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Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 1 Número 2, dezembro 2010 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA NúMERO 4, dEzEMbRO 2011 issN 2178-1672 f a c u l d a d e muito além dO ENsiNO 2 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 3 Ano 2º, n. 4, dezembro/2011 ISSN 2178-1672 Revista Pesquisa-se não só por curiosidade, mas principalmente para ajudar outras pessoas. Centenas de artigos são publicados a cada hora na área de saúde. Não se espera que todos os fisioterapeutas sejam pesquisadores, mas que 100% deles sejam leitores assíduos dos resultados de pesquisas científicas. A pesquisa em fisioterapia tem evoluído muito nos últimos anos. Apesar de ser objeto de estudo relativamente novo, já colhemos os frutos dos resultados de pesquisas brilhantes na área. Essa edição da Revista Fisioterapia em Evidência traz cinco trabalhos de extrema relevância. A saúde da mulher, assunto muito atual na fisioterapia, está retratada em estudo sobre vulvodínia e vaginismo, que podem alterar a saúde física, mental, emocional e social da mulher. Chamando atenção para a grande demanda de pacientes idosos que teremos em breve no Brasil, a revista traz dois estudos sobre essa população. A fisioterapia desportiva, também em alta pelos eventos esportivos dos próximos anos em nosso país, é contemplada nessa edição por meio de artigo sobre futebol, de extrema importância científica. Finalizando o número, a revista apresenta estudo sobre hipertensão, o grande mal silencioso da vida moderna. A qualidade dos estudos científicos deve ser observada com atenção, pois mudam-se vidas a partir de resultados e conclusões publicadas. A Revista Fisioterapia em Evidência leva isso muito a sério. Sandra M. M. Adolph. Editora responsável Professora do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco Editores responsáveis Sandra Mara Meireles Adolph (doutora) Faculdade Dom Bosco Salete do Rocio Cavassin Brandalize (mestre) Faculdade Dom Bosco fisioterapia-faculdade@dombosco.com.br Conselho editorial Ariani Cavazzani Szkudlarek (doutora) Faculdade Dom Bosco Cassio Preis (mestre) Faculdade Dom Bosco e PUC-PR Claudia Chaguri de Oliveira Pellenz (mestre) Faculdade Dom Bosco Cristiane Gonçalves Ribas (mestre) Faculdade Dom Bosco e PUC-PR Cristiane Regina Gruber (mestre) Faculdade Dom Bosco e Unibrasil Eduardo Bolisenha Simm (mestre) Faculdade Dom Bosco, Faculdade Evangélica do Paraná e Unibrasil Francisco Ernesto H. Zanardini (mestre) Faculdade Dom Bosco e Faculdade Integradas Espírita Gerson Luiz Cleto Dal Col (doutor) Faculdade Dom Bosco e Universidade Tuiuti do Paraná Gilda Maria Grasse Luck (doutora) Faculdade Dom Bosco Isabel Cristina Bini (mestre) Faculdade Dom Bosco Marcia Maria Kulczycki (mestre) Faculdade Dom Bosco Maria Laura Aquino C. Assunção (mestre) Faculdade Dom Bosco Raciele Ivandra Guarda (mestre) Faculdade Dom Bosco e Faculdade Evangélica do Paraná Silvia Regina Valderramas (doutora) Faculdade Dom Bosco e Faculdade Evangélica do Paraná 4 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 5 Artigo - 1 Atuação da fisioterapia na síndrome do assoalho pélvico – vulvodínia e vaginismo – uma revisão da literatura Physiotherapy in pelvic floor syndrome – vulvodynia and vaginismus – a literature review RESUMO A hiperatividade do assoalho pélvico ocorre por diversos fatores. Ela pode estar diretamente relacionada com o vaginismo e a vulvodínia, disfunções que afetam a saúde física, mental, emocional e social da mulher. Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre a atuação da fisioterapia na síndrome da hiperatividade do assoalho pélvico, especificamente o vaginismo e a vulvodínia. Foram consultadas as bases de dados Medline, Lilacs e Scielo, com os seguintes descritores: assoalho pélvico, vaginismo, vulvodínia e períneo, sempre associados à fisiopatologia e/ou reabilitação, publicados no período de 2002 a 2010. Foram selecionados somente artigos que pudessem ser obtidos na íntegra e relacionados à atuação do fisioterapeuta na patologia, resultando em nove publicações analisadas, todas de revisão bibliográfica. Observou-se que todos os autores indicam o tratamento fisioterapêutico como intervenção primária no tratamento da patologia, do qual se destacam diversas técnicas e recursos fisioterapêuticos, entre eles a cinesioterapia, as técnicas manipulativas, a termoterapia, a eletroestimulação e o biofeedback eletromiográfico, além de correções da biomecânica. Entretanto, é notória a escassez de estudos clínicos randomizados para comprovação dos recursos utilizados e para a definição de um protocolo de tratamento adequado. Palavras-chave: assoalho pélvico, vaginismo, vulvodínia, períneo, fisioterapia. ABSTRACT Hyperactivity of the pelvic floor occurs due to many factors, which may be directly related to vaginismus and vulvodynia, disorders that affect the physical, mental, emotional and social woman. This study aimed to conduct a literature review on the role of physiotherapy in the syndrome of hyperactivity of the pelvic floor, specifically vaginismus and vulvodynia. We consulted the Medline, Lilacs and Scielo with the following keywords: pelvic floor, vaginismus, vulvodynia and perineum, always associated with the pathophysiology and/or rehabilitation, published between 2002 to 2010. We selected only articles that could be obtained in full and related to the role of a physiotherapist in the pathology, resulting in nine refereed publications, all of a literature review. It was observed that all authors indicate physical therapy as primary intervention in the treatment of disease, which stand out various physiotherapeutic técncicas and resources, among them the exercise, the manipulative techniques, thermotherapy, electrical stimulation, electromyographic biofeedback plus Corrections biomechanics. However, the scarcity of randomized Raciele Ivandra Guarda Korelo1 Cristiane Regina Gruber2 Amanda dos Santos Nagata3 Edlaine Y. Kuhnen, Eduardo Dutra3 Elys Fernanda N. dos Santos3 Marielli D. Xavier3 Poliane D. de Oliveira3 Tamara Antochecen3 1. Fisioterapeuta, mestre em Tecnologia em Saúde pela PUCPR e docente da Faculdade Dom Bosco e da Faculdade Evangélica do Paraná. 2. Fisioterapeuta, mestre em Engenharia Elétrica e Informática Industrial pela UTFPR e docente da Faculdade Dom Bosco e da Unibrasil. 3. Acadêmicos do 4º período de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Endereço para correspondência: Raciele Ivandra Guarda Korelo Faculdade Dom Bosco. Rua Paulo Martins, 332. CEP: 80710-010. Curitiba, PR, Brasil. E-mail: racieleguarda@dombosco.com.br Artigo 1 ............................................................................................ 5 Atuação da fisioterapia na síndrome do assoalho pélvico – vulvodínia e vaginismo – uma revisão da literatura Physiotherapy in pelvic floor syndrome – vulvodynia and vaginismus – a literature review Artigo 2 ..........................................................................................16 Treinamento de força da musculatura inspiratória com o uso de carga linear pressórica – Threshold®, em pacientes idosos institucionalizados: estudo controlado randomizado Training Muscle Strength using linear load pressor – Threshold® in institutionalized elderly patients: randomized controlled trial Artigo 3 .......................................................................................... 29 Treinamento somatossensorial da planta dos pés para melhora do equilíbrio em idosos institucionalizadosSomatosensory training of the plant of foot for improvement of balance in institutionalized elderly Artigo 4 ..........................................................................................37 Estudo comparativo entre dois programas de fortalecimento para músculos do complexo do joelho em jogadores de futebol de categoria amadora de Colombo – fortalecimento muscular em jogadores de futebol Comparative study of two programs for strengthening muscles of complex knee in soccer players of the amateur category Colombo city – muscle strengthening in soccer players Artigo 5 ..........................................................................................50 Análise dos fatores de risco para hipertensão arterial em adolescentes de escola pública comparada com escola particular de Curitiba Analysis of the factors of risk for arterial hypertension in adolescents of compared public school with private school of Curitiba Normas para apresentação de artigos .......................................58 6 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 7 clinical trials to prove the resources used and to define an appropriate treatment protocol. Keywords: pelvic floor, vaginismus, vulvodynia, perineum, phisiotherapy. Introdução Segundo Henscher (2007), a hiperatividade da musculatura do assoalho pélvico (MAP) pode ser ocasionada por diversos fatores, que decorrem desde hábitos físicos inadequados como adiar ou reter a micção e a evacuação cronicamente e/ou exagerar no treinamento de força, sobrecarregando a MAP a traumas emocionais por incesto, estupro ou abuso sexual. A autora relata que a contração reflexa da MAP se faz inerente a essa musculatura e consiste em resposta de defesa e manutenção fisiológica do organismo. Complementa que várias disfunções são ocasionadas por essa síndrome, desde sexuais e fisiológicas, como instabilidade do músculo detrusor da bexiga, cistite intersticial, fissuras anais e coccidinia, até disfunções osteomusculares de cunho maldefinido. Tanto a vulvodínia como o vaginismo são descritos como disfunção sexual e consistem em síndrome que causa impactos significantes na saúde física e na qualidade de vida da mulher. (SÁNCHEZ e CHALELA, 2007; PRENDERGAST, RUMMER e KOTARINOS, 2008; AVEIRO, GARCIA e DRIUSSO, 2009). Artigo - 1 Artigo - 1 Vulvodínia consiste em uma dor crônica na região vulvar que pode ser dividida em dor vulvar associada à doença específica, dor localizada ou dor generalizada. (LEIBOWITCH, STAUGHTON, NEILL et al., 1998; ÂNGULO e CHALELA, 2006; ARNOLD, BACHMANN, KELLY et al., 2006; SÁNCHEZ e CHALELA, 2007; PRENDERGAST, RUMMER e KOTARINOS, 2008; KANDEEL, 2008; RICCI, 2010). Em 2003, a Associação Americana de Fisioterapia concluiu que pode estar relacionada com problemas musculoesqueléticos, causas neurológicas ou disfunções miofasciais, com ou sem incontinência urinária (STEPHESON e O’CONNOR, 2004). Já o vaginismo é descrito como uma contração ou espasmo involuntário dos músculos do terço inferior da vagina. (BROSENS, TERRASA e ASTOLFI, 2009; PINHEIRO, 2009). Essas duas síndromes, de causa orgânica ou psicogênica, fazem com que a penetração do pênis se torne impossível e o toque na região seja extremamente doloroso (PINHEIRO, 2009). Estima-se que a prevalência das duas patologias é de aproximadamente 16% (ARNOLD, BACHMANN e KELLY et al., 2006; RICCI, 2010). Sánchez e Chalela (2007) acrescentam que a probabilidade de ocorrência é igual entre mulheres brancas e negras, entretanto, levando em consideração as latino-americanas, essa porcentagem passa para 80%. Kandeel (2008) propõe que aproximadamente uma em cada seis mulheres pode sofrer de vulvodínia em algum momento de sua vida. Cerca de 20% das consultas ginecológicas são devidas ao vaginismo (BROSENS, TERRASA e ASTOLFI, 2009). Mulheres que apresentam vulvodínia sentem dor crônica, queimação e até mesmo prurido, que podem ser provocados pela relação sexual ou não. (SÁNCHEZ e CHALELA, 2007; KANDEEL, 2008; RICCI, 2010). No vaginismo, a mulher sente dor no momento da penetração, ou antes, e podem ocorrer reações como náusea, sudorese, falta de ar e aumento da frequência cardíaca devido ao medo do espasmo muscular involuntário e tensão. A dor pode resultar em problemas psicológicos como medo da dor, ansiedade, depressão, baixa autoestima, cefaleia tensional, tristeza e distúrbios do sono. (BROSENS, TERRASA e ASTOLFI, 2009; PINHEIRO, 2009). De acordo com RICCI (2010), a vulvodínia é diagnosticada pelos critérios de Friedrich: 1) dor severa ao tocar o vestíbulo ou na tentativa de penetração vaginal; 2) sensibilidade local à pressão da região vestibulovulvar; 3) diferentes graus de eritema local (SÁNCHEZ e CHALELA, 2007; EDGARDH e ABDELNOOR, 2007). Já Brosens, Terrasa e Astolfi (2009) descrevem que o diagnóstico do vaginismo é realizado por meio de exame físico, verificando-se alterações anatômicas, causas infecciosas, lubrificação inadequada, entre outros. Devido ao espasmo muscular presente em tal patologia, torna-se dificultosa a realização do exame (toque vaginal e papanicolau). Vários tratamentos são propostos para vulvodínia e vaginismo, sendo que não se devem limitar à região ginecológica, mas serem multidisciplinares e individualizados, levando-se em consideração os múltiplos fatores etiológicos envolvidos. O tratamento pode incluir desde técnicas cirúrgicas (última opção de tratamento, utilizada em caso de insucesso terapêutico conservador), uso de medicamentos (anestésicos, antidepressivos, anticonvulsivantes, injeções botulínicas, cremes tópicos, entre outros), terapia cognitivo-comportamental (hipnoterapia e acupuntura) e terapias físicas, incluindo a fisioterapia (MARIANI, 2002; BARACAT E LIMA, 2005; GRAZIOTIN E GIOVANNINI, 2005; ETIENNE E WAITMAN, 2006; DROUIN, DAMANT E TURCOTTE, 2008, NEUBERN, 2009). O tratamento fisioterapêutico é indicado como intervenção primária, e aborda técnicas manipulativas, exercícios para o assoalho pélvico, estimulação elétrica, termoterapia, biorretroalimentação, mobilizações neurais e estruturais, além de correções da biomecânica. (PRENDERGAST, RUMMER e KOTARINOS, 2008; AVIEIRO, GARCIA e DRIUSSO, 2009). Apesar de ser indicação de intervenção primária, a atuação da fisioterapia na hiperatividade do assoalho pélvico ainda é pouco explorada em estudos clínicos, devido à complexidade da patologia, referente a inúmeras causas etiológicas e fatores biomecânicos associados. Portanto, faz-se necessário o estudo dos recursos e técnicas empregados por fisioterapeutas para esclarecimentos de quais técnicas devem ser utilizadas na terapêutica, bem como seus mecanismos de atuação e quando indicá-las. Baseado nessas premissas, este estudo teve por objetivo elucidar, como forma de tratamento, a atuação da fisioterapia na síndrome da hiperatividade do MAP, restringindo-se à vulvodínia e ao vaginismo. Materiais e métodos Trata-se de uma pesquisa de revisão de literatura realizada nas bases de dados Medline, Lilacs e Scielo. Os descritores utilizados para a pesquisa foram assoalho pélvico, vaginismo, vulvodínia e períneo, sempre associados à fisiopatologia e/ou reabilitação, publicados em inglês, português ou espanhol, durante os anos de 2002 a setembro de 2010. Foram selecionados e incluídos nesta revisão apenas estudos obtidos na íntegra que discorressem sobre a atuação da fisioterapia e/ou de seus recursos e técnicas para o tratamento da hiperatividade do assoalho pélvico. ResultadosForam selecionados nove artigos, por descrevem alguma forma de atuação da fisioterapia como recurso no tratamento do vaginismo e/ou vulvodínia, os quais poderão ser verificados na tabela 1. É possível constatar que todos os artigos eram de revisão bibliográfica, não sendo encontrado nenhum estudo clínico. 8 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 9 Artigo - 1 Artigo - 1 TABELA 1 – Dados gerais dos artigos selecionados Ref. Objetivo Metodologia Resultados Considerações 2* Descrever as principais alternativas fisioterapêuticas que visam minimizar as disfunções sexuais da mulher. Revisão bibliográfica Os métodos fisioterapêuticos baseiam-se na contração voluntária da MAP para reeducá-la e aumentar seu tônus. Os recursos utilizados foram: cones vaginais, exercícios de Kegel, biofeedback, eletroestimulação, trabalho manual e orientações domiciliares. A fisioterapia, associada a outras opções terapêuticas, pode auxiliar no restabelecimento de uma vida sexual saudável. Entretanto, são necessárias mais pesquisas, principalmente estudos clínicos, que elucidem a eficácia dessa forma de terapia. 3* Avaliar a efetividade de tratamentos fisioterapêuticos propostos para o vaginismo. Revisão bibliográfica de estudos clínicos que abordassem opções de tratamento fisioterapêuticos. Apenas três estudos foram incluídos e utilizavam terapia cognitiva comportamental associada à estimulação elétrica funcional com biofeedback; dessensibilização por dilatadores de silicone; e a terapia sexual proposta por Masters & Johnson (1970), modificada por Kaplan (1974). Os autores afirmam que os estudos são de baixa qualidade metodológica e não fornecem evidências consistentes de intervenção clínica no vaginismo. Portanto, há necessidade de outros estudos clínicos randomizados para a comprovação de resultados. 12* Verificar a taxa de sucesso no tratamento do vaginismo, e os fatores que influenciam essa taxa, por meio da utilização da terapia sexual de Masters & Johnson (1970), modificada por Kaplan (1974). Estudo clínico com 120 casais, realizando terapia sexual (exercícios de Kegel, dilatação vaginal, relaxamento da MAP, aconselhamento e aplicação local de xilocaína, analgésicos orais e relaxantes musculares antes da penetração). 93,3% dos casais tiveram penetração vaginal satisfatória depois do tratamento e com três meses de seguimento; 83,3% também relataram orgasmos. Um ano após a terapia, 63,3% das mulheres estavam grávidas ou tiveram o primeiro filho. Devido à alta taxa de sucesso, os autores encorajam as mulheres com vaginismo a realizar a terapia proposta no estudo. 14* Apontar os recursos mais utilizados para o tratamento clínico conservador da vestibulite vulvar. Revisão bibliográfica Os procedimentos mais populares encontrados foram cinesioterapia para treinamento da MAP, antidepressivos, tratamento psicológico comportamental, uso de Interferon e modificação da dieta. O tratamento deve, primeiramente, abordar o uso de antidepressivos e o treinamento da MAP. A terapia psicológica deve ser complemento de qualquer opção de tratamento. 17* Estudar o vaginismo, abordar sua etiologia e alguns dos métodos terapêuticos. Revisão bibliográfica O tratamento do vaginismo pode ser realizado por diversos profissionais (fisioterapeutas, médicos e psicólogos), utilizando abordagens específicas. Destaca como tratamento fisioterapêutico a cinesioterapia, o biofeedback e o uso de dilatadores vaginais. 19* Relatar o manejo da fisioterapia no tratamento da vulvodínia. Revisão bibliográfica O fisioterapeuta pode utilizar da cinesioterapia, da terapia manual (toque bidigital e massagem), além de técnicas manuais para desativação de trigger points. A fisioterapia é essencial para a evolução do quadro da paciente, devido ao componente musculoesquelético estar presente. 20* Citar aspectos gerais e opções de tratamento para vulvodínia. Revisão bibliográfica O tratamento pode envolver cremes tópicos, antidepressivos, dieta, cinesioterapia, psicoterapia e até cirurgias. A fisioterapia pode utilizar a eletroestimulação com biofeedback, a eletroanalgesia e até mesmo a acupuntura. O tratamento deve ser multidisciplinar, sendo que a eletroestimulação é um dos recursos que têm causado boa evolução. 21* Revisar a literatura acerca da dor vulvar para determinar sua abordagem terapêutica. Revisão bibliográfica Por ser uma patologia multifatorial, o tratamento inicialmente é clínico (multidisciplinar), e o último recurso deve ser cirúrgico. O autor sugere um protocolo terapêutico para vulvodínia, sendo a fisioterapia a etapa quatro do protocolo, incluindo a terapia física e o biofeedback, com taxas de melhora de 60%. 22* Determinar a eficácia de um protocolo de tratamento em mulheres com vaginismo, utilizando estimulação elétrica funcional (FES) e biofeedback associado à terapia cognitivo- -comportamental sexual (SCBT) Estudo clínico com doze mulheres diagnosticadas com vaginismo, realizando relaxamento semanal com FES- -biofeedback até que se tornasse tolerável à manipulação vaginal para realizar a SCBT em oito estágios de dessensibilização vaginal por oito semanas. Todos os casais puderam atingir coito vaginal satisfatório. FES e biofeedback associados à SCBT podem ser eficazes para incrementar o sucesso terapêutico de mulheres com vaginismo. Fonte: elaborada pelos autores, 2010. *Autores numerados de acordo com as referências Os recursos fisioterapêuticos mais utilizados apontados pelos artigos podem ser visualizados na tabela 2. Tabela 2- Modalidades terapêuticas abordadas pelos autores Modalidades terapêuticas 2* 3* 12* 14* 17* 19* 20* 21* 22* Clínica Farmacoterapia (antidepressivos, anticonvulsivantes e hormonais) - X X X X - X X - Injeções de toxina botulínica - X - - - - - - - Infiltrações locais de anestésicos - X X - - - X X - Cirúrgico - - - - X - X X - Fisioterapêutica Exercícios X X X X X X - X X Terapia manual X X X - - X - - X Cones vaginais X - - - - Dessensibilização associada ao uso de dilatadores - X X - X X - - X Estimulação elétrica X X - - - X X - X Termoterapia - X - - - - - - Biofeedback X X - X X X X X X Acupuntura - - - - - - X - Psicológica Terapia cognitiva Comportamental (TCC) - X X X X X X - X Hipnoterapia - X - - - - X - - Psicanálise - - - - X - - - - Gestalt - Terapia - - - - X - - - - Fonte: elaborada pelos autores, 2010. *Autores numerados de acordo com as referências Discussão De acordo com estudo realizado no Brasil por Abdo, Oliveira, Moreira e Fittipaldi (2004) apud Aveiro, Garcia e Driusso (2009), a vulvodínia e/ou vaginismo afetam as mulheres 10 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 11 Artigo - 1 Artigo - 1 significativamente, chegando a uma prevalência de 49% de uma amostra de 1.219 sujeitos. Tais disfunções sexuais levam à depreciação da qualidade de vida da mulher, de seu cônjuge e de todo o meio que a cerca. Apesar da alta prevalência encontrada, ainda é escassa a produção bibliográfica acerca dos recursos e técnicas terapêuticas para o tratamento da hiperatividade do assoalho pélvico, principalmente estudos clínicos de qualidade, controlados e randomizados, que comprovem a eficácia do tratamento fisioterapêutico na patologia. Isso se deve à complexidade de sua etiologia e às diversas causas biomecânicas associadas, além do fato de se tratar deárea recente de atuação do profissional. Entretanto, evidências sugerem, conforme Prendergast, Rummer e Kotarinos (2008), que o tratamento fisioterapêutico em mulheres com vulvodínia deve objetivar devolver a funcionalidade dos tecidos envolvidos para o sucesso terapêutico, para a redução ou eliminação do quadro álgico e restabelecimento da função sexual. A seguir, apresentam-se técnicas e recursos fisioterapêuticos encontrados na literatura, demonstrando sua aplicabilidade, justificativa e possível efetividade. Cinesioterapia A terapia por meio de exercícios físicos, com ou sem o uso de recursos para sua escolha de acordo com os achados do exame físico e priorizar a fase de relaxamento muscular para não buscar feedback negativo, agravando o quadro. Dilatadores vaginais Na técnica de dilatação gradual, são inseridos dilatadores de silicone ou de material emborrachado lubrificados no canal vaginal como sondas que podem ser insufladas (exemplo é o epi-no: recurso utilizado por mulheres grávidas que consiste em uma sonda que pode ser insuflada gradativamente, objetivando-se aumentar a elasticidade do períneo). Inicialmente, os dilatadores devem ser pequenos; seu tamanho deve ser aumentado gradativamente, à medida que a tolerância da paciente o permita. A técnica de dilatação pode também ser praticada em casa, usando os dedos em vez dos dilatadores (MERCK SHARP e DOHME 2007 apud PINHEIRO, 2009). No momento em que os dilatadores estão inseridos na vagina, exercícios de fortalecimento da MAP podem ser realizados. Dessa forma, de acordo com Pinheiro (2009), a utilização da técnica nos casos de vaginismo pode contribuir para melhora do quadro, diminuindo a sensibilidade à penetração e favorecendo a percepção da MAP pela mulher, o que lhe possibilita seu controle e relaxamento. Apesar desta afirmativa, apenas três estudos foram encontrados citando o uso de dilatadores vaginais como opção de tratamento (PRENDERGAST, RUMMER, KOTARINOS, 2008; AVEIRO, GARCIA, DRIUSSO, 2009; PINHEIRO, 2009), e os mesmos não forneceram evidências consistentes de intervenção no vaginismo. Críticas podem ser feitas a: 1) que pacientes podem se beneficiar com o recurso tendo em vista a presença de hipertonia associada e etiologia de cunho psicológico que pode levar à recusa e à sensação de agressão pelo seu uso; 2) qual o momento ideal para ser utilizado no protocolo de reabilitação para que não provoque algia; 3) qual deve ser a quantidade de ar a ser insuflada; e ainda 4) como proceder com o tempo, duração e frequência de utilização. Essas dúvidas ainda precisam ser objeto de estudos futuros. Terapia manual Constituída por um conjunto de procedimentos com finalidade terapêutica ou preventiva, no qual é aplicado toque ou manobra manual sobre os tecidos musculares, ósseos, conjuntivos e nervosos. Geralmente é mais utilizada no alívio de tensões (mobilização de pontos gatilhos), restrição de mobilidade, desvios mecânicos ou bloqueios funcionais. No caso do vaginismo e da vulvodínia, podem ser indicados procedimentos manuais com o intuito de desativar os pontos gatilhos, mas não devem ser a primeira opção de tratamento, pois as mulheres que possuem essas patologias referem muita dor ao toque. O mais indicado seria utilizá-los após outro procedimento, com o princípio de alívio da dor e a retirada de tensão muscular, que são as principais causas dos sintomas, como a eletroanalgesia. Segundo Prendergast, Rummer e Kotarinos (2008), o fisioterapeuta deve observar a existência de pontos gatilhos e se eles estão contribuindo para seus sintomas. Os músculos identificados como principais causadores de dor nos tecidos da vagina ou vulvar, por possuírem maior número de pontos gatilhos, são isquiocavernoso, bulboesponjoso e elevador do ânus. Após a localização dos pontos gatilhos, existem técnicas a serem seguidas para sua respectiva desativação, dentre elas a de compressão isquêmica, pela qual o fisioterapeuta pressiona manualmente o ponto de dor por 60 a 90 segundos ou até sentir a “liberação” dele. Liberações miofasciais, mobilização neural e massagem local também podem ser indicadas, entretanto a literatura a respeito do tratamento da hiperatividade do assoalho pélvico com o uso da terapia manual é escassa e sem especificações, devendo ser objeto de futuros estudos clínico. Vale ressaltar que, da mesma forma que o uso dos dilatadores vaginais são contestados no tratamento do vaginismo associado auxiliares, é indicada para as mulheres com o diagnóstico de hiperatividade do assoalho pélvico. Objetiva-se o controle da MAP, promovendo voluntariamente o relaxamento quando necessário. Os exercícios baseiam-se na contração e no relaxamento da musculatura, dando ênfase a este, que é difícil de ser obtido nas pacientes devido à hiperatividade muscular. A primeira etapa para a prática consiste na busca da percepção local, ou seja, perceber a existência da contração da MAP. Para isso, posiciona-se adequadamente a paciente em decúbito dorsal, com membros inferiores fletidos e apoiados na maca. Solicita-se então que a paciente coloque seus dedos sob o centro tendíneo do períneo e realize uma contração seguida de um relaxamento do mesmo. Esse exercício pode ser realizado em diversas posições, dependendo das dificuldades encontradas na avaliação, como a presença de sinergismos musculares ou “contrações parasitas” que impeçam a contração isolada da MAP. O correto posicionamento da paciente deve buscar o isolamento da ação muscular do períneo, mantendo-o em posição de alongamento para melhorar a percepção da região. No caso de sinergismo de adutores de quadril, deve-se adotar a posição de abdução de quadril para a realização do exercício (HENSCHER, 2007). Os exercícios de percepção local podem ser auxiliados por um espelho, que melhora a visualização do movimento, pela bola terapêutica ou por uma almofada pélvica, que melhora a noção corporal, e pelo fisioterapeuta, associando-os à respiração. Alguns autores sugerem associar o exercício com o uso de sondas ou cones vaginais, entretanto não deve ser a primeira opção se a causa for de cunho psicológico, pois tendo em vista a impossibilidade de penetração do recurso pelo quadro álgico, sua utilização pode retardar o processo de melhora e/ou cura. Outros autores também indicam, para a percepção local, a interrupção do fluxo urinário (POLDEN E MANTLE, 2000) no momento da micção, o que só deve ser realizado uma única vez pela paciente, pois pode ser motivo de infecção urinária por volume residual. Após a mulher dominar o movimento promovido pela MAP sem o uso demasiado de sinergismos musculares, é indicada uma sequência de exercícios locais, denominados exercícios de Kegel, que envolvem contração rápida, lenta e/ou isométrica/ sustentada, respeitando intervalos de tempo de acordo o objetivo do tratamento. Exercícios relacionados à mobilização pélvica e de tronco também devem ser associados com os exercícios de Kegel para potencializar os resultados. O fisioterapeuta pode utilizar de diversas técnicas ou métodos para o tratamento, como os exercícios hipopressivos, de pilates ou isostretching. Entretanto, deve ter discernimento 12 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 13 Artigo - 1 Artigo - 1 à hipertonia e causas psicológicas, a massagem em U invertido na vagina para dessensibização do assoalho pélvico também o é, pois pode ser motivo de não aceitação do tratamentoe piora do quadro. Biofeedback/ biorretroalimentação Para Antoniolil e Simões (2010), o biofeedback consiste em um método de reeducação que tem efeito modulatório sobre o sistema nervo so central (SNC) por meio da utilização de uma retroalimentação externa como meio de aprendizado. Esse método é realizado com a aplicação de eletrodos acoplados na musculatura do assoalho pélvico e musculatura sinergista (glúteo máximo, adutores e abdominais), que captam sinais de atividade mioelétrica, e por meio de comandos verbais dados pelo fisioterapeuta ou visuais/ sonoros oferecidos pelo equipamento, orientará os músculos do assoalho pélvico a realizar sua função excluindo a contração sinergista. O objetivo desse tratamento é ajudar as pacientes a desenvolver maior percepção e controle voluntário (contração/ relaxamento) dos músculos do assoalho pélvico. Sua contribuição consiste também em garantir a aquisição rápida, precisa, segura da participação da paciente em sua reeducação. O treinamento do controle voluntário eficiente da função do assoalho pélvico é capaz de reestabilizar os circuitos neuronais e aperfeiçoar a função dos alvos periféricos. Pinheiro (2009) complementa que o biofeedback tem como natureza a abordagem que o fisioterapeuta usa para gerar a conscientização corporal e funcional do corpo de suas pacientes. Nesse caso, como meio para alcançar tais objetivos, os profissionais utilizam de estímulos táteis, visuais, auditivos ou elétricos (perineômetro, toque digital ou cones vaginais). Então o biofeedback geralmente é um aparelho que faz a medição, avalia e trata as disfunções neuromusculares. É um eficiente recurso na reabilitação dos músculos do assoalho pélvico, devido ao fato de monitorar o tônus em repouso, a força e a sustentação, entre outros padrões de atividade mioelétrica, mostrando-se efetivo na percepção da paciente, que consequentemente verifica melhora nas contrações voluntárias dessa musculatura, e por fim favorece também o treino de relaxamento. Conforme apresentado na tabela 2, a maioria dos estudos cita a utilização do biofeedback como forma de tratamento para a hiperatividade do assoalho pélvico. Em um dos estudos, realizado por Sánchez e Chalela (2007), sugere-se que o biofeedback pode reduzir a dor nos casos de vulvodínia e/ou vaginismo, com taxa de melhora em torno de 60%. Aparelhos mais sofisticados que não utilizam sondas vaginais, somente eletrodos de superfície, podem ser indicados como abordagem inicial de tratamento, pois dessa forma a paciente poderá visualizar a avaliação da tensão muscular (luzes coloridas ou parar) e, assim, controlar o desenvolvimento (contrações) voluntário. Entretanto, mais estudos devem ser realizados para definir os padrões para sua utilização. Outro estudo associa o biofeedback com a eletroestimulação. Segundo Ricci (2010), a associação dos dois recursos é uma forma de tratamento eficaz para vulvodínia e/ou vaginismo, pois a eletroestimulação pode aumentar a percepção corporal da mulher e ensiná-la a relaxar voluntariamente a MAP. Essa característica torna-se mais importante quando, além do vaginismo, por exemplo, existir a associação de hipertonia e fatores psicossociais. Estimulação elétrica Segundo Kitchen (2003), trata-se da utilização de correntes elétricas para fortalecimento e reeducação muscular, redução de edema, alívio da dor e reparo de feridas. Quando se trata de vulvodínia e/ou vaginismo a literatura não é clara no que se diz respeito à utilização da eletroterapia em seu tratamento. Essa forma de terapia pode ser utilizada de duas formas diferentes: 1) a eletroestimulação busca a contração muscular da MAP evocada eletricamente para o alcance posterior do relaxamento. Os parâmetros elétricos geralmente utilizados são os de fortalecimento, entretanto variam muito entre os autores: transmissão da corrente em trens de pulso, forma de onda bifásica, frequência entre 10 a 50 Hz, duração de pulso entre 200 a 500 microssegundos, intensidade em nível motor, trens de pulso com o tempo de repouso de no mínimo duas vezes o tempo da contração. 2) a eletroanalgesia busca a redução de impulsos elétricos intrínsecos hiperativados no caso de hipertonia, que serão evocados por impulsos elétricos externos sob o nervo pudendo. Os parâmetros elétricos sugeridos consistem na transmissão de corrente sem trens de pulso ou convencional, forma de onda bifásica e simétrica, frequências entre 50 a 100 Hz, breve duração de pulso entre 40 a 75 microssegundos, intensidade variando entre sensorial e motor. Os estímulos elétricos podem ser transmitidos por eletrodos de superfície ou por sondas vaginais ou anais. Antoniolil e Simões (2010) afirmam que a eletroestimulação deve ser considerada eficaz para proporcionar a conscientização do assoalho pélvico e reforço muscular, sendo que sua vantagem é não apresentar efeitos colaterais se comparado ao tratamento medicamentoso, apesar de algumas pacientes relatarem algum tipo de desconforto e irritação local. Ricci (2010) afirma que alguns estudos demonstram a eficácia da eletroanalgesia no tratamento da patologia em questão por reduzir a dor da paciente e o espasmo local, considerando o método como seguro e eficaz. Termoterapia Segundo Kitchen (2003), trata-se da utilização da temperatura nos tecidos corporais e em estímulos à termorregulação corporal, gerando benefícios terapêuticos como a analgesia. Diversos estudos elucidam a ação da temperatura nos quadros álgicos e portanto pode ser utilizada no tratamento da vulvodínia e/ou vaginismo. Para Prendergast, Rummer e Kotarinos (2008), a termoterapia deve ser a opção para pacientes que apresentam dificuldade em tolerar a terapia manual e/ou toque, devido à dor presente. Os mesmos sugerem que o programa de tratamento pode ser modificado incluindo-se a massagem com gelo (crioterapia). Já outros autores citam a utilização da termoterapia como uma das opções para o tratamento da hiperatividade, entretanto, sem definir os padrões de utilização como tempo, duração, frequência e intensidade (AVEIRO, GARCIA e DRIUSSO, 2009). Acupuntura Segundo (SINTAN, 2006), acupuntura é o conjunto de conhecimentos teórico- -empíricos da medicina chinesa tradicional que visa à terapia e à cura das doenças por meio da aplicação de agulhas e moxas, além de outras técnicas. De acordo com a medicina chinesa, a acupuntura visa à normalização dos órgãos doentes por meio de um suporte funcional que exerce um efeito terapêutico. A acupuntura é uma técnica segura e prática que exige bom nível técnico do terapeuta. Como desvantagem, verificam-se o medo dos pacientes em relação à agulha e o longo período de tratamento. Angulo e Chalela (2006) apenas citam a acupuntura como forma de tratamento para vulvodínia e/ou vaginismo, sem informações específicas no que se refere a tal técnica. Entretanto, Ricci (2010) afirma que a acupuntura tem sido utilizada para o controle da dor crônica em várias síndromes, inclusive para o tratamento da vulvodínia e/ou vaginismo, citando um estudo publicado em 1999, em que a técnica foi utilizada semanalmente em doze pacientes, mostrando que apenas pacientes (25% da amostra) não apresentaram efeito algum, em sete (58,3% da amostra) houve diminuição da intensidade da dor, fazendo com que se sentissem melhor, e em duas (16,7% da amostra) houve erradicação da dor. Esses são considerados bons resultados, o que incentiva os pesquisadores a realizar novos estudosreferentes a esse recurso de maneira mais abrangente para definir se a acupuntura deve ser mais um dos recursos utilizados para a terapêutica de dor crônica, em que se 14 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 15 Artigo - 1 Artigo - 1 enquadra a vulvodínia e/ou o vaginismo. CONCLUSÃO Vários tratamentos são propostos para a vulvodínia e o vaginismo envolvendo uma equipe multidisciplinar, sendo o tratamento fisioterapêutico indicado como intervenção primária. A fisioterapia envolve a aplicação de cinesioterapia, técnicas manipulativas, estimulação elétrica, termoterapia, biofeedback, acupuntura, além de correções da biomecânica. Entretanto, a efetividade das técnicas/recursos ainda não está elucidada e comprovada por estudos clínicos, demonstrando que sua aplicabilidade ainda se baseia em observações empíricas clínicas e subjetivas, portanto, não se pode afirmar de forma completa os benefícios relatados pelos diversos autores em seus artigos. Dessa forma, conclui-se que diante de um problema com alta prevalência na população de mulheres e a escassez de literatura acerca do assunto, recomenda-se que pesquisas sejam realizadas para definição de um protocolo de tratamento individualizado e aceito perante a comunidade científica, além de evidenciar a necessidade da especialização dos profissionais que atuam na área da fisioterapia em uroginecologia. REFERÊNCIAS 1. ANGULO, I. C.; CHALELA, J. G. Síndrome Disestésico Cutáneo: vulvodinia y síndrome de boca quemante. Una aproximación diagnóstica Y terapéutica. Revista MED, 2006, v. 10, n. 1, p. 88-97. 2. ANTONIOLI, R. S.; SIMÕES, D. 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São Paulo: Editora Cultrix, 2006. 16 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 17 Artigo - 2 Treinamento de força da musculatura inspiratória com o uso de carga linear pressórica – Threshold®, em pacientes idosos institucionalizados: estudo controlado randomizado Training Muscle Strength using linear load pressor – Threshold® in institutionalized elderly patients: randomized controlled trial RESUMO Objetivos: verificar se o treinamento muscular inspiratório auxilia no ganho da pressão inspiratória máxima (PImáx) em idosos institucionalizados. Métodos: A pesquisa foi intervencional, experimental, qualiquantitativa. A mostra foi constituída por quatorze gerontes de duas casas de repouso de Curitiba, PR, divididos de forma randomizada, em grupo experimental – GE (n = 8, média de idade 74,25 anos) e grupo controle – GC (n = 6, média de idade 80,83). Os grupos foram submetidos à avaliação da PImáx e PEmáx por meio da manovacuometria, também sendo aplicado o questionário de qualidade de vida SF-36. O treinamento de intervenção no GE constituiu exercícios de padrão ventilatório em grupo e treino utilizando o Threshold® por vinte minutos, com sete séries de fortalecimento (dois minutos cada) e intervalo de um minuto entre as séries, durante duas semanas, três vezes na semana. A carga de trabalho do Threshold® foi instalada gradualmente (30% da PImáx na primeira semana e 40% da PImáx na segunda semana). O GC realizou apenas os exercícios de padrão ventilatório em grupo. Resultados: Houve diferença significativa no domínio da capacidade funcional, avaliado pelo questionário de qualidade de vida SF-36, observado no GE, bem como a melhora da PImáx em ambos os grupos, porém sem significância estatística. Conclusão: Observa-se que o treinamento muscular utilizando o Threshold® realizado com os idosos interfere no aumento da PImáx e consequentemente proporciona melhor qualidade de vida. Palavras-chave: força muscular respiratória, carga linear prossórica, treino muscular respiratório, idosos intitucionalizados e qualidade de vida. ABSTRACT Objectives: aim of this study was to determine whether inspiratory muscle training helpsto gain the maximum inspiratory pressure (MIP) in institutionalized elderly. Methods: The study was interventional, experimental, qualitative and quantitative. The show consisted of 14 Geronte two nursing homes in Curitiba, PR, randomly divided in experimental group – EG (n = 8 mean age 74.25 years) and GC – control group (n = 6 average age 80.83). The groups were assessed for MIP and MEP through the manometer, which also applied the quality of life questionnaire SF-36. The training intervention consisted GE ventilatory pattern exercises and group training using the Threshold® for 20 minutes, with seven sets of strengthening (2 minutes each) and 1 minute between sets for two weeks, three times a week . The workload of the Threshold® was installed gradually (30% of MIP in the first week and 40% of MIP in the second week). The GC has only held the exercises in groups of ventilatory pattern. Results: There were significant differences in Aldinéia Maria de Moraes Callegarini1 Angélica Ferreira dos Santos2 Bárbara Carlins Czuika3 Elaine Maria dos Santos4 Valéria Cabral Neves Luszczynsk 5 1. Graduanda da Faculdade Dom Bosco neiammc@gmail.com 2. Graduanda da Faculdade Dom Bosco angelfsantos@hotmail.com 3. Graduanda da Faculdade Dom Bosco barbaraczuika@yahoo.com.br 4. Graduanda da Faculdade Dom Bosco elainefisio07@hotmail.com 5. Professora mestre da Faculdade Dom Bosco valeriakabral@hotmail.com Artigo - 2 physical functioning domain, assessed by the Quality of Life Questionnaire SF-36, observed in the GE, as well as the improvement in MIP in both groups, but without statistical significance. Conclusion: It is noted that the muscle training using the Threshold® performed interferes with the elderly for the increase MIP and therefore provides a better quality of life. Keywords: respiratory muscle strength, linear load pressure, respiratory muscle training, institutionalized elderly and quality of life. Introdução Um conjunto de estudos epidemiológicos indica que a função pulmonar prejudicada, especialmente a diminuição nas taxas de fluxo expiratório, é responsável por taxas altas de mortalidade, tanto por problemas pulmonares quanto cardíacos, causas principais de óbito em homens e mulheres. No caso do idoso, esses aspectos adquirem tal importância que, muitas vezes, a medida da função respiratória é sugerida como fator de qualidade de vida (REBELATTO; MORELLI, 2007). A manovacuometria é um método de avaliação que permite quantificar de forma não invasiva, rápida, simples e segura a força dos músculos respiratórios. A pressão inspiratória máxima (PImáx) indica a força dos músculos inspiratórios, e a pressão expiratória máxima (PEmáx), a força dos músculos expiratórios. São graduados em centímetros de água. O Threshold® teve sua validade testada nos estudos de Johnson e Gosselink apud Britto, Brant e Parreira (2009), sendo muito utilizado no treinamento da musculatura respiratória (BRITTO; BRANT; PARREIRA, 2009). Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi verificar se o treinamento muscular inspiratório auxilia no ganho da pressão inspiratória máxima (PImáx) em idosos institucionalizados. Metodologia Trata-se de um estudo intervencional, experimental, qualiquantitativo. Ele teve abordagem intervencional, por se tratar de uma ação fisioterapêutica em idosos institucionalizados. Quantitativa, pois foram avaliadas as medidas da pressão inspiratória máxima e da pressão expiratória máxima desses indivíduos por meio de manovacuometria, bem como qualitativa, pois se aplicou um questionário de qualidade de vida. Cálculo amostral Para o cálculo do tamanho da amostra, foi usada a variável “manovacuômetro” (parâmetro principal do estudo). Foi considerado o nível de significância de 5%, o poder do teste de 70% e a variância do teste igual a 5 cm. Para se detectarem diferenças significativas de 5 cm, o número da amostra foi de quatorze indivíduos (ALTMAN , 1991). Tipo de amostra A amostra desta pesquisa foi probabilística, do tipo aleatório estratificada, que segundo Gil (2002, p.122) é aquela em que ocorre a seleção de uma amostra de cada subgrupo da população pesquisada. População e participantes Foram incluídos idosos com idade acima de 60 anos, de ambos os sexos, moradores das instituições Asilo Santa Clara e Casa de Repouso Sant’ Felicy, da cidade de Curitiba, que compreendessem e executassem os comandos ensinados, concordassem em assinar o termo de consentimento livre esclarecido e com disponibilidade para a realização dos atendimentos. Foram excluídos idosos hospitalizados, traqueostomizados, sob uso de oxigenioterapia ou suporte ventilatório. Além disso, foram excluídos indivíduos com hipertensão arterial não tratada e/ou com risco de hemorragia (aneurisma de aorta), infarto agudo do miocárdio e angina instável recente, pneumotórax, fístulas pulmonares, hérnias abdominais, cirurgia torácica ou abdominal recente e problemas agudos de ouvido médio. Foram excluídos também pacientes com quadro febril e álgico não tratável, imunossupressão severa, bem como aqueles sob tratamento fisioterapêutico e/ou submetidos à reabilitação pulmonar nos últimos três meses e que não preencheram 18 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 19 Artigo - 2 os critérios de inclusão. Procedimentos Os idosos foram randomizados, de acordo com os métodos de inclusão e exclusão, sendo assim apresentado o termo de Consentimento Livre Esclarecido, segundo a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que esclarece o estudo, assim como seus objetivos, riscos e benefícios da técnica utilizada. Após a assinatura do termo de Consentimento Livre Esclarecido, foram selecionados dezoito idosos da terceira idade, dos quais foram excluídos três por não adesão ao tratamento e um por entrar em óbito no decorrer da pesquisa. Finalizou-se a pesquisa com quatorze participantes. Os idosos foram divididos em dois grupos de forma randomizada, sendo um grupo experimental (GE, n = 8) e um grupo controle (GC, n = 6). Os atendimentos foram realizados em uma sala reservada no local onde os idosos residem, Asilo Santa Clara ou Casa de Repouso Sant’ Felicy. Os idosos passaram por uma avaliação respiratória fisioterapêutica contendo dados pessoais, escala de Borg, SpO2, PEmáx e PIMax. Também responderam ao questionário de qualidade de vida validado (SF-36) no primeiro e no último dia de tratamento. Os idosos foram submetidos a uma avaliação de força muscular respiratória por meio do manovacuômetro. O bocal utilizado para o aparelho foi adaptado para este estudo contendo uma mangueira de silicone de 20 cm de comprimento e um adaptador de metal. Conforme relata Nagakawa e Barbabé (2006), quando utilizados bocais circulares obtêm-se valores significativamente maiores e são indicados para idosos, pois estes possuem dificuldade para realizar preensão labial adequada ao redor do bocal, o que facilita o escape de ar durante a manobra. A pressão inspiratória máxima (PImáx) foi avaliada com o idoso na posição sentada, estando o tronco em ângulo de 90° com as coxas. O indivíduo expirou até alcançar seu volume residual, conectou-se imediatamente à peça bucal e com o nariz ocluído por clipe nasal, efetuou esforço inspiratório máximo. O teste foi realizado três vezes, com pausa de um minuto, sendo utilizado o valor de PImáx maior. Estando o indivíduo na mesma posição, foi avaliada também a pressão expiratóriamáxima (PEmáx); conectando-se a peça bucal com o nariz ocluído por clipe nasal, o idoso efetuou inspiração máxima três vezes, com pausa de um minuto entre cada uma, obtendo-se o valor máximo. O GE realizou treinamento muscular respiratório utilizando o Threshold® por vinte minutos, com sete séries de fortalecimento (dois minutos cada) e intervalo de um minuto entre as séries, durante duas semanas, três vezes por semana. Também realizou os exercícios respiratórios a seguir em grupo três vezes por semana, por duas semanas. Exercício respiratório com inspiração máxima sustentada 1º passo: paciente sentado em cadeira com encosto, MMII a 90° e pés apoiados no chão; 2º passo: o paciente enche o pulmão de ar, puxando-o pelo nariz o máximo possível e de forma lenta, o máximo que conseguir; 3º passo: sustenta por cerca de três a dez segundos; 4º passo: solta o ar normalmente, sem esforço, pela boca. Exercício respiratório, frenolabial 1º passo: paciente sentado em cadeira com encosto, MMII a 90° e pés apoiados no chão; 2º passo: o paciente enche o pulmão de ar, puxando-o pelo nariz; 3º passo: solta o ar pela boca contra a resistência dos lábios franzidos ou fechamento dos dentes; 4º passo: o tempo pode ser longo ou curto, conforme a capacidade de cada paciente. Exercício de expiração forçada 1º passo: paciente sentado em cadeira com encosto, MMII a 90° e pés apoiados no chão; 2º passo: o paciente puxa pouco ar, lentamente, pelo nariz; Artigo - 2 3º passo: solta todo o ar possível, forçadamente, pela boca. O GC fez apenas exercícios respiratórios em grupo, orientados e realizados juntamente às pesquisadoras três vezes por semana, por duas semanas. Análise estatística Foi utilizada estatística descritiva com média e desvio- padrão para SpO2, PImáx, PEmáx, escala de Borg e em todos os domínios do questionário de qualidade de vida. Para a análise das variáveis respostas, foi utilizado na análise intragrupos e intergrupos o teste ANOVA one way. Adotou- se o nível de p < 0,05 para significância estatística. Para avaliação dos resultados foram utilizados o programa Excel e software Minitab 15. Resultados Grupo experimental Dos 29 idosos moradores da casa de repouso Saint’ Felicy, quatro (14%) foram incluídos no grupo experimental. De todos os moradores desta casa, apenas dez (34%) preenchiam os critérios de inclusão. Destes, três gerontes não aderiram ao tratamento por motivos individuais e um entrou em óbito por infarto fulminante. No Asilo Santo Clara, dos 26 moradores, quatro (15%) foram incluídos no grupo experimental. Foram excluídos do estudo 18 idosos por não preencherem os critérios de inclusão e, em sua maioria, não compreenderem os comandos ensinados. No total, o grupo experimental foi composto por oito idosos (14%); seis (75%) do gênero feminino e dois (25%) do masculino, sendo a média de idade desse grupo 74,25 anos. O grupo experimental apresentou melhora na pressão inspiratória máxima (PImáx), de modo que inicialmente era –67,50 ± 42,68 cm H2O e após treinamento foi para –97,50 ± 31,05 cmH2O. No entanto, não houve significância estatística (p > 0,05). Análise da pressão inspiratória máxima no grupo experimental Fonte: Dados da pesquisa. Houve melhora também em dois domínios do questionário de qualidade de vida SF-36: capacidade funcional e aspectos sociais. Porém, não houve significância estatística. A escala de Borg não obteve alteração na reavaliação quando comparada à avaliação, observando-se que esse treinamento não influenciou na melhora da dispneia. Grupo controle Constituíram o grupo controle dois idosos (7%) da casa de repouso Saint’ Felicy e quatro (15%) do Asilo Santa Clara, sendo finalizado com o total de seis indivíduos (11%). Destes, cinco (83%) eram do gênero feminino e um (17%) do masculino, com idade média de 80,83 anos. O grupo controle apresentou aumento na PImáx e saturação de pulso (SpO2) quando comparado com a avaliação. A PImáx passou de –50,00 ± 20,00 para –54,67 ± 20,46, e a SpO2 foi de 0,9100 ± 0,07348 para 0,9350 ± 0,03937, porém não houve significância estatística (p > 0,05). 140 120 100 80 60 40 20 Fase Avaliação Reavaliação Boxplot of PImáx (cmH2O) – GC PI m áx (c m H 2O ) – G C 20 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 21 Artigo - 2 Análise da PImáx no grupo controle Fonte: Dados da pesquisa. Em relação ao questionário de qualidade de vida SF-36, os domínios estado geral de saúde, vitalidade e saúde mental melhoraram quando comparados à avaliação, no entanto sem significância estatística (p > 0,05). Grupo controle e grupo experimental A média de idade dos dois grupos foi de 77,07 anos. Com relação ao meio de locomoção dos idosos, no grupo experimental um indivíduo (12%) era cadeirante, quatro (50%) deambulavam e três (38%) usavam órteses. No grupo controle, um indivíduo (17%) era cadeirante, dois (33%) deambulavam e três (50%) usavam órteses. A tabela a seguir mostra a média e o desvio-padrão da avaliação e reavaliação dos grupos experimental e controle, nos quesitos SpO2, PImáx e PEmáx, podendo também serem observados os níveis de significância intragrupos e intergrupos. Estatística descritiva da SpO2, PImáx e PEmáx entre grupo controle e grupo experimental Artigo - 2 As médias e desvio-padrão dos domínios do questionário de qualidade de vida SF-36 estão apresentados na tabela a seguir, bem como os níveis de significância intragrupo e intergrupos. Estatística descritiva do questionário de qualidade de vida SF-36 entre grupo controle e grupo experimental Ambos os grupos aumentaram os valores da PImáx, porém sem significância estatística. O grupo experimental apresentou aumento da PImáx (–67,50 ± 42,68 cm H2O para –97,50 ± 31,05 cm H2O), e o grupo controle (–50,00 ± 20,00 cmH2O para –54,67 ± 20,46 cmH2O). O grupo experimental obteve aumento maior do que do grupo controle devido ao fortalecimento dos músculos inspiratórios utilizando o Threshold®. Comparação da PImáx entre o grupo controle e grupo experimental Fonte: Dados da pesquisa. Fase Avaliação Reavaliação 80 70 60 50 40 30 20 10 Boxplot of PImáx (cmH2O) – GC PI m áx (c m H 2O ) – G C Tipo de Grupo Grupo Controle Grupo Experimental 80 60 40 20 0 -20 -40 Boxplot of PI (cmH2O) PI (c m H 2O ) Critérios Grupo controle Grupo experimental P Inter Avaliados n = 6 n = 8 Grupos AV RE P Intra AV RE P Intra Grupos Grupos SpO2 Média 0,9100 0,9350 0,479 0,95500 0,95375 0,934 0,435 DP (0,07348) (0,03937) (0,02673) (0,03249) PImáx Média -50,00 -54,67 0,698 -67,50 -97,50 0,130 0,174 DP (20,00) (20,46) (42,68) (31,05) PEmáx Média 51,67 51,67 1 70,00 70,00 1 1 DP (31,25) (29,94) (35,46) (26,19) AV= Avaliação; RE= Reavaliação; DP= Desvio-Padrão; GE= Grupo Controle; GC= Grupo Experimental; SpO2= Saturação de Oxigênio; PImáx= Pressão Inspiratória Máxima; PEmáx= Pressão Expiratória Máxima; n= número da amostra. Fonte: Dados da pesquisa. Critérios Grupo controle Grupo experimental P Inter Avaliados n = 6 n = 8 Grupos AV RE P Intra AV RE P Intra Grupos Grupos CP Média 46,67 38,33 0,604 30 31,87 0,91 *0,053 DP (28,58) (25,23) (30,59) (34,12) AF Média 58,33 33,33 0,33 62,5 43,75 0,398 0,122 DP (40,82) (43,78) (44,32) (41,73) DOR Média 86,33 63 0,096 63 62,25 0,972 0,115 DP (14,990) (27,24) (42,47) (41,97) EGS Média 45 50,5 0,748 42,25 39,25 0,833 0,077 DP (25,42) (31,97) (27,53) (28,34) VIT Média 55,83 58,33 0,872 58,1354,38 0,766 0,223 DP (29,90) (22,06) (22,51) (26,65) AS Média 64,58 58,33 0,766 62,50 76,56 0,445 0,289 DP (33,93) (36,80) (37,20) (34,35) LAE Média 72,22 49,99 0,282 66,67 50,00 0,392 0,775 DP (25,10) (40,82) (39,83) (35,63) SM Média 64,67 69,33 0,732 59,00 58,00 0,944 0,382 DP (21,97) (23,82) (27,69) (27,96) AV= Avaliação; RE= Reavaliação; DP= Desvio-Padrão; GE= Grupo Controle; GC= Grupo Experimental; CP= Capacidade Funcional; AF= Aspecto Físico; DOR= Dor; EGS= Estado Geral Saúde; VIT= Vitalidade; AS= Aspectos Sociais; LAE= Limitação por Aspectos Emocionais; SM= Saúde Mental; n= número da amostra; *=p<0,005 (significância estatística). Fonte: Dados da pesquisa. 22 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 23 Artigo - 2 O domínio capacidade funcional do questionário SF-36 apresentou melhora significativa (p < 0,05) no grupo experimental quando comparado ao grupo controle, sendo observado no gráfico a seguir. Comparação da capacidade funcional entre o grupo controle e o grupo experimental Fonte: Dados da pesquisa. O fortalecimento dos músculos inspiratórios causou melhora no domínio aspectos sociais do SF-36. No início do estudo, os grupos controle e experimental apresentaram valores de aspectos sociais próximos (64,58 ± 33,93 e 62,5 ± 37,20 respectivamente). Com o fortalecimento dos músculos inspiratórios realizado somente pelo grupo experimental, os aspectos sociais do grupo controle diminuíram para 58,33 ± 36,80, enquanto no grupo experimental aumentou para 76,56 ± 34,35, entretanto não houve significância estatística (p > 0,05). A variável PEmáx em ambos os grupos não obteve alteração, mantendo-se o mesmo resultado apresentado na avaliação, lembrando que o estudo envolvia o treinamento da musculatura inspiratória. Discussão O objetivo do presente estudo foi verificar se o treinamento muscular utilizando o Threshold® é eficiente para a melhora da função respiratória e da qualidade de vida em idosos institucionalizados. Diversos estudos comprovam a eficácia do fortalecimento muscular respiratório realizado com carga linear pressórica, indicando aumento no valor da pressão inspiratória máxima em indivíduos submetidos a esse treinamento (RIBEIRO et al., 2007; FONSECA et al., 2010) Artigo - 2 no estudo descrito, o não ganho de força significativa na musculatura diafragmática realizado na presente pesquisa pode ser justificado pelo curto período de intervenção realizado, de duas semanas. Enright et al. (2004) realizaram estudo com uma amostra de 29 indivíduos com idade média de 22,0 ± 4,2 anos, sendo dezesseis homens. O programa de tratamento teve duração de oito semanas de treinamento muscular inspiratório em pacientes com fibrose cística, que foram divididos em três grupos: grupo 1 (G1, n = 9), com intensidade de 80% de esforço máximo, grupo 2 (G2, n = 10), com intensidade de 20% de esforço máximo, e grupo 3 (G3, n = 10), como controle, sem realizar carga alguma. Após o treinamento, houve aumento significativo (p < 0,05) em pressão inspiratória máxima (PImáx), pressão inspiratória máxima sustentada (SPImáx), capacidade vital (CV) e capacidade pulmonar total (CPT) do G1 em relação ao G3. O G2 apresentou melhora significativa (p < 0,05) somente na PImáx e SPImáx referente ao G3. O G3 não apresentou melhora em nenhum item avaliado. O G1, quando comparado ao G2, não apresentou diferença significativa. No que diz respeito à carga linear pressórica, a literatura relata que o treinamento muscular específico tem sido descrito como capaz de aumentar a função muscular inspiratória, quando a intensidade é monitorada e excede 30% da PImáx, podendo ser gradualmente inspiratória e expiratória máxima (PImáx, p = 0,07 e PEmáx, p = 0,31), e menores valores significativamente (p = 0,001) para os três subgrupos foram encontrados para as pressões respiratórias máxima em relação aos previstos. Relatam Simões, Auad e Wilkins (2009) que as pressões respiratórias apresentaram correlação negativa moderada com a idade e moderada correlação positiva com o índice de massa corporal. Houve forte correlação positiva em relação ao peso e correlação positiva moderada com a altura em relação à pressão expiratória máxima e forte correlação em relação à pressão. Concluíram os autores com esse estudo que a força muscular respiratória é marcantemente reduzida em idosos institucionalizados com idades de 60 a 89 anos, e que existe relação entre características antropométricas e os níveis de força dos músculos respiratórios. Ribeiro et al. (2007) fizeram um estudo com dezenove pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), sendo estes divididos aleatoriamente em dois grupos: grupo de reeducação respiratória (RR) e grupo de treinamento muscular inspiratório (TMI) + RR. Ambos foram submetidos a uma avaliação antes e após o programa de reabilitação pulmonar. A força muscular foi avaliada por meio de manovacuometria, verificando-se a PImáx e PEmáx. O protocolo de treinamento realizado pelos autores teve A seguir estão relacionados estudos que comparam os diferentes itens explorados por esta pesquisa, o que gera discussões sobre a intervenção da fisioterapia respiratória em idosos institucionalizados, principalmente no que diz respeito à melhora da qualidade de vida. Função respiratória O estudo de Neder e colaboradores em 1999 buscou estabelecer valores de referência de PImáx e PEmáx para a população brasileira. Esse estudo avaliou 100 indivíduos não fumantes (50 homens e 50 mulheres), de 20 a 80 anos. Os valores mostraram-se influenciados por gênero, idade e variáveis antropométricas. Segundo estudo sobre revisão bibliográfica realizado por Maior e Alves em 2003, o treinamento de força possui etapas distintas. No início do treinamento, ocorrem adaptações neurais essenciais para os ganhos de força, mas sem o devido aumento da massa muscular. As adaptações, de acordo com relatos de estudos, ocorrem durante o período de quatro a oito semanas (O’BRYANT, BYRD e STONE, 1988; in HICKSON, HIDAKA e FOSTER,1994). Deve-se enfatizar que o treinamento de força progressivo é essencialmente necessário para que se desenvolvam melhorias na sincronização das unidades motoras, consequentemente, melhor ativação dos motoneurônios (CARROLL, RIEK e CARLSON, 2001). Com base aumentada de 60 a 70% da PImáx. Descreve ainda que os resultados desse treinamento, quando realizado de três a sete vezes por semana, com duração de dez a trinta minutos e intensidade de 30 a 70% da PImáx, geralmente são observados entre cinco e doze semanas. Em comparação a esse estudo, houve diferença nas cargas aplicadas, sendo utilizada uma carga menor no grupo experimental, sendo 30 e 40% na primeira e segunda semana, respectivamente, apresentando melhora na PImáx em ambos os grupos. O aumento da PImáx no grupo controle pode ser devido à reeducação respiratória. No grupo experimental justifica-se o maior aumento da PImáx devido ao treinamento com o Threshold®. No entanto, o tempo de treinamento foi inferior ao realizado na maioria dos estudos semelhantes a esse e que obtiveram resultados satisfatórios, podendo-se justificar o fato desse estudo não apresentar uma diferença significativa (p > 0,05). Simões, Auad e Wilkins (2009) realizaram um estudo com 56 idosas institucionalizadas, divididas em três subgrupos de acordo com a idade: 60-69 anos (n = 20); 70-79 anos (n = 18) e 80-89 anos (n = 18). As medidas de pressão máxima coletadas foram comparadas com os valores previstosutilizando a fórmula de Neder et al. (1999). Seu estudo relata que não foram encontradas diferenças significativas quanto às pressões Tipo Grupo Controle Experimental 20 10 0 -10 -20 -30 Boxplot of Capacidade Funcional C ap ac id ad e Fu nc io na l 24 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 Revista FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA – dezembro 2011 25 Artigo - 2 duração de seis semanas, três vezes por semana. O grupo RR realizou trinta minutos de exercícios em esteira ergométrica, oito minutos de treinamento para MMSS com halteres e quinze minutos de reeducação respiratória. O grupo TMI + RR realizou os mesmos exercícios do grupo RR mais o treinamento com Threshold®, obtendo melhora significativa (p < 0,05) da PImáx nos dois grupos (de –61 ± 18 para –78 ± 20 cm H2O no grupo RR; de –63 ± 14 para –90 ± 12 cm H2O no grupo TMI + RR). Comparando os resultados desse estudo com o de nossa pesquisa, encontraram-se semelhaças, visto que ambos os grupos apresentaram aumento na PImáx (de 67,50 ± 42,68 cm H2O para 97,50 ± 31,05 cm H2O no grupo experimental e de 50,00 ± 20,00 cm H2O para 54,67 ± 20,46 cm H2O no grupo controle), sendo esse aumento maior no grupo que realizou treino com o Threshold®. Um estudo realizado por Vecchia e participantes em 2005 descreve que a literatura reflete sobre os instrumentos utilizados para a análise da qualidade de vida de modo geral, e diz que estes não se adaptam para os idosos. As prováveis explicações para esse ocorrido devem-se à abordagem unidimensional e/ou porque os idosos que se autodenominam com boa qualidade de vida não as teriam segundo a interpretação de um instrumento específico, no nosso caso o SF-36, o que pode explicar os domínios do questionário de qualidade de vida que não obtiveram melhora com o aumento da PImáx. Luiz e Oliveira, em 2008, verificaram em seu estudo descritivo a força muscular respiratória em idosos institucionalizados de Foz do Iguaçu. A amostra foi formada por vinte indivíduos com idade média de 70,5 anos, sendo sete mulheres (35%) e treze homens (65%). Os idosos são moradores da Associação de Amparo aos Idosos “Lar dos Velhinhos Antônio Ayres de Aguirra”. Os grupos foram divididos por gênero. Nos participantes do sexo feminino, somente na PEmáx (46 cm H2O) houve significância estatística; já nos indivíduos do sexo masculino notou-se significância nos critérios PImáx (–69,1 cm H2O) e PEmáx (62,1 cm H2O). Os resultados encontrados, comparados ao do presente estudo, não obtiveram similaridade, visto que não era objetivo principal da pesquisa a análise da PEmáx nos indivíduos estudados e a amostra de idosos do sexo masculino (n = 3) era inferior à do sexo feminino (n = 11). O estudo, porém, demonstrou aumento da PImáx em ambos os grupos, sendo no grupo controle de –50,00 cm H2O para –54,67 cm H2O e no grupo experimental –67,50 cm H2O para –97,50 cm H2O, porém esses resultados não obtiveram significância estatística. Fonseca et al. (2010) estudaram o impacto na autonomia funcional de idosos que participaram de programas de treinamento muscular respiratório. O estudo foi realizado com 42 idosos institucionalizados, divididos, aleatoriamente, em três grupos: grupo Threshold®, grupo Voldyne® e grupo controle. Todos foram tratados com o mesmo protocolo de exercícios respiratórios. Ao grupo Threshold® foi associado protocolo de exercícios com treino muscular com equipamento Threshold®; ao grupo Voldyne®, foi associado ao protocolo o equipamento Voldyne®; e o grupo controle realizou apenas o protocolo de exercícios respiratórios. Sendo assim, o grupo Threshold®, quando comparado pré e pós intervenção, apresentou diferença significativa (p < 0,05) para todos os testes. No grupo Threshold® os resultados foram favoráveis quando comparados (pré e pós) em relação aos de forma satisfatória. A melhora da autonomia funcional do grupo Threshold® do estudo de Fonseca e colaboradores mostra similaridade ao presente estudo, já que este apresentou melhora significativa (p < 0,05) na capacidade funcional. Qualidade de vida Pacheco e colaboradores (2005) realizaram estudo comparativo sobre qualidade de vida e performance motora em dezoito idosos, sendo o grupo treinado (GT) composto por cinco idosos do gênero masculino e quatro do feminino, que praticavam exercícios físicos três vezes por semana com tempo de treinamento maior ou igual a um ano. Os resultados para o sexo masculino no grupo treinado apresentaram significância estatística para os domínios capacidade funcional, aspectos físicos e dor do questionário SF-36 quando comparados aos idosos sedentários. Em relação ao sexo feminino no grupo treinado, houve significância nos domínios capacidade funcional, dor e estado geral de saúde. Observando os resultados do estudo de Pacheco e participantes comparados a este, houve similaridade no domínio capacidade funcional, e divergência quando comparados aos outros domínios que obtiveram significância estatística, visto que neste estudo foram analisados indivíduos não praticantes de atividade física; salientam Resende, Rassi e Viana (2008) que a atividade física aprimora a qualidade de vida. Função respiratória e qualidade de vida Segundo estudo descritivo de Souza (2003), cujo objetivo era avaliar a capacidade funcional de indivíduos da terceira idade em diferentes populações, os indivíduos foram avaliados em um único dia, sendo realizados exame físico, espirometria, manovacuometria e teste de caminhada de seis minutos. A amostra foi composta por dez alunos da universidade da experiência e dez internos do Asilo de Tubarão, com idade entre 57 e 77 anos. De acordo com Carvalho, Filho e Papaléo (1994), os idosos institucionalizados apresentam diminuição na qualidade de vida devido à falta de atividade física, além do fator psicológico de estarem asilados e, consequentemente, diminuição da funcionalidade. Comparado ao estudo descrito de Souza (2003), o presente estudo mostra no grupo experimental significância na capacidade funcional (p = 0,053), avaliada pelo questionário de qualidade de vida SF-36. O que é justificado pelo treinamento da musculatura respiratória com carga linear pressórica ao qual foi submetido o grupo experimental. A literatura relata que a musculatura da respiração enfraquece com o progredir da idade. Isso ocorre devido ao enfraquecimento dos músculos esqueléticos somado ao enrijecimento da parede torácica, resultando na redução das pressões máximas inspiratórias e expiratórias com um grau de dificuldade maior para executar a dinâmica respiratória (CARVALHO; LEME, 2002). Em 2003 um estudo realizado por Souza avaliou a PImáx e PEmáx através da manovacuometria, sendo apresentados valores menores das pressões respiratórias máximas (PImáx –57cm H2O e PEmáx 70 cm H2O) nos idosos do Asilo de Tubarão quando comparados aos idosos da Universidade da Experiência (PImáx –72 cm H2O e PEmáx 97 cm H2O). Verificados os dados da reavaliação do estudo, observam-se valores iguais da PEmáx e diferença quando comparada a PImáx, que na presente pesquisa apresentou aumento, sendo justificado pelo treinamento realizado utilizando o Threshold® . No estudo comparativo de Cader et al. (2006), foi avaliada a PImáx através da manovacuometria e a qualidade de vida através do questionário (WHOQOL-100). Eles tiveram uma amostra de 24 voluntárias, as quais foram divididas em três grupos: sedentárias (n = 8, média de idade 69 ± 2,06), idosas
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