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Teoria Geral do Estado - Sahid Maluf - 2019

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Prévia do material em texto

ISBN	9788553610013
Maluf,	Sahid
Teoria	geral	do	Estado	/	Sahid	Maluf	;	atualizador	prof.	Miguel	Alfredo	Malufe	Neto.
–	35.	ed.	–	São	Paulo	:	Saraiva	Educação,	2019.
1.	O	Estado	2.	Estado	-	Teoria	I.	Malufe	Neto,	Miguel	Alfredo,	1942	-	II.	Título.
18-1504
CDU	320.101
Índices	para	catálogo	sistemático:
1.	Teoria	geral	do	Estado	:	Ciência	política	320.101
Diretoria	executiva	Flávia	Alves	Bravin
Diretora	editorial	Renata	Pascual	Müller
Gerência	editorial	Roberto	Navarro
Consultoria	acadêmica	Murilo	Angeli	Dias	dos	Santos
Edição	Eveline	Gonçalves	Denardi	(coord.)	|	Marisa	Amaro	dos	Reis
Produção	editorial	Ana	Cristina	Garcia	(coord.)	|	Carolina	Massanhi	|	Luciana
Cordeiro	Shirakawa	|	Rosana	Peroni	Fazolari
Arte	e	digital	Mônica	Landi	(coord.)	|	Claudirene	de	Moura	Santos	Silva	|	Guilherme	H.
M.	Salvador	|	Tiago	Dela	Rosa	|	Verônica	Pivisan	Reis
Planejamento	e	processos	Clarissa	Boraschi	Maria	(coord.)	|	Juliana	Bojczuk
Fermino	|	Kelli	Priscila	Pinto	|	Marília	Cordeiro	|	Fernando	Penteado	|	Mônica
Gonçalves	Dias	|	Tatiana	dos	Santos	Romão
Novos	projetos	Fernando	Alves
Diagramação	(Livro	Físico)	Fabricando	Ideias	Design	Editorial
Revisão	PBA	Preparação	e	Revisão	de	Textos
Capa	Herbert	Junior
Livro	digital	(E-pub)
Produção	do	e-pub	Guilherme	Henrique	Martins	Salvador
Data	de	fechamento	da	edição:	27-11-2018
Dúvidas?
Acesse	www.editorasaraiva.com.br/direito
Nenhuma	parte	desta	publicação	poderá	ser	reproduzida	por	qualquer	meio	ou	forma	sem	a
prévia	autorização	da	Editora	Saraiva.
A	violação	dos	direitos	autorais	é	crime	estabelecido	na	Lei	n.	9.610/98	e	punido	pelo	artigo
184	do	Código	Penal.
http://www.editorasaraiva.com.br/direito
SUMÁRIO
NOTA	AO	LEITOR
I
ESTADO	E	DIREITO
1.	TEORIA	MONÍSTICA
2.	TEORIA	DUALÍSTICA
3.	TEORIA	DO	PARALELISMO
II
TEORIA	TRIDIMENSIONAL	DO	ESTADO	E	DO	DIREITO
1.	NOÇÃO	FUNDAMENTAL
III
DIVISÃO	GERAL	DO	DIREITO
1.	DIREITO	NATURAL	E	POSITIVO
2.	DIREITO	PÚBLICO	E	PRIVADO
3.	POSIÇÃO	DA	TEORIA	GERAL	DO	ESTADO	NO	QUADRO	GERAL
DO	DIREITO
IV
TEORIA	GERAL	DO	ESTADO
1.	CONCEITO
2.	TRÍPLICE	ASPECTO
3.	POSIÇÃO	E	RELAÇÃO	COM	OUTRAS	CIÊNCIAS
4.	FONTES
V
NAÇÃO	E	ESTADO
1.	CONCEITO	DE	NAÇÃO
2.	POPULAÇÃO
3.	POVO
4.	RAÇA
5.	HOMOGENEIDADE	DO	GRUPO	NACIONAL
6.	CONCEITO	DE	ESTADO
VI
ELEMENTOS	CONSTITUTIVOS	DO	ESTADO
1.	POPULAÇÃO
2.	TERRITÓRIO
3.	GOVERNO
VII
SOBERANIA
1.	CONCEITO
2.	FONTE	DO	PODER	SOBERANO
3.	TEORIA	DA	SOBERANIA	ABSOLUTA	DO	REI
4.	TEORIA	DA	SOBERANIA	POPULAR
5.	TEORIA	DA	SOBERANIA	NACIONAL
6.	TEORIA	DA	SOBERANIA	DO	ESTADO
7.	ESCOLAS	ALEMÃ	E	AUSTRÍACA
8.	TEORIA	NEGATIVISTA	DA	SOBERANIA
9.	TEORIA	REALISTA	OU	INSTITUCIONALISTA
10.	LIMITAÇÕES
VIII
SOBERANIA:	LIMITAÇÕES	NA	ORDEM	INTERNACIONAL,
GLOBALIZAÇÃO	E	ORGANIZAÇÕES	INTERNACIONAIS
1.	CONCEITOS
2.	GLOBALIZAÇÃO
3.	ORGANIZAÇÕES	INTERNACIONAIS
4.	ORGANIZAÇÕES	POLÍTICAS
5.	ORGANIZAÇÃO	DAS	NAÇÕES	UNIDAS	—	ONU
6.	ORGANIZAÇÃO	DO	TRATADO	DO	ATLÂNTICO	NORTE	—	OTAN
7.	ORGANIZAÇÃO	DOS	ESTADOS	AMERICANOS	—	OEA
8.	ORGANIZAÇÕES	ECONÔMICAS
9.	MERCOSUL
10.	OUTRAS	ORGANIZAÇÕES	ECONÔMICAS
11.	ORGANIZAÇÃO	SUPRANACIONAL	—	UNIÃO	EUROPEIA
IX
NASCIMENTO	E	EXTINÇÃO	DOS	ESTADOS	—	I
1.	NASCIMENTO
2.	MODO	ORIGINÁRIO
3.	MODOS	SECUNDÁRIOS
4.	CONFEDERAÇÃO
5.	FEDERAÇÃO
6.	UNIÃO	PESSOAL
7.	UNIÃO	REAL
8.	DIVISÃO	NACIONAL
9.	DIVISÃO	SUCESSORAL
10.	MODOS	DERIVADOS
11.	COLONIZAÇÃO
12.	CONCESSÃO	DOS	DIREITOS	DE	SOBERANIA
13.	ATO	DE	GOVERNO
14.	DESENVOLVIMENTO	E	DECLÍNIO
15.	EXTINÇÃO
16.	CONQUISTA
17.	EMIGRAÇÃO
18.	EXPULSÃO
19.	RENÚNCIA	DOS	DIREITOS	DE	SOBERANIA
X
NASCIMENTO	E	EXTINÇÃO	DOS	ESTADOS	—	II
1.	JUSTIFICAÇÃO
2.	PRINCÍPIO	DAS	NACIONALIDADES
3.	TEORIA	DAS	FRONTEIRAS	NATURAIS
4.	TEORIA	DO	EQUILÍBRIO	INTERNACIONAL
5.	TEORIA	DO	LIVRE-ARBÍTRIO	DOS	POVOS
XI
ORIGEM	DOS	ESTADOS
1.	GENERALIDADES
2.	TEORIA	DA	ORIGEM	FAMILIAR
3.	TEORIA	PATRIARCAL
4.	TEORIA	MATRIARCAL
5.	TEORIA	DA	ORIGEM	PATRIMONIAL
6.	TEORIA	DA	FORÇA
XII
JUSTIFICAÇÃO	DO	ESTADO	—	I
1.	JUSTIFICAÇÕES	TEOLÓGICO-RELIGIOSAS
2.	TEORIA	DO	DIREITO	DIVINO	SOBRENATURAL
3.	TEORIA	DO	DIREITO	DIVINO	PROVIDENCIAL
XIII
JUSTIFICAÇÃO	DO	ESTADO	—	II
1.	TEORIAS	RACIONALISTAS	(JUSNATURALISMO)
2.	HUGO	GROTIUS
3.	EMMANUEL	KANT
4.	THOMAS	HOBBES
5.	BENEDITO	SPINOZA
6.	JOHN	LOCKE
XIV
JUSTIFICAÇÃO	DO	ESTADO	—	III
1.	TEORIA	DO	CONTRATO	SOCIAL
2.	JEAN-JACQUES	ROUSSEAU
XV
JUSTIFICAÇÃO	DO	ESTADO	—	IV
1.	ESCOLA	HISTÓRICA
2.	EDMUNDO	BURKE
XVI
JUSTIFICAÇÃO	DO	ESTADO	—	V
1.	PANTEÍSMO
2.	ESCOLA	ORGÂNICA
3.	NEOPANTEÍSMO
XVII
JUSTIFICAÇÃO	DO	ESTADO	—	VI
1.	TEORIA	DA	SUPREMACIA	DE	CLASSES
2.	GUMPLOWICZ	E	OPPENHEIMER
3.	FUNDAMENTO	DOUTRINÁRIO	DO	ESTADO	BOLCHEVISTA
XVIII
JUSTIFICAÇÃO	DO	ESTADO	—	VII
1.	O	ESTADO	COMO	DIFERENCIAÇÃO	ENTRE	GOVERNANTES	E
GOVERNADOS
2.	TEORIA	DE	LÉON	DUGUIT
XIX
EVOLUÇÃO	HISTÓRICA	DO	ESTADO	—	I
1.	A	“LEI	DOS	TRÊS	ESTADOS”,	DE	AUGUSTO	COMTE
2.	CLASSIFICAÇÃO
3.	O	ESTADO	ANTIGO
4.	O	ESTADO	DE	ISRAEL
XX
EVOLUÇÃO	HISTÓRICA	DO	ESTADO	—	II
1.	O	ESTADO	GREGO
2.	“POLIS”
3.	PLATÃO
4.	ARISTÓTELES
XXI
EVOLUÇÃO	HISTÓRICA	DO	ESTADO	—	III
1.	O	ESTADO	ROMANO
2.	ORIGEM
3.	CONCEITO	DE	“CIVITAS”
4.	PODER	DE	“IMPERIUM”
5.	CONSULADO
6.	MAGISTRATURAS	E	PRÓ-MAGISTRATURAS
7.	DITADURA
8.	COLEGIALIDADE	DAS	MAGISTRATURAS
9.	PRINCIPADO
XXII
EVOLUÇÃO	HISTÓRICA	DO	ESTADO	—	IV
1.	O	ESTADO	MEDIEVAL	E	SUAS	CARACTERÍSTICAS
2.	O	FEUDALISMO
XXIII
EVOLUÇÃO	HISTÓRICA	DO	ESTADO	—	V
1.	O	ESTADO	MEDIEVAL	E	A	IGREJA	ROMANA
2.	SANTO	AGOSTINHO,	SANTO	TOMÁS	DE	AQUINO	E	OUTROS
DOUTRINADORES
XXIV
EVOLUÇÃO	HISTÓRICA	DO	ESTADO	—	VI
1.	DAS	MONARQUIAS	MEDIEVAIS	ÀS	MONARQUIAS	ABSOLUTAS
2.	A	DOUTRINA	DE	MAQUIAVEL
XXV
EVOLUÇÃO	HISTÓRICA	DO	ESTADO	—	VII
1.	O	ABSOLUTISMO	MONÁRQUICO
2.	ESCRITORES	DA	RENASCENÇA
3.	JOHN	LOCKE	E	A	REAÇÃO	ANTIABSOLUTISTA
XXVI
EVOLUÇÃO	HISTÓRICA	DO	ESTADO	—	VIII
1.	O	LIBERALISMO	NA	INGLATERRA
2.	AMÉRICA	DO	NORTE
3.	FRANÇA
4.	DECLARAÇÃO	DOS	DIREITOS	FUNDAMENTAIS	DO	HOMEM
XXVII
A	DECADÊNCIA	DO	LIBERALISMO
1.	O	ESTADO	LIBERAL,	SEUS	ERROS	E	SUA	DECADÊNCIA
2.	A	ENCÍCLICA	“RERUM	NOVARUM”	—	DOUTRINA	SOCIAL	DA
IGREJA
3.	O	ESTADO	EVOLUCIONISTA
XXVIII
REAÇÃO	ANTILIBERAL
1.	O	SOCIALISMO	E	A	REVOLUÇÃO	RUSSA
2.	O	ESTADO	SOVIÉTICO
3.	OBSERVAÇÕES
4.	CRIAÇÃO	DA	CEI
XXIX
REAÇÃO	ANTILIBERAL	E	ANTIMARXISTA
1.	O	FASCISMO	E	SUA	DOUTRINA
2.	ORGANIZAÇÃO	DO	ESTADO	FASCISTA
3.	O	SISTEMA	CORPORATIVO
XXX
O	ESTADO	NAZISTA	ALEMÃO
1.	O	NAZISMO
2.	O	RACISMO	ALEMÃO
XXXI
OS	ESTADOS	NOVOS
1.	O	TOTALITARISMO	DO	TIPO	FASCISTA
2.	O	ESTADO	TURCO	—	KEMALISMO
3.	O	ESTADO	POLONÊS	—	PILSUDSKISMO
4.	O	ESTADO	PORTUGUÊS	—	SALAZARISMO
5.	O	ESTADO	NOVO	BRASILEIRO	—	GETULISMO
6.	O	ESTADO	ARGENTINO	—	JUSTICIALISMO
XXXII
FORMAS	DE	ESTADO
1.	CLASSIFICAÇÕES
2.	ESTADOS	PERFEITOS	E	IMPERFEITOS
3.	ESTADOS	SIMPLES	E	COMPOSTOS
4.	UNIÃO	PESSOAL
5.	UNIÃO	REAL
6.	UNIÃO	INCORPORADA
7.	CONFEDERAÇÃO
8.	OUTRAS	FORMAS
9.	IMPÉRIO	BRITÂNICO
XXXIII
ESTADO	FEDERAL
1.	ESTADO	UNITÁRIO
2.	ESTADO	FEDERAL
3.	CARACTERÍSTICAS	ESSENCIAIS	DO	ESTADO	FEDERAL
4.	O	FEDERALISMO	NOS	EEUU	DA	AMÉRICA	DO	NORTE
5.	O	PROBLEMA	DA	SOBERANIA	NO	ESTADO	FEDERAL
6.	O	FEDERALISMO	NO	BRASIL
7.	FEDERALISMO	ORGÂNICO
8.	RESUMO
XXXIV
FORMAS	DE	GOVERNO
1.	CLASSIFICAÇÕES	SECUNDÁRIAS
2.	CLASSIFICAÇÃO	ESSENCIAL	DE	ARISTÓTELES
3.	MONARQUIA	E	REPÚBLICA
4.	SUBDIVISÕES
5.	“REFERENDUM”
6.	PLEBISCITO
7.	OUTROS	INSTITUTOS
XXXV
PODER	CONSTITUINTE
1.	CONCEITO	E	NATUREZA
2.	PODER	REFORMADOR
3.	PODER	CONSTITUINTE	INSTITUCIONAL
XXXVI
O	PREÂMBULO	NAS	CONSTITUIÇÕES
1.	SUA	SIGNIFICAÇÃO
XXXVII
CONSTITUIÇÃO
1.	CONCEITO
2.	RESUMO	HISTÓRICO	DO	SISTEMA	CONSTITUCIONAL
3.	CONTEÚDO	SUBSTANCIAL
4.	DIVISÃO	FORMAL	DAS	CONSTITUIÇÕES
5.	CARTAS	DOGMÁTICAS	E	OUTORGADAS
XXXVIII
SUPREMACIA	DA	CONSTITUIÇÃO
1.	SUBORDINAÇÃO	DA	LEI	ORDINÁRIA	AOS	PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS
2.	O	CONTROLE	DA	CONSTITUCIONALIDADE	DAS	LEIS
3.	SÍNCOPES	CONSTITUCIONAIS
4.	AS	SÍNCOPES	CONSTITUCIONAIS	NO	BRASIL
XXXIX
DIVISÃO	DO	PODER
1.	NOÇÃO
2.	A	DOUTRINA	DE	MONTESQUIEU
3.	UNIDADE	DO	PODER	E	PLURALIDADE	DOS	ÓRGÃOSDE	SUA
MANIFESTAÇÃO
XL
DIREITOS	FUNDAMENTAIS	DO	HOMEM
1.	GENERALIDADES
2.	CLASSIFICAÇÕES
3.	INTERNACIONALIZAÇÃO	DOS	DIREITOS	DO	HOMEM
4.	NOVOS	DIREITOS	FUNDAMENTAIS
5.	DIREITOS	SOCIAIS
6.	GARANTIAS	DOS	DIREITOS	FUNDAMENTAIS
XLI
PRINCÍPIOS	E	SISTEMAS	ELEITORAIS
1.	SUFRÁGIO	UNIVERSAL
2.	VOTO	DO	ANALFABETO
3.	SUFRÁGIO	RESTRITO	E	CENSO	ALTO
4.	SUFRÁGIO	IGUALITÁRIO	E	VOTO	DE	QUALIDADE
5.	SUFRÁGIO	FEMININO
6.	VOTO	PÚBLICO	E	VOTO	SECRETO
7.	VOTO	COMO	DIREITO	OU	FUNÇÃO
8.	ELEIÇÃO	DIRETA	E	INDIRETA
9.	SISTEMAS	ELEITORAIS
10.	SISTEMA	PROPORCIONAL
XLII
SISTEMA	REPRESENTATIVO	—	I
1.	GENERALIDADES
2.	ORIGEM	E	FORMAÇÃO	HISTÓRICA
3.	O	SISTEMA	REPRESENTATIVO	NA	INGLATERRA
4.	NATUREZA	DO	MANDATO
5.	TEORIAS
6.	TITULARIDADE	DO	MANDATO	NO	SISTEMA	BRASILEIRO
7.	UNICAMERALIDADE	E	BICAMERALIDADE
8.	O	SENADO	NO	ESTADO	FEDERATIVO
XLIII
SISTEMA	REPRESENTATIVO	—	II
1.	DIVISÃO	SUBSTANCIAL
2.	DIVISÃO	FORMAL
3.	SISTEMA	DIRETORIAL
XLIV
SISTEMA	REPRESENTATIVO	PRESIDENCIALISTA
1.	ORIGEM	HISTÓRICA
2.	CRÍTICA
3.	MECANISMO	E	CARACTERÍSTICAS	DO	PRESIDENCIALISMO
4.	MINISTROS	DE	ESTADO
5.	RESPONSABILIDADE	E	“IMPEACHMENT”
6.	DURAÇÃO	DO	MANDATO
7.	EVOLUÇÃO	DO	SISTEMA	PRESIDENCIAL	E	SUAS
MODALIDADES
8.	COMISSÕES	PARLAMENTARES	DE	INQUÉRITO
XLV
SISTEMA	REPRESENTATIVO	PARLAMENTARISTA
1.	ORIGEM	HISTÓRICA
2.	CARÁTER	DEMOCRÁTICO	DO	SISTEMA
3.	MECANISMO	DO	SISTEMA	PARLAMENTARISTA
4.	O	CHEFE	DA	NAÇÃO
5.	EXECUTIVO	COLEGIADO
6.	RESPONSABILIDADE	POLÍTICA	DO	MINISTÉRIO
7.	PROCESSO	DA	RESPONSABILIDADE	POLÍTICA
8.	RESPONSABILIDADE	SOLIDÁRIA
9.	REMODELAÇÃO	MINISTERIAL
10.	DISSOLUÇÃO	DO	PARLAMENTO
11.	INTERDEPENDÊNCIA	DOS	PODERES
12.	PARLAMENTARISMO,	FEDERAÇÃO	E	BICAMERALIDADE
XLVI
O	PARLAMENTARISMO	NO	BRASIL
1.	RESUMO	HISTÓRICO
2.	COMENTÁRIOS
3.	NOVA	EXPERIÊNCIA	NO	BRASIL
XLVII
DEMOCRACIA
1.	ORIGEM	HISTÓRICA
2.	CONCEITO
3.	DEMOCRACIA	EM	SENTIDO	FORMAL	E	SUBSTANCIAL
XLVIII
DEMOCRACIA	E	IGUALDADE
1.	RESUMO	HISTÓRICO
2.	IGUALDADE	EM	SENTIDO	FORMAL	E	MATERIAL
3.	DESDOBRAMENTO	E	CONCEITO	SOCIAL—DEMOCRÁTICO
4.	CONCEITO	DE	IGUALDADE	ECONÔMICA
XLIX
DEMOCRACIA	E	LIBERDADE
1.	DIVISÕES	DOS	DIREITOS	DE	LIBERDADE
2.	LIBERDADES	ABSOLUTAS	E	RELATIVAS
3.	A	LIBERDADE	NAS	TEORIAS	ABSOLUTISTAS
4.	A	LIBERDADE	NA	TEORIA	DO	CONTRATO	SOCIAL
5.	CONCEITO	INDIVIDUALISTA
6.	CONCEITO	SOCIAL-DEMOCRÁTICO
7.	TEORIA	DE	GROPPALI
8.	LIBERDADE	E	AUTORIDADE
L
DEMOCRACIA	E	ELITES	DIRIGENTES
1.	CONCEITO	REAL	DE	DEMOCRACIA
2.	EXPRESSÃO	QUALITATIVA	DO	CORPO	ELEITORAL
3.	SELEÇÃO	DE	VALORES
4.	CONCEITO	DE	ELITE	DIRIGENTE	E	SUA	RESPONSABILIDADE
HISTÓRICA
LI
DEMOCRACIA	LIBERAL	E	DEMOCRACIA	SOCIAL
1.	ASPECTOS	DA	DEMOCRACIA	LIBERAL	E	SUA	DECADÊNCIA
2.	FUNDAMENTOS	DA	DEMOCRACIA	SOCIAL
3.	INTERVENCIONISMO	ESTATAL
4.	AS	CORRENTES	LIBERAIS	MODERNAS:	NEOLIBERALISMO	E
SOCIAL-LIBERALISMO
LII
PARTIDOS	POLÍTICOS
1.	CONCEITO	E	NATUREZA
2.	SISTEMAS	PARTIDÁRIOS
3.	CLASSIFICAÇÃO
4.	ORIGEM	E	EVOLUÇÃO	HISTÓRICA
5.	OS	PARTIDOS	POLÍTICOS	BRASILEIROS
LIII
O	ESTADO	E	SEU	PROBLEMA	FINALÍSTICO
1.	O	ESTADO	COMO	“MEIO”	DESTINADO	À	REALIZAÇÃO	DOS
FINS	DA	COMUNIDADE
2.	CONCEPÇÕES	INDIVIDUALISTAS	E	TOTALISTAS
3.	TEORIA	DOS	FINS	INTERMEDIÁRIOS
LIV
O	HOMEM	E	O	ESTADO
1.	O	HOMEM	COMO	UNIDADE	SOCIAL	E	COMO	PESSOA
HUMANA
2.	LIBERDADE	E	AUTORIDADE
3.	POSIÇÕES	EXTREMADAS	E	INTERMEDIÁRIA
LV
INDIVIDUALISMO,	COLETIVISMO	E	GRUPALISMO
1.	NOÇÕES	GERAIS
2.	ESPIRITUALISMO	E	MATERIALISMO
3.	COMPOSIÇÕES	DIVERSAS
4.	ANARQUISMO
5.	INDIVIDUALISMO	RACIONALISTA
6.	LIBERALISMO	ECONÔMICO
7.	COLETIVISMO	E	CORRENTES	SOCIALISTAS
8.	SOCIALISMO	MARXISTA,	RUSSISMO	E	SUA	EVOLUÇÃO
LVI
SINDICALISMO	E	CORPORATIVISMO
1.	CONCEPÇÃO	GRUPALISTA
2.	ORIGEM	HISTÓRICA
3.	FORMAÇÃO	DO	SINDICALISMO
4.	CONCEPÇÃO	SOCIAL-DEMOCRÁTICA
5.	IDENTIDADE	DOS	TERMOS	SINDICALISMO	E
CORPORATIVISMO
LVII
ESTADO	CORPORATIVO
1.	CONCEITO	DOUTRINÁRIO	DE	CORPORATIVISMO
2.	CORPORATIVISMO	DE	ESTADO	E	CORPORATIVISMO
ASSOCIATIVO
3.	REPRESENTAÇÃO	PROFISSIONAL
4.	CORPORATIVISMO	MÁXIMO,	MÉDIO	E	MÍNIMO
LVIII
SOCIALISMO
1.	ORIGENS	DOUTRINÁRIAS	DO	SOCIALISMO	UTÓPICO	OU
COMUNISMO
2.	KARL	MARX	E	O	SOCIALISMO	CIENTÍFICO
3.	SOCIALISMO	E	SUAS	VARIAÇÕES
4.	SOCIALISMO	DE	ESTADO,	COMUNISMO	E	ANARQUISMO
5.	PRINCÍPIOS	FILOSÓFICOS	DO	MARXISMO
LIX
O	ESTADO	E	A	FAMÍLIA
1.	A	FAMÍLIA	COMO	UNIDADE	INTEGRANTE	DO	ESTADO
2.	TEORIA	GRUPALISTA	CRISTÃ
3.	O	PRIMADO	DA	FAMÍLIA	NA	SOCIEDADE
4.	A	FAMÍLIA	E	O	ESTADO	BRASILEIRO
LX
O	ESTADO	E	A	IGREJA
1.	A	SOCIEDADE:	PRINCÍPIOS	DA	UNIDADE	E	DA	PLURALIDADE
2.	NATUREZA	E	AUTONOMIA	DO	PODER	ESPIRITUAL
3.	A	LUTA	ENTRE	O	ESTADO	E	A	IGREJA
4.	O	ESTADO	DO	VATICANO
5.	RELAÇÕES	ENTRE	A	IGREJA	E	O	ESTADO
6.	SEPARAÇÃO	E	HARMONIA
LXI
O	ESTADO	BRASILEIRO
1.	FORMAÇÃO	HISTÓRICA
2.	TERRITÓRIO
3.	POPULAÇÃO
4.	FORMAÇÃO	FEDERATIVA
5.	EVOLUÇÃO	DA	FORMA	DE	GOVERNO
6.	RESUMO	HISTÓRICO	DA	REPÚBLICA
7.	A	CONSTITUIÇÃO	DE	1988
ÍNDICE	ALFABÉTICO	E	REMISSIVO
NOTA	AO	LEITOR
Este	livro	foi	publicado,	pela	primeira	vez,	em	1954.	Como	disse	o	Autor,
Sahid	Maluf,	o	objetivo	foi	elaborar	um	trabalho	didático,	sistematizando	as
doutrinas	 e	 as	 ideias	 essenciais	 da	 ciência	 do	 Estado,	 com	 a	 finalidade	 de
despertar	o	interesse	dos	estudantes	e	encaminhá-los	às	pesquisas	que	levam
ao	 aprimoramento	 da	 cultura	 no	 imenso,	 complexo	 e	 fascinante	 campo	 da
Teoria	Geral	do	Estado.
A	 honrosa	 acolhida	 que	 a	 obra	 teve,	 principalmente	 nas	 Faculdades	 de
Direito,	 e	 as	 elogiosas	 referências	 recebidas	 desde	 então	 de	muitos	mestres
ilustres	e	estudiosos	da	ciência	política	animaram	as	sucessivas	edições	que	se
seguiram,	atualmente	a	de	número	trinta	e	cinco.
Desde	 o	 falecimento	 do	Autor,	 em	 1975,	 esta	 obra	 vem	 sendo	 por	mim
revista	 e	 atualizada.	Todavia,	 nenhuma	modificação	 estrutural	 foi	 feita	—	e
nem	cabia	—,	pois	o	objetivo	da	obra	é	o	estudo	da	ciência	do	Estado	e	não	o
exame	do	sistema	constitucional	brasileiro	em	particular.
Ao	entregarmos	 ao	 leitor	 esta	nova	 e	 atualizada	 edição,	queremos	deixar
registrada	nossa	homenagem	ao	Autor,	nosso	inesquecível	mestre.	Através	de
sua	 obra	 ele	 permanecerá	 sempre	 vivo	 na	 lembrança	 de	 todos.	 Aos	 jovens
estudantes	de	direito	que	não	o	conheceram	queremos	reproduzir	a	mensagem
que	 ele	 deixou,	 ao	 dedicar	 esta	 obra	 a	 todos	 os	 jovens:	 “A	 essa	 juventude
dedicamos	o	nosso	trabalho	como	penhor	de	gratidão.	A	esses	estudantes	de
hoje	e	futuros	paladinos	da	luta	pelo	direito,	lembramos	que	sobre	toda	esta
ciência	 do	 Estado,	 imperfeita,	 contingente,	mutável	 no	 espaço	 e	 no	 tempo,
paira	a	ciência	de	Deus,	com	a	sua	 justiça	perfeita,	 incontingente,	eterna	 e
infalível.	 Os	 desvirtuamentos	 do	 poder	 de	 mando,	 as	 falsidades	 e	 as
injustiças,	podem	 traspassar	 o	 nosso	 coração	mas	 nunca	 abater	 o	 espírito,
quando	 este	 se	 fortalece	 na	 fonte	 do	 direito	 divino	 para	 lutar	 pelo	 direito
humano”.
Assim	 era	 o	 Autor,	 assim	 é	 o	 Direito:	 acima	 das	 contingências	 e
imperfeições	humanas,	existe	uma	fonte	superior,	sempre	inatingível,	mas	que
deve	nortear	os	espíritos	das	pessoas	e	alimentar	as	esperanças	dos	povos.
Nossos	agradecimentos	a	todos,	pelo	prestígio	e	incentivo.	Aos	estudantes,
que	esta	obra	sirva	como	uma	das	chaves	que	abrirão	as	inúmeras	portas	que
precisam	ser	abertas	ou	reabertas	no	estudo	e	na	busca	do	objetivo	maior	que
é	 a	 implantação	 de	 um	 verdadeiro	 Estado	 de	Direito	 e	 de	 Justiça.	 Ao	meu
irmão	 José	 Roberto,	 prematuramente	 levado	 de	 nosso	 convívio,	 e	 à	 minha
mãe	Nagiba	Maria,	recentemente	falecida,	saudades…
Miguel	Alfredo	Malufe	Neto
I
ESTADO	E	DIREITO
1.	Teoria	monística.	2.	Teoria	dualística.	3.	Teoria	do	paralelismo.
O	Estado	é	uma	organização	destinada	a	manter,	pela	aplicação	do	Direito,
as	 condições	 universais	 de	 ordem	 social.	 E	 o	 Direito	 é	 o	 conjunto	 das
condições	existenciais	da	sociedade,	que	ao	Estado	cumpre	assegurar.
Para	o	estudo	do	fenômeno	estatal,	tanto	quanto	para	a	iniciação	na	ciência
jurídica,	o	primeiro	problema	a	ser	enfrentadoé	o	das	relações	entre	Estado	e
Direito.	 Representam	 ambos	 uma	 realidade	 única?	 São	 duas	 realidades
distintas	e	independentes?	No	programa	da	ciência	do	Estado,	este	problema
não	pode	passar	 sem	um	esclarecimento	preliminar.	E	 sendo	 tão	 importante
quanto	 complexo,	 daremos	 aqui	 pelo	 menos	 um	 resumo	 das	 correntes	 que
disputam	 entre	 si	 a	 primazia	 no	 campo	 doutrinário.	 Não	 comporta	 o	 nosso
programa	 mais	 do	 que	 uma	 orientação	 esquemática,	 para	 compreensão	 da
matéria	 em	 suas	 linhas	 gerais,	 servindo	 como	 um	 roteiro	 para	 maiores
indagações	nos	domínios	da	ciência	jurídica.
Dividem-se	as	opiniões	em	três	grupos	doutrinários,	que	são	os	seguintes:
1.	TEORIA	MONÍSTICA
Também	 chamada	 do	 estatismo	 jurídico,	 segundo	 a	 qual	 o	 Estado	 e	 o
Direito	confundem-se	em	uma	só	realidade.	Os	dois	fenômenos	sunt	unum	et
idem,	na	expressão	usada	por	Kelsen.
Para	os	monistas	só	existe	o	direito	estatal,	pois	não	admitem	eles	a	ideia
de	qualquer	regra	jurídica	fora	do	Estado.	O	Estado	é	a	fonte	única	do	Direito,
porque	quem	dá	vida	ao	Direito	é	o	Estado	através	da	“força	coativa”	de	que
só	ele	dispõe.	Regra	jurídica	sem	coação,	disse	Ihering,	é	uma	contradição	em
si,	um	fogo	que	não	queima,	uma	luz	que	não	ilumina.	Logo,	como	só	existe	o
Direito	emanado	do	Estado,	ambos	se	confundem	em	uma	só	realidade.
Foram	 precursores	 do	 monismo	 jurídico	 Hegel,	 Hobbes	 e	 Jean	 Bodin.
Desenvolvida	 por	Rudolf	 von	 Ihering	 e	 John	Austin,	 alcançou	 esta	 teoria	 a
sua	máxima	 expressão	 com	a	 escola	 técnico-jurídica	 liderada	 por	 Jellinek	 e
com	a	escola	vienense	de	Hans	Kelsen.
2.	TEORIA	DUALÍSTICA
Também	 chamada	 pluralística,	 que	 sustenta	 serem	 o	 Estado	 e	 o	 Direito
duas	realidades	distintas,	independentes	e	inconfundíveis.
Para	os	dualistas	o	Estado	não	é	a	fonte	única	do	Direito	nem	com	este	se
confunde.	 O	 que	 provém	 do	 Estado	 é	 apenas	 uma	 categoria	 especial	 do
Direito:	 o	 direito	 positivo.	 Mas	 existem	 também	 os	 princípios	 de	 direito
natural,	 as	 normas	 de	 direito	 costumeiro	 e	 as	 regras	 que	 se	 firmam	 na
consciência	 coletiva,	 que	 tendem	 a	 adquirir	 positividade	 e	 que,	 nos	 casos
omissos,	o	Estado	deve	acolher	para	 lhes	dar	 jurisdicidade.	Além	do	Direito
não	 escrito	 existem	 o	Direito	 canônico,	 que	 independe	 da	 força	 coativa	 do
poder	 civil,	 e	 o	Direito	das	 associações	menores,	 que	o	Estado	 reconhece	 e
ampara.
Afirma	esta	corrente	que	o	Direito	é	criação	social,	não	estatal.	Ele	traduz,
no	 seu	desenvolvimento,	 as	mutações	que	 se	operam	na	vida	de	cada	povo,
sob	 a	 influência	 das	 causas	 éticas,	 psíquicas,	 biológicas,	 científicas,
econômicas	 etc.	 O	 Direito,	 assim,	 é	 um	 fato	 social	 em	 contínua
transformação.	A	função	do	Estado	é	a	de	positivar	o	Direito,	isto	é,	traduzir
em	normas	escritas	os	princípios	que	se	firmam	na	consciência	social.
O	dualismo	(ou	pluralismo),	partindo	de	Gierke	e	Gurvitch,	ganhou	terreno
com	a	doutrina	de	Léon	Duguit,	o	qual	condenou	 formalmente	a	concepção
monista,	 admitiu	 a	 pluralidade	 das	 fontes	 do	Direito	 positivo	 e	 demonstrou
que	as	normas	jurídicas	têm	sua	origem	no	corpo	social.
Desdobrou-se	o	pluralismo	nas	correntes	sindicalistas	e	corporativistas,	e,
principalmente,	 no	 institucionalismo	 de	 Hauriou	 e	 Rennard,	 culminando,
afinal,	 com	 a	 preponderante	 e	 vigorosa	 doutrina	 de	 Santi	 Romano,	 que	 lhe
deu	um	alto	teor	de	precisão	científica.
3.	TEORIA	DO	PARALELISMO
Segundo	 a	 qual	 o	 Estado	 e	 o	 Direito	 são	 realidades	 distintas,	 porém
necessariamente	interdependentes.
Esta	 terceira	 corrente,	 procurando	 solucionar	 a	 antítese	 monismo-
pluralismo,	 adotou	 a	 concepção	 racional	 da	 graduação	 da	 positividade
jurídica,	defendida	com	raro	brilhantismo	pelo	eminente	mestre	de	Filosofia
do	Direito	na	Itália,	Giorgio	Del	Vecchio.
Reconhece	 a	 teoria	 do	 pluralismo	 a	 existência	 do	 direito	 não	 estatal,
sustentando	 que	 vários	 centros	 de	 determinação	 jurídica	 surgem	 e	 se
desenvolvem	 fora	do	Estado,	 obedecendo	 a	uma	graduação	de	positividade.
Sobre	todos	estes	centros	particulares	do	ordenamento	jurídico,	prepondera	o
Estado	 como	centro	 de	 irradiação	 da	 positividade.	O	 ordenamento	 jurídico
do	 Estado,	 afirma	 Del	 Vecchio,	 representa	 aquele	 que,	 dentro	 de	 todos	 os
ordenamentos	 jurídicos	 possíveis,	 se	 afirma	 como	 o	 “verdadeiramente
positivo”,	em	razão	da	sua	conformidade	com	a	vontade	social	predominante.
A	 teoria	 do	 paralelismo	 completa	 a	 teoria	 pluralista,	 e	 ambas	 se
contrapõem	com	vantagem	à	 teoria	monista.	Efetivamente,	Estado	e	Direito
são	 duas	 realidades	 distintas	 que	 se	 completam	 na	 interdependência.	 Como
demonstra	o	Prof.	Miguel	Reale,	a	teoria	do	sábio	mestre	da	Universidade	de
Roma	coloca	em	termos	racionais	e	objetivos	o	problema	das	relações	entre	o
Estado	e	o	Direito,	que	 se	apresenta	como	um	dos	pontos	de	partida	para	o
desenvolvimento	atual	do	Culturalismo,	como	mais	adiante	se	esclarece.
Na	equação	dos	termos	Estado—Direito	é	necessário	 ter	sempre	em	vista
esses	três	troncos	doutrinários,	dos	quais	emana	toda	a	ramificação	de	teorias
justificativas	do	Estado	e	do	Direito,	como	exporemos	em	capítulo	especial.
II
TEORIA	TRIDIMENSIONAL	DO	ESTADO	E	DO
DIREITO
1.	Noção	fundamental.
1.	NOÇÃO	FUNDAMENTAL
Como	 vimos	 no	 esquema	 antecedente,	 entre	 as	 correntes	 monistas	 (ou
estatistas),	num	extremo,	e	as	correntes	dualísticas	(ou	pluralísticas),	no	outro
extremo,	estabeleceu-se,	modernamente,	uma	corrente	eclética	(paralelística)
que	se	situa	numa	posição	de	relativo	equilíbrio	entre	os	citados	extremos.
A	esta	posição	central,	 de	equilíbrio,	prende-se	a	 concepção	 institucional
do	 Estado,	 que	 atinge	 a	 sua	 maior	 expressão	 na	 concepção	 culturalista	 do
Estado	e	do	Direito,	desenvolvida	com	amplitude	e	invulgar	brilhantismo	pelo
Prof.	Miguel	Reale.
O	 culturalismo,	 segundo	 as	 palavras	 do	 excelso	 mestre,	 integra-se	 no
historicismo	 contemporâneo	 e	 aplica,	 no	 estudo	do	Estado	 e	 do	Direito,	 os
princípios	 fundamentais	 da	 axiologia,	 ou	 seja,	 da	 teoria	 dos	 valores	 em
função	dos	graus	da	evolução	social.
Nessa	linha	de	raciocínio	se	desenvolve	a	teoria	tridimensional	do	Estado	e
do	 Direito,	 que	 tende	 a	 solucionar,	 pela	 clareza	 metodológica,	 todos	 os
conflitos	 doutrinários	 radicais.	 A	 realidade	 estatal,	 como	 o	 Direito,	 é	 uma
síntese,	ou	integração	do	“ser”	e	do	“dever	ser”;	é	 fato	e	é	norma,	pois	é	o
FATO	integrado	na	NORMA	exigida	pelo	VALOR	a	realizar.
Em	 resumo,	 o	 Estado	 não	 é	 apenas	 um	 sistema	 geral	 de	 normas,	 como
pretendem	as	correntes	monistas,	nem	um	fenômeno	puramente	sociológico,
como	 sustentam	 as	 correntes	 pluralísticas.	 É	 uma	 realidade	 cultural
constituída	historicamente	em	virtude	da	própria	natureza	social	do	homem,
que	encontra	a	sua	integração	no	ordenamento	jurídico.
Por	essa	concepção	tridimensional	do	Estado	e	do	Direito,	afasta-se	o	erro
do	formalismo	técnico-jurídico	e	se	compreende	o	verdadeiro	valor	da	 lei	e
da	função	de	governo.
Com	 efeito,	 o	 Estado,	 na	 concepção	 tridimensional,	 não	 é	 somente	 a
organização	fática	do	poder	público,	nem	simplesmente	a	realização	do	fim	da
convivência	social,	como	também	não	se	explica	só	pela	sua	função	de	órgão
produtor	 e	 mantenedor	 do	 ordenamento	 jurídico.	 É	 a	 reunião	 harmônica
desses	 três	 momentos	 ou	 fatores,	 enquanto	 dialeticamente	 se	 compõem	 na
unidade	 concreta	 do	 processo	 histórico-social.	 Os	 três	 elementos	 se
conjugam	e	se	completam	na	integração	da	realidade	estatal,	e	nenhum	deles,
isoladamente,	é	bastante	em	si	para	explicá-la.
Portanto,	FATO,	VALOR	e	NORMA	são	os	três	elementos	(momentos	ou
fatores)	 integrantes	 do	 Estado	 como	 realidade	 sócio-ética-jurídica,	 como
esclarece	o	Prof.	Miguel	Reale:	a)	o	FATO	de	existir	uma	relação	permanente
do	 Poder,	 com	 uma	 discriminação	 entre	 governantes	 e	 governados;	b)	 um
VALOR	ou	um	complexode	valores,	em	virtude	do	qual	o	Poder	se	exerce;	c)
um	complexo	de	NORMAS	que	expressa	a	mediação	do	Poder	na	atualização
dos	valores	da	convivência	social.
A	 caracterização	 apenas	 como	 uma	 realidade	 de	 fato	 leva	 fatalmente	 às
soluções	 monistas,	 desde	 o	 totalismo	 de	 Hobbes	 ao	 realismo	 simplista	 de
Duguit.	Atentando-se	apenas	para	o	aspecto	axiológico,	descamba-se	para	o
idealismo	 platônico	 e	 hegeliano,	 com	 o	 endeusamento	 do	 poder	 público.
Finalmente,	a	se	considerar	o	Estado	somente	pelo	prisma	da	sua	finalidade
parcial	 de	 criador	 e	 ordenador	 das	 normas	 jurídicas,	 incide-se	 no	 erro	 de
desprezar	 a	 realidade	 fático-axiológica,	 espraiando-se	 no	 campo	 raso	 do
materialismo,	 no	 tecnicismo	 jurídico,	 no	 normativismo	 kelseniano	 e	 nas
demais	soluções	de	caráter	monista.
A	 teoria	 tridimensional	 do	 Estado	 e	 do	 Direito	 visa	 contornar	 as
impropriedades	 dessas	 soluções	 parciais.	Correlacionando	FATO,	VALOR	 e
NORMA,	esta	teoria	reúne	os	elementos	essenciais	que	integram	a	realidade
estatal,	em	correspondência	com	o	tríplice	aspecto	da	Teoria	Geral	do	Estado:
a)	o	aspecto	SOCIOLÓGICO,	quando	estuda	a	organização	estatal	como	fato
social;	 b)	 o	 aspecto	 FILOSÓFICO	 (ou	 AXIOLÓGICO),	 quando	 estuda	 o
Estado	 como	 fenômeno	 político-cultural;	 c)	 o	 aspecto	 JURÍDICO,	 quando
encara	o	Estado	como	órgão	central	de	positivação	do	Direito.
Sobre	 a	 matéria,	 que	 é	 vasta	 e	 de	 relevante	 interesse	 para	 o	 estudo	 da
Teoria	 Geral	 do	 Estado,	 voltaremos	 a	 discorrer	 oportunamente,	 com	 mais
pormenores,	nos	pontos	referentes	à	Justificação	do	Estado.
O	 estudo	 da	 Teoria	 Tridimensional	 do	 Estado	 e	 do	 Direito	 é	 de	 suma
importância	na	formação	da	cultura	jurídica,	pelo	que	indicamos	as	seguintes
obras	do	Prof.	Miguel	Reale:	Teoria	do	Direito	e	do	Estado,	Fundamentos	do
Direito	e	Teoria	Tridimensional	do	Direito.
III
DIVISÃO	GERAL	DO	DIREITO
1.	 Direito	 Natural	 e	 Positivo.	 2.	 Direito	 público	 e	 privado.	 3.
Posição	da	Teoria	Geral	do	Estado	no	quadro	geral	do	Direito.
A	exposição	precedente	põe	em	relevo	a	impossibilidade	de	se	conceituar	a
unidade	 estatal	 com	 abstração	 do	 Direito.	 Trata-se	 de	 duas	 realidades
distintas,	interdependentes	e	inseparáveis.	Portanto,	inicialmente,	vamos	fixar
o	quadro	geral	 da	 divisão	do	direito,	 frisando	 a	 posição	da	Teoria	Geral	 do
Estado.
1.	DIREITO	NATURAL	E	POSITIVO
O	Direito	divide-se	primeiramente	em	NATURAL	e	POSITIVO.
Direito	 Natural	 é	 o	 que	 emana	 da	 própria	 natureza,	 independente	 da
vontade	do	homem	(Cícero).	É	invariável	no	espaço	e	no	tempo,	insuscetível
de	 variação	 pelas	 opiniões	 individuais	 ou	 pela	 vontade	 do	 Estado
(Aristóteles).	Ele	reflete	a	natureza	como	foi	criada.	É	anterior	e	superior	ao
Estado,	portanto	conceituado	como	de	origem	divina.
Direito	 Positivo	 é	 o	 conjunto	 orgânico	 das	 condições	 de	 vida	 e
desenvolvimento	do	indivíduo	e	da	sociedade,	dependente	da	vontade	humana
e	 das	 garantias	 dadas	 pela	 força	 coercitiva	 do	 Estado	 (Pedro	 Lessa).	 É	 o
direito	 escrito,	 consubstanciado	 em	 leis,	 decretos,	 regulamentos,	 decisões
judiciárias,	 tratados	 internacionais	 etc.,	 variando	 no	 espaço	 e	 no	 tempo.	 É
obra	 essencialmente	 humana,	 e,	 portanto,	 precária,	 falível	 e	 sujeita	 a
imperfeições.
2.	DIREITO	PÚBLICO	E	PRIVADO
O	Direito	Positivo	divide-se	em	PÚBLICO	e	PRIVADO.
Esta	 divisão	 provém	 do	 velho	 Direito	 Romano,	 e,	 segundo	 a	 definição
lapidar	 de	 Ulpiano	 —	 publicum	 jus	 est	 quod	 ad	 statum	 romanae	 spectat;
privatum	quod	ad	singulorum	utilitatem	pertinet	—,	o	direito	público	é	o	que
regula	 as	 coisas	 do	 Estado;	 o	 direito	 privado	 é	 o	 que	 diz	 respeito	 aos
interesses	particulares.
Nestes	termos,	é	sujeito	de	direito	público	o	Estado	e	de	direito	privado	a
pessoa	(física	ou	jurídica).
Kelsen	negou	 fundamento	 à	 tradicional	 divisão	dicotômica	dos	 romanos,
doutrinando	 que	 todo	 Direito	 é	 público,	 em	 relação	 à	 sua	 origem	 e	 à	 sua
condição	de	validez:	o	direito	provém	sempre	do	Estado	e	não	 tem	eficácia
sem	a	força	coativa	do	poder	estatal.	O	Direito	é	uno	e	indivisível.	A	natureza
das	 suas	 normas	 é	 que	 pode	 visar	 mais	 o	 bem	 comum	 ou	 as	 necessidades
particulares.
Esta	teoria	monística,	adotada	por	Kelsen	e	Jellinek,	não	se	harmoniza	com
a	 realidade.	 O	 Estado	 não	 é,	 absolutamente,	 a	 fonte	 exclusiva	 do	 Direito,
embora	 o	 seja	 da	 lei,	 isto	 é,	 de	 uma	 categoria	 específica	 do	 Direito	 —	 o
direito	estatal.	 Em	verdade,	 o	Estado	 não	 cria	 o	Direito;	 apenas	 verifica	 os
princípios	 que	 os	 usos	 e	 costumes	 consagram,	 para	 traduzi-los	 em	 normas
escritas	 e	 dar-lhes	 eficácia	 extrínseca	 mediante	 sanção	 coercitiva.	 O
legislador,	 como	observou	Celice,	 é	 antes	 uma	 testemunha	que	 certifica,	 do
que	um	obreiro	que	faz	a	lei.
Como	bem	acentuou	Pontes	de	Miranda,	o	Estado	é	um	meio	perfectível,
não	 exclusivo,	 de	 revelação	 das	 normas	 jurídicas.	 Fora	 do	 Estado	 existem
outros	centros	de	determinação	jurídica,	relativamente	autônomos:	as	igrejas,
as	 autarquias	 e	 entidades	 paraestatais,	 os	 clubes	 e	 associações,	 os	 grupos
menores	 em	 geral,	 revestidos	 de	 capacidade	 de	 autodeterminação,	 os	 quais,
sem	prejuízo	da	predominância	do	poder	estatal,	atuam	como	fontes	geradoras
de	normas	jurídicas.
A	 despeito	 das	 críticas	 autorizadas	 de	 Kelsen,	 Duguit,	 Posada,	 Aubry	 e
Rau,	bem	como	de	muitos	outros	gigantes	do	pensamento	jurídico	universal,	a
divisão	 do	 Direito	 em	 público	 e	 privado	 resistiu	 aos	 séculos	 impondo-se	 a
aceitação	das	ciências.
É	lógico	que	o	direito	público	e	o	direito	privado	não	se	acham	separados
por	 um	 abismo,	 como	 bem	 observou	 Fleiner,	 mas	 confundi-los	 numa	 só
realidade	 importaria	em	subverter	uma	 tradição	quase	milenária,	consagrada
pelo	consenso	geral	dos	povos.
Convém	ressaltar,	entretanto,	essa	tendência	do	Estado	moderno	no	sentido
da	 absorção	 do	 direito	 privado	 pelo	 direito	 público,	 passando	 este	 a
superintender,	 cada	 vez	 mais,	 maior	 número	 de	 relações	 jurídicas.	 É	 uma
consequência	lógica	da	decadência	do	individualismo	e	do	crescente	prestígio
das	doutrinas	do	direito	social.	Tal	tendência,	porém,	não	chegará	a	consagrar
a	 teoria	 da	 unidade	 e	 indivisibilidade	 do	 Direito	 sem	 sacrifício	 dos	 mais
salutares	princípios	democráticos.
Foi	 lançada	 por	 Gurvitch,	 ultimamente,	 a	 divisão	 tríplice	 do	 Direito,
acrescentando-se	o	direito	social	como	terceiro	ramo.	Defendem-na	Le	Fur	e
Girke,	 entre	 outros,	 e,	 no	 Brasil,	 Cesarino	 Júnior	 e	 Sousa	 Neto.	 Contratos
coletivos	 de	 trabalho,	 legislação	 industrial,	 federalismo	 econômico,
organização	do	 trabalho,	 sistema	previdenciário	etc.	 formariam	esse	 terceiro
ramo,	 isto	 é,	 o	 chamado	 “direito	 social”.	 Todavia,	 em	 que	 pesem	 os
argumentos	dos	eminentes	mestres,	a	própria	denominação	é	um	pleonasmo.
Todo	e	qualquer	direito,	 seja	público	ou	privado,	há	de	 ser	necessariamente
social.	O	objetivo	do	bem	comum	abrange	tanto	as	relações	de	ordem	pública
como	 as	 de	 ordem	 privada.	 O	 Direito	 em	 geral	 se	 socializou,	 dando	 nova
forma	 de	 equação	 aos	 termos	 “liberdade”	 e	 “autoridade”,	 com	 o	 fim	 de
restabelecer	 o	 equilíbrio	 social	 prejudicado	 pelo	 fracasso	 do	 individualismo
no	campo	político.
Voltemos,	 portanto,	 à	 clássica	 divisão	 dicotômica	 que	 é	 de	 valor
transcendental	 para	 a	 teoria	 e	 a	 prática	 da	 ciência	 jurídica.	 As	 normas
jurídicas	 se	 classificam	 como	 de	 direito	 público	 ou	 privado,	 segundo	 a
predominância	do	interesse	social	ou	particular.
Cada	um	dos	dois	ramos	fundamentais	do	Direito	se	subdivide	em	vários
outros,	como	se	vê	no	quadro	seguinte:
Incluímos	aqui	apenas	os	 ramos	principais	do	direito	público	 interno	que
formam	disciplinas	autônomas	no	currículo	das	Faculdades	de	Direito.	Outros
ramos,	 como	 direito	 tributário,	 direito	 municipal,	 direito	 militar,	 direitoaeronáutico,	 direito	 penitenciário,	 direito	 marítimo,	 direito	 escolar	 e,	 mais
recentemente,	 direito	 previdenciário,	 direito	 do	 consumidor,	 direito	 do
bancário	 etc.,	 tendem	 a	 adquirir	 autonomia	 com	 a	 crescente	 evolução	 do
Estado	moderno.
3.	POSIÇÃO	DA	TEORIA	GERAL	DO	ESTADO	NO	QUADRO	GERAL
DO	DIREITO
O	Direito	Constitucional	—	 ramo	principal	do	direito	público	 interno	—
compreende	uma	parte	geral	e	outra	especial.
A	Teoria	Geral	do	Estado	é	a	parte	geral	do	Direito	Constitucional,	a	sua
estrutura	 teórica.	 Não	 se	 limita	 a	 estudar	 a	 organização	 específica	 de	 um
determinado	Estado,	de	modo	concreto,	mas	abrange	os	princípios	comuns	e
essenciais	 que	 regem	 a	 formação	 e	 a	 organização	 de	 todos	 os	 Estados	 e
Nações,	 nas	 suas	 três	 dimensões:	 sociológica,	 axiológica	 ou	 política,	 e
normativa	 ou	 jurídica.	 Como	 acentuou	 Pedro	 Calmon,	 a	 Teoria	 Geral	 do
Estado	é	exatamente	a	mais	sociológica,	a	mais	histórica,	a	mais	variável	das
esferas	reservadas	à	compreensão	do	fenômeno	da	ordem	coletiva.
Não	é	uma	disciplina	separada,	mas	integrante,	do	Direito	Constitucional.
Daí	a	tendência	atual	de	unificação	das	duas	cátedras	tradicionais,	do	ensino
jurídico,	 sob	 a	 denominação	 única	 de	 Direito	 Constitucional,	 com
desdobramento	 em	 dois	 anos	 no	 currículo	 das	 Faculdades	 de	 Direito:	 o
primeiro,	com	predominância	da	parte	geral,	e	o	segundo,	referente	ao	direito
público	 interno,	 estendendo-se,	 naturalmente,	 ao	 Direito	 Constitucional
Comparado.
IV
TEORIA	GERAL	DO	ESTADO
1.	Conceito.	 2.	Tríplice	aspecto.	 3.	Posição	e	 relação	com	outras
ciências.	4.	Fontes.
1.	CONCEITO
A	 Teoria	 Geral	 do	 Estado	 corresponde	 à	 parte	 geral	 do	 Direito
Constitucional.	 Não	 é	 uma	 ramificação,	 mas	 o	 próprio	 tronco	 deste	 ramo
eminente	do	direito	público.
Identifica-se	 esta	 disciplina	 com	o	 que	 se	 poderia	 denominar	Ciência	do
Estado	 ou	Doutrina	 do	 Estado,	 e,	 como	 tal,	 é	 tão	 antiga	 quanto	 o	 próprio
Estado.	 Atestam	 essa	 antiguidade	 as	 obras	República	 e	As	Leis,	 de	 Platão;
Política,	de	Aristóteles;	e	De	republica	e	De	legibus,	de	Cícero.
A	matéria	política,	sem	dúvida,	é	predominante	na	Teoria	Geral	do	Estado,
decorrendo	deste	 fato	 as	denominações	de	ciência	política,	scienza	 politica,
science	 politique	 e	 political	 science,	 muitas	 vezes	 adotadas	 entre	 os	 povos
latinos	e	ingleses.	Já	Aristóteles	definia:	Política	é	a	Ciência	do	Estado.	Tal
confusão,	porém,	está	rejeitada	pelo	progresso	da	cultura	humana,	que	trouxe
o	 desdobramento	 da	 Ciência	 do	 Estado	 em	 vários	 ramos	 autônomos,	 tais
como	o	direito	internacional,	o	direito	administrativo,	a	economia	política,	a
ciência	 das	 finanças,	 o	 direito	 do	 trabalho	 etc.	 Hoje	 a	 velha	 definição
aristotélica	 teria	 de	 ser	 atualizada,	 como	 observou	 o	 Prof.	Mário	Mazagão:
política	é	o	conjunto	das	ciências	do	Estado.
Ademais,	 a	 política	 é	 uma	 ciência	 prática	 e	 de	 valorização,	 enquanto	 a
Teoria	 (ciência	 ou	 doutrina)	 do	 Estado	 é	 teórica	 e	 não	 valorizadora,	 como
demonstrou	 amplamente	 Hermann	 Heller,	 teorizador	 moderno	 da	 escola
alemã,	 trazendo	 à	 colação	 o	 fato	 de	 que	 o	 economismo	 apolítico	 do	 século
XIX,	limitando-se	quase	totalmente	aos	círculos	das	ciências	econômicas,	tem
chegado	a	esvaziar	a	denominação	de	Ciência	do	Estado.
Sem	embargo	do	seu	conteúdo	parcial	de	natureza	política,	ou	mesmo	da
predominância	 da	matéria	 política,	 a	Teoria	Geral	 do	Estado	não	objetiva	 a
aplicação	 do	 que	 é	 estritamente	 político.	 É	 uma	 ciência	 cultural,	 de	 fundo
eminentemente	 sociológico,	 com	 a	 finalidade	 precípua	 de	 investigar	 a
específica	 realidade	 da	 vida	 estatal,	 nas	 suas	mais	 amplas	 conexões.	Aspira
compreender	o	Estado	na	sua	estrutura	e	 funções,	o	seu	devir	 histórico	e	 as
tendências	da	sua	evolução.
A	denominação	“Teoria	Geral	do	Estado”,	correspondente	à	palavra	alemã
Allegemeinestaatslehre,	tem	merecido	críticas,	principalmente	pelos	que	a	não
encaram	 como	 ciência	 autônoma,	 sendo	 indevido	 o	 qualificativo	 de	 geral.
Vários	 autores	 alemães,	 como	Heller,	 preferiram	a	 denominação	 simples	 de
“Teoria	 do	 Estado”	 —	 Staatslehre.	 E	 Groppali,	 emérito	 mestre	 da
Universidade	 de	 Milão,	 preferiu	 a	 denominação	 de	 Doutrina	 do	 Estado,
suprimindo	 o	 adjetivo	 geral,	 “por	 inútil”,	 visto	 que	 uma	 doutrina,	 pelo
simples	fato	de	existir,	não	pode	ser	senão	geral.
2.	TRÍPLICE	ASPECTO
A	 Teoria	 Geral	 do	 Estado,	 na	 sua	 exata	 conceituação,	 compreende	 um
conjunto	 de	 ciências	 aplicadas	 à	 compreensão	 do	 fenômeno	 estatal,
destacando-se	principalmente	a	Sociologia,	a	Política	e	o	Direito.	Daí	o	 seu
desdobramento,	 geralmente	 aceito,	 em	 Teoria	 Social	 do	 Estado,	 Teoria
Política	do	Estado	e	Teoria	Jurídica	do	Estado.
TEORIA	 SOCIAL	 DO	 ESTADO,	 quando	 analisa	 a	 gênese	 e	 o
desenvolvimento	 do	 fenômeno	 estatal,	 em	 função	 dos	 fatores	 históricos,
sociais	e	econômicos;
TEORIA	 POLÍTICA	 DO	 ESTADO,	 quando	 justifica	 as	 finalidades	 do
governo	em	razão	dos	diversos	sistemas	de	cultura;	e
TEORIA	 JURÍDICA	 DO	 ESTADO,	 quando	 estuda	 a	 estrutura,	 a
personificação	e	o	ordenamento	legal	do	Estado.
Uma	análise	brilhante	e	objetiva	desse	tríplice	aspecto	é	apresentada	pelo
Prof.	Miguel	 Reale,	 acentuando	 que	 a	 Teoria	 Geral	 do	 Estado	 pressupõe	 a
Filosofia	 do	 Direito	 e	 do	 Estado,	 mas	 não	 se	 confunde	 com	 ela.	 Focaliza
amplamente	o	Estado	nos	 seus	 três	aspectos	—	material,	 formal	e	 teológico
—	 ao	mesmo	 tempo	 em	 que	 analisa	 o	 fenômeno	 do	 poder	 como	 realidade
social,	política	e	jurídica.
Assim	 não	 entendem	 as	 correntes	 monistas	 e	 estatistas,	 para	 as	 quais	 a
doutrina	do	Estado	se	reduz	à	ordem	jurídica	simplesmente,	 já	que	Estado	e
Direito	se	confundem	numa	só	realidade.	É	uma	verdade	parcial.
Quer	quanto	ao	Direito	em	particular,	quer	quanto	ao	Estado	em	geral,	 a
teoria	 tridimensional	 reúne	 as	 verdades	 parciais	 numa	 verdade	 integral,
oferecendo	o	conceito	amplo	e	exato	da	Teoria	Geral	do	Estado.
3.	POSIÇÃO	E	RELAÇÃO	COM	OUTRAS	CIÊNCIAS
Embora	se	trate	de	entendimento	controvertido,	a	Teoria	Geral	do	Estado
não	se	subordina	a	nenhuma	das	ciências	gerais.	É	uma	ciência	em	si	mesma,
revestida	de	autonomia,	tanto	mais	quando	considerada	no	seu	tríplice	aspecto
—	sociológico,	político	e	jurídico.	Cabe	defini-la	como	ciência	geral,	como	o
fez	Groppali,	cuja	definição	merece	destaque:
“A	Doutrina	do	Estado	é	a	ciência	geral	que,	enquanto	resume	e	 integra,
em	 uma	 síntese	 superior,	 os	 princípios	 fundamentais	 de	 várias	 ciências
sociais,	jurídicas	e	políticas,	as	quais	têm	por	objetivo	o	Estado	considerado
em	 relação	 a	 determinados	 momentos	 históricos,	 estuda	 o	 Estado	 de	 um
ponto	de	vista	unitário	na	sua	evolução,	na	sua	organização,	nas	suas	formas
mais	 típicas	 com	 a	 intenção	 de	 determinar	 suas	 leis	 formativas,	 seus
fundamentos	e	seus	fins”.
Reúne,	 pois,	 a	 Teoria	 Geral	 do	 Estado,	 numa	 síntese	 superior,	 diversas
ciências,	 umas	 descritivas,	 como	 a	 História	 e	 a	 Sociologia,	 e	 outras
normativas,	 como	 a	 Política,	 a	 Ética,	 a	 Filosofia	 e	 o	 Direito.	 Além	 disso
relaciona-se	de	perto	com	outras	ciências	auxiliares,	das	quais	recebe	valiosos
subsídios,	 como	 a	 Antropologia,	 a	 Biologia,	 a	 Geografia,	 a	 Estatística	 e	 a
Economia	Política.
4.	FONTES
As	fontes	de	estudo	da	Teoria	Geral	do	Estado	se	classificam	em	diretas	e
indiretas:
As	 fontes	diretas,	 segundo	as	 explanações	de	Groppali,	 compreendem	os
dados	 da	 paleontologia	 e	 da	 paleoetnologia,	 os	 dados	 da	 história	 e	 as
instituições	 políticas	 passadas	 e	 vigentes.	 Os	mais	 antigos	 documentos	 que
esclarecem	o	estudo	da	matéria	são	o	“Código	de	Hamurabi”,	rei	da	Babilônia
(2.300	a.C.),	as	leis	de	Manu	da	Índia	(XII	século),	o	“Código	da	China”	(XI
século),	as	leis	de	Zaleuco,	Charondas	e	Sólon	(VII	século),	as	leis	de	Gortina
(V	século)	e	a	“Leidas	XII	Tábuas”	(541	a.C.).
As	 fontes	 indiretas	 ou	 subsidiárias	 compreendem:	 a)	 o	 estudo	 das
sociedades	animais;	b)	o	estudo	das	sociedades	selvagens	contemporâneas;	e
c)	o	estudo	das	sobrevivências.
V
NAÇÃO	E	ESTADO
1.	 Conceito	 de	 Nação.	 2.	 População.	 3.	 Povo.	 4.	 Raça.	 5.
Homogeneidade	do	grupo	nacional.	6.	Conceito	de	Estado.
1.	CONCEITO	DE	NAÇÃO
Nação	 e	 Estado	 são	 duas	 realidades	 distintas	 e	 inconfundíveis.	 E	 essa
distinção	tem	absoluta	importância	no	estudo	da	nossa	disciplina.
A	Nação	é	uma	realidade	sociológica;	o	Estado,	uma	realidade	jurídica.	O
conceito	de	Nação	é	essencialmente	de	ordem	subjetiva,	enquanto	o	conceito
de	Estado	é	necessariamente	objetivo.
Procuraremos	 fixar	 bem	 o	 conceito	 de	 Nação	 cotejando	 a	 definição	 de
Mancini:	una	società	naturali	di	uomini,	da	unitá	di	territorio,	di	origine,	di
costumi	e	di	lingua,	conformata	di	vita	e	di	conscienza	sociale.
Segundo	 esse	 autor,	 são	 os	 seguintes	 os	 fatores	 que	 entram	na	 formação
nacional:	 a)	 naturais	 (territórios,	 unidade	 étnica	 e	 idioma	 comum);	 b)
históricos	 (tradições,	 costumes,	 religião	 e	 leis);	 c)	 psicológicos	 (aspirações
comuns,	consciência	nacional	etc.).
Idêntico	 conceito	 encontramos	 em	 Pradier-Fodéré:	 une	 nation	 est	 la
réunion	en	société	des	habitants	d’une	même	contrée	ayant	le	même	langage,
régis	 par	 les	 mêmes	 lois,	 unis	 par	 l’identité	 d’origine,	 de	 conformation
physique	et	de	dispositions	morales	par	une	longe	communauté	d’intérêts	et
de	sentiments	et	par	une	fusion	d’existence	amenée	par	le	laps	des	siècles.
Renan,	 sempre	 citado	pelos	 sociólogos,	 assim	conceitua	 a	Nação,	 na	 sua
linguagem	 colorida:	 une	 nation	 est	 une	 âme,	 un	 principe	 spirituel.	 Deux
choses	qui,	à	vrai	dire,	n’en	font	qu’une	constituent	cette	âme…	L’une	est	la
possession	 en	 commun	 d’un	 riche	 legs	 de	 souvenirs;	 l’autre	 est	 le
consentement	 actuel,	 le	 desir	 de	 vivre	 ensemble,	 la	 volonté	 de	 continuer	 à
faire	valoir	l’héritage	qu’on	a	reçu	indivis…	avoir	des	gloires	communes	dans
le	passé,	une	volonté	commune	dans	le	présent,	avoir	fait	de	grandes	choses
ensemble,	vouloir	en	faire	encore,	voilà	la	condition	essentielle	pour	être	un
peuple.	Une	grande	agrégation	d’hommes,	saine	d’esprit	et	chaude	de	coeur,
crée	une	conscience	morale	qui	s’appelle	une	nation.
Como	 se	 vê,	 sobre	 os	 fatores	 objetivos	 concorrentes	 preponderam,	 no
conceito	de	Nação,	os	fatores	subjetivos,	mais	ou	menos	imponderáveis.	Com
efeito,	a	humanidade	compõe-se	de	um	conjunto	de	grupos	distintos,	os	quais
se	 localizam	 em	 certas	 e	 determinadas	 regiões	 do	 globo	 terrestre.	 Fatores
éticos,	étnicos,	históricos,	geográficos,	políticos,	econômicos	etc.	determinam
esses	agrupamentos	e	lhes	dão	continuidade.	A	sua	permanência	demorada	em
determinada	 região	 acaba	 por	 imprimir	 nos	 indivíduos	 particularidades
somáticas	e	psíquicas	que	os	distinguem	dos	outros	grupos	humanos.	O	clima,
a	 alimentação,	 a	 água,	 o	 próprio	 cenário	 geográfico	 no	 seu	 conjunto	 se
encarregam	 de	 esculpir	 a	 alma	 e	 o	 corpo	 dos	 elementos	 humanos,
imprimindo-lhes	 esses	 caracteres	 psicofísicos	 comuns	 que	 identificam	 uma
raça	 e	 configuram	 uma	 personalidade	 coletiva.	A	 homogeneidade	 do	 grupo
cria	aquela	solidariedade	dos	semelhantes	a	que	alude	Spencer;	estabelece	um
parentesco	 espiritual,	 na	 expressão	 de	 Hauriou,	 determinando	 uma	 sólida
comunhão	de	ideias,	de	sentimentos	e	de	aspirações,	a	par	do	apego	ao	torrão
natal.
Comentando	 o	 fenômeno	 sociológico	 da	 formação	 das	 nacionalidades,
referiu	Joseph	de	Maistre	que,	viajando	pelo	mundo,	não	encontrou	em	parte
alguma	 o	 homem,	 indistinto,	 incaracterístico,	 universal,	 comum	 a	 todas	 as
latitudes,	mas	em	cada	região	encontrou	o	homem	nacional,	isto	é,	o	chinês,	o
japonês,	o	inglês,	o	beduíno,	o	elemento	humano	típico	de	uma	nacionalidade,
ou	seja,	o	indivíduo	característico	de	uma	unidade	étnico-social.
Assim,	Nação	é	uma	entidade	de	direito	natural	e	histórico.	Conceitua-se
como	 um	 conjunto	 homogêneo	 de	 pessoas	 ligadas	 entre	 si	 por	 vínculos
permanentes	de	sangue,	idioma,	religião,	cultura	e	ideais.
A	Nação	é	anterior	ao	Estado.	Aliás,	pode	ser	definida	como	a	substância
humana	do	Estado.	 Como	 afirmou	Clóvis	Beviláqua,	 o	 agrupamento	 social
precedeu	 aos	 primeiros	 rudimentos	 do	 Estado,	 sendo	 resultante	 da	 ação
combinada	 de	 certos	 instintos	 naturais.	 Pode-se	 dizer,	 como	Miguel	 Reale,
que	a	nação	“é	um	Estado	em	potência”.
A	Nação	pode	perfeitamente	existir	sem	Estado.	A	distinção	entre	as	duas
realidades	mais	se	evidencia	quando	se	tem	em	vista	que	várias	nações	podem
reunir-se	em	um	só	Estado,	assim	como	também	uma	só	Nação	pode	dividir-
se	 em	 vários	 Estados.	 A	 Áustria	 e	 a	 Hungria	 sempre	 foram	 nações
completamente	distintas;	não	obstante,	durante	muito	tempo	formaram	um	só
Estado	 sob	 a	 denominação	 de	 Áustria-Hungria.	 Igualmente,	 a	 Escócia,	 a
Irlanda	 e	 a	 Inglaterra	 foram	nações	 tradicionalmente	diversas	 e	 se	 reuniram
num	só	Estado	que	é	a	Grã-Bretanha.	Por	outro	lado,	a	Nação	italiana	chegou
a	 dividir-se	 em	 cerca	 de	 uma	 dezena	 de	 Estados	 (Roma,	 Nápoles,	 Veneza,
Piemonte	 etc.)	 até	 quando	 foi	 unificada	 em	 1870.	 Também	 a	 Alemanha
dividiu-se	em	vários	Estados,	finalmente	reincorporados	pela	ação	unificadora
de	 Bismarck.	 Daí	 o	 princípio	 dominante	 no	 direito	 internacional	 moderno:
cada	Nação	deve	constituir	um	Estado	próprio.
Antes	de	passarmos	ao	conceito	de	Estado,	convém	esclarecer	os	sentidos
das	palavras	população,	povo	e	raça	—	o	que	favorece	mais	o	entendimento
da	distinção	conceitual	entre	Nação	e	Estado.
2.	POPULAÇÃO
É	 expressão	 que	 envolve	 um	 conceito	 aritmético,	 quantitativo,
demográfico,	pois	designa	a	massa	total	dos	indivíduos	que	vivem	dentro	das
fronteiras	 e	 sob	 o	 império	 das	 leis	 de	 um	 determinado	 país.	 É	 o	 conjunto
heterogêneo	 dos	 habitantes	 de	 um	 país,	 sem	 exclusão	 dos	 estrangeiros,	 dos
apátridas,	dos	súditos	coloniais	etc.	Quando	se	diz	que	a	população	do	Brasil
é	 de	 cem	 milhões,	 por	 exemplo,	 nesse	 número	 não	 figuram	 apenas	 os
brasileiros	(nacionais)	mas	a	massa	total	dos	habitantes.
Os	elementos	de	outras	origens	 (não	nacionais)	poderão	 integrar	o	grupo
nacional	pelo	processo	de	naturalização,	 isto	é,	de	nacionalização,	na	 forma
das	 leis	 próprias.	 Só	 então	 poderão	 exercer	 os	 direitos	 políticos	 que	 são
privativos	dos	nacionais.
3.	POVO
No	 sentido	 amplo,	 genérico,	 equivale	 à	 população.	 Porém,	 no	 sentido
estrito,	 qualificado,	 condiz	 com	o	 conceito	 de	Nação:	povo	brasileiro,	povo
italiano	 etc.	 Com	 este	 entendimento	 foi	 que	 doutrinou	 Cícero	 em	 De
Republica,	 1,25:	 populus	 est	 non	 omnis	 hominum	 coetus,	 quoquo	 modo
congregatus	 sed	 cuetus	 moltitudinis	 iuris	 consensu	 et	 utilitatis	 comunione
sociatus.
4.	RAÇA
Difere	também	do	conceito	de	Nação.	Nação	é	uma	unidade	sociopsíquica,
como	já	vimos,	enquanto	raça	é	uma	unidade	bioantropológica.
Uma	 Nação	 pode	 ser	 formada	 de	 várias	 raças.	 A	 Nação	 brasileira,	 por
exemplo,	constituiu-se	de	três	grupos	étnicos	(lusitano,	africano	e	ameríndio).
Por	 outro	 lado,	 de	 um	 só	 tronco	 racial	 podem	 surgir	 várias	 nações,	 como	é
bastante	comum,	principalmente	no	Continente	Americano.
Portanto,	nem	sempre	coincidem	nação	e	raça.	É	certo	que	no	conceito	de
nação	 entra	 um	 fator	 natural	 que	 é	 o	 vínculo	 de	 sangue,	 mas,	 sobretudo,
predominam	os	fatores	históricos	e	psicológicos.
5.	HOMOGENEIDADE	DO	GRUPO	NACIONAL
Não	 passaremos	 ainda	 ao	 conceito	 de	 Estado	 sem	 antes	 consignar	 outro
esclarecimento:	 A	 Nação	 é	 um	 dos	 elementos	 formadores	 do	 Estado,	 mais
precisamente,	 como	 escreveu	 Carré	 de	Malberg,	 é	 a	 substância	 humana	 do
Estado.	São	três	os	elementos	constitutivos	do	Estado:	população,	território	e
governo.	E	o	elemento	população	envolve	o	requisito	de	homogeneidade,	isto
é,	deve	corresponderao	conceito	de	Nação.
Queiroz	 Lima	 define	 razoavelmente:	O	Estado	 é	 a	 Nação	 politicamente
organizada.	Quer	dizer:	a	população,	 como	elemento	 integrativo	do	Estado,
requer	 o	 atributo	 nacional.	 Não	 resta	 dúvida	 que	 este	 é	 um	 ponto
controvertido	 e	 controvertível.	 No	 mundo	 moderno	 formaram-se	 vários
Estados	 sem	 o	 estágio	 prévio	 de	 um	 processo	 de	 cristalização	 nacional.
Encontramos	várias	e	respeitáveis	contestações	ao	princípio	de	que	a	Nação,
no	seu	exato	sentido	sociológico,	seja	elemento	sine	qua	non	do	Estado,	entre
as	 quais	 se	 destaca	 a	 de	Bigne	 de	Villeneuve.	Nos	 seus	 exemplos	 cita	 este
autor	 o	 Estado	 belga,	 que	 se	 formou	 sem	 que	 existisse	 efetivamente	 uma
Nação	 belga.	 Reúne	 a	 Bélgica	 realmente	 dois	 grupos	 nacionais:	 dos
flamengos	 (de	Flandres)	e	dos	valões,	que	ocupavam	a	parte	 sul-oriental	do
país.	Daí	 a	 definição	 desse	 autor:	 “O	Estado	 é	 a	 unidade	 política	 e	 jurídica
durável,	 constituída	 por	 uma	 aglomeração	 humana,	 formando,	 sobre	 um
território	comum,	um	grupo	independente”.	Dispensa,	como	se	vê,	o	requisito
da	homogeneidade.
Exemplos	não	faltam	em	socorro	dessa	e	de	todas	as	doutrinas.	O	Estado
da	 Califórnia	mesmo,	 nos	 Estados	Unidos	 da	América	 do	Norte,	 não	 foi	 a
organização	 política	 de	 um	grupo	 nacional	 homogêneo;	 resultou	 da	 decisão
tomada	 por	 uma	 assembleia	 de	 garimpeiros	 de	 todas	 as	 origens,	 em	 1849.
Entretanto,	 é	 impróprio	 argumentar	 com	 as	 anomalias	 ou	 com	 as	 exceções
que,	afinal,	não	infirmam	o	princípio	geral	consagrado	pela	ciência.	Ademais,
a	 se	 atentar	 para	 as	 causas	deformadoras	das	 regras	dominantes,	 chega-se	 a
admitir	o	Estado	sem	território,	fato	que	se	verificou	na	Abissínia	e	em	outros
Estados	que,	invadidos	pelas	forças	agressoras,	no	decurso	da	última	guerra,
seus	 governos	 se	 refugiaram	 em	 Londres,	 conservando	 as	 prerrogativas	 de
Estado	na	ordem	internacional.
É	certo,	por	outro	lado,	que	podemos	e	devemos	fixar	a	sociedade	humana
no	momento	preciso	em	que	ela	se	agrupa	numa	determinada	área,	atingindo,
assim,	lenta	ou	precipitadamente,	um	certo	grau	de	diferenciação	política.	De
qualquer	forma,	deve	preexistir	uma	vontade	coletiva	organizada,	qualificável
como	 Nação	 pela	 convergência	 dos	 fatores	 históricos	 e	 psicológicos	 que
influem	no	agrupamento.	O	fator	racial,	como	já	observamos,	é	secundário.
O	 agrupamento	 humano	que,	 num	dado	momento,	 após	 atingir	 um	 certo
grau	de	diferenciação	política,	se	arvora	em	Estado	há	de	ser,	em	regra,	mais
ou	menos	homogêneo.	Essa	homogeneidade	pode	advir	apenas	de	alguns	dos
fatores	históricos	e	psicológicos,	 isto	é,	sem	a	presença	dos	fatores	naturais.
De	 qualquer	 modo,	 como	 bem	 observou	 Del	 Vecchio,	 um	 Estado	 que	 não
corresponda	 a	 uma	Nação	 é	 um	Estado	 imperfeito.	 E	mais:	 um	Estado	 que
não	defenda	e	promova	justamente	o	caráter	nacional	é	um	Estado	ilegítimo.
Em	remate	de	suas	ponderações	afirma	o	ilustre	professor	da	Universidade	de
Roma	 que	 “de	 tudo	 isto	 resulta,	 enfim,	 que	 se	 não	 pode	 ter	 uma	 plena	 e
verdadeira	noção	de	Estado	se	não	se	tiver	distinguido	criticamente	o	direito
ideal	 do	 positivo,	 e	 esta	 distinção	 não	 é	 possível	 sem	 um	 fundamento,
igualmente	crítico,	dos	valores	éticos	em	geral”.
Pela	 mesma	 esteira	 de	 raciocínio	 se	 desenvolvem	 os	 ensinamentos	 de
Groppali:	 a	 homogeneidade	 do	 elemento	 populacional	 reflete	 em	 um
fortalecimento	maior	 dos	 Estados	 assim	 chamados	 nacionais,	 em	 confronto
com	os	ditos	plurinacionais,	 destituídos	de	coesão	 interna	e	 frequentemente
corroídos	pelas	lutas	de	raças	e	tendências.
Finalmente,	 o	 próprio	 direito	 público	 internacional,	 procurando	 uma
fórmula	para	assegurar	a	paz	no	mundo	de	após-guerra,	tem	prestigiado	sobre
todas	as	outras	a	doutrina	das	nacionalidades,	que	consiste	em	reconhecer,	a
cada	 grupo	 nacional	 homogêneo,	 o	 direito	 de	 se	 constituir	 em	 Estado
soberano.	A	história	política	da	Europa,	principalmente,	tem	comprovado	que
a	 constituição	 arbitrária	 de	 pequenos	 Estados,	 dividindo	 ou	 incorporando
nações,	 tem	 sido	 a	 maior	 fonte	 de	 perturbação	 da	 paz	 no	 Continente	 e	 no
mundo.
6.	CONCEITO	DE	ESTADO
Passemos	 ao	 conceito	 de	 Estado.	 Este	 conceito	 vem	 evoluindo	 desde	 a
antiguidade,	 a	 partir	 da	 Polis	 grega	 e	 da	 Civitas	 romana.	 A	 própria
denominação	 de	 Estado,	 com	 a	 exata	 significação	 que	 lhe	 atribui	 o	 direito
moderno,	foi	desconhecida	até	o	limiar	da	Idade	Média,	quando	as	expressões
empregadas	 eram	 rich,	 imperium,	 land,	 terrae	 etc.	 Teria	 sido	 a	 Itália	 o
primeiro	país	a	empregar	a	palavra	Stato,	embora	com	uma	significação	muito
vaga.	A	 Inglaterra,	no	 século	XV,	depois	a	França	e	a	Alemanha,	no	 século
XVI,	usaram	o	termo	Estado	com	referência	à	ordem	pública	constituída.	Foi
Maquiavel,	criador	do	direito	público	moderno,	quem	introduziu	a	expressão,
definitivamente,	na	literatura	científica.
Um	esclarecimento	se	impõe	antes	de	tudo:	Não	há	nem	pode	haver	uma
definição	de	Estado	que	seja	geralmente	aceita.	As	definições	são	pontos	de
vista	 de	 cada	 doutrina,	 de	 cada	 autor.	 Em	 cada	 definição	 se	 espelha	 uma
doutrina.
Um	dos	mais	profundos	 tratadistas	do	direito	público,	que	foi	Bluntschli,
há	 mais	 de	 cem	 anos,	 reconheceu	 ser	 impossível	 deduzir	 um	 conceito	 de
Estado	sem	distinguir	o	Estado-ideia	(ou	Estado-instituição)	do	Estado	como
entidade	histórica,	real,	empírica.	O	primeiro	pertence	à	reflexão	filosófica,	e
o	segundo	é	o	que	se	estuda	no	domínio	dos	fatos	e	da	realidade.
Essa	 concepção	 dualística	 foi	 retomada	 por	 Kelsen,	 embora	 em	 outros
termos.	 Afirma	 o	 líder	 da	 escola	 vienense	 que	 a	 ciência	 política	 encara	 o
Estado	por	dois	ângulos	diversos:	primeiro	como	objeto	de	valoração,	isto	é,
encara	 o	Estado	 como	 deveria	 ou	 não	 deveria	 ser,	 e	 depois	 como	 realidade
social,	 ou	 seja,	 como	 efetivamente	 é.	 Só	 na	 primeira	 hipótese	 o	 estudo	 tem
caráter	 científico.	 Aí	 o	 observador	 se	 guia	 pela	 razão	 e	 pode	 formular	 os
juízos	de	valor.	Na	segunda	hipótese	o	observador	se	guia	pela	realidade.
No	 plano	 político,	 onde	 se	 encara	 o	 Estado	 principalmente	 como	 fato
social,	 os	 conceitos	 emitidos	 pelos	 autores	 decorrem	 das	 construções
doutrinárias.	Uns	consideram	o	Estado	como	organismo	natural	ou	produto	da
evolução	 histórica,	 outros	 como	 entidade	 artificial,	 resultante	 da	 vontade
coletiva	manifestada	em	um	dado	momento.	Uns	o	conceituam	como	objeto
de	 direito	 (doutrinas	 monárquicas),	 outros	 como	 sujeito	 de	 direito,	 como
pessoa	jurídica	(doutrinas	democráticas).	Outros	ainda	o	consideram	como	a
expressão	mesma	do	direito,	incluindo	em	uma	só	realidade	Estado	e	Direito
(teoria	 monista).	 Jellinek	 vê	 no	 Estado	 uma	 dupla	 personalidade,	 social	 e
jurídica,	 enquanto	Kelsen	 e	 seus	 seguidores	 o	 negam	como	 realidade	 social
para	 afirmá-lo	 estritamente	 como	 realidade	 jurídica.	No	mesmo	 sentido	 é	 a
concepção	 de	 Duguit:	 o	 Estado	 é	 criação	 exclusiva	 da	 ordem	 jurídica	 e
representa	uma	organização	da	força	a	serviço	do	direito.
Rudolf	Smend	demonstra	 que	o	Estado	 é	 resultante	 natural	 de	 um	 longo
processo	de	integração:	“O	Estado	atual	é	uma	incessante	luta	de	integração.
Reflete,	 na	 sua	 estrutura,	 forças	 independentes	 que	 congrega	 e	 comanda.	 É
um	 ângulo	 de	 convergência	 de	 todas	 as	 forças	 sociais	 propulsoras,	 sob	 sua
disciplina,	 da	 felicidade	 e	 da	 ordem,	 no	 seio	 da	 comunhão.	 Ausculta	 as
tendências,	as	influências	dos	fenômenos	da	natureza,	imprimindo-lhes	rumo
e	ritmo	dirigidos	à	sua	finalidade”.
Os	 autores	 norte-americanos	 nos	 oferecem	 as	 seguintes	 definições:	 “O
Estado	 é	 uma	 parte	 especial	 da	 humanidade	 considerada	 como	 unidade
organizada”	 (John	 W.	 Burgess);	 “O	 Estado	 é	 uma	 sociedade	 de	 homens
unidos	para	o	fim	de	promover	o	seu	interesse	e	segurança	mútua,	por	meio
da	 conjugação	 detodas	 as	 suas	 forças”	 (Thomaz	M.	Cooley);	 “O	Estado	 é
uma	 associação	 que,	 atuando	 através	 da	 lei	 promulgada	 por	 um	 governo
investido,	 para	 esse	 fim,	 de	 poder	 coercitivo,	 mantém,	 dentro	 de	 uma
comunidade	 territorialmente	 delimitada,	 as	 condições	 universais	 da	 ordem
social”	(R.	M.	Mac	Iver).	Em	todas	se	encerra	a	ideia	democrática	da	origem
nacional	do	poder	público.
Entre	nós	destaca-se,	no	mesmo	sentido	da	doutrina	americana,	a	definição
de	Clóvis	Beviláqua:	“O	Estado	é	um	agrupamento	humano,	estabelecido	em
determinado	território	e	submetido	a	um	poder	soberano	que	 lhe	dá	unidade
orgânica”.
A	 escola	 técnica	 alemã	 considera	 o	Estado	 como	uma	 realidade	 jurídica,
mas	alguns	autores	dessa	mesma	escola	admitem	que	o	Estado	é	também	uma
realidade	 social,	 embora	 apenas	 no	 tocante	 à	 origem	 do	 poder	 que	 se
corporifica	 definitivamente	 na	 organização	 estatal.	 Da	 doutrina	 de	 Von
Ihering	extraiu	Clóvis	este	conceito:	“O	Estado	é	a	sociedade	que	se	coage;	e
para	poder	coagir	é	que	ela	 se	organiza	 tomando	a	 forma	pela	qual	o	poder
coativo	social	 se	exercita	de	um	modo	certo	e	 regular;	em	uma	palavra,	é	a
organização	 das	 forças	 coativas	 sociais”.	 Em	 última	 análise,	 o	 tecnicismo
jurídico	leva	sempre	à	definição	simplista	de	Duguit	—	“O	Estado	é	a	força	a
serviço	do	Direito”.
Em	muitos	pontos	de	nossos	programas	teremos	que	examinar	o	conceito
do	 Estado	 em	 face	 de	 determinadas	 doutrinas.	 Assim	 teremos	 ocasião	 de
verificar	o	conceito	hegeliano	do	Estado	como	suprema	encarnação	da	ideia;
os	conceitos	totalitários	de	todas	as	teorias	que	sorveram	a	seiva	do	Leviatã	de
Hobbes;	a	concepção	do	Estado	como	“super	ser	coletivo”	etc.,	bem	como	a
teoria	fascista,	segundo	a	qual	a	Nação	não	faz	o	Estado,	mas	este	é	que	faz	a
Nação.	 Esta	 teoria,	 por	 exemplo,	 serviu	 aos	 objetivos	 de	 conquista	 do
fascismo,	 que	 ao	 anexar	 a	 Abissínia	 considerou	 o	 povo	 etíope	 como
integrante	 da	 nação	 italiana.	 Nem	 a	 concepção	 anarquista	 deixará	 de	 ser
examinada	no	programa	desta	disciplina.
No	 presente	 ponto	 o	 objetivo	 é	 fixar	 a	 distinção	 entre	 Nação	 e	 Estado,
firmando	o	conceito	da	primeira	e	apenas	abrindo	o	caminho	para	o	conceito
polêmico	do	fenômeno	estatal.
Podemos,	entretanto,	 consignar	a	nossa	concordância	com	a	definição	de
Queiroz	Lima,	condizente	com	a	escola	clássica	francesa:	O	Estado	é	a	Nação
encarada	sob	o	ponto	de	vista	de	sua	organização	política,	ou	simplesmente,	é
a	Nação	politicamente	organizada.
As	definições	que	pretendem	esclarecer	a	natureza	do	poder	e	a	finalidade
do	 Estado	 tornam-se	 complexas	 e	 contraditórias.	 E	 todas	 aquelas	 que
atribuem	ao	Estado	um	fim	em	si	são	contrapostas	à	doutrina	democrática.	O
Estado,	democraticamente	considerado,	é	apenas	uma	instituição	nacional,	um
meio	destinado	à	realização	dos	fins	da	comunidade	nacional.
De	acordo	com	estes	princípios,	considerando	que	só	a	Nação	é	de	direito
natural,	enquanto	o	Estado	é	criação	da	vontade	humana,	e	levando	em	conta
que	o	Estado	não	tem	autoridade	nem	finalidade	próprias,	mas	é	uma	síntese
dos	 ideais	 da	 comunhão	 que	 ele	 representa,	 preferimos	 formular	 o	 seguinte
conceito	simples:	O	Estado	é	o	órgão	executor	da	soberania	nacional.
VI
ELEMENTOS	CONSTITUTIVOS	DO	ESTADO
1.	População.	2.	Território.	3.	Governo.
No	 tocante	 à	 sua	 estrutura	 o	 Estado	 se	 compõe	 de	 três	 elementos:	 a)
população;	b)	território;	c)	governo.
A	 condição	 de	 Estado	 perfeito	 pressupõe	 a	 presença	 concomitante	 e
conjugada	 desses	 três	 elementos,	 revestidos	 de	 características	 essenciais:
população	homogênea,	território	certo	e	inalienável	e	governo	independente.
A	 ausência	 ou	 desfiguração	 de	 qualquer	 desses	 elementos	 retira	 da
organização	 sócio-política	a	plena	qualidade	de	Estado.	É	o	que	ocorre,	por
exemplo,	 com	o	Canadá,	que	deixa	de	 ser	um	Estado	perfeito	porque	o	 seu
governo	 é	 subordinado	 ao	 governo	 britânico,	 como	 integrante	 da
commonwealth.
1.	POPULAÇÃO
A	população	é	o	primeiro	elemento	formador	do	Estado,	o	que	independe
de	justificação.	Sem	essa	substância	humana	não	há	que	cogitar	da	formação
ou	existência	do	Estado.
Cabe	 examinar,	 porém,	o	 requisito	 da	homogeneidade,	 em	 torno	do	qual
giram	as	divergências	doutrinárias,	como	já	foi	visto	no	capítulo	anterior.
Para	 alguns	 autores,	 o	 núcleo	 básico	 formador	 do	 Estado	 é
caracteristicamente	nacional,	isto	é,	corresponde	a	uma	unidade	étnica.	Assim
se	constituíram	os	Estados	antigos	e	tradicionais,	como	Israel,	Roma,	Grécia,
China	 etc.,	 os	 quais	 teriam	 surgido	 como	 unidades	 políticas	 através	 dos
diversos	e	sucessivos	estágios	da	formação	nacional:	 família,	 tribo,	cidade	e
Estado.
Outros,	 porém,	 sustentam	 que	 o	 elemento	 população	 se	 entende,	 em
sentido	 amplo	 e	 puramente	 formal,	 como	 reunião	 de	 indivíduos	 de	 várias
origens,	 os	 quais	 se	 estabelecem	 num	 determinado	 território,	 com	 ânimo
definitivo,	e	aí	se	organizam	politicamente.	Argumentam	esses	autores,	entre
os	quais	se	destaca	Bigne	de	Villeneuve,	que	muitos	Estados,	como	a	Suíça,	a
Áustria,	a	Bélgica,	 reuniram	porções	de	povos	diferentes,	 sendo	certo	que	a
Bélgica	se	 formou	sem	que	existisse	 realmente	uma	nação	belga.	A	própria
nacionalidade	 italiana	 teria	 resultado	de	uma	 fusão	de	grupos	étnicos,	como
os	 umbros,	 os	 samnitas,	 os	 lígures,	 os	 etruscos	 etc.	 Citam	 exemplos	 mais
recentes,	entre	os	quais	os	da	República	Islandesa	e	do	Estado	da	Califórnia,
este	 criado	 por	 resolução	 de	 uma	 assembleia	 heterogênea	 de	 garimpeiros.
Além	 disso,	 segundo	Roger	Bonnard,	 a	 noção	 étnica	 é	 essencialmente	 uma
noção	 racista,	 e	 não	 existem	 grupos	 étnicos	morfologicamente	 homogêneos
que	possam	integrar	uma	determinada	nação.
Entretanto,	 o	 requisito	 da	 homogeneidade	 do	 agrupamento	 humano
constitutivo	 do	 Estado	 não	 envolve	 a	 ideia	 de	 raça,	 pelo	menos	 no	 sentido
biológico	 ou	 antropológico.	 Não	 pretendemos	 levar	 em	 conta	 a
homogeneidade	 racial,	 como	 fizeram	 os	 teóricos	 do	 nacional-socialismo
alemão.	 Só	 no	 sentido	 psicossociológico	 é	 que	 falamos	 em	 raça	 na
conceituação	das	nacionalidades.
Insistimos,	 assim,	 no	 requisito	 da	 homogeneidade	 em	 relação	 ao	 fator
população.	 A	 base	 humana	 do	 Estado	 há	 de	 ser,	 em	 regra,	 uma	 unidade
étnico-social	 que,	 embora	 integrada	 por	 tipos	 raciais	 diversos,	 vai	 se
formando	 como	 unidade	 política	 através	 de	 um	 lento	 processo	 de
estratificação,	de	fusão	dos	elementos	no	cadinho	da	convivência	social.
Os	 Estados	 criados	 arbitrariamente,	 por	 deliberação	 ocasional	 de
aglomerados	heterogêneos,	como	aqueles	criados	por	imposição	de	tratados	e
convenções	 internacionais,	sempre	 tiveram	existência	precária	e	 tumultuada.
Separando	 nações	 ou	 reunindo	 povos	 diversos,	 ao	 sabor	 da	 vontade	 das
grandes	potências,	como	se	vê	pelos	sucessivos	mapas	da	Europa,	tais	Estados
nunca	 lograram	 apresentar	 aquela	 firmeza	 durável	 dos	 Estados	 tradicionais.
Os	 que	 originariamente	 surgiram	 com	 base	 numa	 população	 nacional,
homogênea,	vêm	atravessando	os	séculos	e	os	milênios	ostentando	um	caráter
majestoso	de	eternidade.
Os	Estados	plurinacionais	ou	não	nacionais	são	Estados	imperfeitos,	como
acentua	 Del	 Vecchio,	 e	 só	 sobrevivem,	 em	 regra,	 quando	 tendem	 a	 se
legitimar	defendendo	e	promovendo	a	unificação	nacional.
Via	de	regra,	portanto,	o	Estado	sucede	ao	processo	de	formação	nacional,
ou	tende	a	realizar	essa	formação	como	base	de	sobrevivência.
Em	nenhum	Estado	seria	 lógico	confundir	população,	 em	sentido	amplo,
com	 a	 unidade	 nacional,	 pois	 só	 esta	 detém	 legitimamente	 o	 poder	 de
soberania	como	direito	subjetivo	absoluto.	Para	a	escola	clássica	francesa	da
soberania	 nacional,	 principalmente,	 a	 distinção	 é	 de	 importância	 primacial.
Interpretando-a	 objetivamente,	 viu	 Rousseau,	 no	 indivíduo,	 uma	 dupla
qualidade:	a	de	cidadão	membro	ativo	doEstado	e	elemento	componente	da
vontade	geral,	e	a	de	súdito,	pessoa	inteiramente	subordinada	a	essa	vontade
geral,	soberana.	A	igualdade	de	todos	perante	a	lei	compreende-se	na	esfera
dos	direitos	políticos	(ou	de	cidadania);	só	os	exercem	os	elementos	nacionais
ou	nacionalizados.	Os	estrangeiros,	que	integram	a	massa	total	da	população,
não	participam	na	formação	da	vontade	política	nacional,	em	regra.
2.	TERRITÓRIO
O	 território	é	 a	base	 física,	o	âmbito	geográfico	da	nação,	onde	ocorre	a
validade	da	sua	ordem	jurídica	—	definiu	Hans	Kelsen.
A	nação,	como	realidade	sociológica,	pode	subsistir	sem	território	próprio,
sem	se	constituir	em	Estado,	como	ocorreu	com	a	nação	judaica	durante	cerca
de	 dois	 mil	 anos,	 desde	 a	 expulsão	 de	 Jerusalém	 até	 a	 recente	 partilha	 da
Palestina.	Porém,	Estado	sem	território	não	é	Estado.
Para	Duguit	e	Le	Fur	o	território	não	é	elemento	necessário	à	existência	de
um	 Estado.	 Invocam	 eles	 o	 direito	 internacional	 moderno,	 que	 tem
reconhecido	 a	 existência	 de	 Estados	 sem	 território,	 como	 nos	 casos	 do
Vaticano,	 depois	 da	 unificação	 italiana;	 do	 Grão-Priorado	 de	 Malta;	 da
Abissínia;	 e	 de	 todos	 os	 governos	 que	 se	 refugiaram	 em	 Londres	 em
consequência	das	invasões	do	chamado	“Eixo	Roma-Berlim”.
Não	 passaram	 tais	 Estados,	 porém,	 de	mera	 ficção.	Não	 existiram	 senão
em	caráter	precário,	em	período	de	anormalidade	internacional.	Deveram	eles
a	sua	vida	às	conveniências	momentâneas	das	potências	que	os	reconheceram
e	ampararam	sob	os	imperativos	do	momento	histórico.	Foram	exceções	que
não	infirmam	a	regra.
O	Estado	moderno	é	rigorosamente	territorial,	afirma	Queiroz	Lima.	Esse
elemento	 físico,	 tanto	 quanto	 os	 dois	 outros	—	 população	 e	 governo	—,	 é
indispensável	 à	 configuração	 do	 Estado,	 segundo	 as	 concepções	 pretérita	 e
atual	do	direito	público.
As	 populações	 nômades	 não	 podem	 possuir	 individualidade	 política	 na
atual	 concepção	 do	 Estado.	 Dentre	 os	 autores	 que	 sustentam	 não	 ser	 o
território	 elemento	 necessário	 à	 existência	 do	 Estado	 merecem	 destaque
Eduardo	Meyer	e	D.	Donati,	os	quais	alinham,	em	abono	de	sua	tese,	vários
exemplos:	 os	 atenienses,	 quando	 tiveram	 as	 suas	 cidades	 ocupadas	 pelos
persas,	refugiaram-se	nos	navios	de	Milcíades,	mantendo	a	sobrevivência	dos
seus	 Estados;	 os	 holandeses,	 expulsos	 pelo	 exército	 de	 Luiz	 XIV,
conservaram	 íntegra	 a	 sua	 organização	 política	 além	 das	 suas	 fronteiras
tradicionais;	os	sérvios,	vencidos	pelas	tropas	austro-húngaras,	permaneceram
politicamente	constituídos;	o	Estado	belga	do	Havre,	o	Estado	sérvio	de	Corfu
e	Salônica,	 o	Estado	 tcheco-eslovaco	 são	 outros	 tantos	 exemplos	 invocados
pelos	citados	autores.
Tais	Estados	nômades,	 porém,	não	 se	 justificam,	porque	 são	 transitórios.
Seria	preciso	distinguir,	como	observa	Groppali,	a	perda	territorial	de	fato	por
ocupações	 temporárias	 de	 guerra,	 da	 perda	 jurídica	 e	 permanente.	 Nos
exemplos	 citados	 não	 houve	 perda	 definitiva	 do	 território,	 de	 sorte	 que	 as
organizações	políticas	puderam	subsistir	e	superar	o	momento	de	crise.
Ademais,	em	verdade,	 subsistiram	as	nações	 ateniense,	holandesa,	 sérvia
etc.,	não	os	Estados,	que	temporariamente	desapareceram.
O	 território	 é	 patrimônio	 sagrado	 e	 inalienável	 do	 povo,	 frisa	 Pedro
Calmon.	É	 o	 espaço	 certo	 e	 delimitado	 onde	 se	 exerce	 o	 poder	 do	 governo
sobre	os	indivíduos.	Patrimônio	do	povo,	não	do	Estado	como	instituição.	O
poder	diretivo	se	exerce	sobre	as	pessoas,	não	sobre	o	território.	Tal	poder	é
de	 imperium,	 não	 de	 dominium.	 Nada	 tem	 em	 comum	 com	 o	 direito	 de
propriedade.	 A	 autoridade	 governamental	 é	 de	 natureza	 eminencialmente
política,	de	ordem	jurisdicional.
O	território,	sobre	o	qual	se	estende	esse	poder	de	jurisdição,	representa-se
como	uma	grandeza	a	três	dimensões,	abrangendo	o	suprassolo,	o	subsolo	e	o
mar	territorial.
Alguns	autores	o	dividem	em	terrestre,	marítimo	e	fluvial.
Tendo	 em	 vista	 o	 seu	 exato	 conceito	 de	 espaço	 de	 validade	 da	 ordem
jurídica,	 podemos	 destrinçá-lo	 nos	 elementos	 que	 o	 integram:	 a)	 o	 solo
contínuo	e	delimitado,	ocupado	pela	corporação	política;	b)	o	 solo	 insular	e
demais	 regiões	 separadas	 do	 solo	 principal;	 c)	 os	 rios,	 lagos	 e	 mares
interiores;	d)	os	golfos,	baías,	portos	e	ancoradouros;	e)	a	parte	que	o	direito
internacional	 atribui	 a	 cada	 Estado	 nos	 rios	 e	 lagos	 divisórios;	 f)	 o	 mar
territorial	e	 respectiva	plataforma	marítima;	g)	o	subsolo;	h)	o	 espaço	aéreo
(suprassolo);	i)	os	navios	mercantes	em	alto	mar;	j)	os	navios	de	guerra	onde
quer	que	se	encontrem;	 l)	os	edifícios	das	embaixadas	e	 legações	em	países
estrangeiros.
Segundo	 a	 tendência	moderna	 do	 direito	 internacional,	 à	 vista	 das	 novas
conquistas	 científicas,	 o	 domínio	 do	 suprassolo	 se	 estende	 ilimitadamente,
usque	ad	sidera,	assim	como	o	do	subsolo	se	aprofunda	usque	ad	inferos.
No	tocante	ao	mar	 territorial,	a	determinação	da	zona	 limítrofe	é	questão
amplamente	 debatida.	 Antigamente	 prevalecia	 a	 fórmula	 preconizada	 pela
escola	 do	 direito	 natural:	 terrae	 potestas	 finitur	 ubi	 finitur	 armorum	 vis	—
cessa	o	poder	territorial	onde	cessa	a	força	das	armas.	Adotava-se	o	limite	de
três	milhas	marítimas,	que	era	o	alcance	da	artilharia	costeira,	posteriormente
ampliado	para	doze	milhas.
Atualmente,	invocando	não	só	os	interesses	da	defesa	externa	mas	também
os	de	exploração	econômica,	os	Estados,	como	o	Brasil,	Argentina,	Uruguai,
Chile,	Equador	e	outros,	vêm	adotando	o	limite	de	duzentas	milhas	marítimas.
3.	GOVERNO
O	 governo	 —	 terceiro	 elemento	 do	 Estado	 —	 é	 uma	 delegação	 de
soberania	 nacional,	 no	 conceito	metafísico	 da	 escola	 francesa.	 É	 a	 própria
soberania	posta	em	ação,	no	dizer	de	Esmein.
Segundo	 a	 escola	 alemã,	 é	 um	 atributo	 indispensável	 da	 personalidade
abstrata	do	Estado.
Positivamente,	 é	 o	 conjunto	 das	 funções	 necessárias	 à	 manutenção	 da
ordem	jurídica	e	da	administração	pública.
Ensina	Duguit	 que	 a	 palavra	 governo	 tem	 dois	 sentidos:	 coletivo,	 como
conjunto	de	órgãos	que	presidem	a	vida	política	do	Estado,	e	singular,	como
poder	 executivo,	 “órgão	 que	 exerce	 a	 função	 mais	 ativa	 na	 direção	 dos
negócios	públicos”	—	o	que,	neste	capítulo,	é	irrelevante.
A	conceituação	de	governo	depende	dos	pontos	de	vista	doutrinários,	mas
exprime	sempre	o	exercício	do	poder	soberano.	Daí	a	confusão	muito	comum
entre	 governo	 e	 soberania.	 O	 professor	 Sampaio	 Dória,	 por	 exemplo,
menciona	 como	 elementos	 constitutivos	 do	 Estado:	 população,	 território	 e
soberania,	já	que,	nesta	última,	está	implícita	a	organização	governamental.
Outros	autores	incluem	a	soberania	como	quarto	elemento.	Não	nos	parece
aceitável	 nem	 lógica	 essa	 inclusão,	 porquanto	 a	 soberania	 é	 exatamente	 a
força	 geradora	 e	 justificadora	 do	 elemento	 governo.	 Este	 pressupõe	 a
soberania.	É	seu	requisito	essencial	a	 independência,	 tanto	na	ordem	interna
como	na	ordem	externa.	Se	o	governo	não	é	independente	e	soberano,	como
ocorre	 no	Canadá,	 na	Austrália,	 na	África	 do	 Sul	 etc.,	 não	 existe	 o	 Estado
perfeito.	Faltando	uma	característica	essencial	de	qualquer	dos	três	elementos
—	população,	território	e	governo	—	o	que	se	tem	é	um	Semiestado.	E	assim,
na	noção	do	Estado	perfeito	está	implícita	a	ideia	de	soberania.
VII
SOBERANIA
1.	Conceito.	 2.	Fonte	 do	 poder	 soberano.	 3.	 Teoria	 da	 soberania
absoluta	 do	 rei.	 4.	 Teoria	 da	 soberania	 popular.	 5.	 Teoria	 da
soberania	 nacional.	 6.	 Teoria	 da	 soberania	 do	 Estado.	 7.	 Escolas
alemã	 e	 austríaca.	 8.	 Teoria	 negativista	 da	 soberania.	 9.	 Teoria
realista	ou	institucionalista.	10.	Limitações.
1.	CONCEITO
A	 exata	 compreensão	 do	 conceito	 de	 soberania	 é	 pressuposto	 necessário
para	 o	 entendimento	 do	 fenômeno	 estatal,	 visto	 que	 não	 há	Estado	 perfeito
sem	soberania.	Daí	haver	Sampaio	Dória	dado	ao	Estadoa	definição	simplista
de	organização	da	soberania.
Como	 vimos	 no	 capítulo	 anterior,	 aos	 três	 elementos	 constitutivos	 do
Estado	—	população,	 território	 e	governo	—	 alguns	 autores	 pretenderam	 a
inclusão	da	soberania	como	quarto	elemento.	Sem	razão,	porém,	visto	que	a
soberania	se	compreende	no	exato	conceito	de	Estado.	Estado	não	soberano
ou	 semissoberano	 não	 é	 Estado.	 Até	 mesmo	 o	 Canadá	 e	 a	 Austrália,	 com
amplo	 poder	 de	 autogoverno,	 se	 classificam	 como	 “Colônias	 Autônomas”,
por	se	subordinarem	à	Coroa	Britânica.
Soberania	 é	 uma	 autoridade	 superior	 que	 não	 pode	 ser	 limitada	 por
nenhum	outro	poder.
Ressalta	 logo	à	evidência	que	não	são	soberanos	os	Estados	membros	de
uma	 Federação.	 O	 próprio	 qualificativo	 de	 membro	 afasta	 a	 ideia	 de
soberania.	O	poder	supremo	é	investido	no	órgão	federal.	Conseguintemente,
convencionou-se	 na	 própria	 Constituinte	 de	 Filadélfia,	 onde	 se	 instituiu	 o
regime	 federalista,	 que	 as	 unidades	 estatais	 integrantes	 da	 União	 se
denominariam	Estados-Membros,	com	autonomia	de	direito	público	 interno,
sendo	privativo	da	União	o	poder	de	soberania	interna	e	internacional.	Aliás,
é	mais	apropriada	a	denominação	de	Província,	para	as	unidades	federadas.
Alguns	 teóricos	 do	 federalismo	 norte-americano	 atribuem	 aos	 Estados-
Membros	soberania	de	direito	 interno…	o	que	é	 rematada	 incongruência.	A
soberania	é	uma	só,	una,	 integral	 e	universal.	Não	pode	 sofrer	 restrições	de
qualquer	 tipo,	 salvo,	 naturalmente,	 as	 que	 decorrem	 dos	 imperativos	 de
convivência	pacífica	das	nações	soberanas	no	plano	do	direito	internacional.
Soberania	 relativa	 ou	 condicionada	 por	 um	 poder	 normativo	 dominante
não	é	soberania.	Deve	ser	posta	em	termos	de	autonomia,	no	contexto	geral
do	Direito.
Denominava-se	o	poder	de	soberania,	entre	os	romanos,	suprema	potestas.
Era	 o	 poder	 supremo	 do	 Estado	 na	 ordem	 política	 e	 administrativa.
Posteriormente,	passaram	a	denominá-lo	poder	de	 imperium,	com	amplitude
internacional.
Etimologicamente,	 o	 termo	 soberania	 provém	 de	 superanus,	 supremitas,
ou	 super	 omnia,	 configurando-se	 definitivamente	 através	 da	 formação
francesa	 souveraineté,	 que	 expressava,	 no	 conceito	 de	 Bodin,	 “o	 poder
absoluto	e	perpétuo	de	uma	República”.
Historicamente,	é	bastante	variável	a	formulação	do	conceito	de	soberania,
no	 tempo	 e	 no	 espaço.	 No	 Estado	 grego	 antigo,	 como	 se	 nota	 na	 obra	 de
Aristóteles,	 falava-se	 em	 autarquia,	 significando	 um	 poder	 moral	 e
econômico,	 de	 autossuficiência	 do	Estado.	 Já	 entre	 os	 romanos,	 o	 poder	 de
imperium	 era	 um	 poder	 político	 transcendente	 que	 se	 refletia	 na	majestade
imperial	 incontrastável.	Nas	monarquias	medievais	era	o	poder	de	suserania
de	fundamento	carismático	e	intocável.	No	absolutismo	monárquico,	que	teve
o	seu	climax	em	Luiz	XIV,	a	soberania	passou	a	ser	o	poder	pessoal	exclusivo
dos	 monarcas,	 sob	 a	 crença	 generalizada	 da	 origem	 divina	 do	 poder	 de
Estado.	 Finalmente,	 no	 Estado	 moderno,	 a	 partir	 da	 Revolução	 Francesa,
firmou-se	o	conceito	de	poder	político	e	 jurídico,	emanado	da	vontade	geral
da	nação.
Segundo	 o	 magistério	 superior	 de	 Miguel	 Reale,	 a	 soberania	 é	 “uma
espécie	de	 fenômeno	genérico	do	poder.	Uma	 forma	histórica	 do	poder	 que
apresenta	 configurações	 especialíssimas	 que	 se	 não	 encontram	 senão	 em
esboços	nos	corpos	políticos	antigos	e	medievos”.
O	 Prof.	 Pinto	 Ferreira	 nos	 dá	 um	 conceito	 normativo	 ético-jurídico:	 é	 a
capacidade	 de	 impor	 a	 vontade	 própria,	 em	 última	 instância,	 para	 a	 rea-
lização	do	direito	justo.
No	 mesmo	 sentido	 é	 o	 conceito	 de	 Clóvis	 Beviláqua:	 por	 soberania
nacional	 entendemos	 a	 autoridade	 superior,	que	 sintetiza,	 politicamente,	 e
segundo	os	preceitos	de	direito,	a	energia	coativa	do	agregado	nacional.
2.	FONTE	DO	PODER	SOBERANO
Problema	dominante,	neste	tema,	é	o	que	diz	respeito	à	fonte	do	poder	de
soberania	e,	consequentemente,	o	problema	da	sua	titularidade.	Para	as	teorias
carismáticas	do	direito	divino	(sobrenatural	ou	providencial)	dos	reis,	o	poder
vem	de	Deus	e	se	concentra	na	pessoa	sagrada	do	soberano.	Para	as	correntes
de	 fundo	 democrático,	 a	 soberania	 provém	 da	 vontade	 do	 povo	 (teoria	 da
soberania	 popular)	 ou	 da	 nação	 propriamente	 dita	 (teoria	 da	 soberania
nacional).	Para	as	escolas	alemã	e	vienense,	 a	 soberania	provém	do	Estado,
como	entidade	jurídica	dotada	de	vontade	própria	(teoria	da	soberania	estatal).
Desdobram-se	 estes	 troncos	 doutrinários	 em	 várias	 ramificações,	 formando
uma	variedade	imensa	de	escolas	e	doutrinas,	de	modo	que	não	seria	possível
focalizar	 todas	 elas	 no	 âmbito	 restrito	 do	 programa	 escolar	 a	 que	 nos
cingimos.
Daremos,	a	 seguir,	uma	súmula	de	cada	corrente	principal,	 remetendo	os
estudiosos	às	obras	dos	grandes	mestres	brasileiros,	que	esgotam	o	assunto,
como	Miguel	Reale	e	Pinto	Ferreira,	especialmente	à	esplêndida	monografia
de	Machado	Paupério	—	O	conceito	polêmico	de	soberania.
3.	TEORIA	DA	SOBERANIA	ABSOLUTA	DO	REI
A	 teoria	 da	 soberania	 absoluta	 do	 rei	 começou	 a	 ser	 sistematizada	 na
França,	 no	 século	 XVI,	 tendo	 como	 um	 dos	 seus	mais	 destacados	 teóricos
Jean	 Bodin,	 que	 sustentava:	 a	 soberania	 do	 rei	 é	 originária,	 ilimitada,
absoluta,	perpétua	e	irresponsável	em	face	de	qualquer	outro	poder	temporal
ou	espiritual.
Esta	 teoria	é	de	fundamento	histórico	e	 lança	suas	 raízes	nas	monarquias
antigas	 fundadas	 no	 direito	 divino	 dos	 reis.	 Eram	 os	 monarcas	 acreditados
como	 representantes	 de	 Deus	 na	 ordem	 temporal,	 e	 na	 sua	 pessoa	 se
concentravam	todos	os	poderes.	O	poder	de	soberania	era	o	poder	pessoal	do
rei	e	não	admitia	limitações.
Firmou-se	 esta	 doutrina	 da	 soberania	 absoluta	 do	 rei	 nas	 monarquias
medievais,	 consolidando-se	 nas	monarquias	 absolutistas	 e	 alcançando	 a	 sua
culminância	na	doutrina	de	Maquiavel.	Os	monarcas	da	França,	apoiados	na
doutrinação	de	Richelieu,	Fénelon,	Bossuet	e	outros,	 levaram	o	absolutismo
às	 suas	 últimas	 consequências,	 identificando	 na	 pessoa	 sagrada	 do	 rei	 o
próprio	Estado,	a	soberania	e	a	lei.	Reunia-se	na	pessoa	do	rei	o	conceito	de
senhoriagem,	 trazido	 do	 mundo	 feudal,	 que	 se	 desmoronava,	 e	 a	 ideia	 de
imperium,	 exumada	 das	 ruínas	 do	 cesarismo	 romano	 que	 ressurgia,
exuberante,	na	onipotência	das	monarquias	absolutistas.
Todavia,	 o	 próprio	 Jean	 Bodin,	 teórico	 eminente	 do	 absolutismo
monárquico,	como	observou	Touchard,	não	se	livrou	de	contradições,	quando
admitia	 a	 limitação	 do	 poder	 de	 soberania	 pelos	 princípios	 inelutáveis	 do
direito	natural.
4.	TEORIA	DA	SOBERANIA	POPULAR
A	teoria	da	soberania	popular	teve	como	precursores	Altuzio,	Marsilio	de
Padua,	Francisco	de	Vitoria,	Soto,	Molina,	Mariana,	Suarez	e	outros	teólogos
e	 canonistas	 da	 chamada	 Escola	 Espanhola.	 Reformulando	 a	 doutrina	 do
direito	divino	sobrenatural,	criaram	eles	o	que	denominaram	teoria	do	direito
divino	providencial:	 o	 poder	 público	vem	de	Deus,	 sua	 causa	 eficiente,	 que
infunde	a	inclusão	social	do	homem	e	a	consequente	necessidade	de	governo
na	ordem	temporal.	Mas	os	reis	não	recebem	o	poder	por	ato	de	manifestação
sobrenatural	da	vontade	de	Deus,	 senão	por	uma	determinação	providencial
da	onipotência	divina.	O	poder	civil	corresponde	com	a	vontade	de	Deus,	mas
promana	 da	 vontade	 popular	—	 omnis	 potestas	 a	 Deo	 per	 populum	 libere
consentientem	—,	 conforme	com	a	doutrinação	do	Apóstolo	São	Paulo	e	de
São	Tomás	de	Aquino.
Sustentou	 Suarez	 a	 limitação	 da	 autoridade	 e	 o	 direito	 de	 resistência	 do
povo,	fundamentos	do	ideal	democrático.	E	Molina,	embora	reconhecendo	o
poder	 real	 como	 soberania	 constituída,	 ressaltou	 a	 existência	 de	 um	 poder
maior,	exercido	pelo	povo,	que	denominou	soberania	constituinte.
5.	TEORIA	DA	SOBERANIA	NACIONAL
A	 teoria	 da	 soberania	 nacional	 ganhou	 corpo	 com	 as	 ideias	 político-

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