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1 UNIDADE 1 DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • ter elementos para a compreensão do processo de formação da educação nas sociedades sem escrita. • relacionar a tradição greco-romana como uma das raízes da educação oci- dental. • compreender o processo de formação do sistema ocidental cristão de edu- cação. • avaliar diferentes formas de educação antes da invenção da imprensa. Esta unidade está dividida em três tópicos, para facilitar a compreensão das temáticas abordadas. Ao final de cada tópico existem atividades que facilitarão a compreensão dos temas históricos abordados. TÓPICO 1 - A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE TÓPICO 2 - O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL TÓPICO 3 - IDADE MÉDIA: PATRÍSTICA, ESCOLÁSTICA E NOMINALISMO Assista ao vídeo desta unidade. 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE 1 INTRODUÇÃO Neste tópico entraremos em contato com a formação dos primeiros tipos de modelos educacionais surgidos na humanidade. A educação tribal pode ser denominada também como educação difusa, pois nela não está presente a figura da instituição escolar. Também analisaremos a presença da educação e o seu desenvolvimento nas primeiras sociedades letradas da história humana, como os mesopotâmicos, egípcios, hebreus, fenícios e persas. Seguindo a cronologia, iniciaremos nossa narrativa contemplando a presença da educação nas sociedades ágrafas. 2 AS SOCIEDADES ÁGRAFAS Podemos compreender por sociedades ágrafas as comunidades humanas que não possuem formas de escrita. Em geral, uma visão linear da história classifica que o homem “entra na história” deixando a pré-história após o desenvolvimento da capacidade de escrita. Porém, não temos como, em pleno século XXI, continuar a reproduzir uma visão tão estreita das sociedades humanas, pois até na atualidade existem grupos humanos, com formas de organização social complexas, que não possuem a escrita como forma de mediação de conhecimento e memória. Assim, neste primeiro tópico vamos contemplar um pouco das sociedades ágrafas. Não é pela ausência da escrita que as sociedades teriam uma ausência de funções sociais, além de uma preocupação educacional constante por parte das lideranças grupais. Em geral, as sociedades ágrafas são estudadas por diferentes profissionais das ciências humanas e naturais. Quando se trata do estudo das sociedades sem escrita que já desapareceram há milhares de anos, seu estudo fica a cargo de arqueólogos. Quando se trata do estudo de sociedades contemporâneas, seu estudo fica a cargo dos antropólogos e, por vezes, sociólogos e historiadores. Os arqueólogos são profissionais que estudam os vestígios fósseis de civilizações pré-históricas, ou de civilizações perdidas há milhares de anos. Portanto, seu trabalho se realiza nos denominados sítios arqueológicos, nos quais UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 4 são encontrados os restos de cultura material de alguma civilização pretérita (BRAIDWOOD, 1988). Os paleontólogos estudam os fósseis da vida na Terra, não obrigatoriamente vinculados aos seres humanos. O seu método analítico é plural, devido aos diferentes tipos de fósseis que o paleontólogo analisa: de animais invertebrados, de vertebrados, de plantas, entre outras possibilidades de vida humana fossilizada. Os antropólogos, por sua vez, utilizam uma metodologia de trabalho completamente diferente dos arqueólogos e paleontólogos. Os antropólogos em geral realizam o denominado trabalho de campo. Isto é, passam meses em uma tribo, buscando compreender sua língua e seu modo de funcionamento, anotando suas observações em um diário de campo. Posteriormente, realizam o relato etnográfico, no qual apontam as características da população por eles analisada. Em grande parte, é com base nos diferentes dados disponibilizados pelos antropólogos, arqueólogos, paleontólogos e demais profissionais das ciências humanas, que iremos realizar a caracterização das sociedades ágrafas na presente unidade deste caderno de estudos. Um primeiro e importante dado a pensar é que, mesmo estando vivendo em um período da história do mundo no qual temos acesso a diversos mecanismos tecnológicos para a comunicação entre as pessoas, passando pela televisão e o rádio, chegando aos computadores e telefones celulares, hoje, no momento em que estamos lendo este texto, existem milhares de pessoas vivendo em formas de organização social na qual não existem estas mediações tecnológicas, e a vida segue em um contato direto com a natureza. Estas populações, em geral, não possuem escrita formal. Assim, contemplaremos algumas destas sociedades. As sociedades ágrafas mais próximas aos brasileiros são as comunidades indígenas. O termo índio provém do eurocentrismo dos primeiros navegadores europeus que atingiram as costas litorâneas do continente americano e denominaram os nativos índios por acreditarem estar pisando nas Índias, isto é, na Ásia. As sociedades indígenas têm uma tradição secular na América. Em geral, se acredita terem os nativos americanos migrado da Ásia, atravessando o Estreito de Bering, no extremo norte do continente. Assim como entre os europeus ocidentais, que têm sua divisão cultural marcada pela origem dos idiomas (latino, eslavo, saxão, escandinavos), os indígenas da América também são classificados conforme a sua diferente forma de fala. Quatro são os principais troncos linguísticos dos indígenas americanos: Tupi-guarani, Arauaque, Jê e Caribe. Isto é, estes quatro troncos linguísticos apontam que vários grupos têm uma matriz cultural comum, que ganhou maior variedade devido ao processo de migração pelo continente (OLIVEIRA; FREIRE, 2006). TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE 5 FIGURA 1- MENINA INDÍGENA Uma visão estereotipada dos indígenas aponta como menos desenvolvidos, andando nus pelas matas, realizando o canibalismo e vivendo em poligamia, isto é, um homem tendo várias esposas. Tal visão estereotipada é reforçada pelos manuais didáticos de história, pois estes apresentam apenas os indígenas de 500 anos passados, quando da vinda dos europeus para a América. Todavia, deveríamos ter uma relação e visão completamente diferentes das tribos existentes na atualidade. Se nos últimos 500 anos o homem branco mudou de forma radical, os indígenas também mudaram. Até mesmo considerar as tribos indígenas como pertencentes a sociedades sem escrita pode ser considerado uma visão estereotipada. Desde o século XVI, parte das línguas nativas passou a ter alguma forma de escrita. No atual momento da história brasileira, temos alguns indígenas alcançando os graus universitários, sendo também comum a presença de alfabetizadores dentre as principais tribos brasileiras. Todavia, apenas por força da tradição, mantivemos os indígenas brasileiros como exemplos de sociedades ágrafas. Um dos principais estudiosos da presença indígena na sociedade brasileira foi o antropólogo Darcy Ribeiro. Em relação às suas obras, é interessante ler alguns de seus livros, como Os Índios e a Civilização, assim como O Povo Brasileiro e O Processo Civilizatório. UNI FONTE: Disponível em: <www.amazonia.org.br>. Acesso em: 15 ago. 2016. UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 6 Não apenas as tribos indígenas presentes no Brasil e nos demais países americanos são exemplos de sociedades sem escrita (com as ressalvas realizadas no parágrafo anterior). Na África e na Ásia ainda encontramos algumas formações culturais que não precisaram do desenvolvimentoda escrita. Podemos citar os aborígines australianos, as populações isoladas das ilhas do Oceano Pacífico, assim como algumas tribos africanas, com destaque para os povos pigmeus. Em geral, denominam-se aborígines os nativos da Austrália, local em que grande parte das tribos sofreu com o processo de colonização empreendido pelos ingleses, assim como o preconceito racial marcou a vida de muitos destes nativos da Oceania durante grande parte da presença europeia na Austrália. Na atualidade, o governo australiano buscou formas de integrar os aborígines, sem utilizar da violência como a principal forma de linguagem. Também em pequenas ilhas do Oceano Pacífico, outras comunidades existem e são formadas por sociedades sem escrita. Como já afirmado, na África, dentre as populações sem escrita, uma das mais tradicionais são os pigmeus. Caracterizados pela baixa estatura, possuem uma forma peculiar de vida. As sociedades sem escrita possuem algumas características comuns. Em geral, as trocas econômicas são naturais, isto é, não possuem as moedas como símbolo econômico. Outra importante característica das sociedades ágrafas é a ausência de uma divisão de classes. Grande parte da divisão do trabalho é sexual. Determinadas tarefas cotidianas são destinadas aos homens, e outras destinadas FIGURA 2 - INDÍGENA UNIVERSITÁRIO FONTE: Disponível em: <www.portalmec.gov.br>. Acesso em: 15 ago. 2016. TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE 7 às mulheres. Questões ligadas à caça e pesca de animais para a alimentação, assim como a guerra, em geral, são atividades masculinas. Por sua vez, o preparo do alimento, assim como a coleta de frutos e grãos, são atividades majoritariamente femininas. Uma das classificações gerais das sociedades ágrafas é a divisão entre nômades e sedentários. Não é ausência de casa, mas sim de agricultura, a principal característica a diferenciar os dois grupos humanos. As sociedades nômades se caracterizam pala ausência de agricultura, sobrevivendo da coleta de frutos e raízes. Por sua vez, as comunidades sedentárias são aquelas que possuem grande produção agrícola e a existência de excedente, o que permite, como consequência, a fixação de residência em um local determinado, por não existir a necessidade de se migrar para a busca de alimentação (BRAIDWOOD, 1988). Podemos compreender, a partir desta explicação, que os indígenas brasileiros têm como principal característica o seminomadismo. Isto porque as comunidades possuem agricultura, porém, não possuem a figura do excedente. Com isto, essas comunidades possuem processos migratórios. Devido a isto, podemos compreender como é complexa a solução encontrada pelo Estado brasileiro ao longo do século XX, que é a da criação de reservas indígenas. A grande pergunta a se responder com relação às sociedades tribais é a seguinte: por que, mesmo com o grande desenvolvimento tecnológico da sociedade ocidental, as sociedades tribais continuam a existir em pleno século XXI? A principal resposta é a eficiência econômica. Para compreendermos esta eficiência, devemos analisar a formação das sociedades ágrafas desde o período pré-histórico. Pois, partindo do pressuposto de que a necessidade básica da manutenção da vida humana é a alimentação, nós podemos compreender que a denominada Revolução Agrícola, ocorrida há mais ou menos 10 mil anos, teve como legado uma eficiência na produção de alimentos que se manteve até o presente. Um dos mais destacados pesquisadores da Pré-história foi o australiano Gordon Childe. Suas pesquisas relativas ao período neolítico foram revolucionárias para a compreensão que temos sobre a vida humana, em especial pelos termos criados por ele, como Revolução Neolítica e Revolução Urbana. Por pré-história se compreende o estudo do passado da humanidade, do surgimento dos homens na Terra até a invenção da escrita. Portanto, podemos compreender a pré-história como um dos principais períodos da história humana, UNI UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 8 porque ele é o mais longo. Todavia, não devemos afirmar, por exemplo, que os indígenas brasileiros vivem na pré-história, mas sim que possuem um modo tribal de organização econômica que surgiu na pré-história. Uma das principais classificações sobre a pré-história é a divisão tripartite do período em paleolítico, mesolítico e neolítico. O paleolítico, período mais antigo, se caracteriza pelo período no qual os homens eram nômades. Por sua vez, o mesolítico é um período intermediário, que desemboca no neolítico, que tem como principal característica o processo de sedentarização. De modo esquemático, podemos compreender estes três períodos como: Paleolítico: Período anterior ao domínio do fogo. Mesolítico: Período no qual o homem conseguiu dominar o fogo. Neolítico: Período da Revolução Agrícola. A principal revolução tecnológica vivida durante o período da pré-história foi o desenvolvimento da agricultura, há aproximadamente 10 mil anos. Pois, tivemos um início da possibilidade de se utilizar o reino vegetal a favor dos seres humanos. Por isso, este processo, um dos mais importantes para a história humana, é denominado de Revolução Agrícola. Esta possibilitou aos seres humanos uma melhor utilização do meio ambiente. Pois, além de se utilizar a força dos animais para o desenvolvimento humano, também se passou a utilizar das sementes, plantas, flores e frutos, para a alimentação, cura de doenças, além de perfume e embelezamento estético nas diferentes sociedades humanas. Com relação à importância da pré-história e das sociedades ágrafas, alguns filmes foram criados. Dentre eles, podemos citar alguns que se tornaram clássicos. Com relação à pré-história, o filme A Guerra do Fogo, dirigido pelo cineasta francês Jean-Jacques Annaud, é destaque. Outro filme interessante é Rappa-Nui, produção norte-americana que retrata a vida na Ilha de Páscoa, antes da chegada dos colonizadores europeus. Uma das principais transformações sociais que a sedentarização (possibilitada pela revolução agrícola) vivenciou foi o surgimento do excedente. Isto é, o surgimento de uma produção de alimentos maior que a necessidade de consumo do grupo. Assim, surge uma das primeiras preocupações sociais, a de se ter a capacidade de guardar o excedente de modo a possibilitar a alimentação da tribo em momentos de intempéries climáticas, como secas. Em função da agricultura, sistemas irrigados tiveram de ser criados, visando à utilização de vastas áreas para a produção de alimentos. UNI TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE 9 Também o excedente gerado pela agricultura teve como um dos efeitos o aumento da rivalidade entre as tribos, pois uma disputa pelas terras que apresentavam melhores condições de plantio se tornou uma das principais ambições dos grupos humanos. O excedente estimulou, nas diferentes sociedades, uma incipiente divisão do trabalho. Todavia, a divisão era regida pela forma de organização social, em que se pesava a faixa etária, a hereditariedade e o gênero. Como já afirmamos, em geral, o papel de caça e pesca era masculino, assim como a ação de guerreiros nas violentas disputas tribais. Para as mulheres eram reservadas as funções ligadas à agricultura. As crianças, por sua vez, eram estimuladas a auxiliar os adultos nas tarefas da tribo que eram, em geral, divididas conforme o sexo. No entanto, é importante salientar que existiam funções especiais, como a do líder político (entre os indígenas comumente denominamos cacique) e os xamãs, os chefes espirituais das tribos (entre os indígenas, denominados pajés). Este sistema socioeconômico demonstrou grande eficiência, ao possibilitar a manutenção da vida nos maisdiferentes locais do mundo. Dois pontos são importantes para a compreensão da educação nas sociedades ágrafas. Um primeiro é o da ausência de instituições. Uma segunda questão é a compreensão mítica do universo. Estes dois elementos explicam o modo difuso de educação praticado nestas sociedades. 3 A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS Uma das principais características das sociedades ágrafas é a ausência de instituições formais. Esta ausência de instituições pode ser compreendida segundo a teoria de um importante antropólogo francês da segunda metade do século XX, Pierre Clastres, autor da relevante tese A Sociedade Contra o Estado (CLASTRES, 2003). Segundo a observação deste antropólogo, a figura do chefe político das tribos indígenas da América do Sul não é tão relevante quanto a dos chefes de Estado da atualidade. O chefe possuía algumas regalias, como a possibilidade da poligamia, porém, as obrigações do chefe guerreiro são maiores que seus privilégios. Assim, deve o chefe ter grande capacidade oratória, ao mesmo tempo em que deve demonstrar generosidade com relação aos demais membros da tribo. O poder é mais aparente do que eficaz, pois não consegue o chefe impor aos demais membros da tribo obrigações, como impostos, privação de liberdade ou recrutamento militar compulsório. Este fato demonstra um maior controle da sociedade sobre os seus chefes. No Ocidente, por conseguinte, ocorre o contrário, sendo a principal característica o controle do Estado sobre a sociedade, tendo os chefes políticos um efetivo controle e poder sobre a população por eles dominada. Clastres aponta que o Estado existe nas sociedades ágrafas em sua forma latente, porém, as formas de controle da sociedade contra o poder instituído são melhores que as apresentadas pelo Ocidente, no qual o Estado possuiu um poder maior sobre os indivíduos que nas sociedades tribais. UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 10 FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 12 ago. 2016. Deste modo, o poder nas sociedades ágrafas é difuso. Isto é, ele não se apresenta da forma racional e hierarquizada como na sociedade ocidental. Por isso, o poder permanece difuso. Neste caso, podemos compreender que em uma sociedade na qual o poder permanece difuso, a educação é igualmente difusa. Um dos dados importantes para a compreensão das sociedades ágrafas é a ausência de instituições. Isto é, não existe nela marinha, exército, igreja, congresso nacional ou poder judiciário. No que tange às instituições educacionais, estão ausentes creches, escolas, colégios, universidades e faculdades, porém, podemos compreender a ausência destas instituições educacionais pela ausência das primeiras instituições citadas, pois, em grande parte, a educação tem como principal meta adequar os indivíduos ao meio social. Em um meio social no qual o poder é difuso, os processos educativos por eles realizados também são difusos. Em locais nos quais a relação de poder não é institucionalizada, não existe a necessidade de se institucionalizar o processo educativo. Mesmo com o pouco grau de institucionalização do processo educacional nas sociedades analisadas, podemos compreender que não eram grandes as liberdades dos indivíduos nas sociedades tribais. Isto porque, em grande parte, podemos observar que as funções sociais são muito rígidas, marcadas pela idade e sexo do indivíduo. No entanto, a ausência de liberdade, em geral, se relaciona também à compreensão do universo, que é de base mítica. Assim, a relação do indivíduo com o seu meio se caracteriza por uma mentalidade marcadamente vinculada aos mitos fundadores das tribos. Os mitos possuem uma função pedagógica fundamental para a compreensão das sociedades tribais. Eles são uma forma de se passar o conhecimento dos antepassados, dos ancestrais, para as populações contemporâneas. Assim, a mitologia tinha uma relação clara com o processo educacional. Contudo, como podemos relacionar os mitos e suas implicações educacionais? Primeiramente, temos que compreender os mitos, e suas diversas funções: a de estabelecer uma explicação sobre o surgimento dos seres humanos, sobre a natureza, a contagem do tempo e as condutas individuais. FIGURA 3 - INSCRIÇÕES RUPESTRES TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE 11 Com relação ao surgimento do universo, a função dos mitos possuiu uma clara e fundamental função explicativa. Muitos mitos existem ao redor do mundo, relacionando o surgimento do planeta a elementos da natureza, como a água, a terra, ou então, com fábulas relacionadas a demiurgos, isto é, a deuses criadores. Assim como para explicar o mundo, os mitos também são importantes para a compreensão do surgimento dos seres humanos sobre a Terra. Temos, assim, uma grande quantidade de mitos que apontam a presença dos seres humanos vinculados à natureza, ou como descendentes de antigos deuses. Como principal efeito dos mitos, temos uma visão sacralizada da natureza. Deste modo, os seres humanos têm uma visão de que a natureza deve ser preservada em seus principais aspectos, para que se possa ter um melhor aproveitamento do que ela oferta para o homem. Isto é, a visão principal das comunidades tribais é a da natureza como uma mãe, que com o seu seio possibilita a saciedade da fome de seus filhos. Assim, podemos compreender que a mitologia tem um papel fundamental no estabelecimento das condutas individuais das pessoas que vivem nas sociedades tribais, pois o mito, além de impulsionar algumas ações, também tem a capacidade de limitar as ações individuais e coletivas que causariam a ruína da coletividade. O papel de educador cabe a qual indivíduo nas sociedades ágrafas? O papel de professor é difuso, diluído entre os diversos personagens sociais que compõem a tribo. Deste modo, podemos pensar no papel educacional exercido pelos vários membros das comunidades tribais (ARANHA, 1996). 3.1 O PAPEL EDUCACIONAL DO CHEFE TRIBAL Podemos compreender que o chefe tribal possui alguma função educacional com os mais jovens. Sendo o líder, deveria ser ele um exemplo de coragem, carisma e astúcia com relação à superação das dificuldades cotidianas, que poderiam ser causadas tanto pela ação da natureza, como secas e estiagens, assim como cheias dos rios ou excesso de chuva, ao mesmo tempo que poderiam ser ocasionadas pelas ações belicosas de tribos rivais. Assim, ao observar a postura do chefe tribal, que liderava as ações de caça e guerra, os meninos iam aprendendo sobre a importância das habilidades com arco, flechas e pedras para a manutenção da tribo enquanto organização social. 3.2 O PAPEL EDUCACIONAL DAS MÃES E DOS PAIS Uma figura que possuiu uma posição social diferente com relação à sociedade judaico-cristã ocidental no tocante ao papel de educar está na figura dos pais e das mães. Em nossa sociedade, cabe a estas figuras o papel de primeiro UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 12 educador, porém, nas sociedades tribais, o principal papel da mãe, o de amamentar, poderia ser compartilhado com outras mulheres em processo de lactação. Por vezes, o papel que caberia ao pai, de ser um exemplo de masculinidade para a prole, era desempenhado pelo líder tribal, que possui, neste tipo de organização social, em geral, um papel de maior prestígio que o do progenitor. 3.3 O PAPEL EDUCACIONAL DO XAMÃ Uma das principais figuras educacionais era desempenhada pelo líder religioso. Isto porque os líderes religiosos tinham função de grande destaque nas tribos. Em especial, por serem os principais guardiões do conhecimento tribal com relação ao universo mítico, como também com relação à utilização medicinal dos elementos da natureza. Os xamãs, por sua vez, educavamseu sucessor, escolhido em geral dentre os meninos mais habilidosos da tribo. 3.4 O PAPEL EDUCACIONAL DOS HOMENS MAIS VELHOS No lugar do pai, um dos principais vetores de educação entre as sociedades ágrafas eram os anciãos e as anciãs. As mulheres e os homens mais velhos possuem uma grande importância para a tribo, pois a experiência no contato com a natureza permitia a eles uma grande vantagem na luta cotidiana pela sobrevivência. 3.5 AS VISÕES SOBRE A INFÂNCIA NAS SOCIEDADES TRIBAIS Nas sociedades tribais, as crianças tinham uma posição diferente em comparação com nossa sociedade. Sobre isto, podemos pensar em duas possibilidades de compreensão. A compreensão utópica e a compreensão funcionalista. A compreensão utópica aponta que as crianças gozavam de grande liberdade em sociedades como as tribais ou ágrafas. Isto porque a ausência de uma instituição disciplinadora, como a escola, garantiria às crianças um espaço de liberdade que elas não teriam em uma sociedade como a ocidental, na qual grande parte da vida infantil é regrada e disciplinada pela uniformização de condutas e castração de impulsos com os quais as sociedades ocidentalizadas tratam a infância. Tal visão é, em grande parte, uma utopia, uma visão sonhadora da vida nas comunidades tribais. Os funcionalistas nos lembram que em grande parte, assim como no Ocidente, as crianças observam uma rígida disciplina, porém, vinculadas não a trabalhar em indústrias ou repartições governamentais, mas, sim, em atividades ao ar livre. Muitos rituais que envolvem violência, como torturas físicas, fazem parte do universo indígena, em especial nos rituais de passagem que simbolizam o fim da vida infantil e o início da idade adulta. Com isto, podemos considerar que mais importante que julgar ser boa ou má a forma como TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE 13 as sociedades ágrafas educam suas crianças, é buscar compreender como estas sociedades lidam com a infância. 4 AS SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE Por sociedades do antigo Oriente Próximo são denominadas algumas das civilizações que existiram no denominado Crescente Fértil, terras que hoje são nomeadas como Oriente Médio e parte do norte da África. Dentre elas, podemos elencar algumas civilizações, como o antigo Egito, a Mesopotâmia, os hebreus, os fenícios, além dos persas, que formaram posteriormente aos babilônicos um dos primeiros impérios da história do mundo. O sistema produtivo destas sociedades era baseado em uma servidão coletiva, na qual o Estado era o principal gestor e proprietário das terras. Vamos conhecer um pouco sobre estas civilizações? Sociedade egípcia: a sociedade egípcia é comumente lembrada como a terra das pirâmides, construídas ao longo dos séculos. Também fazem parte da memória social do antigo Egito as múmias. Em geral, se tratavam dos corpos dos antigos membros da nobreza, que passavam por este tipo de processo de manutenção física. Este se relacionava à religião, que tinha como uma das principais características a ideia de reencarnação. Assim, os corpos eram mumificados para novamente retornar à vida. Como se tratava de uma sociedade politeísta, tinham os egípcios uma organização teocrática, na qual o faraó, líder político daquela civilização, tinha também responsabilidades religiosas, sendo adorado como um deus (CARDOSO, 1990). FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.br>. Acesso em: 17 ago. 2016. FIGURA 4 - PIRÂMIDE EGÍPCIA UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 14 A base da pirâmide social era composta pelos servos, que trabalhavam na produção agrícola, bem como nas grandes obras de irrigação, fundamentais para a manutenção da vida, pois eram as cheias e os vazantes do rio Nilo que garantiam a fertilidade do solo, fundamental para a produção de alimentos. Também existia uma camada de burocratas (funcionários públicos), bem como de militares, escribas e sacerdotes; no topo da pirâmide, a nobreza, composta pelo faraó e suas famílias. Dentre o principal mito egípcio temos a contenda entre Set e Horos, bem como a presença de Ísis e Osíris. Os deuses do panteão egípcio tinham características antropomórficas (humanas), zoomórficas (culto aos animais), antropozoomórficas (deuses metade humanos e metade animais). Sociedade mesopotâmica: o termo Mesopotâmia quer dizer “Terra entre Rios”. Tal nome se deve à importante presença dos rios Tigre e Eufrates na constituição desta sociedade, marcada pela presença de alguns povos, como os sumérios, os babilônicos e os caldeus. Os povos que habitavam a Mesopotâmia possuíam uma religião politeísta, marcada também pela compreensão mítica das cheias dos rios e do poder civil. A sociedade, assim como a egípcia, era marcada pela desigualdade social, sendo as relações de trabalho vinculadas pela servidão (REDE, 2007). Apesar de menos famosa que o Egito, no tocante à religião, alguns dos mitos e práticas surgidas na Mesopotâmia deixaram um legado na sociedade ocidental. O horóscopo, prática até hoje presente, surgiu entre os mesopotâmicos. Tinham como uma de suas principais características a ideia de poder adivinhar o futuro dos indivíduos com a observação das estrelas. Visando à observação astronômica, os povos mesopotâmicos criaram enormes torres, que se chamavam zigurates. Ainda com relação à religião mesopotâmica, podemos nos lembrar de alguns mitos e deuses. Um dos principais era o deus Marduk. Entre os mitos, o principal era o mito do dilúvio, uma grande inundação de água, capaz de destruir a maior parte dos seres humanos. TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE 15 FIGURA 5 - MAPA DA MESOPOTÂMIA Sociedade israelita: outra importante sociedade existente no antigo Oriente Próximo eram os israelitas. Grupo fundado pelo patriarca Abraão, que fora chamada por Deus, na cidade mesopotâmica de Ur, habitada pelo povo caldeu, para formar um povo escolhido. Os israelitas tinham como principal diferença com relação às demais sociedades do antigo Oriente o monoteísmo, isto é, a crença em um único Deus. FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 11 ago. 2016. UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 16 FIGURA 6 - MAPA DO ANTIGO ISRAEL FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 30 ago. 2016. A história política do povo israelita possuiu várias fases. Uma primeira, na qual o povo era organizado em tribos. Posteriormente, com Saul, formou-se uma monarquia, que contou com os famosos reis Davi e Salomão, responsável pela criação do templo de Deus, denominado pelos israelitas como Jeová (YAWEH). Uma divisão política fez com que o povo fosse dividido em dois reinos, Israel, ao norte, que teve como capital Samaria, e Judá, ao sul, que tinha como capital Jerusalém. Um dado marcante da história do povo de Israel foi o momento em que foram escravizados pelos egípcios, dos quais foram libertos com a liderança de Moisés, que guiou o povo pelo deserto até Canaã, a terra prometida. Posteriormente, um segundo período foi caracterizado pelo denominado Cativeiro Babilônico, no qual Israel foi dizimado, sendo Judá, ao sul, preservada, mas teve parte de sua população cativa na Babilônia (CARDOSO, 1990). Posteriormente, também dominados pelo Império Romano, os judeus foram dispersos pelo mundo em 70 D.C., com a denominada Diáspora, na qual a região de Jerusalém deixou de ser TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE 17 uma área de posse exclusiva dos judeus, tendo retornado a Jerusalém apenas no século XX, após a Segunda Guerra Mundial. Sociedade fenícia: dentre os grupos humanos importantes para a compreensão da dinâmicasocioeconômica do mundo da antiguidade, um destaque foram os fenícios. Grupo humano que se caracterizou pelo comércio marítimo, tanto ao longo do Mediterrâneo, quanto ao longo do Mar Vermelho. Os fenícios possuíam uma forma de organização política na qual a presença forte das cidades, com autonomia, era a principal característica. Assim, algumas das cidades-estado fenícias tiveram grande destaque, como Sídon, Tiro, Biblos e Cartago, no norte da África. Com relação à religião, os fenícios possuíam uma religião politeísta, na qual alguns deuses possuíam grande destaque no panteão, como Baal, além de Yam, o deus do mar, de grande destaque em uma sociedade marcada pela grande presença de marinheiros. A estrutura social era semelhante às das demais sociedades asiáticas. Todavia, possuía uma diferença fundamental: a presença do comércio de longa cabotagem, isto é, de longas distâncias através da costa, o que permitiu o enriquecimento das principais cidades-estado vinculadas ao povo fenício. Uma das cidades fenícias, Cartago, chegou a rivalizar com Roma o domínio do Mediterrâneo. No entanto, com a derrota do general Aníbal, Cartago acabou sendo dominada pelo Império Romano. Império Persa: um dos primeiros impérios surgidos no mundo foi o Império Persa. Teve como seus mais célebres líderes Sargão e Ciro, o Grande, conquistador de grande faixa de terra ao longo do Mar Mediterrâneo. Uma das principais conquistas do Império Persa foi o domínio sobre o antigo Império Babilônico. A sociedade persa viveu grande apogeu cultural, sendo desenvolvida pelo povo persa uma das primeiras religiões monoteístas do mundo, o zoroastrismo. O modelo de sociedade persa entrou em rivalidade com o mundo grego, sendo um dos mais importantes eventos da história grega as denominadas Guerras Médicas, nas quais os gregos venceram os persas na Batalha de Salamina, garantindo o domínio dos gregos no Mar Mediterrâneo (CARDOSO, 1990). UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 18 FIGURA 7 - ARTE PERSA FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 1 ago. 2016. As sociedades do antigo Oriente Próximo deixaram um grande legado cultural a todo o mundo. Grande parte das populações, atualmente, segue religiões como a cristã ou muçulmana, que tiveram como uma das suas principais bases o judaísmo, uma das religiões criadas por um dos povos do antigo Oriente Próximo, porém, como podemos observar no texto já descrito, ocorreu um domínio da sociedade greco-romana sobre as civilizações do antigo Oriente Próximo. 5 AS SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, AS INSTITUIÇÕES E O PENSAMENTO EDUCACIONAL As diferentes sociedades do antigo Oriente Próximo, brevemente descritas nos parágrafos acima, têm grande importância na análise do desenvolvimento da educação. Por vezes, alguns dos inventos produzidos pelas antigas sociedades do Oriente são rememorados pelos professores de História, como as obras hidráulicas, responsáveis pela irrigação nas margens dos rios Nilo, Tibre e Eufrates, assim como os zigurates e as pirâmides. Podemos considerar que uma das mais importantes invenções destes povos está relacionada à questão educacional. Os mesopotâmicos inventaram o primeiro sistema de escrita da história, a denominada escrita cuneiforme. Em uma visão linear, progressista da história, se diria que com este invento a humanidade deixou de estar na pré-história e adentrou para a história. A denominada escrita cuneiforme era realizada em cunhas, por isso o nome que possui. A invenção da escrita possibilitou um grande desenvolvimento social, econômico, político, como também nas questões de inteligência e sentimentos portados pelos homens, pois o registro de ideias, sentimentos, pensamentos, além de propriedades, heranças, dívidas e dividendos, é parte fundamental nas sociedades humanas (ARANHA, 1996). TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE 19 FIGURA 8 - TÁBUA DE ESCRITA CUNEIFORME FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gv.br>. Acesso em: 17 set. 2016. O desenvolvimento da escrita possibilitou aos homens o desenvolvimento de normas escritas de conduta, como o Código de Hamurábi, na Mesopotâmia, assim como os Dez Mandamentos, as tábuas da lei de Moisés, presente entre os hebreus. Tais leis alteraram a forma de organização das sociedades. Se antes o mais forte possuía legitimidade social para impor sua vontade através da violência, com o desenvolvimento da escrita tivemos a possibilidade do desenvolvimento da lei como forma de se resolver os conflitos entre os indivíduos pertencentes a um mesmo grupo humano. Outro povo que deixou um importante legado no que se refere às questões educacionais foram os fenícios, pois foram os inventores do alfabeto, que influenciou as civilizações posteriores de Grécia e Roma, e, por consequência, a sociedade ocidental. Antes, as palavras eram formadas de modo inteiro, os ideogramas. No entanto, com a formação do alfabeto, temos a possibilidade da ampliação da expressão escrita pelos seres humanos. Também entre os fenícios, tivemos uma ampliação da possibilidade da realização de cálculos numéricos, pois, como grandes comerciantes, eles tiveram a necessidade de ampliar a eficiência da matemática (todavia, ainda não realizada com os números hindu-arábicos). Os fenícios também foram os responsáveis pela criação do termo biblioteca. Foi na cidade de Biblos, na antiga Fenícia, o local onde UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 20 se produziam os papiros, utilizados para o registro da palavra escrita em toda a sociedade do mundo mediterrânico e do antigo Oriente Próximo (ARANHA, 1996). Podemos compreender que uma das principais funções da educação é adequar os indivíduos ao meio social. Assim, a educação está sempre, de forma indelével, relacionada à estrutura da sociedade na qual pertencem. Assim, podemos compreender que, mesmo com o processo de desenvolvimento da escrita, a educação escolar institucionalizada era destinada a poucas pessoas dentre os indivíduos que compunham as sociedades que até aqui estudamos. A grande massa permaneceu analfabeta, porém, ela era educada por algumas instituições sociais, como a família, em especial a figura dos pais, como também tinham papel de educadores os sacerdotes destas sociedades. Em algumas delas existia uma classe profissional específica na qual o sustento dependia da alfabetização: os escribas. Esta categoria ocupacional era presente entre os egípcios, e tinha alguns privilégios sociais. Com isto, podemos medir o quanto ser alfabetizado é uma das principais formas de se ter poder em uma sociedade. E que a ampliação da alfabetização representa um aumento de práticas democráticas no corpo social. Todavia, como na antiguidade, as principais formas de trabalho não envolviam tecnologia, mas sim a força física, as sociedades eram compostas por massas analfabetas e pequenas parcelas letradas, que compunham a classe de privilegiados desta mesma sociedade. 21 Neste tópico você viu que: • A educação nas sociedades ágrafas é difusa. Isto é, não existe uma instituição formal que se responsabiliza pela educação, sendo ela responsabilidade de toda a tribo. • Não podemos ter uma visão evolucionista, desconsiderando a presença de comunidades culturalmente ágrafas ainda no presente, em várias partes do mundo. • A primeira possibilidade de expressão escrita da humanidade foi inventada na Mesopotâmia, e tem o nome de escrita cuneiforme. • As principais sociedades da antiguidade oriental, que já possuíam uma cultura letrada, foram os egípcios, mesopotâmicos, hebreus, fenícios e persas. RESUMO DO TÓPICO 1 22 1 Por que podemos dizer que a invenção da escrita foi uma grande conquistada humanidade? AUTOATIVIDADE Assista ao vídeo de resolução desta questão 23 TÓPICO 2 O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, contemplaremos algumas das principais questões sobre a formação da sociedade grega e romana. Vamos compreender a influência cultural que a antiga Grécia exerceu sobre o Império Romano, assim como as especificidades culturais destas duas distintas civilizações. Estas questões são importantes para a compreensão da educação na sociedade ocidental. O importante historiador francês Fernand Braudel afirmava que o Ocidente possui uma dupla raiz cultural: judaico-cristã e greco-romana. Deste modo, entendendo a importância do tema, abordaremos um breve resumo histórico do mundo greco-romano, as questões da filosofia grega e as instituições sociais responsáveis pela educação no universo cultural greco-romano. 2 O PROCESSO DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DA SOCIEDADE GRECO-ROMANA A Grécia antiga foi uma civilização surgida na denominada Península do Peloponeso, que possui o istmo de Corinto, banhada pelo Mar Egeu, que compõe o Mar Mediterrâneo. Sua história é didaticamente dividida em cinco grandes períodos: Pré-Homérico, Homérico, Arcaico Clássico e Helenístico. Os períodos têm grande relação com os escritos de Homero, autor de obras clássicas da antiguidade, como a Ilíada e a Odisseia, em que são relatadas histórias fabulosas, como a do cavalo de Troia. A Península no Peloponeso foi habitada por populações denominadas aqueus, jônios, dórios e eólios. Populações estas que estão na origem do povo grego, que na antiguidade se organizava em cidades-estado, isto é, cidades que possuíam autonomia administrativa. Dentre estas unidades político-administrativas, duas se destacaram e organizaram dois tipos antagônicos de sociedade: Atenas e Esparta. UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 24 FIGURA 9 - MAPA DA GRÉCIA ANTIGA FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 18 set. 2016. A sociedade ateniense tinha como principal característica o desenvolvimento cultural. Era formada por três classes sociais. Os escravos, os cidadãos atenienses, além de um grupo de homens livres, mas sem direito à cidadania, os metecos. Uma das principais questões que envolvem a sociedade ateniense foi o desenvolvimento da democracia. Isto é, de uma forma de organização política na qual os cidadãos possuem direitos iguais, a denominada isonomia legal. O local no qual ocorriam os debates políticos em Atenas era denominado Ágora. Nela, os denominados demagogos, isto é, os políticos daquele período, utilizavam-se do talento retórico para poder defender suas ideias e interesses. A palavra democracia é uma justaposição de duas palavras gregas: demos, que quer dizer povo, e cracia, que significa governo (FUNARI, 2000). Uma das principais formas de conseguir ter direitos políticos na sociedade ateniense era a participação no exército. Este era organizado em unidades militares que eram denominadas de falanges. Os guerreiros gregos utilizavam um tipo de escudo chamado hoplom. Aqueles que detinham condições financeiras para comprar este escudo poderiam ingressar nas fileiras militares. Este ingresso possibilitava participar ativamente dos debates da Ágora, ingressando assim no mundo da política ateniense. Todavia, a democracia na Grécia possuía uma grande limitação, pois as mulheres eram excluídas do debate político. O machismo era legitimado pelo fato de as mulheres não ingressarem nas fileiras militares. TÓPICO 2 | O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL 25 FIGURA 10 - DISCURSO POLÍTICO EM ATENAS FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gv.br>. Acesso em: 17 set. 2016. Enquanto Atenas seguia o modelo democrático de gestão do poder político, sua vizinha Esparta seguia um modelo autocrático de relações sociais, pois em Esparta tínhamos um exemplo de sociedade militarizada e profundamente hierarquizada. Ela era formada por três categorias sociais: os espartanos, que compunham o topo da pirâmide social, os periecos e hilotas, duas outras classes sociais que compunham Esparta. A principal lei a reger a vida em Esparta foi a constituição de Licurgo, que segundo alguns estudiosos, teria durado seis séculos (FUNARI, 2000). UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 26 FIGURA 11 - SOLDADOS ESPARTANOS FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 19 set. 2016. Duas guerras marcaram a história grega. As Guerras Médicas e a Guerra do Peloponeso. Por Guerras Médicas ficaram conhecidas as disputas entre os gregos e os persas pelo domínio da navegação em partes do Mar Mediterrâneo. Ela terminou com uma vitória grega, na Batalha Naval de Salamina, que decretou uma hegemonia ateniense, o que possibilitou um imperialismo grego em algumas regiões mediterrânicas. Por sua vez, a Guerra do Peloponeso foi travada entre Esparta e Atenas. A guerra acabou por enfraquecer os dois principais modelos de cidade-estado da antiguidade. Com um enfraquecimento militar causado pela guerra interna, Felipe II, rei da Macedônia, conquistou a península grega. Seu filho, Alexandre “O Grande”, que fora aluno do filósofo Aristóteles, foi um dos principais líderes a expandir a cultura grega por diversos locais em que Alexandre liderou a conquista militar. Assim, tivemos, com o império de Alexandre, o denominado Período Helenístico. A mitologia é um dos importantes elementos culturais para a compreensão da mentalidade dos antigos habitantes da Grécia. Os gregos eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses. Estes, em geral, tinham características antropomórficas, isto é, tinham os antigos deuses formas humanas. Também eram os mesmos dotados dos mesmos sentimentos que os homens possuem, como amor, ciúmes, inveja, raiva. Todavia, a grande diferença é que os deuses gregos eram imortais. O local de morada era o Monte Olimpo, no qual esses deuses eram cultuados. As cidades possuíam seus deuses fundadores, como é o caso de Palas Atena, a fundadora de Atenas. TÓPICO 2 | O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL 27 Os gregos se diziam descendentes do deus Heleno. Com relação à vida após a morte, os gregos acreditavam que deveriam ter uma moeda após morto para pagar o barqueiro Caronte, responsável pelo trajeto da alma morta até o paraíso. Deste modo, colocavam nos olhos dos cadáveres duas moedas. Assim, tinham os gregos uma relação diferente com a morte dos demais povos que até aqui estudamos. Em especial, por separarem o corpo do espírito, separação não presente entre os povos da antiguidade oriental (FUNARI, 2000). Os principais deuses do panteão grego tinham características específicas. Zeus era o deus dos deuses e Hera, a sua esposa, juntos moravam no Olimpo com as demais divindades. Ares era o deus da guerra, que protegia nas batalhas; Poseidon, o deus do mar; Hades, deus dos mortos e cemitérios; Afrodite, a deusa da Beleza, entre outros exemplos de deuses que poderiam ser citados. Além dos deuses, o imaginário da Grécia antiga era povoado pelas musas: Calíope, da poesia; Clio, da História; Érato, do casamento; Euterpe, das festividades; Melpômene, do canto e teatro; Polímnia, da retórica; Talia, da comédia; Terpsícore, da dança; Urânia, da astronomia. Estas musas se relacionavam a diferentes atividades, consideradas artes pelos antigos gregos. FIGURA 12 - ESTÁTUA DE POSEIDON FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.br>. Acesso em: 20 set. 2016. UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 28 Um dos principais festivais realizados pelos gregos eram asOlimpíadas, quando eram cultuados os deuses em competições esportivas. Também faziam parte do universo cultural grego algumas belas artes, com destaque para o teatro e as esculturas. O Teatro de Dionísio (cultuado como o deus do vinho) foi uma das principais casas de espetáculo, na qual se destacavam as tragédias e comédias. Por sua vez, as esculturas gregas possuíam características de grande beleza, ao buscar retratar o corpo humano em toda a sua potencialidade estética. Como se poderá observar, a cultura grega influenciou sobremaneira a sociedade romana. Roma foi fundada por algumas tribos latinas e sabinas, que foram dominadas pelos invasores etruscos. Roma, em sua história, teve três grandes períodos marcados por diferentes formas de legitimação das relações de poder. A Monarquia, a República e o Império. A monarquia foi substituída por uma forma menos autoritária de poder, a Rex Publica (isto é, a “coisa pública”). No entanto, o expansionismo militar gerou dificuldades administrativas, e uma das soluções foi a instituição do Império. Uma das principais características da vida romana foi o expansionismo militar. Este se iniciou como uma forma de aumentar a produção agrícola, graças à ampliação das terras destinadas ao cultivo do trigo, das oliveiras e das parreiras de uva, bases da produção de três dos principais produtos da dieta romana: pão, azeite e vinho. Para tanto, se escravizavam as populações dominadas pelos romanos através da guerra. O exército romano, um implacável empreendimento militar, tinha como uma de suas principais características a rígida disciplina. Ao contrário de Atenas, não necessariamente a presença no exército garantiria direitos políticos, pois em 111 A.C., Mário institui o soldo, isto é, o pagamento de salário aos militares. Assim, o exército romano era organizado em legiões, que eram organizadas em centúrias e decúrias, contando com um inovador sistema de estradas que ligava a capital ao interior das possessões coloniais, proporcionando uma contínua expansão de seus domínios, pela rápida mobilidade de soldados que o sistema de estradas possibilitava. Uma máxima afirmava que “todos os caminhos levam para Roma”. As legiões romanas possibilitavam um aumento produtivo, ao ampliar o número de escravos em Roma, que eram capturados dentre os prisioneiros de guerra. Com uma grande quantidade de escravos, Roma chegou a ter centenas de milhares de pessoas desocupadas, que eram entretidas com a denominada Política do Pão e Circo, em que a maior parte da população ociosa se dirigia ao Coliseu, um grande estádio romano, no qual lutavam os gladiadores. TÓPICO 2 | O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL 29 FIGURA 13 - COLISEU ROMANO FONTE: Disponível em: <http://www.rome-chauffeur.com/wordpress/wp-content/ uploads/2015/03/Colosseum-Rome-Chauffeur.jpg>. Acesso em: 20 set. 2016. Um dos principais clássicos da história do cinema de Hollywood foi o filme Spartacus. Dirigido por Stanley Kubrick, retrata a vida de um escravo romano, que se revolta em relação à sua condição social, buscando a liberdade. Aos poucos, os bárbaros foram invadindo as fronteiras do Império Romano. Os principais grupos bárbaros, como os ostrogodos, visigodos e vândalos, foram conquistando antigas possessões coloniais romanas. No século IV, Roma foi conquistada completamente pelos bárbaros, sendo este um dos fatos que marcaram o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média. Assim como os gregos, os romanos também possuíam sua mitologia, sendo ela muito próxima da mitologia dos gregos. O principal mito romano é o da fundação da cidade imperial. Segundo uma antiga lenda, dois irmãos, Rômulo e Remo, eram ainda bebês e foram criados por uma loba, que os amamentou. Posteriormente, os dois foram os fundadores da principal cidade do mundo. Com relação à proximidade com os gregos, a mitologia romana também possuía seus deuses específicos para as distintas atividades humanas, em grande parte, versão latinizada dos antigos deuses gregos. Vejamos alguns exemplos: Baco (versão latina de Dionísio) era o deus do vinho; Marte (versão latina de Ares), era o deus da guerra. UNI UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 30 Uma importante inspiração que a mitologia grega possibilitou para o desenvolvimento das ciências no século XX se relaciona à psicanálise. O seu principal formulador, Freud, criou seus conceitos científicos, como o Complexo de Édipo, com forte inspiração na mitologia grega. Apesar da presença destes deuses da mitologia, popularizados pelos romances, pelo cinema e pela psicanálise, o principal culto cotidiano dos gregos e romanos não era sobre estes “afamados” deuses da mitologia. A principal forma de culto entre os gregos e romanos era o culto aos fogos nos lares. Para ser considerada uma família e ter o status e prestígio social, advindo de ser membro de um clã, deveria a casa ter um fogo que sempre era mantido aceso e nunca deveria se apagar. Era o fogo que tinha como nome lar, responsável pelo aquecimento da casa, como também estava presente nos rituais de casamento, que simbolizava a continuidade do mesmo fogo em outro domicílio. A sociedade greco-romana também teve em comum um mesmo sistema produtivo, marcado pelo expansionismo militar e pela escravidão. Um dado interessante é que em determinadas regiões do Império Romano não se falava o latim, mas sim o grego, em especial na Ásia Menor. Isto explica por que grande parte da Bíblia, em especial o Novo Testamento, foi escrito em grego, mesmo fazendo parte do Império Romano. Com a cristianização do Império, em 395, quando o cristianismo deixou de ser perseguido, grandes alterações na mentalidade ocidental ocorreram. Posteriormente, o Império Romano se dividiu em duas partes. A região que falava latim viveu um processo de ruralização, e Roma acabou se tornando a sede da Igreja Católica Apostólica Romana. Por sua vez, Constantinopla se tornou a sede do Império Bizantino, sendo sede da Igreja Católica Cristã Ortodoxa. 3 A FILOSOFIA GREGA E O PENSAMENTO ROMANO Apesar da grande popularidade e da presença da mitologia, a Grécia foi um dos primeiros locais do mundo no qual se desenvolveu um modo não mitológico de estruturar o pensamento sobre a natureza e a sociedade. Por isso, o destaque que devemos dar à presença da filosofia grega. A palavra filosofia tem sua raiz etimológica (isto é, sua origem) em duas palavras gregas, Filos e Sofia, que juntas podem ser traduzidas como “amante da sabedoria”. A ideia de se cultuar o pensamento humano na busca de se tentar compreender a natureza e a sociedade não apenas através dos mitos, como também através da especulação, foi uma verdadeira revolução na forma de o ser humano conceber a vida na Terra (JAEGER, 1995). Podemos citar vários nomes do pensamento grego. Em geral, a filosofia grega antiga é dividida em dois períodos: socrático e pré-socrático. Isto devido à importância da figura de Sócrates para o desenvolvimento do pensamento grego. UNI TÓPICO 2 | O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL 31 Sócrates foi um cidadão ateniense amante do saber, e dono de uma profunda capacidade de compreender a natureza humana e suas contradições. Filho de uma parteira, desenvolveu um método denominado maiêutica, cujo principal intento é possibilitar aos seres humanos “dar luz a novas ideias!”. Um interessante livro que trata da história e do desenvolvimento da filosofia foi escrito pelo norueguês Jostein Gaarder, de título O Mundo de Sofia. Obra que vale a pena ser lida pelos estudantes que sonham em atuar como professores. Sócrates foi o principal nome (símbolo) da vida intelectual da Grécia antiga. As suas formulações intelectuais têm grande importância para o desenvolvimentointelectual do Ocidente. Vivia perambulando pela cidade, refletindo sobre a existência humana, tendo muitos ouvintes. Sócrates apontava que era papel do filósofo ser uma espécie de mosca a avivar as consciências individuais. Teve como seu principal discípulo Platão. O seu pensamento foi considerado subversivo pelas autoridades, o que lhe acarretou sérios problemas. Sendo julgado, se negou a abjurar (desdizer) o que havia afirmado. Ao invés de ser punido, propôs para a corte que o julgava que deveria ser tratado como um deus no Monte Olimpo. Assim, ao “debochar” dos que o julgavam, acabou sendo punido, sendo obrigado a se envenenar. Assim, morto de maneira trágica, se tornou um marco histórico de pensador libertário morto pelo poder instituído. Mesmo antes de Sócrates, podemos observar o início do desenvolvimento de um pensamento original, e de alguns pensadores que possibilitaram o alargamento da compreensão que o ser humano possui sobre a natureza e sobre si mesmo. Alguns nomes podem ser lembrados, como Tales de Mileto, Arquimedes, entre outros. Um dos primeiros nomes ligados à cultura grega foi Homero. Não sendo considerado um filósofo, seu nome deve ser lembrado como personagem importante ao escrever as obras fundantes da cultura grega, que foram Ilíada e Odisseia. No entanto, outros nomes são em geral lembrados pelos historiadores da filosofia. Um dos sempre lembrados é o de Tales. Oriundo da cidade de Mileto, foi um importante nome no desenvolvimento dos cálculos matemáticos. Buscando saber a distância das embarcações em relação à terra, foi o criador do denominado Teorema de Tales, até hoje ensinado nas escolas para os estudantes do ensino básico. Outro nome importante para o desenvolvimento da filosofia foi Arquimedes, o descobridor da máxima: “Dois corpos, que possuem massa, não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, ao mesmo tempo”. O desenvolvimento da hidráulica teve em Arquimedes um dos seus pioneiros. Uma história que se conta afirma estar Arquimedes em uma banheira, e ter feito uma descoberta, tendo saído nas ruas nu e gritando “Eureka!”, isto é, descobri (na língua grega). UNI UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 32 Todavia, mesmo com a presença de vários personagens intelectuais, os principais nomes da filosofia grega clássica são os de Sócrates (já citado), Platão e Aristóteles. Platão foi discípulo de Sócrates, tendo sido o principal divulgador das ideias de seu mestre. Suas ideias são consideradas relevantes para o desenvolvimento da filosofia até o tempo presente. Seus principais livros são A República e O Banquete. O livro A República é uma crítica à ação dos demagogos, na Ágora. Por demagogos podem ser considerados os políticos que possuem bela retórica, porém, são construtores de um discurso vazio, sem ação prática nas palavras que dizem. Por isso, Platão defendia a ideia de que apenas os sábios deveriam ter cargos políticos. Uma de suas principais formulações é o denominado mito da caverna (CHAUÍ, 1993). FIGURA 14 - SÓCRATES FONTE: Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 15 set. 2016. O mito afirma que existia uma comunidade formada por pessoas que viviam acorrentadas no interior de uma caverna e que enxergavam a realidade através das sombras que uma parca iluminação projetava sobre uma parede da caverna. Próximo à caverna existiam algumas estátuas, que formavam as principais sombras. Assim, as pessoas acorrentadas foram nomeando as sombras observadas. Todavia, caso alguém conseguisse se desamarrar e sair do interior da caverna, veria que a realidade não era aquela que havia sido ensinada. No entanto, ao voltar para a caverna, a probabilidade de as pessoas acreditarem no que foi dito pelo homem que saiu da caverna era muito pequena, sendo mais provável que os colegas ridicularizassem as afirmações do primeiro homem a sair da caverna. Neste sentido, podemos pensar que estamos por vezes acorrentados em uma caverna TÓPICO 2 | O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL 33 marcada pelas convenções que aprendemos. Uma tarefa importante é tentarmos sair da caverna e nos libertar das amarras que prendem nosso intelecto. Além de Platão, Aristóteles também é rememorado como importante filósofo. Ele foi o mestre de um dos principais líderes da história da antiguidade, Alexandre “O Grande”. Suas capacidades intelectuais elevadas o fizeram ser pioneiro em várias áreas do conhecimento humano. Uma delas foi a taxodermia, isto é, a classificação dos diferentes seres vivos. Uma de suas principais obras foi A Política, na qual apontou uma polêmica ideia na qual existiam almas que nasceram para serem livres, e outras que nasceram para a escravidão. Outros livros nos quais apontou questões importantes foi em um conjunto de obras denominado Metafísica, em que aponta questões sobre o estudo do ser. Dentre as escolas filosóficas desenvolvidas na Grécia antiga, se destacaram o estoicismo e o epicurismo. Por estoicismo se considera uma escola filosófica fundada por Zenão de Cítio, e que teve em Sêneca um de seus principais elaboradores. Em geral, afirmava que a resignação era uma das principais características do sábio. Os estoicos pregavam um controle das emoções. Por sua vez, o epicurismo foi uma doutrina filosófica desenvolvida pelo filósofo Epicuro. Em geral, apontava a busca moderada pelos prazeres como um caminho para a paz (CHAUÍ, 1993). Um dos nomes lembrados por ser um personagem especial no interior da vida grega antiga é o de Diógenes. Teve como principal propósito viver da forma mais simples possível. Morava nas ruas, tendo como único objeto uma caneca. No entanto, ao ver uma criança bebendo água com auxílio direto das mãos, resolveu jogar fora sua caneca. Outra feita ele foi observado pelas pessoas andando à noite, com uma lanterna acesa na mão. Perguntado sobre o que fazia, respondeu que estava à procura de um justo. Quando Alexandre “O Grande” foi falar com Diógenes, lhe perguntou o que poderia fazer por ele. A resposta de Diógenes foi simples e sincera, pedindo que ele saísse da frente de seu banho de sol. A escola filosófica que Diógenes fundou ganhou o nome de Escola Cínica. Houve uma grande influência do pensamento grego na cultura romana. Alguns dos professores gregos foram trazidos para Roma, com o intuito de educar os filhos das famílias abastadas. Alguns destes mestres tiveram a condição de escravos, porém, eram reconhecidos como importantes para as famílias em que trabalhavam. Dentre os educadores romanos, um teve grande destaque na história da pedagogia; Quintiliano. Ele foi professor durante mais de 20 anos na escola de retórica em Roma, como também defendeu princípios importantes para o desenvolvimento dos seus educandos. Em especial, por defender que leitura e escrita deveriam ser aprendidas de maneira conjunta, além de defender a presença de exercícios físicos para os educandos. Com relação à vida intelectual romana, uma das funções mais valorizadas era a capacidade de oratória. Isto porque a maior parcela dos patrícios e demais homens de poder eram membros do Senado, importante instituição que tinha UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 34 poder de comando nas questões políticas. Dentre os oradores romanos, um dos mais destacados foi Cícero, um nome constantemente lembrado no que tange à capacidade oratória. Outros intelectuais romanos importantes foram Ovídio e Plotino. Ovídio foi autor de um livro sobre o amor romântico entre homens e mulheres, denominado A Arte de Amar. Outro intelectual importante para o desenvolvimento da filosofia ocidental foi Plotino, ao recuperar as ideias de Platão. Tanto na Grécia quanto em Roma, se desenvolveu a História enquantodisciplina do conhecimento humano. Heródoto de Halicarnasso foi o primeiro a utilizar o conceito, em um livro de título História. Plutarco, por sua vez, foi autor de um dos mais importantes textos históricos da Antiguidade, o livro História da Guerra do Peloponeso. Em Roma, foi destaque Caio Suetônio, autor do livro A Vida dos Doze Césares. 4 A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA: A CRIAÇÃO DE INSTITUIÇÕES A educação na antiguidade clássica greco-romana possuiu modelos diferentes, e até contraditórios no tocante aos modelos educacionais elaborados pelos membros deste mundo cultural greco-romano que estamos contemplando nesta unidade. Assim, uma das principais diferenciações possíveis são os modelos educacionais formulados em Atenas, em Esparta e em Roma. O modelo de educação espartana está em grande parte vinculado à possibilidade do Estado em reger a vida dos indivíduos. Assim, uma inculcação ideológica de grande monta era necessária para convencer os indivíduos de que era a função de sua vida matar e morrer por Esparta. Tal possibilidade de forma de organização da educação só é possível de ser compreendida se tivermos em mente rígida e hierárquica a estrutura social que os espartanos vivenciaram (JAEGER, 1995). Por volta dos seis anos de idade, o menino espartano era retirado de sua família, para que pudesse se transformar, na vida adulta, em um soldado que servisse aos interesses do Estado espartano. Portanto, uma das primeiras características que a educação forjava na mentalidade do futuro homem espartano era a que o Estado como entidade é mais importante que a família, pois não tinham os meninos espartanos um contato prolongado com os seus pais, mas, sim, com os instrutores militares, que buscavam transformar os meninos em guerreiros. A função de soldado era uma das principais a ser desenvolvida. Assim, desde a infância, os meninos eram designados a atividades como longas marchas, acampamentos, além de obviamente serem incentivados a atitudes violentas, com as quais eram testados em suas capacidades belicosas. Um dos principais ritos de passagem de um menino espartano, quando então ele passava a ser considerado um homem, e não mais um menino, era assassinar um hilota, que era um habitante de Esparta, mas considerado de uma classe social inferior. TÓPICO 2 | O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL 35 As mulheres também recebiam uma educação em Esparta. No entanto, o poder político e o maior investimento eram realizados em função dos rapazes, pois os futuros homens teriam destaque social, ao liderar a polis espartana. Todavia, no caso espartano, havia uma certa valorização da figura feminina, pois como poderiam dar à luz a novos guerreiros, as mulheres eram valorizadas pelo corpo social. Todavia, na vizinha Atenas, a mulher não recebia nenhum tipo de valorização no corpo social. A educação ateniense possuía como principal objetivo algo muito distinto da educação espartana. Ela tinha a principal função de educar o membro da polis, que vivia em um regime democrático. Assim, se pode compreender que a educação entre os atenienses tinha a função de capacitar os indivíduos a assumir funções públicas, desenvolvidas na praça pública, na Ágora, o local das principais disputas políticas. Dois filósofos gregos fundaram duas das instituições que nomeiam, até o presente, instituições de ensino: O Liceu e a Academia. Platão está relacionado à fundação da academia. Seu aluno e discípulo, Aristóteles, foi o criador do Liceu. Mais que isto, Aristóteles fundou uma metodologia de ensino denominada Peripatética. O termo provém da palavra peripatus, que em grego quer dizer passeio. Deste modo, ao invés de manter os alunos trancados em uma sala fechada, Aristóteles ensinava aos seus discípulos passeando pela cidade, observando as diferenças e semelhanças entre os homens, como também contemplando a natureza e observando a multiplicidade da vida animal e vegetal. O ideal da educação na Grécia pode ser resumido em uma máxima denominada Mens sana in corpore sano, no qual se pode concluir que o cuidado com a saúde e o bem-estar físico são tão importantes quanto o desenvolvimento intelectual dos seres humanos. Tal perspectiva foi também importante para a educação romana. A educação em Roma é didaticamente definida em três grandes períodos. A educação latina, termo pelo qual se designa a educação em um período anterior à influência grega. Um segundo momento, no qual tivemos a influência dos educadores trazidos da Grécia. E, por fim, o terceiro período, no qual se denomina educação greco-romana, pois ocorreu uma síntese entre a educação latina, já realizada, e a educação grega. Ao pensarmos a formação de instituições na Roma antiga, podemos lembrar que existiram Escolas de Retórica. Isto porque a formação de um tribuno, de um homem capaz de bem falar no Senado, era uma das principais funções educacionais. À guisa de conclusão, podemos pensar que a educação greco-romana teve aspectos distintos, extremamente evoluídos, ao possibilitar o desenvolvimento intelectual da humanidade, e ao mesmo tempo restritos, ao excluir a maior parte da população, que era composta por escravos, assim como as mulheres que também não eram educadas em sua maioria. UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 36 A educação do mundo greco-romano sofreu profundas alterações quando a sociedade ocidental foi influenciada pela cultura judaico-cristã, com o período denominado Idade Média. 37 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você viu que: • A sociedade grega era dividida em cidades-estado, sendo as duas mais importantes Atenas e Esparta. • Atenas possuiu uma vida cultural intensa, enquanto Esparta era vinculada ao militarismo. • Roma formou um dos principais impérios da antiguidade. • A educação ateniense tinha como função formar um cidadão. • A educação espartana tinha como função formar um soldado. • A educação em Roma tinha como uma das principais funções formar um bom orador. • A filosofia se desenvolveu na Grécia antiga, cujos principais destaques foram Sócrates, Platão e Aristóteles. 38 1 Como podemos compreender as diferenças existentes entre os modelos edu- cacionais espartano, ateniense e romano? AUTOATIVIDADE Assista ao vídeo de resolução desta questão 39 TÓPICO 3 IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico vamos contemplar o processo de formação da educação na sociedade judaico-cristã ocidental. O cristianismo revolucionou as estruturas sociais do Império Romano. Os valores do cristianismo, entre os quais a solidariedade social é o ponto alto, se opuseram aos valores greco-romanos, antropocêntricos e belicosos. Neste sentido, a educação na Idade Média se relaciona em grande parte às questões da teologia cristã. Por Idade Média compreendemos um período da História do Ocidente, que se iniciou com o fim do Império Romano e terminou com o fim do Império Bizantino. Os marcos cronológicos foram a queda de Sérvulo Túlio, último imperador romano, que caiu perante os bárbaros em 539 d.c dando início ao período medieval, que têm como marco cronológico final a queda de Constantinopla, tomada pelos turcos otomanos, em 1453. Podemos afirmar que a Idade Média também é subdividida em algumas periodizações, segundo uma tradição dos historiadores medievalistas franceses. Alta Idade Média (Séculos V-X): período também denominado Antiguidade Tardia, no qual o processo de formação da sociedade medieval ainda se fazia em contato com a desagregação das instituições romanas. Idade Média Central (Séculos XI-XIII): período de auge de um sistema social denominado feudalismo. Baixa Idade Média (SéculosXIV-XV) desagregação do mundo feudal com o surgimento de novas instituições, como os Estados Nacionais. Período de expansão territorial da cristandade latina, que irá culminar com a descoberta da América, em 1492. Período em que temos o fim do Império Bizantino, com a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453. Em geral, os cursos de Idade Média abordam três sociedades principais. A sociedade ocidental, denominada como Cristandade Latina, a sociedade cristã ortodoxa do Oriente, denominada Império Bizantino, e, por fim, as sociedades muçulmanas, no chamado Império Árabe. Estas três civilizações surgiram às UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES 40 margens do Mar Mediterrâneo. Outras formações culturais existiram no período, como o Império Mongol, na Ásia, comandado por Gengis Khan, ou mesmo os Vikings, do norte europeu. No entanto, foi a cristandade latina que gerou as instituições escolares que temos no presente. Por isso, daremos destaque às instituições latinas, e também discorreremos sobre Bizâncio e sobre o mundo muçulmano, sociedades nas quais os ocidentais estavam em permanente diálogo, seja através do comércio, das guerras ou das disputas teológicas. Podemos afirmar que a Idade Média é, acima de tudo, um conceito historiográfico surgido por volta do século XVII. O pensador alemão Cellarus criou o termo Medieval (JÚNIOR, 2001). Este conceito é deveras preconceituoso, pois os idealizadores da Renascença consideravam a Idade Média uma noite de mil anos, na qual os ideais gregos e romanos seriam retomados. Alguns consideram a Idade Média como a Idade das Trevas, ou Noite de Mil Anos, na qual os ideais científicos e o conhecimento dos seres humanos sobre o seu próprio corpo e sobre a natureza como um todo eram obscurecidos pela fé católico-romana. Um período no qual o cristianismo seria o único conhecimento válido. Concomitantemente, um período no qual o conhecimento sobre a Bíblia era negado aos fiéis, e em que o analfabetismo era uma constante. Nos últimos 40 anos, as visões sobre o período medieval se renovaram. Muitos pesquisadores de diversos aspectos da cultura medieval, como os filósofos, os historiadores e os teólogos contemporâneos, buscaram expandir o conhecimento sobre o período medieval sem o olhar preconceituoso da Idade das Trevas. A historiadora francesa Regine Pernot, no livro O Mito da Idade Média, provocou a intelectualidade a repensar o período. Muitas das transformações nas técnicas de pesquisa que a história enquanto disciplina passou foi uma das principais contribuições dos medievalistas, como o holandês Joahn Huizinga, ou os franceses Henri Pirrene e Marc Bloch. Neste tópico, o enfoque será o Ocidente latino. No entanto, veremos sobre as sociedades bizantinas e muçulmanas, com as quais a intelectualidade ocidental, formuladora da educação cristã latina, estava em perene diálogo. Como vivemos em um país ocidental de maioria cristã católica, estudaremos com maior profundidade o cristianismo no Ocidente. Para um alargar de consciência sobre diferentes culturas, analisaremos, com respeito e interesse científico, alguns dos principais aspectos da sociedade, cultura religiosa e educação entre ortodoxos e maometanos. 2 O MUNDO BIZANTINO O denominado Império Bizantino pode ser encarado como uma típica teocracia. Isto é, um governo no qual o chefe político é considerado o representante de Deus na face da Terra. (RUNCIMAN, 1978, p. 13). A Teocracia Bizantina durou perto de mil anos, sendo o seu início a mudança da capital do Império Romano para a antiga cidade de Bizâncio, remodelada pelo imperador Constantino e TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO 41 renomeada Constantinopla. O fim do Império Bizantino ocorreu em 1453, quando turcos otomanos tomam militarmente Constantinopla, rebatizando a cidade como Istambul. Para a compreensão da formação de Constantinopla, antes devemos compreender o processo de declínio do Império Romano, pois Roma foi um império no qual a cultura grega permaneceu, vindo ainda como resquícios do império de Alexandre, “O Grande”. Assim, muitas regiões do Império Romano tinham o grego como principal idioma (LE GOFF, 2007, p. 51). Esta região foi o palco de um processo de cristianização, iniciado ainda no período dos apóstolos, relatado nos livros do Novo Testamento bíblico, alguns deles escritos em grego, como as cartas do apóstolo Paulo. Nos séculos posteriores, o cristianismo se arraigou na cultura popular, sendo ele um vetor de disputas políticas e teológicas em uma organização social romana que apresentava acentuada decadência. Em 395 D.C., Constantino, imperador romano, além de alterar a capital do Império para Bizâncio, ofertou liberdade de culto aos cristãos. No entanto, mais do que dar a liberdade de culto, convocou um Concílio Ecumênico, que tinha como principal pressuposto evitar disputas doutrinárias entre os cristãos que pudessem motivar motins ou rebeliões contra o governo imperial. A economia em Bizâncio girava em torno do comércio marítimo. As costas do Mar Egeu foram importantes pontos de trânsito de mercadorias, pois este era um entreposto entre os produtos orientais e Roma. Com a queda do Império Romano do Ocidente, em 419, quando Odoacro tomou Roma definitivamente, destronando o último imperador romano, Sérvio Túlio, Constantinopla se tornou a mais importante cidade do mundo de então. A vida em Bizâncio em grande parte girava em torno do cristianismo. A Catedral de Hagia Sofia, que em português significa “Santa Sabedoria”, é um símbolo do poder eclesiástico e temporal. Tratava-se do local no qual o patriarca de Constantinopla celebrava as missas e, também, o local no qual o imperador bizantino era coroado (RUNCIMAN, 1978, p. 75). Até 1054, existiam concomitantemente o papa em Roma e o patriarca em Constantinopla, em uma unidade de fé. No entanto, a partir do século XI ocorreu o chamado cisma greco-oriental. Devido a este cisma, isto é, a esta divisão teológica e político-eclesiástica entre o Catolicismo Romano e a Igreja Ortodoxa, o cristianismo passou por sua primeira divisão em sua unidade (OLSON, 2001). Tanto a Igreja Romana quanto a Ortodoxa consideram-se católicas, isto é, universais. Outra questão que ambas consideram ter é a descendência direta dos apóstolos. No entanto, podemos observar que as culturas grega e latina eram muito distantes em diversos aspectos da fé, o que somado a intenções políticas e econômicas, explica a divisão entre o cristianismo do Oriente e do Ocidente. Bizâncio foi uma civilização que era organizada em uma teocracia. Assim, muitos dos preceitos educacionais da sociedade bizantina seguiam os ditames da fé. O mundo helenístico da denominada Ásia Menor foi fecundo em produções intelectuais nos campos da filosofia, da teologia e da náutica. 42 UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES Com relação à náutica, os bizantinos desenvolveram o famoso fogo grego, uma arma de guerra naval capaz de propelir incêndios sobre as águas do Mar Egeu. As preocupações navais do Império Bizantino eram justificáveis devido ao fato de ser uma nação formada por diversas e pequenas ilhas e pontos litorâneos cobiçados pelos europeus latinos e pelos árabes muçulmanos. Nesta sociedade as funções marítimas eram desempenhadas por homens que aprendiam no cotidiano da faina naval a arte de navegar. No entanto, no que tange à História da Educação, o ensino em Bizâncio seguia os ditames da fé. A região que compreendia o Império Bizantino em seu início era formada por diversas escolas teológicas de renome na história da Igreja Cristã. As cidades de Antioquia, Alexandria e Constantinopla possuíam uma rivalidade em disputas teológicas na época
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