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(20160912042400)2. Posse

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DIREITO DAS COISAS 
Profª Tatiane Santana. 
2016.2 
 
POSSE 
DA POSSE 
a) Classificação – CC, arts. 1.196 – 1.203 
b) Aquisição – CC, arts. 1.204 – 1.209 
c) Efeitos – CC. Arts. 1.210 – 1.222 
d) Perda – CC., arts. 1.223 e 1224 
e) Proteção – CPC. 554 – 568. 
ESTUDO DA POSSE 
• Conceito de posse irá variar de acordo com a teoria 
que for adotada. 
 
Temos duas teorias clássicas: 
 
• A primeira é a teoria subjetiva, de Savigny; 
 
• A segunda é a teoria objetiva, de Ihering. 
TEORIA SUBJETIVA 
SAVIGNY (1803) 
• Para Savigny a posse consiste no poder exercido 
sobre determinada coisa, com a intenção, o 
propósito, de tê-la para si. 
 
• Seu conceito pode ser decomposto em 2 elementos: 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
AULA 1 
 
 
 
• Para Savigny a posse consiste no poder exercido 
sobre determinada coisa, com a intenção, o 
propósito, de tê-la para si. 
• Seu conceito pode ser decomposto em 2 elementos: 
A intenção de domínio, 
Vontade de ter a coisa 
como sua. 
O poder, o contato 
direto sobre a coisa. 
E a posse indireta? 
TEORIA OBJETIVA 
IHERING 
• Para Ihering a posse não precisa ser decomposta em 2 
elementos. Posse seria simplesmente, em uma análise 
objetiva, a exteriorização da propriedade. 
 
• Ou seja, possuidor é a pessoa que exerce poderes de 
proprietário, imprimindo destinação socioeconômica à 
coisa. 
 
• Por considerar irrelevante a prova do animus (a intenção 
de ter a coisa como sua), esta teoria consegue explicar a 
questão da posse indireta. 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
AULA 1 
 
 
 
• Para Ihering a posse não precisa ser decomposta em 2 
elementos. Posse seria simplesmente, em uma análise 
objetiva, a exteriorização da propriedade. 
• Ou seja, possuidor é a pessoa que exerce poderes de 
proprietário, imprimindo destinação econômica à coisa. 
• Por considerar irrelevante a prova do animus (a intenção 
de ter a coisa como sua), esta teoria consegue explicar a 
questão da posse indireta. 
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO 
• O código civil brasileiro, ao regular a posse, em seu 
art. 1.196, sutilmente optou pela TEORIA OBJETIVA, 
se coadunando com o princípio constitucional da 
função social. 
 
• Contudo, em diversos dispositivos, deixa-se 
influenciar pela teoria subjetiva (Savigny), a exemplo 
da disciplina da usucapião, art. 1.238, com referência 
inequívoca feita ao animus “possuir como seu”. 
CONCEITO DE POSSE 
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que 
tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum 
dos poderes inerentes à propriedade. 
CONCEITO DE POSSE 
Poderes inerentes ao domínio: 
(ou atributos da propriedade – art. 1.228, CC) 
 
 Usar - usar a coisa para seu fim precípuo, para o qual ela 
foi concebida. 
 Gozar - colher os frutos que esta coisa produz (sejam 
eles naturais, industriais ou civis) 
 Dispor - é o poder do proprietário em dar o destino que 
quiser à coisa 
 Reaver - não é sempre que o proprietário pode reaver a 
coisa, somente quando não houver razão jurídica para 
um terceiro possuir o bem. 
POSSE X DETENÇÃO 
 
 
Art. 1.196, CC. “Considera-se possuidor todo aquele 
que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum 
dos poderes inerentes à propriedade.” 
 
Art. 1.198, CC. “Considera-se detentor aquele que, 
achando-se em relação de dependência para com 
outro, conserva a posse em nome deste e em 
cumprimento de ordens ou instruções suas.” 
 
 
 
Detenção: 
- Ex: o motorista de ônibus; o motorista particular em relação 
ao carro do patrão; o bibliotecário em relação aos livros, o 
caseiro, etc. 
 
- Tais pessoas não têm posse, mas mera detenção por isso 
jamais podem adquirir a propriedade pela usucapião dos 
bens que ocupam, pois só a posse prolongada enseja 
usucapião, a detenção prolongada não enseja nenhum 
direito. 
 
Classificação da Posse 
 
A Posse Direta e Indireta 
Art. 1.197, CC. 
 
Posse direta: o possuidor detém temporariamente 
a coisa em seu poder; Ex: Locatário. 
 
Posse indireta: o possuidor não detém a coisa; 
Ex.: locador/proprietário. 
 
Uma não anula a outra. Ambas coexistem. 
 
 
Da composse e posse exclusiva 
 
Art. 1.199, CC. 
 
Composse: É a posse exercida por duas ou mais pessoas. A 
composse pode ser tanto na posse direta como na indireta (ex: 
dois irmãos herdam um apartamento e alugam a um casal, 
hipótese em que os irmãos condôminos terão composse indireta 
e o casal a composse direta). 
 
Posse exclusiva: É a posse de um único possuidor. 
Posse Justa e Posse Injusta 
 
 
Art. 1.200 – 1.202, CC 
 
A POSSE INJUSTA é a violenta, clandestina ou precária, a POSSE JUSTA é o contrário (art. 
1.200, CC). 
Assim , são vícios de origem da posse: 
POSSE VIOLENTA, que nasce da força (ex: invasão de uma fazenda, o roubo de um bem). 
POSSE CLANDESTINA a adquirida na ocultação (ex: o furto; invasão ao imóvel à noite), às 
escondidas, e o dono nem percebe o desapossamento para tentar reagir como permite o § 
1.º do art. 1.210, CC. 
POSSE PRECÁRIA é a posse adquirida em razão de abuso de confiança por parte de quem 
recebera a coisa com a obrigação de restituí-la. 
É a posse injusta mais odiosa porque ela nasce do abuso de confiança (ex: o comodatário que 
findo o empréstimo não devolve o bem; o inquilino que não devolve a casa ao término da 
locação; A pede a B para entregar um livro a C, porém B não cumpre o prometido e fica com 
o livro, abusando da confiança de A). 
 
 TODAS ESSAS TRÊS ESPÉCIES DE POSSE INJUSTA NA VERDADE NÃO SÃO POSSE, MAS 
DETENÇÃO (ART. 1208, cc). 
 
 
O relevante é porque a detenção violenta e a clandestina 
podem CONVALESCER, ou seja, podem se curar e virar posse 
quando cessar a violência ou a clandestinidade, e o ladrão passar 
a usar a coisa publicamente, sem oposição ou contestação do 
proprietário. 
 
Já a detenção precária jamais convalesce, nunca quem age com 
abuso de confiança pode ter a posse da coisa para com o passar 
do tempo se beneficiar pela usucapião e adquirir a propriedade. 
 
 
Qual é o período de tempo para convalescer os vícios da 
violência e da clandestinidade? 
 
Segundo o art. 924 do Código de Processo Civil, as ações 
possessórias para reaver o bem que foi tomado de forma 
violenta ou clandestina deve ser proposta no prazo de ano e dia. 
Após esse período, a posse injusta pela violência ou 
clandestinidade passa a ser justa. 
Posse de boa-fé e posse de má fé 
 
 
A classificação subjetiva leva em conta a condição psicológica do 
possuidor, ou seja, elementos internos/íntimos do possuidor, e divide a 
posse em de boa-fé e de má-fé. 
 
A posse de boa-fé, embora íntima, admite um elemento externo para 
facilitar a sua comprovação. Este elemento externo é chamado de 
“JUSTO TÍTULO”, ou seja um documento adequado para trazer 
verossimilhança à boa-fé do possuidor; 
 
 A posse é de boa-fé quando o possuidor tem a convicção de que sua 
posse não prejudica ninguém (1201, CC). Fora adquirida por meios 
legítimos. 
 
 
 
 
A posse é de má-fé quando o possuidor sabe que tem vício, ignorando-o. 
 
Em geral a posse injusta é de má-fé e a posse justa é de boa-fé, porém 
admite-se posse injusta de boa-fé (ex: comprar coisa do ladrão, 1203, CC; é 
injusta porque nasceu da violência, mas o comprador não sabia que era 
roubada), e posse justa de má-fé (ex: o tutor comprar bem do órfão, o Juiz 
comprar o bem que ele mandou penhorar, mesmo pagando o preço correto, é 
vedado pelo art. 497,CC; a posse é justa porque foi pago o preço correto, mas 
é de má-fé porque tem vício, porque viola a ética, a moral, e a própria lei, 
afinalo tutor, o Juiz não basta ser honesto, também tem que parecer 
honesto). 
 
 
 
AQUISIÇÃO E PERDA DA POSSE 
Da aquisição da posse 
 
Arts. 1.204 a 1.209, CC. 
 
Modos de Aquisição da Posse: 
ORIDINÁRIOS – Não há consentimento do possuidor precedente. 
DERIVADOS – Há anuência do anterior possuidor. 
 
a) da ocupação ou apreensão – coisa achada, abandonada, sem dono... (pescar 
um peixe, pegar uma concha na praia, pegar um sofá abandonado na calçada); 
b) de alguns contratos (compra e venda, doação, troca, mútuo – vão transferir 
posse e propriedade; já na locação, comodato e depósito só se adquire posse); 
c) dos direitos reais ou exercício do direito (usufruto, superfície, habitação, 
alienação fiduciária); 
d) do direito sucessório (art.1784, CC). 
 
Perda da posse 
Art. 1223, 1196 e 1204. 
a) abandono (significa renunciar à posse, é a res derelictae = coisa 
abandonada, como colocar na calçada um sofá velho); 
b) tradição (entrega da coisa a outrem com ânimo de se desfazer da posse, 
como ocorre nos contratos de locação, compra e venda, comodato, etc; 
c) perda da coisa (= res amissa; a perda é involuntária e permanente; ocorre 
quando a pessoa não encontra a coisa perdida e quem a encontrou não a 
devolve – 1233,CC); 
d) pela sua colocação fora do comércio (ex: o governo decide proibir o 
cigarro); 
e) pela posse de outrem (invasor, ladrão) superior a um ano e um dia, 
mesmo contra a vontade do legítimo possuidor, antes de um ano e um dia 
(558 do CPC) o invasor/ladrão só tem detenção - 1208;, CC após esse prazo já 
tem posse, e após alguns anos terá propriedade através da usucapião, isso 
tudo se o proprietário permitir e não estiver questionando na Justiça a perda 
do seu bem; isso parece absurdo, proteger o ladrão/invasor, mas o efeito do 
tempo é tão importante para o direito, e a posse é tão importante para 
presumir (dar aparência) a propriedade; 
 
 
A Posse 
Modalidades Da Posse: 
 
Posse nova: menos de um ano e um dia; 
 
Posse velha: mais de um ano e um dia; 
 
 
 
Efeitos da Posse 
Os principais efeitos da posse são: 
 
a) direito ao uso dos interditos; 
b) defesa direta; 
c) percepção dos frutos; 
d) indenizações por benfeitorias; 
e) direito de retenção por benfeitorias; 
f) responsabilidade pelas deteriorações; 
Arts. 1.210 – 1.222, CC. 
 
I) Direito à legítima defesa ou defesa direta, ou desforço 
imediato, ou autodefesa da posse do §1.º do 1210, afinal quem não defende 
seus bens, móveis ou imóveis, não é digno de possuí-los. Os limites desta 
autodefesa são os mesmos da legítima defesa do direito penal, ou seja, deve-
se agir da ciência de forma imediata, com moderação e usando os meios 
necessários. 
 
II) Direito aos interditos: interdito é uma ordem do Juiz advindas 
de uma das três ações possessórias que se pode pedir ao Juiz 
quando o possuidor não tem sucesso através do desforço 
imediato. 
Art. 1.210, CC. “O possuidor tem direito a ser mantido na posse 
em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de 
violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. “ 
 As três ações cabem para defender móveis e imóveis. 
 
Esbulho x Turbação X Ameaça 
Ações possessórias 
 
 
a) Ação de interdito proibitório: é uma ação preventiva usada 
pelo possuidor diante de uma séria AMEAÇA a sua posse. 
 
Ex: os jornais divulgam que o MST vai invadir a fazenda X nos 
próximos dias). O dono (ou possuidor, ex: arrendatário/locatário) 
da fazenda ingressa então com a ação e pede ao Juiz que proíba 
os réus de fazerem a invasão sob pena de prisão e sob pena de 
multa em favor do autor da ação. (vejam a parte final do art. 
1210, caput, CC) 
 
 
 
 b) Ação de manutenção de posse: esta ação é cabível quando houve 
TURBAÇÃO, ou seja, quando já houve violência à posse (ex: derrubada da 
cerca, corte do arame, cerco à fazenda, fechamento da estrada de acesso). O 
possuidor não perdeu sua posse, mas está com dificuldade para exercê-la 
livremente (vide art 1210 parte inicial, CC). O possuidor pede ao Juiz para ser 
mantido na posse, para que cesse a violência e para ser indenizado dos 
prejuízos sofridos. 
 
 c) Ação de reintegração de posse: esta ação vai ter lugar em caso de 
ESBULHO, ou seja, quando o possuidor efetivamente perdeu a posse da coisa 
pela violência de terceiros. O possuidor pede ao Juiz que devolva o que lhe foi 
tomado. (vide 1210 no meio, CC). O possuidor pede ao Juiz para ser 
reintegrado na posse. 
 
PROCEDIMENTO ESPECIAL DOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS: 
 
Arts. 554 a 568, CPC. 
 
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de 
reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo 
quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou 
do esbulho afirmado na petição inicial. 
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum 
o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório. 
 
 
MUITO IMPORTANTE: 
 
estas ações devem ser propostas no prazo de até um ano e um 
dia da agressão, pois dentro deste prazo o Juiz pode 
LIMINARMENTE determinar o afastamento dos réus que só tem 
detenção; após esse prazo, o invasor já tem POSSE VELHA e o 
Juiz não pode mais deferir uma liminar, e o autor vai ter que 
esperar a sentença. 
 
 
Direito aos frutos e aos produtos 
 
O possuidor de boa-fé tem direito aos frutos e aos produtos da coisa 
possuída. Então o arrendatário de uma fazenda pode retirar os frutos e os 
produtos da coisa durante o contrato. Os produtos são esgotáveis, são 
exauríveis (ex: uma pedreira), enquanto os frutos se renovam. 
 
• Os frutos podem ser naturais (ex: crias dos animais, frutas das árvores, 
safra de uma plantação); 
• industriais (ex: produção de uma fábrica de carros) 
• civis (ex: rendimentos provenientes de capital como os juros). (ver pu do 
1214, e 1215). O possuidor de má-fé não tem esses direitos (1216), salvo 
os da parte final do 1216 afinal, mesmo de má-fé, gerou riqueza na coisa. 
 
 
Direito à indenização e retenção por benfeitorias: 
 
Pois bem, se o possuidor está de boa-fé (ex: inquilino, 
comodatário, usufrutuário, etc) terá sempre direito: 
 
• à indenização e retenção pelas benfeitorias necessárias; 
• as benfeitorias voluptuárias poderão ser levantadas 
(=retiradas) pelo possuidor, se a coisa puder ser retirada sem 
estragar e se o dono não preferir comprá-las, não cabendo 
indenização ou retenção; 
• às benfeitorias úteis, existe mais um detalhe: é preciso saber 
se tais benfeitorias úteis foram expressamente autorizadas 
pelo proprietário para ensejar a indenização e retenção.

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