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1 UERJ – DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DISCIPLINA: Psicologia e Bases do Pensamento Cognitivo Comportamental PROFA: Cristina M. T. Santana TEXTO DE AULA – 04 de maio de 2018 JOHN B. WATSON – AS SOMBRAS NOS PRIMÓRDIOS DO BEHAVIORISMO John Broadus Watson (Travelers Rest, 9 de janeiro de 1878 — Nova Iorque, 25 de setembro de 1958) foi um importante e extremamente controverso psicólogo americano. INFÂNCIA DIFÍCIL Watson cresceu em Travelers Rest, South Carolina, o quarto de seis filhos, e a família morava na área rural da cidade. Sua mãe, Emma Watson, era uma batista devota que havia aderido a proibições quanto a fumar, dançar e tomar bebidas alcoólicas. Submeteu os filhos, especialmente Watson – de quem esperava seguisse a carreira de pastor – a um rígido treinamento religioso. Isso o levaria mais tarde a desenvolver uma antipatia que duraria a vida toda por todas as formas de religião. O pai de Watson havia lutado pelos confederados na Guerra Civil e nunca se recuperou dos traumas de guerra. Passava a maior parte do tempo fora de casa, de modo que sua esposa, criava os filhos sozinha na fazenda simples em que viviam. Quando Watson tinha 13 anos, o pai, que havia se tornado alcoólatra, deixou a família para viver com duas mulheres indígenas, uma transgressão que Watson nunca perdoou. 2 Emma Watson era muito engajada em sua comunidade e desejava que seus filhos tivessem educação sólida a fim de escapar à pobreza. Vendeu, porisso, sua fazenda e mudou-se com a família para Greenville, South Carolina, em 1890, quando Watson tinha 13 anos. Watson não se adaptou à mudança para a cidade grande e tornou-se um alvo de bullying na escola - "o garoto burro do interior". Tal frustração levou-o à delinquência e, especificamente, a crimes de ódio. Watson chegou a ser preso por seus ataques a pessoas negras da vizinhança – até para os padrões de 1890 ele foi considerado extremo. FORMAÇÃO E VIDA ACADÊMICA Apesar dos problemas na adolencência, a influência de sua mãe na igreja local conseguiu garantir-lhe um lugar na Furman University, de modo que Watson ingressou na universidade com apenas 16 anos. Foi um aluno mediano, mas amadureceu, dedicou-se e obteve um mestrado. Ele agora se desligava da vida rural e adentrava a vida acadêmica. Após formar-se, foi diretor de uma escola. Entretanto, com a morte da mãe em 1900, mudou-se para Illinois, onde matriculou-se na Universidade de Chicago para estudar psicologia. A psicologia era uma nova disciplina e, como tal, um terreno propício a portadores de novas ideias. Apesar de a divisão entre filosofia e psicologia ser ainda imprecisa, a natureza da mente era um importante tema de debate. A Universidade de Chicago foi pioneira na abordagem da mente a partir do funcionalismo, que se opunha à abordagem estruturalista, preponderante até então na Europa. O próprio Watson havia originalmente matriculado-se em um doutorado em filosofia, mas logo mudou para psicologia experimental. Seu mentor foi James Rowland Angell, um dos pioneiros da psicologia, e que o encorajou a estudar neurologia como um assunto secundário. O foco no cérebro teve grande importância no início da carreira de Watson. Sua dissertação sobre o desenvolvimento da inteligência em ratos tem sido considerada por 3 muitos o primeiro experimento psicológico verdadeiro por sua ênfase na observação direta, previsão e análise do contexto. Watson obteve o doutorado em 1903, com apenas 25 anos. Em sua dissertação, "Educação Animal: Um Estudo Experimental sobre o Desenvolvimento Psíquico do Rato Branco, Correlacionado com o Crescimento de seu Sistema Nervoso", ele descreveu a relação entre a mielinização cerebral e a capacidade de aprendizagem em ratos em diferentes idades. Ele demonstrou que o grau de mielinização cerebral estava diretamente relacionado ao aprendizado e que o sentido cinestésico controlava o comportamento de ratos ao correr em labirintos. No ano seguinte, representou a Universidade de Chicago no Congresso de Artes e Ciências em St. Louis, e tornou-se uma das vozes principais entre os que queriam que a psicologia rompesse seus laços com a filosofia e se alinhasse às ciências biológicas. Como professor de psicologia animal, desenvolveu investigações sobre o comportamento de ratos e macacos. Suas experiências com animais, controladas de forma rigorosa e objetiva, é que vão inspirar-lhe o modelo para a psicologia. Watson considera que os mesmos procedimentos poderão ser aplicados pelos psicólogos ao estudarem o comportamento humano. Watson assim assume claramente a abolição da barreira entre a psicologia humana e a animal. CASAMENTO Nessa época, Watson havia se envolvido com uma de suas alunas na Universidade de Chicago, Mary Ickes. Por ser considerado uma quebra de ética do comportamento dos professores, o casal manteve seu relacionamento em segredo até depois que Mary deixou a universidade. Casaram-se então, mas não foram felizes por muito tempo. UM PRODUTIVO PESQUISADOR CONTROVERSO Em 1906, Watson apresentou um artigo sobre como privar os ratos da visão ou do olfato afetava seu desenvolvimento. A população escandalizou-se e houve reações violentas da população em defesa dos animais. 4 Em 1908, Watson deixou Chicago para assumir a cátedra na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore. Um fator auspicioso de sua vida acadêmica foi sua promoção a chefe do departamento de psicologia quando o que o precedeu foi pego pela polícia durante uma batida em um bordel (!). Ao ser forçado a renunciar, Watson tornou-se o novo chefe do departamento. Em 1910, ele co-fundou o Journal of Animal Behavior, uma publicação de pesquisa que apoiou sua posição de que a psicologia experimental em animais era crucial para o entendimento da psicologia humana. A partir daí, ele começou a redefinir a psicologia e a elaborar seu próprio modelo de como abordá-la - com base no trabalho anterior de Pavlov, entre outros. ENTRA O BEHAVIORISMO Em 1913, em uma série de palestras na Universidade de Columbia, Watson expôs os fundamentos de sua nova abordagem no artigo "Psychology as the Behaviorist Views It" - às vezes chamado de "The Behaviorist Manifesto" em que apresenta a ideia de que o comportamento observável é tudo o que é necessário para entender a psicologia de uma pessoa ou animal. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2008000200011 O primeiro parágrafo do artigo descreveu de forma concisa a posição behaviorista de Watson: "A psicologia, como o behaviorista a vê, é um ramo experimental puramente objetivo da ciência natural. Seu objetivo teórico é a previsão e controle do comportamento. “A introspecção não faz parte essencial de seus métodos, nem o valor científico de seus dados depende da prontidão com que eles se prestam à interpretação em termos de consciência. “O behaviorista, em seus esforços para obter um esquema unitário de resposta animal, não reconhece nenhuma linha divisória entre o homem e o animal. 5 “O comportamento do homem, com todo o seu refinamento e complexidade, forma apenas uma parte do esquema total de investigação do behaviorista ". Entre 1913 e 1916, embora tenha rejeitado a "Lei do Efeito" de Edward L. Thorndike por acreditar que continha elementos subjetivos desnecessários, Watson incluiu em sua obra a formulação do reflexo condicionado de Pavlov. Abordou o tema em seu discurso presidencial à Associação Americana de Psicologia. Esse texto também é notável por sua forte defesa do status científico objetivo da psicologia aplicada, que na época era considerada muito inferior à psicologia experimental estruturalista estabelecida. Com o behaviorismo, Watson colocou a ênfase no comportamento externo das pessoas e em suas reações em determinadas situações, ao invés de no estado mental interno dessas pessoas. Em sua opinião, a análise de comportamentos e reações era o único método objetivo para compreender as ações humanas. Dessa forma, o behaviorismo de Watsonrejeitou o estudo da consciência. Ele estava convencido de que ela não poderia ser estudada, e que tentativas anteriores de fazê-lo apenas dificultavam o avanço das teorias psicológicas. Ele achava que a introspecção era falha e apenas produzia mais problemas para os pesquisadores. Esforçou-se arduamente para que a psicologia não fosse mais considerada a ciência da mente. Isso contrastava com a psicologia introspectiva de Wundt, que procurava desenvolver uma teoria do que a mente era e de sob que princípios funcionava. Essa perspectiva, combinada às ideias complementares do determinismo, do continuismo evolucionista e do empirismo, contribuiu para o que hoje é chamado de behaviorismo radical, que Watson acreditava levaria a psicologia a uma nova era. O behaviorismo de Watson foi considerado mais moderno e revoluvionário que o estruturalismo e o funcionalismo, embora ignorasse muito do que a psicologia moderna considera seu componente-chave – as ações fisiológicas dentro do cérebro. A ênfase no comportamento implicava o desdobramento lógico de que, se o compreendêssemos – se soubéssemos o que os estímulos externos causam – poderíamos controlá-lo. O foco principal da nova abordagem de Watson, na verdade, era tornar a psicologia realmente útil e científica, de modo a ser verdadeiramente aceita pelo establishment científico. E surgiu justamente um contexto em que Watson pudesse testar suas novas teorias. TRABALHO PARA O EXÉRCITO Convenceu-se de que suas técnicas poderiam ajudar no recrutamento e treinamento industrial, bem como garantir a ordem no espaço de trabalho. E foi no exército dos EUA, quando este entrou na Primeira Grande Guerra, que ele teve a oportunidade de colocar seus conhecimentos em prática. 6 Watson ficou encumbido de formular o processo de seleção de alistados para o treinamento de oficiais e, para isso, desenvolveu os primeiros testes de aptidão. Os testes mostraram-se extremamente úteis para auxiliar o processo de seleção militar. Por essa razão, Watson foi enviado à Europa para estudar aviadores britânicos, a fim de desenvolver testes de aptidão para seus colegas nos Estados Unidos. No entanto, Watson considerou muito frustrante que uma grande parte dos homens que estudara na Europa tivessem sido mortos em batalha. Achou que teve que passar por bombardeios em Paris e ataques aéreos em Londres “para nada”. Outro dado lamentável de sua biografia foi demonstrar sua “sensibilidade sulista” com o fato de que os testes de aptidão do exército não discriminavam raça, e o conhecimento de que havia oficiais negros era-lhe muito inquietante. Suas críticas ao exército sobre essas questões quase o levaram à corte marcial e, embora ele evitasse dizê-lo, ficou desfavoravelmente impressionado com as forças armadas. A ideia de uma psicologia aplicada ao recrutamento e treinamento foi popularizada pelo trabalho de Watson no Exército. Como resultado, ele e vários outros acadêmicos formaram uma empresa de consultoria que usava conexões de guerra com a indústria para aplicar as técnicas de aptidão e treinamento à força de trabalho. Watson também atuou no Conselho de Higiene Social dos EUA para estudar a eficácia de seus filmes, o que seria um precursor de alguns de seus trabalhos posteriores. LITTLE ALBERT Watson conduziu um experimento controverso no qual condicionou um menino (chamado Albert nos trabalhos de pesquisa) a sentir medo ao ver animais. O experimento foi considerado um sucesso e marcou o ponto alto da carreira acadêmica 7 de Watson. O objetivo do experimento era mostrar como os princípios do condicionamento clássico, recém-formulado por Pavlov, poderiam ser aplicados para condicionar o medo de um rato branco a "Little Albert", um menino de 9 meses de idade. Watson e Rosalie Rayner condicionaram "Little Albert" tocando uma barra de ferro quando um rato branco lhe era apresentado. Primeiro, apresentaram-lhe o rato branco e observaram que o bebê não apresentava medo. Em seguida, apresentaram-lhe um rato branco e tocaram um gongo em seguida, a que Little Albert respondeu chorando. Esta segunda apresentação foi repetida várias vezes. Finalmente, Watson e Rayner apresentaram o rato branco por si só e o menino mostrou medo que mostraria ao som do gongo. Mais tarde, na tentativa de ver se o medo se transferia para outros objetos, Watson apresentou a Albert um coelho, um cachorro e um casaco de pele. Ele chorou ao ver todos eles. Este estudo demonstrou como as emoções poderiam tornar-se respostas condicionadas. Little Albert foi levado pela mãe para outra cidade e um problema ético deste estudo foi, portanto, que Watson e Rayner não descondicionaram o bebê. O experimento com Little Albert reforçou a ênfase de Watson em fatores ambientais. Já que Little Albert não temia o rato e o coelho branco até estar condicionado a fazê-lo, Watson concluiu que os pais podem moldar o comportamento e o desenvolvimento de uma criança simplesmente por meio de um controle planejado de todas as associações estímulo-resposta. http://josuedeoliveira.blogspot.com.br/2012/05/john-watson-teoria-do-behaviorismo.html OUTRO ROMANCE… MUITAS CONSEQUÊNCIAS Watson e Rosalie Rayner, que aparece na filmagem com Little Albert, iniciaram um caso. Watson tinha 42 anos quando Rosalie (com cerca de metade dessa idade) veio estudar na Universidade de Johns Hopkins. Ela pertencia a uma família rica e influente - seu tio era senador dos EUA – e, então, quando começaram um caso, eles inicialmente ocultaram-no. No entanto, sua esposa o descobriu e decidiu encerrar o relacionamento de forma surpreendente. Numa ocasião, quando os Watson estavam visitando os Rayner, Mary entrou furtivamente no quarto de Rosalie e subtraiu várias cartas de amor de seu 8 marido para a amante. De posse dessas cartas, comprovou a infidelidade de Watson e conseguiu divorciar-se em 1920 – obteve a custódia de suas duas filhas e um generoso acordo de pensão alimentícia. CONSEQUÊNCIA ACADÊMICA I Watson cometeu um sério erro de cálculo quanto manter público o seu relacionamento com Rosalie após o divórcio. Ele estava convencido de que sua reputação em Johns Hopkins o mantinha em um patamar inabalável. Mas o conselho administrativo da faculdade decidiu de forma diversa. Entenderam que, não apenas Watson havia tido um caso com uma aluna, mas que a attitude de Watson ameaçava o relacionamento da universidade com o avô da aluna, que era um grande benfeitor da universidade. Então, em outubro de 1920, um mês antes de obter o divórcio, Watson foi chamado à direção da universidade e demitiu-se. CONSEQUÊNCIA ACADÊMICA II O julgamento para o divórcio transformou-se em um escândalo nacional. Alguém (possivelmente uma Mary vingativa) vazou uma das cartas de amor de Watson para a imprensa, que as imprimiu na íntegra, com detalhes bastante constrangedores. Rosalie Rayner e John Broadus Watson casaram-se em 31 de dezembro de 1920. MIGRAÇÃO PARA A PUBLICIDADE Por causa do que acabara de acontecer, Watson passou acontar com poucas chances de conseguir uma colocação em outra universidade e acabou migrando para o setor privado. Começou um novo trabalho como executivo na agência de publicidade J Walter Thompson. Como era tradicional na empresa, Watson passou vários meses vendendo amostras de porta em porta e trabalhando atrás do balcão da Macy's, a fim de ter a exata compreensão do comportamento dos clientes. Seu salário subiu para $25.000 por ano – quatro vezes o que ganhava como docente. Ele mereceria cada centavo pois revolucionou a publicidade. A grande inovação de Watson foi a constatação de que os fatos eram em grande parte irrelevantes para a venda de 9 produtos. O importante era provocar uma resposta emocional - medo, raiva (“embora não muita raiva”), amor. O primeiro deles foi a raiz de uma de suas campanhas mais bem-sucedidas, a do talco Johnson’s. A campanha foi direcionada especificamente para mães brancas de classe média, e a linguagem usada foi cuidadosamenteselecionada. O talco era “puro” e “limpo”, enquanto a falha em usá-lo “expunha as crianças ao risco de infecção”. A idéia era fazer com que as mulheres tivessem temessem por seus filhos, e ficassem receosas de serem vistas como mães ruins se não usassem o produto. A campanha foi um enorme sucesso. Watson também foi pioneiro do “endosso de produtos por celebridades”. Ele havia percebido que as pessoas reagiam emocionalmente às pessoas admiradas. Inseriu então as associações clássicas de Pavlov nas campanhas pblicitárias. Um exemplo disso foi sua campanha para o creme facial Ponds, cujas vendas haviam despencado devido à sua percepção como um produto “genérico”. Quando a rainha Maria, da Romênia, visitou os EUA em 1923 e foi destacada por muitos jornais como possuidora de uma beleza glamourosa, Watson enviou-lhe amostras grátis dos produtos Ponds para obter sua aprovação. Logo o creme facial retornou ao nível elevado de vendas. 10 Parte da genialidade de Watson era associar seus produtos às tendências sociais existentes, muitas vezes de formas inesperadas. Por exemplo, em meados da década de 1920, muitas mulheres começaram a fumar como forma de parecerem modernas e sofisticadas. Watson desenhou uma série de anúncios que giravam em torno de uma mulher fumar um cigarro de forma sedutora e frases sugerindo que ela poderia fazê-lo sem medo de prejudicar sua atratividade porque usava o creme dental Pebeco. A pasta de dente foi assim diretamente ligada à sexualidade e à necessidade sexual, uma grande avanço na eficácia da publicidade . WATSON NA GERÊNCIA Watson foi reconhecido como um dos principais psicólogos publicitários nos Estados Unidos. Ele aplicou seus conhecimentos não apenas ao marketing, mas também à gerência. Sua crença era de que o funcionário ideal era alguém que se automotivava, e a quem o trabalho tornava-se parte de sua identidade. Tal pessoa colocaria os objetivos de sua corporação acima de seus objetivos pessoais, incapaz de distinguir entre trabalho e vida. Essa teorização teve grande sucesso junto a muitas empresas e 11 organizações. As conseqüências destrutivas desse tipo de abordagem e a infelicidade que pode causar aos empregados dessas organizações perduram lamentavelmente até hoje. REABILITAÇÃO JUNTO À ACADEMIA Apesar de ter saído da academia, Watson tornou-se referência no behaviorismo. Podemos considerá-lo o primeiro "psicólogo pop", um especialista em ciências psicológicas. Em meados da década 1920, ele teve uma série de debates com o pseudocientista William McDougall, que pregava uma forma de psicologia de estilo lamarquista, de acordo com a qual as crianças herdariam os impulsos que seus pais haviam desenvolvido na vida. Ele foi fortemente combatido pelo establishment psicológico, que achava que seus pontos de vista colocavam em risco um quarto de século de trabalho árduo para estabelecer a psicologia como ciência. Combater McDougall ajudou Watson a reabilitar-se junto à academia. OS CONSELHOS DE UM “EXPERT” EM CRIANÇAS Watson estava interessado no condicionamento das emoções e, já que o behaviorismo enfatizava os comportamentos externos, as emoções eram consideradas meras respostas físicas. Haveria apenas três reações emocionais não aprendidas, ao nascer: Medo Apenas dois estímulos incondicionados evocam o medo: um barulho repentino e a perda suporte físico. E o fato de que as crianças mais velhas têm medo de muitas outras coisas (animais diferentes, pessoas estranhas etc ...) se deve a medos aprendidos, como “demonstrou” com o experimento do Little Albert. O medo nos bebês poderia ser observado pelas seguintes reações: chorar, respirar rapidamente, fechar os olhos ou pular repentinamente. Raiva: É uma resposta inata ao movimento do corpo da criança que está sendo constrangida. Se uma criança muito nova é segurada de forma que não possa mover-se, ela começará a gritar e enrijecer seu corpo. Mais tarde, essa reação seria aplicada a diferentes situações. As crianças ficam com raiva quando são forçadas a tomar banho ou limpar o quarto. Essas situações provocariam raiva porque estão associadas à contenção física. 12 Amor: Watson disse que o amor era uma resposta automática dos bebês ao serem acariciados levemente, com cócegas ou tapinhas. A criança então responde com sorrisos, risadas e outras respostas afetivas. Para ele, os bebês não amam pessoas específicas mas são condicionados a fazê-lo. Como o rosto da mãe está progressivamente associado ao ato de acariciar e acariciar, torna-se o estímulo condicionado provocando a afeição por ela. Sentimentos afetuosos por outras pessoas geram posteriormente a mesma resposta, porque são de alguma forma associados à mãe. Embora tenha escrito extensivamente sobre criação de filhos em muitas revistas populares e um livro, Watson depois declarou ter-se arrependido de ter escrito na área, afirmando que "não sabia o suficiente" para fazer um bom trabalho. As crianças, para Watson, deveriam ser tratadas com respeito, mas com relativo desapego emocional, como adultos jovens. Seu intuito era prepará-los para o mundo real, onde raramente há atenuações, e por isso os pais não deveriam estabelecer expectativas irrealistas. A síntese das visões de Watson pode ser encontrado em um artigo publicado em junho de 1929. Watson originalmente chamou-o Utopia Behaviorista, mas foi publicado como “Deveria uma criança ter mais de uma mãe?” e consiste em uma expansão das idéias contidas em seu livro Psychological Care of Infant and Child, de 1928. Nele, argumentava que a família moderna era totalmente inadequada para o propósito de criar filhos, porque “prolongava o periodo da infância ”. Igualmente desaprovou chupar o dedo, a masturbação, a homossexualidade e incentivou os pais a serem honestos com seus filhos sobre sexo. Admirou o trabalho infantil. Principalmente, Watson inferiu que as deficiências emocionais eram resultado de tratamento pessoal, não herdado. Admirava o trabalho infantil e culpava o afeto que os pais devotavam aos filhos por todos os males modernos. Alguns exertos de seus livros seguem abaixo: “Nunca os abrace e beije, nunca deixe que eles se sentem no seu colo. Se precisar, beije-os uma vez na testa quando eles disserem boa noite. Aperte as mãos com eles pela manhã. Dê-lhes um tapinha na cabeça se eles fizeram um trabalho extraordinariamente bom em uma tarefa difícil”. 13 "Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e meu próprio mundo especificado para criá-los e eu vou garantir a tomar qualquer uma ao acaso e treiná-lo para se transformar em qualquer tipo de especialista que eu selecione - advogado, médico, , artista, comerciante-chefe, e, sim, mesmo mendigo e ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências, habilidades, vocações e raça de seus antepassados. " Para evitar o afeto familiar destrutivo, Watson sugeriu que a amamentação fosse proibida, que as mães fossem impedidas de conhecer a identidade de seus filhos e que as crianças fossem rodadas entre os pais em intervalos de quatro semanas até atingirem a idade de vinte anos (!). Watson pesquisou muitos tópicos em sua carreira, mas a criação de filhos tornou-se seu interesse mais valioso. Seu livro era extremamente popular e muitos críticos ficaram surpresos ao ver seus contemporâneos aceitarem seus pontos de vista. O livro vendeu 100.000 cópias depois de apenas alguns meses de lançamento. A ênfase de Watson no desenvolvimento infantil estava se tornando um fenômeno novo e influenciou alguns de seus sucessores, mas havia psicólogos antes dele que mergulharam no campo também. Controversas ou não as teorias de Watson receberam muita atenção e foram aceitas como valiosas em seu tempo. PÉROLAS DA UTOPIA DISTÓPICA DE WATSON • A religião devia ser banida; 14 • Aqueles que fossem incapazes de se ajustar à "utopia" deveriam ser presos e ganhariam seu sustento trabalhando em instituições agrícolas e manufatureirasde onde não poderiam escapar". • O mundo se beneficiaria da extinção de gestações por vinte anos, enquanto dados suficientes foram coletados para garantir um processo eficiente de educação infantil. Mas o aspecto mais desconcertante de sua utopia são suas afirmações a respeito da mulher. Elas seriam impróprias para o local de trabalho e sua influência sobre os filhos era a raiz de todos os complexos. O principal propósito de uma mulher seria a “a arte de interessar e lidar com os homens”, enquanto “mulheres gordas e desfavorecidas pela beleza não deveriam ter permissão para reproduzir-se”. Ainda que essas idéias de Watson parecessem, em décadas futuras. uma espécie de delírio nazista, ele permaneceu popular para um público que achava suas convicções um alívio e bem-vindas ao mundo em vertiginosa mudança dos anos 30. APÓS 1920 Rosalie Rayner morreu repentinamente de pneumonia em 1935. Nos quinze anos anteriores, ela se tornara a única pessoa capaz de retirá-lo de sua concha e fazê-lo comparecer a compromissos sociais. 15 Com isso, o Watson de 57 anos tornou-se cada vez mais recluso. Ele tivera dois filhos com Rosie, mas suas crenças o levaram a manter deliberadamente uma distância emocional que levaria ao completo distanciamento deles à medida que cresciam. Em 1945, aposentou-se da publicidade e mudou-se para Connecticut, onde viveu completamente recluso. Ironicamente, o menino do interior havia comprado uma fazenda e vivia a velhice de forma semelhante à sua infância – cuidando de animais e plantas frutíferas. Em 1957, a American Psychological Association quis homenageá-lo em sua reunião anual, mas Watson recusou-se a comparecer no último minuto. Enviou seu filho em seu lugar, por receio de que pudesse emocionar-se e em público. Um ano depois, com oitenta anos, Watson morreu em sua fazenda. A revolução publicitária que gerou, baseada na ressonância emocional sobre os fatos, continua inabalável até hoje. BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA: Jacó-Vilela, M.; Ferreira, A. A. L. & Portugal, F. T. (Orgs.). (2006). História da psicologia: Rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau Editora. [capítulos 2, 11 e 12]. Watson JB. Psychology as the Behaviorist Views It. In: Green CD, ed. Classics in the History of Psychology. Psychological Review. 1913;20:158-177. Watson JB, Rayner R. Conditioned Emotional Reactions. In: Green CD, ed. Classics in the History of Psychology. Journal of Experimental Psychology. 1920;3(1):1-14.
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