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SEGURANÇA DO TRABALHO AGRÍCOLA Professor Me. Tiago Ribeiro da Costa GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; COSTA, Tiago Ribeiro da. Segurança do Trabalho Agrícola. Tiago Ribeiro da Costa. Reimpressão Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 191 p. “Graduação - EaD”. 1. Segurança. 2. Trabalho. 3. Agrícola. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0550-9 CDD - 22 ed. 331 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdo Juliano de Souza Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Coordenador de Conteúdo Luciano Santana Pereira Lideranças de área Angelita Brandão, Daniel F. Hey, Hellyery Agda Design Educacional Yasminn Zagonel Iconografia Ana Carolina Martins Prado Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa André Morais de Freitas Editoração Victor Augusto Thomazini Revisão Textual Daniela Ferreira dos Santos Ilustração Marta Sayuri Kakitani Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis- so, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R Professor Me. Tiago Ribeiro da Costa Mestrado em Genética e Melhoramento Vegetal e especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, ambos pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2010). Graduação em Agronomia (UEM/2007). Atualmente é professor assistente do Centro Universitário Cesumar (UNICESUMAR) no curso presencial de Agronomia e aos cursos de Tecnologia em Segurança do Trabalho, Tecnologia em Gestão Ambiental e Tecnologia em Segurança do Trabalho (NEAD/UNICESUMAR). Também é coordenador do curso de pós-graduação “lato sensu” em Engenharia de Segurança do Trabalho (UNICESUMAR) e ainda, professor assistente na UEM nos cursos de pós-graduação (agronomia, zootecnia e engenharia de segurança do trabalho). Ao longo de sua profissão, atuou como consultor empresarial e de desenvolvimento regional sustentável, conduzindo projetos de extensão universitária no contexto da Associação de Municípios do Setentrião Paranaense (AMUSEP), com enfoque na produção agroecológica de alimentos, comercialização e produção de alimentos em nível urbano. Ademais, como professor, possui expertise reconhecida por meio de sua produção científica. Ao longo de sua carreira, produziu oito livros nas áreas de Agronegócio, Gestão Ambiental e Segurança do Trabalho. Além disso, sua qualidade profissional é reconhecida pelas homenagens recebidas do corpo discente das instituições em que trabalha, tendo sido homenageado por três anos seguidos (2014-16) como nome de turma/patrono. Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! Neste momento, estamos iniciando a leitura de uma importante contribuição à sua for- mação como profissional da área de Segurança do Trabalho. A disciplina de Segurança do Trabalho Agrícola. Ao contrário do pensamento mais comum sobre este assunto, falar a respeito da Segu- rança do Trabalho Agrícola transcende a análise sobre a Norma Regulamentadora nº. 31, a qual fala especificamente sobre este assunto. Analisar a Segurança do Trabalho Agrícola exige uma análise das próprias atividades agrícolas (histórico e atualidades) e ainda, de seu principal ator, o trabalhador rural. Dessa maneira, em nossa primeira unidade, dedicamos todas as nossas discussões para fazê-lo reconhecer a evolução das cadeiasprodutivas agropecuárias no Brasil, ressaltan- do sua importância para o nosso desenvolvimento enquanto nação, em especial, em nossos aspectos sociais e econômicos. Já em nossa segunda unidade, nossas discussões se voltam ao Trabalhador Rural, em uma tentativa de lhe ilustrar não somente os riscos que este ator se encontra submetido, mas também seus aspectos mais subjetivos, psicológicos. Por meio desta unidade, verificaremos que este sujeito da ação possui peculiaridades que o diferencia dos trabalhadores urbanos. Por vezes, peculiaridades que podem re- presentar fragilidades que, se não consideradas, podem estabelecer sérios riscos à ati- vidade agrícola. Ademais, esta unidade nos esclarece, de forma definitiva, a pluriatividade e as tecnolo- gias com as quais estes trabalhadores rurais interagem. Muito mais que uma imagem de decadência, hoje, o trabalhador rural é encarado como um elemento transformador da realidade rural, o que justifica o renascimento deste meio e o enaltecimento das ati- vidades agrícolas como as únicas que ainda resistem frente a um cenário de depressão econômica. Já em nossa terceira unidade, tentamos aproximar o debate de atividades que são con- sideradas como “agrícolas”, mas que já possuem características mais semelhantes com indústrias urbanas. Especificamente, a unidade III nos trouxe à luz uma interessante dis- cussão sobre os espaços confinados, em especial, silos e secadores, algo tratado pela Norma Regulamentadora nº. 33. Por sua vez, a unidade IV apresentou as mais recentes discussões e conhecimentos so- bre a Norma Regulamentadora nº. 36, a qual trata das Agroindústrias de Abate e Proces- samento de Alimentos e Frigoríficos. Por meio da análise dessas duas unidades, percebemos que existe uma aproximação muito clara das diretrizes de segurança do trabalho com aquilo que é praticado por meio das Normas Regulamentadoras mais antigas. Todavia, o grau de especialização dessas duas atividades agrícolas faz com que o surgimento de Normas Regulamentado- ras mais específicas seja muito bem visto, não somente do ponto de vista técnico, mas do ponto de vista humano. APRESENTAÇÃO SEGURANÇA DO TRABALHO AGRÍCOLA Pausas nas jornadas de trabalho, treinamentos em setores específicos e diretrizes mais precisas correspondem a uma excelente combinação de fatores que permite com que o trabalhador se sinta mais confiante e possa exercer sua atividade em um clima mais harmônico e produtivo. Por fim, mas não menos importante, a unidade V nos apresenta as atualidades acer- ca do cerne das atividades agrícolas: a Norma Regulamentadora nº. 31: Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Aquicultura e Explorações Florestais. Esta unidade nos permite compreender os principais aspectos que precisam de atenção especial no campo, por exemplo, os trabalhos com máquinas agrícolas, agrotóxicos e mesmo a gestão da segurança do trabalho rural, executada pelos Ser- viços Especializados em Segurança e Saúde do Trabalho Rural (SESTR) e a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural (CIPATR). Compreenderemos que existe uma importante contribuição partindo dessa norma, em especial, no que tange a proteção da vida e da integridade física dos trabalha- dores rurais. Ademais, para que possamos ter um melhor aprendizado ao longo do livro, serão apresentadas algumas atividades extras, por exemplo, leituras complementares, re- flexões, sugestões de outros materiais e outras didáticas para que você, prezado aluno, sinta-se imerso nesta experiência tão produtiva, que é compreender melhor o tema Segurança do Trabalho Agrícola. Vamos iniciar nossos estudos? Espero que goste desta humilde contribuição! Prof. Tiago Ribeiro da Costa APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I O MEIO RURAL BRASILEIRO E SUAS TRANSFORMAÇÕES 15 Introdução 16 A Agricultura Colonial 19 Transição Para a Sociedade Agrária no Brasil 24 A Agricultura do Pós-Guerra: A Revolução Verde 28 As Consequências Sociais da Revolução Verde 32 Considerações Finais 39 Referências 40 Gabarito UNIDADE II O NOVO MEIO RURAL E SUAS TECNOLOGIAS 43 Introdução 44 O Renascimento do Rural 46 O Entendimento Sobre o Trabalhador Rural 51 Tecnologias Relacionadas ao Trabalhador Rural 73 Considerações Finais 81 Referências 83 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE III AS ATIVIDADES AGRÍCOLAS E OS RISCOS OCUPACIONAIS 87 Introdução 88 Os Riscos Ocupacionais e as Atividades Agrícolas 97 Trabalhos em Espaços Confinados 98 Estruturas de Armazenamento de Grãos 113 Legislação Brasileira e a Prevenção de Acidentes em Silos 114 Procedimentos de Segurança Para Entrada em Silos 116 Trabalho em Alturas em Silos 118 Considerações Finais 125 Referências 127 Gabarito UNIDADE IV OS PRINCIPAIS ASPECTOS DA NORMA REGULAMENTADORA Nº 36 131 Introdução 132 A Indústria Frigorífica 136 A Segurança do Trabalho na Indústria Frigorífica Brasileira 137 Principais Riscos Ocupacionais na Atividade Laboral em Frigoríficos 141 A NR-36 e sua Aplicação nos Frigoríficos 142 O Surgimento da NR-36 143 Principais Mudanças e Temas Abordados na NR-36 SUMÁRIO 11 145 Principais Desafios da Indústria Frigorífica no Atendimento à NR-36 148 Considerações Finais 155 Referências 157 Gabarito UNIDADE V ASPECTOS GERAIS DA NORMA REGULAMENTADORA Nº 31 161 Introdução 162 Comissão Permanente Regional Rural (CPRR) 163 Serviços Especializados em Segurança e Saúde no Trabalho Rural (SESTR) 165 Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural (CIPATR) 167 Os Agrotóxicos Segundo a NR-31 172 Máquinas, Equipamentos, Implementos e Ferramentas Agrícolas 178 Outras Diretrizes Definidas Pela NR-31 179 Perspectivas Sobre a Segurança do Trabalho Agrícola 181 Considerações Finais 189 Referências 190 Gabarito 191 CONCLUSÃO U N ID A D E I Professor Me. Tiago Ribeiro da Costa O MEIO RURAL BRASILEIRO E SUAS TRANSFORMAÇÕES Objetivos de Aprendizagem ■ Conhecer a evolução das atividades agrícolas ao longo dos períodos históricos brasileiros. ■ Avaliar o aumento da complexidade de tais atividades e estabelecer uma ligação destas com os princípios de Segurança do Trabalho. ■ Entender a linha histórica que é capaz de explicar as atualidades sobre os trabalhos agrícolas. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A agricultura colonial ■ Transição para a sociedade agrária no Brasil ■ A agricultura do pós-guerra: a Revolução Verde ■ As consequências sociais da Revolução Verde INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), bem-vindo(a) a nossa primeira unidade! Aliás, bem-vin- do(a) ao conhecimento de nossa gênese e de nossa história. Digo-lhe isso, pois conhecer sobre a evolução das atividades agrícolas ao longo de nossos princi- pais períodos históricos é também conhecer sobre nossa história. Você já deve ter ouvido falar que o Brasil é conhecido como o “celeiro do mundo”. Não obstante, isso é verdadeiro, levando-se em consideração que possu- ímos elevada representatividade na produção de grande diversidade de gêneros alimentícios, em especial, as commodities. Todavia, nem sempre nossas atividades agropecuárias tiveram a ênfase que possuem hoje. Aliás, podemos inferir pela análise de nossa primeira unidade, que nossas atividades agropecuárias foram desenvolvidas em meio a uma série de percalços e que, somente nos últimos 50 anos é que pudemos vislumbrar o desenvolvimento tecnológico pleno desta agricultura. A mais recente inserção de tecnologias, conhecida por 3ª Revolução Agrícola, ou ainda, Revolução Verde, representou um campo fértil para as mais recentes transformações sociaise econômicas no campo, dando-lhe dinamismo ímpar, ao mesmo tempo em que amplia a complexidade de seus postos de trabalho. Esse aumento de complexidade verificado nesse período foi fundamental para que o campo fosse também alvo das preocupações dos atores sociais no sentido de avaliar os riscos laborais e criar alternativas legais para que melhores patama- res fossem alcançados no sentido de ampliar a segurança do trabalho agrícola. Assim, nosso objetivo é apresentar os aspectos históricos, a linha lógica que levou a agricultura aos patamares tecnológicos utilizados e aos princípios de segurança do trabalho atualmente desenvolvidos. Vamos iniciar nossa jornada? Uma ótima leitura! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 O MEIO RURAL BRASILEIRO E SUAS TRANSFORMAÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 A AGRICULTURA COLONIAL A história brasileira, embora curta em comparação aos países europeus, pos- sui uma riqueza de detalhes nos campos econômico, social, cultural, político e ambiental. Tal riqueza de detalhes nos permite evidenciar que o desenvolvimento desta história basicamente encontra-se pautado no rural. Embora, em princípio, não houvesse uma distinção entre o rural e o urbano no início do processo de colonização, algo que chamamos de “espaço contínuo”, muitos dos elementos atualmente reconhecidos como rurais estavam presentes, em especial, àqueles ligados ao extrativismo e à produção de alimentos. A extração do pau-brasil ganha destaque nesse cenário por ser a primeira atividade tipicamente rural, sendo esta datada a partir de 1502, com as primeiras expedições à Ilha de São João pelo navegador Fernão (Fernando) de Noronha. A ilha em questão faz parte do atual arquipélago de Fernando de Noronha, per- tencente ao estado de Pernambuco. Sobre este assunto, D´Agostini et al. (2013, p. 02) afirmam: Em 1502, tem início a exploração do pau-brasil, pelos colonizadores portugueses, a primeira riqueza explorada pelos europeus em terras brasileiras. A mercadoria, usada para fabricar tinturas, teve grande aceitação no mercado econômico da Europa. A substância corante ex- traída da madeira, embora tivesse valor inferior às mercadorias orien- tais, foi de grande interesse para Portugal. Assim, a coroa portuguesa declarou a exploração do pau-brasil um monopólio real, e decretou que só poderia dedicar-se a essa atividade quem obtivesse uma concessão e pagasse um imposto. A primeira concessão de exploração foi conferida a Fernando de Noronha, que, até 1504, era o único que tinha permissão para explorar o pau-brasil. A coroa portuguesa doou a ele a ilha de São João, mais tarde designada por seu nome. No referido cenário, a mão de obra indígena era cooptada a proceder esta extração de madeira no sistema de escambo, conforme mencionam D´Agostini et al. (2013, p. 02): Os indígenas brasileiros participavam da extração do pau-brasil por meio da prática do escambo, considerado, por muitos historiadores, como a primeira atividade comercial brasileira. Por esse serviço, re- cebiam em troca utensílios como espelhos, facas, canivetes, pedaços de tecidos e outras quinquilharias. Os índios cortavam as árvores e as levavam até os navios portugueses na beira do mar. A Agricultura Colonial Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 Considerando todo o contexto que se desenvolveu na época, é importante pensarmos o porquê da atividade de extração do pau-brasil ser considerada uma atividade rural, se ela pressupõe a extração de um recurso natural. Esse ponto de reflexão é bastante pertinente, pois a atividade agrícola não remete apenas a produção de alimentos. O rural abrange muitas outras dimensões, mas, considerando somente sua dimensão produtiva, as extrações de recursos naturais florestais, conhecida como silvicultura fazem parte das atividades rurais, conforme ilustra a legislação tributária brasileira: Consideram‐se como atividade rural a exploração das atividades agríco- las, pecuárias, a extração e a exploração vegetal e animal, a exploração da apicultura, avicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura (pesca ar- tesanal de captura do pescado in natura) e outras de pequenos animais; a transformação de produtos agrícolas ou pecuários, sem que sejam al- teradas a composição e as características do produto in natura, realizada pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usu- almente empregados nas atividades rurais, utilizando‐se exclusivamen- te matéria‐prima produzida na área explorada, tais como descasque de arroz, conserva de frutas, moagem de trigo e milho, pasteurização e o acondicionamento do leite, assim como o mel e o suco de laranja, acon- dicionados em embalagem de apresentação, produção de carvão vegetal, produção de embriões de rebanho em geral (independentemente de sua destinação: comercial ou reprodução). Também é considerada atividade rural o cultivo de florestas que se destinem ao corte para comercializa- ção, consumo ou industrialização (BRASIL, 2011, p. 01, on-line)1. Dessa maneira, caro(a) aluno(a), podemos considerar que a extração do pau-bra- sil no princípio da colonização brasileira foi uma atividade reconhecidamente rural, aliás, conforme já observamos, a primeira atividade rural do Brasil colônia. Desde então, o rural propiciou ao Brasil algumas mudanças significativas em termos de ocupação geográfica. As regiões litorâneas do Nordeste brasileiro e, pos- teriormente, do Sudeste foram as mais transformadas com essa extração, pois já em 1530, com a entrada das expedições colonizadoras de Martim Afonso de Souza, a coroa portuguesa já se viu obrigada a criar a 1ª Carta Régia (1532) para disciplinar a extração da madeira, que já estava escassa em uma faixa de até 100 quilômetros partindo-se no sentido litoral-interior do Brasil Colônia (D´AGOSTINI et al., 2013). Após a saída do pau-brasil dessa faixa litorânea, abriu-se caminho para a exploração de outros recursos florestais menos nobres à época, mas de grande relevância na atualidade, como o cacau e outras espécies frutíferas. ©shutterstock O MEIO RURAL BRASILEIRO E SUAS TRANSFORMAÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Ademais, não se observou somente a saída de tais recursos. Com a chegada das primeiras missões de real colonização, a partir de 1530, com Martim Afonso de Souza e outros colonizadores, algumas culturas já conhecidas dos europeus foram introduzidas em nosso território, como foi o caso da cana-de-açúcar, o que abriu caminho para o povoamento das principais regiões de colonização no Nordeste (Salvador, Recife e Olinda) e Sudeste brasileiros (São Vicente, São Paulo de Piratininga e Rio de Janeiro). Em cerca de um século (século XVI), o Brasil já passava por drásticas alte- rações na ocupação de seu território, graças à influência das atividades rurais. Igualmente, estendendo essa análise para os séculos XVII, XVIII e XIX, verifica- mos que o rural estabeleceu grande influência na pró- pria economia da colônia, em dois momentos distin- tos: Entre os séculos XVII e XVII, com a cultura da cana- -de-açúcar e no século XIX, com a ascensão da cultura do café, o chamado “ouro verde”. Sobre o ciclo da cana-de-açúcar, Naritomi (2007, 38-39, on-line)2 afirma: Até o século XVII, o Brasil era o maior produtor mundial de açúcar. No Nordeste, do Recôncavo Baiano ao Rio Grande do Norte, cultivava-secana-de-açúcar. Os núcleos principais de produção foram Bahia e Per- nambuco. Rio de Janeiro e Espírito Santo cultivavam cana em menor escala e, de forma predominante, para a produção de aguardente que servia de moeda de troca por escravos na África. [...] A economia do açúcar se estruturou no chamado plantation com base em três elementos básicos: latifúndio, monocultura e trabalho escravo. Junta- mente com a plantação da cana, nasceram, no Brasil, a grande propriedade rural e a sociedade patriarcal e escravocrata. O engenho de açúcar era um empreendimento que exigia um grande volume de recursos para ser ini- ciado. As terras eram concedidas àqueles que tinham alguma relação com a coroa portuguesa ou com os capitães donatários e que possuíam recur- sos para ocupá-las e nelas produzir. Além disso, o ciclo do açúcar só foi possível devido à solução do problema da mão de obra: o escravo africano. ©shutterstock Transição Para a Sociedade Agrária no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Nesse momento histórico, o país alcançou sua máxima vertente agroexporta- dora. Não de forma contínua, mas conforme Naritomi (2007, on-line)2, com diferentes fases de altos e baixos que inseriram a cana-de-açúcar como o prin- cipal produto da pauta agroexportadora do Brasil, elevando sua importância econômica naquela época. TRANSIÇÃO PARA A SOCIEDADE AGRÁRIA NO BRASIL Até aqui caro(a) aluno(a), você está percebendo que a história do Brasil foi cons- truída com base na agricultura e nas atividades rurais. Não obstante, a própria cultura, atualmente configurada como uma mescla de contribuições de povos de várias partes do mundo, teve no rural o mote principal para sua junção em nosso território, inicialmente considerando os europeus e os africanos e, em um momento posterior, já com a exploração da cultura do café, uma nova leva de europeus juntamente com asiáticos (japoneses, em especial, que colonizaram as áreas do interior de São Paulo e do Paraná). Nesse ponto do texto, você deve estar se perguntando: “mas o que vem a ser atividade agrícola e atividade rural?”. Em resumo, as atividades rurais são aque- las executadas estritamente no espaço rural, enquanto as atividades agrícolas possuem um contexto mais econômico. Tais atividades estão ligadas às cadeias produtivas agropecuá- rias, mas não necessariamente estão ligadas ao rural. Ainda, o termo “agricultura” remete a produção de alimentos de origem vegetal. O MEIO RURAL BRASILEIRO E SUAS TRANSFORMAÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 Após a queda da cana-de-açúcar e mesmo do ciclo do ouro em Minas Gerais, (entre os séculos XVI e XVII) o Brasil encontrava-se com uma pequena massa urbana nas principais capitais do território. O desenvolvimento econômico, embora ainda pautado nestas duas cadeias produtivas sendo ouro e açúcar, já se encontrava mais diversificado, em especial considerando o desenvolvimento logístico que propiciou a abertura de novas rotas ao interior, especialmente no século XIX, já no Brasil Império, com as famosas ferrovias. Outro elemento de diversificação da economia brasileira foi o desenvolvi- mento do comércio nos grandes centros, condição necessária considerando a aglomeração populacional advinda do dinamismo econômico proporcionado pelos ciclos econômicos anteriores. Já não se falavam em pequenas vilas, mas aglomerados populacionais pujantes, com economia transitando para um status de menor dependência das ativida- des econômicas tipicamente rurais. A Figura 1 demonstra o desenvolvimento da cidade de São Paulo de Piratininga em 1837. Figura 1 – Centro histórico de São Paulo de Piratininga, onde atualmente se localiza a Praça da Sé (ao centro), o Vale do Anhangabaú (na parte inferior) e o Parque Dom Pedro – Brás (parte superior da imagem) Fonte: Goetha (1944, on-line)3. No Brasil Império, segundo a visão de Trevisan (2006, p. 02, on-line)4, imperava a visão da sociedade agrária, a qual era definida da seguinte maneira: Transição Para a Sociedade Agrária no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 Na sociedade agrária, a cidade existe como um centro político-admi- nistrativo que organiza e domina o meio rural, mas é inteiramente es- truturada pelo rural. Ou seja, há uma predominância do rural sobre o urbano. O campo é o setor produtivo, e o urbano é o consumidor. A maior parte da população está envolvida na produção (em torno de 20 camponeses alimentam um citadino). As relações sociais, embora sejam mescladas por relações indiretas e indiferentes, ainda predomina a afetividade sobre o racional. De certa forma, as explicações dadas por Trevisan (2006, on-line)4 associadas à realidade social, econômica e produtiva já convergiam para o atual modelo de produção agropecuária, tipicamente agroexportador. Com a ascensão cafeeira, no interior do estado de São Paulo, houve o acirra- mento do modelo agroexportador, altamente demandante de mão de obra e de novas tecnologias, tanto naquilo que se convenciona chamar de atividades “dentro da por- teira” como ao longo de toda a cadeia produtiva, criando um conjunto de novas atividades que proporcionaram o desenvolvimento dos clássicos eixos econômicos brasileiros, localizados em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro (BAER, 2002). A pujança trazida pelo café foi tamanha que, segundo Baer (2002, p.38), as exportações cafeeiras saltaram de 3,1 milhões de sacas (algo que corresponde a 192 mil toneladas) no início do século XIX para 51,6 milhões de sacas (3,1 milhões de toneladas) já ao final do mesmo século. Ainda, Baer (2002) nos mostra que o agronegócio do café criou a massa crí- tica necessária para proporcionar o desenvolvimento do Centro-Sul brasileiro sob o modelo de inserção de investimentos estrangeiros em infraestrutura, emprego de mão de obra livre e imigrante e o desenvolvimento posterior da indústria, algo verificado ao longo da primeira metade do século XX. Mas, não somente isso, Baer (2002) afirma que as demais cadeias produti- vas foram impulsionadas pelo café, tanto no que tange as cadeias agropecuárias (algodão, látex de seringueira, açúcar e cacau), cadeias industriais (máquinas e equipamentos) e cadeias de serviços (com a expansão dos centros urbanos principais e secundários nos estados do Centro-Sul do país). As atividades agropecuárias, ao longo dos séculos XVI e XIX modificaram profundamente a sociedade brasileira, não somente tornando-a agrária e, pos- teriormente, urbana, mas também no que tange às questões agrárias e mesmo às questões relacionadas às formas de se executar os trabalhos. O MEIO RURAL BRASILEIRO E SUAS TRANSFORMAÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 Veja que em nosso primeiro insight, quando falamos a respeito de “questões agrárias”, devemos analisá-las sob dois enfoques: o primeiro, relacionado à ocu- pação das terras a partir do início do século XX e o segundo, relacionado a uma crescente dicotomização entre o rural e o urbano, criando finalmente as primei- ras ideias sobre o trabalhador rural. É notável que a expansão das terras agricultáveis brasileiras ocorreu em um clima de desapropriação e desbravamento. Ao entendimento da Coroa e da República dos Estados Unidos do Brasil, todas as terras brasileiras, por direito, pertenciam a estes entes governamentais, os quais repassavam os direitos de posse aos agricultores que apresentassematributos financeiros e tecnológicos para ocuparem as terras e produzir. Foi desta forma, por exemplo, que o interior de São Paulo fora ocupado pelas fazendas cafeeiras ao longo do século XIX e início do século XX. Aos agriculto- res menos capitalizados, eram destinadas as terras marginais ou mesmo, restava a possibilidade de migrar cada vez mais ao interior do país para ocupar terras ainda não desbravadas (BAER, 2002). Como as melhores terras e condições eram destinados aos grandes agricul- tores, estes vivenciaram oportunidades de ampliar seu patrimônio, ao ponto de concentrarem terras daqueles agricultores que não tiveram sucesso em sua experi- ência de colonização de terras. A estes últimos sobravam apenas terras marginais ou, na hipótese de não possuírem terras, somente lhes restava a possibilidade de serem empregados como mão de obra nas fazendas cafeeiras ou mesmo nas dife- rentes cadeias produtivas que se relacionavam à produção do café. Tal cenário acentuou as desigualdades sociais que permanecem vivas no campo até os dias atuais, onde grandes produtores, capitalizados, possuem condições de ampliar seu patrimônio e seu domínio, enquanto os demais produtores rurais, desassistidos pelo poder público, vivem em pleno cená- rio de abandono. Esse cenário de abandono foi retratado por dois grandes autores da lite- ratura brasileira: Guimarães Rosa, com “Grande Sertão: Veredas” e Monteiro Lobato, com “Urupês”. Esse abandono, em especial, foi retratado pelo mais céle- bre personagem rural do Brasil, o Jeca Tatu, presente em Urupês, como vimos na figura a seguir: Transição Para a Sociedade Agrária no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 Figura 2 – Jeca Tatu nas ilustrações de Urupês, de Monteiro Lobato Fonte: Lobato (1994). De certa maneira, o personagem Jeca Tatu foi capaz de expressar os três cenários distintos existentes no Brasil cafeeiro do início do século XX: o avanço econô- mico e social das cidades brasileiras, que passavam por um denso processo de industrialização; a transformação da agricultura cafeeira em agribussiness; e a elevação do contingente de “esquecidos”, agricultores familiares que mantinham suas tradições e suas humildes produções e modo de vida no sertão do Brasil. O personagem Jeca Tatu fora tão icônico que este se encontra no centro de discussões sociais até os dias atuais. Você notou o semblante tristonho do Jeca Tatu? Esse semblante revela a genialidade mal interpretada de Montei- ro Lobato, pois, por muito tempo, este personagem levara a alcunha de pre- guiçoso e vagabundo, acentuando a dicotomização entre o “atrasado” rural e o avançado “urbano”. Todavia, a genialidade de Monteiro Lobato está no fato do semblante do Jeca revelar os problemas de doenças que o homem do campo desassistido sofria, em especial, Febre Amarela e verminoses. Um verdadeiro abandono por conta das autoridades públicas. Fonte: o autor. ©shutterstock O MEIO RURAL BRASILEIRO E SUAS TRANSFORMAÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 É sobre esses agricultores que falaremos a respeito mais a diante em nosso livro, sendo eles um dos principais elos das cadeias produtivas, sobre os quais devemos conhecer e racioci- nar modelos prevencionistas para que sua saúde e segurança sejam preservados. Por enquanto, vamos continuar nossa análise para um novo período histórico: o da Revolução Verde. A AGRICULTURA DO PÓS-GUERRA: A REVOLUÇÃO VERDE Caro(a) aluno(a), embora tenhamos visto que a agricultura brasileira tenha evoluído à patamares nunca antes vistos, graças a cultura do café e ainda, a própria socie- dade tenha se alterado drasticamente, avançando a um modelo tipicamente urbano, a maior das mudanças que poderiam ocorrer nesse contexto ainda estava por vir. Mesmo com oscilações, nas décadas de 1940 e 1950, o café ainda era a cul- tura de maior relevância agroexportadora. O Governo Brasileiro e agências de desenvolvimento internacional viam nesta cadeia agroexportadora uma exce- lente oportunidade de negócios, tanto, que a partir de 1945, observou-se um incremento nas ações de Assistência Técnica e Extensão Rural aos produtores de café (PEIXOTO, 2008). Em especial, é de se destacar a experiência vitoriosa das Associações de Crédito e Assistência Rural (ACAR), conforme descrito por Peixoto (2008, p.18-19). A Agricultura do Pós-Guerra: A Revolução Verde Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 A institucionalização efetiva de um serviço de assistência técnica e ex- tensão rural no país se deu ao longo das décadas de 50 e 60, a partir da criação nos estados das Associações de Crédito e Assistência Rural (ACAR), coordenadas pela Associação Brasileira de Crédito e Assis- tência Rural (ABCAR), criada em 21/06/1956. As ACAR eram entida- des civis, sem fins lucrativos, que prestavam serviços de extensão rural e elaboração de projetos técnicos para obtenção de crédito junto aos agentes financeiros. [...] O método de ação das ACAR foi inspirado no modelo norte-america- no de extensão rural, mas os serviços não eram prestados diretamente por universidades, e sim pelas associações. Todavia, o crédito super- visionado por um serviço de assistência técnica foi uma inovação no modelo brasileiro que estava sendo implantado, uma vez que nos EUA os produtores rurais já estavam habituados a se relacionar com os ban- cos e obter empréstimos. As demais ACAR foram surgindo em cada estado, nas duas décadas seguintes. Vinte e três ACAR estavam criadas até 1974 e, juntamente com a ABCAR, substituta do Escritório Técnico de Agricultura Bra- sil-Estados Unidos (ETA) e criada em 21/06/1956, formavam o então chamado Sistema Abcar, também conhecido e tratado na legislação como Sistema Brasileiro de Extensão Rural (SIBER). Em uma única ação, os produtores rurais mais capitalizados estavam se relacio- nando de uma forma mais íntima com o conhecimento científico e tecnológico oriundo das ações de Assistência Técnica e ainda, com o financiamento público e privado de suas produções, o que estabilizou a cadeia produtiva do café ao longo destas duas décadas (1950 e 1960), levando-se em consideração que a cultura do café já não enfrentava um bom período no que tange à sua comercialização em nível internacional. Também é de se destacar que, ao passo em que o café aos poucos estava em decadência, outras culturas encontravam um nicho específico na nova configu- ração produtiva do mundo pós-guerra: os cereais. As cadeias do milho, trigo, arroz e da crescente cultura da soja estavam sob uma demanda crescente por matéria-prima, essencial para a alimentação humana e animal, de maneira que, em vinte anos, o cenário das áreas produtivas brasi- leiras foi aos poucos alterado para seguir a tendência mundial de produção de commodities (PEIXOTO, 2008). O MEIO RURAL BRASILEIRO E SUAS TRANSFORMAÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 Segundo Branco (2008, p.12): Commodities é o termo utilizado para se referir aos produtos de origem primária que são transacionados nas bolsas de mercadorias. São normal- mente produtos em estado bruto ou com pequeno grau de industrializa- ção, com qualidade quase uniforme e são produzidos e comercializados em grandes quantidades do ponto de vista global. Também podem ser estoca- dos sem perda significativa em sua qualidade durante determinado perío- do. Podem ser produtos agropecuários,minerais ou até mesmo financeiros. Essa transformação das áreas rurais brasileiras não fora embasada somente na questão do suprimento de conhecimento e de crédito, mas também de um conjunto de ações, tidas como “pacote tecnológico” ligado a uma mudança de pro- porções extraordinárias, desencadeadas pelo ideário do Engenheiro Agrônomo de origem holandesa Norman Ernest Borlaug, conhecido como o “Pai da Revolução Verde”, como vimos na figura a seguir: Figura 3 – Norman Ernest Borlaug Fonte: Ag Bio World ([2016], on-line)5. Dada a crescente fome no mundo e a impossibilidade em se aumentar as áreas de plantio sem degradar os recursos naturais (situação da década de 1940), a única solução visualizada por Borlaug foi ampliar a tecnologia utilizada para a produção de alimentos em suas diferentes dimensões: maquinários, melhora- mento genético das culturas, manejo de solos, agrotóxicos, na época chamados de defensivos agrícolas, adubação química, assistência técnica e produção de conhecimento agrícola, crédito rural e auxílio governamental (PEIXOTO, 2008). ©shutterstock A Agricultura do Pós-Guerra: A Revolução Verde Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 O modelo projetado por Borlaug foi bem-sucedido, afinal, em três décadas (1950 a 1980), houve um incremento de 450% na produtividade média das cul- turas agroexportadoras (cereais, conforme observamos), de maneira que a fome no mundo fora considerada como atenuada (PEIXOTO, 2008). Esse mesmo pacote tecnológico chegou ao Brasil em meados da década de 1950, sendo a ABCAR e o SIBER os seus primeiros pilares. Já nas décadas seguintes, a agropecuária brasileira fora agraciada com a evolução deste pacote tecnológico, da forma como segue: ■ A ABCAR e o SIBER serviram de base para a criação do Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural (Sibrater/1970) e do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR/1965). ■ Diante do Sibrater, em 1973 foi criada a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e foram fomentadas a criação de cursos nas áreas de ciências agrárias, em especial, em universidades federais. ■ O SBCR fomentou a compra de máquinas e implementos agrícolas às proprie- dades rurais, que investiram fortemente nas produções de cereais. Da mesma forma, insumos químicos sintéticos (fertilizantes e agrotóxicos) passaram a ser utilizados em maior escala, gerando respostas produtivas de elevado nível. ■ O melhoramento genético propiciou a tropicalização de diferentes culturas, o que possibilitou o rearranjo produtivo aos moldes atuais, com a evolução dos plantios das commodities nos Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país (este último inicialmente explorado no princípio da década de 1980). Para um olhar pouco cuidadoso, a conclusão óbvia seria a de que o Brasil atingiu níveis de excelência produtiva e tecnológica no campo e isto perdura até os dias atu- ais com aquilo que chamamos de 4ª Revolução Agrícola, ou Revolução Biotecnológica, que nos permite racionali- zar o uso de insumos clássicos como agrotóxicos por inter- médio do uso de espécies geneticamente modificadas ou melhoradas. O MEIO RURAL BRASILEIRO E SUAS TRANSFORMAÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Isto não deixa de ser verdade, afinal, o Brasil, mesmo em um momento de crise econômica, mantém sua representatividade no agronegócio mundial pelas tecnologias e pela inovação aqui gerada, o que tornam as produções altamente competitivas no mercado externo. No entanto, não podemos nos esquecer que este modelo revolucionário propi- ciou os mesmos efeitos antes observados timidamente na cultura da cana-de-açúcar e de forma escancarada na cultura do café: a concentração de terras e de renda. AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DA REVOLUÇÃO VERDE Quando consideramos “a técnica pela técnica”, característica inerente à visão tec- nicista, não há o cuidado em se escolher a metodologia para se atingir um bom resultado, de maneira que os caminhos mais curtos são os preferidos. Aliás, a própria motivação da Revolução Verde era muito clara: a frase “Reduzir a Fome no Mundo”, slogan amplamente utilizado no período, não traz implícita a forma, mas sim o resultado (PEIXOTO, 2008). O acesso às novas tecnologias, em especial nas décadas de 1960 e 1970, era privilégio apenas dos produtores capitalizados e abarcados na política de Crédito Rural. Não existia uma política semelhante para a Agricultura Familiar, tendo em vista que esta não possuía garantias para pagamento das dívidas (MATOS, 2010). Ademais, também é de se destacar que não houve dialogicidade na implan- tação das novas tecnologias e a maioria dos produtores, já descapitalizados pela derrocada do café, viram-se excluídos do processo de desenvolvimento por não terem acesso e não conhecerem as tecnologias. A realidade da Agricultura Familiar sempre se estabeleceu a partir de sua essência, mesmo após a Revolução Verde: a família. Todavia, após tal revolu- ção, mesmo a Agricultura Familiar se tornou tecnificada. As Consequências Sociais da Revolução Verde Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 Podemos inferir que a Revolução Verde atingiu seu principal objetivo de aumentar a produção de alimentos com o uso da tecnologia de produção (meca- nização, melhoramento genético, crédito agrícola e participação do estado na vida rural). Em um curto período, a produção de alimentos triplicou, contudo, acentuou as desigualdades sociais. A única solução para os agricultores que não puderam embarcar nesse movimento foi vender as terras para agricultores mais capitalizados e ávidos em produzir mais para aumentar a sua rentabilidade e se direcionar aos grandes centros, em busca de subempregos nas indústrias e no crescente setor de serviços (MATOS, 2010). A Figura 4 ilustra o processo de inflexão da população brasileira: 200 150 100 50 - 100% Em % do Total Milhões de pessoas 75% 50% 25% 0% 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 51,9 70,1 93,1 119,0 146,8 169,8 190,8 Rural Urbana Figura 4 – Distribuição da população brasileira Fonte: IBGE (2010, on-line)6. No início da década de 1970, o campo já vinha sofrendo com esse processo de migra- ção das famílias que não se encaixavam no modelo revolucionário, sendo que nessa década, pela primeira vez, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010, on-line)6, a população urbana superava a população rural. A problemática não se encontrava na simples migração. Encontrava-se na crescente alteração da estrutura fundiária do país (de pequenos núcleos fami- liares de produção de alimentos para os grandes latifúndios monocultores), na necessária concentração de terras para que isso ocorresse e na falta de estrutura e de empregabilidade dos grandes centros da época, os quais não conseguiam absorver todo esse excedente populacional (MATOS, 2010). ©shutterstock O MEIO RURAL BRASILEIRO E SUAS TRANSFORMAÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 Ademais, esse excedente populacional não se encontrava minimamente capaci- tado para enfrentar as tecnologias produtivas das indústrias. Muitas dessas pessoas eram consideradas como analfabetas funcionais e poucas foram as pessoas e famí- lias que conseguiram protagonizar histórias de sucesso nas grandes cidades. Outra questão é que as atividades industriais e de serviçospossuem empre- gabilidade mais volátil que as atividades agropecuárias, que historicamente são menos afetadas pelas oscilações econômicas. Já dizia um grande mestre que tive: “ninguém para de comer, mesmo com pouco dinheiro!”. Durante a década de 1970, em especial, entre os anos de 1970 e 1973, o Brasil vivia um curto período de prosperidade econômica, o que gerou a alcunha de “Milagre Econômico”. As indústrias e o comércio contratavam quem estivesse disponível, um dos poucos momentos históricos do Brasil onde se pôde falar em “pleno emprego”. Ocorre que esse “milagre” teve sua morte decretada em 1973, quando da primeira crise mundial de petróleo. Nos anos seguintes, dadas às sequências de geadas no Centro-Sul do país, que dizimaram os cafezais que ainda resistiam ao tempo, houve mais um fluxo massivo de famílias do campo para as cidades que já não tinham tantos empregos. Resultado: marginalização nos grandes centros. (MATOS, 2010; BIANCHINI; MEDAETS, 2013, on-line)7. Essas famílias não possuíam dinheiro, estudos, e com o pouco dinheiro que ganhavam, alimentavam-se e poupavam para construir uma pequena casa em um terreno invadido. Surgiam aí as primeiras favelas, hoje conhecidas por “comu- nidades” (BIANCHINI; MEDAETS, 2013, on-line)7. Nesses locais longínquos e geralmente encrustados nas áreas mais declivosas, os serviços sociais básicos (educação, saneamento básico, saúde, moradia e infraestrutura) chegavam de maneira ineficiente. Mas não havia muito que fazer! Essa foi a solução encontrada por essas pessoas que, embora tenham saído do meio rural, nunca perderam o rural de si, o que é demonstrado por sua cul- tura e costumes (MARANDOLA JÚNIOR; ARRUDA, 2005). As Consequências Sociais da Revolução Verde Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 Pelo fato do incipiente alcance das políticas públicas é que se convenciona afirmar que essas pessoas estão marginalizadas (à margem dos processos de desen- volvimento). E isso perdurou dessa forma até meados dos anos 2000, onde se verificou a redução no processo de êxodo rural pela associação da melhoria das condições de vida no meio rural, pela adoção de políticas públicas de fomento às famílias que resistiram ao processo do êxodo, a exemplo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e também pelo fato de já não haver mais tantas pessoas no campo (atualmente estamos nos aproximando da cifra de 10% da população brasileira vivendo no meio rural) (BIANCHINI; MEDAETS, 2013, on-line)7. Somente na última década (2000-2010) é que se verificou uma mudança significativa nesse cenário de exclusão social e expropriação dos modelos pro- dutivos, com os programas de transferência de renda e outros programas sociais relevantes, mas nada suficientes para reverter a magnitude das mudanças sociais promovidas pela Revolução Verde. É isso que faz com que este modelo seja polê- mico e bastante questionável no que concerne à promoção da prosperidade da população brasileira. E afirmo isso, caro(a) leitor(a), sem ter lhe explanado a res- peito dos conflitos agrários derivados do processo de concentração das terras e dos problemas ambientais das técnicas de cultivo e mesmo relacionados aos excedentes populacionais nas grandes cidades, como poluição das águas, do solo e do ar, falta de acesso à água potável, desmatamentos em áreas de preservação ambiental, desmoronamentos, epidemias, dentre tantas outras consequências. Mas após a discussão deste último tópico, nesta unidade, você deve estar se perguntando se somente houve prosperidade para a Agricultura Empresarial. Ainda, outro questionamento pertinente é com relação ao atual estado da agri- cultura familiar e mesmo de nossa sociedade. Isto é algo que discutiremos em nossa segunda unidade, quando falarmos sobre a Nova Agricultura Familiar e o Trabalhador Rural, já estabelecendo um diálogo com as novas tecnologias liga- das ao meio rural e à própria segurança do trabalho. O MEIO RURAL BRASILEIRO E SUAS TRANSFORMAÇÕES Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), nossa primeira unidade foi bem interessante, não acha? Por meio da ilustração dos passos históricos das atividades agrícolas brasileiras, pudemos evi- denciar que muito mais que uma serialização de atividades, ilustramos o verdadeiro pano de fundo do desenvolvimento brasileiro, amplamente pautado pela agropecuária. Em princípio, de forma, extrativista, verificamos uma grande relevância de tais atividades por meio da extração do pau-brasil. Embora tenhamos ressalvas quanto à questão ambiental, considerando ser este o primeiro processo de des- matamento brasileiro, não devemos negar que os benefícios econômicos de tal atividade criaram a massa crítica necessária para outras atividades econômicas no Brasil Colônia, a exemplo da mineração e da inserção da cana-de-açúcar na pauta produtiva brasileira. Pela análise histórica, verificamos que o Brasil se desvencilhou de sua pátria- -mãe portuguesa embasado em monoculturas (cana-de-açúcar, cacau, seringais e café), as quais impulsionaram o desenvolvimento econômico de núcleos urbanos que, mais tarde, dominariam o meio rural tornando-o subordinado às suas decisões. O ápice dessa transformação se deu entre os anos de 1850 e 1940, quando o processo de urbanização se tornou drástico demais ao ponto de se criar a dico- tomização que estigmatiza as atividades agrícolas até os dias atuais, com a marca do atraso e da decadência. Todavia, entendemos que o meio rural possuía e ainda possui ampla capaci- dade em se reinventar, de forma que a Revolução Verde transformou as formas de produção de alimentos, criando as bases para que o campo se tornasse tão ou mais produtivo, em nível econômico, que a cidade, de maneira a considerar- mos atualmente que o espaço urbano e o espaço rural não são dicotômicos, mas contínuos e complementares. 33 1. A “Revolução Verde” foi um período histórico, considerando a produção de ali- mentos, que se estendeu de 1950 a 1980. Tratou-se de um marco para o agro- negócio representado pela introdução de tecnologias produtivas que possibili- taram a ampliação da produtividade dos cereais e o abastecimento dos diversos mercados consumidores mundiais. Sobre esse período, analise as afirmações e assinale a alternativa correta. I. Esse período pode ser entendido como um “divisor de águas” para as ativi- dades agropecuárias, uma vez que toda a evolução tecnológica inserida no contexto da produção de alimentos inverteu a lógica secular da agricultura, que previa que, para aumentar a produção, eram necessárias novas terras. II. Essa lógica, mencionada no item I, foi invertida pelo fato de que as tecnolo- gias inseridas possibilitaram produzir mais no mesmo espaço e isso foi possí- vel graças a algumas soluções, como o melhoramento genético das culturas, a mecanização agrícola, os agrotóxicos e a fertilização dos solos. III. A “Revolução Verde” pode ser compreendida ainda como um marco de de- senvolvimento social, uma vez que a prosperidade produtiva no campo per- mitiu com que todas as famílias rurais permanecessem em seu meio, não ha- vendo êxodo para as grandes cidades. IV. Também é fato que a “Revolução Verde” possuiu como característica a inser- ção de tecnologias de baixo impacto ambiental, não sendo registradas conse- quências negativas em termos de contaminação de solos, águas, fauna e flora. Estão corretas: a. Apenas a afirmação I. b. Apenas a afirmação II. c. Apenas as afirmações I e II. d. Apenas as afirmações I e IV. e. Apenas as afirmações II, III e IV. 34 2. Emboramuitos analistas questionem as consequências sociais da “Revolução Verde”, é fato que as evoluções tecnológicas aplicadas possibilitaram o aumento de produtividade no campo. Entretanto, além dessa elevação de produtivida- de no campo e de todas as tecnologias desenvolvidas, devemos destacar dois benefícios, que perduram até hoje, como herança dessa revolução. Assinale a alternativa que apresenta esses dois benefícios. a. Sistema Oficial de Crédito e Institutos de Pesquisa e Extensão Rural. b. Sistema Nacional de Estocagem e Programa de Crédito à Agricultura Familiar. c. Programa de Fortalecimento da Logística e Sistema Oficial de Crédito. d. Institutos de Pesquisa e Extensão Rural e Programa Nacional de Combate à Seca. e. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PRONATER). 3. O Brasil enquanto país assistiu seu próprio desenvolvimento pautado nas mono- culturas. Uma, em especial, proporcionou o desenvolvimento inicial da colônia, produzindo o principal produto de exportação ao longo dos séculos XVII e XVIII. Assinale a alternativa que apresenta o produto e a cultura em questão. a. Amido – Mandioca b. Amido – Milho c. Açúcar – Cana-de-açúcar d. Cafeína – Café e. Açúcar – Algodão 4. A industrialização paulista da década de 1920 foi decisiva para acentuar as di- ferenças entre o próspero meio urbano e o decadente e abandonado meio ru- ral. Essas diferenças foram ilustradas por algumas obras da literatura brasileira. Assinale a alternativa que apresenta o nome de uma obra (com seu respectivo autor), que retratava esse abandono no meio rural. a. Memórias – Carlos Drummond de Andrade b. Urupês – Machado de Assis c. Grande Sertão: Veredas – Graciliano Ramos d. Grande Sertão: Veredas – Guimarães Rosa e. Contos e Fatos: Frederico Uchoa 35 5. Ao longo das décadas de 1940, 1950 e 1960 a Revolução Verde começou a ser percebida na área rural brasileira. Além da inserção de maquinários e tecnolo- gias, um elemento se fez necessário e foi operacionalizado por meio de institui- ções públicas e privadas no sentido de fomentar financeiramente a produção de alimentos: o Crédito Rural. Assinale a alternativa que apresenta o ano de institu- cionalização do Sistema Nacional de Crédito Rural: a. 1949 b. 1931 c. 1980 d. 1965 e. 1977 36 A Revolução Verde do ponto de vista Econômico Antes de 1950, no Brasil, não se falava em uma política agrícola consolidada, a não ser quando o assunto era o café. Nessa década em especial, a cadeia produtiva do cafeeiro já passava por problemas produtivos, dadas as doenças e as pragas que assolavam os plantios. Da mesma forma, havia excesso de oferta do produto e os preços internacio- nais já não eram tão atraentes como nas últimas décadas. Assim, em 1952, o recém-criado Instituto Brasileiro do Café (IBC), autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda e vinculada, após 1961, ao Ministério da Indústria e Comércio, teve por tarefa regular o mercado, construindo armazéns e armazenando os excedentes produtivos da cultura. Não obstante, a regulação do mercado em muitas vezes era feita pela regulação da oferta, seja por meio da erradicação de pés de café ou pelo controle dos próprios estoques. Com a derrocada do café, muitos produtores rurais começaram a apostar em outras ca- deias produtivas, tanto as de pequeno porte (olericultura) como as de inserção merca- dológica internacionalizada (trigo e milho). Mediante essa expansão da pauta produtiva e, ainda, considerando que o Brasil, cada vez mais, acompanhava as necessidades do mercado internacional, tornava-se necessário estabelecer políticas que permitissem a expansão das áreas de produção (com o desbravamento de áreas no Centro-Sul do país) e ainda, a mecanização e políticas de crédito de custeio. Dessa forma, em 1965, entrava em vigor a Lei 4.829/65, que tornava como pública a política de Crédito Rural, tida como instrumento de incentivo à produção, investimento e comercialização agropecuária e, consequentemente, à economia nacional. A institucionalização do crédito rural, segundo Martins (2010), foi somente o segundo passo para a promoção do Crédito Rural no Brasil. Em resumo, este autor aponta a cro- nologia das ações de crédito rural no período da Revolução Verde: • 1964: criação do Sistema Nacional de Crédito Rural, por meio da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964. • 1965: institucionalização do Crédito Rural, por meio da Lei nº 4.829, de 5 de novem- bro de 1965. • 1966: edição do Decreto nº 58.380, que aprovou o Regulamento do Crédito Rural. • 1967: resolução do Conselho Monetário Nacional tornou obrigatório o direciona- mento de 10% dos depósitos à vista no sistema bancário para a concessão de crédi- to ao setor agrícola. • 1967: o Decreto-Lei nº 167, de 14 de fevereiro de 1967, dispõe sobre os títulos de crédito rural. • 1973: institucionalização do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Pro- agro), por meio da Lei nº 5.969, de 11 de maio de 1973. 37 • 1986: extinção da conta movimento, o que limitou os recursos para o crédito rural à disponibilidade da União. • 1986: criação da poupança rural. • 1991: aumento da participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no crédito rural por meio do Finame Rural e do Programa de Ope- rações Conjuntas (POC) e do Programa de Operações Diretas. Tais ações impactaram de maneira relevante as atividades agropecuárias no país, mo- dificando drástica e rapidamente a pauta produtiva e o pacote tecnológico vinculado, o que possibilitou a inserção dos produtores rurais em cadeias produtivas de elevada rentabilidade, inserindo o Brasil como um país agroexportador de cereais (milho, trigo e a recém-inserida soja, que avançou nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste de maneira rápida ao longo das décadas de 1970 e 1980). Além de financiar a produção, neste período, o Estado foi o principal financiador e ar- ticulador dos agentes responsáveis pela modernização do campo e pela formação dos complexos agroindustriais, por meio (FREDERICO, 2013): • Da internalização da indústria a montante, produtora de bens de capital. • Das articulações entre as empresas públicas de pesquisa – responsáveis pelo desen- volvimento de novas cultivares – e as multinacionais produtoras de insumos quími- cos e mecânicos. • Do incentivo fiscal e creditício às agroindústrias. • Da extensão rural, difundindo as novas técnicas de manejo. • Da criação de uma rede de armazéns públicos e dos investimentos em transporte e energia. Os resultados dessa modernização no meio rural foram melhor observados ao longo da década de 1990, com a expansão das áreas agrícolas ao Centro-Oeste, em especial considerando as commodities soja e milho. Com essa expansão, o termo “Novas Fron- teiras Agrícolas” foi bastante difundido para caracterizar as novas áreas de exploração administradas por produtores com características empresariais e que detêm capital e técnicas avançadas de cultivo. Ainda, o país possui sérios problemas de infraestrutura, o que mina sua competitividade no mercado internacional, estando esta altamente dependente da eficiência no campo, mas é notório observar que o papel estruturante que o poder público teve nas décadas de 1960 a 1990, em especial na questão do crédito agrícola, teve relevante importância no que tange ao desenvolvimento humano nacional e local. Fonte: o autor. MATERIAL COMPLEMENTAR Políticas Agroambientais e Sustentabilidade Regina Sambuichi Editora: IPEA Sinopse: O presente livro é uma compilação de 10 artigos analíticos de 27 autores que versam a respeito das principais tecnologias e avanços sociais da Nova Agricultura Familiar, em contraposição ao modelo de bases meramente tecnicistas ligados à RevoluçãoVerde. Não somente tecnologias produtivas, mas tecnologias sociais são abordadas nesses textos, apresentando, acima de tudo, o dinamismo ímpar que esses trabalhadores rurais estão proporcionando ao cenário rural. Como todo modelo tecnológico, a Revolução Verde até hoje é foco de discussões polêmicas, em especial, considerando suas consequências negativas e positivas. Tais discussões centram-se no fato do Brasil ser líder tecnológico e produtivo de uma série de produtos agroalimentares sobre a égide da insustentabilidade. Assim, peço a você que veja com cuidado os materiais disponíveis nos links a seguir para que você criar uma opinião a respeito: O Veneno Está na Mesa II Disponível em: <http://youtu.be/fyvoKljtvG4>. O Mundo Segundo a Monsanto Disponível em: <http://youtu.be/y6leaqoN6Ys>. REFERÊNCIAS BAER, W. A Economia Brasileira. 02. ed. São Paulo: NOBEL, 2002. BRANCO, A. L. de O. C. A produção de soja no Brasil: uma análise econométrica no período de 1994-2008. Monografia (Curso de Ciências Econômicas – Faculdade de Ciências Econômicas). Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, São Paulo, 2008. 54p. D’AGOSTINI, S.; BACILIERI, S.; HOJO, H.; VITIELLO, N.; BILYNSKYJ, M. C. V.; BATISTA FILHO, A.; REBOUÇAS, M. M. Ciclo Econômico do Pau Brasil: Caesalphina echinata Lam., 1785. Páginas do Inst. Biol., São Paulo, v.9, n.1, p.15-30, jan./jun., 2013. LOBATO, M. Urupês. 37. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. MARANDOLA JÚNIOR, E.; ARRUDA, Z.A. Urbanidade e Ruralidade no Brasil e as Rede- finições entre campo e cidade. Boletim de Geografia, 23(1):21-38, 2005. MATOS, A. K. V. Revolução Verde, Biotecnologia e Tecnologias Alternativas. Cader- nos FUCAMP, 10(12):1-17, 2010. PEIXOTO, M. Extensão Rural no Brasil: uma Abordagem Histórica da Legislação. Textos para discussão nº 48, Brasília: IMPRENSA NACIONAL, 2008. 50p. Referências on-line 1 Em: <http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/tributaria/declaracoes-e-demons- trativos/dipj-declaracao-de-informacoes-economico-fiscais-da-pj/respostas-2012/ caputulo-xii-atividade-rural-2012.pdf>. Acesso em: 01 set. 2016. 2 Em: <http://livros01.livrosgratis.com.br/cp040592.pdf>. Acesso em: 27 set. 2016. 3 Em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/badaro.html>. Acesso em: 01 set. 2016. 4 Em: <http://www.forumeja.org.br/ec/files/Texto%20Salvador%20Trevisan.pdf>. Aces- so em: 01 set. 2016. 5 Em: <http://agbioworld.org/images/borlaug-young.gif>. Acesso em: 01 set. 2016. 6 Em: <http://beefpoint.wpengine.netdna-cdn.com/wp-content/uploads/legado/ wm/32950.jpg>. Acesso em: 01 set. 2016. 7 Em: <http://www.mda.gov.br/portalmda/sites/default/files/user_arquivos_195/ Brasil%20Agroecol%C3%B3gico%2027-11-13%20Artigo%20Bianchini%20e%20 Jean%20Pierre.pdf>. Acesso em: 01 set. 2016. 39 GABARITO 1. C 2. A 3. C 4. D 5. D U N ID A D E II Professor Me. Tiago Ribeiro da Costa O NOVO MEIO RURAL E SUAS TECNOLOGIAS Objetivos de Aprendizagem ■ Conhecer o perfil dos trabalhadores rurais e entender quais são os fatores que formam suas peculiaridades. ■ Compreender o dinamismo do atual meio rural que permite afirmar a respeito de seu “renascimento”. ■ Visualizar as principais práticas e tecnologias que se relacionam ao trabalhador rural. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O renascimento do rural ■ O entendimento sobre o trabalhador rural ■ Tecnologias agrícolas relacionadas ao trabalhador rural INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), dando continuidade aos nossos estudos, apresentamos a segunda unidade que aprofundaremos nossas discussões, já enveredando para o cerne deste material, que é a discussão sobre a Segurança do Trabalho Agrícola. Nesta unidade, iniciaremos nossas discussões abordando uma temática pri- mordial que é “O Renascimento do Rural”. Estabelecemos essa terminologia para levarmos em consideração os dizeres de Ricardo Abramovay, ao afirmar sobre as profundas modificações que ampliaram não somente os aspectos produtivos do meio rural, mas também, sua capacidade em gerar oportunidades e desen- volvimento social aos trabalhadores agrícolas. Recentemente, observamos um fenômeno muito claro em nossa economia: mesmo em um período de recessão, o único setor econômico que manteve sua geração de empregos e renda foi o agronegócio. Ademais, um agronegócio dife- rente daquele monocultor: pluriativo e proativo. Nesse cenário, observamos uma grande contribuição do trabalhador rural que assumiu para si a pluriatividade, encarando uma nova realidade laboral, inti- mamente ligada aos princípios de segurança do trabalho. Todavia, nem todos os trabalhadores rurais seguiram esse movimento e, em uma análise mais apro- fundada, ainda verificamos elementos que apresentam restrições que podem estabelecer sérios entraves ao estabelecimento da plena segurança do trabalho agrícola. Além de conhecer os aspectos mais subjetivos relacionados ao trabalhador rural, também se faz necessário conhecer as tecnologias que interagem com este personagem. Somente por esta prática é que conseguiremos delimitar quais são os riscos laborais ligados a este tipo de trabalho. Assim, esta unidade nos traz informações fundamentais para aprofundarmos nossos conhecimentos e já esta- belecermos, no plano das ideias, quais seriam as ações necessárias para mitigar os riscos do trabalho agrícola. Vamos em frente. Ótimo estudo! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 43 O NOVO MEIO RURAL E SUAS TECNOLOGIAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E44 O RENASCIMENTO DO RURAL Conforme abordado em nossa unidade anterior, o meio rural brasileiro pos- suiu um dinamismo ímpar em termos de utilização de tecnologias de produção, as quais foram responsáveis por tornar o Brasil um dos maiores produtores de commodities no mundo. Todavia, devemos estabelecer que o atual meio rural, renascido e diversifi- cado, segundo Abramovay (2000) possui diferentes matizes. Ao mesmo tempo em que ainda encontramos o modelo tradicional de produção, pautado basi- camente em monoculturas, também encontramos na Agricultura Familiar um amplo exemplo de uso intensivo de terras e de tecnologia. Não obstante, Portal Brasil (2015, on-line)1 relata: Principal responsável pela comida que chega às mesas das famílias bra- sileiras, a agricultura familiar responde por cerca de 70% dos alimentos consumidos em todo o País. [...] O pequeno agricultor ocupa hoje papel decisivo na cadeia produtiva que abastece o mercado brasileiro: mandioca (87%), feijão (70%), car- ne suína (59%), leite (58%), carne de aves (50%) e milho (46%) são alguns grupos de alimentos com forte presença da agricultura familiar na produção. A Agricultura Familiar, atualmente, ocupa papel de destaque não somente no que tange à produção de gêneros alimentícios, mas também na ativação da economia local com os recursos gerados em suas diversificadas cadeias produ- tivas. Ademais, a empregabilidade também é fator de destaque, levando-se em conta que, de acordo com Silva (2014, on-line)2, 74% da mão de obra campo- nesa encontra na agricultura familiar uma fonte de renda para a sobrevivência de suas famílias. A Figura 1 ilustra o dinamismo relacionado à Agricultura Familiar e salienta ainda as diferenças relacionadas ao modelo empresarial de agricultura. O Renascimento do Rural Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 45 14% CréditoTerras Produção Global Produção de comida Mão de obra ocupada Crédito Terras Produção Global Produção de comida Mão de obra ocupada 24% 40% 70% 74% 86% 76% 60% 30% 26% 80 70 60 50 40 30 20 10 0 00 80 60 40 20 0 Figura 1 – Diferenças entre a Agricultura Familiar e Empresarial, considerando indicadores produtivos e econômicos Fonte: Silva (2014, on-line)2. Independente da tipologia de Agricultura se é familiar ou empresarial, o fato é que o meio rural atualmente se distanciou do velho modelo de abandono ligado à crítica tecida em “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa e “Urupês” de Monteiro Lobato, obras comentadas em nossa primeira unidade e que atualmente se aproximam de um paradigma de uso mais intensivo e racional de tecnologias. Outra questão importante, caro(a) aluno(a), é que os patamares tecnológicos das atividades agropecuárias avançaram de tal maneira que ao se referir ao meio rural, já temos presentes agroindústrias altamente tecnificadas, com o uso inten- sivo de máquinas, equipamentos e instalações que permitem o processamento de alimentos e a oferta de produtos para um público consumidor altamente exigente. Com esta mudança de realidades, podemos concluir sobre a existência de duas hipóteses relevantes: o da urbanização do campo e o do amadurecimento endógeno do campo. Houve uma urbanização do campo ou esta transformação do campo é um reflexo de seu amadurecimento enquanto setor econômico? ©shutterstock O NOVO MEIO RURAL E SUAS TECNOLOGIAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E46 Este questionamento é importante, porém inconclusivo, pois temos elementos que podem justificar as duas hipóteses. Particularmente, acredito que houve mais um amadurecimento das atividades econômicas do campo, levando-se em consideração sua ampla capacidade de adaptação às necessidades mercadológicas, mesmo que esse amadurecimento signifique “importar” características tipicamente urbanas ao rural. Mais importante que isso é compreender que houve uma elevação da com- plexidade dos trabalhos agropecuários aos mesmos moldes que o ocorrido há décadas com os postos de trabalho tipicamente urbanos. Entretanto, devemos considerar em nossa análise que existe uma peculia- ridade relacionada ao trabalhador rural, o qual não acompanhou esta elevação da complexidade da mesma forma que o trabalhador urbano, teoricamente mais instruído a ocupar postos de trabalho mais especializados. Assim, antes de falar a res- peito dos postos de trabalho, ou mesmo, das tecnologias comumente empregadas no meio rural, faz-se necessário estabelecer uma análise sobre o trabalhador rural em si, para compreender fatores limitantes que possam explicar as possí- veis fontes de ações inseguras. O ENTENDIMENTO SOBRE O TRABALHADOR RURAL O trabalhador rural não pode ser classificado somente como um agricultor. Mais que isso, o trabalhador rural é, segundo Hentschke (2012, p. 2): “[...] toda pessoa física que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a empregador rural, sob a dependência deste e mediante salário”. O Entendimento Sobre o Trabalhador Rural Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 Percebe-se que a descrição de Hentschke (2012, p. 2) vai de encontro à pró- pria descrição do que seja “empregado”, presente na Norma Regulamentadora nº. 1, do MTPS (2016, on-line)1. Existe, portanto, uma relação de dependência ao empregador rural tanto naquilo que tange ao obedecimento de regras e diretrizes da empresa rural quanto à dependência de salário. Contudo, avaliar o trabalhador rural apenas sob o enfoque “empregador-em- pregado” não é suficiente. Devemos analisar esse trabalhador rural do ponto de vista de suas características psicológicas e sociais. Nesse contexto, uma das pri- meiras questões relevantes relaciona-se com o seu nível educacional. A Figura 2 ilustra a evolução do nível educacional da população campesina ao longo das décadas de 2000 e 2010: 12 11 10 90 8 7 6 5 4 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022 2024 Escolaridade média da população de 18 a 29 anos - Campo (em anos de estudo) Meta Nacional Brasil (localidade/rural (campo)) Figura 2 – Escolaridade Média da população de 18 a 29 anos (população rural) Fonte: Observatório do PNE ([2014], on-line)4. O NOVO MEIO RURAL E SUAS TECNOLOGIAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E48 Pela análise da Figura 2, compreendemos que houve uma evolução significativa nos anos estudados pela população rural de entrada na fase economicamente ativa (a partir dos 18 anos de idade). Em 2001, a média de anos estudados por este estrato populacional era de 4,1 anos, o que correspondia ao cumprimento do ensino básico. Já em 2014, a média dobrou para 8,2 anos estudados, o que corresponde a quase finalização do ensino fundamental, de nove anos. Embora sejam dados animadores, devemos considerar os números não em sua exatidão, mas sim de acordo com a realidade, pois, infelizmente, a quantidade de anos estudados não corresponde necessariamente às competências educa- cionais necessárias para o pleno desenvolvimento cognitivo e de interpretação. Muitos desses elementos desse estrato populacional podem ser considerados como analfabetos funcionais. Ainda, em todas as comparações possíveis entre os dados do estrato rural e os demais estratos investigados por meio do Observatório do PNE ([2014], on-line)4, verifica-se que a educação no meio rural ainda se encontra atrás de outros estratos avaliados: 25% da população mais pobre do Brasil; Mulheres; Negros; e, Região Nordeste tida como a de menor escolaridade no Brasil, todos avaliados na mesma faixa etária (18 a 29 anos). Essa situação se agrava quando consideramos as faixas etárias superiores. Muitos trabalhadores rurais de 30 a 49 anos são analfabetos plenos (Observatório do PNE, [2014], on-line)4, com baixíssima capacitação para a execução de traba- lhos mais especializados. Embora tenhamos evidenciado um “renascimento do meio rural” em nossa seção anterior, ainda temos graves problemas relacionados ao trabalhador rural, com baixa aptidão para ser capacitado no que concerne à Segurança do Trabalho. Outros fatores ainda devem compor esta análise, a saber: ■ O trabalhador rural e o subemprego: por sua baixa capacitação, o trabalhador rural fica à mercê de subempregos (empregos altamente desgastantes, repetitivos e com baixa remuneração). ■ O trabalhador rural e sua alcunha: por não estar preparado para ocupar postos de trabalho mais especializados, destina-se a este trabalhador os trabalhos de menor importância, sendo este trabalhador erroneamente designado como “peão”. O Entendimento Sobre o Trabalhador Rural Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 49 ■ O trabalhador rural, remuneração e família: também é fator de desta- que a prolificidade dos estratos sociais mais pobres da sociedade brasileira. Muitas vezes, as famílias dos trabalhadores rurais são numerosas e os salários obtidos por seu trabalho são insuficientes para suprir suas neces- sidades básicas. ■ O trabalhador rural e a sazonalidade: nem todos os trabalhos rurais são caracterizados pela prestação de serviços contínuos. Muitos deles são caracterizados por serem empreitas, ou contratos
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