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9 Resumo 9 Aula-tema 07: Tipologia textual: os textos argumentativos. Tipos textuais Na aula passada, você estudou sobre os gêneros textuais. Nesta, aprenderemos sobre as diferentes formas como esses se organizam, isto é, os modos de organização do discurso, os quais são: narração, descrição, exposição, argumentação, injunção. Esses modos de organização do discurso não necessariamente aparecem sozinhos em um gênero, mas se combinam com outros, desempenhando cada um sua função. Em um conto, por exemplo, apesar de a narração ser o eixo condutor do texto, ela é permeada de descrições, de personagens e de cenários. Uma palestra ou um artigo de opinião podem conter, em sua estrutura, pequenas narrativas que ilustrem os argumentos contra ou a favor de um determinado ponto de vista. No entanto, pode-se perceber uma dominância de um tipo sobre os demais, definindo- se, portanto, o texto em função da categoria dominante. Há dois principais critérios1 para diferenciar os modos de organização do discurso: 1) Primeiro critério: objetivo com que o texto é produzido. descrição caracterizar pessoas, lugares, coisas dar detalhes (presente em gêneros como: conto, crônica, romance, piada, anúncio, roteiro de viagem etc) narração contar os fatos, os acontecimentos (presente em gêneros como: conto, crônica, romance, piada, notícia, relatório etc) exposição refletir, explicar, avaliar, conceituar, expor idéias, analisar (presente em gêneros como palestra, comunicado, resenha, notícia etc) argumentação convencer, argumentar, mudar a opinião do leitor (presente em gêneros como carta, editorial, resenha crítica etc) injunção dizer como fazer, requerer uma ação, levar à realização de uma situação (presente em gêneros como bula, manual de instruções, receita etc) 1 TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Um estudo textual-discursivo do verbo no português. 1991. Tese (Doutorado em Linguística) – Campinas, SP: IEL / UNICAMP, 1991. 2) Segundo critério: perspectiva em que o locutor se coloca. descrição perspectiva do conhecimento do espaço e/ou estado narração perspectiva da localização no tempo exposição perspectiva do conhecimento, abstraindo-se do tempo e do espaço argumentação perspectiva da persuasão injunção perspectiva do fazer posterior ao momento da produção do texto Esses modos de organização do discurso também apresentam semelhanças entre si. A exposição, a argumentação e a descrição apresentam simultaneidade das situações, enquanto a narração e a injunção exigem sequencialidade. Estes são ainda discursos do fazer (ações) e do acontecer (fatos, fenômenos). Já a descrição é o discurso do ser e do estar. A exposição é o discurso do ser e do conhecer, e a argumentação, do convencer. Quanto ao ponto de vista ou opinião de quem os produz, seja de forma explícita, seja de forma implícita: • exposição e argumentação: o locutor usa conceitos abstratos para manifestar explicitamente sua opinião ou seu julgamento; • descrição: o locutor enunciador seleciona expressões, vocabulário e outros recursos da língua para transmitir uma imagem negativa ou positiva daquilo que descreve; • narração: o locutor transmite sua visão de mundo por meio de ações que ele atribui aos personagens, comentários sobre os fatos que ocorrem por meio da caracterização que faz deles ou das condições em que vivem. Textos argumentativos Como você classificaria o texto abaixo? Como um artigo de opinião ou uma dissertação escolar? Culto ao corpo A sociedade moderna preconiza um estereótipo de corpo ideal que muitas pessoas tornam-se escravas de uma beleza estética quase impossível de se alcançar, pois além da insatisfação com o próprio corpo, pessoas comuns sofrem influência da mídia e dos milagres oferecidos pelas cirurgias plásticas. Decorrente de um padrão preestabelecido de beleza na nossa atual cultura e reforçado pela mídia publicitária, muitas pessoas dizem estar insatisfeitas com seu rosto ou corpo e buscam várias formas para alcançar um corpo perfeito com cremes, academia, exercício físico, regimes e não hesitam em recorrer ao recurso da cirurgia plástica. Sem dúvida, os avanços da medicina e da tecnologia nos tempos atuais podem, de fato, auxiliar na busca para a perfeição, mas devem ser utilizados como último recurso ou em casos em que apenas a cirurgia plástica resolveria o problema. No entanto, o que tem acontecido é o aumento de procura pelas cirurgias estéticas como um recurso rápido e milagroso para atingir o corpo perfeito. Em virtude do que foi apresentado, confirmamos que as pessoas estão cada vez mais escravas da busca pelo corpo perfeito devido às influencias da mídia e das mágicas que as cirurgias prometem. O que as pessoas esquecem é que bisturi está muito longe de se parecer com uma varinha de condão. O corpo perfeito deve estar associado com saúde perfeita e, para isso, as pessoas devem buscar equilíbrio entre exercícios físicos e (re) educação alimentar. Como vimos, são as diferentes intenções comunicativas que determinam o gênero textual, mas em alguns casos o que determinará o gênero será o suporte textual. Se esse mesmo texto for publicado em um jornal assinado por quem o escreveu, ele passa a ser o gênero artigo de opinião. Se for produzido em uma situação de sala de aula, concurso ou vestibular é uma dissertação. Apesar de ser o mesmo texto, não pertence ao mesmo gênero. O texto acima apresentado enquadra-se no tipo argumentativo, pois expõe e defende com argumentos uma opinião. No texto dissertativo, por exemplo, desenvolve-se ou explica-se um assunto, discorrendo-se sobre ele. Pertence, portanto, ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto de apresentação científica, o relatório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo está mais preocupado com a transmissão de conhecimento e não com a persuasão, sendo, por isso, um texto informativo. Já os textos argumentativos têm por finalidade principal convencer o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando além de explicar, o texto também tenta persuadir o interlocutor e modificar seu comportamento, temos um texto dissertativo-argumentativo. Antes de redigi-lo, deve-se ter em mente o plano de trabalho, do qual devem fazer parte: informações e conceitos a serem utilizados; ponto de vista que se deseja manifestar; perfil do leitor a quem se destina; tipo de reação que o texto deve despertar. Esse tipo textual tem uma estrutura básica, formada por três partes essenciais. Vejamos cada uma delas. 1. Introdução É o ponto de partida. Deve apresentar, portanto, o assunto a ser tratado de maneira clara, além de delimitar as questões que serão discutidas, servindo como um tipo de roteiro. Por isso, o que for citado na introdução deve ser discutido no desenvolvimento A introdução deve ser elaborada em um parágrafo de aproximadamente cinco linhas, formado de pelo menos dois períodos. Como estratégia de desenvolvimento da introdução, você pode, por exemplo, lançar uma pergunta; também é válido fazer uma breve trajetória histórica. Pode ainda citar uma frase de alguém famoso ou estudioso do tema, fazer uma comparação – por semelhança ou oposição –, trazer a definição de um conceito ou mesmo apresentar um resumo do que será discutido no desenvolvimento. Exemplo2 de introdução desenvolvida por trajetória histórica: A primeira década do século XXI foi um período de boas colheitas do que fora plantado no passado recente e nas ações da Era Lula. As principais conquistas foram a consolidação da democracia, a estabilidade econômica, a maior inclusão social e o novo status geopolítico. Outras nos esperam no próximo decênio, com os megaeventos esportivos, o pré-sal e a janela demográfica positiva. Para que esseprocesso virtuoso continue, duas coisas devem ser feitas concomitantemente: entender as razões dos sucessos atuais e refletir sobre os obstáculos que impedem que o Brasil seja, definitivamente, o país do futuro. 2. Desenvolvimento Parte do texto em que suas ideias, conceitos, informações e, principalmente, argumentos, serão desenvolvidos, de forma organizada e criteriosa. Por argumento, entende-se um conjunto de uma ou mais sentenças declarativas (ou "proposições") conhecidas como premissas, acompanhadas de uma outra frase 2 Colunista Fernando Abrucio, As lições de uma década boa para o Brasil. Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EMI112750-15230,00.html (Acesso em 1/12/2010) declarativa que é conhecida como conclusão. O argumento vem após a ideia que se quer defender, pois visa a fundamentá-la, mostrando sua verdade. O desenvolvimento deve conter dois ou três parágrafos de cinco a oito linhas cada um. O que foi apontado na introdução deverá ser desenvolvido de forma gradual e progressiva. Em cada parágrafo, deve-se discutir apenas um argumento. Os assuntos abordados devem ser importantes para a sociedade de um modo geral. Evite, portanto, questões pessoais ou muito próximas dos acontecimentos cotidianos. Nunca generalize e não use argumentos sem fundamentação. Você não deve apenas dizer “a exploração do pré-sal será uma coisa boa para o Brasil” sem explicar o porquê, isto é, deve discorrer sobre as justificativas ou motivos dessa afirmação. No desenvolvimento, há várias estratégias de apresentação dos argumentos. Podem-se apresentar hipóteses para um problema, discutir diferentes pontos de vista, discorrer sobre causas e consequências; fazer a análise de um fato, mostrando alguns de seus aspectos; dar exemplos concretos de figuras políticas, fatos atuais ou históricos, sociais e culturais, além de apresentar dados estatísticos. É proveitoso também citar estudos ou pesquisas (ou citações de estudiosos) sobre o assunto abordado. No exemplo de desenvolvimento do texto abaixo cuja introdução foi reproduzida acima, seu autor mantém o viés histórico. Inicialmente, ele anuncia que era preciso “entender as razões dos sucessos atuais”, então, para entendê-las, ele parte de uma retrospectiva histórica, apresentando fatos e dados concretos: Os bons resultados do presente começaram a ser plantados nas últimas duas décadas do século passado. O primeiro passo foi a Constituição de 1988. Tão vilipendiada logo após seu nascimento, ela, de fato, tinha alguns problemas, mas continha as bases para uma ordem democrática inédita no Brasil. Trouxe avanços não só no terreno das instituições, como alargou os direitos dos cidadãos, em termos de políticas públicas e de legislações protetoras. A década de 1990 criou as bases da estabilidade econômica, com o fim da inflação crônica e das “torneirinhas” fiscais que tornavam descontrolado o gasto público. Também foram tomadas medidas para aumentar a competitividade da economia brasileira e sua integração internacional. Ainda foram corrigidas algumas incongruências da Constituição de 1988, por meio de reformas constitucionais patrocinadas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. 3. Conclusão É o encerramento da dissertação, portanto nunca deve apresentar informações novas, mas conter um resumo breve e objetivo, que retoma e condensa o conteúdo do texto. Deve ainda fazer uma avaliação final do assunto discutido, podendo, eventualmente, apresentar propostas de ação. Como a introdução, deve ter apenas um parágrafo de aproximadamente cinco linhas. Veja abaixo um exemplo de conclusão (adaptada) do já citado texto: A década passada deve ser comemorada. Tivemos a inauguração do processo democrático com a Constituição de 1988, o fim da inflação descontrolada e o assentamento das bases da estabilidade econômica. Mas o caminho para o futuro dependerá de não nos contentarmos com os avanços obtidos até agora. Devemos ter uma atitude de vigilância e cobrança de nossos governantes para que conquistas tão importantes como essas não tenham sido em vão e resultem em benefícios reais para o cidadão brasileiro. Quanto à linguagem, o texto argumentativo deve ser objetivo e impessoal, isto é, jamais deve apresentar expressões como “eu acho que”, “na minha opinião”. Também não se deve escrever como se estivesse falando com o leitor, como: “Por causa da crescente violência, você deve ter cuidado ao sair de casa”. Opte pela 3ª pessoa do singular ou pela indeterminação do sujeito, desta forma: “Percebe-se, nos dias atuais, uma crescente mudança...” “Deve-se levar em conta também que...” “A população brasileira parece mais consciente de seu potencial de mudança”. 9 Conceitos Fundamentais Argumento: do latim argumentum, cujo tema argu significa “fazer brilhar", "iluminar", designa a justificativa ou razão que acompanha uma tese ou ideia, para fundamentá- la e convencer alguém da verdade ou da falsidade daquilo que foi afirmado. Dissertação: tipo de texto por meio do qual são apresentadas informações, fatos e ideias de forma analítica sobre um determinado tema. Pode ter função apenas expositiva e/ou informativa ou ainda ter como finalidade a persuasão de um público- alvo, por meio do desenvolvimento de argumentos. Gênero textual: forma padrão e relativamente estável de organização de um texto (oral ou escrito), que cumpre uma função sociocomunicativa específica, sendo responsável por organizar todas as situações que envolvem comunicação, com conteúdo temático, estilo, forma composicional e suporte textual próprios. Texto argumentativo: texto cuja finalidade principal é convencer o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito do assunto. Além de expor e explicar um problema ou ideia, tenta levar o interlocutor a modificar sua forma de pensar e seu comportamento. Para isso, possui argumentos consistentes e convincentes. Sua estrutura básica é formada de introdução, desenvolvimento e conclusão. Tipos textuais: diferentes modos de organização do discurso, que fazem parte da composição dos inúmeros gêneros textuais por meio dos quais nos comunicamos nas mais diversas situações. Os principais tipos textuais são: narração, descrição, exposição, argumentação, injunção. 9 Referência 1) KOCH, Ingedore G. L.; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2006.
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