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À COLENDA CÃMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ
	MAGNÓLIA, brasileira, estado civil, profissão, portadora do RG...., inscrita no CPF..., com endereço eletrônico...., residente e domiciliada na Rua..., nº..., bairro..., CEP..., Caicó – Ceará, representada pelo seu defensor oportunamente identificado em procuração (doc. nº...), com endereço profissional na rua..., bairro..., nº..., CEP..., Caicó – Ceará, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no art. 5º, LXIX CF/88 e na Lei nº 12.016/09, impetrar o presente:
MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL REPRESSIVO COM PEDIDO LIMINAR
visando proteger direito liquido e certo, indicando como coautor o Excelentíssimo Senhor, SECRETÁRIO DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ, o qual é vinculado à pessoa jurídica da SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO, que tem sede na rua..., nº..., bairro..., Imaginária, Ceará, pelos fundamentos de fato de direito que se seguem:
I – DAS PRERROGATIVAS DA DEFENSORIA PUBLICA DO ESTADO DO CEARÁ
Uma vez a impetrante estar sendo representada pela Defensoria Pública do Estado do Ceará, vale salientar que a mesma gozará das prerrogativas do prazo em dobro e da intimação pessoal do Defensor público, com entendimento do art. 186 CPC:
Art. 186. A defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais.
§1º - O prazo tem inicio com a intimação pessoal do defensor publico, nos termos do art. 183, §1º.
II – DOS FATOS
	Com as informações obtidas com a concessão do Habeas Data anteriormente requerido, a impetrante, que já havia sido diagnosticada como portadora do Lúpus, teve conhecimento de seu prontuário médico onde dizia que em seu caso o uso continuo de um medicamento específico se faz necessário para controlar a doença, uma vez que a mesma não tem cura o seu controle é imprescindível.
	Ocorre que, como já informado, a impetrante é de família humilde com poucos recursos financeiros não tendo assim recursos para arcar com o pagamento dos medicamentos utilizados no tratamento. Dito isto, a impetrante recorreu novamente à Defensoria, onde foi levantado após realizações de pesquisas, que o referido medicamento necessário para o tratamento compõe a lista de remédios gratuitamente fornecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), constando inclusive na relação de medicamentos excepcionais elaborados pelo próprio Estado do Ceará.
	Orientada pela defensoria, a impetrante no dia 10.10.2017 se deslocou à Central de Distribuição Estadual de Medicamentos mais próxima de seu domicílio, onde a mesma solicitou o medicamento, acontece que no ato da solicitação lhe foi informado que o referido remédio, apesar de citado na lista de medicamentos fornecidos pelo Governo do Estado junto ao SUS, se encontrava suspenso por tempo indeterminado por ordem da Secretaria Estadual do Estado. 
Diante tal fato, a impetrante novamente recorreu à Defensoria Pública procurando assistência jurídica para a resolução do problema e ter o seu direito ao recebimento do medicamento garantido. Este departamento elaborou então um documento formal à Secretaria de Saúde do Estado, solicitando a compra do medicamento e disponibilização gratuita do mesmo à impetrante. O referido documento foi protocolado no dia 11.10.2017 junto à Secretaria de Saúde do Estado, obtendo resposta sobre o mesmo no dia 15.10.2017, onde foi confirmada a informação de que a compra de todos os medicamentos estava suspensa por tempo indeterminado.
	Diante da negativa, não resta outra alternativa senão a elaboração de medida judicial cabível neste caso para garantir à impetrante a realização de tratamento médico necessário para o seu diagnostico.
III – DO CABIMENTO E DA TEMPESTIVIDADE DA AÇÃO
	O Mandado de Segurança é uma ação constitucional que presta tutela jurisdicional na defesa de direitos fundamentais, violados ou ameaçados, por ilegalidades ou abuso de poder por parte da autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. A mesma se encontra prevista na Constituição Federal de 1988 e na Lei 12.016 de 2009:
Art. 5º CF [...]
LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito liquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade publica ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Publico;
Lei 12.016/09 Art. 1º Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito liquido e certo, não amparados por habeas corpus ou data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as fincões que exerça.
	Diante do exposto, o presente mandado de segurança se faz cabível para assegurar o direito liquido e certo da impetrante contra o ato ilegal praticado pela autoridade coatora.
	No tocante a tempestividade, o prazo legal para impetração do mandado de segurança é 120 dias, levando em consideração que a impetrante tomou ciência do ato coator dia 15.10.2017, o presente mandamus é tempestivo.
IV – DO MÉRITO
	O direito à saúde é garantido pela Constituição Federal como direito social, classificado como direito de segunda dimensão, estes estão previstos no art. 6º da CF. Em seu art.196 a Constituição Federal dedica uma seção inteira, dentro do capitulo da Seguridade Social, ao direito à saúde, estipulando:
Art.196 – A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
	Por se tratar de direito de todos, o direito à saúde é um direito tanto coletivo quanto individual, não apenas significa uma diretriz a ser cumprida pelo Estado, mas um direito publico subjetivo. Nesse sentido, o ilustre ex-ministro do STF Celso de Mello, ao julgar o AgR-RE 271.286-8/RS proferiu o voto no sentido de reconhecer o direito à saúde como um direito exigível judicialmente, destacando que
“a essencialidade do direito à saúde fez com que o legislador constituinte qualificasse como prestações de relevância publica as ações e serviços de saúde (art.197)	“ legitimando a atuação do Poder Judiciário nas hipóteses em que a Administração Pública descumpra o mandamento constitucional em apreço.
	Sobretudo, o direito também é dever do Estado. Nesse sentido, a Constituição estabelece que alem de preservar a saúde dos indivíduos, tem o dever de promovê-la; como já vimos, é um direito de prestação negativa e positiva do Estado.
	No art. 23, II, da CF/88 há previsão de que tal dever pertence aos três entes federativos: União, Estados e Municípios, nos seguintes termos: 	
Art. 23. É competência comum da união, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
II – cuidar da saúde e assistência publica, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência”.
	O Supremo Tribunal Federal já afirmou o entendimento de que a interposição do referido dispositivo constitucional deve ser no sentido de reconhecer a responsabilidade solidária entre todos os entes da Federação no que se concerne às prestações para a efetivação do direito à saúde. Nesse sentido, foi a decisão proferida no RE 855178 RG/SE – SERGIPE, vejamos na ementa (grifo nosso):
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. DIREITO À SAÚDE. TRATAMENTO MÉDICO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. O tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade solidária dos entes federados. O polo passivo pode ser composto por qualquer um deles, isoladamente ou conjuntamente (RE 855178 RG/SE – Sergipe. Relator: MIN. Luiz Fux. Julgamento: 05.03.2015. Dje – 050 Divulg 13.03.2015 Public 16.03.2015).
	O direitoà saúde é garantido mediante políticas sociais e econômicas, políticas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos, políticas que visem o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. Posto isso, é dever do estado a garantir a saúde, tanto prevenção quanto tratamento, seja o mesmo hospitalar ou por meio de fornecimento de medicamentos à população.
	Sobre as ações e serviços de saúde, a Constituição institui o Sistema Único de Saúde (SUS), ao dispor que:
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.
A Constituição da República ainda estabelece que:
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;
V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação;
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano;
VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
No âmbito infraconstitucional, o Sistema Único de Saúde (SUS) está regulamentado pelas Leis Federais 8.080/90 e 8.142/90.
Vimos que o dever do Estado no que tange a promoção e proteção da saúde não se resume ao tratamento médico-hospitalar, abrangendo também outros tipos de ações, dentre as quais está a assistência farmacêutica que engloba o fornecimento de medicamentos.
A Lei n° 8.080/90, ao dispor sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, e sobre a organização e funcionamento dos serviços correspondentes, possui alguns pontos que merecem ser destacados dentro da temática de fornecimento de medicamentos que estamos abordando, vejamos:
Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde (SUS):
[...]
III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas.
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
[...]
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
[...]
VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção;
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art.198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;
[...]
	Diante de todo o exposto é inegável o dever do estado em fornecer medicamentos necessários para tratamentos médicos, sob mácula de violação do direito fundamental de proteção ao direito de saúde.
	Em função do princípio de separação de poderes, não cabe ao Poder Judiciário formular políticas públicas sociais e econômicas, nem definir alocação orçamentária, sob pena de usurpação de competência do legislativo. Entretanto, diante de uma demanda que envolva a prestação de direitos que demandam a elaboração de políticas públicas, por exemplo, no âmbito da saúde, deve o judiciário analisar se a política formulada atende aos preceitos constitucionais.
	Nesse sentido, o professor Gilmar Mendes, com clareza, ensina que as hipóteses de conflito entre o Estado e o cidadão envolvendo a efetividade do direito à saúde são diversas, e que, quando o Poder Judiciário constatar a existência de política pública concretizadora do direito constitucional, deve então procurar verificar quais as razões para o não cumprimento da mesma, identificando o motivo pelo qual a pretensão do indivíduo foi negada.
Destaca ainda que pode ocorrer de medicamentos requeridos constarem das listas do Ministério da Saúde, ou de políticas públicas estaduais ou municipais, mas não estarem sendo fornecidos à população por problemas de gestão: há política pública determinando o fornecimento do medicamento requerido, mas, por problemas administrativos do órgão competente, o acesso está interrompido. Nesses casos, o cidadão, individualmente considerado, não pode ser punido pela ação administrativa ineficaz ou pela omissão do gestor do sistema de saúde em adquirir os fármacos considerados essenciais, em quantidades suficientes para atender à demanda.
Não há duvida de que está configurado um direito subjetivo à prestação de saúde, passível de efetivação por meio do Poder Judiciário.
Por todo o exposto, verifica-se que a impetrante possui legitimidade para requerer tal pleito. Senão vejamos o que dispõe a Lei 12.016/09: 
Art. 1º Conceder-se- á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça. 
§ 1º Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições. 
Art. 6º A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições. 
[...]
§ 3º Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática. 
Por todo o exposto, podemos concluir que a suspensão do fornecimento do medicamento pela Secretária de Saúde do Estado do Ceará constitui um desrespeito ao direito à saúde da impetrante, colocando em risco a manutenção de seu bem estar, ante a impossibilidade de dar prosseguimento ao tratamento médico receitado.
	Desta feita, é inegável a urgência da presente demanda uma vez que a saúde da impetrante está em risco, e a demora judicial poderia acarretar em risco de vida da mesma.
V – DOS PEDIDOS
	Diante do exposto, requer:
a) Seja a autoridade coatora notificada do conteúdo da presentepetição inicial;
b) Seja dado ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada;
c) Seja ouvido o representante do Ministério Público.
d) Reiterar o pedido liminar nos termos formulados;
e) seja determinado ao Poder Público Municipal que proceda o fornecimento de medicamento específico para o tratamento da impetrante, até que sua doença seja sanada;
f) Analise as provas pré-constituídas anexas.
	Atribui-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais).
Nestes termos, pede deferimento.
Caicó – Ceará, 15 de outubro de 2017.
______________________
DEFENSOR(A) PÚBLICO

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