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BIOEXPRESSÃO

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BIOEXPRESSÃO: UM CAMINHO PARA TRABALHAR A EDUCAÇÃO EMOCIONAL DA CRIANÇA
A primeira pergunta a ser feita é: É realmente necessário educar as emoções? Podemos educar os comportamentos (conjunto de hábitos) e o pensamento que está associado ao sentimento. A emoção é definida como uma reação psicofisiológica com três sistemas de respostas:
O primeiro é o fisiológico (adaptativo) que se manifesta através de reações corporais: O que eu sinto? O medo, por exemplo, se manifesta fisicamente com contração muscular, suor frio, aceleração cardíaca. 
O segundo é o cognitivo, o nosso pensamento, que corresponde a uma linguagem interna que nos induz a reagir. Qual o meu impulso? Gritar por alguém? Esconder-me em algum lugar? O que eu penso?
O terceiro é a atitude efetivamente tomada, a conduta que eu expresso: O que faço com o que eu sinto? Saio correndo, fico paralisado, choro, …?
A emoção tem um grande poder de ativação e motivação para as ações, pode mudar o resultado de qualquer objetivo quando bem utilizada. É fundamental para a tomada de decisões, como já demonstrou o neurocientista António Damásio, e para o processo de aprendizagem da criança. O que desperta prazer e traz alegria é muito mais facilmente apreendido pela criança. O que traz desagrado pode facilmente ser rejeitado e até esquecido. 
Se a criança está confiante, a tendência é desempenhar bem suas atividades, ter bons resultados em um teste, por exemplo. Entretanto, se estiver com medo, poderá chegar a “ter um branco”, não conseguir tomar atitudes necessárias ou não responder bem às questões de uma prova. Qualquer programa de educação emocional trabalha com estes três sistemas de respostas: sentimento, pensamento e conduta (ação), e a intervenção ocorre, principalmente, no pensamento e na conduta, de forma a permitir maior coerência na expressão do sentimento, e a equilibrar pensamento, sentimento e ação.
É importante começar pela corporeidade. Pois, até para educar nossas emoções precisamos de toda esta estrutura que está sempre presente: pensamentos, sentimentos e ações, e as relações que estabelecemos com o mundo a nossa volta, incluindo, naturalmente, as relações humanas (que, cá pra nós, trazem grandes desafios), mundo de onde recebemos estímulos aos quais reagimos todo o tempo.
QUEM ENSINA OU EDUCA AS EMOÇÕES?
 As habilidades vinculadas à educação emocional sempre foram historicamente aprendidas no seio familiar e na convivência com outras crianças, por meio de jogos e na relação com familiares. Mas a vida contemporânea limita cada vez mais as oportunidades de que as crianças adquiram estas habilidades de forma natural, uma vez que os pais ficam fora por mais tempo atendendo a demandas econômicas, não há mais brincadeiras na rua como antes, pois os riscos são maiores e as crianças ficam mais tempo na escola, muitas vezes. Daí surge a necessidade de se desenvolver um trabalho escolar em que estas habilidades possam ser aprendidas. Atualmente, o tempo das crianças está estruturado demais, elas têm, não raro, um acúmulo de atividades, agenda cheia, o que lhes deixa menos tempo para uma convivência verdadeiramente enriquecedora. Assim, um trabalho que alie escola e família pode trazer resultados ainda mais proveitosos.
Um trabalho de pesquisa realizado e aplicado na Espanha uniu três trabalhos teóricos para desenvolver um programa de educação emocional: a teoria das Inteligências Múltiplas, criada e desenvolvida pelo psicólogo Howard Gardner; a da Inteligência Emocional do psicólogo Daniel Goleman, e a Bioexpressão, criada pela pedagoga Lucia Helena Pena Pereira, que ofereceu, além da base teórica, a possibilidade de criar atividades em um formato lúdico, o que caracteriza as vivências bioexpressivas. Esta união permitiu que as crianças pudessem vivenciar experiências prazerosas e com objetivos bem claros para a coordenadora da proposta, mas que, para elas eram só uma grande brincadeira. Alguns pontos importantes dessas teorias que podem ajudar muito aqueles que têm envolvimento com a formação de crianças.
A teoria das inteligências múltiplas defende a importância de estimular as crianças desde os primeiros anos a conhecer suas habilidades, seus pontos fortes e pontos fracos com o objetivo de seguir melhorando as habilidades, mas também de aprender a “trabalhar” as debilidades, aqueles pontos que precisam ser mais cuidados. Goleman defende a importância de adquirir durante e desde os primeiros anos do desenvolvimento as habilidades que estão associadas aos cinco pilares da Inteligência Emocional: 
a) autoestima (autoconceito), 
b) autocontrole; 
c) automotivação; 
d) empatia (capacidade de compreender o sentimento ou reação da outra pessoa imaginando-se na mesma situação) ;
 e) habilidades sociais.
A Bioexpressão completa o trabalho trazendo a forma de trabalhar através da corporeidade, integrando pensamentos, sentimentos e ações, e proporcionando a relação das crianças com o espaço e os amiguinhos, e também orientando-os no uso dos materiais a serem usados. A prática bioexpressiva trabalha com cinco focos: o trabalho corporal expressivo, as vivências lúdicas e artísticas, a respiração, o relaxamento e a ampliação da percepção sensorial. Estes focos foram trabalhados em artigos anteriores, quando se falou da importância desses aspectos para o desenvolvimento equilibrado dos nossos pequenos (e também dos adultos).
A teoria das inteligências múltiplas traz uma visão diferenciada de considerar as habilidades cognitivas. Uma criança que não tem maior competência em cálculos pode ter uma maior habilidade linguística ou musical, o que não significa ser mais ou menos inteligente. Quando se pensa em educação emocional, é importante considerar duas formas de inteligência entre outras que foram propostas por Gardner: inteligências intrapessoal e interpessoal. O psicólogo define a inteligência intrapessoal como a capacidade de construir uma imagem real, exata e verdadeira de si mesmo, e de ser capaz de usar essa imagem de forma eficaz. É ter a capacidade de discriminar as próprias emoções, dar nome a elas e saber usá-las para orientar decisões. É uma forma de inteligência que se relaciona à capacidade de se autoperceber e de desenvolver o autoconhecimento. Já a inteligência interpessoal é a capacidade de perceber, valorizar e trabalhar com as intenções e motivações de outras pessoas.
Tanto Gardner quanto Goleman defendem a necessidade de estimular a aquisição das habilidades que compõem ambas as inteligências – a intrapessoal e a interpessoal. Estas inteligências foram melhor explicadas ao serem divididas em habilidades ou competências, um trabalho realizado por estudiosos posteriores a Gardner. E são elas: 
a) identificar as emoções no momento em que são sentidas (considerada a pedra angular da Inteligência Emocional); 
b) capacidade de controlar-se (autocontrole); 
c) capacidade de motivar a si mesmo (automotivação); 
d) reconhecimento das emoções das outras pessoas; 
e) controle das relações (a capacidade de se relacionar adequadamente com outras pessoas).
Como podemos observar, essas competências exigem um trabalho contínuo e sensível, mas podem propiciar qualidade de vida bem maior a quem as possui – crianças ou adultos. Um dos resultados obtidos na pesquisa realizada aponta a importância do trabalho lúdico direcionado para a educação emocional das crianças. E esta será nossa próxima postagem. Falaremos da experiência vivida e de algumas atividades utilizadas
EDUCAÇÃO EMOCIONAL: PEDAGOGIA E PSICOLOGIA
As atividades podem fazer parte da rotina de uma sala de aula, de modo a estimular as crianças a desenvolverem seus potenciais, a trabalharem suas emoções, num fazer contínuo.
O trabalho prático realizado está baseado na união de três teorias: Inteligências Múltiplas, Inteligência Emocional e Bioexpressão. 
Só para recordar, em poucas palavras, a teoria das Inteligências Múltiplas aponta, principalmente, o conceito da individualidade. Cada pessoa se expressa e se relaciona com o mundo de uma determinada forma,de maneira única em função da combinação de inteligências que possui (linguística, lógico-matemática, musical, corporal-cinestésica entre outras) e a interação destas inteligências com o ambiente. E sempre em sinergia, ou seja, em um trabalho conjunto de cognição e emoção. Cada ser precisa aprender a se expressar com sua forma própria, com as suas peculiaridades. Assim, o trabalho precisa ser sempre pensado para a criança como ser único; precisa dar-lhe a possibilidade de ser ela mesma.
A teoria da Inteligência Emocional aponta os 5 pilares guias do trabalho: autoconceito ou autoestima, 
automotivação, 
autocontrole, 
empatia 
habilidades sociais. 
E a Bioexpressão dá o formato lúdico e prático do trabalho, o como fazer, a estrutura das sessões e a contribuição da música, da arte e da literatura trabalhadas através da corporeidade, como meios de se alcançarem os objetivos.
Como é que se faz?
O quadro abaixo mostra os objetivos elaborados para alcançar com as crianças, os meios utilizados para isso e de que forma tais objetivos repercutiriam na vivência do dia a dia.
	Objetivos gerais
	Como?
	Utilidade
	Aprender a se acalmar
	Técnicas de relaxação, respiração e meditação
	Enfrentar os medos, controlar os ataques de raiva
	Aumentar a consciência emocional
	Aprender a discriminar as reações corporais associadas aos sentimentos, assim como as várias sensações
	Aprender a dar um nome às sensações e sentimentos, identificando os pensamentos
	Desenvolver a necessidade de expressar-se
	Desenvolver o hábito, fazendo um pouquinho a cada dia
	Compreender que a expressão é fundamental para o bem estar físico e emocional
	Aprender a discriminar as consequências dos próprios comportamentos e escolhas
	Refletir a partir de contos, vídeos, atitudes dos adultos, observando a reação das pessoas
	Melhorar a forma de se relacionar
	Aprender a planejar e desenvolver estratégias
	Resolver pequenos conflitos ou dificuldades
	Evitar determinadas consequências
 
ESTRUTURAÇÃO:
Sessões semanais, de 1 hora de duração com grupos de 8 a 10 crianças. Estas sessões se dividem em 3 momentos diferentes, que caracterizam os eixos bioexpressivos:
a) Centramento: 
Nos primeiros 10 a 15 minutos do trabalho: dedicados à aprendizagem de técnicas de respiração e relaxamento, técnicas de meditação ativa (Mindfullness).
O primeiro passo é aprender a centrar a atenção na respiração seguindo a instrução: ”inspira devagar… Agora, espira… Respirar e soltar todo o ar…” O segredo é brincar com a respiração, com várias atividades. Podem ser emitidos sons como as vogais, serem usados jogos cantados, respirações profundas, acompanhando o ritmo da música e movimentos que seguem a respiração. Por exemplo: abrir os braços lateralmente inspirando, e voltar com eles à posição inicial expirando.
Já a relaxação pode ser usada junto à visualização, o que facilita muito que os pequenos possam se desligar do seu entorno e se concentrar. Instruímos as crianças a imaginarem que são pudins, gelatinas ou um boneco de neve e realizar movimentos suaves de soltarem o corpo, e se moverem como os movimentos destes alimentos (imprimindo ao corpo um leve tremor). No caso da neve (aqui no Brasil, podemos também pensar em sorvetes ou picolés), imaginar que estão derretendo… derretendo… O importante é aprender a diferenciar no corpo a sensação de relaxado e tenso.
A meditação ativa se constitui na aprendizagem de centrar a atenção no momento, ou seja, no aqui-agora, e na atividade que está sendo realizada. Os exercícios de respiração são um primeiro movimento para isso. Também podemos utilizar técnicas mais específicas como usar o som de um sino oriental que é preciso escutar até que este desapareça. Outro exemplo é saborear uma fruta que pode ser uma uva passa, chupá-la e sentir na boca sua textura e paladar.
b) Base: 
As atividades de base são o momento central do trabalho, tendo como guia os pilares da educação emocional (autoestima, autocontrole, etc…), associando o tema do dia a movimentos corporais, construindo e vivenciando os sentimentos relacionados com o tema, assim como podem ser também trabalhados os medos, a resolução de conflitos, a alegria,…
As atividades da base são sempre preparadas em função das características de cada grupo.
Nesse segundo momento, o trabalho se dá no contato com o próprio corpo e os sentimentos. A base (enraizamento ou grounding) permite um importante contato com pés e pernas que são nossa sustentação. Sentir o corpo em cada movimento, sentir o espaço que este corpo ocupa, como se move e qual a sensação ou sensações experimentada(s) no momento presente. Esta percepção se dá através de movimentos de dança e a firmeza (assertividade) dos movimentos. É uma aprendizagem para encontrar o equilíbrio entre a firmeza da postura (tônus muscular) e o relaxamento, sem deixar a firmeza se desfazer. Uma aprendizagem de ser assertivo sem tensão e sem “desmoronar”. A birra tem uma relação muito íntima com este desmoronar. Como não se consegue o que se quer, o controle, o eixo se perde (E cá pra nós, tem muito adulto fazendo “birra” por aí).
c) Autoexpressão: 
Os últimos 15 a 20 minutos são dedicados a estimular a expressão pessoal, buscando-se propiciar a cada criança do grupo oportunidades variadas para se expressarem, estimulando-se sempre uma expressão própria, singular.
Nessa etapa, o material artístico de produção de cada criança é o mais importante: desenhar, colorir, pintar o que está sendo sentido, colocando cor no papel e/ou no ar através de gestos, expressar-se, ainda, através do movimento criativo. Dependendo da produção, como os círculos que acompanhavam as crianças em suas atividades no solo (como o que aparece na imagem), o trabalho poderia ter continuidade no encontro seguinte.
Muitas são as possibilidades de expressão própria e, sobre elas, falaremos no próximo texto, trazendo exemplos mais concretos de atividades, e finalizando com os resultados obtidos com as crianças e algumas falas dos pais e professoras.
Se tiver alguma dúvida em relação ao que foi apresentado, se algo não ficou claro, se tiver sugestões ou quiser fazer comentários, entre em contato conosco através do espaço abaixo no próprio site. Sua participação é sempre muito bem-vinda e significativa.
Questionamento Socrático
O questionamento socrático é um dos procedimentos mais utilizados para auxiliar o paciente a realizar descobertas sobre a estrutura do seu pensamento, para flexibilizá-los e  mudar crenças rígidas sobre si mesmo, os outros e o ambiente. Na Terapia Cognitiva, o terapeuta não tenta convencer o paciente de que os pensamentos estão incorretos. O terapeuta, através de questionamentos, conduz o paciente para que ele mesmo faça esta descoberta (Descoberta Guiada), buscando explorar os conceitos através dos quais a situação é interpretada bem como as evidências que apóiam e desconfirmam os conteúdos cognitivos.
Por meio de simples questionamentos – perguntas com respostas abertas, como era o método de Sócrates – o terapeuta vai permitindo a possibilidade de flexibilização. Neste método, o terapeuta faz-se de certa forma de ignorante sobre o assunto e o cliente é instigado a investigar o seu próprio pensamento, como um cientista que testa e refuta hipóteses, que pensa sobre o pensar. O pensamento é  considerado uma hipótese a ser testada. No seu processo de explicação e investigação,o cliente acaba transmitindo pontos de vista específicos,  crenças,  distorções cognitivas, pensamentos automáticos disfuncionais , podendo identificá-los e avalia-los de maneira mais pragmática.
A paciente diz :”sinto que não sou uma boa mãe, pois gritei com o meu filho quando ele não estava se comportando muito bem” . O terapeuta pode usar algumas das alternativas abaixo para auxiliá-la a descobrir se esta afirmação é verdadeira ou não.
O que é ser uma boa mãe ? Destas características enumeradas por você, quais você possui?Quem você considera uma boa mãe e porque? O que uma boa mãe faz após ter gritado com o filho e sentido mal com isto ? O que você acha que estava sentindo antes de gritar com seu filho? O que você acha que estava pensando antes de gritar com seu filho ? As habilidades que uma pessoa necessita para ser uma boa mãe já nascem com ela ou podem ser aprendidas ?
Diferentes tipos de perguntas podem ser utilizadas nos questionamentos socráticos, de acordo com o tipo de necessidade que se apresenta na Terapia.
Perguntas para esclarecer: O que você quer dizer com isto? Me dê um exemplo disto que você está me dizendo? Me explique isto de uma outra maneira.
Perguntas sobre pressupostos e evidências: Como você pode ter certeza disto? Há alguma outra explicação ? Quando você fala isto, o que parece estar por trás desta afirmação? O que levou você a dizer isto?
Um bom terapeuta cognitivo não corrige pensamentos. Ele atua com o objetivo de ajudar o paciente a identificar conteúdos cognitivos rígidos e inflexíveis, colocando-os como hipóteses e não verdades absolutas.

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