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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS ANTROPOLOGIA MENTORES, MÉDIUNS E AMIGOS ESPIRITUAIS, OS NOVOS SANTOS E BEATOS DO ESPIRITISMO Processos da apropriação do poder divino ROGÉRIO DIAS DE ANDRADE SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2013. 2 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS ANTROPOLOGIA PESQUISA DE CAMPO MENTORES, MÉDIUNS E AMIGOS ESPIRITUAIS, OS NOVOS SANTOS E BEATOS DO ESPIRITISMO Processos da apropriação do poder divino Autor: ROGÉRIO DIAS DE ANDRADE Professor: JOSÉ GUILHERME C. MAGNANI 3 MENTORES, MÉDIUNS E AMIGOS ESPIRITUAIS: OS NOVOS SANTOS E BEATOS DO ESPIRITISMO Trabalho para apresentação na disciplina Pesquisa de Campo em Antropologia, curso de graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo – 2013. 4 MENTORES, MÉDIUNS E AMIGOS ESPIRITUAIS PROCESSOS DE APROPRIAÇÃO DO PODER DIVINO ROGÉRIO DIAS DE ANDRADE Resumo O Espiritismo é uma doutrina surgida na França durante o século XIX. Seus principais postulados são: a imortalidade da alma, a possibilidade de nos comunicarmos com os mortos e a reencarnação. Controversa na Europa no seu início, teve campo fértil no Brasil, se multiplicando em inúmeros centros, onde se praticam a doutrina, a filosofia e sua concepção de contato com os mortos, interação que em muitos casos se transforma em alterações no comportamento das pessoas, conforme acreditam, e em outros casos se materializa em alterações físicas que resultam em redução ou supressão de males físicos (curas). Diferentes da maioria das religiões antigas politeístas ou mesmo das religiões monoteístas, onde há um visível distanciamento entre o fiel e a sua divindade, onde as ações de cura são eventuais, pontuais e imprevisíveis, no Espiritismo esses processos apresentam-se bem mais próximos, constantes e horizontalizados, na medida em que o acesso ao contato com o plano divino é menos truncado, a ponto de se poder afirmar que nesta religião a manipulação (não no sentido político do termo) e a apropriação dos elementos transcendentes é sistemática, regular e pulverizada para os que procuram. A tarefa deste trabalho é conhecer de perto o processo, através da descrição de algumas atividades muito características no meio espírita, mostrando como esse “controle” dos elementos concedidos pela transcendência ocorre. Palavras-chave: Antropologia Urbana; Espiritismo; Espiritismo e Cura; Apropriação do poder divino no Espiritismo; Mentores, Médiuns, Amigos Espirituais; Espiritismo e seus Santos. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO:...........................................................................................................06 CAPÍTULO I: Compreendendo o processo................................................................07 CAPÍTULO II: Os Campos de Observação..............................................................08 CAPÍTULO III: Em campo: ação dos Mentores, Médiuns e Amigos Espirituais..09 CAPÍTULO IV: Conclusão.......................................................................................19 BIBLIOGRAFIA:......................................................................................................21 6 INTRODUÇÃO – Apresentação e problemática “Mentores, Médiuns e Amigos Espirituais: os novos santos, beatos e operadores de milagres no Espiritismo.” Este trabalho pretende, através de pesquisas etnográficas, observar, compreender e identificar processos de atuação dentro dos centros espíritas, onde seus seguidores, eventuais ou permanentes, mantém estrito contato com entidades denominadas pelos próprios religiosos de mentores e ou amigos espirituais, os quais, indiretamente (atuando no ambiente) ou diretamente (através de médiuns), exercem sobre os que procuram esses locais, algum tipo de transmissão de energias ou comunicação, que podem proporcionar, desde uma simples “limpeza” ou “proteção” até reversão de algumas patologias, parciais ou totais, chegando à “cura”. É identificar sobremaneira como se constitui e se fundamenta a apropriação desse poder, transcendente em sua essência, e em que formas e circunstâncias que se manifesta. Tem-se muitas vezes a impressão de que a sociedade moderna - secular, urbana e materialista, características que se não unânimes, são bastante recorrentes no cotidiano desses aglomerados humanos - busca apenas e tão somente nas fontes da ciência, da racionalidade, da comunicação massiva e das relações políticas a solução para os dilemas, enfermidades, dificuldades de ordem material e existencial. Existe abundante literatura que de maneira exemplar transita, direta ou indiretamente, no universo das ações religiosas e seus efeitos. Embora não se queira dizer, em momento algum, que se desconhecem as diferentes vertentes religiosas, que arrogam para si o dom de transformar, física, emocional e psiquicamente as pessoas que se submetem aos seus ritos, uma corrente religiosa, que vem paulatinamente crescendo em número de adeptos, simpatizantes e mesmo usuários eventuais pendulares, o Espiritismo, traz uma peculiar forma de utilização e apropriação do poder divino, por assim dizer, e que se concretiza, basicamente, em dois tipos de ações: uma de comunicação, que pode ser através de correspondências escritas por pessoas previamente preparadas, mas orientadas por entes que não se encontram nessa realidade, ou através de obras de arte produzidas nos mesmos moldes e, por fim, outra forma que se caracteriza por intervenções “cirúrgicas” realizadas também por membros devidamente preparados e orientados também por entes que se encontram em outro plano de existência. 7 COMPREENDENDO O PROCESSO Sem a necessidade de se aprofundar sobre o assunto, mas ao se analisar o comportamento humano frente às divindades, no decorrer do tempo, observa-se um considerável distanciamento entre estes, além de uma relação pouco equilibrada entre si; humanos fazem rituais, sacrifícios, vigílias, orações e preces, tudo com a finalidade de aplacar ou mesmo alimentar uma ou várias divindades, as quais, quando retribuem, fazem pontualmente e de forma imprevisível. As grandes religiões judaico – cristãs, monoteístas, como exemplo, colocam inúmeros obstáculos e pré-requisitos para que reconheçam uma ação divina realizada por um ser humano e, este por sua vez só é reconhecido como tal depois de um longo histórico de ações e comportamento anteriores, para que se justifique então a ação da divindade através do indivíduo em questão. Diferente de algumas seitas evangélicas, onde esse dom normalmente é quase exclusivo do seu líder, e onde a apropriação transcendental é concedida diretamente a este, não só nos centros espíritas essa capacidade pode ser realizada por anônimos, bem como por qualquer pessoa, desde que devidamente instruída; além da concepção de que, ao invés da intervenção direta da divindade, essas ações são feitas por espíritos que se predispõem a “guiar” os que executam fisicamente, essas mesmas ações. A lacuna que se pretende preencher através deste trabalho está na relação entre fiéis e as forças divinas: se na mitologia grega os deuses não assumiam qualquer compromisso formal com a humanidade, e suas forças eram provenientes da adoração das pessoas, passandopelas religiões monoteístas, as quais todavia estabeleciam uma relação de significado entre homem e divindade, mas ainda era significativo o desequilíbrio entre as trocas realizadas entre si, no espiritismo o poder transcendente pode ser encontrado e partilhado constantemente, onde o acesso (não necessariamente o sucesso imediato ou satisfação plena das demandas) se encontra pulverizado ou, se assim se pode dizer, “democratizado”. É a observação desses fenômenos, suas formas de atuação, seus critérios e seus princípios que serão analisados neste trabalho. Até que ponto a presença de mentores, médiuns e amigos espirituais exercem de forma análoga as mesmas tarefas atribuídas aos santos do catolicismo, diferenciando-se destes últimos na maior liberdade em manipular o suposto poder divino? Essa trindade espiritual, onde o Mentor constitui- se daquele espírito inspirador, cuidador, mantenedor espiritual da casa, e não raro, líder dos espíritos que incorporam os Médiuns, pessoas comuns que “recebem” os espíritos e 8 que transmitem as respostas (sejam elas por escrito, artísticas, verbais ou até mesmo terapêuticas) aos que procuram, e ao corpo de Amigos Espirituais, que não necessariamente incorporam médiuns, mas que formam uma rede de proteção em torno da casa, energizando as pessoas que por ali adentram, impedindo a ação de espíritos pouco ou não evoluídos de tirarem proveito da fragilidade dos seus frequentadores, entre outras ações. O propósito deste trabalho é observar, analisar e estudar os procedimentos que envolvem, desde a entrada do indivíduo em um centro espírita, seu acolhimento, as etapas no processo de contato (indireto e em alguns casos, direto) com os entes transcendentes, até aos casos considerados mais graves e urgentes, onde existe um aparato preparado para executar ações de intermediação entre mundos e até mesmo a cura. Para isso, fazem-se necessários alguns agentes – presentes e transcendentes – chamados de médiuns, mentores e amigos espirituais, que viabilizam as referidas ações. Para tanto, esse estudo se propõe explicitar o fluxo e a participação desses agentes no atendimento aos indivíduos (fiéis ou não) que procuram as inúmeras “Casas Espíritas” (como eles mesmos denominam), com a finalidade de obter alívio para seus desconfortos em geral. Estabelecer a relação entre estes mesmos agentes como comodatários de frações do poder divino, onde a cura e a comunicação entre planos conferem credibilidade e consistência dentro dos propósitos da Organização. OS CAMPOS DE OBSERVAÇÃO Para a execução deste trabalho serão realizadas etnografias em alguns centros espíritas em diferentes regiões de São Paulo, com a seguinte finalidade: onde o observador se colocará como participante adepto/simpatizante, de modo que os procedimentos, rituais como um todo serão integralmente vivenciados pelo mesmo. Duas instituições terão destaque na pesquisa, pelas práticas pós-doutrinárias, onde se praticam, de forma mais concreta e visível, eventos rituais de comunicação e cura transcendentes, através de procedimentos específicos: o Instituto Perseverança, onde se procedem inúmeras práticas de correspondências mediúnicas psicografadas, estabelecendo um periódico canal de comunicação entre médiuns e as pessoas (adeptas ou não) que procuram o local, e o centro Tarefeiros da Última Hora, onde, de modo 9 semelhante – em termos de periodicidade e procedimentos – médiuns realizam cirurgias espirituais, com praticamente todos os requintes de uma cirurgia física, com a finalidade de amenizar, aliviar, prevenir e até – há exibição de diagnósticos médicos expostos no local – curar as pessoas que procuram esse tipo de atendimento. Para tanto, entrevistas, observações diretas e indiretas e até mesmo a participação desses rituais estão previstas. EM CAMPO: A AÇÃO DOS AMIGOS ESPIRITUAIS, MÉDIUNS E MENTORES NA APROPRIAÇÃO DO PODER DIVINO A descrição é praticamente idêntica em quaisquer centros espíritas que se visite. As pessoas chegam, vindas de diferentes direções, algumas sozinhas, outras acompanhadas de familiares, amigos, cônjuges ou companheiros, filhos, pais, pessoas que se conheceram e acabam frequentando o mesmo local; chegam a pé, de carro, de transporte coletivo, até de bicicleta. Uma marca bastante evidente é a gentileza e a cordialidade com que as pessoas se tratam no momento de se incluírem na fila (sim, sempre há uma): uma constante preocupação em não subverter a ordem de chegada, se possível, a fim de não ocasionar qualquer embaraço ou constrangimento, atitudes muitas vezes opostas ao que se observa nas filas de bancos, casas lotéricas, estacionamentos de shoppings centers, cinemas, etc.. A postura de igualdade e reconhecimento da presença e do direito do outro começa muitas vezes no entorno do centro, ao se estacionar seus carros, evitando guias rebaixadas, locais proibidos, dividindo ou mesmo cedendo espaço para outros veículos, auxiliando outros frequentadores a manobrarem nos locais onde há alguma dificuldade. À distância, torna-se impossível conhecer os motivos que levam todas essas pessoas a se dirigirem aos centros, mas a percepção de que cada um dos que chegam trazem questões, que no entender delas a solução encontra-se além das suas capacidades e compreensão, por si só já as fazem merecedoras de um gesto visível de solidariedade. Mesmo de perto, ao me misturar com as pessoas que chegam, ouvindo suas conversas ou eventualmente participando de uma ou outra, na maioria das vezes, não ficam claros os motivos que fazem essas pessoas buscarem suas respostas nestes espaços; em algumas situações é mais evidente identificar a motivação para a presença de algumas pessoas, quando o aspecto e condições físicas são marcantes e amplamente visíveis. Quando isso acontece, colaboradores do local e os próprios visitantes e frequentadores 10 se antecipam e amparam essas pessoas, cedendo seus lugares na fila ou mesmo adiantando-as para o início da mesma, atitude nem sempre comum no cotidiano dessas pessoas quando estão se dirigindo ao trabalho, ou nos transportes coletivos, quando não raro vemos pessoas fingindo sono para não ceder os lugares previamente reservados para pessoas com condições especiais, seja nos ônibus ou no metrô. Seria leviano afirmar que as pessoas que para os centros se dirigem sejam, em parte ou em seu todo, deseducadas ou não cordiais nos ambientes diferentes aos que estou descrevendo, mas não deixa de ser intrigante a ausência de conflitos de qualquer espécie nestes locais, ainda que estejam repletas de pessoas e suas demandas. Organizada e resignadamente, as pessoas vão chegando, discreta e pacientemente procurando um lugar para serem recepcionados, atendidos e, quem sabe, sair com respostas. Os levantamentos etnográficos foram realizados em três centros espíritas na zona Leste de São Paulo, um no bairro da Água Rasa, conhecido como “Tarefeiros da Última Hora – Grupo Socorrista de Cura Espiritual”, fundado em 1989; outro também no mesmo bairro, conhecido como “Centro Espírita Perseverança”, fundado em 1964, e por fim um centro localizado no bairro de Vila Carrão, chamado de “Centro Espírita Aprendizes do Evangelho”, fundado em 1976. São relativamente próximos entre si, principalmente os dois primeiros, que se encontram no mesmo bairro. A escolha por esses estabelecimentos se deveu a dois motivos: o mais evidente, que é pela localização geográfica, relativamente próximos e com acesso favorável, permitindo melhor deslocamento para a realização das observações, e por características peculiares encontradas nos centros Perseverança e Tarefeiros, muito conhecidos por atividades asquais são consideradas “referências” no meio espírita, por assim dizer. O Centro Aprendizes do Evangelho foi incluído como modelo de atuação que é praticamente padrão entre os centros, uma vez que para se tornar um centro espírita, seus mantenedores se comprometem em realizar, de forma a mais fiel possível, suas atividades dentro de um conjunto de procedimentos sem os quais se torna inviável a sua existência. As próximas descrições, bem como as realizadas no início deste trabalho são comuns a todos os centros, e por isso não haveria a real necessidade de se ampliar a base de amostragem, se puder dizer desta forma; é sabido que existem diferenças entre algumas formas de atuação entre os centros, mas essas mesmas diferenças estão mais relacionadas a questões geográficas, de espaço, de perfil da região, da quantidade de colaboradores ou mesmo de recursos materiais e humanos à disposição. 11 Numa outra etapa, se darão as descrições referentes aos diferenciais mencionados, os que fazem notórias essas instituições, e que consistem na síntese colocada por este pesquisador, que dá nome ao título desta apresentação. Na instituição Tarefeiros da Última hora, há um trabalho desenvolvido há anos que consiste na prática de cirurgias espirituais, de forma estruturada, com diversos recursos e requintes e procedimentos que conferem respaldo aos procedimentos citados; na instituição Perseverança, de semelhante modo, desenvolvem também há anos um trabalho que se poderia dizer “especializado”, na comunicação entre pessoas que já morreram com as pessoas que as procuram, através de cartas escritas por médiuns preparados para tal procedimento. Neste último caso, existem outros centros (o Aprendizes do Evangelho também oferece esse trabalho) que realizam tais processos, mas a demanda significativa foi um dos principais motivos para a escolha desse local, capaz de fornecer uma maior quantidade de observações, eventuais entrevistas e depoimentos. Um grupo de gentis, pacientes e serenos colaboradores recepcionam as pessoas que chegam, em ordem de chegada, sejam elas conhecidas e assíduas frequentadoras ou pessoas que pela primeira vez estejam aportando em um centro espírita; não necessariamente nesta ordem, pois cada centro conforme suas condições físicas e de pessoal pode apresentar nuances, os visitantes ou frequentadores podem passar por uma sala onde recebem um passe de limpeza, cuja finalidade é auxiliar a pessoa a “deixar do lado de fora” da casa espírita (é uma das nomenclaturas que os praticantes utilizam) as preocupações que porventura estejam tomando conta de seus pensamentos, preparando assim para um local onde poderão, mais calmamente, de acordo com as explicações dos colaboradores, elevar e abrir seus pensamentos na direção da espiritualidade. Nas casas onde o passe de limpeza não ocorre logo no início da entrada, as pessoas são encaminhadas para um salão (e isso é comum a todos os centros), onde permanecem por cerca de 50 minutos à uma hora, em silêncio, ao som de músicas geralmente clássicas, eruditas ou parecidas; eventualmente, voluntários se apresentam ao vivo com voz e violão, às vezes outros instrumentos, tais como violino e teclado. Todos os presentes, desde a chegada ao centro, recebem paulatinamente energias provenientes do plano espiritual, através da presença constante e protetora de amigos espirituais, que cercam todo o local, protegendo a todos contra outros espíritos, que ainda não se encontram em um estágio evolutivo elevado, e por isso tendem a abordar, incomodar e em alguns casos, interferir nas ações e juízo do indivíduo mais fragilizado, fenômeno denominado 12 pelos espíritas de obsessão. Esses amigos espirituais realizam, em seu plano, o mesmo trabalho realizado pelos colaboradores “encarnados”, como uma tarefa necessária para seu aprendizado e consequente evolução. “Assim na Terra como no Céu”, neste caso, não se constitui de um exagero. Cria-se dentro do centro, um espaço energeticamente protegido, para que então os procedimentos seguintes sejam bem sucedidos. Após o período de silêncio e reflexão, aparece a figura de um palestrante, membro frequentador do centro ou convidado pertencente a um outro centro, que durante um período que pode variar de 15 a 30 minutos (as observações não permitiram a definição de uma duração exata), dependendo, na verdade, do tempo disponível até o término desta etapa; a questão dos horários, na ótica espírita, é de suma importância, pois as pessoas deste plano sincronizam-se com a espiritualidade, que se faz presente nos horários pré-estabelecidos. Portanto, atrasos nas atividades prejudicam a atuação dos amigos espirituais. Os temas geralmente abordam aspectos do cotidiano da maioria das pessoas, e seu teor normalmente tende ao conforto e reflexão para os presentes. Separados temporariamente das influências externas, abrigados em uma “aura” de energia protetora, e reconfortados física e mentalmente, os visitantes ou frequentadores estão preparados para as próximas etapas, as quais podem ter sua sequência diferente conforme a casa espírita, pelos motivos já identificados; cabe, neste momento, salientar algumas dessas nuances, as quais, embora não alterem o conteúdo, tampouco o resultado final das atividades, mereçam alguma atenção, pois expressam diferentes formas de atuação de acordo com as diferentes demandas oriundas das pessoas que ali se encontram. Voltemos à fila de entrada à casa espírita: ali, se organizam diferentes tipos de pessoas; as que já são frequentadoras do local, as que de forma pendular (pessoas que transitam entre diferentes religiões conforme estímulos pessoais específicos, pendendo de uma para a outra) eventualmente frequentam a casa, e as pessoas que - seja por curiosidade, indicação de pessoas do seu relacionamento pessoal, alguma divulgação institucional, mas muito provavelmente em busca de respostas às questões que no momento não conseguem solução - chegam ao local pela primeira vez. Todas essas pessoas passaram ou passarão por uma triagem, com a finalidade de se conhecer, sob o ponto de vista do visitante ou frequentador, os motivos que o levam ao centro, suas necessidades, sejam elas físicas, emocionais ou de outra origem alegada. Atendidos por entrevistadores, os atendidos receberão um diagnóstico, proveniente de um outro 13 elemento importante no conjunto das atividades desenvolvidas pela casa: a figura do médium. Aquele que estabelece a comunicação entre alguém do meio espiritual e que através do seu próprio corpo físico permite que o espírito identifique as verdadeiras causas dos males que afligem o paciente (convenientemente passarei a chamar os visitantes e frequentadores assim, por conta de serem também tratados desta forma), indicando a forma como este deve ser submetido ao que os colaboradores das casas chamam de tratamento. Entendem que todos os males humanos se iniciam no espírito, para depois se manifestarem no corpo e ou na mente, e é através de procedimentos muito parecidos entre si que o paciente pode então alcançar o equilíbrio. Nos centros estudados e visitados, cada paciente recebe um cartão de controle de frequência, onde são anotadas as sessões restauradoras; ao final de cada sequência de atendimentos, o paciente retorna a um entrevistador (não necessariamente o mesmo que indicou o tratamento, uma vez que quem diagnosticou foi uma entidade e não a pessoa propriamente dita). Os resultados desse ou daquele tratamento podem indicar tanto uma “alta”, como a prescrição de um novo tipo de tratamento; vi e ouvi pessoas recebendo liberação logo após o primeiro conjunto de atendimentos, como pessoas que obedecem umalonga sequência de tratamentos antes de receberem a liberação dos mesmos. Os critérios e as causas para uma maior ou menor duração das sessões de tratamento são prerrogativas dos médiuns, de acordo com sua visão no mundo espiritual das reais condições e circunstâncias que cercam cada paciente; pessoas entrevistadas que manifestavam uma percepção de que estavam se sentindo equilibradas e satisfeitas, continuavam seguindo por tempo indeterminado diferentes tipos de tratamentos, bem como outras que recebiam alta, mas se queixavam da sensação de que ainda não se sentiam satisfeitas, ainda careciam de maior atenção, ou mesmo não tinham ainda se recuperado dos problemas que os fizeram chegar ao centro. Aprofundar o estudo sobre as percepções e sensações dos pacientes e as prescrições/diagnósticos dados pelos médiuns poderia render uma maior compreensão da dinâmica assistencial dentro de uma casa espírita, mas fugiria do foco deste estudo; talvez oportunamente uma análise destas dinâmicas possa revelar aspectos relevantes. Mas o que se está tentando buscar é o processo no qual essa grande religião brasileira vem se utilizando, e obtendo, por conta disso, a adesão crescente de novos adeptos, cujas doutrinas (também não é o foco) e seus desdobramentos vêm repercutindo na sociedade em geral, inclusive em determinadas manifestações artísticas (cinema, por exemplo, aonde essa comunicação entre planos vem sendo exaustivamente explorada); em uma casa espírita, o visitante ou 14 frequentador pode, cada um a seu tempo, ou seja, obedecendo a um gradual processo de preparação, entrar em contato com as forças transcendentes, que ao interagirem, podem proporcionar diversas formas de benefícios, sejam eles emocionais ou psicológicos, ou até mesmo físicos. Em outras religiões, essas manifestações também são recorrentes, mas sua dinâmica e suas relações com a transcendência se mostram mais pontuais, esparsas e praticamente independem do empenho ou preparação daquele que ministra ou do fiel mais assíduo. Aqui, nestas observações realizadas nos centros espíritas, a relação homem – plano espiritual não só é mais frequente, como pode se dizer sistemática. Os relatos adiante auxiliarão o entendimento. Esperançosa (nome obviamente fictício) é uma mulher dentre dezenas de pessoas que, da mesma forma que o relatado anteriormente, cumpre organizada e disciplinadamente todos os procedimentos de espera - a inscrição, o preenchimento de uma ficha onde menciona o motivo da visita, com quem deseja obter uma mensagem psicografada, quando o ente querido “desencarnou” (os espíritas evitam ao máximo utilizar o termo morte porque defendem a ideia de que o espírito não morre, mas reside no corpo físico e dele deixa quando o mesmo falece), entre outras informações. A excessiva demanda de pessoas que procuram esse tipo de serviço (termo aceito e utilizado no local) na instituição Perseverança, faz com que esta restrinja a data do desencarne para até cinco anos antes do presente; no CEAE da Vila Carrão, ocorre a mesma demanda, não tão intensa, mas crescente, conforme relatos dos visitantes. Esperançosa busca contato com o filho que partiu de forma trágica, por conta de um acidente de moto. É de se esperar que os presentes, de uma forma geral, ainda enfrentem dificuldades em lidar com a perda de entes queridos, o que é compreensível, levando-se em conta a forma com que nossa cultura ocidental valoriza determinados laços afetivos nas relações humanas; o mesmo vale para alguns pressupostos esperados no decorrer da existência das pessoas em sociedade, como por exemplo, esperar a partida de alguém em idade avançada como algo doloroso, mas inexorável, e não considerar a possibilidade de se perder entes queridos mais jovens, como filhos, netos, irmãos, etc., como se essas perdas desobedecessem a uma “ordem natural das coisas”, frase ouvida durante este trabalho algumas vezes. Uma observação atenta no local onde se concentram as pessoas que buscam uma mensagem psicográfica mostra uma distribuição equilibrada entre perdas de entes mais idosos e entes que perderam suas vidas em idades supostamente prematuras. É nesse ambiente que se desenrola uma das 15 sessões emblemáticas da atuação transcendente no espiritismo, pois a proximidade proporcionada pelos médiuns, ao transmitirem as mensagens dos desencarnados aos encarnados saudosos presentes, constrói uma ponte que prolonga relações sócio afetivas entre os envolvidos. Não é o caso aqui entender os mecanismos causais que trazem as pessoas para as sessões de psicografias, se por assuntos inacabados, remorsos, saudades, desamparo emocional e até material; nem tampouco se para as pessoas que saem do local com as cartas psicografadas, as respostas serão ou não suficientes para aliviar seu sofrimento. A comunicação mediúnica constitui-se, entre outras coisas, de uma demonstração da capacidade e do credenciamento concedido pelo outro plano para utilizar recursos transcendentes a serviço de quem procura. Ansioso, um senhor de 67 anos, de voz imperativa e afirmativa, busca contato com a esposa, com a qual conviveu por mais de 40 anos, e que o deixou (palavras dele) por conta de um fulminante AVC; sozinha em sua casa, não teve tempo para pedir ajuda a vizinhos ou para as filhas; tanto elas como ele não tiveram tempo para socorrer, de ouvi-la por mais uma vez, não tiveram oportunidade para dizer o quanto ela era querida, estimada, amada e respeitada. Buscar a comunicação psicografada seria então uma forma de ao menos arrematar e concluir um doloroso e inesperado fim. Viúva, uma mulher de 37 anos, há um ano e sete meses sem o marido, carinhosamente chamado de Nininho (diminutivo de Menininho), paciente renal crônico, que não resistiu ao longo tratamento de hemodiálise; Viúva acompanhou diariamente o processo de agonia do esposo, até o final. Nesse sentido, não houve surpresas, sustos ou imprevistos: ambos vivenciaram conscientemente o processo, nem por isso menos doloroso. Hoje, ela busca o que poderia se chamar de “autorização”, ou “permissão” ou mesmo “licença” para recomeçar a vida. Recomeçar a vida pode permitir diferentes significados, mas é certo que para ela, que disse ainda se sentir casada com Nininho, a resposta dele interferirá nas suas futuras decisões. Nem todas as pessoas que procuram o serviço de psicografia no Perseverança, como nos outros centros que disponibilizam o expediente, tem garantida a resposta; algumas levam meses para obterem alguma resposta, outras, e esse foi o caso de Ansioso, que recebeu uma resposta já na primeira sessão que participou – por conta disso, ele e suas filhas passaram a frequentar um centro espírita, participando das atividades e dos estudos ministrados, como uma forma de retribuição e de se manterem, 16 por assim dizer, “próximos”. Os dois outros exemplos, em comum o sentimento de que ainda não era para ser o momento, e que continuarão buscando respostas, alívio e consolo, para que consigam seguir com suas vidas adiante. Os pacientes, da mesma forma que já se relatou nas descrições anteriores, cumpridas as etapas de limpeza, palestras, passes, triagens, entre outros procedimentos, se prepara para um procedimento que não é tão comum entre os centros espíritas; entra- se em um salão de consideráveis dimensões, repleto de macas hospitalares, cada uma com aquela escadinha de dois degraus para apoio aos pacientes ao acesso às mesmas; ao lado de cada maca, previamente revestida com proteção usada em consultórios médicos, encontra-se álcool, gaze, bandagens, esparadrapo, entre outros apetrechos também comumente encontrados em farmácias, clínicas, hospitais, etc.. Não háqualquer instrumento cirúrgico, ampolas, torres para soro, mas a visão encontrada é mais do que suficiente para qualquer leigo concluir que se está em uma ampla sala de atendimentos médicos. Colabora para essa convicção o conjunto de pessoas, trajadas com aventais, máscaras de rosto, toucas, entre outros paramentos, que caracterizam essas mesmas pessoas como médicos. Na verdade, sob o ponto de vista dos colaboradores da casa espírita “Tarefeiros da Última Hora”, são médicos mesmo; integrantes do centro, iniciados, treinados e preparados para uma atividade mediúnica, tal qual os que executam a psicografia, estes incorporam diversos médicos que se encontram no plano espiritual, que se reúnem no local, sob a coordenação da terceira personalidade-título desta pesquisa, a figura do mentor, espírito inspirador, precursor, líder e primeiro protetor do local. Os demais centros também possuem seus respectivos mentores, que podem se repetir em diversas casas; o mentor enquanto encarnado também realizava ações visando o bem para as pessoas com as quais convivia ou encontrava, independentemente de serem ações físicas ou mediúnicas; seu conhecimento neste plano, ainda que desencarnado, continua a serviço das pessoas deste plano, agora com o recurso de poder “enxergar” os necessitados não só sob o ponto de vista material, mas na origem dos seus problemas, que se encontra no espírito. No caso das cirurgias espirituais realizadas nos Tarefeiros, após um breve momento de concentração para que os médicos possam ser recebidos pelos médiuns, sob a coordenação do mentor, os mesmos iniciam, em duplas ou trios, dependendo da 17 quantidade de médiuns presentes, as intervenções nos pacientes, a esta hora, já devidamente deitados nas macas; os médicos passam algodão com álcool, usam luvas de látex, procedem à assepsia como se realmente fossem realizar um procedimento cirúrgico tradicional; ouvem-se, durante o processo, dois sons bem característicos, simultâneos entre si e durante a “cirurgia”: preces e sibilos, estes últimos sempre que os médicos estão manipulando o corpo do paciente, como se estivessem realizando incisões nos locais onde julgam necessário. Esses sibilos aumentam à medida em que a região tocada seja o foco do mal (não necessariamente o local da enfermidade) ou a região a ser tratada. As preces, que acontecem ao mesmo tempo dos sibilos, parecem ações que retiram do corpo a causa espiritual da enfermidade. As cirurgias não são demoradas, e uma vez concluídas, os médicos passam aos pacientes as recomendações físicas típicas de um pós-operatório – repousos, abstenção de hábitos como fumo e bebida por determinado tempo, dietas específicas – porque apesar da cirurgia ter sido feita no plano espiritual, seus efeitos serão sentidos no plano físico, que como qualquer corpo submetido a um procedimento invasivo, faz-se necessário um conjunto de cuidados para preservar os resultados positivos de uma operação. São ministrados medicamentos – fornecidos pela própria instituição – e recomendações comportamentais, dentre as quais a participação em atividades desenvolvidas na casa, para consolidar os benefícios da cirurgia recém - aplicada, bem como para a prevenção de novos males. Aflita, mãe de um casal de adolescentes, está acometida por câncer nas duas mamas, diagnosticada com quadro grave pelos médicos tradicionais, realizou a cirurgia espiritual não esperando cura, mas um diagnóstico do seu futuro, em virtude dos compromissos em vida que a mesma possui, enquanto esposa e mãe, por exemplo. Escolarizada, culta e consciente de sua condição, Aflita recebeu a intervenção cirúrgica dos médicos espirituais, e recebeu a informação destes que seu câncer, apesar de grave, ficará contido no local já instalado, não será revertido por eles, mas os mesmos garantiram que não haverá metástase, pois eles realizaram procedimentos que impediriam o acontecimento deste fenômeno, tão recorrente ente esse tipo de paciente e diagnóstico. Renascida, também acometida do mesmo mal, mas em estágio menos avançado, depôs que está em sua terceira intervenção espiritual, e que os procedimentos tinham a finalidade de proceder à reversão do quadro, o que, de acordo com ela, estava obtendo 18 sucesso, a ponto de gerar incômodo ao profissional que a acompanha neste plano, na medida em que os exames comprovariam o retrocesso sem metástases, do tumor encontrado. Contudo, as cirurgias mediúnicas exigiram dela, como terapias pós- cirúrgicas, não só procedimentos alimentares ou corporais diversos, mas uma reforma pessoal, uma vez que, dentro da concepção de que as doenças físicas são reflexos das causas originadas por comportamentos que afetam primeiro o espírito, seu comportamento, a forma como lida com seu círculo de convívio, seus valores e hábitos cotidianos, deveriam ser reformulados, para que tanto o câncer de mama motivo de sua presença no local, mas a possibilidade iminente de novos tumores, na garganta e no pulmão fossem evitados. Renascida não deu maiores detalhes sobre sua forma de levar a vida, embora reconheça que vem dando todos os motivos para chegar no estágio físico em que se encontrava. Com uma ou outra nuance que pode dar um aspecto mais pessoal aos relatos citados, de uma maneira geral as pessoas que procuram os centros espíritas trazem as mesmas agruras que fazem outras pessoas optarem pelo catolicismo, protestantismo, pentecostalismo, entre outras: a busca de soluções “mágicas” (menos no sentido literal da palavra, mas no sentido de alternativa aos processos socialmente vigentes e que em muitos casos estão mais inacessíveis a estas pessoas do que as instituições governamentais afirmam) para questões que, embora enquanto cidadãos estes possuam por direito de respostas mas nem sempre de fato, e para alívio emocional diante de crescentes ocorrências que as vitimam e aos seus entes queridos, presentes ou não, e a consequente dificuldade de superar esses sentimentos; analisar os procedimentos adotados nas casas espíritas e fazer uma comparação pura e simples com as formas pelas quais as outras instituições religiosas fatalmente fará o observador incauto chegar à conclusão de que estas todas se assemelham, não em relação às suas formas, é claro, mas em relação às práticas, principalmente se a observação concentrar-se na relação com os representantes da instituição com o divino. 19 CONCLUSÃO Apropriar-se de um poder é, talvez, um desejo humano; seja em sociedades ocidentais complexas, onde as relações de poder permeiam quase todas as atividades humanas, seja em culturas onde aparentemente suas relações sociais sejam mais simples, ainda que com finalidades e situações bem definidas, faz do indivíduo que arroga para si essa capacidade alguém diferenciado, fazendo deste uma referência entre seus pares. Diversas são as organizações humanas onde o corredor que une o divino e o humano é estreito, geralmente ocupado quase sempre por uma ou poucas pessoas. A figura do “Deus na Terra”, a personificação do divino em um ser escolhido para representá-lo, e julgar, sob critérios subjetivos, a legitimidade, justeza, necessidade ou pertinência dos pedidos dos seus “cordeiros”, estabelece para esses não só um conjunto de rituais, sacrifícios (não necessariamente iguais aos realizados antigamente, mas simbolicamente semelhantes), penitências, romarias, etc., toda a sorte de ações com a finalidade de indulgenciar o humano comum, e permitir que tenha a oportunidade de, um dia, ultrapassar o corredor estreito e se transferir para o além do qual acredita. Tal forma de atuação religiosa nem é e nunca foi novidade; também não passapor esse aspecto o diferencial demonstrado nas atividades descritas. As diferentes culturas apresentam, sob o ponto de vista religioso algumas semelhanças não só entre si, mas apresentam uma conduta muitas vezes paralela à forma de poder político instituído, onde a distribuição vertical de poder e de mando conferem mutuamente respaldo. É aí que se enxerga a mudança de eixo nos centros espíritas. Cabe dizer que as semelhanças nas práticas religiosas com as demais estruturas em uma sociedade fazem e possuem seu sentido, na medida em que uma religião que não se desenvolva dentro de uma lógica que possa ser reconhecida pelo frequentador, tende ao esvaziamento; as instituições como família, representações políticas, organizações empresariais, entre outras, costumam ser verticalizadas e afuniladas (cada vez um número menor de pessoas próximas do “topo”, do “alto”). As práticas religiosas são pródigas em exemplos onde a figura do seu representante concentra senão totalmente, mas em grande parte, o monopólio do uso do poder divino, e a manifestação de seu poder tende a passar, necessariamente, pela figura deste representante. E dessa forma é que inúmeras seitas tem crescido dentro e fora do Brasil, atraídas normalmente por uma ou poucas pessoas, trazendo para dentro de seus templos um sem número de fiéis. Na contramão dessas práticas, sem descartar elementos presentes em nossa cultura (não é gratuita a 20 associação entre Mentor e Padroeiro, Médiuns e Profetas ou Santos, e na mesma sintonia os Amigos Espirituais), o espiritismo aproxima da pessoa leiga ou comum o acesso ao que se pode chamar de contato com o divino, alargando o então estreito corredor, diluindo a figura do redentor, do provedor, nas figuras já citadas acima, horizontalizando as relações e as propaladas benesses oferecidas. Trata-se de uma apropriação do poder divino em larga escala, democratizada, de baixíssima “tributação”, trazendo de forma silenciosa, mas crescente, uma mudança nos paradigmas da relação entre o Humano e o Divino. 21 BIBLIOGRAFIA FONTE DE CONSULTA: Fernandes, Paulo César C.: “As Origens do Espiritismo no Brasil” – UnB – 2008 Damazio, Sylvia: “Da Elite ao Povo” – Bertrand Brasil – 1994 Giumbelli, Emerson: “O Cuidado dos Mortos” – Ministério da Justiça, Arquivo Nacional, 1997 Stoll, Sandra Jacqueline: “Entre dois Mundos: O Espiritismo na França e no Brasil” – 1999 – Departamento de Antropologia da USP Santos, José Luís dos: “Espiritismo, uma religião Brasileira” – Moderna – 1997 Magnani, José Guilherme - “Etnografia como prática e experiência” in Horizontes Antropológicos vol. 15 nº 32 Sahlins, Masrshall – “O ‘Pessimismo Sentimental’ e a experiência etnográfica: porque a cultura não é um ‘objeto’ em via de extinção”, in Mana, vol. 3, nos. 1 e 2, 1997. Turner, Victor – “Um Curandeiro Ndembu e sua Prática”, in Floresta dos Símbolos. Niterói: Editora UFF, 2005. Turner, Victor – “Liminaridade e ‘Communitas’” – cap. 3 in O Processo Ritual: Estrutura e Antiestrutura. Petrópolis, RJ: Vozes, 1974.
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