da concordância prática ou da harmonização: exige-se a coordenação e combinação dos bens jurídicos em conf lito de f orma a ev itar o sacrif ício total de uns em relação aos outros; • da força normativa da constituição: entre as interpretações possíveis, dev e ser adotada aquela que garanta maior ef icácia, aplicabilidade e permanência das normas constitucionais. - Tais princípios são perf eitamente completados por algumas regras propostas por Jorge Miranda: • a contradição dos princípios dev e ser superada, ou por meio da redução proporcional do âmbito de alcance de cada um deles, ou, em alguns casos, mediante a pref erência ou a prioridade de certos princípios; • dev e ser f ixada a premissa de que todas as normas constitucionais desempenham uma f unção útil no ordenamento, sendo v edada a interpretação que lhe suprima ou diminua a f inalidade; • os preceitos constitucionais dev erão ser interpretados tanto explicitamente quanto implicitamente, a f im de colher-se seu v erdadeiro signif icado. 10/4/2014 26 - Interpretação conf orme a Constituição: Segundo Canotilho, "a interpretação conf orme a constituição só é legítima quando existe um espaço de decisão (= espaço de interpretação) aberto a v árias propostas interpretativ as, umas em conf ormidade com a constituição e que dev em ser pref eridas, e outras em desconf ormidade com ela”. Conf orme entendimento do STF, a técnica da denominada interpretação conf orme só é utilizáv el quando a norma impugnada admite, dentre as v árias interpretações possív eis, uma que a compatibilize com a Carta Magna, e não quando o sentido da norma é unív oco, tendo salientado o Ministro Moreira Alv es que "em matéria de inconstitucionalidade de lei ou de ato normativ o, admite-se, para resguardar dos sentidos que eles podem ter por via de interpretação, o que f or constitucionalmente legítimo - é a denominada interpretação conf orme a Constituição". Para que se obtenha uma interpretação conf orme a Constituição, o intérprete poderá declarar a inconstitucionalidade parcial do texto impugnado, no que se denomina interpretação conf orme com redução do texto, ou, ainda, conceder ou excluir da norma impugnada determinada interpretação, a f im de compatibilizá-la com o texto constitucional. Essa hipótese é denominada interpretação conf orme sem redução do texto. Vislumbram-se, portanto, três hipóteses: • Interpretação conforme com redução do texto: declara-se a inconstitucionalidade de determinada expressão, possibilitando, à partir dessa exclusão de texto, uma interpretação compatív el com a Constituição Federal. Exemplo: Adin n.° 1.127-8, o STF, que, liminarmente, suspendeu a ef icácia da expressão ou desacato contida no art. 7.°, § 2.°, do Estatuto da OAB (Lei n.° 8.906/94); • Interpretação conforme sem redução do texto, conferindo à norma impugnada uma determinada interpretação que lhe preserve a constitucionalidade: técnica de suspensão da ef icácia parcial do texto impugnado sem a redução de sua expressão literal. • Interpretação conforme sem redução do texto, excluindo da norma impugnada uma interpretação que lhe acarretaria a inconstitucionalidade: nesses casos, o Supremo Tribunal Federal excluirá da norma impugnada determinada interpretação incompatív el com a Constituição Federal, ou seja, será reduzido o alcance v alorativ o da norma impugnada, adequando-a à Carta Magna. Vale ressaltar que a declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto é um importante instrumento decisório para atingir-se uma interpretação conf orme a Constituição.
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