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ECO 2278 – Teoria Microeconômica II Escolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada Joa˜o F. Caldeira joao.caldeira@ufrgs.br Curso de Cieˆncias Econoˆmicas , UFRGS Porto Alegre, 11 de setembro de 2017 ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 1 Resumo: Prefereˆncias Envolvendo Risco • Consumo contingente. • Teoria da utilidade esperada de vNM. ◦ Intuição. ◦ Fundamentos axiomáticos. • Coeficientes de aversão ao risco e seleção de carteiras. • Dominância estocástica. • Preferências em média-variância. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 2 Escolha sob Incerteza • Quando pensamos em teoria das decisões podemos distinguir ações e consequências. Uma ação é escolhida que gera uma consequência. • A ideia é que um indivíduo racional tem preferências definidas sobre consequências e deve escolher as ações que levam às consequências preferíveis. • Até agora a distinção entre ações e consequências foi irrelevante já que cada ação levava a uma consequência de forma determinística. • Muitas das situações em que as pessoas fazem escolhas envolvem algum tipo de incerteza. Adotaremos o conceito de estado da natureza. • Nesse curso vamos considerar situações em que a relação é estocástica. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 3 Escolha sob Incerteza: Exemplos • Um bilhete de loteria representa alguns milhões a mais ou alguns reais a menos. • Quando você sai de casa levando um guarda-chuva você estará levando apenas um peso a mais para carregar (caso não chova) ou proteção contra a chuva (caso chova). • Quando aluga uma casa na praia, você compra um fim de semana sob o sol ou um fim de semana jogando cartas. • Quando compra seguro para seu carro você compra reembolso de despesas com acidentes ou em caso de roubo (caso eles ocorram) ou dinheiro jogado fora (caso nada aconteça). ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 4 Estado de Natureza • Usamos o conceito de estado da natureza, para descrever a causa subjacente às alternativas de mundo que observamos. • Um estado de natureza é uma especificação completa dos valores de todas as variáveis relevantes no horizonte temporal relevante. • Suponha um mundo em que tudo dependa de dois lançamentos seguidos de uma moeda. Notemos por F a ocorrência de cara e T a ocorrência de coroa. Os estados de natureza são: {(F, F ), (F, T ), (T, F ), (T, T )}. • Um evento é um conjunto de estados de natureza. Dizemos que um evento ocorre quando ocorre um de seus elementos. • Passamos a considerar que o consumo e a produção da economia dependem da realização de um estado da natureza s = 1, . . . , S. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 5 Escolha sob Incerteza • Para alguns problemas, incerteza não é determinante. Para outros, é fundamental para a análise. • Iremos incorporar incerteza ao arcabouço que da teoria do consumidor. • Vimos que X é o conjunto das escolhas possíveis: definição é geral o suficiente para acomodar incerteza. • Escolhas sob incerteza possuem características específicas, que permitem fazer previsões mais fortes, ao impor restrições adicionais às preferências de indivíduos racionais. • Indivíduo precisa escolher uma dentre várias alternativas arriscadas. Cada alternativa pode resultar em um dentre vários resultados possíveis. • O resultado que irá efetivamente ocorrer é incerto. Mas indivíduo conhece as probabilidades objetivas de ocorrência de cada resultado. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 6 Consumo contingente • Um plano de consumo contigente é uma descrição completa das quantidades consumidas de cada bem em cada possível estado de natureza. Definic¸a˜o 0.1. Para todo bem (ou servic¸o) fı´sico l = 1, . . . , L e todo estado s = 1, . . . , S uma unidade do bem contingente ls e´ um direito de receber uma unidade do bem l se e so´ se o estado s ocorrer. • Em mercados contingentes, uma mercadoria é um bem a ser entregue desde que ocorra determinado evento. Definic¸a˜o 0.2. O vetor de bens contingentes x = (x11, x21, . . . , xL1, x21, . . . , xL2 . . . , xS1, . . . , xLS ) ∈ R LS representa o direito de receber o vetor (x1s, x2s, . . . , xLs) se e so´ se o estado s ocorrer. • Um plano de consumo contingente é uma especificação do que seria consumido para cada realização possível da natureza. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 7 Paradoxo de Sa˜o Petersburgo • Um jogo propõe a seguinte aposta: joga-se uma moeda até que se obtenha a face cara, em que a chance de se obter cara é igual a 1 2 em cada lançamento. Se a face cara sair no j-ésimo lançamento o jogo paga 2j unidades monetárias. • Logo o valor esperado do jogo é igual a: E[x] = ∞∑ j=1 2j ( 1 2 )j • Por exemplo, se a moeda for honesta (i.e, p = 1/2) temos: Você ganhará $1 com probabilidade 1 2 , ( 1 2 )1 × 20 Você ganhará $2 com probabilidade 1 4 , ( 1 2 )2 × 21 Você ganhará $4 com probabilidade 1 8 , ( 1 2 )3 × 22 . . . ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 8 Paradoxo de St. Petersburgo • O ganho esperado é dado pela soma de todos os termos, i.e.: ∞∑ i=1 ( 1 2 )i × 2i−1 = ∞∑ i=1 1 2 =∞ • Assim, se um indivíduo olha simplesmente para o valor esperado do jogo, estará disposto a pagar qualquer preço para participar desse jogo, o que é um contrasenso. • No entanto, na prática, ninguém está disposto a pagar um preço tão alto. Por quê? • Mesmo que o retorno esperado seja infinito, a distribuição dos retornos não é atraente. . . ◦ com 93% de probabilidade você ganhará $8 ou menos. ◦ com 99% de probabilidade você ganhará $64 ou menos. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 9 Paradoxo de St. Petersburgo • Note, contudo, que se o comportamento for descrito por uma utilidade esperada dada por u(z) = ln(z), a utilidade esperada do jogo de São Petersburgo é: utilidade esperada = ∞∑ i=1 lnpiiu(xi) = ∞∑ i=1 1 2i ln ( 2i ) = ∞∑ i=1 i 2i ln(2) = ln(2) ∞∑ i=1 i 2i = 2 ln(2) ≈ 1.39. • Um indivíduo com essa função utilidade estaria disposto a investir nesse jogo um valor que lhe propicia utilidade de 1.39, aproximadamente $4 • Este resultado ilustra a aversão ao risco, conceito que captura uma tendência comportamental de se evitar apostas com valores muito díspares. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 10 Definic¸o˜es e Conceitos • No que concerne à formalização, há (basicamente) três alternativas que diferem com relação ao caráter subjetivo ou objetivo das probabilidades (ou crenças) envolvidas. ◦ A teoria de von-Neumann e Morgenstern (1944) que toma as probabilidades como algo objetivo. ◦ A teoria de Savage (1954), que supo˜e que as probabilidades (crenc¸as) sa˜o subjetivas. ◦ A teoria da Anscombe e Aumann (1963), que admite que algumas probabilidades sa˜o objetivas, enquanto algumas sa˜o essencialmente subjetivas. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 11 Definic¸o˜es e Conceitos • X = {x1, x2, . . . , xN} denota os resultados possíveis. Por exemplo: ◦ Cestas de consumo ◦ Payoffs moneta´rios Definic¸a˜o 0.3. Uma loteria simples e´ uma distribuic¸a˜o de probabilidade sobre esses resultados: Considere um vetor de probabilidades(pi1, . . . , piN ), onde pij ≥ 0 ∀j e ∑j=1 N pij = 1. Uma loteria simples, L, e´ um vetor (x1, pi1; . . . ;xj , pij). • Para simplificar a exposição, vamos fixar os resultados possíveis {xj}Nj=1 e definir uma loteria pelo seu vetor de probabilidades associado a ela. • Definamos então o conjunto L de todas as loterias sobre o conjunto de resultados {xj} N j=1, L ≡ (pi1, . . . , piN ) ; N∑ j=1 pij = 1 ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 12 Definic¸o˜es e Conceitos • Uma versão mais geral de loterias, que permite que os resultados possíveis sejam, eles próprios, loterias. Definic¸a˜o 0.4. ConsidereK loterias simples Lk = ( pik1 , pi k 2 , . . . , pi k N ) , k = 1, . . . ,K e probabilidades αk ≥ 0, com ∑K k αk = 1. A opc¸a˜o arriscada que resulta na loteria L k com probabilidade αk , para k = 1, . . . ,K e´ chamada de loteria composta e representada por: (L1,L2, . . . ,LK ;α1, α2, . . . , αK) . ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 13 Definic¸o˜es e Conceitos Definic¸a˜o 0.5. Dada uma loteria composta (L1,L2, . . . ,LK ;α1, α2, . . . , αK), a loteria reduzida correspondente e´ a loteria simples (G1,G2, . . . ,GN ) que gera a mesma distribuic¸a˜o sobre os resultados possı´veis. G1 . . . GN = α1 pi11 . . . pi1N + α2 pi21 . . . pi2N + . . .+ αK piK1 . . . piKN • Onde GN = K∑ k=1 αkpi k j . • Note que: N∑ j=1 Gj = N∑ j=1 ( K∑ k=1 αkpi k j ) = K∑ k=1 αk K∑ k=1 pikj = K∑ k=1 αk = 1. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 14 Prefereˆncias sobre loterias • Agora vamos imaginar um tomador de decisões diante do espaço de escolha de loterias, L. • Vamos tomar como primitivo uma relação binária � sobre L denotando a relação de preferências ou critério de escolha do tomador de decisões. • A teoria de von Neumann-Morgenstern define uma forma particular para o funcional que representa a relação de preferências. • Tal funcional calcula o valor esperado das utilidades dos prêmios, isto é, realiza uma soma das utilidades dos prêmios ponderada pelas probabilidades de cada um deles. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 15 Prefereˆncias sobre loterias: hipo´teses • Por hipótese, o agente tem uma relação de preferências � sobre L, caracterizada pelos seguintes axiomas. A1. O indivíduo é “consequencialista”: para qualquer escolha envolvendo risco, apenas as loterias reduzidas são relevantes. ◦ Logo, o indivíduo deve ser indiferente entre duas loterias compostas com a mesma loteria reduzida. A2. Racionalidade: preferências completas e transitivas sobre L, o conjunto de todas as loterias simples sobre o conjunto de resultados possíveisX. A3. Continuidade: pequenas mudanças nas probabilidades não alteram o ordenamento de preferências entre duas loterias quaisquer. ◦ Garante a existência de uma função utilidade U : L→ R representando �. A4. Axioma da Independência: permite-nos representar � por um tipo de função de utilidade particularmente útil. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 16 Prefereˆncias sobre loterias: hipo´teses Definic¸a˜o 0.6. Continuidade: Uma relac¸a˜o de prefereˆncias� sobre L e´ dita contı´nua se, para quaisquer L,L′,L′′ ∈ L, os dois conjuntos abaixo forem fechados: {α ∈ [0, 1] : αL+ (1− α)L′ � L′′} ⊂ [0, 1] {α ∈ [0, 1] : L′′ � αL+ (1− α)L′} ⊂ [0, 1] Definic¸a˜o 0.7. Independeˆncia: Uma relac¸a˜o de prefereˆncias� sobre L satisfaz o axioma da independeˆncia se, para quaisquer L,L′,L′′ ∈ L e e α ∈ [0, 1], tivermos: L � L′ ⇔ αL+ (1− α)L′′ � αL′ + (1− α)L′′. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 17 Axioma da Independeˆncia • Note que oAI não é necessariamente razoável no contexto da teoria do consumidor tradicional. • Por exemplo: suponha que o consumidor prefere {2 chocolates , 0 bananas} a {0 chocolates, 2 bananas} • Não há porque o consumidor preferir: {2 chocolates , 1 bananas} a {1 chocolates, 2 bananas} mesmo que ambos sejam uma combinação entre as cestas anteriores e a cesta {2 chocolates , 2 bananas}. • Veremos a seguir que o axioma da independência nos permite representar as preferências na forma de utilidade esperada. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 18 Prefereˆncias sobre loterias: hipo´teses • O axioma de continuidade afirma que: pequenas alterações nas probabilidades não alteram a natureza da ordem entre duas loterias. • O axioma que impõe, como veremos, uma importante estrutura à representação de von Neumann-Morgenstern é o axioma de independência. • O axioma da independência afirma que: se combinarmos as loterias L e L′ com uma terceira, L′′, então a preferência entre as duas combinações (αL+ (1− α)L′′ e αL′ + (1− α)L′′) é totalmente determinada pela preferência entre L e L′, independentemente do peso α e da terceira loteria L′′ considerada. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 19 Utilidade esperada • A principal característica da representação de von Neumann-Morgenstern é a linearidade nas probabilidades. • Esta propriedade diz que a utilidade de uma loteria composta (obtida a partir de uma combinação convexa de K loterias) é igual a combinação convexa, com mesmos pesos, das utilidades de cada loteria considerada. Definic¸a˜o 0.8. Um funcional utilidade U : L→ R tem a forma de utilidade esperada, se existe uma designac¸a˜o de nu´meros (u1, u2, . . . , uN ) para osN resultados possı´veis (u : Z → R), de modo que para cada loteria simples L = (pi1, pi2, . . . , piN ) ∈ L, temos: U (L) = N∑ i=1 u(zi)x(zi) = n∑ i=1 uipii. • A função de utilidade U : L→ R na forma de utilidade esperada é chamada de utilidade de von Neumann-Morgenstern. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 20 Cardinalidade da Utilidade Esperada • Note: U (L) = ∑ j pijuj é linear nas probabilidades. Segue que: Proposic¸a˜o 0.1. A func¸a˜o de utilidade U : L→ R tem a forma de utilidade esperada se, e somente se satisfaz a propriedade: U ( K∑ k=1 αkLk ) = K∑ k=1 αkU (Lk) . para quaisquerK loterias Lk ∈ L e probabilidades αk ≥ 0, K∑ k=1 αk = 1, k = 1, . . . ,K . • Diferentemente da Teoria do Consumidor que vimos ate´ agora, apenas transformac¸o˜es afins crescentes preservam ordenamento de prefereˆncias representado por utilidade esperada. Proposic¸a˜o 0.2. Suponha u : L→ R e´ uma utilidade esperada de v.N-M. para a relac¸a˜o de prefereˆncias� sobre L. Enta˜o u˜ : L→ R e´ outra utilidade esperada de v.N-M. para a relac¸a˜o de prefereˆncias� se, e somente se, existem α, β > 0 tais que u˜ (L) = α+ βu (L). ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 21 Teorema da Utilidade Esperada • Se a relação de preferências sobre loterias são contínuas e satisfazem o Axioma da Independência, então são representáveis por uma função de utilidade com a forma de utilidade esperada. Proposic¸a˜o 0.3. Suponha que a relac¸a˜o de prefereˆncias� racionais sobre o espac¸o de loterias L satisfaz continuidade e o axioma da independeˆncia. Enta˜o admite uma representac¸a˜o de utilidade na forma de utilidade esperada. Isto e´, podemos designar um nu´mero un para cada realizac¸a˜o n = 1, . . . , N de tal modo quepara quaisquer duas loterias L = (pi1, pi2, . . . , piN ) e L′ = ( pi′1, pi ′ 2, . . . , pi ′ N ) , temos: L � L′ ⇐⇒ N∑ n=1 unpn ≥ N∑ n=1 unpi ′. • Ver a prova em [JLP2010]. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 22 Paradoxo de Allais • Suponha que há três payoffs monetários: (1) R$2.500.000 (2) R$500.000 (3) R$0 • Considere dois conjuntos de escolha, L e L′: L : L1 = [0.00 1.00 0.00] L ′ 1 = [0.10 0.89 0.01] L ′ : L2 = [0.00 0.11 0.89] L ′ 2 = [0.10 0.00 0.90] • Que escolha você faria? • Frequentemente as pessoas preferem L1 a L′1 e L2 a L ′ 2 . Essas preferências contradizem o axioma da independência. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 23 Digressa˜o: Paradoxo de Ellsberg • Temos duas urnas: A e B. Cada uma delas contém cem bolas. Cada bola pode ser preta ou branca. Na urna A existem 50 bolas de cada cor e não temos nenhuma informação sobre a urna B. ◦ Uma bola é retirada de cada urna. ◦ Existem quatro estados da natureza denotados por S = {(p, p), (p, b), (b, p), (b, b)}. • Incerteza: A distribuição de probabilidade não é conhecida. • Risco: A distribuição de probabilidade é conhecida (50 bolas são pretas e 50 bolas são brancas). • Indivíduos são avessos à incerteza/ambiguidade (abordagem da probabilidade não-aditiva). ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 24 O Paradoxo de Ellsberg • Suponha que uma urna contenha 30 bolas vermelhas (r) e outras 60 bolas que podem ser pretas (b) ou amarelas (y). O número de bolas pretas e amarelas é desconhecido, sabe-se apenas que a soma das duas é 60. • Escolha uma das duas loterias seguir: ◦ Loteria Α: Ganha $100 se for selecionada uma bola vermelha. ◦ Loteria Β: Ganha $100 se for selecionada uma bola preta. • Escolha uma das duas loterias seguir: ◦ Loteria C: Ganha $100 se for selecionada uma bola vermelha ou amarela. ◦ LoteriaD: Ganha $100 se for selecionada uma bola preta ou amarela. • O paradoxo é o seguinte: quando pesquisados, a maioria das pessoas prefere estritamente Α sobre Β eD sobreC. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 25 O Paradoxo de Ellsberg • Todas as 90 bolas tem a mesma chance de ser selecioanda: pir , piy e pib. • Suponha um agente econômico maximizador de uma função utilidade u: contínua, estritamente crescente e côncava. • Se o agente exibe o comportamento do paradoxo: Α ≻ Β⇐⇒ pir · u($100) + (1− pir) · u($0) > pib · u($100) + (1− pib) · u($0) Como u é estritamente crescente, temos que u($100) > u($0), logo: pir [u($100) + u($0)] > pib [u($100) + u($0)]⇐⇒ pir > pib. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 26 O Paradoxo de Ellsberg • Ao mesmo tempo, como o agente prefereD a C: D ≻ C⇐⇒ pib·u($100)+piy ·u($100)+pir·u($0) > pir·u($100)+piy ·u($100)+pib·u($0) simplificando: pib [u($100)− u($0)] > pir [u($100)− u($0)]⇐⇒ pib > pir. • O que é uma contradição e indica que as preferências do agente econômico são inconsistentes com a teoria da utilidade esperada. • Uma possível solução é adotar a abordagem do pior caso para avaliar as utilidades esperadas. Tal abordagem requer um conjunto de probabilidades subjetivas. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 27 Loterias Moneta´rias e Aversa˜o ao Risco • Aversão ao Risco e Concavidade: A forma da função de utilidade de von Neumann Morgenstern (NM) reflete as preferências em relação ao risco. • Para caracterizarmos a atitude frente ao risco, vamos tomar utilidades esperadas caracterizadas por índices u : R+ → R, que sejam duas vezes diferenciáveis com primeira derivada satisfazendo u′ > 0. • Dado uma loteria L ∈ L, vamos usar a notação u(L) = EL [u(z)] para denotar a utilidade esperada da loteria x para um indivíduo com utilidade u. • Formalização da noção de aversão ao risco no contexto de alternativas arriscadas cujos resultados possíveis são valores expressos em unidades monetárias (loterias monetárias). • Tratamos o valor monetário como uma variável contínua. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 28 Loterias Moneta´rias e Utilidade Esperada • Seja X variável aleatória contínua denotando um valor monetário. Definic¸a˜o 0.9. Uma loteria moneta´ria e´ uma func¸a˜o de distribuic¸a˜o acumulada F : R→ [0, 1]. SeX e´ uma varia´vel aleato´ria que segue a lei de distribuic¸a˜o de F , enta˜o F (x) = Pr(X ≤ x) . ◦ Dado x, F (x) mede a probabilidade de a realizac¸a˜o do payoffX ser menor ou igual a x. ◦ Se F (·) tem uma func¸a˜o de densidade f(·), enta˜o: F (x) = ∫ x −∞ f(s)ds • Nós vamos interpretar F como sendo uma loteria com resultados monetários – ou seja, paga em renda nominal x (é por isso que o suporte de F é R+) ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 29 Loterias Moneta´rias e Utilidade Esperada • Funções de distribuição preservam a estrutura linear das loterias: • Dada uma loteria composta (L1,L2, . . . ,LK ;α1, α2, . . . , αK). • Denotemos por FK(·) a distribuição de payoffs sob a loteria k. • A distribuição do payoff associado à loteria reduzida é dada por: F (x) = K∑ k=1 αkFk(x) • Assim, para estudar loterias sobre valores monetários, definimos o espaço de loterias L como o conjunto de todas as distribuições de probabilidade possíveis, com domínio não-negativo [a,∞). ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 30 Loterias Moneta´rias e Utilidade Esperada • Aplicação do Teorema da Utilidade Esperada: existe uma designação de valores u(x) tais que F (·) pode ser avaliada como: U (F ) = ∫ u(x)dF (x) • Note: U (F ), que tem L como domínio, é a utilidade esperada de v.N-M.; u(x), que tem como domínio o conjunto de realizações monetárias possíveis, é a utilidade de Bernoulli. • ∫ u(x)dF (x) é a esperança matemática de u(x). ◦ A função u(x) substitui os valores (u1, u2, . . . , uN ). ◦ Se F (x) tem função densidade f(x), então U (F ) = ∫ u(x)f(x)dx ◦ Essa formulação inclui os casos em que um número finito de realizações tem massa positiva. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 31 Aversa˜o ao Risco • Atenção: O teorema de utilidade esperada não impõe restrições sobre a função de Bernoulli, u(x). ◦ A especificação de u(x) é responsável por capturar atributos comportamentais da escolha individual. ◦ Hipóteses básicas: u(·) é contínua, estritamente crescente e limitada (acima e abaixo). ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 32 Aversa˜o ao Risco Definic¸a˜o 0.10. Um tomador de decisa˜o e´ dito: 1. Avesso ao risco se, para qualquer loteria F (·), ele prefere (fracamente) a loteria degenerada que resulta num payoff certo (com probabilidade 1) ∫ xdF (x) a` loteria F (·). 2. Estritamente avesso ao risco se para toda loteria F (·) na˜o-degenerada, ele prefere estritamente a loteria degenerada que tem por resultado ∫ xdF (x) probabilidade 1 a` loteria F (·). 3. Neutro ao risco se, para qualquer loteria F (·), ele e´ indiferente entre a loteria degenerada que tem por resultado ∫ xdF (x) com probabilidade 1 e a loteria F (·). 4. Propenso ao risco se, para qualquer loteria F (·), ele prefere (fracamente) a loteria F (·) a` loteria degenerada que tem por resultado ∫ xdF (x) com probabilidade 1. 5. Estritamente propenso ao risco se, para qualquer loteria F (·) na˜o-degenerada,ele prefere estritamente a loteria F (·) a` loteria degenerada que tem por resultado ∫ xdF (x) com probabilidade 1. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 33 Aversa˜o ao Risco e Concavidade de u(·) • Da definição de aversão ao risco, segue que um indivíduo é avesso ao risco se, e somente se: ∫ u(x)dF (x) ≤ u (∫ xdF (x) ) • Essa desigualdade se chama Desigualdade de Jensen, e define a concavidade de uma função. • Logo, aversão ao risco (estrita) é equivalente a concavidade (estrita) de u(·): ◦ utilidade marginal de um dólar adicional é (estritamente) decrescente; ◦ o risco de ganhar ou perder um dólar com probabilidades iguais não compensa. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 34 Equivalente Certeza Definic¸a˜o 0.11. O equivalente certeza de F (·), denotado por c(F, u), e´ o valor moneta´rio para o qual o indivı´duo e´ indiferente entre a loteria F (·) e um valor sem risco c(F, u). u (c(F, u)) = ∫ u(x)dF (x) • Para um indivíduo avesso ao risco, c(F, u) é menor que o valor esperado de X: trade-off entre o retorno esperado e um risco mais baixo. c (F, u) = ∫ u(x)dF (x) • De fato, a desigualdade acima é equivalente à aversão ao risco. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 35 Preˆmio de Risco Definic¸a˜o 0.12. Preˆmio de risco: O preˆmio de riscoP e´ uma quantidade de renda tal que P = ∫ u(x)dF (x)− c (F, u) . Definic¸a˜o 0.13. Preˆmio de probabilidade: Dada uma func¸a˜o de utilidade u(·), um valor moneta´rio fixo x e um nu´mero positivo ε, o preˆmio de probabilidade, denotado por pi(x, ε, u), e´ o excesso de probabilidade de sucesso (em relac¸a˜o a probabilidades iguais de sucesso e fracasso) que deixa o indivı´duo indiferente entre o resultado sem risco x e a loteria entre dois resultados x+ ε e x− ε. u(x) = ( 1 2 + pi(x, ε, u) ) u(x+ ε) + ( 1 2 − pi(x, ε, u) ) u(x− ε) • Geometricamente, é fácil mostrar que aversão ao risco é equivalente a termos pi(x, ε, u) ≥ 0, para todo x e todo ε > 0. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 36 Aversa˜o ao Risco e Concavidade • Aversão ao risco implica que o Equivalente Certeza é menor que o Prêmio Esperado. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 37 Aversa˜o ao risco 1) Um investidor é avesso ao risco, se CE[x˜] ≤ E[x˜], ou equivalentemente, se pi[x˜] ≥ 0, para todas as variáveis aleatórias x˜. 2) Um investidor é neutro ao risco, se CE[x˜] = E[x˜], ou equivalentemente, se pi[x˜] = 0, para todas as variáveis aleatórias x˜. 3) Um investidor é propenso ao risco, se CE[x˜] ≥ E[x˜], ou equivalentemente, se pi[x˜] ≤ 0, para todas as variáveis aleatórias x˜. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 38 Aversa˜o ao risco Proposic¸a˜o 0.4. Suponha que o indivı´duo e´ maximizador de uma utilidade esperada, com func¸a˜o de utilidade de Bernoulli u(·) sobre valores moneta´rios. Enta˜o, as seguintes propriedades sa˜o equivalentes: 1. O indivı´duo e´ avesso ao risco; 2. u(·) e´ coˆncava; 3. c(F, u) ≤ ∫ xdF (x), para todo F (·); 4. pi(x, ε, u) ≥ 0, para todo x, ε > 0. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 39 Medidas de Aversa˜o ao Risco • Dado que funções de utilidade são definidas até para transformações lineares, a própria concavidade não é suficiente para caracterizar o grau de aversão ao risco. • Sejam u e v duas funções utilidade que representam preferências sobre riqueza. A preferência u exibe mais a aversão ao risco do que v se os prêmios de risco satisfazem: piu (x˜) ≥ piv (x˜) • Suponha que u e v são contínuas, monotonicamente crescentes, e duas vezes difenciáveis. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 40 Medidas de Aversa˜o ao Risco Definic¸a˜o 0.14. Dada uma func¸a˜o de utilidade u(·) sobre valores moneta´rios, duas vezes continuamente diferencia´vel, o coeficiente de aversa˜o absoluta ao risco de Arrow-Pratt em x e´ definido como: δA(x) = − u′′ (x) u′ (x) . • É uma medida da curvatura de u(·). • Para um indivíduo avesso ao risco, δA(x) ≥ 0. • Exemplo: u(x) = −e−ax, para a > 0, é chamada de função de utilidade CARA (Constant Absolute Risk Aversion). ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 41 Medidas de Aversa˜o ao Risco Definic¸a˜o 0.15. Dadas func¸o˜es de utilidade de Bernoulli u1(·) e u2(·), dizemos que u2(·) e´ mais avesso ao risco que u1(·) se: 1. δA(x, u2) ≥ δA(x, u1), para todo x. 2. Existe uma func¸a˜o crescente e coˆncava φ(·) tal que u2(x) = φ(u1(x)) para todo x, i.e., u2(·) e´ uma transformac¸a˜o coˆncava de u1(·). 3. c(F, u2) ≤ c(F, u1), para qualquer F (·). 4. P(u2) ≥ P(u1), para qualquer F (·). 5. pi(x, ε, u2) ≥ pi(x, ε, u1), para quaisquer x e ε. 6. se ∫ u2(x)dF (x) ≥ u2(x) implica ∫ u1(x)dF (x) ≥ u1(x) Ou seja, qualquer risco que u2(·) aceitar partindo de uma posic¸a˜o sem risco x tambe´m sera´ aceita por u1(·). ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 42 Aversa˜o ao risco entre nı´veis de renda • É possível analisar também como relação com o risco varia com níveis de renda. • A função de utilidade de u(·) exibe aversão absoluta ao risco decrescente se δA(x, u) é uma função decrescente de x. • Comparar aversão ao risco em diferentes níveis de renda é similar a compará-la para indivíduos diferentes: ◦ Dois níveis de renda iniciais, w1 > w2. ◦ Seja z a mudança na renda. ◦ O indivíduo avalia risco comparando u1(z) ≡ u(w1+ z) a u2(z) ≡ u(w2+ z). ◦ δA(w,u2) ≥ δA(w, u1), para w1 > w2 se, e somente se δA(z, u2) ≥ δA(z, u2), para todo z. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 43 Aversa˜o ao risco entre nı´veis de renda Proposic¸a˜o 0.5. As seguintes propriedades sa˜o equivalentes: 1. u(·) exibe aversa˜o absoluta ao risco decrescente. 2. Sempre quew2 < w1, u2(z) ≡ u(w2 + z) e´ uma transformac¸a˜o coˆncava de u1(z) = u(w1 + z). 3. Para qualquer risco F (z), o equivalente certeza cx da loteria formada ao adicionar risco z ao nı´vel de renda x, dado por u (cx) = ∫ u(x+ z)dF (z), e´ tal que (x− cx) e´ decrescente em x. Isto e´, quanto maior for x, menos o indivı´duo estara´ disposto a pagar para se livrar do risco. 4. O preˆmio de risco pi(x, ε, u) e´ decrescente em x. 5. Para qualquer F (z), se ∫ u(x2 + z)dF (z) ≥ u(x2) e x2 < x1, enta˜o∫ u(x1 + z)dF (z) ≥ u(x1). ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 44 Aversa˜o relativa ao risco • O conceito de aversão relativa ao risco nos permite avaliar alternativas arriscadas cujos resultados são ganhos ou perdas percentuais da riqueza atual. • Seja ψ > 0 o acréscimo ou decréscimo percentual da riqueza. • Um indivíduo com utilidade u(·) e riqueza inicial w avalia o risco percentual aleatório ψ usando u˜(ψ) = u(ψ · x). • Um pequeno risco em torno da posição inicial ψ = 1 pode ser avaliado usando: − u˜′′(1) u˜′(1) = − w · u′′(w) u′(w) . ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 45 Aversa˜o relativa ao risco Definic¸a˜o 0.16. Dada uma utilidade u(·), o coeficiente de aversa˜o relativa ao risco emw e´ δR(w, u) = − w · u′′ (w) u′ (w) . • Como δR(w, u) varia com a renda? • Se δR(w,u) e´ decrescente em w, enta˜o indivı´duos mais ricos sa˜o menos avessos ao risco com respeitoa loterias sobre percentuais de sua riqueza. • Atenc¸a˜o: aversa˜o relativa ao risco decrescente=⇒ aversa˜o absoluta ao risco decrescente. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 46 Equivalente Certeza e Preˆmio de Risco • Dada uma loteria x ∈ X, o equivalente certeza é um prêmio z ∈ R+ tal que: u (z) = Ex [u(z)] Notemos que pelas hipóteses aqui adotadas, temos que cx = u−1 (Ex[u(z)]). • Como u′ > 0 implica que ( u−1 )′ > 0 temos que cx = u −1 (Ex[u(z)]) ≤ Ex. A diferença Ex − cx representa um prêmio pelo risco. • Dado um nível de riqueza inicial w e um jogo justo, x ∈ X, o prêmio pelo risco da loteria x dado a riqueza w, denotado por pi(w, x), é definido implicitamente como: u (w − pi(w, x)) = E [u (x⊕ w)] . • Lição de casa: Derive a expressão para o prêmio de risco. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 47 Equivalente Certeza e Preˆmio de Risco • Sendo u crescente e estritamente côncava temos que pi(w, x) = w − u−1 (E [u (x⊕ w)]) > 0. • E então, pi(w, x) pode ser interpretado como o prêmio que o indivíduo está disposto a pagar para ficar com o mesmo nível de utilidade gerado pelo jogo representado por x⊕ w. • Em geral, os problemas econômicos envolvem tomadas de decisões sobre incerteza ao invés de risco, isto é, situações onde não temos probabilidades dadas de maneira exógena. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 48 Nı´vel de Aversa˜o ao Risco Relativo - RRA • Suponha agentes com função utilidade da forma: u(w) = w1−γ 1− γ para γ 6= 1 e u(w) = logw para γ = 1. como observado anteriormenteRRA(w) = γ e u(·) é da classeCRRA. • Considere o seguinte investimento: $50.000 com probabilidade pi = 0.5 $100.000 com probabilidade pi = 0.5 • Quanto o agente estaria disposto a pagar por tal investimento? • A partir da resposta é possível inferir o coeficiente de aversão ao risco relativo RRA(w) = γ. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 49 Nı´vel de Aversa˜o ao Risco Relativo • A quantia máxima que o investidor está disposto a pagar por esse investimento (CE) é definida por: (w + CE)1−γ 1− γ = 1 2 (w + 50.000)1−γ 1− γ + 1 2 (w + 100.000)1−γ 1− γ • Assumindo que a riqueza inicial é zero (w = 0), obtemos os seguintes resultados: γ = 0 CE = 75.000 (neutralidade ao risco) γ = 1 CE = 70.711 γ = 2 CE = 66.667 γ = 5 CE = 58.566 γ = 10 CE = 53.911 γ = 20 CE = 51.858 γ = 30 CE = 51.209 • Alternativamente, assumindo w = $100.000 e γ = 5, resulta em CE = $66.532. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 50 Comparando distribuic¸o˜es de payoffs • Até agora, fixamos uma loteria e comparamos diferentes indivíduos (funções utilidade) em termos de suas aversões ao risco. • Agora, compararemos loterias (distribuições de payoff) em termos de risco e retorno. • Quando podemos dizer que uma distribuição F (·). 1. Tem retornos maiores que outra distribuição G(·)? (Domonância estocástica de primeira ordem). 2. É menos arriscada que outra distribuição G(·)? (Dominância estocástica de segunda ordem). • Observação: Restringiremo-nos às distribuições F (·) que satisfazem F (0) = 0 e F (x) = 1 para algum x. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 51 Dominaˆncia estoca´stica de primeira ordem • Quando podemos dizer que a distribuição F (·) tem retornos maiores que outra distribuição G(·)? • Dois critérios equivalentes: 1. Se todo agente maximizador de utilidade esperada que prefere mais a menos preferir F (·) a G(·) . 2. Se para qualquer valor monetário x, a probabilidade de receber ao menos x é maior sob a loteria F (·) que sob G(·). ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 52 Dominaˆncia estoca´stica de primeira ordem Definic¸a˜o 0.17. Dizemos que a distribuic¸a˜o F (·) domina estocasticamente em primeira ordem a distribuic¸a˜o F (·) se, para qualquer func¸a˜o na˜o-decresce u : R −→ R, tivermos: ∫ u(x)dF (x) ≥ ∫ u(x)dG(x). Proposic¸a˜o 0.6. A distribuic¸a˜o de payoffs moneta´rios F (·) domina estocasticamente em primeira ordem a distribuic¸a˜oG(·) se, e somente se, F (x) ≤ G(x), ∀x. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 53 Dominaˆncia estoca´stica de segunda ordem • Agora, comparamos distribuições em termos de quão arriscada são (dispersão de payoffs). • Restringiremo-nos a comparar distribuições com a mesma média. Definic¸a˜o 0.18. Para duas distribuic¸o˜es F (·) eG(·) com a mesma me´dia, dizemos que F (·) domina estocasticamente em segunda ordem (e´ menos arriscada que)G(·) se, para qualquer func¸a˜o na˜o-decrescente e coˆncava u : R −→ R, tivermos: ∫ u(x)dF (x) ≥ ∫ u(x)dG(x). ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 54 Dominaˆncia estoca´stica de segunda ordem • Dominância estocástica de segunda ordem está intimamente relacionada ao conceito de mean-preserving spreads. • Um mean-preserving spread de uma distribuição F (·) é construído da seguinte forma: 1. Considere uma loteria composta. 2. O primeiro estágio é a loteria F (·), com realização x. 3. O segundo estágio toma x como dado, e adiciona aleatorização com um payoff de x+ z, em que z é distribuído de acordo com Hx(z), com média zero, i.e., ∫ zdHx(z) = 0 4. A loteria reduzida, denotada por G(·), é chamada de mean-preserving spread. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 55 Dominaˆncia estoca´stica de segunda ordem • Exemplo: Suponha que F (·) designa iguais probabilidades a 2 e 3 reais, x ∈ {2, 3}. Em seguida, se x = 2, suponha que com igual probabilidade, o payoff final é 1 ou 3. Se x = 3, então com probabilidades iguais o payoff final é 2 ou 4. Então G(·) designa probabilidade 1/4 aos quatro possíveis resultados 1, 2, 3, 4. • De forma geral, se G(·) é um mean-preserving spread de F (·) , então F (·) domina estocasticamente em segunda ordem G(·) . A volta também vale. Logo, os dois conceitos são equivalentes. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 56 Incerteza via estados da natureza • Até agora, os consumidores apenas se importavam com as distribuições dos payoffs, e não com as causas que podem originá-las. • Estados da natureza: 1. S é o conjunto finito de possíveis estados. 2. s ∈ S é um estado. 3. pi(s) ou pis é a probabilidade (objetiva) de que s ∈ S ocorra. • Neste arcabouço, uma possibilidade incerta com retornos monetários (não-negativos) é capturada por uma variável aleatória. ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 57 Incerteza via estados da natureza Definic¸a˜o 0.19. Uma varia´vel aleato´ria e´ uma func¸a˜o g : S −→ R+ que mapeia estados em ocorreˆncias moneta´rias. • Uma variável aleatória g gera uma loteria monetária F (·) tal que: F (x) = ∑ s:g(s)≥x pi(s), ∀x. • Note que F (·) não monitora qual estado da natureza resulta em um dado payoff monetário (perda de informação). • Uma variável aleatória também pode ser representada por um vetor (x1, . . . , xS), em que xs é o payoff no estado s. • O conjunto de todas as variáveis aleatórias não-negativas é, então, dado por RS+ . ECO 2278 – Teoria Microeconoˆmica IIEscolha sob Incerteza & Teoria da Utilidade Esperada – p. 58 Resumo: Preferências Envolvendo Risco Escolha sob Incerteza Escolha sob Incerteza: ExemplosEstado de Natureza Escolha sob Incerteza Consumo contingente Paradoxo de São Petersburgo Paradoxo de St. Petersburgo Paradoxo de St. Petersburgo Definições e Conceitos Definições e Conceitos Definições e Conceitos Definições e Conceitos Preferências sobre loterias Preferências sobre loterias: nullextsf {hipóteses} Preferências sobre loterias: nullextsf {hipóteses} Axioma da Independência Preferências sobre loterias: nullextsf {hipóteses} Utilidade esperada Cardinalidade da Utilidade Esperada Teorema da Utilidade Esperada Paradoxo de Allais Digressão: Paradoxo de Ellsberg O Paradoxo de Ellsberg O Paradoxo de Ellsberg O Paradoxo de Ellsberg Loterias Monetárias e Aversão ao Risco Loterias Monetárias e Utilidade Esperada Loterias Monetárias e Utilidade Esperada Loterias Monetárias e Utilidade Esperada Aversão ao Risco Aversão ao Risco Aversão ao Risco e Concavidade de $u(cdot )$ Equivalente Certeza Prêmio de Risco Aversão ao Risco e Concavidade Aversão ao risco Aversão ao risco Medidas de Aversão ao Risco Medidas de Aversão ao Risco Medidas de Aversão ao Risco Aversão ao risco entre níveis de renda Aversão ao risco entre níveis de renda Aversão relativa ao risco Aversão relativa ao risco Equivalente Certeza e Prêmio de Risco Equivalente Certeza e Prêmio de Risco Nível de Aversão ao Risco Relativo - $RRA$ Nível de Aversão ao Risco Relativo Comparando distribuições de payoffs Dominância estocástica de primeira ordem Dominância estocástica de primeira ordem Dominância estocástica de segunda ordem Dominância estocástica de segunda ordem Dominância estocástica de segunda ordem Incerteza via estados da natureza Incerteza via estados da natureza
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