Relatório sobre o filme 'O Senhor das Moscas' (1990)

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O Senhor das Moscas, filme que conta a história de crianças que se perderam em uma ilha após a queda do avião da escola militar em que estudavam, mostra o retrocesso do estado de civilidade dos jovens para o seu estado de natureza, de selvageria.
No filme identificamos o estado de natureza definido por Hobbes, ou seja, a liberdade é o estado natural do homem, e neste cenário o homem se aproxima do animal, vive em guerra, é forte, cruel e violento, “homini lúpus homini”. 
A necessidade de sobrevivência ou a busca por segurança é o natural no filme, fazendo com que os jovens busquem por alguém que a forneça. Esse medo do pior acontecer, faz com que abdiquem de suas ações individuais em favor de sua sobrevivência. Após a aparição do “monstro” na ilha, o contrato social entre Ralph e seus eleitores é quebrado e os garotos vão em busca de Jack que os deixa mais seguros. O fracasso da liderança de Ralf pode ser explicado nas ideias de Rousseau, para quem o homem em estado de natureza está sempre trêmulo e prestes a fugir ao menor ruído que o impressione. Assim, a liberdade que encontram na ilha, somado ao desaparecimento do personagem adulto e da possibilidade de existir um monstro na ilha, torna os garotos vulneráveis e permite o avança da liderança de Jack, que realiza seu domínio pelo medo.
Ralph, representava o líder sem esforço, que tentou manter a organização do grupo com a criação de regras e a distribuição de funções determinando que alguns garotes fossem responsáveis pela busca de alimentos (pesca e coleta de frutas), enquanto outros realizavam a vigília da fogueira. Essa organização, conforme mencionado acima, foi gradativamente sendo desfeita à medida que o grupo se tornou vulnerável ao medo. 
Jack é o retrato do que Maquiavel mostrou em O Príncipe, onde, para conseguir o poder, poderia utilizar de qualquer meio, até a morte. Também a ideia da criação de um Estado ou autoridade para que os homens se organizem sem viver em profunda barbárie, de Thomas Hobbes junto do contrato social de Rousseau.
Ao longo do filme, chama a atenção o posicionamento de alguns personagens, bem como o destino definido pelo autor do roteiro para outros. Simon, o garoto que representava o pensamento crítico e questionador é morto em consequência de um ato de irracionalidade e do cultivo do medo pelos meninos. Pig, o personagem que representa o pensamento científico, e que enxergava as alterações do comportamento do grupo de forma clara e objetiva através das lentes dos seus óculos é assassinado por um dos seus colegas. Ou seja, o homem em seu estado de liberdade (na natureza) elimina todo e qualquer pensamento crítico e científico que possa vir a desenvolver. Os gêmeos representam a figura daqueles que não se posicionam, tem o discernimento daquilo que é certo ou errado, mas acabam por aderir àquilo que for conveniente, representam a nulidade dos ideais. O Maluquinho, que morre pela inocência de não entenderem o que estava acontecendo no momento; e Billy, mostra que os jovens sabem o que estão fazendo, mas não poderia ter outro resultado senão aquele. 
Quando a realidade tritura as normas, as expectativas e a estabilidade particular, os homens ficam à mercê do medo e do caos. Desta forma, quando surge uma figura de liderança que possa pôr fim à instabilidade, à insegurança, mesmo que apenas como uma possibilidade, o cenário torna-se de grande risco. A literatura fictícia reflete o que vem acontecendo nas grandes metrópoles brasileiras e o que está por vir nas eleições de 2018.