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A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 Aula 1 – A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb Meta da aula Apresentar a Lei de Coulomb. Objetivos Ao final do estudo desta aula, voceˆ devera´ ser capaz de: • Entender que as bases da eletrosta´tica sa˜o fundamentalmente emp´ıricas; em particular, perceber que a Lei de Coulomb e´ uma s´ıntese de fatos experimentais acumulados ao longo de muitos anos. • Compreender que a carga ele´trica e´ uma propriedade da mate´ria. • Aplicar a Lei de Coulomb e o Princ´ıpio da Superposic¸a˜o aos exerc´ıcios e problemas propostos ao longo do texto e ao final da aula. Pre´-requisitos Seria proveitoso se, antes de prosseguir com a leitura e o estudo desta aula, voceˆ revisasse a Aula 1 – Interac¸a˜o Eletrosta´tica I e o Complemento 1 – Histo´ria da Eletricidade, Volume 4, Mo´dulo 4. Introduc¸a˜o Nesta aula iniciaremos o estudo da eletrosta´tica, ramo da F´ısica que trata da interac¸a˜o ele´trica gerada por cargas em repouso. Nem tudo sera´ novidade, pois voceˆ ja´ deve ter travado contato com este assunto no Ensino Me´dio e na disciplina Introduc¸a˜o a`s Cieˆncias F´ısicas. Histo´ria da eletricidade Os peixes-ele´tricos podem armazenar eletricidade e utilizar essa carga armazenada para se defender e ate´ mesmo atacar suas presas. No Brasil, o mais conhecido e´ o peixe da regia˜o amazoˆnica Electrophorus electricus, conhecido popularmente por poraqueˆ. A humanidade convive ha´ bastante tempo com os fenoˆmenos ele´tricos e magne´ticos, como a eletrizac¸a˜o por fricc¸a˜o, os relaˆmpagos e as bu´ssolas natu- rais. O fenoˆmeno da eletricidade esta´tica produzida por fricc¸a˜o era familiar aos antigos, que tambe´m conheciam as propriedades de certos peixes capazes de gerar descargas ele´tricas (peixes-ele´tricos). 7 CEDERJ A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb Tales de Mileto (c. 600 a.C.), Teo´frasto (c. 321 a.C.) e Pl´ınio (c. 70 d.C.) fizeram refereˆncia a uma substaˆncia resinosa que, apo´s ser friccionada, adquiria capacidade de atrair objetos. Imagina-se que eles estivessem falando do aˆmbar. O termo c. tambe´m pode ser encontrado na forma “circa de”. E´ uma refereˆncia temporal e significa “por volta de”, ou “aproximadamente”. No se´culo XVI, Girolamo Cardano (1501-1576) foi capaz de estabe- lecer a diferenc¸a entre o aˆmbar e a magnetita. As propriedades ele´tricas da mate´ria foram tambe´m estudadas por William Gilbert (1544-1603), me´dico da rainha Elizabeth I da Inglaterra, que resumiu dezoito anos de ex- perieˆncias com a magnetita, com os ı´ma˜s e os materiais ele´tricos em seu livro O aˆmbar e´ uma susbtaˆncia resinosa, resultante do processo de polimerizac¸a˜o da seiva de a´rvores pre´-histo´ricas. E´ muito usado na fabricac¸a˜o de jo´ias e pec¸as ornamentais. De magnete. Nesse trabalho, e´ poss´ıvel encontrar a primeira distinc¸a˜o entre materiais ele´tricos e na˜o-ele´tricos, ou diele´tricos; a relac¸a˜o entre a umidade e a eletrizac¸a˜o; a demonstrac¸a˜o de que a eletrizac¸a˜o afeta os metais, os l´ıquidos e a fumac¸a; a observac¸a˜o de que os materiais ele´tricos comportam-se como agentes atrativos, entre outras propriedades. Foi Gilbert quem descreveu es- sas propriedades como ele´tricas, do grego ηλ�κτoν (elektron), que significa aˆmbar. Ele chamava a atrac¸a˜o ele´trica de vis electrica, ou forc¸a ele´trica. Em 1729, o ingleˆs Stephen Gray realizou experimentos que lhe permitiram estabelecer diferenc¸as entre materiais condutores e materiais isolantes. Um pouco depois, em 1733, o franceˆs Charles Franc¸ois du Fay, superintendente dos jardins reais, fez treˆs descobertas de importaˆncia vital para o desenvol- vimento da eletricidade, e descobriu que: William Gilbert, ou Gilberd, como ele mesmo escrevia, nasceu em 1544 em Colchester, Essex, Inglaterra. As primeiras investigac¸o˜es cient´ıficas de Gilbert foram centradas quase que exclusivamente em Qu´ımica. Gilbert foi um dos primeiros a descrever com sucesso, apo´s exaustivos experimentos feitos com uma pacieˆncia exemplar, fenoˆmenos ele´tricos e magne´ticos. Seus resultados foram publicados durante o ano de 1600 sob o t´ıtulo De Magnete magneticisque corporius, et de magno magnete tellure; Physiologia nova, plurimis et argumentis et experimentis demonstrata. (i) havia dois tipos de eletricidade; (ii) os tipos semelhantes de eletricidade repelem um ao outro; (iii) os tipos opostos atraem ou ao outro. Esses dois tipos de eletricidade foram posteriormente denominados positiva e negativa por Benjamin Franklin (1706-1790). Tal nomencla- tura perdura ate´ hoje, mas voceˆ deve ter percebido que positivo e negativo sa˜o apenas termos arbitra´rios para denotar os dois tipos de eletricidade; alfa e beta seriam palavras igualmente va´lidas. Entretanto, a questa˜o transcende aos aspectos experimentais e conven- cionais. De fato, a F´ısica teo´rica moderna mostra que, na verdade, temos apenas um tipo de carga, que pode adquirir valores reais, isto e´, valores po- sitivos e negativos. Uma evideˆncia disso e´ o fato de que a mesma lei de forc¸a da´ conta das interac¸o˜es entre cargas positivas e negativas; outra evideˆncia e´ a conservac¸a˜o da carga ele´trica, que discutiremos mais adiante. CEDERJ 8 A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 Experimento 1: o pente eletrizado Vamos realizar um simples experimento que, apesar de na˜o fornecer resul- tados quantitativos, apresenta resultados qualitativos interessantes. Esse experimento depende um pouco das condic¸o˜es de umidade do meio am- biente no momento de sua realizac¸a˜o. Voceˆ vai necessitar dos seguintes materiais: • Um pente de pla´stico simples. • Papel cortado em pedac¸os bem pequenos. Coloque os pedacinhos de papel sobre uma mesa ou ta´bua. Em seguida, aproxime o pente dos pedacinhos. O que voceˆ observa? Anote esse resultado. Esfregue agora o pente no cabelo (seu ou de um colega). O ato de pentear o cabelo va´rias vezes ja´ e´ suficiente. Aproxime novamente o pente dos pedacinhos de papel. O que voceˆ observa? Houve alguma alterac¸a˜o em relac¸a˜o ao procedimento anterior? Anote o novo resultado. Os resultados que voceˆ deve ter observado esta˜o relacionados a` auseˆncia ou presenc¸a de cargas ele´tricas no pente e nos pape´is. Mais adiante voceˆ ja´ tera´ condic¸o˜es de fazer uma ana´lise mais detalhada desses resultados e entendeˆ-los melhor. Por enquanto, apenas fac¸a as anotac¸o˜es, observando cada detalhe. Cargas puntiformes sa˜o cargas associadas a um ponto no espac¸o, e portanto na˜o teˆm dimensa˜o. Vejamos, agora, como a lei fundamental de interac¸a˜o entre cargas ele´tricas, a Lei de Coulomb, foi finalmente estabelecida. Franz Aepinus escreveu o primeiro livro aplicando a Matema´tica a` eletricidade e ao magnetismo. O livro, Tentamen theoriae eletricitats et magnetismi, foi publicado em 1759. A forc¸a entre duas cargas puntiformes: a Lei de Coulomb Foi um cientista raramente mencionado nos livros dida´ticos da a´rea (a bibliografia esta´ no final do mo´dulo), de nome Franz Maria Ulrich Theodosius Aepinus (1724-1802), quem sugeriu pela primeira vez que a forc¸a entre cargas ele´tricas esta´ticas deveria diminuir, por um lado, com o 9 CEDERJ A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb aumento da distaˆncia entre elas e, por outro lado, deveria aumentar com a diminuic¸a˜o dessa distaˆncia. Entretanto, Aepinus na˜o sugeriu como a forc¸a entre cargas esta´ticas dependia da distaˆncia, isto e´, a lei de forc¸a. Em 1753, o ingleˆs Henry Cavendish (1731-1810), talvez mais conhecido dos estudan- tes pela determinac¸a˜o experimentalda constante universal de gravitac¸a˜o G, realizou experieˆncias com distribuic¸o˜es de cargas esta´ticas. Essas experieˆncias o levaram a concluir que a intensidade da forc¸a entre duas cargas ele´tricas e´ da forma ‖�F‖ ∼ 1 rx , onde r e´ a distaˆncia entre as cargas e x e´ um nu´mero real positivo. Em 1785, Charles Agustin Coulomb (1736-1806) publicou o pri- Charles Agustin Coulomb nasceu em 14 de junho de 1736 em Angouleˆme, no sul da Franc¸a, em uma famı´lia de posic¸a˜o social elevada. Coloumb seguiu a carreira de engenheiro militar. Era grande conhecedor da teoria e pra´tica da balanc¸a de torc¸a˜o, que utilizou no estudo da eletrosta´tica. meiro dos sete trabalhos que escreveu sobre eletricidade e magnetismo. Dois anos depois, em 1787, publicou o segundo. Nesses dois trabalhos, Coulomb apresentou os aspectos mais relevantes da lei de forc¸a que rege as interac¸o˜es eletrosta´ticas. Embora controvertidas – e, para muitos, inconclusivas, as experieˆncias de Coulomb consolidaram o modelo gravitacional do inverso do quadrado no contexto eletrosta´tico. Cou- lomb utilizou balanc¸as de torc¸a˜o para verificar fenoˆmenos ele´tricos repulsivos e atrativos. Escrita em notac¸a˜o matema´tica vetorial moderna, a Lei de Coulomb no va´cuo se leˆ: O va´cuo cla´ssico e´ o espac¸o livre de mate´ria e energia. No cotidiano, usamos o termo va´cuo para designar o espac¸o com uma densidade de mate´ria muito baixa. O termo va´cuo e´ usual em tecnologia para referir-se a um espac¸o ocupado por um ga´s sob pressa˜o inferior a` ambiente. As te´cnicas de obtenc¸a˜o de va´cuo sa˜o de grande importaˆncia em pesquisas, tais como part´ıculas elementares. O va´cuo pode ser obtido usando equipamentos especiais, chamados de bombas de va´cuo. �F12 = Ke q1q2 r212 rˆ12 (1.1) onde �F12 e´ a forc¸a que a carga puntiforme q1 exerce sobre a carga puntiforme q2, rˆ12 := (�r2 − �r1) ‖�r2 − �r1‖ , e´ o vetor unita´rio cuja direc¸a˜o e´ dada pelo segmento de reta que une as cargas q1 e q2 com o sentido de q1 para q2; r12 := ‖�r2−�r1‖ e´ a distaˆncia entre as duas cargas. A Figura 1.1 ilustra a representac¸a˜o vetorial da Lei de Coulomb. Como essa lei obedece a` Terceira Lei de Newton, a forc¸a que q2 exerce sobre q1 tem a mesma intensidade, a mesma direc¸a˜o e sentido oposto ao da forc¸a que q1 exerce sobre q2, isto e´: �F21 = −�F12. Nunca e´ demais lembrar que o par ac¸a˜o e reac¸a˜o atua sobre corpos distintos. A constante Ke depende do sistema de unidades utilizado. No Sistema Internacional, a forc¸a e´ dada em CEDERJ 10 A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 newtons, a distaˆncia em metros e as cargas em coulomb. Portanto, a unidade de Ke e´ newton metro2 coulomb2 (1.2) Figura 1.1: Representac¸a˜o vetorial da Lei de Coulomb. Continuac¸a˜o do experimento do pente eletrizado Pegue suas anotac¸o˜es, referentes ao experimento que voceˆ realizou com o pente. O que ocorreu quando o pente, rece´m-esfregado no cabelo, foi aproximado dos pedacinhos de papel? A interac¸a˜o ocorrida foi do tipo atrativa ou repulsiva? Supondo que existam cargas ele´tricas no pente e nos pedacinhos de papel, o que podemos afirmar com relac¸a˜o ao tipo de carga em cada um deles? Exerc´ıcio 1.1 Para a constituic¸a˜o dos a´tomos e mole´culas, a forc¸a de Coulomb e´ muito mais importante que a forc¸a gravitacional. Considere, por exemplo, um a´tomo de hidrogeˆnio, que e´ uma estrutura formada por um ele´tron e um pro´ton. Calcule a raza˜o entre o mo´dulo da forc¸a gravitacional ‖�Fg‖ e o da forc¸a eletrosta´tica ‖�Fe‖ entre o ele´tron e o pro´ton e mostre que ‖�Fg‖ ‖�Fe‖ ≈ 2, 3 × 10−39. As constantes de que voceˆ necessita esta˜o na Tabela I no final do mo´dulo. 11 CEDERJ A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb A lei emp´ırica, descoberta por Coulomb, resume o acervo de fatos ex- perimentais sobre a eletrosta´tica, acumulados, analisados e discutidos por gerac¸o˜es de pesquisadores. O eletrosco´pio foi inventado em 1748 por Jean-Antoine Nollet (1700-1770), padre franceˆs, f´ısico experimental e um dos l´ıderes da Academia Parisiense de Cieˆncias. Nollet foi o primeiro professor de F´ısica Experimental da Universidade de Paris. Exerc´ıcio 1.2 A forc¸a gravitacional entre duas massas puntiformes (a Lei da Gravitac¸a˜o Universal de Newton) e a forc¸a eletrosta´tica entre duas cargas puntiformes (a Lei de Coulomb) guardam semelhanc¸as entre si; mas, como podemos observar, guardam tambe´m diferenc¸as. Mencione duas semelhanc¸as e duas diferenc¸as importantes entre essas duas leis fundamentais da Natureza. Quantos tipos de massa existem? Quantos tipos de carga existem? Resposta comentada: Em ambas as leis, a forc¸a de interac¸a˜o varia com o produto de massas ou cargas, e com o inverso do quadrado da distaˆncia. So´ existe um tipo de massa, e dois tipos de carga. A forc¸a eletrosta´tica e´ atrativa quando as cargas sa˜o opostas e e´ repulsiva quando as cargas sa˜o de mesmo tipo. Ja´ na lei gravitacional, embora as massas sejam apenas de um tipo, a forc¸a e´ sempre atrativa. Existe um instrumento muito simples, chamado eletrosco´pio, esque- matizado na Figura 1.2, que e´ capaz de evidenciar a existeˆncia de cargas ele´tricas e o efeito da interac¸a˜o entre elas. O eletrosco´pio e´ uma ampola de vidro em cuja tampa esta´ pendurada uma haste de cobre. Na extremidade da haste que esta´ dentro da ampola, esta´ pendurada uma fita de material meta´lico (papel-alumı´nio, por exemplo). A outra extremidade da haste fica para fora da ampola. CEDERJ 12 A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 Figura 1.2: Esquematizac¸a˜o de um eletrosco´pio: (a) ampola de vidro, (b) tampa, (c) haste meta´lica, (d) folha meta´lica. Vamos supor que uma superf´ıcie carregada de cargas positivas, por exemplo uma haste de pla´stico, ou mesmo um pente, seja aproximada da ponta externa da haste. Veja a Figura 1.3. A presenc¸a das cargas positivas pro´ximas a` extremidade meta´lica da haste faz com que suas cargas negativas se reordenem, conforme mostra a Figura 1.3. Tal processo e´ conhecido como induc¸a˜o de cargas e, por sua vez, tambe´m induz o aparecimento de cargas na fita meta´lica no interior da ampola, mas com sinal contra´rio. Como as cargas na fita meta´lica sa˜o de mesmo sinal, suas extremidades se repelem, e o que se observa e´ o afastamento entre elas. Note que a forc¸a ele´trica de repulsa˜o precisa vencer a forc¸a gravitacional que mante´m as fitas na vertical. Uma maneira de garantir isso e´ utilizar fitas de pouca massa (fitas muito finas, por exemplo). Mas fitas com pouca massa podem sofrer influeˆncias externas, como movimentos devido a correntes de ar. Essa e´ uma das razo˜es do uso da ampola. A ampola de vidro protege as fitas meta´licas e garante o bom funcionamento do eletrosco´pio. A ampola tambe´m garante que a umidade ao redor das fitas na˜o varia. O eletrosco´pio funciona em qualquer lugar, independentemente das condic¸o˜es de umidade do ambiente. 13 CEDERJ A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb Figura 1.3: Induc¸a˜o de cargas ele´tricas por aproximac¸a˜o de uma superf´ıcie carregada. Experimento 2: O eletrosco´pio Os po´los teˆm, a` sua disposic¸a˜o, um eletrosco´pio simples. Com ele, voceˆ podera´ realizar experimentos simples para verificar a existeˆncia de cargas ele´tricas. Material necessa´rio: • eletrosco´pio; • haste de Teflon� ou outro material pla´stico; • haste meta´lica; • flanela seca. Siga as instruc¸o˜es: 1. Pegue a haste de Teflon�. Esfregue-a va´rias vezes com a flanela. Observe com cuidado a posic¸a˜o da fita no interior do eletrosco´pio.Aproxime a haste da extremidade externa do eletrosco´pio. Observe e anote o comportamento da fita no interior do mesmo. 2. Repita o procedimento anterior usando a haste meta´lica. Observe cuidadosamente suas anotac¸o˜es e explique seus resultados com base no que voceˆ aprendeu, ate´ aqui, a respeito das cargas ele´tricas. Teflon�, aqui, refere-se ao material pla´stico e na˜o ao recobrimento usualmente encontrado em panelas antiaderentes. CEDERJ 14 A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 A permissividade ele´trica � No Sistema Internacional (SI) de unidades que utilizaremos aqui, a constante material Ke se escreve: Ke = 1 4π� , (1.3) onde a constante � – a permissividade ele´trica do meio – caracteriza as propriedades ele´tricas do meio homogeˆneo e isotro´pico em torno das Meio homogeˆneo e´ aquele em que as propriedades f´ısicas sa˜o as mesmas em todos os pontos. Meio isotro´pico e´ aquele em que as propriedades f´ısicas sa˜o independentes da direc¸a˜o em que sa˜o observadas. duas cargas puntiformes. Futuramente faremos um estudo mais detalhado da permissividade ele´trica, quando tratarmos de campos ele´tricos. No caso em que o meio e´ o va´cuo cla´ssico, temos: Ke = 1 4π�0 , (1.4) onde �0 = 8, 85418782 × 10−12 coulomb 2 newton metro2 . (1.5) A constante �0 e´ a permissividade do va´cuo e seu valor e´ determinado experimentalmente. Para ca´lculo simples, o valor de �0 pode ser aproximado para �0 ∼= 8, 9× 10−12 C2N·m2 . Se o meio e´ o ar, Kar ≈ Kva´cuo. Veremos posteriormente que, para os meios materiais mais comuns, a permissividade ele´trica pode ser escrita na forma � = �rel�0, onde �rel e´ a permissividade relativa. Para o va´cuo, �rel = 1. O Princ´ıpio da Superposic¸a˜o Consideremos treˆs cargas puntiformes de valores iguais a q1, q2 e q3, respectivamente, cujas distaˆncias relativas entre si permanecem fixas. Que- remos calcular a forc¸a sobre a carga q3. Como proceder? Uma soluc¸a˜o e´ aplicar a Lei de Coulomb ao par formado por q1 e q3 e, em seguida, ao par formado por q2 e q3, obtendo as forc¸as �F13 e �F23 respectivamente. Final- mente, devemos somar os resultados individuais vetorialmente. Ou seja, a forc¸a resultante sobre q3, devido a`s cargas q1 e q2, seria a soma vetorial: �F3 = �F13 + �F23, ou ainda: �F3 = 1 4π�0 q1q3 r213 rˆ13 + 1 4π�0 q2q3 r223 rˆ23. 15 CEDERJ A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb Esse procedimento parece lo´gico e aparentemente simples. Observe a Figura 1.4, que o ilustra geometricamente. Figura 1.4: O Princ´ıpio da Superposic¸a˜o. A forc¸a resultante sobre q3 e´ a soma vetorial das forc¸as exercidas por q1 e q2 separadamente. Do ponto de vista matema´tico, ele esta´ justificado pela a´lgebra linear. Entretanto, devemos refletir sobre ele. A reflexa˜o nos levara´ a` pergunta: tal procedimento corresponde a uma realidade experimental? A Natureza na˜o tem obrigac¸a˜o de obedecer ao que por vezes, de modo ingeˆnuo, chamamos lo´gica. Embora ela admita uma descric¸a˜o matema´tica de muitos fenoˆmenos, a priori essa descric¸a˜o na˜o tem por que ser linear. Felizmente, os experi- mentos mostram que o procedimento e´ correto. Esse modo de calcular a forc¸a eletrosta´tica resultante, devido a` interac¸a˜o eletrosta´tica entre uma dis- tribuic¸a˜o de cargas puntiformes e uma carga de teste, e´ chamado Princ´ıpio da Superposic¸a˜o. No´s o utilizaremos muitas e muitas vezes no decorrer do curso. Mas conve´m ter sempre em mente que os fundamentos da sua utilizac¸a˜o sa˜o emp´ıricos e na˜o lo´gicos. CEDERJ 16 A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 Exemplo 1.1. Uma aplicac¸a˜o simples do Princ´ıpio da Superposic¸a˜o Duas cargas puntiformes q1 = 5,0µC e q2 = −5,0µC esta˜o separadas por uma distaˆncia de 10cm. Queremos determinar a forc¸a sobre uma terceira carga q3 = 2,0µC, colocada sobre a mediatriz do segmento de reta que une q1 e q2, a uma distaˆncia de 5cm do ponto me´dio desse segmento. A Figura 1.5 ilustra a situac¸a˜o: Figura 1.5: Uma aplicac¸a˜o simples do Princ´ıpio da Superposic¸a˜o. Soluc¸a˜o. Pelo Princ´ıpio da Superposic¸a˜o, podemos escrever: �F3 = �F13 + �F23. Por simetria, podemos escrever F13,⊥ = −F23,⊥, onde o s´ımbolo ⊥ de- nota componente perpendicular ao segmento de reta que une as cargas q1 e q2; por outro lado, temos F3,\\ = F13,\\ + F23,\\ = 2F13,\\, onde o s´ımbolo \\ denota a componente paralela ao segmento de reta que une as cargas q1 e q2. Podemos enta˜o escrever 2F13,\\ = 2‖�F13‖ cos θ, ou ainda: F3,\\ = 2× 1 4π�0 q1 q3 r2 cos θ. Como θ = π/4, temos: F3,\\ = 2× 9 × 109N ·m 2 C2 ( 5 × 10−6 C)2 √ 2/2 (1 × 10−2m)2 ≈ 3N. 17 CEDERJ A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb Exemplo 1.2. Outra aplicac¸a˜o simples do Princ´ıpio da Superposic¸a˜o. Treˆs cargas iguais de valor q1 = q2 = q3 = e = 1.6 × 10−19C sa˜o colocadas nos ve´rtices de um triaˆngulo equ¨ila´tero de lado igual a 1,64A˚. Queremos calcular a forc¸a eletrosta´tica sobre uma das cargas. Soluc¸a˜o. Considere a carga indicada na Figura 1.6 Figura 1.6: A forc¸a resultante sobre q3 = −e e´ a soma vetorial das forc¸as exercidas por q1 = −e e q2 = −e. A intensidade da forc¸a resultante sobre esta carga e´: ‖�F3‖ = √ ‖�F13‖2 + ‖�F23‖2 + 2‖�F13‖‖�F23‖ cos π 3 . Por simetria, temos ‖�F13‖ = ‖�F23‖, logo: ‖�F3‖ = √ 2‖�F13‖2 ( 1 + cos π 3 ) . Lembrando que cos π/3 = 1/2, obtemos: ‖�F3‖ = √ 3‖�F13‖ = √ 3× 9, 0 × 109 (1, 6 × 10 −19)2 (1, 64× 10−10)2N ≈ 1, 56 × 10 11N. A forc¸a resultante forma um aˆngulo de π/6 radianos em relac¸a˜o a` reta que une as cargas q1 e q3. CEDERJ 18 A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 A conservac¸a˜o da carga ele´trica Na Natureza, a carga ele´trica total de um sistema isolado na˜o e´ nunca criada ou destru´ıda, mas sim conservada. Isso foi sugerido pela primeira vez por volta de 1746, por William Watson (1715-1789). Hoje em dia, esse aspecto importante da propriedade da mate´ria, que denominamos carga ele´trica, esta´ firmemente comprovado por muitas experieˆncias. Descrevere- mos a seguir um experimento moderno, projetado por Wolfgang Rueckner, Douglass Goodale, Daniel Rosenberg e David Tavilla, da Universidade Har- vard, capaz de demonstrar a conservac¸a˜o da carga ele´trica. O experimento e´ ilustrado na Figura1.7. Figura 1.7: Esquematizac¸a˜o da demonstrac¸a˜o experimental da conservac¸a˜o da carga ele´trica. Se atritarmos uma pele de coelho em uma superf´ıcie de Teflon� havera´ uma transfereˆncia de cargas negativas (ele´trons) da pele de coelho para o Teflon�. Como resultado, o Teflon� fica negativamente carregado e a pele de coelho positivamente carregada. Entretanto, a quantidade de carga ele´trica que encontramos em cada um desses materiais e´, em valor absoluto, igual, embora os sinais alge´bricos sejam opostos. O principal problema com experieˆncias de eletrosta´tica e´ medir as cargas antes que os corpos eletrizados percam a carga acumulada para a atmosfera ou para outros corpos. No laborato´rio, isso pode ser contornado do seguinte modo: conectamos dois cilindros de alumı´nio separadamente a dois eletroˆmetros, instrumentos capazes de medir carga ele´trica. Um dos ci- 19 CEDERJ A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb lindros e´ internamente revestido com Teflon�, o outro na˜o. Os cilindros sa˜o alinhados de modo a formar quase um u´nico cilindro, pois ha´ uma pequena separac¸a˜o de um a dois cent´ımetros entre eles; veja a Figura 1.7. E´ preciso tambe´m assegurar que os cilindros meta´licos tenham a mesma capacidade de armazenar carga. Isso e´ poss´ıvel conectando cadacilindro a um capacitor. Agora fazemos deslizar a pele de coelho por dentro dos cilindros, pu- xando-a por meio de um fio na˜o-condutor, primeiro pelo cilindro revestido de Teflon� e depois pelo cilindro meta´lico sem revestimento. A pele de coelho produzira´, por atrito, um excesso de cargas negativas no primeiro cilindro. Esse excesso de carga negativa aparecera´ como uma indicac¸a˜o de carga nega- tiva no eletroˆmetro. A seguir, puxamos a pele de coelho atrave´s do segundo cilindro de alumı´nio. A pele de coelho carregada entra em contato com a superf´ıcie do segundo cilindro, e ha´ uma redistribuic¸a˜o das cargas ele´tricas. Se a Lei da Conservac¸a˜o da Carga for verdadeira, o segundo eletroˆmetro in- dicara´ uma carga ele´trica positiva, igual em valor absoluto a` indicada pelo eletroˆmetro conectado ao primeiro cilindro. Isso significara´ que a quantidade de carga negativa e´ igual a` quantidade de carga positiva e que a carga total e´ conservada. E e´ o que acontece com uma precisa˜o de quase 100%!, exce- lente, portanto, para uma experieˆncia relativamente rudimentar. Antes de iniciarmos o experimento, a carga total na pele de coelho e nos cilindros era nula; ao final, continuamos com carga total nula. Exerc´ıcio 1.3 Suponha que, no experimento sobre a conservac¸a˜o da carga ele´trica descrito no texto, o segundo cilindro carregado seja conectado momentaneamente a` Terra (neutralizado-se eletricamente) e, depois, conectado ao primeiro, o qual, lembre-se, ainda esta´ carregado. Qual sera´ a leitura nos eletroˆmetros? Resposta: A leitura sera´ a mesma e indicara´ metade da carga que havia no primeiro cilindro, pois a carga ira´ se dividir entre eles. CEDERJ 20 A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 Exerc´ıcio 1.4 Suponha que, no experimento de Rueckner sobre a conservac¸a˜o da carga ele´trica, os dois cilindros tenham adquirido uma carga igual em valor abso- luto. Os dois cilindros sa˜o, enta˜o, ligados entre si. Qual sera´ a leitura nos eletroˆmetros? Reposta: Zero Sa˜o inu´meros os exemplos da manifestac¸a˜o da Lei da Conservac¸a˜o da Carga Ele´trica total em um sistema isolado. Um dos mais espetaculares e´ o processo de criac¸a˜o de pares formados por uma part´ıcula carregada e sua correspondente antipart´ıcula. Sob certas condic¸o˜es, um fo´ton de alt´ıssima energia da´ origem a um par de cargas de mesmo valor absoluto, pore´m de sinais alge´bricos opostos, por exemplo, um ele´tron e um po´sitron. O fo´ton (γ) tem carga ele´trica nula, o ele´tron (e−) tem uma unidade de carga ele´trica fundamental negativa – veja a sec¸a˜o seguinte – e o po´sitron (e+), uma unidade de carga ele´trica fundamental positiva. O processo de decaimento e´ descrito pela fo´rmula γ → e− + e+. Antes do decaimento, t´ınhamos carga total nula; depois, continuamos com carga total nula, ja´ que a soma alge´brica no lado direito da equac¸a˜o que descreve o decaimento e´ tambe´m nula. Figura 1.8: Criac¸a˜o de pares. Nossa confianc¸a na Lei de Conservac¸a˜o da Carga Ele´trica e´ tanta que, em algumas situac¸o˜es, ela nos leva a prever fenoˆmenos ainda na˜o observados. 21 CEDERJ A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb E´ o caso da radiac¸a˜o Hawkings, sugerida teoricamente pelo f´ısico britaˆnico Stephen Hawkings. Stephen Hawkings e´ um f´ısico ingleˆs, nascido em Oxford em 1942. Professor da Universidade de Cambridge, Inglaterra, onde ocupa a cadeira anteriormente ocupada por Newton, dedicou grande parte do seu trabalho aos estudos matema´ticos sobre a origem do Universo, na teoria conhecida como Big Bang, e ao estudo de buracos negros. Publicou alguns livros de divulgac¸a˜o cient´ıfica connecidos tais como Uma breve histo´ria do tempo (1988), Os buracos negros (1992) e, mais recentemente, O universo em uma casca de no´z (2002). Perto de um buraco negro pode haver criac¸a˜o de pares de part´ıculas Os buracos negros sa˜o corpos celestes cuja densidade de massa e´ infinitamente grande (uma massa muito grande contida em um volume muito pequeno). O campo gravitacional em torno desses corpos e´ colossalmente grande, e nem mesmo a luz pode escapar, por isso na˜o podem ser vistos. A expressa˜o “buraco negro” foi adotada pela primeira vez pelo cientista norte-americano John Wheeler, em 1969, para descrever uma ide´ia surgida 200 anos antes. Em 1783, o professor de Cambridge John Michell escreveu um trabalho, onde disse que poderia haver uma estrela compacta com massa suficiente para que nem a luz pudesse escapar de sua atrac¸a˜o gravitacional. Alguns anos depois, Laplace fez a mesma proposic¸a˜o, de forma independente, mas so´ a incluiu nas duas primeiras edic¸o˜es de seu livro O sistema do mundo. ele´tron-pos´ıtron, como na Figura 1.9. O que cria o par de part´ıculas e´ o campo gravitacional muito intenso do buraco negro. Um dos componentes do par, digamos, o pos´ıtron, e´ tragado pelo buraco negro; o outro, agora sem seu parceiro, torna-se observa´vel como radiac¸a˜o Hawkings, ao mesmo tempo que o buraco negro adquire carga ele´trica. Figura 1.9: Radiac¸a˜o Hawkings. A quantizac¸a˜o da carga ele´trica Na maior parte das vezes, e´ poss´ıvel pensar na carga ele´trica como uma propriedade da mate´ria que, do ponto de vista quantitativo, pode assumir valores reais continuamente, desde −∞ ate´ +∞. Por exemplo, para o enge- nheiro que projeta um circuito, e´ natural pensar na corrente ele´trica – isto e´, na carga ele´trica em movimento – como um fluido carregado. No´s mesmos, em muitos momentos deste curso, imaginaremos os fenoˆmenos ele´tricos como cont´ınuos. A natureza granular da carga ele´trica so´ pode ser percebida sob certas condic¸o˜es experimentais. Em nossa vida dia´ria, a eletricidade se revela como uma propriedade cont´ınua da mate´ria. Entretanto, hoje sabemos que a carga ele´trica que um corpo material eventualmente possui na˜o e´ cont´ınua, mas e´ um mu´ltiplo inteiro de uma unidade ba´sica de carga. Experimental- CEDERJ 22 A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 mente, o valor da carga ele´trica fundamental e´ dado em unidades do Sistema Internacional por: e = 1, 60217733× 10−19C. Para os ca´lculos que voceˆ fara´ ao longo deste curso, podemos usar o valor aproximado: e ≈ 1,60× 10−19C. Essa aproximac¸a˜o implicara´ uma incerteza menor que 0,2%. Qualquer valor q para a carga ele´trica de um corpo eletrizado e´ um mu´ltiplo inteiro desse valor fundamental, isto e´, q = ne, n ∈ {0,±1,±2, ...}. A quantizac¸a˜o da carga ele´trica foi verificada experimentalmente pela primeira vez em 1909, em um experimento cla´ssico, realizado porRobert A. Millikan. Analisaremos esse experimento mais adiante, quando estudarmos Robert Andrews Millikan (1868-1953), f´ısico americano ganhador do preˆmio Nobel de 1923 por seus trabalhos na determinac¸a˜o do valor da carga do ele´tron. o movimento de part´ıculas carregadas sob a ac¸a˜o de forc¸as eletrosta´ticas. Exerc´ıcio 1.5 Calcule o nu´mero de ele´trons que deveriam ser arrancados do planeta Terra e de seu sate´lite, a Lua, para que a repulsa˜o coulombiana igualasse a atrac¸a˜o gravitacional. Resposta: 3, 58 × 1032 ele´trons. Leituras complementares Sugerimos a leitura de alguns livros que tambe´m tratam de to´picos abordados nesta aula. Voceˆ pode consultar como material complementar, por exemplo: HALLIDAY,David.; RESNICK, Robert.; WALKER, E Jearl. F´ısica. v.3: eletromagnetismo. 5.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. Cap. 22. NUSSENZVEIG, H. Moyse´s. Curso de F´ısica Ba´sica. Sa˜o Paulo: Edgard Blu¨cher, v.:3: eletromagnetismo, 1997. TIPLER, PaulA. F´ısica para cientistas e engenheiros. 4.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. v.2. 23 CEDERJ A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb Atividades Finais Os problemas a seguir servem para verificar os conhecimentos que voceˆ adquiriu nesta aula. O grau de dificuldade vai de fa´cil a moderadamente dif´ıcil. Voceˆ so´ deve passar para a aula seguinte se conseguir resolver to- dos. Discuti-los em grupos de dois ou treˆs colegas pode ser uma boa ide´ia. Na˜o hesite em pedir orientac¸a˜o ao tutor, mas na˜o espere que ele resolva os problemas para voceˆ! Problema 1.1: Uma certa carga fixa Q deve ser dividida em duas partes, Q− q e q. Mostre que a relac¸a˜o entre Q e q para que a repulsa˜o coulombiana seja ma´xima e´ q = Q/2. Problema 1.2: A forc¸a coulombiana de atrac¸a˜o entre duas cargas punti- formes de 1C, sinais opostos e separadas por uma distaˆncia de 1m vale, em magnitude, aproximadamente 9 × 109N. Para ter uma ide´ia melhor do que isso significa, e´ mais proveitoso fazer comparac¸o˜es. Por exemplo, determine o tamanho que deve ter a aresta de um cubo de chumbo para que ele pese 9× 109N. A densidade do chumbo e´ ρPb = 1,13 × 104kg/m3. Problema 1.3: Uma carga puntiforme de 1,0µC e´ colocada em treˆs dos quatro ve´rtices de um quadrado com 20,0cm de lado (veja Figura 1.10). Determine a forc¸a coulombiana resultante (mo´dulo, direc¸a˜o e sentido) sobre uma carga puntiforme de 3,0µC, se esta for colocada no centro do quadrado. Explique como seria poss´ıvel manter esse arranjo em equil´ıbrio mecaˆnico. Figura 1.10: Problema 1.3. CEDERJ 24 A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 Problema 1.4: Refac¸a o problema anterior para o caso em que a carga de 3,0µC for colocada no ve´rtice vazio do quadrado. Se uma carga adicio- nal de 1,0µC for colocada no centro do quadrado, qual sera´ a forc¸a ele´trica resultante sobre ela? Problema 1.5: Considere duas esferas ideˆnticas carregadas e suspensas por meio de fios de seda de comprimento �, como ilustrado na Figura 1.11. Ambas as esferas teˆm raio a, massa M e carga q, e seus respectivos centros geome´tricos esta˜o separados por uma distaˆncia fixa d. Figura 1.11: Problema 1.5. (a) Em que condic¸o˜es podemos aplicar a Lei de Coulomb para descrever a repulsa˜o eletrosta´tica entre as esferas? Justifique cuidadosamente a sua resposta. (b) Obtenha uma expressa˜o para a distaˆncia x em func¸a˜o de q, �, M e g, va´lida para pequenos afastamentos da posic¸a˜o vertical. Problema 1.6: A Figura 1.12 representa uma variante do Problema 1.5. A principal diferenc¸a e´ que os pontos de suspensa˜o A e B esta˜o separados por uma distaˆncia fixa d. (a) Mostre que: (2� sin θ + d)2 tan θ = q2 4π�0 mg . (b) De que modo esse arranjo poderia ser empregado para testar a Lei de Coulomb? 25 CEDERJ A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb Figura 1.12: Problema 1.6. Problema 1.7: Considere a configurac¸a˜o de cargas puntiformes mostradas na Figura 1.13. (a) Obtenha uma expressa˜o para a forc¸a resultante �F0 (x) sobre a carga de prova q0, como func¸a˜o da distaˆncia x entre a carga de prova e a carga q2 = −2q. (b) A partir do resultado anterior, obtenha uma expressa˜o aproximada para �F0 (x) no limite em que a/x 1. (c) Repita o ca´lculo anterior no limite em que x/a 1. Figura 1.13: Problema 1.7. Para esta configurac¸a˜o, q1 = q3 = q, q2 = −2q e q4 = q0. Problema 1.8: A Figura 1.14 mostra cinco cargas puntiformes, de mesmo valor, dispostas sobre um semic´ırculo de raio a. A distaˆncia entre duas cargas cont´ıguas quaisquer e´ a mesma. (a) Determine uma expressa˜o para a forc¸a resultante �F0 (x) sobre uma carga de prova q0 colocada a uma distaˆncia x do ponto O. (b) A partir do resultado anterior, obtenha uma expressa˜o aproximada para �F0 (x) no limite em que a/x 1. CEDERJ 26 A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 Figura 1.14: Problema 1.8. Para a configurac¸a˜o mostrada na figura, q1 = q2 = q3 = q4 = q5 = q, q6 = q0. Problema 1.9: A Figura 1.15 representa um modelo simples para a colisa˜o entre uma part´ıcula alfa, α, o nu´cleo do a´tomo de he´lio, qα = +2e e uma mole´cula de hidrogeˆnio, H2 (na˜o fac¸a confusa˜o com o hidrogeˆnio atoˆmico!). A part´ıcula α move-se sobre uma trajeto´ria perpendicular ao eixo internu- clear, em que temos dois pro´tons puntiformes, ou seja, sem estrutura interna, separados por uma distaˆncia D. Os ele´trons da mole´cula sa˜o representados por uma nuvem sime´trica de carga igual a −2e. Suponha que a velocidade da part´ıcula α seja muito alta e despreze a interac¸a˜o dela com a nuvem eletroˆnica. (a) Determine uma expressa˜o para a forc¸a coulombiana sobre a part´ıcula α quando ela se encontra a uma distaˆncia x do centro da mole´cula, o ponto P na Figura 1.15. (b) Para que valor de x essa forc¸a e´ ma´xima? Figura 1.15: Problema 1.9. Problema 1.10: A disposic¸a˜o geome´trica da mole´cula de amoˆnia, NH3, pode ser descrita por um tetraedro regular de aresta igual a 1,64A˚; os treˆs ı´ons de H+ ocupam os ve´rtices da base do tetraedro e o ı´on N3−, o ve´rtice remanescente. Veja a Figura 1.16. Calcule: (a) A forc¸a eletrosta´tica sobre um ı´on H+. 27 CEDERJ A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb (b) A forc¸a eletrosta´tica sobre o ı´on N3−. Figura 1.16: Problema 1.10. Mole´cula de amoˆnia. A ligac¸a˜o e´ ioˆnica, os treˆs hi- drogeˆnios cedem seus ele´trons para o nitrogeˆnio, que adquire carga igual a −3e. O Problema 1.2 mostra a intensidade das interac¸o˜es ele´tricas. O fato de que um objeto so´lido na˜o entrar em outro se deve a essas interac¸o˜es. Se fosse poss´ıvel inspecionar o ponto de contato entre dois objetos colocados um sobre o outro, seria poss´ıvel ver que eles nem mesmo chegam a se tocar! A repulsa˜o coulombiana impede o contato total. Resumo As bases da eletrosta´tica sa˜o fundamentalmente emp´ıricas. A Lei de Coulomb e´ uma s´ıntese de fatos experimentais, acumulados ao longo de mui- tos anos. A carga ele´trica e´ uma propriedade da mate´ria, podendo ser tanto positiva quanto negativa. A Lei de Coulomb descreve a forc¸a de interac¸a˜o existente entre cargas ele´tricas puntiformes e e´ escrita na forma: �F12 = Ke q1q2 r212 rˆ12. A Lei de Coulomb segue o Princ´ıpio da Superposic¸a˜o; ou seja, a forc¸a em uma determinada carga q e´ a resultante de todas as forc¸as devido a todas as cargas ao seu redor. A Lei de Coulomb e o Princ´ıpio da Superposic¸a˜o sa˜o aplica´veis em diferentes configurac¸o˜es de cargas ele´tricas. Na Natureza, a carga ele´trica total de um sistema isolado na˜o e´ nunca criada ou destru´ıda, mas sim conservada. A carga ele´trica que um corpo material eventualmente CEDERJ 28 A interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb MO´DULO 1 - AULA 1 possua na˜o e´ cont´ınua, mas um mu´ltiplo inteiro de uma unidade ba´sica cujo valor e´ igual a` carga do ele´tron: e = 1, 60217733× 10−19C. Auto-Avaliac¸a˜o Agora que voceˆ chegou ao final desta aula, deve saber explicar os re- sultados observados nos experimentos com o pente eletrizado e com o ele- trosco´pio. Se na˜o souber, volte a ler as duas primeiras sec¸o˜es desta aula (Introduc¸a˜o e Lei de Coulomb). Voceˆ deve ter condic¸o˜es de resolver, no mı´nimo, os problemas de 1 a 8. Caso tenha tido dificuldades com eles, volte a ler as sec¸o˜es Lei de Coulomb e Princ´ıpio da Superposic¸a˜o. Veja tambe´m os exemplos 1.1 e 1.2. 29 CEDERJ O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga MO´DULO 1 - AULA 2 Aula 2 – O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga Meta da aula Apresentar o conceito de campo ele´trico e aplica´-lo a`s distribuic¸o˜es discretas de carga. Objetivos Ao final do estudodesta aula, voceˆ devera´ ser capaz de: • Perceber que a interac¸a˜o eletrosta´tica pode ser descrita por meio do conceito de campo ele´trico. • Aplicar o conceito de campo ele´trico a distribuic¸o˜es discretas de cargas ele´tricas. Pre´-requisitos Para que voceˆ possa acompanhar esta aula, e´ fundamental a leitura da Aula 1 deste mo´dulo, a interac¸a˜o eletrosta´tica: a Lei de Coulomb. Tambe´m e´ aconselha´vel que voceˆ revise a Aula 2, do Mo´dulo 4 do Volume 4 do curso de Introduc¸a˜o a`s Cieˆncias F´ısicas. Introduc¸a˜o Distribuic¸a˜o discreta de cargas ele´tricas e´ uma configurac¸a˜o formada por um nu´mero finito de cargas puntiformes. Na Aula 1 deste mo´dulo vimos que existem cargas ele´tricas e como elas interagem entre si. Foram apresentados e discutidos a Lei de Coulomb e o Princ´ıpio da Superposic¸a˜o. Nesta aula introduziremos o conceito de campo ele´trico e o aplicaremos a distribuic¸o˜es discretas de cargas ele´tricas. Como na aula anterior, nem tudo sera´ novidade, pois os grandes protagonistas sera˜o, novamente, a Lei de Coulomb e o Princ´ıpio da Superposic¸a˜o. O campo ele´trico O conceito de campo ele´trico surge diretamente da compreensa˜o da interac¸a˜o eletrosta´tica entre cargas, que ja´ foi vista na Aula 1 deste mo´dulo. 31 CEDERJ O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga Vamos, a seguir, relembrar como ocorre esta interac¸a˜o para um conjunto de va´rias cargas. Consideremos uma colec¸a˜o formada por N cargas puntiformes: q1, q2, ...qk...qN , colocadas em posic¸o˜es fixas, e uma carga puntiforme adicional q0. A esse tipo de arranjo de cargas puntiformes chamaremos distribuic¸a˜o discreta. A Lei de Coulomb foi estudada na Aula 1 deste mo´dulo, e na Aula 1 do Mo´dulo 4 do curso de Introduc¸a˜o a`s Cieˆncias F´ısicas. Vamos supor que a distribuic¸a˜o discreta esteja no va´cuo. A forc¸a ele- trosta´tica que uma das cargas da colec¸a˜o – digamos, a carga qk – exerce sobre a carga q0 e´ dada pela Lei de Coulomb: �F0k = 1 4π�0 qk q0 r20k rˆ0k (2.1) onde r0k = ‖�r0−�rk‖, e rˆ0k = (�r0 − �rk) /‖�r0−�rk‖ e´ o vetor unita´rio cuja direc¸a˜o e´ dada pelo segmento de reta que une qk a q0 e que tem sentido de qk para 0. Veja a Figura 2.1. Figura 2.1: Forc¸a eletrosta´tica que a carga qk exerce sobre a carga q0. A forc¸a eletrosta´tica total sobre a carga q0 pode ser calculada por meio da Lei de Coulomb e do Princ´ıpio da Superposic¸a˜o: �F0 = �F01 + �F02 + �F03 + · · ·+ �F0N (2.2) CEDERJ 32 O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga MO´DULO 1 - AULA 2 Como cada termo na Equac¸a˜o 2.2 e´ da forma dada pela Equac¸a˜o 2.1, podemos escrever: �F0 = 1 4π�0 q1 q0 r2 01 rˆ01 + 1 4π�0 q2 q0 r2 02 rˆ02 + 1 4π�0 q3 q0 r2 03 rˆ03 + . . .+ 1 4π�0 qN q0 r2 0N rˆ0N ou seja, �F0 = q0 4π�0 N∑ k=1 qk r2 0k rˆ0k (2.3) onde pusemos em evideˆncia os fatores comuns. Observe a Equac¸a˜o 2.3. Vamos verificar o que ocorre quando a dividi- mos por q0. Isso significa que temos �F0 q0 = 1 4π�0 N∑ k=1 qk r2 0k rˆ0k (2.4) Observe o termo da direita na Equac¸a˜o 2.4. Ele na˜o conte´m a carga q0. Podemos concluir que, na posic¸a˜o ocupada por essa carga q0, existe uma quantidade vetorial que depende exclusivamente da distribuic¸a˜o discreta das demais cargas e na˜o de q0. Assim, se na posic¸a˜o ocupada previamente pela carga q0 colocarmos (sem desmanchar o arranjo formado pelas cargas discre- tas) uma outra carga q ′0, a forc¸a sobre essa carga sera´ dada pela Equac¸a˜o 2.3 com q0 substitu´ıdo por q ′ 0. Esta e´ a base fundamental para a formulac¸a˜o do conceito de campo ele´trico. Estes fatos sugerem a possibilidade de descrever a eletrosta´tica de modo independente da carga que sofre a ac¸a˜o de uma dada distribuic¸a˜o fixa de cargas. Em outras palavras, a distribuic¸a˜o discreta de cargas puntiformes cria uma propriedade em cada ponto do espac¸o que pode ser descrita por uma grandeza vetorial. Se soubermos como calcular essa grandeza vetorial, podemos calcular a forc¸a eletrosta´tica sobre qualquer carga colocada em um ponto arbitra´rio desse espac¸o, tenha ela o valor q0, q ′ 0 ou qualquer outro. Essa grandeza vetorial recebe o nome de campo ele´trico e seu s´ımbolo matema´tico e´ �E. Observe novamente a Equac¸a˜o 2.4. Podemos identificar a quantidade �E(P ), ou seja, o campo ele´trico no ponto P como sendo: �F0 q0 = 1 4π�0 N∑ k=1 qk r2 0k rˆ0k = �E(P ) (2.5) 33 CEDERJ O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga ou seja, �F0 q0 = �E(P ) (2.6) Observe a Equac¸a˜o 2.6. Dela se pode deduzir que a unidade de campo ele´trico e´ definida como a divisa˜o entre unidades de forc¸a e unidades de carga. No Sistema Internacional (S.I.) de unidades, a unidade de campo ele´trico e´ o newton/coulomb, ou N/C. Formalmente, o campo ele´trico e´ definido por: �E (P ) := lim q0→0 �F 0 q0 (2.7) onde q0 → 0 agora representa uma carga puntiforme infinitesimal colocada em um ponto arbitra´rio P do espac¸o. A exigeˆncia de que a carga q0 seja arbitrariamente pequena serve para na˜o perturbar a distribuic¸a˜o de cargas discretas que gera o campo ele´trico no ponto de observac¸a˜o. Cargas infinite- simais que na˜o provocam rearranjos na distribuic¸a˜o de cargas discretas que geram o campo ele´trico sa˜o chamadas cargas de prova ou de teste, ou ainda cargas-teste. As cargas que geram o campo sa˜o chamadas cargas-fonte ou simplesmente fontes. No caso da distribuic¸a˜o discreta de cargas que estamos considerando, e observando a Equac¸a˜o 2.4, o campo ele´trico e´ dado por: �E (P ) = 1 4π�0 N∑ k=1 qk r2Pk rˆPk (2.8) onde agora rPk = ‖�rP − �rk‖, e rˆPk = (�rP − �rk) /‖�rP − �rk‖ e´ o vetor unita´rio cuja direc¸a˜o e´ dada pelo segmento de reta que une qk ao ponto arbitra´rio P do espac¸o e tem sentido de qk para P . Veja a Figura 2.2. CEDERJ 34 O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga MO´DULO 1 - AULA 2 Figura 2.2: O campo ele´trico no ponto de observac¸a˜o P e´ uma consequ¨eˆncia do Princ´ıpio da Superposic¸a˜o. O leitor mais atento na˜o deixara´ de se perguntar: o que acontece quando o ponto de observac¸a˜o coincide com a posic¸a˜o de uma das cargas da distri- buic¸a˜o discreta? A resposta e´: a Equac¸a˜o 2.8 na˜o e´ bem definida nesses pontos, isto e´, quando �rP − �rk = 0. Na˜o ha´ muito sentido em calcular o campo exatamente no ponto onde se encontra uma carga. Esses pontos sera˜o omitidos nos ca´lculos que envolvem o campo ele´trico. Exemplo 2.1. O campo ele´trico de uma carga puntiforme. Quando temos apenas uma carga puntiforme (N = 1), a Equac¸a˜o 2.8, que descreve o campo ele´trico no ponto P , conduz a: �E (P ) = 1 4π�0 q1 r2 P1 rˆP1 onde rP1 = ‖�rP − �r1‖, e rˆP1 = (�rP − �r1) /‖�rP − �r1‖. Se colocarmos a carga puntiforme na origem, enta˜o �r1 = 0, a norma do campo ele´trico dependera´ somente de r = ‖�rP‖ e apresentara´ simetria esfe´rica. Fazendo q1 = q, temos: �E = 1 4π�0 q r2 rˆ = 1 4π�0 q r3 �r (2.9) onde omitimos a refereˆncia ao ponto P , por ser desnecessa´ria no momento, e escrevemos rˆ = �r/r. A Figura 2.3 representa o campo ele´trico gerado por uma carga puntiforme colocada na origem. A cada ponto do espac¸o foi atribu´ıdo um segmento de reta radial- mente orientado. O tamanho do segmento representa a intensidade do campo ele´trico e diminui a` medida que o ponto P , local de observac¸a˜o, estiver mais distante da origem. Evidentemente, apenas alguns pontos sa˜o representados. 35 CEDERJ O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga Figura 2.3: Campo ele´trico criado por uma carga puntiforme colocada na origem.Exemplo 2.2. O campo ele´trico de duas cargas puntiformes em coordenadas cartesianas. Suponhamos que se queira expressar o campo ele´trico em um ponto P do plano XY , o ponto de observac¸a˜o, para a configurac¸a˜o de cargas puntiformes da Figura 2.4 em func¸a˜o de q1, q2, a, b e das coordenadas x e y. Figura 2.4: Campo ele´trico criado por duas cargas puntiformes. Nessa figura, escolhe- mos q1 > q2 > 0 e a > b > 0. Pelo Princ´ıpio da Superposic¸a˜o, temos: �E (P ) ≡ �E (x, y) = q1 4π�0 (�r − �r1) ‖�r − �r1‖3 + q2 4π�0 (�r − �r2) ‖�r − �r2‖3 CEDERJ 36 O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga MO´DULO 1 - AULA 2 Da Figura 2.4, vemos que �r1 = −bxˆ e �r2 = axˆ. Como �r = x xˆ + y yˆ, podemos escrever: �r − �r1 = (x + b) xˆ + y yˆ e �r − �r2 = (x− a) xˆ + y yˆ Fazendo as substituic¸o˜es pertinentes, segue que: �E (x, y) = q1 4π�0 [(x + b) xˆ + y yˆ] [(x + b)2 + y2]3/2 + q2 4π�0 [(x− a) xˆ + y yˆ] [(x− a)2 + y2]3/2 A extensa˜o desse resultado para treˆs dimenso˜es, isto e´, para um ponto P (x, y, z), e´ imediata. O resultado e´: �E (x, y, z) = q1 4π�0 [(x + b) xˆ + y yˆ + z zˆ] [(x + b)2 + y2 + z2]3/2 + q2 4π�0 [(x− a) xˆ + y yˆ + z zˆ] [(x− a)2 + y2 + z2]3/2 Exerc´ıcio 2.1 Determine o campo ele´trico �E em um ponto P a uma distaˆncia z ≥ 0 acima do ponto me´dio do segmento de reta que une duas cargas puntiformes ideˆnticas de magnitude igual a q (veja Figura do Exerc´ıcio 2.1). A distaˆncia entre as cargas vale d. Que resultado voceˆ obte´m quando z = 0? Ele e´ fisicamente razoa´vel? Figura 2.5: Figura do Exerc´ıcio 2.1. 37 CEDERJ O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga Exerc´ıcio 2.2 Suponha que no Exerc´ıcio 2.1 uma das cargas puntiformes digamos, a da es- querda seja trocada por outra de valor igual a −q (veja Figura do Exerc´ıcio 2.2). Determine �E em P . Figura 2.6: Figura do exerc´ıcio 2.2. Exerc´ıcio 2.3 Suponha que nos dois exerc´ıcios precedentes y � d. Qual a expressa˜o para o campo ele´trico em cada caso? Sugesta˜o: uma expansa˜o binomial sera´ conveniente. Exemplo 2.3. O campo ele´trico de um dipolo ele´trico. Como terceiro exemplo, consideremos duas cargas puntiformes de mesmo valor q, pore´m de sinais opostos. Seja �s o vetor que une −q a q, �r+ o vetor que une a carga positiva ao ponto de observac¸a˜o P , �r− o vetor que une −q ao mesmo ponto e �r o vetor que une o ponto mediano O da reta suporte de �s ao ponto P . Veja a Figura 2.7. Um arranjo de cargas esta´ticas desse tipo e´ denominado dipolo ele´trico. Como antes, queremos determinar o campo ele´trico dessa configurac¸a˜o no ponto de observac¸a˜o P , mas com a condic¸a˜o de que esse ponto se encontre muito distante da configurac¸a˜o, isto e´: s r, onde s ≡ ‖�s‖ e r ≡ ‖�r‖. CEDERJ 38 O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga MO´DULO 1 - AULA 2 Figura 2.7: Campo ele´trico de um dipolo ele´trico. Da Figura 2.7 podemos escrever as relac¸o˜es vetoriais: �r+ = �r − �s 2 e �r− = �r + �s 2 Pelo Princ´ıpio da Superposic¸a˜o temos, enta˜o: �E (P ) = q 4π�0 �r+ r3+ − q 4π�0 �r− r3− Eliminando �r+ e �r−: �E (P ) = q 4π�0 [ �r − �s/2( r2 + s 2 4 − rs cos θ)3/2 − �r + �s/2( r2 + s 2 4 + rs cos θ )3/2 ] (2.10) Como o ponto de observac¸a˜o esta´ muito distante do dipolo ele´trico, conve´m reescrever a relac¸a˜o anterior de um modo que a deixe pronta para efetuarmos uma expansa˜o binomial na varia´vel adimensional s/r: �E (P ) = q 4π�0 [ �r − �s/2 r3 ( 1 + 1 4 s2 r2 − s r cos θ )3/2 − �r + �s/2 r3 ( 1 + 1 4 s2 r2 + s r cos θ )3/2 ] 39 CEDERJ O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga Recordemos, agora, a expansa˜o binomial: (1 + u)p = 1 + p 1! u + p (p− 1) 2! u2 + p (p− 1) (p− 2) 3! u2 + · · · (2.11) No caso, desprezaremos o termo quadra´tico em s/r no denominador e faremos as identificac¸o˜es: u ≡ s r cos θ e p = −3/2. Mantendo apenas os dois primeiros termos da expansa˜o bino- mial, temos, ( 1± s r )−3/2 cos θ ≈ ( 1± 3 2 s r cos θ ) Segue enta˜o, apo´s algumas simplificac¸o˜es, que: �Edip (P ) ≈ q 4π�0 ( 3 s cos θ rˆ r3 − �s r3 ) Podemos reescrever esse resultado de modo mais compacto se introdu- zirmos o momento de dipolo ele´trico �p, que e´ definido por: �p := q�s (2.12) O momento de dipolo e´ medido no S.I. em unidades de coulomb vezes metro, C ·m. Como s cos θ = �s · rˆ, e´ fa´cil ver que o campo do dipolo ele´trico pode ser posto na forma: �Edip (P ) = 1 4π�0 1 r3 [3 (�p · rˆ) rˆ − �p] (2.13) Observe que o campo do dipolo ele´trico cai em intensidade com o inverso do cubo da distaˆncia e na˜o com o inverso do quadrado, como no caso da carga puntiforme. A Equac¸a˜o 2.13 mostra, tambe´m, que uma configurac¸a˜o de cargas neutra pode ter interac¸a˜o ele´trica. Algumas mole´culas, por exemplo a mole´cula de a´gua, apesar de neutras, teˆm momento de dipolo ele´trico na˜o nulo e sa˜o, por isto, capazes de interagir eletrostaticamente. Esse fato e´ de suma importaˆncia para as ligac¸o˜es e interac¸o˜es qu´ımicas. O campo de dipolo ele´trico na forma dada pela Equac¸a˜o 2.13 e´ inde- pendente da escolha de um sistema de coordenadas particular, desde que o CEDERJ 40 O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga MO´DULO 1 - AULA 2 dipolo �p se encontre na origem. Por exemplo, em coordenadas polares, se colocarmos um dipolo ele´trico na origem e fizermos o seu momento de dipolo �p apontar no sentido positivo do eixo OZ, isto e´, se escrevermos: �p = pzˆ, enta˜o o campo se escreve: �Edip (P ) = p 4π�0 1 r3 ( 2 cos θ rˆ + sin θ θˆ ) (2.14) onde θ e´ o aˆngulo entre o eixo �p e o vetor �r = rrˆ, que da´ a posic¸a˜o do ponto de observac¸a˜o em relac¸a˜o a` origem, e rˆ e θˆ sa˜o vetores unita´rios associados a`s coordenadas polares. Veja a Figura 2.8. Figura 2.8: Dipolo ele´trico em coordenadas polares. 41 CEDERJ O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga Exerc´ıcio 2.4 Obtenha a Equac¸a˜o 2.14. Escreva primeiro: �Edip (P ) = 1 4π�0 1 r3 [3 (p cos θ) rˆ − pzˆ] Agora, expresse o vetor unita´rio �z como combinac¸a˜o linear de rˆ e θˆ, isto e´: zˆ = c1 rˆ + c2 θˆ A seguir, mostre que c1 = cos θ e c2 = − sin θ, portanto: zˆ = cos θrˆ − sin θθˆ Agora, complete o ca´lculo e obtenha a Equac¸a˜o 2.14. Leituras complementares Sugerimos a leitura de alguns livros que tambe´m tratam de to´picos abordados nesta aula. Voceˆ pode consultar como material complementar, por exemplo: HALLIDAY,David.; RESNICK, Robert.; WALKER, E Jearl. F´ısica. v.3: eletromagnetismo. 5.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. Cap. 22. NUSSENZVEIG, H. Moyse´s. Curso de F´ısica Ba´sica. Sa˜o Paulo: Edgard Blu¨cher, v.:3: eletromagnetismo, 1997. TIPLER, Paul A. F´ısica para cientistas e engenheiros. 4.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. v.2. Atividades Finais Problema 2.1 Considere a configurac¸a˜o de cargas mostradas na Figura 2.9. Determine a intensidade do campo ele´trico no ponto P devido a`s cargas puntiformes mostradas. CEDERJ 42 O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga MO´DULO 1 - AULA 2 Figura 2.9: Problema 2.1. Problema 2.2 Calcule a direc¸a˜o, o sentido e a intensidade do campo ele´trico no ponto P devido a`s treˆs cargas puntiformes mostradas na Figura 2.10. Figura 2.10: Problema 2.2. Problema 2.3 Qual e´ a direc¸a˜o, o sentido e a intensidade do campo ele´trico no ponto P devido a`s cargas puntiformes mostradas na Figura 2.11. Figura 2.11: Problema 2.3. 43 CEDERJ O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga Problema 2.4 Considere duas cargas puntiformesna configurac¸a˜o discutida no Exemplo 2.2, com q1 = −q, q2 = q e b = a. (a) Calcule o campo ele´trico da configurac¸a˜o para pontos sobre o eixo OX tais que x > a/2. (b) Suponha que x � a/2. Mostre que nesse caso o campo ele´trico sobre o eixo OX e´ dado por: �E (x, 0, 0) ≈ 1 2π�0 �p x3 onde �p := qaxˆ e´ o momento de dipolo ele´trico da configurac¸a˜o. Problema 2.5 Considere um cubo de aresta a. Em cada ve´rtice do cubo, exceto em um, uma carga puntiforme de valor q e´ colocada (veja Figura 2.12). Figura 2.12: Problema 2.5. (a) Determine o campo ele´trico no centro do cubo. (b) Determine o campo ele´trico na posic¸a˜o do ve´rtice em que na˜o ha´ carga. (c) Uma carga de valor igual a −q0 e´ colocada no ve´rtice do item anterior. Determine a forc¸a eletrosta´tica sobre −q0. CEDERJ 44 O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga MO´DULO 1 - AULA 2 Problema 2.6 Um dipolo ele´trico ideal esta´ localizado na origem de um sistema de coordenadas cartesiano e aponta para o sentido positivo do eixo OZ. Uma carga puntiforme q0 e´ colocada no ponto de coordenadas (a, 0, 0). Calcule: (a) a forc¸a eletrosta´tica sobre a carga puntiforme; (b) a forc¸a eletrosta´tica sobre a carga puntiforme se essa for recolocada no ponto de coordenadas (0, 0, a). Problema 2.7 A mole´cula de H2O tem um momento de dipolo �p que e´ a soma vetorial de dois momentos de dipolo �p1 e �p2. Veja a Figura 2.13. Medidas experimentais mostram que a distaˆncia entre o a´tomo de hidrogeˆnio e o a´tomo de oxigeˆnio vale 9, 6 × 10−11m, e que as retas que unem os dois tipos de a´tomo na mole´cula formam um aˆngulo cuja medida vale 105 graus. As medidas mostram tambe´m que ‖�p ‖ ≈ 6, 1 × 10−31 C ·m. Calcule a carga do a´tomo de hidrogeˆnio. Voceˆ devera´ obter um valor inferior ao esperado, tente explicar a raza˜o desse resultado. Figura 2.13: Problema 2.7. A mole´cula de a´gua como dipolo ele´trico. Resumo O conceito de campo ele´trico surge naturalmente da aplicac¸a˜o da Lei de Coulomb e do Princ´ıpio da Superposic¸a˜o para distribuic¸o˜es discretas de cargas ele´tricas. O campo gerado por uma distribuic¸a˜o discreta de carga e´ a soma dos campos ele´tricos gerados por cada uma das cargas que fazem parte da distribuic¸a˜o. 45 CEDERJ O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga Na pro´xima aula veremos como podemos visualizar o campo ele´trico atrave´s das linhas de campo, e como cargas ele´tricas puntiformes se compor- tam quando posicionadas em regio˜es onde ha´ um campo ele´trico. Auto-Avaliac¸a˜o Ao final desta aula, voceˆ deve ter entendido o conceito de campo ele´trico como decorreˆncia da aplicac¸a˜o da Lei de Coulomb e o Princ´ıpio da Super- posic¸a˜o. E´ fundamental que voceˆ seja capaz de resolver os Problemas 2.1 a 2.6. CEDERJ 46 O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico MO´DULO 1 - AULA 3 Aula 3 – O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico Meta da aula Apresentar o conceito de linhas de campo e a dinaˆmica das part´ıculas em um campo ele´trico. Objetivos Ao final do estudo desta aula, voceˆ devera´ ser capaz de: • Perceber que o campo ele´trico pode ser facilmente visualizado quando se usa o conceito de linhas de campo. • Descrever as linhas de campo ele´trico de distribuic¸o˜es discretas de car- gas ele´tricas. • Descrever a dinaˆmica da part´ıcula carregada em um campo ele´trico externo. Pre´-requisitos Para que voceˆ possa acompanhar esta aula, e´ fundamental a leitura da Aula 2 deste mo´dulo (O campo ele´trico: distribuic¸o˜es discretas de carga). Tambe´m e´ aconselha´vel que voceˆ revise a Aula 2 do Mo´dulo 4 do Volume 4 do curso Introduc¸a˜o a`s Cieˆncias F´ısicas. Introduc¸a˜o Na Aula 2 deste mo´dulo, vimos como o conceito de campo ele´trico surge naturalmente da aplicac¸a˜o da Lei de Coulomb e do Princ´ıpio da Superposic¸a˜o para distribuic¸o˜es discretas de cargas ele´tricas. O campo gerado por uma distribuic¸a˜o discreta de carga e´ a soma dos campos ele´tricos gerados por cada uma das cargas dessa distribuic¸a˜o. Mas como podemos visualizar esse campo ele´trico? Quais sa˜o as caracter´ısticas do campo ele´trico em uma regia˜o do espac¸o? 47 CEDERJ O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico Linhas de forc¸a Como vimos anteriormente, em cada ponto do espac¸o podemos dese- nhar um segmento de reta orientado, isto e´, uma flecha orientada (um vetor), que representara´ o campo ele´trico naquele ponto. Podemos tambe´m tomar o cuidado de desenhar uma flecha cujo tamanho nos deˆ uma ide´ia da magnitude do campo naquele ponto. O resultado e´ a Figura 3.1. Figura 3.1: Representac¸a˜o esquema´tica de um campo vetorial. Imagine um ponto do espac¸o. Sabemos calcular o campo ele´trico criado por uma distribuic¸a˜o discreta de cargas neste ponto. Sabemos, tambe´m, que podemos associar a este ponto um vetor campo ele´trico, que pode ser representado por uma seta. A bu´ssola, conforme sera´ visto mais adiante, nas aulas relativas ao Magnetismo, e´ um instrumento que indica a direc¸a˜o e o sentido do campo magne´tico em um determinado ponto. Imaginemos que exista um equipamento capaz de indicar a direc¸a˜o e o sentido do campo ele´trico em um ponto, de forma muito similar a uma bu´ssola. Vamos, enta˜o, imaginar o seguinte experimento: caminharemos com esse instrumento observando a direc¸a˜o e o sentido do campo ele´trico a` medida que nos deslocamos, tomando o cuidado de dar passos sempre na direc¸a˜o e no sentido em que estiver apontando o vetor campo ele´trico. Dessa forma, nosso deslocamento sera´ sempre paralelo ao vetor campo ele´trico. A linha imagina´ria pela qual nos deslocamos e´ chamada linha de forc¸a ou linha de campo. Veja a Figura 3.2. CEDERJ 48 O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico MO´DULO 1 - AULA 3 Figura 3.2: Linhas de forc¸a de um campo vetorial. As linhas de campo constituem uma representac¸a˜o visual do campo ele´trico e podem nos dar informac¸o˜es sobre o comportamento do campo em uma regia˜o do espac¸o. Por exemplo, a maior ou menor concentrac¸a˜o das linhas de campo fornece uma indicac¸a˜o sobre a intensidade do campo. Se em uma regia˜o do espac¸o as linhas forem muito concentradas, sabemos que o campo ali e´ mais intenso do que em uma regia˜o onde a concentrac¸a˜o e´ menor. Embora muitas vezes seja poss´ıvel desenha´-las de modo intuitivo, a construc¸a˜o das linhas de campo de um campo ele´trico gerado por uma dis- tribuic¸a˜o de carga so´ e´ simples em poucos casos. Como essas linhas sa˜o o tempo todo paralelas ao campo ele´trico �E, todas as componentes de reta que descrevem essas linhas sera˜o iguais a`s componentes do campo ele´trico, ou seja, dx, dy e dz sa˜o as componentes das retas, e Ex, Ey e Ez, as componentes de �E, enta˜o: dx Ex = dy Ey = dz Ez (3.1) As soluc¸o˜es do sistema de equac¸o˜es diferenciais dadas por 3.1 sa˜o curvas cont´ınuas. Obrigatoriamente, as linhas de campo na˜o podem interceptar-se. Exerc´ıcio 3.1 Por que a linhas de campo na˜o podem interceptar-se? Para responder essa pergunta, pense na relac¸a˜o entre o campo ele´trico e as linhas de campo. Podemos tambe´m obter as equac¸o˜es diferenciais 3.1 imaginando um deslocamento d�� tangente a` linha de forc¸a e escrevendo �E = κ d��, onde κ e´ uma constante positiva com as dimenso˜es apropriadas. 49 CEDERJ O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico Exerc´ıcio 3.2 Determine as dimenso˜es da constante κ para que o vetor κ d�� tenha as dimenso˜es de campo ele´trico. Em coordenadas cartesianas,o paralelismo entre �E e κ d�� se escreve: Ex = κ dx, Ey = κ dy e Ez = κ dz. Reescrevendo essas treˆs relac¸o˜es na forma dx/Ex = 1/κ, e igualando todos os termos (pois sa˜o todos iguais a 1/κ), obtemos as equac¸o˜es diferenciais para as linhas de campo em coordenadas cartesianas, ou seja, a Equac¸a˜o 3.1. Exemplo 3.1. Linhas de forc¸a associadas com o campo de uma carga puntiforme. Considere uma carga puntiforme na origem de um sistema de coor- denadas cartesiano. Para projetar o campo da carga puntiforme ao longo dos eixos coordenados e, dessa forma, obter as componentes cartesianas do campo, basta lembrar que: �E = Ex xˆ + Ey yˆ + Ez zˆ e que, por exemplo, Ex = xˆ · �E onde o s´ımbolo · denota o produto escalar. O campo da carga puntiforme e´ dado pela Equac¸a˜o 2.9, logo Ex = q 4π�0 xˆ · �r r3 = 1 4π�0 q x (x2 + y2 + z2)3/2 Da mesma forma: Ey = q 4π�0 yˆ · �r r3 = 1 4π�0 q y (x2 + y2 + z2)3/2 Restringindo o problema ao plano XY , escrevemos a equac¸a˜o diferencial: CEDERJ 50 O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico MO´DULO 1 - AULA 3 dy dx = Ey Ex que, no caso, leva a: dy dx = y x (3.2) A soluc¸a˜o da Equac¸a˜o 3.2, que e´ linear de primeira ordem, e´: y = C x onde C e´ uma constante arbitra´ria. Isso significa que a soluc¸a˜o do nosso pro- blema e´ dada por uma famı´lia constitu´ıda por todas as retas (na˜o-orientadas) que passam pela origem. Figura 3.3: Linhas de forc¸a para uma carga puntiforme na origem. As linhas (no caso retas) obedecem a` equac¸a˜o y = C x. Exerc´ıcio 3.3 Obtenha a soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial 3.2. A orientac¸a˜o dessas retas e´ adotada por convenc¸a˜o. No caso de uma carga puntiforme positiva, as retas sa˜o orientadas de forma a divergir para fora da posic¸a˜o onde se encontra a carga, como setas, com origem no local onde se encontra a carga. Se a carga puntiforme for negativa, as retas tera˜o a orientac¸a˜o oposta, ou seja, sera˜o setas que apontara˜o para onde a carga se en- contra. De modo geral, podemos dizer que as linhas de campo “nascem” nas cargas positivas e “morrem” nas cargas negativas. 51 CEDERJ O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico A equac¸a˜o para as linhas de campo pode ser escrita em coordenadas polares r, θ, φ (e em outros sistemas de coordenadas). No caso do campo ele´trico do dipolo ele´trico, que nos interessa particularmente, o campo na˜o depende de φ (simetria axial). Simetria e´ a correspondeˆncia de posic¸o˜es, de forma, ou de medida, em relac¸a˜o a um eixo entre os elementos de um conjunto ou entre dois ou mais conjuntos. A simetria axial caracteriza uma simetria em relac¸a˜o a um eixo axial. Por exemplo, imagine um cilindro longo e um eixo que passa pelo centro do dele. Se o cilindro gira ao redor desse eixo, na˜o temos como identificar qualquer diferenc¸a. O eixo do cilindro e´ um eixo de simetria axial. Nesse caso, restringimos o problema da determinac¸a˜o das linhas de campo ao plano φ constante. Lembrando que: �E = κ d�� → Er rˆ + Eθ θˆ = κ ( dr rˆ + r dθ θˆ ) obtemos, como no caso com coordenadas cartesianas, a equac¸a˜o diferencial: r dθ Eθ = dr Er (3.3) Exerc´ıcio 3.4 Obtenha a Equac¸a˜o 3.3. O exemplo a seguir ilustra a aplicac¸a˜o da Equac¸a˜o 3.3 a` determinac¸a˜o das linhas de campo de um dipolo ele´trico. Exemplo 3.2. Linhas de forc¸a associadas com o campo de um dipolo ele´trico. As componentes do campo do dipolo ele´trico em coordenadas polares sa˜o: Er (r, θ) = p 4π�0 r3 2 cos θ e Eθ (r, θ) = p 4π�0 r3 sin θ substituindo na Equac¸a˜o 3.3 e simplificando, obtemos: cot θ dθ = 1 tan θ dθ = cos θ sin θ dθ = dr 2 r CEDERJ 52 O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico MO´DULO 1 - AULA 3 Fazendo uso da integral ∫ cot θ dθ = ln | sin θ | podemos resolver facilmente a equac¸a˜o diferencial e obter a relac¸a˜o entre r e θ: r = C | sin θ | onde C e´ uma constante de integrac¸a˜o arbitra´ria. Novamente, como no caso da carga puntiforme, temos uma famı´lia de soluc¸o˜es, uma curva para cada valor da constante C. A Figura 3.4 mostra as linhas de campo de um dipolo ele´trico ideal que aponta para o sentido positivo do eixo OZ, que tomamos como o eixo polar. Para visualizar o campo em treˆs dimenso˜es, gire a figura em torno do eixo polar. Figura 3.4: Linhas de forc¸a para um dipolo ideal na origem. As linhas obedecem a` equac¸a˜o r = C | sin θ |. Exerc´ıcio 3.5 Determine a equac¸a˜o para as linhas de campo associadas com o campo ele´trico de um dipolo ele´trico em coordenadas cartesianas. Resposta: x2 + y2 = Cy. 53 CEDERJ O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico O movimento de uma carga puntiforme em um campo ele´trico externo Suponha que exista um campo eletrosta´tico �E definido em todos os pontos do espac¸o. As cargas-fonte que da˜o origem a esse campo na˜o fara˜o parte do problema. E´ suficiente saber que ha´ um campo ele´trico prescrito. Suponha tambe´m que uma carga q seja colocada em um ponto P , e que esta carga tenha uma velocidade inicial �v0. Qual sera´ o movimento subsequ¨ente da part´ıcula? A resposta a essa pergunta e´ dada por meio de uma soluc¸a˜o particular da equac¸a˜o de movimento da part´ıcula. Para velocidades muito menores do que a velocidade da luz, a equac¸a˜o de movimento e´ dada pela segunda Lei de Newton: �F = m�a (3.4) onde m e´ a massa inercial da part´ıcula carregada, �a ≡ d2�r/dt2 e´ a acelerac¸a˜o e �F = q �E. Nesse caso, a acelerac¸a˜o da part´ıcula carregada se escreve: d2�r dt2 = q �E m (3.5) Sabendo a posic¸a˜o inicial caracterizada pelo vetor de posic¸a˜o da part´ıcula no instante inicial �r0 e a sua velocidade inicial �v0, a equac¸a˜o de movimento pode ser integrada e as constantes do movimento, determinadas. Desse pro- cesso emerge a soluc¸a˜o particular que descreve o movimento em qualquer instante de tempo t. Exemplo 3.3. Movimento em um campo ele´trico uniforme e constante I Suponha que uma part´ıcula puntiforme de carga q esteja se movendo sob a ac¸a˜o de um campo ele´trico uniforme �E. Se conhecemos a posic¸a˜o inicial e a velocidade inicial, a integrac¸a˜o da equac¸a˜o de movimento e´ imediata, e a soluc¸a˜o que queremos e´: �r (t) = r0 + v0t + q �E 2m t2 que nos da´ a posic¸a˜o em um tempo arbitra´rio t e �v (t) = v0t + q �E m t que nos da´ a velocidade. CEDERJ 54 O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico MO´DULO 1 - AULA 3 Exerc´ıcio 3.6 Uma carga puntiforme de valor igual a −q0 e massa m e´ posicionada por um agente externo a uma altura h acima de um plano de extensa˜o infinita uniformemente carregado com uma densidade superficial de carga σ. A seguir, a carga e´ abandonada pelo agente externo. Calcule o intervalo de tempo decorrido ate´ o instante em que q0 toca o plano. Resposta: ∆t = 2 √ �0 hm q0σ . Por que o resultado depende da massa da part´ıcula? Exemplo 3.4. Movimento em um campo ele´trico uniforme e constante II A Figura 3.5 mostra um dos aspectos fundamentais do funcionamento de um oscilosco´pio. Figura 3.5: O oscilosco´pio Um ele´tron de massa me e carga −e, emitido por um filamento aquecido e acelerado por um campo ele´trico, passa atrave´s da fenda F com velocidade �v0 paralela ao eixo OX. Com essa velocidade, o ele´tron penetra em uma regia˜o limitada por duas placas condutoras paralelas carregadas que geram um campo ele´trico uniforme paralelo ao eixo OY , apontando para o sentido negativodesse eixo. Apo´s percorrer uma distaˆncia horizontal �, o ele´tron emerge no ponto de coordenadas (�, y) e a partir desse ponto, livre de forc¸as, prossegue em uma trajeto´ria retil´ınea ate´ atingir a tela fluorescente T no ponto de coordenadas (� + D, y + H). A tela do oscilosco´pio possui um A tela fluorescente de um oscilosco´pio simples e´ feita de um material que emite certa quantidade de luz quando sofre o impacto de uma part´ıcula carregada, como o ele´tron. tamanho definido, e queremos que o ele´tron atinja a tela dentro de certos limites. Assim, a distaˆncia na˜o pode assumir qualquer valor, pois, depen- dendo dos valores da distaˆncia D e do tamanho da tela, correr´ıamos o risco 55 CEDERJ O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico de na˜o ver os pontos brilhantes na tela. Isso impediria uma medida do campo ele´trico nas placas paralelas. Portanto, a relac¸a˜o entre D e H e´ importante. Suponha conhecidos o campo entre as placas, �E = −E0yˆ, o compri- mento horizontal das placas �, a distaˆncia entre a extremidade final da placa e a tela fluorescente D, �v0 = v0xˆ, a massa do ele´tron me assim como a sua carga −e. Queremos determinar H e a raza˜o y/H . O ele´tron penetra na regia˜o entre as placas com velocidade �v0 = v0xˆ e sofre a ac¸a˜o do campo ele´trico �E = −Eyˆ. Isto quer dizer que o movi- mento ao longo do eixo OX e´ uniforme e o movimento ao longo do eixo OY e´ uniformemente acelerado. A soluc¸a˜o do exemplo precedente nos leva a escrever: x = v0t para o movimento horizontal, e y = (−e) (−E) 2me t2 = eE 2me t2 para o movimento vertical. O ele´tron permanece um tempo igual a �/v0 na regia˜o entre as placas, logo y = eE 2me ( � v0 )2 Apo´s sair da regia˜o entre as placas no ponto (�, y), a trajeto´ria do ele´tron e´ uma reta. Exerc´ıcio 3.7 Voceˆ sabe explicar por que apo´s sair da regia˜o entre as placas no ponto (�, y) a trajeto´ria do ele´tron e´ uma reta? Caso na˜o se lembre, volte a ler com atenc¸a˜o a explicac¸a˜o no in´ıcio deste exemplo, prestando atenc¸a˜o na descric¸a˜o do movimento dos ele´trons. A inclinac¸a˜o desta reta em relac¸a˜o a` horizontal e´ medida por vy vx = vy v0 = H D CEDERJ 56 O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico MO´DULO 1 - AULA 3 Mas vy = ayt = eE me � v0 Como H = D vy v0 = D eE� mev20 o ca´lculo da raza˜o y/H agora e´ imediato e obtemos y H = � 2D Se D for muito maior do que �, a coordenada vertical y sera´ muito me- nor do que H, e essa quantidade enta˜o medira´ o desvio vertical. Invertendo o sentido do campo ele´trico entre as placas, inverteremos o sinal de H, e o deslocamento vertical sera´ para baixo. Leituras complementares Sugerimos a leitura de alguns livros que tambe´m tratam de to´picos abordados nesta aula. Voceˆ pode consultar como material complementar, por exemplo: NUSSENZVEIG, H. Moyse´s. Curso de F´ısica Ba´sica. Sa˜o Paulo: Edgard Blu¨cher, v.:3: eletromagnetismo, 1997. HALLIDAY,David.; RESNICK, Robert.; WALKER, E Jearl. F´ısica. v.3: eletromagnetismo. 5.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. Cap. 22. Na sec¸a˜o 23.8 ha´ uma interessante descric¸a˜o do funcionamento de cabec¸as de impressa˜o em impressoras de jato de tinta que utiliza os conceitos de mo- vimento de cargas ele´tricas em campos ele´tricos. Atividades Finais Problema 3.1 Observe a Figura 3.6 com atenc¸a˜o. Com relac¸a˜o a`s intensi- dades relativas do campo ele´trico no pontos A e B indicados na figura, o que podemos afirmar? O campo ele´trico no ponto A (EA) e´ maior que o campo ele´trico no ponto B (EB), ou vice-versa? 57 CEDERJ O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico Figura 3.6: Problema 3.1. Problema 3.2 No problema anterior, suponha que a intensidade do campo ele´trico no ponto A seja de EA = 40 N/C. Qual e´ a intensidade do campo ele´trico no ponto B? Problema 3.3 Considere mais uma vez a Figura 3.6 e os resultados do Problema 3.2. (a) Qual e´ a intensidade da forc¸a ele´trica que atua sobre um ele´tron colo- cado no ponto A? (b) Qual e´ a intensidade da forc¸a ele´trica que atua sobre um pro´ton colo- cado no ponto B? Problema 3.4 O hidrogeˆnio molecular H2 e´ formado por meio de uma ligac¸a˜o covalente entre dois a´tomos de hidrogeˆnio. Se a mole´cula de H2 perder um ele´tron, ela torna-se positivamente ionizada. Considere um modelo cla´ssico para a mole´cula ionizada de H2, o H + 2 . O modelo consiste em duas cargas puntiformes positivas e, fixas, simetricamente posicionadas sobre o eixo OZ, uma no ponto (0, 0, a/2) e a outra no ponto (0, 0,−a/2). O ele´tron remanes- cente de massa me e carga igual a −e descreve uma o´rbita circular de raio igual a s no plano XY com centro na origem do sistema de coordenadas. Veja a Figura 3.7. CEDERJ 58 O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico MO´DULO 1 - AULA 3 Figura 3.7: Problema 3.4. Um modelo cla´ssico para o hidrogeˆnio molecular ionizado. (a) Calcule o campo ele´trico resultante, mo´dulo, direc¸a˜o e sentido, na posic¸a˜o do ele´tron. (b) Calcule a forc¸a, mo´dulo, direc¸a˜o e sentido, sobre o ele´tron. (c) Mostre que a velocidade angular do ele´tron e´ dada por: ω = e √ 1 2π�0me ( s2 + a 2 4 )3/2 . (d) Calcule a ordem de grandeza da frequ¨eˆncia de revoluc¸a˜o do ele´tron. Resposta: ≈ 1015Hz. Problema 3.5 Qual e´ a intensidade de um campo ele´trico que acelera um ele´tron na direc¸a˜o Norte, com acelerac¸a˜o a = 1, 8× 10−9 m/s2? Problema 3.6 Um corpo puntiforme de massa m e carga ele´trica positiva q0 e´ obrigado a mover-se ao longo do eixo OZ, sob a ac¸a˜o de seu peso e do campo criado por uma carga ele´trica q fixa na origem. Veja a Figura 3.8. 59 CEDERJ O campo ele´trico: linhas de campo e dinaˆmica de part´ıculas no campo ele´trico Figura 3.8: Problema 3.6 (a) Determine a posic¸a˜o de equil´ıbrio z0 do corpo. (b) Suponha que o corpo e´ ligeiramente afastado da posic¸a˜o de equil´ıbrio z0. Determine a frequ¨eˆncia de oscilac¸a˜o do corpo. Resumo Linhas de campo fornecem uma forma de visualizar a direc¸a˜o e a inten- sidade do campo ele´trico em uma regia˜o do espac¸o. O vetor campo ele´trico em qualquer ponto e´ tangente a uma linha de campo que passa por esse ponto. A intensidade do campo ele´trico pode ser medida atrave´s da densi- dade de linhas de campo em uma regia˜o. As linhas de campo teˆm origem em cargas positivas, e terminam em cargas negativas. Quando uma carga puntiforme e´ colocada numa regia˜o onde ha´ um campo ele´trico, criado por outras cargas, sofre a ac¸a˜o de uma forc¸a eletrosta´tica que possui a mesma direc¸a˜o e sentido do campo se a carga for positiva, ou sentido contra´rio se a carga for negativa. Na pro´xima aula, veremos como calcular o campo ele´trico de distri- buic¸o˜es cont´ınuas de carga. Auto-Avaliac¸a˜o Ao final desta aula, e´ importante que voceˆ seja capaz de entender o conceito de linhas de campo, e de como elas podem facilitar a visualizac¸a˜o do campo ele´trico numa dada regia˜o. Voceˆ deve ser capaz de responder a` questa˜o formulada no exemplo 3.2. Voceˆ tambe´m deve ser capaz de resolver todos os problemas propostos. CEDERJ 60 O campo ele´trico: distribuic¸o˜es cont´ınuas de carga MO´DULO 1 - AULA 4 Aula 4 – O campo ele´trico: distribuic¸o˜es cont´ınuas de carga Meta da aula Estender o conceito de campo ele´trico a`s distribuic¸o˜es cont´ınuas de carga. Objetivo Ao final do estudo desta aula, voceˆ devera´ ser capaz de: • Aplicar o conceito de campo ele´trico a distribuic¸o˜es cont´ınuas de cargas ele´tricas. Pre´-requisitos
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