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CURSO DE 2ª FASE PENAL XXIV EXAME DE ORDEM Aula 01 FASE PRÉ-PROCESSUAL PRISÃO EM FLAGRANTE: 1. Conceito: Trata-se de hipótese de prisão cautelar (espécie de prisão que antecede o trânsito em julgado da sentença penal condenatória) prevista no art. 302 do Código de Processo Penal (CPP), que, segunda a doutrina, é considerada de natureza precária. Logo, para que seja mantida a segregação do autor do fato é necessária uma decisão judicial fundamentada convertendo a prisão em flagrante em prisão preventiva. 2. Etapas da PRISÃO EM FLAGRANTE: a) Captura; b) Apresentação; c) Lavratura do Auto de Prisão em Flagrante Delito (APFD); d) Formalidades Posteriores; e) Convalidação Judicial. 2.1 Captura: • Flagrante Próprio – Inciso I e II do art. 302 do CPP – ocorre quando alguém está cometendo, praticando ou desempenhando o delito e é preso em flagrante (art. 302, I, CPP), ou quando o sujeito acaba de cometer a conduta delituosa, estando no mesmo local, nas mesmas circunstâncias indicativas da prática do delito (art. 302, II, CPP). Assim, está em flagrante próprio ou real quem está cometendo a infração ou quem acabou de cometer a infração; • Flagrante Impróprio – Inciso III do CPP – ocorre quando o agente é perseguido, logo após a prática do crime, pela autoridade policial, pela vítima ou por qualquer pessoa, ou seja, tem que haver perseguição, seja pela vítima, autoridade policial ou qualquer pessoa do povo. Caso não tenha perseguição não há que se falar em flagrante impróprio; • Flagrante Presumido - Inciso IV do CPP – neste caso, não houve perseguição. A pessoa é encontrada com instrumentos que façam presumir ser ela a autora do crime. Trata-se muitas vezes de um encontro até mesmo casual, apesar de certas críticas doutrinárias. Não existe um lapso temporal formal para a ocorrência do flagrante presumido, devendo ser utilizado um critério de razoabilidade. DICA 1 - Inviolabilidade de domicílio em conflito com a perseguição no flagrante impróprio: I) Situação 1 – O perseguido entra em residência alheia sem autorização do morador: Nesse caso, o perseguidor poderá adentrar no domicílio para prendê-lo em flagrante sem problema, até porque terá ocorrido, no mínimo, o crime de violação de domicílio; II) Situação 2 – O perseguido adentra em casa alheia, com consentimento do morador: Nesse caso, o posicionamento majoritário é o de que o estado de flagrância autoriza que os persecutores adentrem no domicílio, dia ou noite, independentemente de mandado, desde que a perseguição venha ocorrendo de forma ininterrupta; III) Situação 3 – O perseguido adentra na sua própria residência: Nesse caso, aplica-se o mesmo entendimento da “Situação 2”. Pergunta 1: Se o perseguido adentra em casa alheia com o consentimento do morador e este, mesmo sabendo que o perseguido se encontra fugindo da perseguição, impede o executor do mandado de prisão de cumpri-lo, o morador poderá incorrer no crime de favorecimento pessoal (art. 348 do CP)? Resposta: Depende! Havendo a recusa do morador na permissão de acesso do executor do mandado em seu domicílio durante o dia, e não havendo justificativa legal para a negativa, incorrerá no crime de favorecimento pessoal. Já na recusa durante o período noturno não há que se falar em favorecimento pessoal, pois a doutrina entende que o morador se encontra no exercício regular de direito. Pergunta 2: É possível a captura em flagrante impróprio se a pessoa, ao ser capturada, está sem os objetos ou instrumentos do crime? Resposta: Sim! A jurisprudência já se posicionou no sentido de que o fato de o sujeito ser capturado sem nada nas mãos (sem os objetos do crime) não desconfigura o flagrante impróprio. A presença de objetos e instrumentos do crime é exigida para o flagrante presumido, no qual não ocorre perseguição. ATENÇÃO! ▪ Flagrante nos casos de crimes permanentes ou continuados (art. 303 do CPP): Conforme art. 303 do CPP, nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessa a permanência. ▪ Flagrante nos casos de crimes habituais: A doutrina entende que não seria cabível prisão em flagrante em crime habitual, seja porque o instante do flagrante não seria compatível com a prova da habitualidade, seja porque o art. 303 do CPP trata dos crimes permanentes e, como toda regra relacionada à prisão, deveria ter interpretação restritiva. Contudo, o STF entende possível o flagrante em crimes habituais, desde que no momento do flagrante sejam colhidas evidências da habitualidade. O grande exemplo é o exercício ilegal da medicina. Para o exame de ordem recomendamos seguir o posicionamento do STF. ATENÇÃO! Não cabe prisão em flagrante em infrações de menor potencial ofensivo. As infrações de menor potencial ofensivo estão previstas na Lei nº 9.099/1995. O art. 61 desta lei define como infrações de menor potencial ofensivo as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima de até 2 anos, cumulada ou não com multa. Em regra, não cabe prisão em flagrante em infração de menor potencial ofensivo, devendo o delegado, neste caso, lavrar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), a ser imediatamente remetido ao Juizado Especial Criminal competente, acompanhado do suposto autor do fato e da vítima. No caso de impossibilidade de remessa imediata, será exigido do suposto autor do fato um termo de compromisso de comparecimento, não se impondo a prisão em flagrante. DICA 2 – Outras classificações de FLAGRANTE: • Preparado (Provocado, crime de ensaio ou delito de experiência): Manifesta-se quando alguém induz o indivíduo a praticar um crime objetivando ter motivo para efetuar a captura em flagrante. • Esperado: O indivíduo que irá efetuar a captura, toma ciência previamente da possibilidade de ocorrência futura de crime e aguarda tal ocorrência para fins caracterizar o flagrante; • Retardado (Prorrogado, deferido ou protelado): Manifesta-se nos casos de ações policiais controladas, como o que ocorre nos crimes praticados por organizações criminosas, onde a autoridade aguarda o momento mais oportuno para fins de efetuar a captura em flagrante; • Forjado (Fabricado, maquinado ou urdido): Manifesta-se quando a situação de flagrante é completamente criada para fins de incriminação do agente. ATENÇÃO! Flagrante forjado é diferente do flagrante preparado. O primeiro configura fato inexistente, pois a conduta imputada ao preso jamais ocorreu, enquanto que no segundo o autor do fato age motivado por obra do agente provocador, sem o qual não haveria a prática daquela suposta conduta, e por essa razão inexiste o crime. DICA 3 – Quem pode capturar em flagrante: I - Flagrante facultativo, espontâneo ou não obrigatório – art. 301 do CPP – Qualquer tem a faculdade de realizar a prisão; II - Flagrante necessário, normativo ou obrigatório – art. 301 do CPP – As forças de segurança têm o dever de realizar a prisão. Pergunta 3: Quem não pode ser capturado em flagrante? a) Vedação absoluta: I. Presidente da República (art. 86, § 3º, da CF/88); II. Aqueles que gozem de imunidade diplomática (Convenção de Viena); III. Menores de 18 (dezoito) anos. b) Vedação relativa: I. Senadores, deputados federais, estaduais e distritais – só podem ser presos em flagrante por crimes inafiançáveis – Art. 53, parágrafo 2º, c/c art. 27, parágrafo 1º, da CF/88. Observação: O STF vem mitigando esse dispositivo em relação as prisões e medidas cautelares. II. Magistrados – salvo em caso de crime inafiançável – Lei Orgânica da Magistratura- Complementar 35/79, art. 33, II; III. Membros do Ministério Público - salvo em caso de crime inafiançável Lei Orgânica Nacional do MP – Lei 8625/93, art. 40, III; IV. Advogados no exercício da profissão - salvo em caso de crime inafiançável – Estatuto da OAB – Lei 8906/94, art. 7º, parágrafo 3º. Pergunta 4: Essa imunidade abrange também os Governadores de Estado? Resposta: Não! Conforme entendimento do STF (ADI 4772/RJ – Rel. Min. Luiz Fux), a prerrogativa da imunidade a prisão em flagrante não é aplicada ao Governadores de Estado. 2.2 Apresentação: Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto (art. 304 do CPP). Pergunta Recorrente: No momento da apresentação, o Delegado pode reconhecer insignificância, excludentes de ilicitude e outros excludentes? Resposta: Sim! Atualmente, a atuação do Delegado não pode ser entendida como uma ação de um mero operador administrativo da persecução criminal, razão pela qual, ele deve realizar esse filtro primário e, eventualmente, aplicar os princípios e institutos norteadores do Direito Penal. 2.2 Lavratura do Auto de Prisão em Flagrante Delito (APFD): Formalidades do APFD: i) Redução à termo; ii) Registro em relação a filhos e/ou pessoas que necessitem de cuidados (art. 304, § 4º, do CPP); iii) Arbitramento de fiança (quando possível) (art. 322 do CPP); iv) Comunicações imediatas (art. 306 do CPP). 2.3 Formalidades posteriores à lavratura do APFD: Após a lavratura do auto de prisão em flagrante delito, este deve ser encaminhado ao juiz competente para análise e confirmação de sua legalidade, conforme prescreve o art. 306, § 1º do CPP. A remessa dos autos ao juiz competente deve ocorrer dentro de 24 horas da captura. Ademais, caso o preso não informe possuir advogado, o delegado deverá providenciar a remessa de cópia dos autos também à Defensoria Pública nas mesmas 24 horas. Outro aspecto essencial é a entrega da nota de culpa no mesmo prazo (24 horas), assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas. Por fim, deve haver a comunicação imediata ao juiz competente, ao Ministério Público e à pessoa indicada pelo preso (art. 5º, inciso LXII, da CF/88 c/c 306, caput, do CPP). 2.4 Convalidação Judicial – Realização da audiência de custódia: Em que pese não tenha previsão do Código de Processo Penal ou na CF/88, a audiência de custódia consiste no direito que o autor do fato preso em flagrante tem de ser levado à presença de um Magistrado logo após a prática do fato delituoso. O art. 1º da Resolução 213/2015 do CNJ dispõe que toda pessoa presa em flagrante delito, independentemente da motivação ou natureza do ato, seja obrigatoriamente apresentada, em até 24 horas da comunicação do flagrante, à autoridade judicial competente, e ouvida sobre as circunstâncias em que se realizou sua prisão ou apreensão
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