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INTRODUÇÃO: O presente trabalho tem como objetivo analisar as alterações trazidas ao Direito Penal no tocante aos crimes sexuais de estupro e atentado violento ao pudor, demonstrando a evolução social e legislativa no Brasil. O Direito deve acompanhar a evolução conceitual da sociedade para que as normas sejam estabelecidas e aplicadas em harmonia. Portanto, o Direito se transforma constantemente no tempo e no espaço, seguindo as mudanças da civilização humana. Os crimes sexuais são tratados de forma relevante pela legislação penal brasileira, que se aprimorou ao longo do tempo de modo a proteger a dignidade da pessoa humana e a liberdade sexual. Dentre as mudanças ocorridas, observa-se que os crimes sexuais, anteriormente denominados ―Dos crimes contra os costumes‖, passaram a se chamar ―Dos crimes contra a dignidade sexual‖. Se antes o bem jurídico protegido era apenas a liberdade sexual da mulher, hoje a preocupação diz respeito à liberdade sexual de todos os indivíduos. Como sujeito passivo, portanto, admite-se também o homem. As penas também passaram por diversas mudanças no ordenamento brasileiro, sendo que uma importante evolução se deu com o tratamento igualitário dos sujeitos ativo e passivo, independentemente da posição social ocupada por eles. Essas e outras alterações serão abordadas de acordo com as peculiaridades de cada legislação, desde as Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, o Código Criminal do Império, o Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, a Consolidação das Leis Penais, o Código Penal de 1940, bem como a Lei nº 12.015/09. Ordenações Afonsinas (1500 – 1514), Manuelinas (1514 – 1603) e Filipinas (1603 – 1916): As Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas constituem códigos de leis promulgados e publicados por determinação de D. Afonso V, D. Manuel I e Filipe I, respectivamente, as quais integraram o sistema jurídico português. Tais ordenações foram a base e serviram de referência na formação do Direito Brasileiro do Primeiro Império. Os fundamentos primordiais dessas ordenações tinham cunho religioso, visto que a conduta criminosa se confundia com o pecado. As Ordenações eram divididas em cinco livros, sendo que o último versava sobre Direito Penal e Processo Penal. Nas Ordenações Afonsinas o delito de estupro era previsto sob o Titulo VI do Livro V, denominado “Da molher forçada, e como fe deve a provar a força”. Era punido todo aquele que ajudasse ou desse conselho a alguém para cometer o crime de estupro, sendo que, ao homem que dormisse de modo forçado com qualquer mulher honesta, a pena era de morte. A mulher que se queixasse ter sido vítima de estupro deveria seguir alguns rituais, além de queixar-se à justiça. No que tange às Ordenações Manuelinas, que substituíram as Afonsinas, no Título XIV do Livro V, além da previsão da pena de morte para o homem que dormisse forçosamente com qualquer mulher (até mesmo as escravas), também era prevista a conduta de constrangimento à mulher, mesmo que não houvesse conjunção carnal. A pena nesse caso era de trinta dias de cadeia. Importante ressaltar que tais ordenações (Afonsinas e Manuelinas) não tiveram vigência no Brasil. Em relação às Ordenações Filipinas, que foram efetivamente aplicadas no Brasil, os crimes sexuais eram previstos no Título XVIII do Livro V, denominados “crimes de violência com o intuito de satisfazer os prazeres sexuais”. Assim previa tal ordenação: ―Do que dorme per força com qualquer mulher, ou trava della, ou a leva per sua vontade. Todo homem, de qualquer stado e condição que seja, que forçosamente dormir com qualquer mulher postoque ganhe dinheiro per seu corpo, ou seja scrava, morra por ello. (...) 1. E postoque o forçador depois do malefício feito case com a mulher forçada, e aindaque o casamento seja feito per vontade della, não será relevado da dita pena, mas morrerá, assi como se com ella não houvesse casado‖. Nestas ordenações, era prevista a conduta de estupro voluntário de mulher virgem, chamada de ―conjunção carnal obtida forçosamente‖, sendo que a pena aplicada era a de morte, ainda que o autor se casasse com a vítima. Tal conduta, portanto, era severamente reprimida, visto que o ofensor pagava pelo crime com a própria vida. Também eram previstas penas para a prática de atos libidinosos, considerados comportamentos sexuais contra a natureza, diferentes da conjunção carnal, o que se assemelha, portanto, com o crime de atentado violento ao pudor. Código Criminal do Império (1830 – 1891): No que diz respeito ao Direito Penal, esteve em vigor no Brasil o Livro V das Ordenações Filipinas desde o século XVII. O período do Brasil Império se iniciou com a Independência, em 07 de setembro de 1822, e terminou com a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. Nesse período foi sancionado, em 1830, o primeiro código penal brasileiro, denominado Código Criminal do Império, que vigorou de 1831 a 1891, trazendo importantes avanços em relação à proteção da integridade física. Os crimes eram divididos entre públicos (praticados contra o Império), privados (contra a liberdade individual) e policiais (praticados contra as normas policiais e regras públicas). Tal código previa a individualização da pena, a existência de agravantes e atenuantes, um julgamento especial para menores de 14 anos, bem como o tratamento desigual das pessoas, como por exemplo, em relação aos escravos, prostitutas e pessoas honestas. A primeira classificação do crime denominado estupro surgiu no Código Criminal do Império, previsto no Capítulo II – Dos crimes contra a segurança da honra, Seção I – Estupro. Quanto ao bem jurídico protegido em relação aos crimes de estupro e atentado violento ao pudor no Código de 1830, constata-se, portanto, a segurança da honra. Assim previam os artigos 219 a 225: Art. 219. Deflorar mulher virgem, menor de dezasete annos. Penas - de desterro para fóra da comarca, em que residir a deflorada, por um a tres annos, e de dotar a esta. Art. 220. Se o que commetter o estupro, tiver em seu poder ou guarda a deflorada. Penas - de desterro para fóra da provincia, em que residir a deflorada, por dous a seis annos, e de dotar esta. Art. 221. Se o estupro fôr commettido por parente da deflorada em gráo, que não admitta dispensa para casamento. Penas - de degredo por dous a seis annos para a provincia mais remota da em que residir a deflorada, e de dotar a esta. Art. 222. Ter copula carnal por meio de violencia, ou ameaças, com qualquer mulher honesta. Penas - de prisão por tres a doze annos, e de dotar a offendida. Se a violentada fôr prostituta Penas - de prisão por um mez a dous annos. Art. 223. Quando houver simples offensa pessoal para fim libidinoso, causado dôr, ou algum mal corporeo a alguma mulher, sem que se verifique a copula carnal. Penas - de prisão por um a seis mezes, e de multa correspondente á metade do tempo, além das em que incorrer o réo pela offensa. Art. 224. Seduzir mulher honesta, menor dezasete annos, e ter com ella copula carnal. Penas - de desterro para fóra da comarca, em que residir a seduzida, por um a tres annos, e de dotar a esta. Art. 225. Não haverão as penas dos tres artigos antecedentes os réos, que casarem com as offendidas. O crime de estupro era previsto no artigo 222, sendo que a punição era aplicada de forma mais severa se a vítima fosse uma mulher honesta, quando a pena era de três a doze anos de prisão. Caso a vítima fosse prostituta, a pena de prisão era de um mês a dois anos. O artigo223 previa o crime de atentado violento ao pudor, caracterizado por uma ofensa moral para fim libidinoso, ou seja, voltado a realizar os prazeres sexuais. Nessa hipótese, a pena era prisão de um a seis meses e multa. A sedução de menor de dezessete anos era prevista no artigo 224, sendo que a conjunção carnal caracterizava o exaurimento da conduta. A pena aplicada era a de desterro por um a três anos. Não eram aplicadas as penas previstas nos artigos 222, 223 e 224 caso o ofensor se casasse com a vítima. No Código Criminal do Império, tanto no estupro, quanto no atentado violento ao pudor, a vítima (sujeito passivo do crime) era sempre a mulher. Verifica-se, portanto, que tal código é marcado por importantes mudanças legislativas. Código Penal de 1890: O delito de estupro no Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, ou, Código Criminal da República, promulgado pelo Decreto n. 847, de 11 de outubro de 1890, encontrava-se disposto no Título VIII denominado “Dos crimes contra a segurança da honra e honestidade das famílias e do ultraje publico ao pudor”, dentro do Capítulo I, intitulado ―Da Violência Carnal‖. O referido delito estava previsto no artigo 269, que lhe imputava a seguinte descrição: “Chama-se estupro o acto pelo qual o homem abusa com violencia de uma mulher, seja virgem ou não”. Assim, nota-se que somente o homem poderia ser o sujeito ativo, e que o aludido Código Penal restringiu à tipificação de estupro apenas o abuso carnal contra mulher, praticado sem o seu consentimento, pois havia o emprego da violência, a qual era entendida, a partir da redação dada pelo mesmo artigo, do seguinte modo: ―Por violencia entende-se não só o emprego da força physica, como o de meios que privarem a mulher de suas faculdades psychicas, e assim da possibilidade de resistir e defender-se, como sejam o hypnotismo, o chloroformio, o ether, e em geral os anesthesicos e narcóticos”. A descrição do tipo penal encontrava-se disposta no artigo 268, cuja redação era ―Estuprar mulher virgem ou não, mas honesta”, com a aplicação da pena de prisão celular, de um a seis anos. Constava, ainda, uma ressalva no referido artigo, o qual dispunha, em seu §1º, que se a mulher violentada fosse “publica ou prostituta”, a pena aplicada seria a de prisão celular, de seis meses a dois anos. Deste modo, repara-se que o estupro praticado contra a mulher pública ou prostituta consistia em uma espécie de crime privilegiado, visto que sua pena era atenuada. Por ―mulher pública‖ entende-se ser aquela que tivesse uma vida entregue aos prazeres e que frequentassem determinados lugares impróprios, por exemplo. Por outro lado, o §2º do artigo 268 tratava da maneira qualificada do delito, expressando que se o crime fosse praticado com o concurso de duas ou mais pessoas, a pena seria aumentada ―da quarta parte‖. A existência de laços de sangue, relação de dependência ou outras facilidades para a realização do atentado também eram consideradas circunstâncias agravantes da pena. Cumpre apenas mencionar que o defloramento constava como crime no aludido Código Penal, em seu artigo 267, que assim expressava: “Art. 267. Deflorar mulher de menor idade, empregando seducção, engano ou fraude: Pena – de prisão cellular por um a quatro annos”. Assim, conclui-se que tal crime se diferenciava do delito de estupro pelo fato de ser praticado necessariamente com mulher virgem, de menor idade, e com o consentimento da mesma. Seu consentimento, porém, era obtido mediante sedução, engano ou fraude. Importante salientar que o estupro cometido contra o menor não era especificamente tratado pelo Código de 1890, porém, em seu artigo 272 (capítulo II), tratou-se da questão da presunção de violência para este caso, como assim disposto: “Art. 272. Presume-se commettido com violencia qualquer dos crimes especificados neste e no capitulo precedente, sempre que a pessoa offendida for menor de 16 annos”. Quanto aos bens jurídicos protegidos no crime de estupro, no Código Penal de 1890, pode-se mencionar a liberdade sexual e a honra, constatando- se este último a partir da própria redação do Título VIII, que trata “Dos crimes contra a segurança da honra e honestidade das famílias e do ultraje publico ao pudor”. Quanto ao delito de atentado violento ao pudor no Código Penal de 1890, este estava disposto no mesmo capítulo que tratava do crime de estupro, e encontrava-se exposto no artigo 266, que assim dizia: ―Attentar contra o pudor de pessoa de um, ou de outro sexo, por meio de violencias ou ameaças, com o fim de saciar paixões lascivas ou por depravação moral”. A pena aplicada para a prática de tal delito era a de prisão celular, de um a seis anos. Verifica-se que o artigo 266 tutelava a liberdade sexual tanto da mulher quanto do homem, diferenciando-se do crime de estupro, no qual o sujeito passivo era somente a mulher. O parágrafo único do mesmo artigo ressaltava, ainda, que incorreria na mesma pena aquele que corrompesse pessoa de menor idade, praticando com ela ou contra ela atos de libidinagem. No tocante aos bens jurídicos protegidos no crime de atentado violento ao pudor, no Código Penal de 1890, é possível citar os mesmos relativos ao delito de estupro, quais são: a liberdade sexual e a honra. Consolidação das Leis Penais de 1932: Cumpre ressaltar que o Código Penal de 1890 foi alvo de inúmeras críticas devido ao fato de apresentar graves defeitos de técnica, o que fez surgir diversos projetos para substituí-lo. No entanto, o referido código não foi substituído na íntegra, mas profundamente alterado e acrescido de leis extravagantes, com o intuito de complementá-lo. Foi por este motivo que surgiu a Consolidação das Leis Penais de 1932, realizada pelo Desembargador Vicente Piragibe. A Consolidação em questão continha 410 artigos e, nos termos do decreto de promulgação, o diploma aprovado não revogava dispositivo algum da legislação penal em vigor, no caso de incompatibilidade entre os textos respectivos (artigo 1º, parágrafo único). No tocante ao delito de estupro, este não sofreu alteração alguma com a Consolidação das Leis Penais, sendo que o que ocorreu foi apenas a realização de mínimas atualizações ortográficas, como assim se verifica: “Art. 268. Estuprar mulher virgem ou não, mas honesta: Pena – de prisão cellular por um a seis annos. § 1.º Si a estuprada fôr mulher publica ou prostituta: Pena – de prisão cellular por seis mezes a dois annos. § 2.º Si o crime fôr praticado com o concurso de duas ou mais pessoas, a pena será augmentada da quarta parte. Art. 269. Chama-se estupro o acto pelo qual o homem abusa com violencia de uma mulher, seja virgem ou não. Por violencia entende-se não só o emprego da força physica, como o de meios que privarem a mulher de suas faculdades psychicas, e assim da possibilidade de resistir e defender-se, como sejam o hypnotismo, o chloroformio, o ether, e, em geral, os anesthesicos e narcóticos”. Em relação ao delito de atentado violento ao pudor, previsto no artigo 266, foi acrescido o §2º pela Lei n. 2.992, de 25 de setembro de 1915, que contava com a seguinte redação: “§ 2°. Corromper pessoa menor de 21 annos, de um ou outro sexo, praticando com ella ou contra ella, actos de libidinagem: Pena – de prisão cellular por dois a quatro anos”. Entende-se por ―corromper‖ o ato de perverter (moral ou fisicamente); depravar; alterar, podendo-se concluir, com isso, que a vítima só poderia ser pessoa menor de 21 anos ―não corrompida‖. Isto é, o sujeito passivo do tipo em questão só poderia ser o menor de 21 anos que não tivesse experiênciasexual. Código penal de 1940 e Lei 11.106/2005 - Lei 12.015/2009: No código penal de 1940, os delitos de estupro e atentado violento ao pudor estavam disciplinados no Capítulo VI da Parte Especial, que era intitulado "Dos Crimes Contra os Costumes", sendo que o qual se compunha, originalmente, dos seguintes capítulos: I – Dos Crimes Contra a Liberdade Sexual, II – Da Sedução e da Corrupção de Menores, III – Do Rapto, IV – Disposições Gerais, V – Do Lenocínio e do Tráfico de (mulheres) pessoas, e VI - Do Ultraje Público ao Pudor. Com o advento da Lei 11.106 de 2005, houve a supressão do Capítulo III, que abordava os crimes de rapto, bem como a revogação do artigo 217, que tipificava o crime de sedução, e alterou o Capítulo V, que passou a ser intitulado de "Do Lenocínio e do Tráfico de Pessoas", ampliando sua abrangência. De acordo com Cezar Roberto Bitencourt (2010), o título "Dos Crimes Contra os Costumes" não correspondia aos bens jurídicos que pretendia tutelar, vez que o referido título abarca uma pluralidade de capítulos, razão pela qual passou a ser denominado "Dos crimes contra a dignidade sexual", a partir da Lei 12.015/2009. Tais alterações foram decorrentes de mudanças históricos sociais que fizeram com que houvesse uma adequação da lei ao meio social vigente. Assim, no Código de 1940, o crime de Estupro estava disposto no artigo 213 e previa pena de 3 a 8 anos para o caput, e de 4 a 10 para o parágrafo único (ofendida menor de quatorze anos), conforme segue: Art. 213. Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Pena - reclusão, de três a oito anos. Pena - reclusão, de três a oito anos. Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos: (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990) Pena - reclusão de quatro a dez anos. (Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990) (Revogado pela Lei n.º 9.281, de 4.6.1996) Pena - reclusão, de seis a dez anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) A Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990 (crimes hediondos), em seu art. 6º, aumentou o mínimo e o máximo da pena do caput, que passou de seis a dez anos. O parágrafo único foi acrescentado pela Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 (ECA). Finalmente, a Lei n. 9.281/96 revogou expressamente este parágrafo único. O bem jurídico tutelado é a liberdade sexual da mulher, isto é, a faculdade que a mesma possui para escolher livremente seu parceiro sexual, podendo recusar inclusive o próprio marido. Verifica-se que o sujeito passivo é a mulher (somente pessoa do sexo feminino). Isto é, há uma limitação quanto ao sujeito passivo, vez que necessariamente sobre a mulher recairia o ato de compelir à prática da conjunção carnal, praticada pelo homem. O sujeito ativo, portanto, só poderia ser o homem, à mulher cabendo apenas participação como autora mediata ou co-autora ou ainda como partícipe. Já o crime de atentado violento ao pudor estava disposto no artigo 214, conforme segue: Atentado violento ao pudor (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 214 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) Pena - reclusão de dois a sete anos. (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos: (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990) (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) Pena - reclusão de três a nove anos.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990) (Revogado pela Lei n.º 9.281, de 4.6.1996 Pena - reclusão, de seis a dez anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) O bem jurídico tutelado, neste caso, é a liberdade sexual do homem e da mulher, indiferentemente. Também não há distinção quanto ao sexo do sujeito ativo. Observa-se que após o advento da Lei n.8.072 de 1990, que cominou pena de reclusão de 6 (seis) a 10 (dez) anos tanto para o crime de estupro quanto para o atentado violento ao pudor, foi dado o mesmo tratamento a ambos os delitos. Com o advento da Lei 12.015/2009 houve a unificação dos crimes de estupro e atentado violento ao pudor. Tal Lei alterou o título VI do Código Penal, que passou a tutelar a dignidade sexual, intrinsecamente vinculada à liberdade e ao direito de escolha de parceiros. Houve deste modo o reconhecimento de que os crimes violentos ou fraudulentos atingem diretamente a dignidade, a liberdade e a personalidade do ser humano. Bitencourt (2012) destaca que a liberdade é um bem jurídico que possui grande relevância para a coletividade, sendo também um meio para atentar contra outros bens jurídicos. Nesse contexto, dentro da liberdade geral, a liberdade sexual aparece como um bem jurídico merecedor de uma proteção específica. Além da liberdade sexual verifica-se que o título correspondente aos "Crimes contra a Dignidade Sexual", abrange outras modalidades, sendo portanto mais adequado do que o anterior. Nesse ínterim, se os crimes sexuais na redação original dada pelo Código Penal de 1940 eram classificados como crimes contra os costumes, elucidando aspectos culturais e históricos que influenciaram a elaboração do referido diploma legal, com as mudanças supracitadas passou-se a buscar resguardar a própria dignidade sexual. Vejamos a redação dada após a Lei 12.015/2009 ao crime de estupro: Estupro Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena — reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. • Caput com redação determinada pela Lei n. 12.015, de 7 de agosto de 2009. § 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena — reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. § 2º Se da conduta resulta morte: Pena — reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. §§ 1º e 2º acrescentados pela Lei n. 12.015, de 7 de agosto de 2009. Verifica-se que o bem jurídico protegido é a liberdade sexual do homem e da mulher, isto é, a faculdade que ambos possuem de escolher livremente seus parceiros sexuais, podendo recusar, inclusive, o próprio conjugê, se assim o desejarem. Protege-se, portanto, a dignidade sexual individual do homem e da mulher, indistintamente, consubstanciada na liberdade sexual e direito de escolha. Tal proteção visa garantir que todos, que possuam capacidade de se autodeterminar sexualmente, que o faça com liberdade de escolha e vontade consciente. A liberdade sexual significa o direito de dispor livremente de suas necessidades sexuais ou voluptuárias. A este respeito, preleciona Nucci (2009): ―Dignidade fornece a noção de decência, compostura, respeitabilidade. A sua associação ao termo sexual insere-a no contexto dos atos tendentes à satisfação da sensualidade ou da volúpia. Considerando-se o direito à intimidade, à vida privada e honra, constitucionalmente assegurados (artigo 5, inciso X da Constituição Federal), alem do que a atividade sexual é não somente um prazer material, mas uma necessidade fisiológica para muitos, possui pertinência, a tutela penal da dignidade sexual. Em outros termos, busca-se proteger a respeitabilidade do ser humano em matéria sexual, garantindo-lhe a liberdade de escolha e a opção nesse cenário, sem qualquer forma de exploração, especialmente quando envolver, formas de violência‖ Assim, de grande relevância foram as alterações promovidas pela Lei 12.015/2009.CONCLUSÃO O tratamento dado aos delitos sexuais pelo ordenamento jurídico brasileiro passou por diversas alterações ao longo dos anos. Tais modificações refletem as mudanças ocorridas na sociedade em suas esferas social, política cultural e também econômica. Nesse ínterim, de grande relevância foi a alteração dada pela lei 12.015/2009, que unificou os crimes de estupro e atentado violento ao pudor. Tal Lei alterou o título VI do Código Penal, que passou a tutelar a dignidade sexual, intrinsecamente vinculada à liberdade e ao direito de escolha de parceiros. Houve deste modo o reconhecimento de que os crimes violentos ou fraudulentos atingem diretamente a dignidade, a liberdade e a personalidade do ser humano. Bibliografia: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Vol. 4. São Paulo: Saraiva, 2012. NUCCI, Guilherme de. Crimes Contra a Dignidade Sexual. Editora Revista dos Tribunais, São Paulo: 2009, p. 14. PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. 1, 9ª ed. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2010. BRASIL. Decreto n º 847, de 11 de outubro de 1890. Disponível em: < http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=66049>. Acesso em: 14 de setembro de 2015. MARTINS, José Renato. O delito de estupro após o advento da lei 12.015/09: questões controvertidas em face das garantias constitucionais. Disponível em: <http://www.abdconst.com.br/anais2/DelitoJose.pdf>. Acesso em: 15 de setembro de 2015. FILÓ, Mauro da Cunha Savino. O desafio da hermenêutica jurídica diante do crime de ―estupro de menor vulnerável‖. Disponível em: <http://www.unipac.br/site/bb/teses/dir5.pdf >. Acesso em: 15 de setembro de 2015. RIBEIRO, Pedro Melo Pouchain. A evolução da tutela jurídica dos delitos previstos no Título VI do Código Penal Brasileiro. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/20647/a-evolucao-da-tutela-juridica-dos-delitos- previstos-no-titulo-vi-do-codigo-penal-brasileiro>. Acesso em: 16 de setembro de 2015. MAIA, Adriele Gonçalves. O crime de estupro e sua correlação com a evolução da dignidade da pessoa humana e os direitos das mulheres. Disponível em: <http://revistaunar.com.br/juridica/documentos/vol9_n2_2014/o_crime_estupro. pdf >. Acesso em: 16 de setembro de 2015. BELLIZIA, Angelo A. S. A relativização da vulnerabilidade no crime de estupro de vulnerável. Disponível em: <http://angeloasb.jusbrasil.com.br/artigos/132378643/a-relativizacao-da- vulnerabilidade-no-crime-de-estupro-de-vulneravel>. 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