Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ESTRUTURA E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL Núcleo de Educação a Distância – www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 - 25 de Agosto - Duque de Caxias - Rio de Janeiro (RJ) Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitor de Administração Acadêmica Carlos de Oliveira Varella Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação Emilio Antonio Francischetti Pró-Reitora Comunitária e de Extensão Sônia Regina Mendes Copyright © 2016, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. SANTOS, Vania Martins dos. Estrutura e Estratificação Social. / Vania Martins dos Santos. – Rio de Janeiro: Unigranrio, 2016. 25 p.; 20 x 27 cm. 1. Estrutura, Status e Papéis Sociais. 2. Estrutura Social e Mudança. 3. Estratificação Social. NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA COORDENAÇÃO GERAL Jeferson Pandolfo Departamento de Produção PRODUÇÃO E EDITORAÇÃO GRÁFICA Márcia Valéria de Almeida MATERIAL DIDÁTICO ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Vania Martins dos Santos DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Gabriela Moreno REVISÃO Carla Patrícia Araujo Estrutura e Estratificação Social 3 umário Estrutura e Estratificação Social Objetivos ........................................................................................................................03 Síntese ...........................................................................................................................20 Trabalho Discente Efetivo - TDE ......................................................................................21 Leitura Complementar ...................................................................................................22 Recuperação/Reforço da Aprendizagem .........................................................................23 Referências Bibliográficas ...............................................................................................24 S 1. Estrutura, Status e Papéis Sociais ...............................................................................04 1.1. Relação entre Status e Papéis Sociais ........................................................................ 06 1.2. Status Principal, Status Atribuído e Status Adquirido ................................................ 08 2. Estrutura Social e Mudança ........................................................................................12 2.1. Conflito de Papéis ...................................................................................................... 14 3. Estratificação Social ....................................................................................................16 3.1. As Quatro Formas do Capital ..................................................................................... 18 Estrutura e Estratificação Social 3 Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de: ● Identificar os elementos que compõe a estrutura social, compreendendo o seu papel na regularidade das interações humanas; ● Diferenciar status atribuído de status adquirido, compreendendo as influências mútuas existentes entre eles; ● Refletir sobre a importância da socialização no aprendizado dos papéis sociais; ● Analisar o surgimento dos conflitos de papéis nas sociedades complexas e nas organizações; ● Refletir sobre os processos de estratificação social na sociedade, analisando suas causas e suas consequên- cias; ● Aplicar as diferentes perspectivas sociológicas para analisar a distribuição desigual de vantagens e recursos sociais entre os diferentes status na sociedade. bjetivosO 4 1. Estrutura, Status e Papéis Sociais Quando analisam as interações sociais, os sociólogos identificam os status e papéis dos envolvidos na interação para compreender os diálogos, as ações e reações que se desenvolvem nessas situações. Para a sociologia, o modo como as pessoas definem, interpretam e dão significado a essas situações está ligado à estrutura social. A estrutura social é um dos elementos fundamentais da organização da sociedade, pois contribui para a regularidade e a previsibilidade das interações sociais. Vamos entender por que isso ocorre? Uma estrutura social consiste em duas ou mais pessoas interagindo com base em status e papéis so- ciais. O status é a posição na estrutura, enquanto o papel social é o comportamento esperado naquela inte- ração. (HORTON e HUNT, 1980). Em uma empresa, por exemplo, uma pessoa pode ser a líder de um grupo de trabalho. Dizemos então que seu status social é o de líder. E o que será que o grupo e a empresa esperam desse líder? Talvez que esse líder motive a equipe, ofereça um direcionamento claro para as atividades e torne todos engajados no alcance das metas. Então acabamos de descrever o seu papel social. Também podemos fazer o mesmo em relação aos outros componentes do grupo, identificando seus status e seus papéis sociais. Quando identi- ficamos todos os status e papéis que servem de base para aquela interação, temos então a estrutura social. Estrutura e Estratificação Social 5 De modo semelhante, podemos encontrar uma estrutura na relação entre médico e paciente, pro- fessor e aluno, mãe e filha. Observe que em todos esses casos, existem os status (as posições sociais) e os papéis (o modo como cada um deve agir). As estruturas também podem ser mais complexas, envolvendo mais de dois status e seus respectivos papéis, como podemos ver no caso de uma família, uma Igreja ou uma empresa, considerando todos que interagem em cada uma dessas situações. Se você escolher qualquer interação social da qual tenha feito parte, poderá identificar esses elemen- tos. Pense, por exemplo, no departamento em que você trabalha. Qual o status que você ocupa nele? Quais são os outros status existentes? Quais os papéis de cada componente dessa estrutura? Status social: posição ocupada em uma estrutura social. Papel social: conjunto de expectativas sobre como deve se comportar o ocupante de um status. Estrutura social: duas ou mais pessoas ocupando status sociais e interagindo com base em ex- pectativas definidas (papéis sociais) IMPORTANTE Estrutura e Estratificação Social 6 A sociologia chama a atenção sobre esses elementos da vida em sociedade porque eles são fatores sociais que interferem nos modos de agir, pensar e sentir das pessoas. Eles são, nos termos do nosso já co- nhecido sociólogo Émile Durkheim, fatos sociais. 1.1. Relação entre Status e Papéis Sociais É importante entender que status e papéis sociais encontram-se interligados na estrutura de uma so- ciedade. Isso significa que o desempenho dos papéis só pode ser entendido em relação ao status social, pois desempenhar um papel significa atuar de acordo com as normas e expectativas que o grupo cria para cada posição social. (HORTON e HUNT, 1980) Por exemplo, enquanto realiza suas tarefas em uma organização, um supervisor está desempenhan- do seu papel de acordo com as normas e expectativas estabelecidas pela empresa para os que ocupam aquela posição social. Os membros de sua equipe de trabalho também desempenham cada um o seu pa- pel, de acordo com o status que ocupam naquela estrutura. Isso é importante para que possamos entender que, quando ocorre alguma mudança de status de uma pessoa, acaba ocorrendo também mudanças no seu papel social, o que por sua vez ajudará a explicar certas mudanças de comportamento que as pessoas têm quando mudam de posição no grupo ou na sociedade. Por exemplo, quando um empregado é promovido na empresa, ele adquire um novo status, correto? Automaticamente, ele terá que atender às expectativas de comportamento que o gru- po tem para aquele status. Deste modo, seu comportamento também irá mudar, pois ele precisa ajustar-se ao novo papel social que terá que desempenhar. NA PRÁTICA Portanto, quando desempenhamos nosso papel, estamos agimos de acordo com as expectativas so- ciais, isto é, expectativas que foram construídaspela sociedade da qual fazemos parte. Muitas vezes nem percebemos isso de maneira consciente, pois a socialização já tratou de internalizar em nós estas normas de comportamento. (BERGER e BERGER, 1994). Estrutura e Estratificação Social 7 É claro que as expectativas sobre o papel social não tornam os comportamentos totalmente previsí- veis. Por outro lado, estamos falando de uma força social que atua sobre os indivíduos e que não pode ser totalmente desprezada. Apesar das pessoas desempenharem seus papéis de modo muito diferente, esses espaços de manobra têm seus limites. A previsibilidade e o controle nas interações existem justamente porque as pessoas desempenham seus papéis em alguma medida dentro do esperado. Além disso, quando ocorrem desvios dessas expectativas, vemos entrar em cena uma série de sanções negativas, como as punições e outras formas de pressão social. Afinal, como dizia Émile Durkheim, os fatos sociais são coercitivos – eles têm a força de um padrão social. Lembramos que a socialização é um elemento essencial na vida social: é por meio dela que os indivíduos aprendem quais são suas posições (status) e seus papéis dentro dos diferentes grupos em que interage, e assim possa adotar os comportamentos considerados adequados para cada posição social. IMPORTANTE Estrutura e Estratificação Social 8 No contexto das empresas, podemos observar a força das estruturas influenciando nossos comporta- mentos de forma significativa. Nossa vida nas organizações depende muito do status que ocupamos e das obrigações que nos são impostas em função de nossos papéis, não é mesmo? 1.2. Status Principal, Status Atribuído e Status Adquirido As posições de status são elementos importantes na formação das identidades sociais. Muitas vezes, formamos uma imagem de alguém quando conhecemos as posições que ela ocupa na sociedade. (JOHN- SON, 1997). É o que ocorre quando alguém diz a você que é médico (status profissional), que é casado e tem filhos (status familiar) e que acabou de chegar de outro país (status de nacionalidade). Com base nestas três posi- ções sociais, acabamos formando alguma imagem daquela pessoa. Johnson (1997) também mostra que dentro do conjunto dos status sociais que uma pessoa pode ocu- par na sociedade, costuma existir aquele que é mais importante para sua identidade social. Esse status é chamado status principal e ele tende a predominar nas interações do indivíduo, comparado aos outros status que ele ocupa. Observe, por exemplo, como muitas vezes somos reconhecidos em um grupo exatamente por nosso status principal: “o pai de fulano”, “lá vem a chefe”, “o atendente disse que...”, e etc. É claro que nenhuma dessas pessoas se resumem àquela posição social. A chefe pode ser também pintora, mãe de alguém, mas nenhum desses status é relevante diante do status principal que ela tem naquela interação. O status princi- pal é como se fosse um rótulo identificador do indivíduo em um dado contexto social. Estrutura e Estratificação Social 9 Status atribuído: não envolve nenhum esforço para ser alcançado. Status de nascimento, de na- cionalidade, de gênero e de idade são exemplos. Status adquirido: envolve uma combinação de escolha, esforço e habilidade. Status ocupacio- nais (advogado, administrador, empresário, etc.) ou educacionais (universitário, mestre ou doutor, por exemplo) são status adquiridos (JOHNSON, 1997). SAIBA MAIS+ Qualquer posição social efetivamente reconhecida pela sociedade constitui um status, não importan- do se essa posição se encontra no topo ou na base da hierarquia social. Deste modo, a alta executiva, o atendente de call center, o pastor, a idosa, o morador de rua, a juíza, o senador, o jogador de futebol, a atriz da novela, todos têm status sociais e, associados a esses status, estão os seus papéis sociais. Aproveitando os exemplos acima, você pode observar como existem significativas diferenças entre todos os status citados. Uma diferença importante é apontada pela sociologia: existem os status atribuídos e os status adquiridos É claro que podemos lembrar de casos em que as pessoas tentam modificar status que originalmente são atribuídos. Pessoas que fazem cirurgias plásticas ou de mudança de sexo agem justamente com esse intuito. Ambos os tipos de status, o atribuído e o adquirido, estão relacionados a certo grau de prestígio social. E estamos falando do valor que a sociedade confere às posições sociais, de um certo nível de respeito e de admiração que independe da pessoa que venha a ocupar aquele status. Um elemento importante que temos que considerar quando falamos desses dois tipos de status é o modo como um pode influenciar o outro. Status atribuídos podem ter um papel determinante no status adquirido. A sociologia tem estudado muito essa relação. Considere, por exemplo, a distribuição de cargos nas 500 maiores empresas que atuam no Brasil, segundo pesquisa do Instituto Ethos: Estrutura e Estratificação Social 10 Percentual de homens e mulheres nas 500 maiores empresas do Brasil Homens Mulheres Nível executivo 86,3% 13,7% Gerência 77,9% 22,1% Supervisão 73,2% 26,8% Nível operacional 66,9% 33,1% Fonte: Instituto Ethos (2010) Percentual de brancos e negros nas 500 maiores empresas do Brasil Brancos Negros Quadro executivo 93,3% 5,3% Gerência 84,7% 13,2% Supervisão 73% 25,6% Quadro funcional 67,3% 31,1% Fonte: Instituto Ethos (2010) Estrutura e Estratificação Social 11 O que você pode perceber a partir desses dados? Notou a grande desigualdade racial e de gênero na distribuição dos cargos? E note que estamos falando da maiores empresas, aquelas que, naturalmente, são as mais desejadas e disputadas no mercado de trabalho. Embora as empresas afirmem utilizar o critério da meritocracia para selecionar e promover as pessoas na organização, os dados acima parecem indicar que outros fatores além do mérito, relacionados ao status atribuído, podem ter alguma interferência nesses processos. O que você acha? 12 2. Estrutura Social e Mudança Um elemento importante a se considerar sobre a estrutura social é que, embora ela seja um dos ele- mentos sustentadores da organização social, ela não é algo fixo ou imutável. Observe bem a sociedade brasileira. Você consegue identificar mudanças nos status e papéis que compõe nossa estrutura social? Poderíamos começar citando as mudanças no papel das mulheres na sociedade. No início do século XX, não podiam votar. O status de eleitora era vetado às mulheres, assim como uma série de outras po- sições, inclusive no mercado de trabalho. Ao longo do século, novos status foram conquistados e novos papéis passaram a ser desempenhados por elas na sociedade. E é claro que isso está relacionado também a muitas mudanças no status e no papel social do homem. Afinal, como você deve lembrar, estamos falando de uma estrutura de relações sociais, de modo que ele- mentos estão interligados e exercem múltiplas influências uns sobre os outros. Estrutura e Estratificação Social 13 Temos também as mudanças do papel do gestor nas organizações, você concorda? O que significava ser um gestor conforme a expectativa colocada pela administração científica, por exemplo? Você lembra da divisão rígida de atribuições naquele tipo de organização? O gestor planeja, o trabalhador executa. Você acha que esses papéis permanecem os mesmos nas organizações atuais? Agora, um exemplo recente que tivemos de mudança na estrutura social foi a ascensão de quase 30 milhões de pessoas das classes D e E para a classe C no Brasil. Foi uma significativa mudança na estrutura de classes sociais do país, ocorrida na primeira década do século XXI. Esse fenômeno de mudança de posi- ção na estrutura social chama-se mobilidade social e pode ocorrer tanto para cima (mobilidade ascenden- te) quanto para baixo (mobilidade descendente) na estrutura. Porém, os efeitos da crise política e econômica que passou a afetar o país, nos últimos anos, podem inverter o sentido da mobilidade queapontamos anteriormente, provocando um grande fenômeno de mo- bilidade descendente em nossa estrutura de classes sociais. Outro exemplo que podemos citar de mudança em nossa estrutura social ocorre na estrutura etária (relativa aos status de idade) do país. Em 1940, os idosos (com 60 anos ou mais) representavam 4,1% da po- pulação total brasileira, e passaram a representar 12,1% em 2011. As projeções indicam que em 2050 haverá 65 milhões de idosos no país, representando 49% da população em idade economicamente ativa. Estrutura e Estratificação Social 14 2.1. Conflito de Papéis Embora a estrutura social tenha a função básica de organizar as interações sociais, ela também pode ser fonte de conflitos nessas in- terações. Um desses conflitos é chamado pela so- ciologia de conflito de papéis. Segundo Biddle (1979), ele ocorre quando as expectativas as- sociadas aos diferentes papéis que as pessoas desempenham entram em contradição uma com a outra. Nessa situação, o indivíduo fica dividido entre atender a uma ou a outra expec- tativa, pois é difícil harmonizar as duas. Obser- ve na imagem a seguir: É bom lembrar que todos esses fenômenos de mudança na estrutura repercutem enormemen- te nas empresas. Muda totalmente o mercado consumidor e também o mercado de trabalho, não é mesmo? Pense sobre o que significa ter um número cada vez maior de pessoas com mais idade trabalhando nas empresas. O que será que modificaria nessa organização? Será que as políticas de recursos humanos devem permanecer exatamente as mesmas? Em termos de mercado consumidor, muitas empresas têm percebido muito bem esse fenôme- no de envelhecimento da população e enxergaram nisso ótimas oportunidades para explorar no- vos negócios. De qualquer modo, é bom termos bem clara essa ideia: as mudanças na estrutura social costu- mam ter fortes impactos nos negócios das empresas, por isso é importante estar atendo a essas transformações, principalmente quando elas ainda são uma tendência, pois isso pode significar uma possibilidade de se preparar antes dos concorrentes. NA PRÁTICA Estrutura e Estratificação Social 15 Leia sobre papéis sociais para saber mais. Texto disponível no Ambiente Virtual de Aprendiza- gem. INTERATIVIDADE Bem, acredito que você saiba bem o que significa isso. Na realidade, é muito comum que isso aconte- ça em uma sociedade tão complexa como a nossa, em que cada pessoa interage em vários grupos sociais, desempenhando papéis diferentes em cada um deles. A tarefa de compatibilizar todas as expectativas sociais a que somos submetidos na sociedade é bem difícil. E a questão é que isso gera muitos conflitos emocionais no indivíduo, como por exemplo, quando ele tem que escolher entre passar mais tempo com um ente querido ou aceitar uma promoção para ganhar um salário incrível, mas que vai exigir uma dedicação praticamente total. Você está vendo como certos aspectos da vida pessoal de um indivíduo podem estar ligados à própria estrutura da sociedade, dependendo dos status e papéis que desempenhamos em nossa vida social? Fique atento para outras fontes de conflito de papéis na organização: O indivíduo tem um status e se relaciona com grupos diferentes que criam expectativas contra- ditórias sobre qual deveria ser o comportamento dele. Por exemplo, os acionistas de uma empresa esperam que um gestor de recursos humanos faça o que for preciso para cortar custos em uma situação de crise financeira, enquanto a equipe desse gestor esperam que toda a sua contribuição à empresa seja recompensada com a manutenção do emprego. O indivíduo possui um status e se relaciona com um grupo que define as expectativas de modo pouco claro ou até mesmo comunica expectativas contraditórias. Por exemplo, um novato na orga- nização não recebe as orientações adequadas de seu chefe sobre suas funções na empresa, deixan- do o novo funcionário confuso sobre a forma correta de fazer as coisas. O indivíduo tem mais de um status social na empresa. Por exemplo, é empregado, mas também é parente do dono da empresa. Embora se diga que os papéis não devem se confundir no ambiente da empresa, muitas vezes a confusão ocorre. Estrutura e Estratificação Social 16 3. Estratificação Social Você já percebeu que as posições sociais existentes em uma sociedade não são iguais? A cada status corresponde determinado nível de poder econômico, de prestígio, de influência política, por exemplo. Há portanto uma certa hierarquia entre os status sociais que formam uma estrutura. Isso ocorre não só dentro das empresas, mas na sociedade em geral. A estratificação é o processo social através do qual vantagens e recursos, tais como riqueza, poder e prestígio, são distribuídos desigualmente na sociedade, fazendo com que determinados status sociais fiquem em posição mais ou menos privilegiada na sociedade. Quando estudam a estratificação social, os sociólogos focam justamente a conexão entre os status sociais que as pes- soas ocupam e suas oportunidades econômicas, políticas e sociais. (FERANTE, 2011). IMPORTANTE A sociologia tem várias teorias para explicar essas desigualdades. Karl Marx, por exemplo, enfatizava a posição econômica de classe como o principal fator de estratificação social. Como vimos anteriormente, na visão de Marx as diferenças de classe dependiam de um elemento central dos sistemas econômicos: a propriedade dos meios de produção. Esse era o fator que dividia e colocava em oposição as classes na sociedade. Na atualidade, como será que está dividida essa riqueza econômica? Assista ao curta que mostra a história de Maria José, uma menina de 5 anos de idade que deixa os estudos para trabalhar. Reflita sobre a reprodução das desigualdades sociais. VÍDEO Estrutura e Estratificação Social 17 Segundo o relatório sobre riqueza global do Credit Suisse, 1% da população mundial possui 50% da riqueza gerada no mundo. Um relatório da ONG Oxfam chegou a resultados semelhantes, apontando que os 80 maiores bilionários do planeta têm hoje uma riqueza equivalente a de seus 3,5 bilhões de habitantes mais pobres. Dos cerca de 1600 bilionários do mundo, quase 30% são americanos e cerca de um terço her- dou uma parte ou toda a sua riqueza. Ambos os estudos confirmaram que a desigualdade social no mundo é crescente e aumentou especialmente desde a crise de 2008. No gráfico a seguir, você pode observar dados mais completos sobre a distribuição da riqueza global: 45,2% da riqueza 39,4% da riqueza 12,5% da riqueza 3% da riqueza Mais de 1.000.000 de dólares Entre 100.000 e 1.000.000 de dólares Entre 10.000 e 100.000 de dólares Menos de 10.000 dólares Milhões de pessoas (% sobre o total da população) 3.386 71% 1.003 21% 349 7,4% 34 Milhões de pessoas 0,7% da população mundial A Pirâmide da Riqueza Global Fonte: CREDIT SUISSE (Global Wealth Report 2015) Estrutura e Estratificação Social 18 3.1. As Quatro Formas do Capital Se Karl Marx considerava que a classe de um indivíduo era determinada pela posição que ele ocupa na estrutura econômica da sociedade, outras teorias sociológicas incluem outros fatores além do econômico para refletir sobre a estratificação na sociedade. Pierre Bourdieu (1985) foi um sociólogo que apontou quatro tipos de capital existentes na sociedade: ● Capital econômico – resultante de fatores econômicos como renda, patrimônio e posse de bens de pro- dução (como fábricas, terras, etc.); ● Capital cultural – está ligado às qualificações intelectuais que são adquiridas, principalmente, no contex- to familiar e no sistema educacional; ● Capital social – corresponde ao conjunto de relacionamentos sociais com outros grupos e indivíduos aos quais se tem acesso; ● Capital simbólico – diz respeito ao nível de reconhecimento social, geralmente identificado com o pres- tígio social desfrutado. Essas formas de capital se relacionam de diferentes maneiras. Um indivíduo que, por exemplo, tenha um bom capital, acessa mais facilmente certas redes de relacionamentoe certos bens culturais. Por outro lado, o capital cultural que o indivíduo adquire por meio de sua formação escolar pode melhorar sua posi- ção no mercado de trabalho e trazer mais capital econômico. De modo semelhante, se um indivíduo participa de determinadas redes de relacionamento, onde es- tejam pessoas influentes, isso pode ajudá-lo a obter vantagens, como por exemplo indicações para bons empregos, que irão mexer com seu capital econômico. O fato é que, a combinação desses diferentes tipos de capital é o que vai definir o pertencimento de um indivíduo a uma classe social. Você já observou o fenômeno dos “emergentes” na sociedade? Já notou que muitas vezes as pessoas vindas de uma camada mais baixa da sociedade, quando enriquecem, mostram algumas dificuldades de integração na nova classe social? Isso ocorre porque os emergentes, embora passem a ter o mesmo nível de renda dos membros das classes altas, (ou seja, o mesmo capital econômico), acabam sendo vistos como pessoas “sem estilo” ou “de mau gosto” (ou seja, sem capital cultural) pelos membros mais antigos dessa classe. Estrutura e Estratificação Social 19 Esse estilo de vida reprovado que os emergentes exibem é resultado daquele capital cultural que foi adquirido quando essas pessoas viviam na classe inferior. Aliás não só o capital cultural é diferente, porque os emergentes também possuem toda uma rede de relacionamentos sociais (capital social) construída no contexto anterior em que viviam. O resultado disso tudo é que o capital simbólico dos emergentes muitas vezes despenca, porque o seu prestígio e o seu reconhecimento demoram a ser construídos no novo grupo. Não é curioso que existam dois nomes para definir pessoas com o mesmo nível econômico – os “ricos” e os “emergentes”? Sinal que algo os diferencia, algo que não é meramente econômico, mas sim cultural, social e simbólico. Ao observar esses fatores, Bourdieu chamou a atenção para o fato de que há mais elementos capazes de demarcar uma classe social além dos bens econômicos. Mas o que tudo isso tem a ver com uma empresa? Veja, por exemplo, o caso de uma empresa que atua em um mercado de luxo, composto por uma classe com elevado capital econômico e também cultural. Essa empresa resol- veu investir na qualificação dos funcionários com treinamentos especiais que incluíam aulas de golfe, degustação de vinhos e etiqueta, visando prepará-los para oferecer serviços exclusivos para os membros daquela classe. Os funcionários são incentivados a frequentar teatros, exposições de arte e outros eventos culturais que podem se tornar assuntos nas conversas com esses clientes. Segundo um dos gestores da empresa, o treinamento visava justamente construir “aspectos cul- turais diferenciados” no comportamento dos funcionários, tornando-os mais capazes de atender a seu público. NA PRÁTICA Pierre Bourdieu (1930-2002) Considerado um dos maiores sociólogos de língua francesa das últimas décadas, Pierre Bour- dieu é um dos mais importantes pensadores do século XX, que produziu importantes estudos so- bre os mecanismos de reprodução social das desigualdades. Bourdieu via as sociedades capitalis- tas como profundamente hierarquizadas e organizadas segundo uma divisão de poderes desigual. Deste modo, o sociólogo procurou mostrar em seus estudos como tal situação de dominação se perpetua entre os grupos sociais, dando especial atenção ao papel dos sistemas educacionais e dos processos de socialização. SAIBA MAIS+ Estrutura e Estratificação Social 20 ínteseS Nesta unidade vimos que: ● A estrutura social é um elemento fundamental da organização da sociedade e consiste em duas ou mais pessoas interagindo com base em status e papéis sociais. ● O status é a posição na estrutura, enquanto o papel social é o comportamento esperado naquela intera- ção. ● Os status podem ser divididos em dois tipos, ambos relacionados a certo grau de prestígio social: ● Status atribuído, como o status de nascimento, de nacionalidade, de gênero e de idade ● Status adquirido, como o status ocupacional ou educacional. ● A socialização é o meio pelo qual os indivíduos aprendem quais são suas posições (status) e seus papéis dentro dos diferentes grupos em que interage. ● Dentro do conjunto de status que o indivíduo ocupa na sociedade, o status principal é aquele que tende a predominar em suas interações. ● Embora a estrutura social seja um dos elementos sustentadores da organização social, ela não é algo fixo ou imutável, pois muitas mudanças podem ocorrer nos status e papéis sociais. ● O conflito de papéis ocorre quando as expectativas associadas aos diferentes papéis que as pessoas de- sempenham entram em contradição uma com a outra. ● Estratificação social é um processo de distribuição desigual de vantagens e recursos sociais entre os dife- rentes status na sociedade. ● Karl Marx enfatizava a posição econômica de classe como o principal fator de estratificação social. Tal posição era definida a partir da propriedade dos meios de produção. Pierre Borudieu observou que os fatores econômicos não são os únicos fatores de estratificação social e apontou quatro formas básicas de capital que combinados definem o pertencimento de um indivíduo a uma classe social. ● Capital econômico – resultante de fatores econômicos como renda, patrimônio e posse de bens de pro- dução (como fábricas, terras, etc.); ● Capital cultural – está ligado às qualificações intelectuais que são adquiridas, principalmente, no contex- to familiar e no sistema educacional; ● Capital social – corresponde ao conjunto de relacionamentos sociais com outros grupos e indivíduos aos quais se tem acesso; ● Capital simbólico – diz respeito ao nível de reconhecimento social, geralmente identificado com o pres- tígio social desfrutado. Estrutura e Estratificação Social 21 Para realizar o Trabalho Discente Efetivo desta unidade, vamos voltar à análise dos dados da pesquisa do Instituto Ethos, mencionada na seção 1.2. Agora é o momento de você registrar por escrito suas refle- xões sobre a questão proposta naquela seção: Embora as empresas afirmem utilizar o critério da meritocracia para selecionar e promover as pessoas na organização, os dados da pesquisa do Instituto Ethos sobre o perfil social, racial e de gênero parecem indicar que outros fatores além do mérito, relacionados ao status atribuído, podem ter alguma interferên- cia nesses processos. O que você acha? Que fatores podem explicar a grande desigualdade entre homens e mulheres e entre brancos e negros no acesso aos quadros executivos das 500 maiores empresas do Brasil? Para participar melhor deste trabalho, sugiro que você consulte a pesquisa do Instituto Ethos, que se encontra integralmente disponível em: http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/arquivo/0-A-eb4Perfil_2010.pdf rabalho Discente Efetivo – TDET http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/arquivo/0-A-eb4Perfil_2010.pdf Estrutura e Estratificação Social 22 eitura Complementar Acesse a Biblioteca Virtual da Unigranrio e leia o capítulo sobre desigualdade social do livro de socio- logia, de Reinaldo Dias. DIAS, Reinaldo. Desigualdade e comportamento social. In: ______. Sociologia. São Paulo: Pearson Education do Brasi, 2012. L Estrutura e Estratificação Social 23 ecuperação/Reforço da Aprendizagem Para reforçar sua aprendizagem, sugiro que você correlacione as colunas a seguir, identificando al- guns dos conceitos principais da unidade com suas respectivas definições: 1 – status social atribuído 2 – status social adquirido 3 – status principal 4 – papel social 5 – estrutura social R 6 – conflito de papéis 7 – estratificação social 8 – mobilidade social ascendente 9 – mobilidade social descendente ( ) Contradição entre as expectativas associadas aos diferentes papéis que as pessoas desempenham. ( ) Status que não envolve nenhum esforço para ser alcançado. ( ) Mudança de posição para cima na estrutura social. ( ) Duas ou mais pessoas interagindocom base em status e papéis sociais. ( ) Status que envolve uma combinação de escolha, esforço e habilidade. ( ) Processo de distribuição desigual de vantagens e recursos sociais entre os diferentes status na sociedade. ( ) Status que tende a predominar nas interações de um indivíduo. ( ) Conjunto de expectativas sobre como deve se comportar o ocupante de um status. ( ) Mudança de posição para baixo na estrutura social. Estrutura e Estratificação Social 24 eferências Bibliográficas APPEL-SILVA, Marli; Argimon, Irani Iracema de Lima; Wendt, Guilherme Welter. Conflito de papéis entre os domínios da família e do trabalho Contextos Clínicos. n.4, v.2, jul-dez 2011. pp 88-98. BERGER Peter L.; BERGER, Brigitte. Socialização: como ser um membro da sociedade. In: FORACCHI, Maria- lice Mercarini; MARTINS, Jose de Souza (orgs). Sociologia e sociedade: leituras de introdução à sociologia. 24ª Edição. Rio de Janeiro: LTC, 1994. BIDDLE, BRUCE. Role Theory: Expectations, identities and behaviors. New York, Academic Press, 1979. BOURDIEU, Pierre. The forms of capital. In: RICHARDSON, J. G. (Ed.). Handbook of Theory and Research for the Sociology of Education. New York: Greenwood Press, 1985. p. 241-258. CREDIT SUISSE. Global wealth report 2015. Credit Suisse Research Institute, October 2015. Disponível em: https://www.credit-suisse.com/cl/en/about-us/research/research-institute/publications.html. FERRANTE, Joan. Sociology: a global perspective. Wadsworth: Cengage Learning, 2011. HORTON, Paul B.; HUNT, Chester. Sociologia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1980. INSTITUTO ETHOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL. Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Em- presas do Brasil e Suas Ações Afirmativas – Pesquisa 2010. Publicado em Novembro de 2010. Disponível em: www.ethos.org.br/. JOHNSON, Alan. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. LIRTZMAN, S.I. Role conflict and ambiguity in complex organizations. Administrative Science Quarterly, n.15, v. 2, 1970. Pp. 150-163. RIZZO, J.R.; HOUSE, R.J.; R https://www.credit-suisse.com/cl/en/about-us/research/research-institute/publications.html
Compartilhar