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UERJ TCC - Prof Cris Santana - WATSON.pdf

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UERJ	–	DEPARTAMENTO	DE	PSICOLOGIA	DISCIPLINA:	Psicologia	e	Bases	do	Pensamento	Cognitivo	Comportamental	PROFA:	Cristina	M.	T.	Santana	TEXTO	DE	AULA	–	04	de	maio	de	2018			JOHN	B.	WATSON	–	AS	SOMBRAS	NOS	PRIMÓRDIOS	DO	BEHAVIORISMO			John	Broadus	Watson	(Travelers	Rest,	9	de	janeiro	de	1878	—	Nova	Iorque,	25	de	setembro	de	1958)	foi	um	importante	e	extremamente	controverso	psicólogo	americano.		INFÂNCIA	DIFÍCIL	Watson	cresceu	em	Travelers	Rest,	South	Carolina,	o	quarto	de	seis	filhos,	e	a	família	morava	na	área	rural	da	cidade.	Sua	mãe,	Emma	Watson,	era	uma	batista	devota	que	havia	aderido	a	proibições	quanto	a	fumar,	dançar	e	tomar	bebidas	alcoólicas.	Submeteu	os	filhos,	especialmente	Watson	–	de	quem	esperava	seguisse	a	carreira	de	pastor	–	a	um	rígido	treinamento	religioso.	Isso	o	levaria	mais	tarde	a	desenvolver	uma	antipatia	que	duraria	a	vida	toda	por	todas	as	formas	de	religião.		O	pai	de	Watson	havia	lutado	pelos	confederados	na	Guerra	Civil	e	nunca	se	recuperou	dos	traumas	de	guerra.	Passava	a	maior	parte	do	tempo	fora	de	casa,	de	modo	que	sua	esposa,	criava	os	filhos	sozinha	na	fazenda	simples	em	que	viviam.	Quando	Watson	tinha	13	anos,	o	pai,	que	havia	se	tornado	alcoólatra,	deixou	a	família	para	viver	com	duas	mulheres	indígenas,	uma	transgressão	que	Watson	nunca	perdoou.		
		
	
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Emma	Watson	era	muito	engajada	em	sua	comunidade	e	desejava	que	seus	filhos	tivessem	educação	sólida	a	fim	de	escapar	à	pobreza.	Vendeu,	porisso,	sua	fazenda	e	mudou-se	com	a	família	para	Greenville,	South	Carolina,	em	1890,	quando	Watson	tinha	13	anos.		Watson	não	se	adaptou	à	mudança	para	a	cidade	grande	e	tornou-se	um	alvo	de	bullying	na	escola	-	"o	garoto	burro	do	interior".	Tal	frustração	levou-o	à	delinquência	e,	especificamente,	a	crimes	de	ódio.	Watson	chegou	a	ser	preso	por	seus	ataques	a	pessoas	negras	da	vizinhança	–	até	para	os	padrões	de	1890	ele	foi	considerado	extremo.			
FORMAÇÃO	E	VIDA	ACADÊMICA	Apesar	dos	problemas	na	adolencência,	a	influência	de	sua	mãe	na	igreja	local	conseguiu	garantir-lhe	um	lugar	na	Furman	University,	de	modo	que	Watson	ingressou	na	universidade	com	apenas	16	anos.	Foi	um	aluno	mediano,	mas	amadureceu,	dedicou-se	e	obteve	um	mestrado.	Ele	agora	se	desligava	da	vida	rural	e	adentrava	a	vida	acadêmica.	Após	formar-se,	foi	diretor	de	uma	escola.	Entretanto,	com	a	morte	da	mãe	em	1900,	mudou-se	para	Illinois,	onde	matriculou-se	na	Universidade	de	Chicago	para	estudar	psicologia.		A	psicologia	era	uma	nova	disciplina	e,	como	tal,	um	terreno	propício	a	portadores	de	novas	ideias.	Apesar	de	a	divisão	entre	filosofia	e	psicologia	ser	ainda	imprecisa,		a	natureza	da	mente	era	um	importante	tema	de	debate.	A	Universidade	de	Chicago	foi	pioneira	na	abordagem	da	mente	a	partir	do	funcionalismo,	que	se	opunha	à	abordagem	estruturalista,	preponderante	até	então	na	Europa.			
			O	próprio	Watson	havia	originalmente	matriculado-se	em	um	doutorado	em	filosofia,	mas	logo	mudou	para	psicologia	experimental.	Seu	mentor	foi	James	Rowland	Angell,	um	dos	pioneiros	da	psicologia,	e	que	o	encorajou	a	estudar	neurologia	como	um	assunto	secundário.		O	foco	no	cérebro	teve	grande	importância	no	início	da	carreira	de	Watson.	Sua	dissertação	sobre	o	desenvolvimento	da	inteligência	em	ratos	tem	sido	considerada	por	
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muitos	o	primeiro	experimento	psicológico	verdadeiro	por	sua	ênfase	na	observação	direta,	previsão	e	análise	do	contexto.		Watson	obteve	o	doutorado	em	1903,	com	apenas	25	anos.	Em	sua	dissertação,	"Educação	Animal:	Um	Estudo	Experimental	sobre	o	Desenvolvimento	Psíquico	do	Rato	Branco,	Correlacionado	com	o	Crescimento	de	seu	Sistema	Nervoso",	ele	descreveu	a	relação	entre	a	mielinização	cerebral	e	a	capacidade	de	aprendizagem	em	ratos	em	diferentes	idades.	Ele	demonstrou	que	o	grau	de	mielinização	cerebral	estava	diretamente	relacionado	ao	aprendizado	e	que	o	sentido	cinestésico	controlava	o	comportamento	de	ratos	ao	correr	em	labirintos.			
			No	ano	seguinte,	representou	a	Universidade	de	Chicago	no	Congresso	de	Artes	e	Ciências	em	St.	Louis,	e	tornou-se	uma	das	vozes	principais	entre	os	que	queriam	que	a	psicologia	rompesse	seus	laços	com	a	filosofia	e	se	alinhasse	às	ciências	biológicas.		Como	professor	de	psicologia	animal,	desenvolveu	investigações	sobre	o	comportamento	de	ratos	e	macacos.	Suas	experiências	com	animais,	controladas	de	forma	rigorosa	e	objetiva,	é	que	vão	inspirar-lhe	o	modelo	para	a	psicologia.	Watson	considera	que	os	mesmos	procedimentos	poderão	ser	aplicados	pelos	psicólogos	ao	estudarem	o	comportamento	humano.	Watson	assim	assume	claramente	a	abolição	da	barreira	entre	a	psicologia	humana	e	a	animal.			
CASAMENTO	Nessa	época,	Watson	havia	se	envolvido	com	uma	de	suas	alunas	na	Universidade	de	Chicago,	Mary	Ickes.	Por	ser	considerado	uma	quebra	de	ética	do	comportamento	dos	professores,	o	casal	manteve	seu	relacionamento	em	segredo	até	depois	que	Mary	deixou	a	universidade.	Casaram-se	então,	mas	não	foram	felizes	por	muito	tempo.			
UM	PRODUTIVO	PESQUISADOR	CONTROVERSO	Em	1906,	Watson	apresentou	um	artigo	sobre	como	privar	os	ratos	da	visão	ou	do	olfato	afetava	seu	desenvolvimento.	A	população	escandalizou-se	e	houve	reações	violentas	da	população	em	defesa	dos	animais.		
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	Em	1908,	Watson	deixou	Chicago	para	assumir	a	cátedra	na	Universidade	Johns	Hopkins,	em	Baltimore.	Um	fator	auspicioso	de	sua	vida	acadêmica	foi	sua	promoção	a	chefe	do	departamento	de	psicologia	quando	o	que	o	precedeu	foi	pego	pela	polícia	durante	uma	batida	em	um	bordel	(!).	Ao	ser	forçado	a	renunciar,	Watson	tornou-se	o	novo	chefe	do	departamento.			Em	1910,	ele	co-fundou	o	Journal	of	Animal	Behavior,	uma	publicação	de	pesquisa	que	apoiou	sua	posição	de	que	a	psicologia	experimental	em	animais	era	crucial	para	o	entendimento	da	psicologia	humana.	A	partir	daí,	ele	começou	a	redefinir	a	psicologia	e	a	elaborar	seu	próprio	modelo	de	como	abordá-la	-	com	base	no	trabalho	anterior	de	Pavlov,	entre	outros.			
ENTRA	O	BEHAVIORISMO	Em	1913,	em	uma	série	de	palestras	na	Universidade	de	Columbia,	Watson	expôs	os	fundamentos	de	sua	nova	abordagem	no	artigo	"Psychology	as	the	Behaviorist	Views	It"	-	às	vezes	chamado	de	"The	Behaviorist	Manifesto"	em	que	apresenta	a	ideia	de	que	o	comportamento	observável	é	tudo	o	que	é	necessário	para	entender	a	psicologia	de	uma	pessoa	ou	animal.		http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2008000200011		
		O	primeiro	parágrafo	do	artigo	descreveu	de	forma	concisa	a	posição	behaviorista	de	Watson:		"A	psicologia,	como	o	behaviorista	a	vê,	é	um	ramo	experimental	puramente	objetivo	da	ciência	natural.	Seu	objetivo	teórico	é	a	previsão	e	controle	do	comportamento.			“A	introspecção	não	faz	parte	essencial	de	seus	métodos,	nem	o	valor	científico	de	seus	dados	depende	da	prontidão	com	que	eles	se	prestam	à	interpretação	em	termos	de	consciência.		“O	behaviorista,	em	seus	esforços	para	obter	um	esquema	unitário	de	resposta	animal,	não	reconhece	nenhuma	linha	divisória	entre	o	homem	e	o	animal.		
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“O	comportamento	do	homem,	com	todo	o	seu	refinamento	e	complexidade,	forma	apenas	uma	parte	do	esquema	total	de	investigação	do	behaviorista	".		Entre	1913	e	1916,	embora	tenha	rejeitado	a	"Lei	do	Efeito"	de	Edward	L.	Thorndike	por	acreditar	que	continha	elementos	subjetivos	desnecessários,	Watson	incluiu	em	sua	obra	a	formulação	do	reflexo	condicionado	de	Pavlov.	Abordou	o	tema	em	seu	discurso	presidencial	à	Associação	Americana	de	Psicologia.	Esse	texto	também	é	notável	por	sua	forte	defesa	do	status	científico	objetivo	da	psicologia	aplicada,	que	na	época	era	considerada	muito	inferior	à	psicologia	experimental	estruturalista	estabelecida.		Com	o	behaviorismo,	Watson	colocou	a	ênfase	no	comportamento	externo	das	pessoas	e	em	suas	reações	em	determinadas	situações,	ao	invés	de	no	estado	mental	interno	dessas	pessoas.	Em	sua	opinião,	a	análise	de	comportamentos	e	reações	era	o	único	método	objetivo	para	compreender	as	ações	humanas.	Dessa	forma,	o	behaviorismo	de	Watsonrejeitou	o	estudo	da	consciência.	Ele	estava	convencido	de	que	ela	não	poderia	ser	estudada,	e	que	tentativas	anteriores	de	fazê-lo	apenas	dificultavam	o	avanço	das	teorias	psicológicas.	Ele	achava	que	a	introspecção	era	falha	e	apenas	produzia	mais	problemas	para	os	pesquisadores.	Esforçou-se	arduamente	para	que	a	psicologia	não	fosse	mais	considerada	a	ciência	da	mente.	Isso	contrastava	com	a	psicologia	introspectiva	de	Wundt,	que	procurava	desenvolver	uma	teoria	do	que	a	mente	era	e	de	sob	que	princípios	funcionava.		Essa	perspectiva,	combinada	às	ideias	complementares	do	determinismo,	do	continuismo	evolucionista	e	do	empirismo,	contribuiu	para	o	que	hoje	é	chamado	de	behaviorismo	radical,	que	Watson	acreditava	levaria	a	psicologia	a	uma	nova	era.	O	behaviorismo	de	Watson	foi	considerado	mais	moderno	e	revoluvionário	que	o	estruturalismo	e	o	funcionalismo,	embora	ignorasse	muito	do	que	a	psicologia	moderna	considera	seu	componente-chave	–	as	ações	fisiológicas	dentro	do	cérebro.		A	ênfase	no	comportamento	implicava	o	desdobramento	lógico	de	que,	se	o	compreendêssemos	–	se	soubéssemos	o	que	os	estímulos	externos	causam	–	poderíamos	controlá-lo.	O	foco	principal	da	nova	abordagem	de	Watson,	na	verdade,	era	tornar	a	psicologia	realmente	útil	e	científica,	de	modo	a	ser	verdadeiramente	aceita	pelo	establishment	científico.	E	surgiu	justamente	um	contexto	em	que	Watson	pudesse	testar	suas	novas	teorias.				
TRABALHO	PARA	O	EXÉRCITO	Convenceu-se	de	que	suas	técnicas	poderiam	ajudar	no	recrutamento	e	treinamento	industrial,	bem	como	garantir	a	ordem	no	espaço	de	trabalho.	E	foi	no	exército	dos	EUA,	quando	este	entrou	na	Primeira	Grande	Guerra,	que	ele	teve	a	oportunidade	de	colocar	seus	conhecimentos	em	prática.			
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		Watson	ficou	encumbido	de	formular	o	processo	de	seleção	de	alistados	para	o	treinamento	de	oficiais	e,	para	isso,	desenvolveu	os	primeiros	testes	de	aptidão.	Os	testes	mostraram-se	extremamente	úteis	para	auxiliar	o	processo	de	seleção	militar.	Por	essa	razão,	Watson	foi	enviado	à	Europa	para	estudar	aviadores	britânicos,	a	fim	de	desenvolver	testes	de	aptidão	para	seus	colegas	nos	Estados	Unidos.				
		No	entanto,	Watson	considerou	muito	frustrante	que	uma	grande	parte	dos	homens	que	estudara	na	Europa	tivessem	sido	mortos	em	batalha.	Achou	que	teve	que	passar	por	bombardeios	em	Paris	e	ataques	aéreos	em	Londres	“para	nada”.	Outro	dado	lamentável	de	sua	biografia	foi	demonstrar	sua	“sensibilidade	sulista”	com	o	fato	de	que	os	testes	de	aptidão	do	exército	não	discriminavam	raça,	e	o	conhecimento	de	que	havia	oficiais	negros	era-lhe	muito	inquietante.	Suas	críticas	ao	exército	sobre	essas	questões	quase	o	levaram	à	corte	marcial	e,	embora	ele	evitasse	dizê-lo,	ficou	desfavoravelmente	impressionado	com	as	forças	armadas.		A	ideia	de	uma	psicologia	aplicada	ao	recrutamento	e	treinamento	foi	popularizada	pelo	trabalho	de	Watson	no	Exército.	Como	resultado,	ele	e	vários	outros	acadêmicos	formaram	uma	empresa	de	consultoria	que	usava	conexões	de	guerra	com	a	indústria	para	aplicar	as	técnicas	de	aptidão	e	treinamento	à	força	de	trabalho.	Watson	também	atuou	no	Conselho	de	Higiene	Social	dos	EUA	para	estudar	a	eficácia	de	seus	filmes,	o	que	seria	um	precursor	de	alguns	de	seus	trabalhos	posteriores.			
LITTLE	ALBERT	Watson	conduziu	um	experimento	controverso	no	qual	condicionou	um	menino	(chamado	Albert	nos	trabalhos	de	pesquisa)	a	sentir	medo	ao	ver	animais.	O	experimento	foi	considerado	um	sucesso	e	marcou	o	ponto	alto	da	carreira	acadêmica	
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de	Watson.	O	objetivo	do	experimento	era	mostrar	como	os	princípios	do	condicionamento	clássico,	recém-formulado	por	Pavlov,	poderiam	ser	aplicados	para	condicionar	o	medo	de	um	rato	branco	a	"Little	Albert",	um	menino	de	9	meses	de	idade.			Watson	e	Rosalie	Rayner	condicionaram	"Little	Albert"	tocando	uma	barra	de	ferro	quando	um	rato	branco	lhe	era	apresentado.	Primeiro,	apresentaram-lhe	o	rato	branco	e	observaram	que	o	bebê	não	apresentava	medo.	Em	seguida,	apresentaram-lhe	um	rato	branco	e	tocaram	um	gongo	em	seguida,	a	que	Little	Albert	respondeu	chorando.	Esta	segunda	apresentação	foi	repetida	várias	vezes.	Finalmente,	Watson	e	Rayner	apresentaram	o	rato	branco	por	si	só	e	o	menino	mostrou	medo	que	mostraria	ao	som	do	gongo.	Mais	tarde,	na	tentativa	de	ver	se	o	medo	se	transferia	para	outros	objetos,	Watson	apresentou	a	Albert	um	coelho,	um	cachorro	e	um	casaco	de	pele.	Ele	chorou	ao	ver	todos	eles.	Este	estudo	demonstrou	como	as	emoções	poderiam	tornar-se	respostas	condicionadas.	Little	Albert	foi	levado	pela	mãe	para	outra	cidade	e	um	problema	ético	deste	estudo	foi,	portanto,	que	Watson	e	Rayner	não	descondicionaram	o	bebê.		O	experimento	com	Little	Albert	reforçou	a	ênfase	de	Watson	em	fatores	ambientais.	Já	que	Little	Albert	não	temia	o	rato	e	o	coelho	branco	até	estar	condicionado	a	fazê-lo,	Watson	concluiu	que	os	pais	podem	moldar	o	comportamento	e	o	desenvolvimento	de	uma	criança	simplesmente	por	meio	de	um	controle	planejado	de	todas	as	associações	estímulo-resposta.		http://josuedeoliveira.blogspot.com.br/2012/05/john-watson-teoria-do-behaviorismo.html			
OUTRO	ROMANCE…	MUITAS	CONSEQUÊNCIAS	Watson	e	Rosalie	Rayner,	que	aparece	na	filmagem	com	Little	Albert,	iniciaram	um	caso.		
		Watson	tinha	42	anos	quando	Rosalie	(com	cerca	de	metade	dessa	idade)	veio	estudar	na	Universidade	de	Johns	Hopkins.	Ela	pertencia	a	uma	família	rica	e	influente	-	seu	tio	era	senador	dos	EUA	–	e,	então,	quando	começaram	um	caso,	eles	inicialmente	ocultaram-no.		No	entanto,	sua	esposa	o	descobriu	e	decidiu	encerrar	o	relacionamento	de	forma	surpreendente.		Numa	ocasião,	quando	os	Watson	estavam	visitando	os	Rayner,	Mary	entrou	furtivamente	no	quarto	de	Rosalie	e	subtraiu	várias	cartas	de	amor	de	seu	
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marido	para	a	amante.	De	posse	dessas	cartas,	comprovou	a	infidelidade	de	Watson	e	conseguiu	divorciar-se	em	1920	–	obteve	a	custódia	de	suas	duas	filhas	e	um	generoso	acordo	de	pensão	alimentícia.			
CONSEQUÊNCIA	ACADÊMICA	I	Watson	cometeu	um	sério	erro	de	cálculo	quanto	manter	público	o	seu	relacionamento	com	Rosalie	após	o	divórcio.	Ele	estava	convencido	de	que	sua	reputação	em	Johns	Hopkins	o	mantinha	em	um	patamar	inabalável.	Mas	o	conselho	administrativo	da	faculdade	decidiu	de	forma	diversa.	Entenderam	que,	não	apenas	Watson	havia	tido	um	caso	com	uma	aluna,	mas	que	a	attitude	de	Watson	ameaçava	o	relacionamento	da	universidade	com	o	avô	da	aluna,	que	era	um	grande	benfeitor	da	universidade.	Então,	em	outubro	de	1920,	um	mês	antes	de	obter	o	divórcio,	Watson	foi	chamado	à	direção	da	universidade	e	demitiu-se.			
CONSEQUÊNCIA	ACADÊMICA	II	O	julgamento	para	o	divórcio	transformou-se	em	um	escândalo	nacional.	Alguém	(possivelmente	uma	Mary	vingativa)	vazou	uma	das	cartas	de	amor	de	Watson	para	a	imprensa,	que	as	imprimiu	na	íntegra,	com	detalhes	bastante	constrangedores.	Rosalie	Rayner	e	John	Broadus	Watson	casaram-se	em	31	de	dezembro	de	1920.				
MIGRAÇÃO	PARA	A	PUBLICIDADE	Por	causa	do	que	acabara	de	acontecer,	Watson	passou	acontar	com	poucas	chances	de	conseguir	uma	colocação	em	outra	universidade	e	acabou	migrando	para	o	setor	privado.			Começou	um	novo	trabalho	como	executivo	na	agência	de	publicidade	J	Walter	Thompson.	Como	era	tradicional	na	empresa,	Watson	passou	vários	meses	vendendo	amostras	de	porta	em	porta	e	trabalhando	atrás	do	balcão	da	Macy's,	a	fim	de	ter	a	exata	compreensão	do	comportamento	dos	clientes.		
		Seu	salário	subiu	para	$25.000	por	ano	–	quatro	vezes	o	que	ganhava	como	docente.	Ele	mereceria	cada	centavo	pois	revolucionou	a	publicidade.	A	grande	inovação	de	Watson	foi	a	constatação	de	que	os	fatos	eram	em	grande	parte	irrelevantes	para	a	venda	de	
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produtos.	O	importante	era	provocar	uma	resposta	emocional	-	medo,	raiva	(“embora	não	muita	raiva”),	amor.		O	primeiro	deles	foi	a	raiz	de	uma	de	suas	campanhas	mais	bem-sucedidas,	a	do	talco	Johnson’s.	A	campanha	foi	direcionada	especificamente	para	mães	brancas	de	classe	média,	e	a	linguagem	usada	foi	cuidadosamenteselecionada.	O	talco	era	“puro”	e	“limpo”,	enquanto	a	falha	em	usá-lo	“expunha	as	crianças	ao	risco	de	infecção”.		A	idéia	era	fazer	com	que	as	mulheres	tivessem	temessem	por	seus	filhos,	e	ficassem	receosas	de	serem	vistas	como	mães	ruins	se	não	usassem	o	produto.	A	campanha	foi	um	enorme	sucesso.		
		Watson	também	foi	pioneiro	do	“endosso	de	produtos	por	celebridades”.	Ele	havia	percebido	que	as	pessoas	reagiam	emocionalmente	às	pessoas	admiradas.	Inseriu	então	as	associações	clássicas	de	Pavlov	nas	campanhas	pblicitárias.	Um	exemplo	disso	foi	sua	campanha	para	o	creme	facial	Ponds,	cujas	vendas	haviam	despencado	devido	à	sua	percepção	como	um	produto	“genérico”.		Quando	a	rainha	Maria,	da	Romênia,	visitou	os	EUA	em	1923	e	foi	destacada	por	muitos	jornais	como	possuidora	de	uma	beleza	glamourosa,	Watson	enviou-lhe	amostras	grátis	dos	produtos	Ponds	para	obter	sua	aprovação.	Logo	o	creme	facial	retornou	ao	nível	elevado	de	vendas.	
	
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	Parte	da	genialidade	de	Watson	era	associar	seus	produtos	às	tendências	sociais	existentes,	muitas	vezes	de	formas	inesperadas.	Por	exemplo,	em	meados	da	década	de	1920,	muitas	mulheres	começaram	a	fumar	como	forma	de	parecerem	modernas	e	sofisticadas.	Watson	desenhou	uma	série	de	anúncios	que	giravam	em	torno	de	uma	mulher	fumar	um	cigarro	de	forma	sedutora	e	frases	sugerindo	que	ela	poderia	fazê-lo	sem	medo	de	prejudicar	sua	atratividade	porque	usava	o	creme	dental	Pebeco.		A	pasta	de	dente	foi	assim	diretamente	ligada	à	sexualidade	e	à	necessidade	sexual,	uma	grande	avanço	na	eficácia	da	publicidade	.			
			
		
WATSON	NA	GERÊNCIA	Watson	foi	reconhecido	como	um	dos	principais	psicólogos	publicitários	nos	Estados	Unidos.	Ele	aplicou	seus	conhecimentos	não	apenas	ao	marketing,	mas	também	à	gerência.	Sua	crença	era	de	que	o	funcionário	ideal	era	alguém	que	se	automotivava,	e	a	quem	o	trabalho	tornava-se	parte	de	sua	identidade.	Tal	pessoa	colocaria	os	objetivos	de	sua	corporação	acima	de	seus	objetivos	pessoais,	incapaz	de	distinguir	entre	trabalho	e	vida.	Essa	teorização	teve	grande	sucesso	junto	a	muitas	empresas	e	
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organizações.	As	conseqüências	destrutivas	desse	tipo	de	abordagem	e	a	infelicidade	que	pode	causar	aos	empregados	dessas	organizações	perduram	lamentavelmente	até	hoje.			
REABILITAÇÃO	JUNTO	À	ACADEMIA	Apesar	de	ter	saído	da	academia,	Watson	tornou-se	referência	no	behaviorismo.	Podemos	considerá-lo	o	primeiro	"psicólogo	pop",	um	especialista	em	ciências	psicológicas.		Em	meados	da	década	1920,	ele	teve	uma	série	de	debates	com	o	pseudocientista	William	McDougall,	que	pregava	uma	forma	de	psicologia	de	estilo	lamarquista,	de	acordo	com	a	qual	as	crianças	herdariam	os	impulsos	que	seus	pais	haviam	desenvolvido	na	vida.	Ele	foi	fortemente	combatido	pelo	establishment	psicológico,	que	achava	que	seus	pontos	de	vista	colocavam	em	risco	um	quarto	de	século	de	trabalho	árduo	para	estabelecer	a	psicologia	como	ciência.	Combater	McDougall	ajudou	Watson	a	reabilitar-se	junto	à	academia.		
		
OS	CONSELHOS	DE	UM	“EXPERT”	EM	CRIANÇAS		Watson	estava	interessado	no	condicionamento	das	emoções	e,	já	que	o	behaviorismo	enfatizava	os	comportamentos	externos,	as	emoções	eram	consideradas	meras	respostas	físicas.	Haveria	apenas	três	reações	emocionais	não	aprendidas,	ao	nascer:			Medo	Apenas	dois	estímulos	incondicionados	evocam	o	medo:	um	barulho	repentino	e	a	perda	suporte	físico.	E	o	fato	de	que	as	crianças	mais	velhas	têm	medo	de	muitas	outras	coisas	(animais	diferentes,	pessoas	estranhas	etc	...)	se	deve	a	medos	aprendidos,	como	“demonstrou”	com	o	experimento	do	Little	Albert.	O	medo	nos	bebês	poderia	ser	observado	pelas	seguintes	reações:	chorar,	respirar	rapidamente,	fechar	os	olhos	ou	pular	repentinamente.		Raiva:	É	uma	resposta	inata	ao	movimento	do	corpo	da	criança	que	está	sendo	constrangida.	Se	uma	criança	muito	nova	é	segurada	de	forma	que	não	possa	mover-se,	ela	começará	a	gritar	e	enrijecer	seu	corpo.	Mais	tarde,	essa	reação	seria	aplicada	a	diferentes	situações.	As	crianças	ficam	com	raiva	quando	são	forçadas	a	tomar	banho	ou	limpar	o	quarto.	Essas	situações	provocariam	raiva	porque	estão	associadas	à	contenção	física.	
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	Amor:	Watson	disse	que	o	amor	era	uma	resposta	automática	dos	bebês	ao	serem	acariciados	levemente,	com	cócegas	ou	tapinhas.	A	criança	então	responde	com	sorrisos,	risadas	e	outras	respostas	afetivas.	Para	ele,	os	bebês	não	amam	pessoas	específicas	mas	são	condicionados	a	fazê-lo.	Como	o	rosto	da	mãe	está	progressivamente	associado	ao	ato	de	acariciar	e	acariciar,	torna-se	o	estímulo	condicionado	provocando	a	afeição	por	ela.	Sentimentos	afetuosos	por	outras	pessoas	geram	posteriormente	a	mesma	resposta,	porque	são	de	alguma	forma	associados	à	mãe.		Embora	tenha	escrito	extensivamente	sobre	criação	de	filhos	em	muitas	revistas	populares	e	um	livro,	Watson	depois	declarou	ter-se	arrependido	de	ter	escrito	na	área,	afirmando	que	"não	sabia	o	suficiente"	para	fazer	um	bom	trabalho.	As	crianças,	para	Watson,	deveriam	ser	tratadas	com	respeito,	mas	com	relativo	desapego	emocional,	como	adultos	jovens.	Seu	intuito	era	prepará-los	para	o	mundo	real,	onde	raramente	há	atenuações,	e	por	isso	os	pais	não	deveriam	estabelecer	expectativas	irrealistas.			A	síntese	das	visões	de	Watson	pode	ser	encontrado	em	um	artigo	publicado	em	junho	de	1929.	Watson	originalmente	chamou-o	Utopia	Behaviorista,	mas	foi	publicado	como	“Deveria	uma	criança	ter	mais	de	uma	mãe?”	e	consiste	em	uma	expansão	das	idéias	contidas	em	seu	livro	Psychological	Care	of	Infant	and	Child,	de	1928.	Nele,	argumentava	que	a	família	moderna	era	totalmente	inadequada	para	o	propósito	de	criar	filhos,	porque	“prolongava	o	periodo	da	infância	”.	Igualmente	desaprovou	chupar	o	dedo,	a	masturbação,	a	homossexualidade	e	incentivou	os	pais	a	serem	honestos	com	seus	filhos	sobre	sexo.	Admirou	o	trabalho	infantil.	Principalmente,	Watson	inferiu	que	as	deficiências	emocionais	eram	resultado	de	tratamento	pessoal,	não	herdado.		
		Admirava	o	trabalho	infantil	e	culpava	o	afeto	que	os	pais	devotavam	aos	filhos	por	todos	os	males	modernos.	Alguns	exertos	de	seus	livros	seguem	abaixo:		“Nunca	os	abrace	e	beije,	nunca	deixe	que	eles	se	sentem	no	seu	colo.	Se	precisar,	beije-os	uma	vez	na	testa	quando	eles	disserem	boa	noite.	Aperte	as	mãos	com	eles	pela	manhã.	Dê-lhes	um	tapinha	na	cabeça	se	eles	fizeram	um	trabalho	extraordinariamente	bom	em	uma	tarefa	difícil”.	
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	"Dê-me	uma	dúzia	de	crianças	saudáveis,	bem	formadas,	e	meu	próprio	mundo	especificado	para	criá-los	e	eu	vou	garantir	a	tomar	qualquer	uma	ao	acaso	e	treiná-lo	para	se	transformar	em	qualquer	tipo	de	especialista	que	eu	selecione	-	advogado,	médico,	,	artista,	comerciante-chefe,	e,	sim,	mesmo	mendigo	e	ladrão,	independentemente	dos	seus	talentos,	inclinações,	tendências,	habilidades,	vocações	e	raça	de	seus	antepassados.	"			
			Para	evitar	o	afeto	familiar	destrutivo,	Watson	sugeriu	que	a	amamentação	fosse	proibida,	que	as	mães	fossem	impedidas	de	conhecer	a	identidade	de	seus	filhos	e	que	as	crianças	fossem	rodadas	entre	os	pais	em	intervalos	de	quatro	semanas	até	atingirem	a	idade	de	vinte	anos	(!).		Watson	pesquisou	muitos	tópicos	em	sua	carreira,	mas	a	criação	de	filhos	tornou-se	seu	interesse	mais	valioso.	Seu	livro	era	extremamente	popular	e	muitos	críticos	ficaram	surpresos	ao	ver	seus	contemporâneos	aceitarem	seus	pontos	de	vista.	O	livro	vendeu	100.000	cópias	depois	de	apenas	alguns	meses	de	lançamento.		A	ênfase	de	Watson	no	desenvolvimento	infantil	estava	se	tornando	um	fenômeno	novo	e	influenciou	alguns	de	seus	sucessores,	mas	havia	psicólogos	antes	dele	que	mergulharam	no	campo	também.		Controversas	ou	não	as	teorias	de	Watson	receberam	muita	atenção	e	foram	aceitas	como	valiosas	em	seu	tempo.			PÉROLAS	DA	UTOPIA	DISTÓPICA	DE	WATSON		
• A	religião	devia	ser	banida;		
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• Aqueles	que	fossem	incapazes	de	se	ajustar	à	"utopia"	deveriam	ser	presos	e	ganhariam	seu	sustento	trabalhando	em	instituições	agrícolas	e	manufatureirasde	onde	não	poderiam	escapar".		
• O	mundo	se	beneficiaria	da	extinção	de	gestações	por	vinte	anos,	enquanto	dados	suficientes	foram	coletados	para	garantir	um	processo	eficiente	de	educação	infantil.			Mas	o	aspecto	mais	desconcertante	de	sua	utopia	são	suas	afirmações	a	respeito	da	mulher.	Elas	seriam	impróprias	para	o	local	de	trabalho	e	sua	influência	sobre	os	filhos	era	a	raiz	de	todos	os	complexos.	O	principal	propósito	de	uma	mulher	seria	a	“a	arte	de	interessar	e	lidar	com	os	homens”,	enquanto	“mulheres	gordas	e	desfavorecidas	pela	beleza	não	deveriam	ter	permissão	para	reproduzir-se”.		Ainda	que	essas	idéias	de	Watson	parecessem,	em	décadas	futuras.	uma	espécie	de	delírio	nazista,	ele	permaneceu	popular	para	um	público	que	achava	suas	convicções	um	alívio	e	bem-vindas	ao	mundo	em	vertiginosa	mudança	dos	anos	30.			
APÓS	1920	Rosalie	Rayner	morreu	repentinamente	de	pneumonia	em	1935.	Nos	quinze	anos	anteriores,	ela	se	tornara	a	única	pessoa	capaz	de	retirá-lo	de	sua	concha	e	fazê-lo	comparecer	a	compromissos	sociais.			
				
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Com	isso,	o	Watson	de	57	anos	tornou-se	cada	vez	mais	recluso.	Ele	tivera	dois	filhos	com	Rosie,	mas	suas	crenças	o	levaram	a	manter	deliberadamente	uma	distância	emocional	que	levaria	ao	completo	distanciamento	deles	à	medida	que	cresciam.		
			Em	1945,	aposentou-se	da	publicidade	e	mudou-se	para	Connecticut,	onde	viveu	completamente	recluso.	Ironicamente,	o	menino	do	interior	havia	comprado	uma	fazenda	e	vivia	a	velhice	de	forma	semelhante	à	sua	infância	–	cuidando	de	animais	e	plantas	frutíferas.		Em	1957,	a	American	Psychological	Association	quis	homenageá-lo	em	sua	reunião	anual,	mas	Watson	recusou-se	a	comparecer	no	último	minuto.	Enviou	seu	filho	em	seu	lugar,	por	receio	de	que	pudesse	emocionar-se	e	em	público.	Um	ano	depois,	com	oitenta	anos,	Watson	morreu	em	sua	fazenda.	A	revolução	publicitária	que	gerou,	baseada	na	ressonância	emocional	sobre	os	fatos,	continua	inabalável	até	hoje.				
BIBLIOGRAFIA	DE	REFERÊNCIA:	Jacó-Vilela,	M.;	Ferreira,	A.	A.	L.	&	Portugal,	F.	T.	(Orgs.).	(2006).	História	da	psicologia:	Rumos	e	percursos.	Rio	de	Janeiro:	Nau	Editora.	[capítulos	2,	11	e	12].		Watson	JB.	Psychology	as	the	Behaviorist	Views	It.	In:	Green	CD,	ed.	Classics	in	the	History	of	Psychology.	Psychological	Review.	1913;20:158-177.		Watson	JB,	Rayner	R.	Conditioned	Emotional	Reactions.	In:	Green	CD,	ed.	Classics	in	the	History	of	Psychology.	Journal	of	Experimental	Psychology.	1920;3(1):1-14.

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