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Leitura psicanalítica do Massacre de Realengo
Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, foi filho adotivo de uma mãe, Eliete Pereira, que era sobrinha do primeiro marido da mãe adotiva, na qual não apresentava condições de cuidar de Wellington, a mãe, tinha problemas mentais dados como Esquizofrênica, na gravidez de Wellington a mãe biológica tenta suicídio, após descobrir que o marido tinha outra família, tenta tirar a própria vida jogando-se na frente de um ônibus grávida de Wellington, o pai é tido como desconhecido. O acidente não prejudica o bebê, provocando um quadro de alterações psicológico na mãe, não sendo capaz de nenhum investimento afetivo no feto ou no bebê recém-nascido. Fora o período de gravidez da mãe biológica no qual Wellington, ainda na barriga, tempo de privação afetiva e falta de cuidados básicos. De acordo com relatos trazidos pela mídia, a adoção de Wellington, foi dada logo após do nascimento pela mãe adotiva Dicéa Menezes de Oliveira, sendo, caçula de cinco irmãos foi adotado ainda bebê. 
Melanie Klein pressupõe que na constituição psíquica originária do bebê, os instintos agem a partir do nascimento. Quando o bebê sente a primeira fome o instinto acionado junto às fantasias espera-se que o objeto acionado seja capaz de satisfazê-lo. Nesse período o bebê não consegue diferenciar o que é fantasia e experiência de realidade, sendo, experimentados como acontecimentos físicos. Desde o nascimento existe um ego, contra a sensação de ansiedade de aniquilação o ego desenvolve uma serie de mecanismos de defesa. A ansiedade de aniquilação, ou seja, a sensação de morte diretamente das experiências negativas do bebê. Ao experimentar esses sentimentos a criança procura expulsá-los para o objeto de seu desejo (mãe ou substituto). Quando as experiências negativas prevalecem no bebê, a uma desintegração do ego, o self do bebê fica fragmentado podendo dar origem as patologias psicóticas. Quando ocorre a prevalência das experiências positivas a ansiedade de aniquilação diminui e o bebê consegue integrar os aspectos positivos e negativos do ego. (Segal, 1975).
Adoção é o ato de atribuir a condição de filho ao adotado, que gozará dos mesmos direitos e deveres, inclusive relativos à sucessão e será desligado de qualquer vínculo com os pais e parentes, salvo se houver impedimentos matrimoniais (Brasil, 1990). A mãe adotiva de Wellington assumiu a responsabilidade pela educação do mesmo, a mãe biológica foi eximida de qualquer responsabilidade. Os irmãos de Wellington relatam que a mãe adotiva não escondeu do menino sua adoção e que desde a infância o mesmo ouvira de sua mãe adotiva sobre os problemas psicológicos de sua mãe biológica. Wellington não dava importância para a mãe biológica demonstrando pouco interesse em manter contato com a mesma. Por melhores que fossem as intenções da mãe adotiva, Wellington sempre carregou consigo traços de rejeição e abandono. Em relatos a mãe adotiva por ser idosa e Wellington o mais novo dos irmãos que já eram casados e independentes, o mesmo era tratado pela mãe para conseguir cuidar-se sozinho desde novo.
De acordo com Zago (2009) “Quem viveu o abandono durante a infância pode sentir um medo incontrolável de ser deixado, procurando evitar a todo custo ser abandonado novamente. Quando falamos de abandono não é apenas em casos em que uma criança é literalmente abandonada por seus pais, a quem se espera ser amada e cuidada, mas aquelas que são abandonadas através da negligência de suas necessidades básicas, da falta de respeito por seus sentimentos, do controle excessivo, da manipulação pela culpa, ainda que ocultos, durante a infância. Crianças abandonadas, psicológica ou realmente, entram na vida adulta, com uma noção profunda de que o mundo é um lugar perigoso e ameaçador, não confiando em ninguém, porque na verdade não desenvolveu mecanismos para confiar em si mesma”. 
O jovem-adulto Wellington demonstrava uma dependência excessiva de sua mãe adotiva, era uma pessoa que mantinha poucos relacionamentos afetivos e sociais, os vizinhos e colegas de escola relatam que Wellington preferiria ficar sozinho, não se envolvia em brincadeiras na rua de sua casa e nem na escola onde estudava. Deduz-se que Wellington mantinha com a mãe adotiva uma relação simbiótica de amor e ódio no qual o lado agressivo demonstrava maior presença entre os dois. Quando a mãe adotiva de Wellington morre, ele se isola, distanciando-se ainda mais dos relacionamentos sócio afetivos chegando ao isolado. O termo simbiose encontra-se inserido como uma fase no processo de desenvolvimento psicológico normal da criança. A fase simbiótica é entendida como uma condição intrapsíquica, uma característica da vida cognitivo-afetiva primitiva, em que a diferenciação entre o eu e a mãe ainda não aconteceu, ou uma regressão ao estado de indiferenciação eu-objeto se faz presente. Tal condição pode basear-se em imagens primitivas de unidade, mesmo na ausência física da mãe. Nesses termos, para essa autora, a relação simbiótica consiste numa fase muito precoce do processo de nascimento psicológico do indivíduo. Margaret Mahler (1975/1977 apud SHEINKMAN; CHAGAS, 2015). 
A mãe adotiva de Wellington foi uma mulher muito religiosa, sendo, uma referencia de religiosidade para ele. O mesmo seguindo os mandamentos, Wellington encontrou na religião apoio e segurança aos seus conflitos internos e externos nos quais não soube lidar. Wellington e deixou disponível em um site uma carta que demonstra profunda intolerância, preconceito e comportamentos agressivos alimentando suas crenças, Wellington começa a elaborar um plano de “vingança” contra uma sociedade frente a sua visão de mundo, na qual, não aceita as diferenças com julgamentos, para ele essas pessoas seriam vistas como impuras, no qual, é dever pagar pelos próprios pecados. Alguns estudos e analises dos vídeos feitos no ano de 2012, ano que acontece o “massacre” suspeita-se que Wellington em especial apresenta delírios, ouvindo vozes que contem o comportamento, vozes que falam mal, ou acusam e vozes dialogadas. Welington demonstra um eu consciente e muito rígido, impenetrável, capaz de manipular e modificar a realidade para chegar ao seu objetivo havendo desequilíbrio indicando uma personalidade de individuo extremamente moralista com um ego apegado demais a realidade e uma grande incapacidade ou falta de discernir o que é certo do que é errado. Supõe-se que a estrutura psíquica de Wellington fosse regida pelo Superego.
“O superego é aí mostrado como derivado de uma transformação das primitivas catexias objetais da criança em identificações: ele toma o lugar do complexo de Édipo. Este mecanismo (a substituição de uma catexia objetal por uma identificação e introjeção do objeto anterior)”. (FREUD, 1923/1925)
Podemos sustentar um diagnostico no caso de Wellington como esquizofrenia paranoide. O espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos inclui esquizofrenia, outros transtornos psicóticos e transtorno (da personalidade) esquizotípica. Esses transtornos são definidos por anormalidades em um ou mais dos cinco domínios a seguir: delírios, alucinações, pensamento (discurso) desorganizado, comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) e sintomas negativos. Esquizofrenia com início na infância costuma desenvolver-se após um período de desenvolvimento normal ou quase normal. Há descrição de um estado prodrômico no qual ocorrem prejuízo social, interesses e crenças atípicos que podem ser confundidos com os déficits sociais encontrados no transtorno do espectro autista. Alucinações e delírios, características definidoras da esquizofrenia, não são elementos do transtorno do espectro autista. (DSM IV-TR, 2002). 
Sendo assim é importante ressaltar que Wellington não chega a ser psicótico que tivesse apresentando uma perda plena de juízo da realidade sendo totalmente incapaz de diferenciar realidade de fantasia, o mesmo conseguiu elaborar o massacre, de um modo, que precisou de um plano que fosse necessárioà compra de armas de fogo, munição, elaborar uma carta com certa “coerência” e deixa-la disponível em site de relacionamentos. No momento em que foi até a escola para fazer um primeiro contato teve o cuidado de manter a aparência bem vista para não levantar futuras suspeitas. Imagina-se a conduta do mesmo como o ódio em aceitar o que é real.
REFERÊNCIAS
Brasil. (1990, 16 de julho). Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União 
Dísponivel em: <http://www.portaldapsique.com.br/Artigos/Abandono_que_nao_se_esquece.htm> .Acesso em: 30/04/2018
DSM IV-TR. Manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2002.
FREUD, Sigmund. O ego, o id e outros trabalhos (1923/1925). In: FREUD, Sigmund. O ego, o id e outros trabalhos (1923/1925). Standart Brasileira das Obras Psicologicas de Sigmund Freud. ed. [S.l.: s.n.], 1923. p. 1-170. v. XIX
MAHLER, M. (1975/1977) O nascimento psicológico da criança: simbiose e individuação. Rio de Janeiro: Zahar.
Segal, H. (1975). A posição esquizoparanóide. In Introdução à obra de Melanie Klein (pp. 80-94). Rio de Janeiro, RJ: Imago.

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