Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Apresentação Professor Luiz Hallváss Promotor de Justiça em Curitiba Especialista e Mestre em Direito PUNIBILIDADE E AS CAUSAS DE SUA EXTINÇÃO Com este tópico completamos o estudo do conceito operacional de delito, acrescentando mais uma etapa, que é sua consequência: a punibilidade. CONCEITO OPERACIONAL DE DELITO, NO QUAL ESTUDAMOS A TIPICIDADE DA CONDUTA A ILICITUDE DA CONDUTA A CULPABILIDADE DO AGENTE ___________________________________ CONSEQUÊNCIA: A PUNIBILIDADE A PUNIBILIDADE 1. Praticado um delito, nasce automaticamente a punibilidade, compreendida como a possibilidade jurídica do Estado impor uma sanção penal ao responsável pela infração penal (seja ele autor, coautor ou partícipe). 2. A punibilidade é uma consequência da infração penal. 3. É importante diferenciar que a punibilidade se consubstancia em duas pretensões do Estado, conforme exista ou não uma decisão condenatória transitada em julgado em relação a determinado sujeito: a) punibilidade como pretensão punitiva: não existe ainda condenação, ou se existe ainda não fez coisa julgada; b) punibilidade como pretensão executória: existe condenação com coisa julgada. CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 1. O direito de punir não é absoluto. 2. O legislador, estabelece uma série de causas subsequentes ao fato criminoso que extinguem essa punibilidade, impossibilitando a imposição da pena e a ocorrência dos efeitos de uma condenação. 3. O art. 107 do Código Penal enumera algumas causas dessa natureza, que serão a seguir estudadas. 3.1. Esse rol do art. 107 do CP, entretanto, não é taxativo, pois existem várias outras causas extintivas da punibilidade descritas na Parte Especial do Código e em outras leis penais. Exemplos, entre outros: a) a reparação do dano, no peculato culposo, efetivada antes do trânsito em julgado da sentença condenatória acarreta a extinção da punibilidade (CP, art. 312, § 3.°), ou b) o cumprimento integral do acordo de leniência, relativamente aos crimes contra a ordem económica tipificados na Lei 8.137/1990 (Lei 12.529/2011, art. 87, parágrafo único). 3.2. Nada impede inclusive a construção de causas supralegais de extinção da punibilidade (não previstas em lei) como a que decorre da Súmula 554 do Supremo Tribunal Federal: “O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal” (em senso contrário, o pagamento antes do recebimento da denúncia acarreta a extinção da punibilidade). MOMENTO DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE: 1. Algumas causas de extinção da punibilidade ocorrem somente antes do trânsito em julgado (como a renúncia do direito de queixa). 2. Outras causas de extinção da punibilidade ocorrem somente depois do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, como término do período de prova, sem revogação, do livramento condicional. 3. Finalmente algumas causas podem ocorrem tanto antes como depois do trânsito em julgado, como a morte do agente, ou a prescrição. 4. O reconhecimento de uma causa extintiva da punibilidade é matéria de ordem pública e, por isso, pode ser decretada em qualquer fase do inquérito ou da ação penal e em qualquer grau de jurisdição, de ofício ou em razão de provocação das partes (art. 61 do CPP). 5. Somente o juiz pode decretar a extinção da punibilidade. EFEITOS DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 1. Toda condenação definitiva acarreta diversos efeitos (previstos principalmente nos artigos 91 e 92 do CP), que podem ser alcançados pela extinção da punibilidade. 2. Assim, por exemplo, a pena é a consequência jurídica direta e imediata da sentença penal condenatória (seja privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa). 3. Além da pena, a sentença condenatória produz outros tantos efeitos, ditos secundários ou acessórios: a) de natureza penal (como a reincidência, caso pratique novo fato criminoso após a condenação) e b) efeitos secundários de natureza extrapenal (como a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime). 4. As causas de extinção da punibilidade que atingem a pretensão punitiva (ou seja, quando ainda não há trânsito em julgado) eliminam todos os efeitos penais de eventual sentença condenatória já proferida. Assim, essa sentença sem trânsito em julgado não serve como pressuposto da reincidência, nem pode ser usada como título executivo judicial na área cível. 4.1. Por sua vez, as causas extintivas que afetam a pretensão executória (ou seja, quando há trânsito em julgado da condenação), como regra geral, apagam unicamente o efeito principal da condenação, é dizer, a pena, subsistindo os efeitos secundários da sentença condenatória: pressuposto da reincidência e constituição de título executivo judicial no campo civil. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE E SEU REFLEXO NOS CRIMES CONEXOS, E ACESSÓRIOS Estabelece o art. 108 do Código Penal: “A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão”. 1. Crime acessório é aquele cuja existência depende da prática anterior de outro crime, chamado de principal. A extinção da punibilidade do crime principal não se estende ao crime acessório. Exemplo: a lavagem de dinheiro (Lei 9.613/1998, art. 1°) será punível mesmo com a extinção da punibilidade da infração penal que permitiu a sua prática. 2. Crime conexo é o praticado para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime. É o que se dá com o indivíduo que, para vender drogas, mata um policial que o investigava. A ele serão imputados os crimes de homicídio qualificado pela conexão (CP, art. 121, § 2.°, V) em concurso material com o tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33). Neste exemplo, de acordo com o art. 108 do Código Penal, ainda que ocorra a prescrição do tráfico de drogas (acarretando a extinção da punibilidade em relação a este crime), subsiste, no tocante ao homicídio, a qualificadora da conexão. CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PREVISTAS NO ART. 107 DO CP Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição (1º), decadência (2º) ou perempção (3º); V - pela renúncia do direito de queixa (1º) ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada (2º); VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. 1. MORTE DO AGENTE Art. 107, I do CP Extingue-se a punibilidade pela morte do agente (art. 107, I, do CP). Essa opção legislativa tem dois fundamentos: (1) o princípio da personalidade da pena: a pena não pode passar da pessoa do condenado (CF, art.5.°, XLV, 1ª parte); e (2) o brocardo de justiça pelo qual a morte tudo apaga (mors omnia solvit) 2. É evidente que esta causa extintiva pode se verificar a qualquer momento: antes ou durante a ação penal, bem como após a condenação definitiva. 3. Devido ao seu caráter pessoal, é incomunicável aos comparsas no caso de concurso de agentes. 3.1. Assim, ainda que morra o autor direto do crime, continuam puníveis os partícipes. 4. De acordo com o art. 62 do Código de Processo Penal, o juiz só pode decretar a extinção da punibilidade à vista de certidão de óbito original juntada aos autos e depois de ouvido o MinistérioPúblico. Extinção da punibilidade decretada em razão de certidão de óbito falsa Discute-se o que pode ser feito se, com fundamento em certidão de óbito falsa, foi declarada a extinção da punibilidade. Surgiram dois posicionamentos distintos: 1ª posição: o réu pode ser processado somente pelo crime de falso, pois o ordenamento jurídico brasileiro não contempla a revisão criminal pro societate. É a posição dominante em sede doutrinária; 2° posição: poderá haver revogação da decisão judicial, pois a declaração com falso fundamento não faria coisa julgada em sentido estrito. Em verdade, trata-se de decisão judicial inexistente, inidônea a produzir os efeitos inerentes à autoridade da coisa julgada. Se não bastasse, o sujeito não pode ser beneficiado pela sua própria torpeza, e a formalidade não há de ser levada ao ponto de tornar imutável uma decisão lastreada em uma falsidade. É a posição do Supremo Tribunal Federal e também do Superior Tribunal de Justiça. EFEITOS DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELA MORTE 1. Em razão da morte do agente, extinguem-se todos os efeitos penais da sentença condenatória (principais e secundários), permanecendo os extrapenais (a decisão definitiva, por exemplo, conserva a qualidade de título executivo judicial). 2. Nesse sentido, a Constituição Federal, em seu art. 5º, XLV, dispõe que a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens poderão, nos termos da lei, ser estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até os limites da herança. 2. ANISTIA, GRAÇA E INDULTO Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: II - pela anistia, graça ou indulto; A Anistia, a Graça (indulto individual) e o Indulto (indulto coletivo) são institutos que concedem clemência ou indulgência estatal por razões de política criminal. Podem alcançar crimes de ação pública ou privada, já que, nestes, o direito de punir é ainda do Estado - apenas a iniciativa da ação penal é transferida ao ofendido. ANISTIA - DEPENDE DE LEI Anistia é a exclusão, por lei ordinária com efeitos retroativos, de um ou mais fatos criminosos do campo de incidência do Direito Penal. A anistia refere-se a fatos passados e não a indivíduos (embora possam ser impostas condições específicas ao réu ou condenado), como por exemplo, crimes militares de motim e insubordinação, praticado durante movimento reivindicatório por policiais militares e bombeiros de certo Estado. COMPETÊNCIA 1. A anistia é concedida por lei ordinária editada pelo Congresso Nacional (art. 46, inciso VIII, CF), e sancionada pelo executivo federal, por razões de clemência e de política criminal. 1.1. A iniciativa do projeto de lei visando a concessão de anistia é livre, ao contrário do que ocorria na Constituição anterior, em que o art. 57, VI, reservava a iniciativa ao Presidente da República quando se tratasse de crimes políticos. 2. Com a entrada em vigor da lei que concede a anistia, se for concedida antes da sentença condenatória definitiva, caberá ao juízo por onde tramitar a ação declarar a extinção da punibilidade. 2.1. Se, todavia, a anistia for concedida depois da sentença condenatória definitiva cabe ao juízo das execuções, de ofício ou em razão de requerimento do Ministério Público ou do interessado, declara-la (sempre verificando se o texto legal se aplica para aquele fato concreto - art. 187 da LEP). CLASSIFICAÇÃO DA ANISTIA a) própria: quando concedida antes da condenação; b) imprópria: quando concedida após o trânsito em julgado da condenação. c) plena, geral ou irrestrita: quando aplicável a determinado fato, sem qualquer ressalva; d) parcial ou restrita: quando, mencionando fatos, contenha exceções quanto ao seu alcance. e) incondicionada: quando independe de qualquer ato do beneficiado; f) condicionada: quando a extinção da punibilidade depende da realização de algum ato por parte dos autores da infração, como um pedido público de desculpas ou a reparação dos prejuízos causados pelo crime. g) anistia especial: cuida-se da anistia relacionada a crimes políticos; h) anistia comum: diz respeito aos demais ilícitos penais. EFEITOS DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELA ANISTIA A anistia tem efeitos ex tunc, isto é, para o passado, apagando todos os efeitos penais. Rescinde até mesmo a condenação. Portanto, se no futuro o agente praticar nova infração penal, não será atingido pela reincidência, em face da ausência do seu pressuposto. Permanecem íntegros, entretanto, os efeitos civis da sentença condenatória, que, por esse motivo, subsiste como título executivo judicial no campo civil. INDULTO INDIVIDUAL (GRAÇA) E INDULTO COLETIVO 1. O indulto individual (graça) e o indulto coletivo são concedidos pelo Presidente da República, via decreto presidencial (art. 84, XII, CF/88 – que é um ato administrativo) , podendo ser delegada a atribuição a Ministro de Estado, ao Procurador Geral da República ou ao Advogado Geral da União. 2. Os institutos se diferenciam porque a graça é individual e deve ser requerida pela parte interessada, enquanto o indulto é coletivo e concedido espontaneamente pelo Presidente da República ou pelas autoridades que dele receberam delegação. 3. O indulto presidencial costuma ser concedido na época do Natal. CLASSIFICAÇÃO DO INDULTO INDIVIDUAL (GRAÇA) E COLETIVO a) totais (quando extinguem a punibilidade); O decreto presidencial que prevê, por exemplo, a extinção da pena dos condenados por crimes de roubo ou extorsão, que já tenham cumprido 3/4 da pena, constitui hipótese de indulto total. b) parciais (quando apenas reduzem a pena). Já o indulto parcial consiste na comutação (atenuação) da pena após a condenação. c) incondicionado: quando a graça e o indulto independem de qualquer ato do beneficiado; d) condicionados: quando a extinção da punibilidade pela graça ou indulto dependem da realização de algum ato por parte do autor da infração, como a prévia reparação dos prejuízos causados pelo crime. e) graça ou indulto irrestrito: quando atinge pessoas em determinadas condições gerais, sem exigências específicas (além das hipóteses de proibição constitucional e legal). f) restrito: quando além das restrições legais e constitucionais contem outras restrições, de acordo com o poder discricionário do Presidente da República. Assim, é possível, por exemplo, que, ao conceder indulto aos criminosos que já tenham cumprido determinado montante da pena, o decreto presidencial obste o benefício se a vítima do delito for criança ou idoso. DIFERENÇAS ENTRE GRAÇA E INDULTO 1. GRAÇA Benefício individual, com destinatário certo. Depende de provocação do interessado. 2. INDULTO Benefício coletivo, sem destinatário certo. Não depende de provocação do interessado. EFEITOS DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE EM RAZÃO DO INDULTO INDIVIDUAL (GRAÇA) OU COLETIVO A graça e o indulto: ✓ pressupõem a existência de uma sentença penal condenatória transitada em julgado; ✓ atingem somente a pena; ✓ subsistem os efeitos penais secundários e os efeitos extrapenais. PROCEDIMENTOS PARA AS MODALIDADES DE INDULTO 1. A concessão da graça, que é sempre individual, deve ser solicitada, nos termos do art. 188 da Lei de Execuções Penais. 1.1. A iniciativa do requerimento pode ser: a) do próprio condenado; b) do Ministério Público; c) do Conselho Penitenciário; d) ou da autoridade administrativa responsável pelo estabelecimento onde a pena é cumprida. 2. Em seguida, os autos contendo a petição irão com vistas ao Conselho Penitenciário para parecer, caso este não tenha sido o responsável pelo requerimento (art. 189 da LEP). 3. Na sequência, os autos são encaminhadosao Ministério da Justiça, que submeterá a decisão ao Presidente da República (ou a alguma das autoridades a quem ele tenha delegado a função). 4. Concedida a graça, o juiz, após determinar a juntada de cópia do decreto aos autos de execução, decretará a extinção da punibilidade ou reduzirá a pena (graça parcial), após a oitiva do Ministério Público e da defesa (art. 112, § 2º, da LEP). PROCEDIMENTO PARA O INDULTO COLETIVO 1. O indulto coletivo é concedido espontaneamente por decreto presidencial, não havendo, portanto, necessidade de provocação. 2. Em geral, o decreto vincula o benefício ao preenchimento de determinadas condições de caráter subjetivo (como a primariedade e bons antecedentes) e objetivo (como o cumprimento de determinado montante da pena ou que se trate de crime cometido sem violência, etc.). 3. De acordo com o art. 193 da Lei de Execuções Penais, se o sentenciado for beneficiado por indulto coletivo, o juiz, de ofício, a requerimento do interessado, do Ministério Público, ou por iniciativa do Conselho Penitenciário ou da autoridade administrativa, anexará aos autos da execução cópia do decreto e declarará a extinção da pena ou procederá à comutação nos moldes determinados pela Presidência da República, ouvidos previamente o Ministério Público e a defesa (art. 112, § 2º, da LEP). CRIMES INSUCETÍVEIS DE ANISTIA, GRAÇA E INDULTO A anistia, a graça e o indulto podem alcançar todas as espécies de infração penal (políticas, comuns ou militares), exceto aquelas em relação às quais exista vedação expressa prevista na Constitução Federal ou em leis. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL Assim, de acordo com o art. 5º, XLIII, da Constituição Federal, são insuscetíveis de anistia e graça: a) os crimes de tortura; b) terrorismo; c) o tráfico de drogas; d) e os definidos em lei como hediondos. VEDAÇÃO NA LEI DOS CRIMES HEDIONDOS 1. A regra constitucional foi repetida no art. 2º, inciso I, da Lei nº. 8.072/90, que, além disso, acrescentou em relação a todos esses crimes a vedação quanto ao indulto. 2. Houve, em razão disso, discussão em torno da constitucionalidade da proibição ao indulto, por não constar esta proibição expressamente do texto da Carta Magna, tendo, porém, prevalecido o entendimento de que a palavra “graça” no texto da Constituição foi utilizada em sentido amplo, no sentido de clemência do Estado em relação a pessoas, englobando, por isso, o indulto. VEDAÇÃO NA LEI DE DROGAS Com a aprovação da nova Lei de Drogas, o legislador repetiu a vedação da anistia, da graça e do indulto ao crime de tráfico de drogas, conforme se verifica no art. 44, caput, da Lei nº. 11.343/2006. VEDAÇÃO NA LEI DE TORTURA 1. Por fim, o art. 1º, § 6º, da Lei n. 9.455/97 (posterior à Lei dos Crimes Hediondos), menciona, em relação ao crime de tortura, vedação somente quanto à anistia e à graça, nada mencionando a respeito de vedação ao indulto. 2. Apesar disso, como se entendeu, conforme explicado acima, que a palavra “graça” no texto constitucional abrange também o indulto, este continua vedado para os crimes de tortura. RESUMO ANISTIA, INDULTO INDIVIDUAL (GRAÇA) E INDULTO COLETIVO 1. Anistia ✓ Exige lei do Congresso Nacional; ✓ Pode ser concedida antes da condenação; ✓ Extingue todos os efeitos penais. ✓ Não pode ser concedida anistia aos crimes de tortura, terrorismo, tráfico de drogas e aos definidos em lei como hediondos. 2. Indulto Individual (Graça) e Indulto Coletivo ✓ Depende de Decreto Presidencial; ✓ Pressupõe condenação definitiva; ✓ Extingue somente o efeito executório (o cumprimento da pena), mantidos os demais efeitos penais e extrapenais. ✓ Não pode ser concedida graça ou indulto aos crimes de tortura, terrorismo, tráfico de drogas e aos definidos em lei como hediondos. 3. “ABOLITIO CRIMINIS" Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; “Abolitio criminis" 1. De acordo com o artigo 107, inciso III do CP extingue-se a punibilidade do agente pela retroatividade de lei nova que deixa de considerar o fato como criminoso. 2. A “abolitio criminis” é uma das hipóteses de aplicação da lei penal no tempo. 3. Ocorre a chamada “abolitio criminis” quando o Estado, por razões de política criminal, entende por bem em não mais considerar determinado fato como criminoso. 4. Nos termos do art. 5º, inciso XL da Constituição Federal, a lei penal pode retroagir para favorecer o réu. 5. O Código Penal também tem previsão expressa sobre o tema no art. 2º: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. 6. O que extingue efetivamente a punibilidade é a entrada em vigor da nova lei, todavia é necessário que haja declaração judicial nesse sentido. 7. Se já existe sentença condenatória transitada em julgado, cabe ao juízo das execuções a decretação, nos termos do art. 66, I, da Lei de Execuções Penais. 7.1. Neste sentido, ainda, a Súmula nº 611 do Supremo Tribunal Federal: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna”. EXEMPLOS DE ABOLITIO CRIMINIS 1. É possível citar como exemplos de “abolitio criminis”: a) a Lei nº 11.106/2005, que expressamente revogou os crimes de sedução (antigo art. 217 do CP), rapto consensual (antigo art. 220 do CP) e adultério (antigo art. 240 do CP); b) e a Lei nº 12.015/2009, que, também de forma expressa, revogou o crime sexual de corrupção de menores (antigo art. 218 do CP). 4. PRESCRIÇÃO Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: IV - pela PRESCRIÇÃO, decadência ou perempção; PRESCRIÇÃO Estudo em separado em razão de sua complexidade e importância. 5. DECADÊNCIA Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: IV - pela prescrição, DECADÊNCIA ou perempção; 1. O prazo decadencial é instituto de natureza híbrida, pois previsto e regulamentado tanto no Código de Processo Penal quanto no Código Penal. 2. A doutrina, porém, acabou fixando entendimento de que deve ser adotada a interpretação mais benéfica ao réu, já que a decadência gera a extinção da punibilidade, e, assim, o prazo deve ser considerado de natureza penal, incluindo-se na contagem o dia em que o ofendido descobriu a autoria. 1. DECADÊNCIA NA AÇÃO PENAL PRIVADA 1. DECADÊNCIA NA AÇÃO PENAL PRIVADA 1. Na ação privada, a decadência é a perda do direito de ingressar com a ação em face do decurso do prazo sem o oferecimento da queixa. 2. Essa perda do direito de ação por parte do ofendido atinge também o jus puniendi, gerando a extinção da punibilidade do autor da infração. 3. Nos termos do art. 103 do Código Penal e art. 38 do Código de Processo Penal, salvo disposição em sentido contrário, o prazo decadencial é de 6 meses a contar do dia em que a vítima ou seu representante legal tomarem conhecimento da autoria da infração. 3.1. Este é o prazo para que a queixa-crime seja protocolada em juízo. 4. O prazo decadencial é peremptório, não se prorrogando ou suspendendo por qualquer razão. 4.1. Por isso, o requerimento do ofendido para a instauração de inquérito policial em crime de ação privada ou o pedido de explicações em juízo nos crimes contra a honra (art. 144 do CP) não obstam sua fluência. 2. DECADÊNCIA NA AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA 2. DECADÊNCIA NA AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA 1. Na ação pública condicionada à representação, o prazo decadencial de 6 meses é para a vítima apresentar a representação, podendo o Ministério Público apresentara denúncia após esse período. 2. Se não oferecida a representação no prazo, estará extinta a punibilidade do autor da infração. 3. Havendo duas ou mais vítimas, se apenas uma delas representar, somente em relação a ela a denúncia poderá ser oferecida. 4. A decadência só é possível antes do início da ação penal e se comunica a todos os autores conhecidos do crime. 3. DECADÊNCIA NA AÇÃO PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA 3. DECADÊNCIA NA AÇÃO PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA 1. Nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não apresentar qualquer manifestação no prazo legal, caracterizando sua inércia, surgirá a possibilidade de o ofendido ingressar com a ação privada subsidiária, nos 6 meses subsequentes ao término do prazo do Ministério Público. 2. Findo o prazo sem a apresentação da queixa subsidiária, o ofendido decai do direito, porém o Ministério Público ainda pode oferecer a denúncia. 3. Conclui-se, portanto, que, nesta modalidade de infração penal, a decadência do direito de queixa não gera a extinção da punibilidade. 4. NÃO HÁ DECADÊNCIA NA AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA 4. NÃO HÁ DECADÊNCIA NA AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA Na ação penal pública incondicionada não há decadência do Direito de Ação por parte do Ministério Público, embora possa existir a prescrição, que é outra causa de extinção da punibilidade. 6. PEREMPÇÃO Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: IV - pela prescrição, decadência ou PEREMPÇÃO; 1. Perempção é uma sanção processual ao querelante inerte ou negligente e ocorre nas hipóteses previstas no art. 60 do CPP. 2. Consiste na perda do direito de prosseguir na ação penal privada, em razão da inércia ou omissão do titular no transcorrer da ação penal. 3. Só se aplica, portanto, após o início da ação penal privada. 4. Uma vez reconhecida situação de perempção, seus efeitos estendem-se a todos os querelados. 5. Cuida-se, outrossim, de instituto inaplicável quando proposta ação privada em crime de ação pública (ação privada subsidiária), pois, neste caso, se o querelante mostrar-se desidioso, o Ministério Público deve reassumir a titularidade da ação nos termos do art. 29 do CPP. HIPÓTESES DE PEREMPÇÃO As hipóteses de perempção estão expressamente previstas no artigo 60 do Código de Processo Penal: Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: I quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; III quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. I- Quando, iniciada a ação penal privada, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos: Essa hipótese só tem incidência quando existe algum ato processual que deva ter sido praticado pelo querelante e este se mantém inerte, como a não apresentação de contrarrazões, por exemplo. Não existe a obrigação de comparecer mensalmente em juízo apenas para requerer o prosseguimento do feito. Deve-se ressalvar, por fim, que, decorridos os 30 dias e declarada a perempção, a ação penal não poderá ser novamente proposta, já que estará extinta a punibilidade do querelado. II- Quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36: 1. A lei não prevê a necessidade de notificação das pessoas enumeradas na lei a fim de que se manifestem quanto à substituição. 2. O prazo corre em cartório e não se interrompe. 3. De acordo com o art. 36 do CPP, se, após a substituição, houver a desistência por parte do novo querelante, os outros sucessores poderão prosseguir no feito. 4. O dispositivo em questão é inaplicável aos crimes de ação privada personalíssima, em que não é possível a substituição no polo ativo da ação penal. 4.1. Nesta espécie de infração, a morte do querelante leva, inevitavelmente, à extinção da punibilidade pela perempção. III - Quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente (1ª parte): 1. Só se dá a perempção quando a presença física do querelante em juízo é indispensável à realização de algum ato processual e este, sem justa causa, deixa de comparecer. 1.1. Exemplo: querelante notificado para prestar depoimento em juízo que falta à audiência. 1.2. Em tal caso, a presença de seu advogado não supre sua ausência porque o depoimento é pessoal. 2. Observe-se, contudo, que o não comparecimento do querelante à audiência de tentativa de reconciliação nos crimes contra a honra de ação privada (art. 520 do CPP) não gera a perempção porque, em tal ocasião, não existe ainda ação penal em andamento — tal audiência é realizada antes do recebimento da queixa-crime pelo juiz. 2.1. Assim, sua ausência deve ser meramente interpretada como desinteresse na conciliação, prosseguindo-se normalmente no feito, sem a decretação da perempção. III - Quando o querelante deixar ... de formular o pedido de condenação nas alegações finais (2ª parte): A finalidade do dispositivo é deixar claro que, ao contrário do que ocorre nos crimes de ação pública em que o juiz pode condenar o réu mesmo que o Ministério Público tenha pedido a absolvição (art. 385 do CPP), nos delitos de ação privada a ausência de pedido de condenação impede até mesmo que o juiz profira sentença de mérito, devendo reconhecer a perempção e extinguir a punibilidade do querelado, que, portanto, não será condenado nem absolvido. A não apresentação das alegações finais equivale à ausência do pedido de condenação e gera a perempção, salvo se houver justa causa para a omissão. Em se tratando de concurso de crimes de ação privada, o pedido de condenação quanto a apenas um deles gera a perempção em relação ao outro. IV - Quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor: Lembre-se de que, se a empresa for incorporada por outra ou se for alterada apenas a razão social, poderá haver o prosseguimento da ação. 7. RENÚNCIA AO DIREITO DE AGIR Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: V – (1ª parte) pela renúncia do direito de queixa ... 1. Por renúncia entende-se o ato unilateral do ofendido (ou de seu representante legal) , abdicando do direito de promover a ação penal privada, extinguindo-se, por conseguinte, o direito de punir do Estado. 2. A renúncia só pode ocorrer antes do início da ação penal (antes do recebimento da queixa). 3. Apenas o titular do direito de queixa pode renunciar (o ofendido ou o representante legal caso aquele seja menor ou incapaz). 4. Havendo duas vítimas, a renúncia por parte de uma não atinge o direito de a outra oferecer queixa. FORMAS DE RENÚNCIA 1. A renúncia pode ser expressa ou tácita. 1.1. Renúncia expressa é aquela que consta de declaração escrita e assinada pelo ofendido, por seu representante ou por procurador com poderes especiais (art. 50 do CPP). 1.2. Renúncia tácita decorre da prática de ato incompatível com aintenção de exercer o direito de queixa e admite qualquer meio de prova (art. 57 do CPP). Ex.: casamento com o autor do crime de ação privada. 2. Nos termos do art. 49 do Código de Processo Penal a renúncia em relação a um dos autores do crime a todos se estende. ACEITAÇÃO DA REPARAÇÃO DO PREJUÍZO E RENÚNCIA TÁCITA 1. O art. 104, parágrafo único, do Código Penal estipula que não implica renúncia tácita o fato de receber o ofendido a indenização devida em razão da prática delituosa. 2. Essa regra, entretanto, não se aplica às infrações de menor potencial ofensivo, pois, nos termos do art. 74, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95, nos crimes de ação privada e de ação pública condicionada, a composição em relação aos danos civis, homologada pelo juiz na audiência preliminar, implica automaticamente em renúncia ao direito de queixa ou de representação. 8. PERDÃO (ACEITO) DO OFENDIDO Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: V – (2ª parte) ... pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; 1. O perdão aceito tem por fundamento o princípio da disponibilidade, próprio da ação penal privada. 2. Conforme determina o artigo 105 , do Código Penal: "O perdão do ofendido, nos crimes em que se procede mediante queixa, obsta o prosseguimento da ação". 3. Trata-se de ato pelo qual o ofendido ou seu representante legal desiste de prosseguir com o andamento de processo já em curso, desculpando o ofensor pela prática do crime. 3.1. Pressupõe, portanto, que já tenha havido recebimento da queixa e também que não tenha havido trânsito em julgado da sentença condenatória. 4. Cuida-se de ato bilateral, uma vez que apenas gera a extinção da punibilidade se for aceito pelo autor da ofensa. O próprio art. 107, V, do Código Penal diz que se extingue a punibilidade pelo perdão aceito. 5. Trata-se, outrossim, de instituto exclusivo da ação penal privada. 6. O perdão, se concedido a um dos querelados, a todos se estende, mas somente extingue a punibilidade daqueles que o aceitarem (art. 51 do CPP). 7. Havendo dois querelantes, o perdão oferecido por um deles não afeta o andamento da ação penal no que se refere ao outro. 8. O oferecimento do perdão pode ser feito pessoalmente ou por procurador com poderes especiais. FORMAS DE PERDÃO E SUA ACEITAÇÃO 1. O perdão pode ser processual ou extraprocessual. 1.1. O perdão processual é aquele concedido mediante declaração expressa nos autos. Nesse caso, dispõe o art. 58 do Código de Processo Penal que o querelado será notificado a dizer, dentro de 3 dias, se o aceita, devendo constar do mandado de intimação que o seu silêncio importará em aceitação. Assim, para não aceitar o perdão, o querelado deve comparecer em juízo e declara-lo expressamente. 1.2. O perdão extraprocessual, por sua vez, pode ser expresso ou tácito. O perdão extraprocessual é expresso quando concedido por meio de declaração assinada pelo querelante ou por procurador com poderes especiais. É tácito quando o querelante pratica ato incompatível com a intenção de prosseguir na ação. Nos termos do art. 59 do Código de Processo Penal, a aceitação do perdão extraprocessual deverá constar de declaração assinada pelo querelado, seu representante legal ou procurador com poderes especiais. RESUMO PERDÃO PROCESSUAL Notificação para responder em 3 dias. Silêncio importa em aceitação. PERDÃO EXTRAPROCESSUAL EXPRESSO Aceitação mediante declaração escrita. TÁCITO Aceitação tácita ou mediante declaração escrita. RESUMO DAS CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DA AÇÃO PENAL PRIVADA RESUMO DAS CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DA AÇÃO PENAL PRIVADA RENÚNCIA E PERDÃO Dependem de manifestação de vontade DECADÊNCIA E PEREMPÇÃO Decorrem apenas da inércia do ofendido. 9. RETRATAÇÃO DO AGENTE Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; 1. Na retratação, o agente declara formalmente que agiu de forma equivocada e volta atrás em seu comportamento. 1.1. Retratar-se não significa, simplesmente, negar ou confessar o fato. É mais: é retirar totalmente o que disse. 2. O dispositivo em questão dispõe que se extingue a punibilidade pela retratação do agente, nos casos expressamente previstos em lei. 3. A retratação dispensa a concordância do ofendido, mas não impede a vítima de reivindicar a competente indenização nos termos da legislação civil (e demais dispositivos aplicáveis à espécie). 4. No Código Penal, a possibilidade da retratação geradora da extinção da punibilidade existe: 4.1. Nos crimes de calúnia (art. 138), conforme art. 143; 4.2. De difamação (art. 139), conforme art. 143; 4.3. No falso testemunho (art. 342), conforme o §2º e 4.4. Na falsa perícia (art. 342), conforme o §2º. (A) calúnia e difamação Art. 143 do CP. "O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena". 1. Nota-se, portanto, que não basta a retratação, exigindo o dispositivo outros requisitos: a) que a retratação seja cabal (completa); b) que ocorra antes da sentença (de 1ª instância); c) que o crime de calúnia ou difamação em apuração seja de ação privada (o dispositivo se refere apenas à retratação do querelado). 2. Se forem dois querelados e apenas um se retratar, não se extingue a punibilidade do outro. (B) falso testemunho e falsa perícia Art. 342, § 2°, do CP. "O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade". A doutrina costuma ressaltar que a retratação do autor do falso testemunho beneficia seus partícipes, uma vez que o dispositivo diz que, neste caso, a retratação faz com que o fato (e não meramente o réu) deixe de ser punível. 10. REVOGAÇÃO DOS INCISOS VII E VIII QUE TRATAVAM DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO CASAMENTO DA VÍTIMA 10. REVOGAÇÃO DOS INCISOS VII E VIII QUE TRATAVAM DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO CASAMENTO DA VÍTIMA Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Revogados pela Lei nº 11.106, de 2005) VII - pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes contra a dignidade sexual, definidos nos Capítulos I, II e III do Título VI da Parte Especial deste Código. VIII - pelo casamento da vítima com terceiro, nos crimes referidos no inciso anterior, se cometidos sem violência real ou grave ameaça e desde que a ofendida não requeira o prosseguimento do inquérito policial ou da ação penal no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da celebração. 11. PERDÃO JUDICIAL Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. 1. Perdão judicial é o instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um fato típico e antijurídico por um sujeito comprovadamente culpado, deixa de aplicar a pena. 2. Somente é cabível nas hipóteses taxativamente previstas em lei, por razões de política criminal, conforme previsto no art. 107, IX do CP. 2.1. Assim, em cada dispositivo que permite a concessão do perdão judicial o legislador, concomitantemente, elenca os requisitos para o seu cabimento. 2.2. Uma vez presentes esses requisitos, o juiz estará obrigado a concedê-lo, tratando-se, assim, de direito subjetivo do réu, e não de mera faculdade do julgador. 3. Constitui causa extintiva de punibilidade que, diferente do perdão do ofendido, não precisa ser aceito para gerar efeitos. 4. Nos termos do art. 120 do Código Penal, o perdão judicial afasta os possíveis efeitos da reincidência. 4.1. Por isso, se a pessoa beneficiada vier a cometer novo crime, ainda queno prazo de 5 anos a que se refere o art. 64, I, do Código Penal, será considerada primária. 5. O juiz só pode conceder o perdão na sentença após analisar a prova e concluir que o acusado é efetivamente responsável pelo crime narrado na denúncia ou queixa, pois, se as provas existentes forem insuficientes, a solução será a absolvição. ALGUMAS HIPÓTESES DE PERDÃO JUDICIAL PREVISTOS EM LEI a) Homicídio culposo e lesão corporal culposa (arts. 121, § 5º, e 129, § 8º, do CP): 1. O juiz pode deixar de aplicar a pena se as circunstâncias do fato criminoso atingirem o próprio agente de forma tão grave que sua imposição se mostre desnecessária. Exemplo: morte culposa do próprio filho ou conduta culposa que provoque concomitantemente lesão grave no agente. 2. Predomina o entendimento de que o perdão judicial é também aplicável aos crimes culposos — homicídio e lesão corporal — do Código de Trânsito (arts. 302 e 303 do CTB). b) Injúria simples (art. 140, § 1º, I e II, do CP): 1. O perdão judicial só é cabível na injúria simples em duas hipóteses: a) Quando o ofendido, de forma reprovável, tiver provocado diretamente a injúria, ou b) no caso de retorsão imediata consistente em outra injúria. 2. A mesma regra existe no crime de injúria eleitoral (art. 326, § 1º, da Lei n. 4.737/65 — Código Eleitoral) c) Crime do art. 176 do Código Penal (que tem o “nonem juris” de “outras fraudes”), consistente em “tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento”: O juiz pode deixar de aplicar a pena de acordo com as circunstâncias do caso (art. 176, parágrafo único, do CP). Neste dispositivo, o requisito não é específico, ficando a critério do juiz apreciar se o fato não se reveste de gravidade, hipótese em que poderá conceder o perdão. Ex.: pequeno prejuízo da vítima. d) Receptação culposa (art. 180, § 5º, 1ª parte, do CP): Na receptação culposo a pena pode deixar de ser aplicada se o réu for primário e as circunstâncias indicarem que o fato é de pouca gravidade. e) Parto suposto e supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido (art. 242, parágrafo único, do CP): Se o crime for cometido por motivo de reconhecida nobreza o juiz pode deixar de aplicar a pena. f) Subtração de incapazes (art. 249, § 2º, do CP): Se o menor ou interdito for restituído, desde que não tenha sofrido maus-tratos ou privações o juiz pode deixar de aplicar a pena. g) Réus colaboradores (art. 13 da Lei n. 9.807/99): 1. O perdão judicial é possível aos acusados que, sendo primários, tenham colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I — a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa (todos eles); II — a localização da vítima com sua integridade preservada (não pode ter sofrido maus-tratos ou lesões); III — a recuperação total ou parcial do produto do crime (quando se encontravam em local ignorado). NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA CONCESSIVA DE PERDÃO JUDICIAL Não há dúvida a respeito da natureza jurídica do perdão judicial em si que, nos termos do art. 107, IX, do Código Penal, constitui causa extintiva da punibilidade. Acontece que, como o perdão é concedido na sentença, após o juiz analisar as provas e concluir que o acusado é realmente responsável pelo crime que a ele se imputa, surgiu controvérsia em torno da natureza da sentença em que o benefício é aplicado, pois, dependendo disso, os efeitos podem ser de maior ou menor abrangência. As correntes existentes são as seguintes: a) natureza condenatória: a concessão do perdão judicial afasta somente a pena principal (privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa), subsistindo os demais efeitos condenatórios. Para os adeptos desta corrente, a natureza condenatória decorre do fato de o juiz analisar as provas e declarar o réu culpado. b) natureza absolutória: Não existe condenação sem aplicação de pena. É o entendimento de Basileu Garcia. c) natureza declaratória: Para esta corrente, sendo o perdão uma causa extintiva da punibilidade, a sentença na qual ele é concedido nada mais é do que declaratória (da extinção da punibilidade). Esta é a corrente adotada pelo Superior Tribunal de Justiça por intermédio de sua Súmula n. 18: “a sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório”. CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE FORA DO ART. 107 DO CP 1. PAGAMENTO DE DÉBITO TRIBUTÁRIO O pagamento de débitos tributários e contribuições sociais extingue a punibilidade nos crimes dos arts. 168-A e 337-A do Código Penal. Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. .. § 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços; II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. §1º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. 2. PECULATO CULPOSO O artigo 312, §3°, do Código Penal, anuncia que a reparação do dano (ou restituição da coisa) no peculato culposo atua como causa extintiva de punibilidade. Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Peculato culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. 3. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE RELACIONADA COM O ART. 89 DA LEI 9099/95 Art. 89, §5º da Lei 9099/95 que prevê a extinção da punibilidade se expirado o prazo da suspensão condicional do processo sem revogação. Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou nãopor esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). ... § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade. 4. CAUSA SUPRALEGAL SÚMULA 554 STF STF. Súmula nº 554: “O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal”. Admite-se também causa supralegal de extinção da punibilidade, citando-se como exemplo a súmula n° 554 do STF, cuja interpretação contrario sensu conduz à inteligência de que, o pagamento do cheque sem fundos antes do recebimento da denúncia é causa que extingue o direito de punir. FIM ESTUDO COMPLEMENTAR AUTONOMIA DAS CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE O art. 108 do Código Penal estabelece que “a extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão”. Esse dispositivo, em verdade, possui quatro regras: 1º A extinção da punibilidade do crime pressuposto não se estende ao crime que dele depende A regra trata dos crimes acessórios, cuja existência pressupõe a ocorrência de um crime anterior. É o caso, por exemplo, do crime de uso de documento falso. Assim, se alguém falsifica um documento e o vende a algum interessado e este posteriormente usa o documento falso, eventual extinção da punibilidade do falsário não atinge o crime de uso. Veja-se que, da mesma forma, a extinção da punibilidade do autor do crime antecedente (furto, roubo, etc.) não afeta, em regra, a possibilidade de imposição de pena ao receptador (morte do roubador, prescrição do furto etc.). 2. A extinção da punibilidade de elemento componente de um crime não se estende a este O dispositivo cuida dos crimes complexos, na hipótese em que um crime funciona como elementar de outro. Ex.: a extorsão mediante sequestro (art. 159), que surge da aglutinação dos crimes de sequestro (art. 148) e de extorsão (art. 158). Assim, a prescrição do sequestro, por exemplo, não se estende à extorsão mediante sequestro. A existência desta regra é supérflua, pois o crime complexo é uma infração penal diversa e autônoma em relação aos crimes que a compõem, possuindo pena própria. 3. A extinção da punibilidade de circunstância agravante não se estende ao crime agravado O dispositivo se refere às qualificadoras que muitas vezes possuem também descrição como crime autônomo. O crime de furto, por exemplo, é qualificado quando ocorre destruição de obstáculo (art. 155, § 4º, I). A destruição de obstáculo, em tese, configuraria crime de dano (art. 163), mas fica este absorvido por constituir qualificadora do furto. Assim, o decurso do prazo prescricional em relação ao crime de dano (se o delito fosse autônomo) não afeta a aplicação da qualificadora do furto. 4. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade em relação a um dos crimes não impede a exasperação da pena do outro em razão da conexão Dessa forma, se uma pessoa for acusada de homicídio qualificado por ter matado a vítima para garantir a impunidade de um crime de estelionato (em concurso material), a ocorrência de prescrição durante o tramitar da ação em relação ao crime contra o patrimônio impedirá apenas a condenação por tal delito, porém, em relação ao homicídio, poderá ser reconhecida a qualificadora em face do dispositivo em análise. DIFERENCIAR: a) causas extintivas da punibilidade (art. 107 CP) b) escusas absolutórias e c) condições objetivas de punibilidade. CAUSAS EXTINTIVAS DE PUNIBILIDADE Nas causas extintivas da punibilidade do art. 107, o direito de punir nasce, mas desaparece em razão de fato ou evento superveniente. Por exemplo, no crime perseguido mediante ação penal de iniciativa exclusiva da vítima, não sendo proposta a ação penal (queixa-crime) no prazo legal, ocorre a decadência, extinguindo o direito de punir do Estado. ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS Nas escusas absolutórias, o direito de punir sequer nasce, levando em conta, em regra, determinadas condições pessoais do agente. No furto praticado pela mulher em face do marido, por exemplo, o Estado, no art. 181 inciso I do CP, por razões de política criminal, anuncia, desde logo, que não tem interesse em punir o fato. As escusas, por serem de caráter pessoal, não se estendem aos coautores e partícipes. Quando a autoridade policial constata, de imediato, que a conduta típica foi realizada por pessoa acobertada por escusa absolutória e, portanto, impunível, sequer pode instaurar inquérito policial. Se a autoria, entretanto, somente for descoberta após a sua instauração, o Ministério Público deverá requerer ao juiz o arquivamento. CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE As condições objetivas de punibilidade, por sua vez, suspendem o direto de punir até o advento de um fato ou evento futuro e incerto, não abrangido pelo dolo do agente, pressuposto para a concretização da punibilidade. São circunstâncias que não constam da descrição típica do delito e que, por essa razão, estão fora do dolo do agente no momento em que realiza a conduta. A própria lei, em alguns casos, subordina a punição do acusado à existência de condições objetivas de punibilidade. Exemplo: Para que a lei penal brasileira seja aplicada ao crime praticado por brasileiro no estrangeiro, concretizando o direito de punir pátrio, é necessário que o fato seja punível também no país em que foi cometido (art. 7°, §2°, "b", do CP). QUADRO RESUMO DAS CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PREVISTAS NO CÓDIGO PENAL MORTE Momento para reconhecer: Antes ou depois da condenação Definitiva. Efeitos: Se depois da condenação, subsistem apenas os efeitos Extrapenais. Alcance: Não se comunica aos comparsas ANISTIA Momento para reconhecer: Antes ou depois da condenação Definitiva. Efeitos: Se depois da condenação, subsistem apenas os efeitos Extrapenais. Alcance: Incide em relação a todos os autores do crime INDULTO INDIVIDUAL (GRAÇA) Momento para reconhecer: Somente após a condenação. Efeitos: Afasta apenas a necessidade de cumprimento da pena, sendo mantidos todos os demais efeitos; Alcance: Não se comunica aos comparsas por ser individual. INDULTO COLETIVO Momento para reconhecer: Somente após a condenação. Efeitos: Afasta apenas a necessidade de cumprimento da pena, sendo mantidos todos os demais efeitos; Alcance: Apesar de coletivo só alcança aqueles que preencherem os requisitos. ABOLITIO CRIMINIS Momento para reconhecer: Antes ou depois da condenação definitiva. Efeitos: Se depois da condenação, subsistem apenas os efeitos extrapenais; Alcance: Beneficia todos os envolvidos. PRESCRIÇÃO Momento para reconhecer: Antes ou depois da condenação definitiva. Efeitos: Quando se refere à pretensão executória, afasta somente o cumprimento da pena Alcance: Beneficia todos os envolvidos que tenham a mesma situação*. DECADÊNCIA Momento para reconhecer: Antes do início da ação penal. Efeitos: Impede todos os efeitos Alcance: Beneficia todos os envolvidos. PEREMPÇÃO Momento para reconhecer: Durante a ação, mas antes da condenação definitiva. Efeitos: Impede todos os efeitosAlcance: Beneficia todos os envolvidos. RENÚNCIA Momento para reconhecer: Antes do início da ação penal. Efeitos: Impede todos os efeitos Alcance: Beneficia todos os envolvidos. PERDÃO DO OFENDIDO Momento para reconhecer: Durante a ação, mas antes da condenação definitiva. Efeitos: Impede todos os efeitos Alcance: Beneficia todos os envolvidos. RETRATAÇÃO Momento para reconhecer: Antes ou durante a ação penal, mas antes da sentença de 1ª instância (nas hipóteses previstas no Código Penal); Efeitos: Impede todos os efeitos Alcance: Em regra só beneficia quem se retratou. No caso do falso testemunho beneficia todos os partícipes. PERDÃO JUDICIAL Momento para reconhecer: Na sentença. Efeitos: Impede qualquer efeito condenatório (Súmula n. 18 do STJ); Alcance: Não se comunica. QUESTÕES 1. (Ministério Público/SP — 2005) Considere os seguintes enunciados, relacionados com prescrição: I. O art. 89, § 6º, da Lei n. 9.099/95, estabelece causa interruptiva de prescrição ao dispor que “não correrá a prescrição” durante o prazo da suspensão condicional do processo. II. Reconhecida a prescrição da pretensão punitiva, não prevalece nenhum efeito da sentença condenatória eventualmente existente. III. Reconhecido crime continuado na sentença condenatória, não se computa o acréscimo da pena decorrente da continuação no cálculo da prescrição retroativa ou intercorrente. Estão corretos a) todos os três. b) nenhum dos três. c) apenas I e II. d) apenas I e III. e) apenas II e III 2. (Ministério Público — 2011) Assinale a alternativa que estiver totalmente correta. a) Em face do princípio da legalidade constitucionalmente consagrado, a lei penal é sempre irretroativa, nunca podendo retroagir. b) Se entrar em vigor lei penal mais severa, ela será aplicável a fato cometido anteriormente a sua vigência, desde que não venha a criar figura típica inexistente. c) Sendo a lei penal mais favorável ao réu, aplica-se ao fato cometido sob a égide de lei anterior, desde que ele ainda não tenha sido decidido por sentença condenatória transitada em julgado. d) A lei penal não pode retroagir para alcançar fatos ocorridos anteriormente à sua vigência, salvo no caso de abolitio criminis ou de se tratar de lei que, de qualquer modo, favoreça o agente. e) Se a lei nova for mais favorável ao réu, deixando de considerar criminosa a sua conduta, ela retroagirá mesmo que o fato tenha sido definitivamente julgado, fazendo cessar os efeitos civis e penais da sentença condenatória. 3. (Ministério Público/SP — 2005) Aponte a alternativa que está em desacordo com disposição do Código Penal relacionada com extinção de punibilidade. a) Não se estende à receptação a extinção de punibilidade do crime antecedente, que é seu pressuposto. b) A sentença que concede perdão judicial pode ser considerada para efeito de reincidência. c) A perempção só pode ser reconhecida em ação penal exclusivamente privada. d) No delito de falso testemunho, a retratação só produz efeito se ocorrida antes da sentença no processo em que se deu esse ilícito. e) Reconhecida a prescrição da pretensão executória, subsistem os efeitos secundários da condenação. 4. (Delegado de Polícia/PB — CESPE/UNB — 2009) Não leva à extinção da punibilidade do agente: a) a retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso. b) a prescrição, a decadência ou a perempção. c) a renúncia do direito de queixa ou o perdão aceito, nos crimes de ação privada. d) o casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes (atuais crimes contra a dignidade sexual). e) a retratação do agente, nos casos em que a lei a admite. 5. (Defensoria/MG — FURMARC — 2009) No crime de peculato culposo, a reparação do dano antes do trânsito em julgado da sentença deve ser considerada como: a) causa especial de diminuição de pena. b) circunstância atenuante. c) excludente de ilicitude. d) excludente de imputabilidade. e) causa de extinção da punibilidade. 6. (Ministério Público/TO — CESPE/UNB — 2006) Acerca das causas de extinção da punibilidade, assinale a opção correta: a) De acordo com o entendimento do STF, é possível a revogação da decisão que extinguiu a punibilidade do réu, com base em certidão de óbito falsa, por inexistência de coisa julgada em sentido estrito, visto que tal decisão é meramente declaratória, não subsistindo se seu pressuposto for falso. b) O decreto de indulto coletivo é autoexecutável, isto é, produz efeitos por si mesmo, prescindindo de avaliação judicial e oitiva do MP. c) No caso de indulto condicional, o condenado deve apresentar bom comportamento durante certo período, que normalmente é de 2 anos, sob pena de não ser reconhecido o perdão concedido, situação em que o indulto perde a eficácia e o condenado volta a cumprir a pena. No período determinado como condição, a superveniência de decisão condenatória que imponha pena restritiva de direitos impede o aperfeiçoamento do indulto. d) A anistia ocorre apenas após a condenação definitiva, pode ser condicionada ou não, e destina-se a crimes políticos e comuns, sendo vedada para crimes hediondos, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e terrorismo. 7. (OAB — CESPE/UNB — 2007.3) Extingue a punibilidade do agente: a) a decadência, nos crimes de ação penal privada e pública incondicionada. b) a renúncia, nos crimes de ação penal privada subsidiária da pública. c) a perempção, nos crimes de ação penal privada. d) o perdão, nos crimes de ação penal pública condicionada à representação. 8. (Magistratura/SP — 2008) Por furto qualificado acontecido em 10 de janeiro de 2004, A e B foram processados (denúncia recebida em 03 de fevereiro de 2005), sobrevindo, em 24 de maio de 2006, sentença que condenou o primeiro às penas de 02 (dois) anos de reclusão e 10 dias-multa, sem recurso das partes. Quanto a B, menor de 21 anos à data do crime, o processo foi desmembrado para a instauração de incidente de insanidade mental que, ao final, o considerou plenamente imputável. B, então, foi condenado, pelo mesmo delito, às penas de 02 (dois) anos de reclusão e 10 dias-multa, por sentença publicada em 21 de março de 2007, que se tornou definitiva para as partes em abril do mesmo ano. É correto afirmar, quanto a B, que a) ocorreu a prescrição da pretensão punitiva em face da pena aplicada e de sua menoridade relativa à data do delito. b) ocorreu a prescrição da pretensão executória em face da pena aplicada e de sua menoridade relativa à data do crime. c) não ocorreu a extinção da punibilidade, em qualquer dessas modalidades, em razão da interrupção do curso da prescrição pela instauração de incidente de insanidade mental. d) não ocorreu a extinção da punibilidade, em qualquer dessas modalidades, em razão da interrupção do curso da prescrição pela sentença condenatória proferida contra A. 9. (Magistratura/SP — 2007) Assinale a alternativa correta. a) A prescrição virtual, também dita prescrição em perspectiva, está prevista no Código Penal. b) Os prazos prescricionais, configurados antes de a sentença transitar em julgado, devem ser exasperados diante da reincidência do agente. c) A detração penal é computada na contagem do prazo prescricional. d) Há delitos imprescritíveis em nosso ordenamento jurídico. 10. (Ministério Público/SP — 2011) De acordo com a legislação penal vigente, a prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se: a) pela pena aplicada, não podendo ter por termo inicial data anterior à do recebimento da denúncia ou queixa. b) pela pena em abstrato cominadaem seu máximo legal ao delito, não podendo ter por termo inicial data anterior à do recebimento da denúncia. c) pela pena aplicada, podendo ter por termo inicial o dia em que o crime se consumou. d) pela pena em abstrato cominada em seu mínimo legal ao delito, não podendo ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. e) pela pena aplicada, não podendo ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. 11. (OAB — CESPE/UNB — 2006.3) Assinale a opção correta a respeito da prescrição: a) O prazo de prescrição da pretensão punitiva é regulado pela quantidade de pena imposta na sentença condenatória. b) No caso de evadir-se o condenado, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena. c) Se, entre a data da sentença e a data do recebimento da denúncia, houver decorrido o lapso de tempo da prescrição regulado pela pena in concreto, dar-se-á a prescrição intercorrente. d) O curso da prescrição é suspenso pela reincidência. 12. (Ministério Público/SP — 2003) Tício, com 19 anos de idade e primário, através de sentença publicada em 30 de janeiro de 2000, foi condenado à pena de 01 (um) ano de reclusão por furto simples, praticado em 15 de agosto de 1999. Tício apela e a decisão transita em julgado para o MP. Ao julgar o processo, em 05 de fevereiro de 2002, o Tribunal: a) deve decretar a prescrição retroativa da pretensão executória estatal. b) deve decretar a extinção da punibilidade de Tício em face da ocorrência da prescrição retroativa da pretensão punitiva estatal. c) deve decretar a extinção da punibilidade de Tício em face da ocorrência da prescrição intercorrente da pretensão punitiva estatal. d) deve decretar a prescrição intercorrente da pretensão executória estatal. e) não deve reconhecer a prescrição, pois esta não ocorreu. 13. (Magistratura/PA— FGV — 2009) Assinale a causa que não interrompe o curso da prescrição. a) Reincidência. b) Oferecimento da denúncia ou queixa. c) Publicação da sentença condenatória recorrível. d) Publicação de acórdão condenatório recorrível. e) Decisão confirmatória da pronúncia. 14. (Defensoria/RN — 2009) Sobre a prescrição penal é incorreto afirmar que: a) a multa quando for cominada cumulativamente com pena privativa de liberdade prescreve no mesmo prazo desta. b) nos crimes conexos, a prescrição quanto a um deles impede o reconhecimento da agravação da pena resultante da conexão quanto aos subsistentes. c) a interrupção da prescrição pelo recebimento da denúncia produz efeitos quanto a todos os autores do crime. d) aplica-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade. 15. (Ministério Público/MA— 2009) No caso de concurso de crimes a prescrição opera: a) sobre o total da pena aplicada cumulativamente aos delitos. b) somente sobre o quantum relativo às agravantes reconhecidas. c) somente sobre a pena mais grave aplicada. d) sobre a pena de cada um dos crimes isoladamente. e) sobre a pena do primeiro crime praticado. 16. (Magistratura/SP — Vunesp — 2014) Analise estes conceitos atinentes à prescrição penal: I. É a perda do direito de punir do Estado, considerada a pena concreta com trânsito em julgado para a acusação, levando-se em conta prazo anterior à sentença. II. É a perda do direito de punir do Estado, levando-se em conta a pena concreta, com trânsito em julgado para a acusação, ou improvido seu recurso, cujo lapso temporal inicia-se na data da sentença e segue até o trânsito em julgado para a defesa. III. É a perda do direito de aplicar efetivamente a pena concreta e definitiva, com o lapso temporal entre o trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação e o início do cumprimento da pena ou a ocorrência de reincidência. Agora, escolha a opção que indique, respectivamente, as modalidades de prescrição acima descritas: a) intercorrente ou superveniente; retroativa; da pretensão executória. b) retroativa; da pretensão executória; intercorrente ou superveniente. c) retroativa; intercorrente ou superveniente; da pretensão executória. d) da pretensão executória; intercorrente ou superveniente; retroativa. 17. (Ministério Público/SP — 2015) Mévio, com 20 (vinte) anos de idade, por sentença publicada no dia 05 de março de 2013, na qual reconheceu-se sua reincidência, foi condenado à pena de 01 (um) ano e 02 (dois) meses de reclusão, mais multa, por crime de receptação dolosa praticada em 12 de fevereiro de 2012, tendo a decisão transitado em julgado para o Ministério Público em 30 de março de 2013. Em 05 de maio de 2015, ao julgar apelo interposto em seu favor, o Tribunal: a) deve julgar o mérito e não reconhecer a ocorrência de prescrição pois, por ser Mévio reincidente, assim reconhecido na sentença, o prazo prescricional é acrescido de 1/3 (um terço), conforme determina o art. 110, caput, do Código Penal. b) deve decretar a extinção da punibilidade de Mévio em razão da ocorrência da prescrição intercorrente da pretensão executória estatal. c) deve decretar a extinção da punibilidade de Mévio em face da ocorrência da prescrição intercorrente da pretensão punitiva estatal. d) deve decretar a extinção da punibilidade de Mévio em face da prescrição retroativa da pretensão punitiva estatal. e) deve decretar a extinção da punibilidade de Mévio em virtude da prescrição retroativa da pretensão executória estatal. 18. (Magistratura/SP — 2015) Em matéria de ação penal, a decadência apresenta diferentes efeitos. Sobre isso, é correto afirmar que a) na ação privada, atinge o direito de o ofendido representar, e este não pode mais agir. b) sendo ação penal privada, ataca imediatamente o direito de agir do ofendido, e o Estado perde a pretensão punitiva. c) na ação penal pública condicionada à representação, impede que a vítima apresente queixa-crime. d) condiciona o agir do Ministério Público à condição de procedibilidade do ofendido em face do ofensor. FIM OUTROS PONTOS COMPLEMENTARES DIFERENÇAS ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA DECADÊNCIA: Como causa de extinção da punibilidade, a decadência só existe para os crimes de ação privada e pública condicionada à representação; O prazo é de 6 meses a contar da data em que a vítima ou seu representante descobrem a autoria; Só é possível antes do início da ação penal; Atinge o direito de ação e, em seguida, o direito de punir do Estado. PRESCRIÇÃO Aplica-se a todos os crimes, salvo as exceções constitucionais; O prazo varia de acordo com a pena máxima prevista para o crime; É possível antes e durante a ação penal e até mesmo após o trânsito em julgado da condenação; Atinge diretamente o direito de punir estatal. EFEITOS DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE Dependendo do momento em que ocorre a causa extintiva, seus efeitos podem ter maior ou menor intensidade. a) Se verificadas antes do trânsito em julgado da sentença condenatória: Impedem a própria prolação da sentença ou afastam todo e qualquer efeito da sentença já prolatada, mas ainda não transitada em julgado. Incluem-se nesta categoria a prescrição da pretensão punitiva, a decadência, o perdão, a perempção, a renúncia, a retratação, dentre outros. O réu, portanto, mantém-se primário. b) Se ocorridas após o trânsito em julgado da sentença condenatória: Afastam somente a necessidade do cumprimento da pena, se ainda não iniciada, ou de seu restante. É o caso da prescrição da pretensão executória. Caso o réu cometa posteriormente outro crime, será considerado reincidente, se ainda não transcorridos os 5 anos a que se refere o art. 64, I, do Código. CLASSIFICAÇÃO DAS CAUSAS EXTINTIVAS DE PUNIBILIDADE1) Quanto às infrações penais a que são aplicáveis, as causas extintivas podem ser: a) Gerais: alcançam todo e qualquer tipo de infração. Exemplo: a morte do agente e a abolitio criminis. b) Especiais: Aplicam-se apenas a determinados delitos. Incluem-se nesta categoria a retratação, o perdão judicial, a renúncia, o perdão do ofendido, a perempção e a decadência. c) Específicas: Cabem em uma única infração penal. Não estão previstas na Parte Geral do Código, e sim em dispositivos determinados da Parte Especial ou de leis especiais. Exemplos: a) a reparação do dano no crime de peculato culposo (art. 312, § 3º, do CP); b) a aquisição posterior de renda na contravenção de vadiagem (art. 59, parágrafo único, da LCP). 2) Quanto ao alcance em relação às pessoas envolvidas no crime: a) Comunicáveis: beneficiam todos os envolvidos na infração (autores ou partícipes). Exemplos: renúncia, perempção e abolitio criminis. b) Incomunicáveis: aplicam-se somente ao agente que se enquadra na situação prevista em lei, não se estendendo aos comparsas. Exemplo: a morte de um dos criminosos. 3) Quanto à causa que fundamenta a causa extintiva: a) Naturais: quando a causa extintiva se baseia em um fato natural, como, por exemplo, a morte do agente ou o decurso do tempo na prescrição. b) Políticas: existem porque o legislador entende que certos comportamentos devem fulminar o jus puniendi. Exemplos: perdão do ofendido ou retratação do agente; indulto por parte do Presidente da República; perdão judicial etc. 4) Quanto à exigência de algum ato por parte do autor do crime para a extinção da punibilidade: a) Incondicionadas: quando a extinção da punibilidade independe de ato do agente. Exemplos: prescrição, perempção, renúncia, decadência, perdão judicial etc. b) Condicionadas: quando está vinculada a algum ato do autor da infração. Exemplos: retratação do agente, reparação do dano no peculato culposo, cumprimento das condições na suspensão condicional do processo, pagamento do tributo nos crimes contra a ordem tributária etc. FIM
Compartilhar