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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI Bacharelado em Ciência e Tecnologia Felipe Coelho Donato DESCOLAMENTO DE REVESTIMENTO CERÂMICO: estudo de casos na cidade de Ipatinga/MG Teófilo Otoni 2018 Felipe Coelho Donato DESCOLAMENTO DE REVESTIMENTO CERÂMICO: estudo de casos na cidade de Ipatinga/MG Monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri como requisito para a obtenção de título de Bacharel em Ciência e Tecnologia. Orientador: Prof. Igor Brumano Coelho Amaral Coorientadora: Prof.a Dr.a Arlete Barbosa dos Reis Teófilo Otoni 2018 Felipe Coelho Donato DESCOLAMENTO DE REVESTIMENTO CERÂMICO: estudo de casos na cidade de Ipatinga/MG Monografia apresentada ao curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri como requisito para a obtenção de título de Bacharel em Ciência e Tecnologia. Orientador: Prof. Igor Brumano Coelho Amaral Coorientadora: Prof.a Dr.a Arlete Barbosa dos Reis Data de aprovação 9/3/2018. Prof. Igor Brumano Coelho Amaral Instituto de Ciência e Tecnologia - UFVJM Prof. Dr. Bernat Vinolas Prat Instituto de Ciência e Tecnologia - UFVJM Prof.ª Dr.ª Maria Clara de Carvalho Guimarães Departamento de Agronomia - UFVJM Prof.ª MSc. Elaine Santos Teixeira Cruz Instituto de Ciência e Tecnologia - UFVJM Teófilo Otoni 2018 RESUMO Houve, nas últimas décadas, um grande impulso na construção civil em Ipatinga-MG, e com a grande quantidade de construções, constatou-se a presença de fachadas prediais revestidas por materiais cerâmicos. Esse alto uso se dá pelas vantagens na utilização, como a durabilidade, facilidade de limpeza, isolamento térmico e acústico, dentre outras. Este crescimento acelerado propiciou o surgimento de manifestações patológicas nas edificações, chamando-se a atenção para as fachadas com descolamento dos revestimentos cerâmicos, fomentando o desejo de se aprofundar em um estudo de caso a respeito dessa patologia na cidade. Dessa forma, a partir de um fluxograma bastante utilizado nesta área da engenharia civil, traçou-se um plano de pesquisa no qual se tomou referências para estudos bibliográficos a fim de se adquirir conhecimento prévio a respeito das manifestações patológicas em construções civis, baseando-se em conceitos de durabilidade, vida útil e desempenho, assim como classificações, características e propriedades físicas e químicas, terminologias, formas de execução, entre outras Normas Técnicas relacionadas às placas cerâmicas de revestimento. Posteriormente, por meio de vistorias nos locais, identificou-se a manifestação patológica de descolamento de revestimentos cerâmicos (azulejos e pastilhas) nas fachadas prediais da cidade, relacionando-se as possíveis causas com os estudos bibliográficos feitos, no qual se constatou as possíveis e mais frequentes como sendo a dilatação das placas cerâmicas relacionadas a ausência das juntas de dilatação, além da má execução do serviço de aplicação e assentamento, e utilização de materiais de baixa qualidade. Foram analisadas 8 edificações, que possuíam de 4 a 8 pavimentos. Como consequência, concluiu-se que esses descolamentos cerâmicos oferecem alto risco de acidentes para transeuntes em calçadas e imóveis ao redor, além dos moradores e carros dos próprios prédios danificados. Há, também, o fator econômico ligado ao prejuízo pela necessidade de gastos inesperados com a recuperação das fachadas. Propôs-se, dessa forma, como intervenção ao problema, a recuperação com retirada parcial ou total do revestimento, executando-se corretamente a aplicação e assentamento, seguindo-se com rigor normas técnicas e indicações de fabricantes. Em casos mais graves, sugeriu-se remover e reexecutar todas as camadas anteriores às placas cerâmicas. Palavras chave: Manifestações patológicas. Revestimento. Material cerâmico. ABSTRACT In the last decades, there has been a great impulse in the civil construction in Ipatinga-MG, and with the great amount of constructions, it was verified the presence of building façades covered by ceramic materials. This high use is due to the advantages in use, such as durability, ease of cleaning, thermal and acoustic insulation, among others. This accelerated growth led to the appearance of pathological manifestations in the buildings, calling attention to the facades with detachment of the ceramic coverings, fomenting the desire to go deeper into a case study about this pathology in the city. Thus, from a flow chart widely used in this area of civil engineering, a research plan was drawn up in which reference was made to bibliographic studies in order to obtain prior knowledge about the pathological manifestations in civil constructions, based in terms of durability, shelf life and performance, as well as classifications, characteristics and physical and chemical properties, terminologies, execution methods, among other Technical Norms related to ceramic coating plates. Later, by means of surveys at the sites, the pathological manifestation of the detachment of ceramic tiles (tiles and tablets) from the facades of the city was identified, relating the possible causes with the bibliographical studies done, in which the possible more frequent as the dilation of the ceramic plates related to the absence of expansion joints, besides the poor execution of the application and settlement service, and the use of low quality materials. Eight buildings, with 4 to 8 floors, were analyzed. As a consequence, it was concluded that these ceramic detachments pose a high risk of accidents to passers-by on sidewalks and surrounding buildings, as well as the residents and cars of the damaged buildings themselves. There is also the economic factor linked to the loss of the need for unexpected expenses with the recovery of the façades. It was proposed, therefore, as an intervention to the problem, the recovery with partial or total removal of the coating, correctly executing the application and settlement, followed strictly technical standards and indications of manufacturers. In more severe cases, it was suggested to remove and reexecute all layers prior to ceramic plates. Keywords: Pathological manifestations. Coating. Ceramic material. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Localização de Ipatinga em relação a Belo Horizonte. .......................................... 10 Figura 2 – Camadas que compõem o revestimento externo .................................................... 18 Figura 3 - Fluxograma de Lichtenstein ....................................................................................24 Figura 4 – Descolamento de revestimento no Prédio A ......................................................... 25 Figura 5 – Manifestação patológica do prédio A: perda de aderência das placas causada pela ausência de juntas de dilatação ................................................................................................ 26 Figura 6 – Desplacamento e deterioração das camadas subsuperficiais................................. 27 Figura 7 – Descolamento do revestimento na base do Prédio A causado pela umidade de jardim ....................................................................................................................................... 28 Figura 8 – Fachada degradada no prédio B ............................................................................. 29 Figura 9 – Descolamentos cerâmicos no prédio B .................................................................. 30 Figura 10 – Dilatação causando descolamentos cerâmicos ..................................................... 30 Figura 11 – Queda do revestimento do Prédio B .................................................................... 31 Figura 12 – Fachada do Prédio C ............................................................................................ 32 Figura 13 – Fachada do Prédio D ............................................................................................ 33 Figura 14 – Fachada do Prédio E............................................................................................. 34 Figura 15 – Prédio F ................................................................................................................ 35 Figura 16 – Prédio G ............................................................................................................... 36 Figura 17 – Descolamento de pastilhas no Prédio F ............................................................... 36 Figura 18 – Descolamento de revestimento na fachada lateral do Prédio H ........................... 37 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Classificação de revestimento cerâmico quanto à absorção de água ..................... 14 Tabela 2 – Resistência à Abrasão Superficial (PEI) ................................................................ 15 Tabela 3 – Codificação dos níveis das resistências químicas .................................................. 16 Tabela 4 – Classificação quanto à facilidade de remoção de manchas ................................... 16 Tabela 5 – Normas Técnicas relacionadas à revestimentos cerâmicos ................................... 17 Tabela 6 – Identificação dos edifícios ..................................................................................... 23 Tabela 7 – Divisão por prédio das manifestações patológicas no revestimento cerâmico ...... 38 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9 1.1 Área de estudo .................................................................................................................. 10 1.2 Justificativa ...................................................................................................................... 11 1.3 Objetivos ........................................................................................................................... 11 1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................................................ 11 1.3.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 12 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 13 2.1 Desempenho, durabilidade e vida útil de revestimentos cerâmicos ............................ 13 2.2 As propriedades das placas cerâmicas........................................................................... 14 2.2.1 Absorção de água ........................................................................................................... 14 2.2.2 Resistência à abrasão .................................................................................................... 14 2.2.3 Aderência ....................................................................................................................... 15 2.2.4 Resistência ao ataque químico ...................................................................................... 15 2.2.5 Resistência a manchas ................................................................................................... 16 2.3 Normas Técnicas (ABNT) ............................................................................................... 17 2.3.1 Aplicação ........................................................................................................................ 19 2.4 Causas de descolamento dos revestimentos cerâmicos ................................................ 19 2.5 Principais formas de manifestação e ocasionamento ................................................... 20 3 METODOLOGIA ............................................................................................................... 23 3.1 Plano de Pesquisa ............................................................................................................ 24 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 25 4.1 Prédio A ............................................................................................................................ 25 4.2 Prédio B ............................................................................................................................ 28 4.3 Prédio C ............................................................................................................................ 31 4.4 Prédio D ............................................................................................................................ 33 4.5 Prédio E ............................................................................................................................ 33 4.6 Prédio F ............................................................................................................................ 34 4.7 Prédio G ............................................................................................................................ 35 4.8 Prédio H ............................................................................................................................ 37 5 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 39 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 41 9 1 INTRODUÇÃO Um dos grandes objetivos da construção civil é a busca pela maior durabilidade e desempenho, relacionados à vida útil das estruturas e acabamentos. As discussões acerca da durabilidade das estruturas estão chamando atenção porque se tem visto construções recentes passando por processos de recuperação em diversos pontos, como estrutura, alvenaria, revestimentos e acabamentos, instalações dentre outros. Tais recuperações são fruto de manifestações patológicas, que se têm tornado mais comuns nas construções civis, visto que, muitas vezes, para que haja uma redução de custos, são utilizados materiais de menor qualidade, mão-de-obra sem qualificação adequada e a tentativa de prontificar a obra em tempo muito curto (POSSAN; DEMOLINER, 2013; MANSUR; NASCIMENTO; MANSUR, 2012; PINTO, AMARAL, 2015). A tentativa da redução de custos a curto prazo acarreta muitas vezes o aumento dos custos a longo prazo, devido ao fato de que uma obra mal feita poderá apresentar manifestações patológicas mais rapidamente e com frequência, que podem causar um grande prejuízo quanto à necessidade de recuperaçãourgente (SOUZA; ALMEIDA; VERÇOSA, 2004). Esses problemas podem ser evitados desde os levantamentos iniciais da construção, quando há um maior investimento durante os processos iniciais de uma obra, sobretudo na qualidade e compatibilização dos projetos. Durante sua vida útil, quando parte de uma edificação apresenta desempenho abaixo do previsto, dá-se o nome de patologia. Algumas das patologias mais comuns na construção civil são trincas e fissuras, mofos e bolores, infiltrações, corrosões de armadura, descolamentos de revestimentos, rachaduras, entre outras (GALDINO et al., 2016; RACHID; LONDERO, 2013). De acordo com Lichtenstein (1986), a resolução de tais problemas patológicos se inicia com vistorias no local, anamneses, exames complementares e pesquisas (bibliográficas, tecnológicas e científicas), diagnóstico, prognóstico e alternativas de intervenção, definição de conduta, execução, avaliação e registro do caso. No que tange revestimentos de fachadas prediais, as cerâmicas possuem inúmeras vantagens, como durabilidade do material, facilidade de limpeza, qualidade do acabamento, estética agradável, isolamento térmico e acústico, proteção a superfícies vedadas, estanqueidade à água, além da enorme quantidade de opções em tamanhos, cores etc. Em contrapartida, o desempenho e a durabilidade dos revestimentos cerâmicos estão ligados a um bom e detalhado projeto, acompanhado da escolha correta da cerâmica, qualidade dos materiais no assentamento e do rejunte, além da qualificação do profissional assentador e 10 rejuntador (SILVA et al., 2015). Pelo fato de as fachadas serem expostas ao meio externo, são mais sensíveis às alterações climáticas, como chuva, vento e sol. Por esse motivo, deve-se atentar para escolha de cerâmicas com baixas expansões por umidade e calor e baixas absorções de água. Com o acelerado crescimento da cidade de Ipatinga-MG, causado pela implantação de grandes indústrias na região, as construções foram se erguendo de forma rápida e muitas vezes sem o cuidado adequado com as obras. Essa falta de atenção ao projeto e materiais utilizados levou ao surgimento de degradações prematuras das edificações. No município, deve-se ao alto índice de fachadas prediais apresentando descolamentos de revestimentos cerâmicos particular atenção, por se tratar de uma patologia muito observada na cidade. 1.1 Área de estudo Delimitou-se o bairro Cidade Nobre na cidade de Ipatinga como a área de estudo relacionada à manifestação patológica do descolamento de revestimentos cerâmicos, com foco nas fachadas dos prédios. Escolheu-se este bairro por ser um bairro com grande número de prédios com revestimentos cerâmicos em azulejos e pastilhas. A cidade de Ipatinga está localizada no Estado de Minas Gerais (MG), na mesorregião Vale do Rio Doce e também Região Metropolitana do Vale do Aço (subdivisão) (IBGE, 2017). O município possui, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017) uma população estimada para a ano de 2017 de 261.203 pessoas, visto que o último censo realizado aconteceu em 2010, e uma área territorial de 164,88 km². Em relação à Belo Horizonte/MG, capital estadual, está a uma distância aproximada de 226 km, via rodovias BR-381, BR-120, MG-129 e MG-434. Figura 1 – Localização de Ipatinga em relação a Belo Horizonte. Fonte: GOOGLE MAPS (2017). 11 O clima é predominantemente tropical, podendo, em alguns pontos mais altos, ser considerado tropical de altitude. Anualmente, possui média de precipitação de 1254,9 mm, com mínima mensal de 11,4 mm em julho, mês mais seco. A cidade possui a fama de ser muito quente e, nos últimos anos, os invernos têm sido cada vez mais quentes e secos, justificados pela localização, clima e altitude local (Câmara Municipal de Ipatinga). Todos os edifícios estudados possuem o mesmo tipo de sistema construtivo de estrutura de concreto armado com vedação em alvenarias de cerâmica e fachadas revestidas em argamassa com acabamentos em azulejos ou pastilhas cerâmicas. 1.2 Justificativa O crescente aumento do número de casos patológicos em construções relacionados ao descolamento de revestimentos cerâmicos tem se destacado, embora esta manifestação patológica ainda não esteja inclusa na lista de patologias mais comuns. Este aumento de casos foi muito perceptível em Ipatinga, o que chamou a atenção, principalmente, dos profissionais da área e que estão diariamente envolvidos em estudos voltados para a engenharia civil. Dessa forma, tal crescimento fomentou a necessidade de mais estudos e pesquisas, em busca de detalhes, de maneira que sirva de norte para construções futuras na cidade, além de informações acerca de prevenções e soluções. 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo Geral O objetivo deste trabalho foi analisar as manifestações patológicas nas edificações relacionadas aos descolamentos de revestimentos cerâmicos na cidade de Ipatinga-MG, assim como encontrar suas possíveis causas, origens, natureza e consequências. 12 1.3.2 Objetivos Específicos Identificar edificações dispostas pelo município de Ipatinga com aparentes manifestações patológicas de descolamento cerâmico; Analisar as possíveis causas das manifestações patológicas identificadas; Citar as possíveis consequências dessas manifestações patológicas; Sugerir formas de intervenções para os problemas apresentados. 13 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Desempenho, durabilidade e vida útil de revestimentos cerâmicos Possan e Demoliner (2013) definem desempenho como o comportamento em uso, e apontam que o desempenho de uma edificação, incluindo o revestimento externo de fachada, como sendo o período de tempo que este revestimento se comporta nas condições previstas, incluindo o ambiente no qual a cerâmica está exposta, levando em consideração a umidade, a temperatura, a insolação, os ventos e outros agentes. Segundo a NBR 15575-1 (ABNT, 2013), o desempenho adequado de uma edificação se dá após a captação dos requisitos de desempenho qualitativos e quantitativos, que são descritos e exemplificados nela, baseados na norma ISO 6241. A vida útil de uma edificação e, por conseguinte, do revestimento cerâmico, é um parâmetro de medida da expectativa de duração da estrutura ou o material e suas composições, sendo descrita pela ISO 13823 como um período de tempo que uma estrutura ou seus componentes tenham efetivamente seu desempenho equivalente ao de projeto, sem a necessidade de manutenções, reparos ou outro tipo de ação imprevista. Aspectos técnicos, funcionais e econômicos estão relacionados à vida útil das edificações. Quando a vida útil está relacionada de forma direta a cálculos e execução de obras, dá-se o nome de aspectos técnicos. Quando se refere a capacidade da estrutura de desempenhar e resistir as funções pelas quais se projetou, são chamados de aspectos funcionais. Por sua vez, os aspectos econômicos são relacionados aos custos de manutenção e reparos para que se mantenha os componentes da edificação em bom estado (AMARAL, SILVA, REIS, 2017). Dessa maneira, o conceito de durabilidade do revestimento está ligado diretamente à vida útil da cerâmica e do processo de assentamento, que se baseia na característica que cada tipo de material apresenta quando exposto às condições de utilização, sobretudo aos agentes externos ao ambiente (POSSAN; DEMOLINER, 2013). Todavia, as patologias manifestadas nos revestimentos de fachadas causam a perda de funções básicas dos materiaiscerâmicos, como a desvalorização estética e econômica, perda da capacidade de estanqueidade e vedação, além do comprometimento da regularização e acabamento final da fachada do edifício (ANTUNES; CASTRO; BAUER, 2010). 14 2.2 As propriedades das placas cerâmicas 2.2.1 Absorção de água Esta propriedade possui relação direta com a porosidade do material, sendo dividida em 5 tipos (Tabela 1). Outras características como resistência a impactos, resistência mecânica e química, expansão por umidade etc. possuem associação com a absorção de água. As placas cerâmicas terão maior aderência à argamassa e menor resistência mecânica quão maior a porosidade das mesmas. Em regiões nas quais a água tem grande tendência a congelar, como regiões muito frias, ou câmaras, são exigidas placas cerâmicas com um alto grau de absorção, uma vez que o congelamento leva ao grande aumento de volume, o que as danifica (SILVA et al., 2015). Tabela 1 – Classificação de revestimento cerâmico quanto à absorção de água Tipologia de produto Absorção de água (%) Grupo de absorção Porcelanato 0 a 0,5 Quase nula Grés 0,5 a 3,0 Baixa Semi-grés 3,0 a 6,0 Média Semi-poroso 6,0 a 10,0 Média alta Poroso Acima de 10,0 Alta Fonte: ABNT NBR 13.817:1997, adaptado. 2.2.2 Resistência à abrasão Esta é uma classificação mais voltada às cerâmicas utilizadas em pisos, uma vez que representa a oposição ao desgaste superficial do esmalte das placas, provocado pelo trânsito de pessoas e objetos. A resistência à abrasão é divida entre Superficial e Profunda. A superficial é voltada para produtos esmaltados, na qual se utiliza um aparelho que causa a abrasão superficial através de esferas de aço e materiais abrasivos. O nome desde método utilizado é o PEI (Porcelain Enamel Institute), apresentado na Tabela 2. 15 Tabela 2 – Resistência à Abrasão Superficial (PEI) Abrasão Resistência Tráfego Local de uso Grupo 0 Baixíssima - Paredes Grupo 1 – PEI-1 Baixa Baixo Banheiros residenciais, quartos de dormir Grupo 2 – PEI-2 Média Médio Cômodos sem portas para o exterior de banheiros Grupo 3 – PEI-3 Média alta Médio alto Cozinhas, corredores, halls, etc Grupo 4 – PEI-4 Alta Alto Residências, garagens, lojas, hospitais, lojas, bancos, etc Grupo 5 – PEI-5 Altíssima e sem manchas após abrasão Altíssimo Residências, áreas públicas, shoppings, aeroportos, padarias e fast-foods Fonte: SILVA, 2015, adaptado. Por sua vez, a resistência à abrasão profunda é voltada para produtos não esmaltados, na qual se mede o volume de material removido em profundidade da placa, quando um aparelho provoca a abrasão por meio de um disco rotativo e um material abrasivo específico. 2.2.3 Aderência Ao entrar em contato com a base, o revestimento cerâmico recebe tensões normais e tangenciais. Esse revestimento deve-se manter fixo ao substrato, e quanto maior sua fixação, maior a propriedade de aderência do material. Uma boa e correta fixação das placas depende também das propriedades da argamassa utilizada, do modo correto de execução, da natureza da base e correta limpeza da superfície (SILVA, 2015). 2.2.4 Resistência ao ataque químico A resistência ao ataque químico é avaliada em classes residenciais ou industriais. As residenciais dizem respeito a produtos domésticos e todos os tipos de revestimentos cerâmicos devem possuir resistência química a esses tipos de produtos. Já a classe industrial é denominada para placas cerâmicas que devem possuir resistência a ácidos fortes, concentrados e quentes, sendo placas especiais. 16 Usa-se, nas tabelas de especificação, um código constituído por 3 letras. A primeira delas se refere ao tipo de placa cerâmica, se esmaltada ou não (letra G - Glazed ou U - Unglazed). A segunda letra (H - high ou L - low) se refere à alta ou baixa concentração, e a terceira letra (A, B ou C), é referente às classes de resistência química, alta, média ou baixa, respectivamente, conforme a NBR 13817:1997, como mostra a Tabela 3. Tabela 3 – Codificação dos níveis das resistências químicas Agentes químicos Concentração Alta Resistência (A) Média Resistência (B) Baixa Resistência (C) Ácidos e álcalis Alta concentração (H) HA HB HC Ácidos e álcalis Baixa concentração (L) LA LB LC Produtos domésticos e de piscinas - A B C Fonte: ABNT NBR 13817:1997, adaptado. 2.2.5 Resistência a manchas Os revestimentos cerâmicos resistentes a manchas estão relacionados ao quão lisa a superfície deles é, uma vez que essa propriedade indica a facilidade de limpeza da superfície, e quanto à aspereza, que a classifica como antiderrapante. A resistência a manchas indica a facilidade de remoção de manchas da superfície cerâmica, como mostra a tabela 4. Tabela 4 – Classificação quanto à facilidade de remoção de manchas Classes Facilidade de remoção Classe 5 Máxima facilidade de remoção de mancha Classe 4 Mancha removível com produto de limpeza fraco Classe 3 Mancha removível com produto de limpeza forte Classe 2 Mancha removível com ácido clorídrico, hidróxido de potássio e tricloroetileno Classe 1 Impossibilidade de remoção da mancha Fonte: ABNT NBR 13817:1997, adaptado. 17 2.3 Normas Técnicas (ABNT) Para que uma fachada com revestimento cerâmico não apresente manifestações patológicas, deve haver um procedimento correto de execução apresentado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, conforme a lista abaixo. Atrelado a isso, os materiais devem ser de boa qualidade, com aprovação e selo do INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Tabela 5 – Normas Técnicas relacionadas à revestimentos cerâmicos ABNT NBR 15825:2010 - Qualificação de pessoas para a construção civil – Perfil profissional do assentador e do rejuntador de placas cerâmicas e porcelanato para revestimentos ABNT NBR 15463:2007 - Placas cerâmicas para revestimento – Porcelanato ABNT NBR 14081:2004 - Argamassa colante industrializada para assentamento de placas cerâmicas – Requisitos ABNT NBR 14082:2004 - Argamassa colante industrializada para assentamento de placas cerâmicas - Execução do substrato-padrão e aplicação de argamassa para ensaios ABNT NBR 14083:2004 - Argamassa colante industrializada para assentamento de placas cerâmicas - Determinação do tempo em aberto ABNT NBR 14084:2004 - Argamassa colante industrializada para assentamento de placas cerâmicas - Determinação da resistência de aderência à tração ABNT NBR 14085:2004 - Argamassa colante industrializada para assentamento de placas cerâmicas - Determinação do deslizamento ABNT NBR 14086:2004 - Argamassa colante industrializada para assentamento de placas cerâmicas - Determinação da densidade de massa aparente ABNT NBR 14992:2003 - A.R. - Argamassa à base de cimento Portland para rejuntamento de placas cerâmicas - Requisitos e métodos de ensaios ABNT NBR 13816:1997 - Placas cerâmicas para revestimento – Terminologia ABNT NBR 13817:1997 - Placas cerâmicas para revestimento – Classificação ABNT NBR 13818:1997 - Versão Corrigida: 1997 - Placas cerâmicas para revestimento - Especificação e métodos de ensaios ABNT NBR 13753:1996 - Revestimento de piso interno ou externo com placas cerâmicas e com utilização de argamassa colante – Procedimento 18 ABNT NBR 13754:1996 - Revestimento de paredes internas com placas cerâmicas e com utilização de argamassa colante – Procedimento ABNT NBR 13755:1996 - Versão Corrigida: 1997 - Revestimento de paredes externase fachadas com placas cerâmicas e com utilização de argamassa colante - Procedimento Deve-se atentar às normas NBR 13753, 13754 e 13755 (ABNT, 1996a; ABNT, 1996b; ABNT, 1996c), que tratam das juntas de assentamento, juntas de movimentação e de dessolidarização e juntas estruturais em revestimentos cerâmicos. As juntas de assentamento compensam as pequenas variações de tamanhos das placas, facilitam o alinhamento, acomodam possíveis movimentações, facilita o rejuntamento e a trocas de placas caso seja necessária. As juntas de movimentação são necessárias para absorver a variações causadas pela dilatação do material, por isso também chamadas de juntas de dilatação. Em paredes externas as juntas horizontais devem ser feitas a cada três metros na região de encunhamento da alvenaria (Figura 2), e as juntas verticais a cada seis metros. As juntas estruturais são de devida importância também pelo fato de a possível expansão da estrutura pode acarretar a movimentação do revestimento e consequente descolamento de placas cerâmicas. Figura 2 – Camadas que compõem o revestimento externo Fonte: Oliveira (2013). Conforme a figura, o revestimento externo é composto pela base, chapisco, emboço, argamassa colante (reboco), placa cerâmica e junta de movimentação ou dilatação. A base é composta pelo elementro estrutural/alvenaria; o chapisco é uma argamassa de preparo do substrato; o emboço é uma argamassa de regularização; e o reboco é uma 19 argamassa colante industrializada de fixação das placas cerâmicas. Logo após, ocorre o preenchimento com as cerâmicas e as juntas de assentamento e de movimentação (ULLRICH, 2017). 2.3.1 Aplicação Para o assentamento de superfícies externas, deve-se utilizar argamassa colante pré- fabricada, atentando-se de forma rigorosa as instruções de fábrica, incluindo-se quantidade de massa em função da velocidade de aplicação, tempo cura, condições climáticas momentâneas etc. (LIMA, 2014). Devem ser pré-fabricados também os rejuntes, caracterizando-se pela alta capacidade adesiva e aditivados com polímeros, para que haja o desempenho esperado, sem sofrer esmagamento. Com a cura completa dos rejuntes e assentamentos, impermeabiliza-se/veda-se a superfície com muita atenção à execução perfeita do trabalho. As juntas de movimentação devem ser limpas/desengorduradas com metiletilcetona e vedadas com mástique de silicone de elasticidade permanente (LIMA, 2014). A execução é de importante atenção, sendo de grande valia observador com cuidado a correta especialização de executor, o acompanhamento de um responsável técnico, uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPIs) e de segurança, transcrição detalhada de produtos e procedimentos técnicos no corpo do contrato. 2.4 Causas de descolamento dos revestimentos cerâmicos De acordo com Fontenelli e Moura (2009), as principais causas desta manifestação patológica são: Projeto específico pouco ou mal detalhado; Falha de projeto e na escolha do material; Deformação a longo prazo da estrutura/alvenaria; Dilatação por variações cíclicas de umidade e de temperatura; Tempo em aberto do chapisco, emboço, argamassa colante já vencido (má execução); Assentamento sobre superfície contaminada (má execução); 20 Falta de acompanhamento técnico da mão-de-obra na execução e/ou controle dos serviços; Ausência de juntas de dilatação e movimentação. Dessas, as mais comuns são: má execução dos serviços, na qual muitas vezes os mestres de obras não têm a qualificação adequada para realizar o trabalho ou não possui orientação/acompanhamento técnico. Dilatação das placas por umidade e temperatura e ausência de juntas de dilatação e movimentação também estão dentre as mais comuns e muitas vezes estão relacionadas umas às outras, de forma que o descolamento se dá quando a placa tende a se dilatar e não possui um dispositivo (junta) para amenizar as tensões provocadas. 2.5 Principais formas de manifestação e ocasionamento A perda de aderência dos revestimentos cerâmicos da argamassa colante é uma característica comum do descolamento ou destacamento. Isso é ocasionado quando as tensões na placa são maiores do que a capacidade de fixação com o emboço. Neste caso, há a manifestação de um som cavo (oco) nas placas, onde se visualiza um estufamento das placas com os rejuntes, e posteriormente (imediatamente ou não) o descolamento do revestimento. Esse tipo de manifestação é de grande preocupação, uma vez que pode provocar acidentes graves com transeuntes. Devido ao maior nível de tensões, os primeiros e últimos andares geralmente são os que apresentam com maior frequência a patologia (FONTENELLE; MOURA, 2009). As fissuras (rachaduras) nesses revestimentos cerâmicos se dão, geralmente, ao redor das aberturas geradas pelas tensões nas placas, próximos a quinas (vértices) de portas e janelas. Esse fator está ligado muitas vezes a ausência ou má execução das vergas e contra- vergas. Além disso, outros vários fatores estão relacionados as fissuras nas placas, como por exemplo o excesso de flechas em vigas e lajes, ancoragem deficiente em pilares e alvenaria, movimentos diferenciais em parede contínua, provocadas por razões estruturais ou térmicas jutamente com falhas de projeto e má execução (ANTUNES; BAUER; CASTRO, 2010). Rejuntes muitas vezes tendem a se deteriorar, ocasionados por impactos mecânicos nas regiões de encontro (como esquadrias), envelhecimento dos mesmos, má execução da aplicação, contaminação do material e ação de intempéries (ANTUNES; BAUER; CASTRO, 2010). 21 As juntas de movimentação são danificadas muitas vezes ao se obstruírem pelo uso, no preenchimento, de materiais rígidos. Elas se deterioram por falhas na execução, muitas vezes havendo má vedação da superfície como um todo, e também por envelhecimento. Outra ocorrência muito comum que ocasiona a danificação das juntas é o desrespeito ao limite em comprimento tanto nas juntas horizontais quanto verticais, especificadas em normas técnicas (ANTUNES; BAUER; CASTRO, 2010). 22 23 3 METODOLOGIA Para analisar a ocorrência do descolamento de revestimentos cerâmicos nas fachadas das edificações situadas na cidade de Ipatinga, este trabalho se desenvolveu inicialmente com a obtenção de informações a partir de revisão de literatura das patologias mais comuns nas construções com enfoque nos revestimentos cerâmicos, sobretudo em suas causas e consequências. Nessa fase da pesquisa, pôde-se entender melhor o conceito de desempenho, durabilidade e vida útil das construções, e a relação com os revestimentos cerâmicos de fachadas. Inicialmente, foi definido o bairro Cidade Nobre para verificar a existência de fachadas de revestimentos cerâmicos que apresentassem manifestações patológicas, sendo visitadas as principais ruas e avenidas do bairro. A partir dessa análise prévia, foram identificados oito edifícios na região demarcada e então se realizaram pesquisas de campo com vistoria dos locais, classificando os prédios de acordo com o número de pavimentos (Tabela 6). Tabela 6 – Identificação dos edifícios Edifício Nº de Pavimentos Prédio A 8 Prédio B 4 Prédio C 4 Prédio D 5 Prédio E 4 Prédio F 4 Prédio G 5 Prédio H 5 24 3.1 Plano de Pesquisa Para se diagnosticar a situação do descolamento dos revestimentos cerâmicos em fachadas, seguiu-se o fluxograma proposto por Lichtenstein (1986) de forma que são interpretadas todas as causas e efeitos durante a vistoria do local, anamnesee exames complementares. Para isso, faz-se um levantamento de dados sobre os problemas visuais que, quanto maiores, menor será a incerteza da hipótese das causas. Reduzindo-se a incerteza, reduz-se o número de hipóteses possíveis, assim, há uma correlação satisfatória do real problema observado e seu diagnóstico. Assim, tem-se o prognóstico e alternativas de intervenção, definindo-se a conduta de recuperação, de forma que se preveja o desempenho e a durabilidade satisfatórios ao se concluir o trabalho. A prescrição do serviço a ser realizado recebe o nome de laudo técnico, onde devem estar determinados os materiais a serem utilizados na recuperação, a determinação de geometria, juntas, acabamentos, procedimentos de execução, controle e diretrizes bem definidas para manutenções. Figura 3 – Fluxograma de Lichtenstein Fonte: LICHTENSTEIN, 1986, adaptado. É importante ressaltar que neste trabalho não foram realizados exames complementares, em que há a análise laboratorial para melhores conclusões. Além disso, não foram definidas condutas e execução das recuperações/manutenções, assim como a avaliação e o laudo técnico. 25 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram inspecionados nove prédios na cidade de Ipatinga, genericamente denominados de A a H. Os resultados do registro fotográfico das visitas técnicas serão apresentados ao longo desde capítulo. 4.1 Prédio A Percebe-se que possivelmente todo o rejunte na região de encontro (quina) foi mal executado, e atrelado às tensões na placa, favoreceu-se inicialmente a manifestação patológica do descolamento por perda de aderência nessa região e posterior desplacamento (Figura 3). Figura 4 – Descolamento de revestimento no Prédio A Fonte: acervo pessoal Constata-se em outra parte do prédio A que o descolamento do resvestimento cerâmico ocorreu provavelmente por dilatação (Figura 4), uma vez que a fachada não possui juntas de dilatação e movimentação, o que causou a perda de aderência do revestimento cerâmico com a argamassa colante. Por esse motivo, também, é visível o estufamento de algumas placas e o desplacamento de uma delas. Esse tipo de manifestação é que gera o som cavo (oco) nas placas. 26 Figura 5 – Manifestação patológica do prédio A: perda de aderência das placas causada pela ausência de juntas de dilatação Fonte: Acervo pessoal. Vê-se em uma região da fachada, também, desplacamentos e posterior deterioração profunda das camadas de chapisco emboço e reboco (Figura 5). 27 Figura 6 – Desplacamento e deterioração das camadas subsuperficiais Fonte: Acervo pessoal. Outro caso menos preocupante, foi o descolamento do revestimento na parte inferior devido a prováveis infiltrações, que podem ocorrer nas fundações ou pela presença de jardins (neste caso) sem a correta impermeabilização da alvenaria, como ilustrado na Figura 6. 28 Figura 7 – Descolamento do revestimento na base do Prédio A causado pela umidade de jardim Fonte: Acervo pessoal. 4.2 Prédio B A fachada do prédio B aparenta um descolamento generalizado por todo o prédio. O que se pode concluir é que possivelmente houve uma má execução de todo serviço, com provável tempo em aberto das argamassas vencido. Ligado a isso, também, está a ausência de juntas de dilatação horizontais e verticais e a dilatação do material por umidade e temperatura (Figuras 7, 8 e 9). 29 Figura 8 – Fachada degradada no prédio B Fonte: Acervo pessoal. 30 Figura 9 – Descolamentos cerâmicos no prédio B Fonte: Acervo pessoal. Figura 10 – Dilatação causando descolamentos cerâmicos Fonte: Acervo pessoal. Foi constatado que o Prédio B apresenta maior risco aos transeuntes (Figura 10), uma vez que o revestimento está se descolando rapidamente e provocando ainda o enfraquecimento de várias placas adjacentes, havendo queda acentuada na entrada do prédio e 31 na garagem de uma oficina vizinha, podendo causar o prejuízo aos carros ali estacionados, bem como oferecendo riscos aos moradores quando adentram ao prédio. Figura 11 – Queda do revestimento do Prédio B Fonte: Acervo pessoal. 4.3 Prédio C Como dito por Fontenelle e Moura (2009), há níveis de tensões normais e cisalhantes muito maiores nos primeiros e últimos andares de prédios. O prédio C apresenta descolamento no primeiro andar (Figura 11). Essas tensões, quando maiores do que a capacidade de fixação das placas cerâmicas à argamassa, tendem a se descolarem por perda de aderência, sendo a mais provável hipótese do caso do prédio C. Há também a falha no rejunte das placas e pode-se atrelar a isso também a hipótese de que houve má execução do serviço. 32 Figura 12 – Fachada do Prédio C Fonte: Acervo pessoal. 33 4.4 Prédio D Assim como no Prédio C, o Prédio D (Figura 12) possui como possível causa dos descolamentos e desplacamentos as grandes tensões nos andares extremos, observando-se a perda de aderência das placas à argamassa por exceder a capacidade máxima de fixação, sendo este caracterizado pela manifestação principalmente no último andar. Essa perda de aderência está ligada a provável má execução do serviço que pode ser pela falta de qualificação do executor ou falha/falta de detalhamento de projeto. O Prédio D está passando por manutenção para recuperação da fachada, com remoção do revestimento e reassentamento de novas pastilhas cerâmicas. Figura 13 – Fachada do Prédio D Fonte: Acervo pessoal. 4.5 Prédio E Este edifício se caracterizou pelo descolamento e desplacamento de placas cerâmicas, causados por uma provável dilatação destas (Figura 13). A ocorrência se deu em pequenas regiões relativas ao tamanho do prédio, principalmente próximo a esquadrias, com 34 rejuntes, que tendem a se deteriorar pelas maiores tensões, pelo envelhecimento, pela má execução, ou pela contaminação do material. Figura 14 – Fachada do Prédio E Fonte: Acervo pessoal. 4.6 Prédio F O edifício F não possui as devidas juntas de dilatação e movimentação, o que provavelmente favoreceu o descolamento do revestimento cerâmico por dilatação destes. A perda total de aderência de algumas placas com a argamassa colante resultou no desplacamento das mesmas. Este prédio oferece o altíssimo risco de acidentes, tanto aos moradores que transitam pelo térreo, assim como os carros, que tem que passar por baixa da fachada com a patologia, devido à entrada da garagem estar localizada logo abaixo da região desplacada. Além disso, algumas placas sofreram a perda de aderência parcial, porém o desplacamento não foi completo, ocasionando no estufamento das placas, o que gera um risco ainda maior, visto que as placas podem cair a qualquer momento, como vista na Figura 14. Esse tipo de manifestação (estufamento) gera o som cavo (oco) nas placas. 35 Figura 15 – Prédio F Fonte: Acervo pessoal. 4.7 Prédio G O prédio G evidencia as fissuras (rachaduras) em seu último andar (Figura 15), ocasionadas pelas prováveis altas tensões nas placas. Por se tratar de uma parede de uma cobertura, em que é um local molhado, a vedação deveria ter sido bem executada para evitar infiltração e posterior crescimento de plantas. 36 Figura 16 – Prédio G Fonte: Acervo pessoal. O edifício também apresentou descolamento de pastilhas (Figura 16) queprovavelmente foi causado pela má execução do serviço. Dessa forma, o assentamento, o tempo em aberto das argamassas, o esmagamento, entre outros fatores, foram influência direta para ocorrência da manifestação patológica. Figura 17 – Descolamento de pastilhas no Prédio F Fonte: Acervo pessoal. 37 4.8 Prédio H O desplacamento no prédio H tem como hipótese mais provável o alto tempo em aberto da argamassa, juntamente com tensões geradas nas placas, o que causou a perda de aderência do revestimento cerâmico. Foi constatado que apenas o Prédio H não possui risco de o descolamento do revestimento atingir os transeuntes, uma vez que sua fachada frontal não apresenta patologias, apenas a lateral que está sobre a cobertura da casa vizinha, no entanto a queda das cerâmicas pode danificar o telhado dessa cobertura (Figura 17). Figura 18 – Descolamento de revestimento na fachada lateral do Prédio H Fonte: Acervo pessoal. Em suma, a Tabela 7 resume as manifestações patológicas mais evidentes relacionadas ao descolamento dos revestimentos cerâmicos nas fachadas dos respectivos prédios. 38 Tabela 7 – Divisão por prédio das manifestações patológicas no revestimento cerâmico Edifício Manifestações patológicas identificadas e prováveis causas Prédio A Descolamento e desplacamento de revestimento por dilatação (ausência de juntas), tensões na placa, má execução e por infiltração em jardim Prédio B Descolamento e desplacamento do revestimento por dilatação, falhas na execução e ausência de juntas de dilatação e movimentação Prédio C Descolamento e desplacamento do revestimento por tensões na placa, falhas no rejunte e má execução do serviço Prédio D Descolamento e desplacamento do revestimento por falhas na execução, ausência das juntas e tensões nas placas Prédio E Descolamento e desplacamento do revestimento por dilatação das placas e deterioração dos rejuntes Prédio F Descolamento e desplacamento do revestimento por dilatação das placas, ligada a ausência das juntas de dilatação e movimentação Prédio G Descolamento, desplacamento, infiltração e trincamento (fissuras/rachaduras) do revestimento por falhas de execução da vedação e do tempo e aberto vencido das argamassas. Prédio H Descolamento e desplacamento do revestimento por falhas na execução, tempo em aberto das argamassas vencido, ausência das juntas de dilatação e movimentação 39 5 CONCLUSÃO A falta de juntas de dilatação nas fachadas é uma das grandes causas constatadas do descolamento de revestimentos cerâmicos nas edificações analisadas no bairro Cidade Nobre de Ipatinga-MG, uma vez que a cidade possui clima tropical, forte insolação e temperaturas médias elevadas. Dessa forma, há uma considerável dilatação por variação da temperatura em grandes extensões de fachadas que não possuem juntas de dilatação corretas. Esse processo de ciclagem térmica atua nas variações cíclicas de temperatura ocasionando fadiga pela flambagem no plano da fachada (BAUER; CASTRO; ANTUNES, 2011). Isso indica que os problemas não são causados por um único fator, mas pela interação de diversos aspectos atuando simultaneamente (MANSUR; NASCIMENTO; MANSUR, 2012), como se percebe nos prédios estudados, em que a anamnese dos problemas levou a conclusão de que as causas interligadas poderiam ser ausência de juntas, juntas inadequadas à norma, mau serviço de execução das mesmas. Juntamente com absorção de água causando expansão/dilatação, além de não observância em relação aos tempos em aberto de chapiscos, emboços, reboco (argamassa colante) e emplacamento da superfície, baixa aderência da camada de revestimento ao subtrato, deficiência de assentamento e até excessiva espessura da camada de revestimento (FONTENELLE; MOURA, 2009). Pôde-se constatar em todos os prédios estudados que o descolamento de revestimento cerâmico em suas fachadas é o caso de maior incidência. Alguns dos edifícios apresentaram patologias mais evidentes e em situação bastante crítica, outros, descolamentos mais sutis, como a fissuração e falhas de rejunte e vedação, que podem se agravar ao longo do tempo se não forem efetuadas manutenções regulares. De toda forma, o descolamento e consequente queda das placas cerâmicas são fatores de alto risco aos transeuntes nas calçadas das edificações e também para os próprios moradores que transitam pelo térreo. Assim, apontam-se as falhas de execução e de materiais como causadoras da maior parte das patologias encontradas, uma vez que foram detectadas falhas de rejuntamento e inexistência de juntas de dilatação horizontais e verticais. Nos locais onde o revestimento já havia se descolado, foi possível observar que não houve o esmagamento correto dos cordões de argamassa durante o assentamento, prejudicando a adesão da placa cerâmica à alvenaria. Como proposta de internvenção, recomenda-se, a depender do grau da patologia, a retirada parcial ou total do revestimento, a criação das juntas de dilação onde não estejam presentes e, em casos na qual a situação é muito crítica, é necessária a remoção e reexecução 40 do chapisco sobre a alvenaria e estrutura, iniciando o processo de recuperação desde esta fase respeitando as normas e obervando a qualidade dos materiais. Os objetivos gerais e específicos do trabalho foram atingidos, uma vez que as análises das manifestações patológicas identificadas foram feitas, determinando-se as prováveis causas, a partir do estudo bibliográfico realizado previamente. Desse modo, foi possível citar as consequências da patologia de descolamentos cerâmicos e propor alternativas de intervenção dos casos apresentados. O trabalho, também, possibilita que sejam feitas pesquisas futuras a respeito do caso dos descolamentos cerâmicos na cidade de Ipatinga, com desdobramentos e complementações a partir de análises laboratoriais e até mesmo acompanhamento de casos de manutenções e/ou recuperações de fachadas danificadas pelas manifestações patológicas de descolamentos de revestimentos cerâmicos. 41 REFERÊNCIAS AMARAL, Igor Brumano Coelho; SILVA, Reginaldo Carneiro da; REIS, Arlete Barbosa dos. Manifestações Patológicas na Construção Civil. Dos Engenheiros de Hoje Para Os Enhenheiros de Amanhã: onde enhenheiros representa o sonho de ser engenheiro, Diamantina, v. 1, n. 1, p.7-25, 2017. ANTUNES, Giselle Reis; CASTRO, Eliane Kraus de; BAUER, Elton. Análise da degradação em revestimentos de fachada de edifícios em Brasília. In: Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 2010, Canela - RS. ENTAC: Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. 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