Buscar

Trabalho de Região A questão da Caxemira (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

A QUESTÃO DA CAXEMIRA
A Caxemira é disputada desde o fim da colonização britânica. A Organização das Nações Unidas tem buscado intervir para a pacificação do movimento, porém sem êxito. Segundo uma resolução da ONU datada em 1947, a população local deveria decidir a situação política da Caxemira por meio de um plebiscito acerca da independência do território. Tal plebiscito, porém, nunca aconteceu e a Caxemira foi incorporada à Índia, o que contrariou as pretensões do Paquistão e da população local de maioria muçulmana e levou à guerra de 1947 a 1948. O conflito termina com a divisão da Caxemira: cerca de um terço fica com o Paquistão (Caxemira livre e Territórios do Norte) e o restante ficaria com a Índia. A Índia é de maioria hindu e o Paquistão de maioria muçulmana. Os paquistaneses nunca ficaram contentes com essa divisão desigual, principalmente com o fato de a região da Caxemira que tem a maioria de sua população mulçumana permanecer sob o domínio indiano.
Desde então essa região já foi palco e motivo de duas das três guerras que ocorreram entre Índia e Paquistão, tornando-se um problema de segurança internacional, pois ambos os países desenvolveram armas nucleares.
CAXEMIRA: UMA ANALISE HISTÓTICA TERRITORIAL E SEUS CONFLITOS
Partindo da definição GOMES (1995), ‘’o território é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder’’, traçamos a ideia ao nosso recorte espacial. Pois se o território tem de ser definido e delimitado, veremos como é delimitado e a partir de que relações de poder. No passado, as ambições expansionistas dos Impérios Russo, Chinês e Britânico determinaram constantes mutações, fronteiriças e de composição étnicas, ainda hoje relevantes. Quando em 1947 chega ao fim a dominação britânica a questão de Caxemira reflete justamente este passado. Tratando-se de um território de dimensão considerável e com tradição de autonomia, três alternativas se apresentavam: a independência, a integração na Índia ou a integração no Paquistão.
Hari Singh, Marajá reinante em Caxemira na altura, era partidário da opção independência, mas acabou por aceitar a integração na Índia quando confrontado com a entrada de militares paquistaneses no norte do território. Singh interpretou este episódio como uma ameaça à sobrevivência da identidade caxemira e aceitou um estatuto parcial de autonomia no quadro do novo estado indiano em troca do apoio contra a “invasão” paquistanesa. Estes acontecimentos desencadeiam a 1ª guerra indo-paquistanesa que termina com a intervenção das Nações Unidas e o estabelecimento de uma linha de cessar-fogo monitorizada através do UNMOGIP (UN Military Observer Group on India and Pakistan). Apesar das resoluções da ONU apelarem à realização de um referendo com vista à resolução do problema, este nunca teve lugar e como tal esta linha, também conhecida como linha de controlo, é, ainda hoje, a fronteira real entre os dois Estados.
Caxemira emerge desta primeira guerra dividida. Cerca de um terço da área disputada foi absorvido pelo Paquistão e repartida em duas entidades territoriais: Azad Caxemira (Caxemira Livre) e Territórios do Norte. O vale de Caxemira, a região de Jammu e parte das montanhas do Ladakh ficam sob o controle indiano tomando a designação de Estado de Jammu-Caxemira, o único Estado indiano de maioria de população muçulmana. A planície de Aksai Chin, na fronteira com o Tibete, é anexada pela China na sequência da ocupação deste território por este mesmo país. Em 1963 o Paquistão cede à China uma extensa faixa de terra a norte da região montanhosa de Caracorum em troca da passagem de Mintaka. Os anos que se seguiram foram bastante conturbados assistindo-se ainda a mais duas guerras indo-paquistanesas (1965 e 1971) antes da assinatura do Acordo de Simla a dois de Julho de 1972. Neste acordo os dois Estados comprometiam-se a resolver as suas diferenças pacificamente respeitando a linha de controlo. No entanto, este acordo, regulando apenas as relações indo-paquistanesas. Não por acaso já dizia LACOSTE (1985) que a ‘’geografia serve em primeiro para fazer a guerra’’. Na guerra, a maior força é o conhecimento tático do espaço no qual combatem, porém, entregues a si próprios, a capacidade desse conhecimento se esvai em face de operações de nível estratégico, pois estas devem ser construídas numa outra escala, sobre espaços mais amplos que só podem ser representados cartograficamente. Ou seja, o conhecimento intuitivo do território tem de ser trabalhado em diversas escalas.
Em 1989 eclode a rebelião caxemira na zona administrada pela Índia, alimentada pela insatisfação crescente em face de sucessivos governos pouco atentos à realidade da região. No centro desta esteve a Frente de Libertação de Jammu-Caxemira (JKLF – Jammu-Kashmir Liberation Front) sob a liderança de Yasin Malik reivindicando a independência total do território. Em 1994 este movimento anuncia o abandono da luta armada em benefício do combate político. Este desarmamento voluntário esgota a vertente armada reivindicativa da opção independência total deixando apenas como herdeiros pequenos grupos fragmentados e duramente perseguidos pelas autoridades indianas. Mesmo no plano da discussão política a independência permanece uma utopia.
Da rebelião inicial restaram apenas os defensores da união com o Paquistão empenhado na luta armada contra a Índia. Treinados e financiados pelo governo paquistanês são estes os verdadeiros actores da violência no território a par com as autoridades indianas que, entretanto adoptaram uma postura de repressão violenta em Jammu-Caxemira. A luta contra a presença soviética no Afeganistão terá permitido o treino inicial destes homens, movidos pela solidariedade muçulmana, e terá estabelecido laços decisivos para o envolvimento, também deste país, no apoio a estes movimentos e facilitado o seu acesso a armas. Do nacionalismo caxemire resta muito pouco, já que o pretendido não é a independência, e nem mesmo a autonomia, mas sim a adesão ao Paquistão e consequente “libertação” do território.
A edificação do regime taliban no Afeganistão, com apoio paquistanês, veio reforçar os receios indianos face às movimentações destes grupos armados. A perspectiva de um Paquistão interventivo em Caxemira motivou um endurecimento da posição indiana, traduzida no reforço da presença de forças de segurança no território, e um aumento significativo das escaramuças indo-paquistanesas junto à linha de controle, em resposta aumentaram também os atentados terroristas contra interesses indianos dentro e fora de Caxemira, de que são exemplo o atentado de 1 de Outubro de 2001 contra o Parlamento de Jammu-Caxemira, em Srinagar, e o de 13 de Dezembro, desse mesmo ano, contra o Parlamento Federal Indiano em Nova Deli.
Desde 1998 um novo elemento é introduzido nesta relação: o fator nuclear. A Índia anuncia a realização de vários testes nucleares, pouco tempo depois o Paquistão responde da mesma forma relançando os receios de proliferação nuclear na região. Após grande pressão da comunidade internacional é assinada a Declaração de Lahore em Fevereiro de 1999, através da qual os dois Estados se comprometem a regressar às negociações bilaterais sobre Caxemira e a proceder a um aviso prévio da outra parte na eventualidade de realização de novos testes nucleares.
Figura 1– Região da Caxemira dividida entre Índia e Paquistão (fonte: Wikipédia)
 RECURSO NATURAL COMO CAUSA DE CONFLITOS
Outra razão por trás do conflito da Caxemira é o recurso hídrico. A Caxemira é a fonte de vários rios e afluentes do rio Indo. Estes incluem o Jhelum e Chenab, que fluem basicamente no Paquistão, enquanto que outros ramos - como o rio Ravi, rio Beas e o rio Sutlej, irrigam o norte da Índia. O Paquistão tem sido apreensivo quanto a isso, em uma situação extrema, a Índia poderia usar a sua vantagem estratégica que dá a sua parcela da Caxemira e que passa na origem dos referidos rios e mantendo o mesmo canal, assim, estrangular a economia agrária do Paquistão. O Tratado de Águado Indo, assinado em 1960 resolveu a maioria desses litígios em matéria de partilha da água e apelou para a cooperação mútua a este respeito. 
Recentemente a construção da Hidroelétrica de Baglihar tem elevado o tom das discussões Indu-Paquistanesa. O governo Paquistanês acusava a Índia de que as dimensões do projeto poderiam prejudicar o abastecimento da população paquistanesa. Uma comissão arbitral internacional decidiu que a usina é legal e não fere os termos do tratado. Mesmo contrariados, os líderes paquistaneses assinaram em junho de 2010 um acordo no qual aceitam a decisão da comissão. Em face desta análise, podemos resumir que em tempos aonde água vem mostrando ser uma mercadoria cada vez mais valiosa e a tensão focada nos campos religioso e territorial, o tema dos recursos hídricos continua a gerar discussões acaloradas.
Figura 2 – Mapa da bacia hidrográfica do Indo (fonte: Wikipédia)
FRONTEIRAS E QUESTÕES CARTOGRÁFICAS
 ‘’Se é certo que a delimitação e defesa dos limites de uma possessão ou de um Estado se encontram no domínio da alta política ou da alta diplomacia, as fronteiras pertencem ao domínio dos povos (MACHADO,1999)’’.
Figura 3 - Caxemira e suas fronteiras (fonte Wikipédia)
Na Caxemira, há fronteiras limites reconhecidas pela ONU, não definitivas, porém demarcadas. Há expansão do povo além do limite jurídico do Estado, evidenciando uma homogeneidade do povo da Caxemira, desafiando a lei territorial de cada Estado limítrofe e às vezes criando situações potencialmente conflituosas como o terrorismo. Não é surpresa alguma fronteira ter sido ao longo dos anos, objeto permanente de preocupação dos Estados, no sentido de controle e vínculo. ‘’Não é surpreendente que um dos objetivos desse sistema histórico de Estados Nacionais, em vigência por quase dois séculos, foi de estimular a coincidência entre limites e fronteiras, disso resultando uma convergência conceitual, a ponto de serem consideradas na literatura como sinônimas (MACHADO, 1999).
De fato, a teoria fronteira tem relação direta com a geopolítica, podemos perceber isso nos ideais expansionistas de Hitler na Segunda Guerra Mundial com base nas teorias de Haushofer, Ratzel e Kjellen que notaram que os acontecimentos históricos obedeciam a certas leis sugeridas pelos meios físicos, espaço geográfico, onde se desenvolviam. As fronteiras de Índia, Paquistão e Caxemira são a reprodução própria dessa teoria. Segundo o conceito kjelliano ‘’a fronteira é a epiderme do corpo do Estado’’, evidenciada com muita força nos dois países que tem a demarcação por linhas geodésicas e acidentes geográficos, porém com intensa ocupação militar, tendo apenas uma passagem legal entre estes.
Em relação a sua cartografia que tal como acontece com outros territórios em disputa, cada um dos governos representam mapas com suas reivindicações sobre a Caxemira como parte de seu território, independentemente do seu efetivo controle. Na Índia, é ilegal a exclusão de toda ou parte da Caxemira em um mapa. Também é ilegal no Paquistão não incluir o estado deJammu e Caxemira como um território disputado, conforme permitido pela Organização das Nações Unidas. Os nãos participantes costumam usar a Linha de Controle e Linha de Controle Real como os limites representados, como no The World Facebook da CIA. Quando a Microsoft lançou um mapa no Windows 95 e no Microsoft MapPoint 2002, atraíu controvérsia, pois não mostrava a totalidade da Caxemira, como parte da Índia, como é exigida na Índia; entretanto todos os neutros e empresas paquistanesas pretendem seguir o mapa das Nações Unidas e mais de 90% de todos os mapas que contêm a Caxemira mostram-a como um território disputado.
REFERÊNCIAS:
LACOSTE, Yves. A GEOGRAFIA – ISSO SERVER EM PRIMEIRO LUGAR, PARA FAZER A GUERRA. Editora Papirus. 15ª edição; 2009.
CASTRO, Iná Elias; CORRÊA, Roberto Lobato; GOMES, Paulo Cesar da Costa (Org). GEOGRAFIA CONCEITOS E TEMAS. Editora Bertrand Brasil, 1995.
MACHADO Lia Osório. LIMITES E FRONTEIRAS: DA ALTA DIPLOMACIA AOS CIRCUITOS DA ILEGALIDADE. UFRJ
ONNING, James. O TRATADO DA ÁGUA DO RIO INDUS. UM OUTRO OLHAR SOBRE A CAXEMIRA
MATTOS, Carlos de Meira. GEOPOLÍTICA E A TEORIA DAS FRONTEIRAS. Biblioteca do exército. Rio de Janeiro. 1990.

Continue navegando