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Cooperativismo de Crédito e sua Contribuição

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1 
 
A CONTRIBUIÇÃO DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO PARA 
A EFICIÊNCIA ECONÔMICA E EFICÁCIA SOCIAL 
 
 
 Cristiane Mesquita Franz 
Prof° Orientador Fábio Melo de Azambuja1 
 
RESUMO 
Neste trabalho buscamos, além de definir o cooperativismo, 
demonstrar suas origens, princípios e natureza jurídica, classificando-o nos 
seus diversos ramos de atividades, dentre eles, o crédito, objeto principal do 
presente estudo. Nesse tocante, abordamos o histórico do cooperativismo de 
crédito, sua evolução normativa e a diferenciação quanto às demais instituições 
financeiras e por fim, o reflexo deste na sociedade onde atua. 
Palavras-Chave: Direito Cooperativo. Cooperativismo. Cooperativa de crédito. 
 
SUMÁRIO 
 
1 Introdução; 2 Origem do Cooperativismo; 2.1 Princípios do Cooperativismo; 
2.2 Definição do Cooperativismo; 2.3 Classificação das Cooperativas; 2.3.1 
Classificação quanto ao Objeto; 2.4 Natureza Jurídica das Cooperativas; 2.5 
Responsabilidade dos Associados; 3 Origem do Cooperativismo de Crédito; 3.1 
Cooperativismo de Crédito no Brasil; 3.2 Definição do Cooperativismo de 
Crédito; 3.3 Evolução Normativa; 3.4 Diferenciação entre Cooperativas de 
Crédito e Bancos; 3.5 Sistemas de Crédito Cooperativo; 3.5.1 SICREDI; 3.5.2 
SICOOB; 3.5.3 UNICRED; 3.5.4 Sistema de Crédito Cooperativo Solidário; 5 
Considerações Finais e Referências. 
 
1 INTRODUÇÃO 
Tendo como tema a contribuição das cooperativas de crédito para a 
eficiência econômica e eficácia social, desenvolveremos o estudo com a 
pretensão de analisar a definição do cooperativismo, abordando sua evolução 
histórica, sua natureza jurídica e sua diferenciação perante as demais 
instituições financeiras. A partir de então, teremos a base para desenvolvermos 
a problemática enfrentada pelo nosso estudo, qual seja, a dificuldade 
interpretativa do cooperativismo - principalmente do cooperativismo de crédito - 
em evidenciar a aplicabilidade do mesmo como instrumento para promover o 
desenvolvimento econômico e social. 
Apesar de o tema não ser de conhecimento geral, o cooperativismo de 
crédito vem assumindo um lugar de destaque no Sistema Financeiro Nacional, 
em função do seu significativo crescimento nos últimos anos. Fato esse, que 
nos leva ao aprofundamento do estudo, a fim de que se torne possível uma 
melhor compreensão e análise dos seus diferenciais. 
 
1
 Composição da banca: Fábio Melo de Azambuja (orientador), João Paulo Veiga Sanhudo (argüidor) e 
Marcelo Vicentini (argüidor). 
 
 
2 
Assim, o estudo será desenvolvido a partir da técnica de pesquisa 
bibliográfica e documental, baseada na Constituição Federal, Lei 
Cooperativista, doutrina, além de normativos do Banco Central do Brasil e do 
Conselho Monetário Nacional. 
Para tanto, no primeiro capítulo relataremos a origem do 
cooperativismo, juntamente com seus princípios, que são primordiais para a 
compreensão do cooperativismo de crédito. Trataremos da classificação das 
cooperativas, onde o crédito é classificado como um de seus ramos e também 
abordaremos a natureza jurídica das cooperativas, a responsabilidade dos 
associados e algumas entidades que representam as sociedades cooperativas. 
A partir do segundo capítulo, analisaremos a origem do cooperativismo 
de crédito no Brasil, a evolução normativa de forma cronológica, a distinção 
entre cooperativas de crédito e bancos, bem como os sistemas de crédito mais 
representativos no Brasil e a importância destes para o desenvolvimento da 
sociedade onde atuam. 
 
2 ORIGEM DO COOPERATIVISMO 
A cooperação2 sempre esteve presente na história do homem. Desde 
seu primitivismo, utilizavam-se da cooperação para alcançar seus objetivos. 
Entretanto, a partir da evolução do homem, sua natureza acabou sendo 
modificada, dando evasão do sentimento coletivo, tomando conta a ganância, 
que estabelece a figura do intermediário, do explorador de patrimônio e de 
força de trabalho alheio. 
Desde os primórdios, a cooperação tem se mostrado presente. 
Entretanto, o modelo de cooperativa3, na forma como hoje são conhecidas as 
sociedades cooperativas, surgiu em 28 de outubro de 1844, na cidade inglesa 
de Rochdale, época em que o Estado passava por uma séria crise social, 
agravada pelas repercussões da Revolução Industrial. 
Diante da crise, 28 tecelões de Rochdale, movidos pelo espírito de 
ajuda mútua, constituíram uma cooperativa (primeira cooperativa organizada 
formalmente) de consumo para viabilizar a aquisição ao menor custo, de bens 
e suprimentos diretamente dos produtores, de forma a eliminar o intermediador 
da relação comercial. 
Cabe ressaltar, que o ingresso na sociedade acontecia pelo pagamento 
da subscrição, dando direito a compartilhar o estoque. 
Estes tecelões submeteram-se a alguns princípios, tais como: suprir 
necessidades deixadas pelo desemprego, possuir neutralidade política e 
religiosa, controlar a diretoria eleita pelos membros, efetuar negócios em 
dinheiro, restituir os dividendos de acordo com o capital rendido 4. 
Diante do sistema econômico da época, o cooperativismo foi 
considerado o “caminho do meio”, sendo a intermediação entre o capitalismo5 e 
 
2
 Ato ou efeito de cooperar para um fim comum. HOLANDA, Aurélio Buarque. Novo dicionário 
Aurélio. Rio de Janeiro. Editora Nova Fronteira, 1997. 
3
 Sociedade ou empresa constituída por membros de determinado grupo econômico ou social, 
e que objetiva desempenhar, em benefício comum, determinada atividade econômica. 
HOLANDA, op. cit. 
4
 BULGARELLI, Waldirio. O regime jurídico das sociedades cooperativas. São Paulo: 
Pioneira, 1965. 
5
 O capitalismo é um sistema gerador e propulsor de riqueza onde o fator determinante de seu 
apogeu é a remuneração efetiva do capital. Busca-se o lucro como primeiro e único conceito de 
 
 
3 
socialismo6, valendo-se do capitalismo como base de sustentação, e do 
socialismo como base de equilíbrio harmonioso de distribuição de riqueza. O 
cooperativismo trouxe uma sociedade mais justa, mais humana e mais 
comprometida consigo mesma, sendo que, através do ato dos tecelões de 
Rochdale, denominado marco do cooperativismo, outras cooperativas foram 
surgindo, como por exemplo, na França, onde iniciou o movimento com a 
fundação de uma cooperativa de produção. 
2.1 PRINCÍPIOS DO COOPERATIVISMO 
 
Os princípios do cooperativismo expressam o sentimento social do 
sistema cooperativo através de uma inspiração democrática, onde os 
associados são os dirigentes, recebem os excedentes da cooperativa de forma 
proporcional às suas operações, mantém a neutralidade político-religiosa, 
visam o capital como mero instrumento e não como fator determinante, não 
perseguem lucros e acima de tudo visam o desenvolvimento e aperfeiçoamento 
do ser humano7. 
Os princípios cooperativos, apresentados a seguir, são as linhas 
orientadoras através das quais as cooperativas levam os seus valores à 
prática. 8 
a) 1° princípio - adesão voluntária e livre: as cooperativas são 
organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a 
utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como 
membros, sem discriminação de sexo, idade, raça, preferências 
políticas e religiosas; 
b) 2° princípio - gestão democrática e livre: as cooperativas são 
organizações democráticas, controladas pelos seus membros, que 
participam ativamente na formulação das suas políticas e na 
tomada de decisões. A Diretoria eleita agirá por delegação e com 
responsabilidade para com os associados. Os membros têm igual 
direito de voto (um membro, um voto). Segundo Bulgarelli9 “todo 
associado tem direito a um voto, seja qual for o valor de suas 
quotas de capital, todo associado pode desta forma votar e ser 
votado, participando da gestãoda sociedade”; 
c) 3° princípio - participação econômica dos sócios: os sócios 
contribuem eqüitativamente para o capital das suas cooperativas e 
controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, 
normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os sócios 
 
riqueza. Para se conseguir o lucro, não se considera obstáculos, não se restringe a barreiras, 
não recua diante das dificuldades. 
6
 O socialismo propõe a estatização dos meios de produção, o que implica a distribuição mais 
justa e eqüitativa da renda nacional e a eliminação do caráter antagônico das contradições 
entre as classes sociais e, num estágio superior, apropria eliminação das classes sociais. No 
Sistema Socialista, o Estado ordena e comanda as ações do povo e, este, através dos tributos, 
dá ao Estado o suporte financeiro. 
 
7
 BULGARELLI, Waldirio. As sociedades cooperativas e a sua disciplina jurídica. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2000. p. 12. 
8
 Norteiam as cooperativas, os princípios aprovados no Congresso de Manchester, em 1995, 
pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI). 
9
 BULGARELLI, op. cit., p. 13. 
 
 
4 
recebem, habitualmente, se houver, uma remuneração limitada ao 
capital integralizado, como condição de sua adesão. O destino dos 
excedentes visa sempre o desenvolvimento da cooperativa, seja 
por meio da criação de reservas legais, em benefício dos sócios 
nas transações com a sociedade ou, através de apoio a outras 
atividades, sendo imprescindível a aprovação via assembléia; 
d) 4° princípio - autonomia e independência - as cooperativas são 
organizações autônomas, de ajuda mútua, sob controle de seus 
membros. As relações das cooperativas com outras organizações, 
sejam públicas ou privadas, devem ser exercidas de modo a 
preservar seu controle democrático e autônomo; 
e) 5° princípio - educação, formação e informação: as cooperativas 
promovem a educação e a formação dos seus membros, dos 
representantes eleitos e dos colaboradores, de forma que estes 
possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas 
cooperativas. Informam o público em geral, particularmente os 
jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da 
cooperação. É dever das cooperativas prestar assistência técnica, 
educacional e social para os seus associados, devendo, constituir 
um fundo, previsto em estatuto, para garantir a realização desse 
princípio; 
f) 6° princípio – intercooperação: além de suas atividades específicas 
de atendimento aos associados, as cooperativas trabalham juntas, 
regidas por estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais, 
que permitam manter o desenvolvimento, o fortalecimento e a 
sustentação do movimento cooperativo. 
g) 7° princípio - interesse pela comunidade – as cooperativas buscam 
o conhecimento além do mercado onde atuam, conhecendo a 
comunidade onde se inserem, trabalham para o desenvolvimento 
sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas 
pelos membros. 
Esses são os Princípios Cooperativistas que dão grandioso sentido 
social e democrático a esse tipo de organização, visando o capital como 
instrumento para realização de seus objetivos e não elemento determinante de 
sua constituição. 
 2.2 DEFINIÇÃO DO COOPERATIVISMO 
 
Diante das peculiaridades da sociedade cooperativa, os doutrinadores 
têm mostrado dificuldades em defini-la com precisão, sendo assim, poucos 
autores brasileiros escrevem sobre o tema. Waldirio Bulgarelli assim adverte: 
As dificuldades iniciais dessa conceituação decorrem, em grande 
parte, de terem sido as definições formuladas por economistas e com 
o sentido de realçar a supressão do intermediário e o aspecto não 
lucrativo da atividade cooperativa, elementos que por si só não eram 
capazes de conferir originalidade à cooperativa, deixando margem de 
confusão com outras sociedades. [. . .] Por outro lado, essas 
dificuldades eram agravadas pelo fato de as cooperativas, atuando 
nos mais variados setores da atividade humana, se dividirem e 
subdividirem em inúmeros tipos e categorias.10 
 
10
 BULGARELLI, Waldirio. Elaboração do direito cooperativo. São Paulo: Atlas, 1967. p. 30. 
 
 
5 
A definição e o modus operandi da sociedade cooperativa, subordinam-
se à regência da legislação de cada país. 
No Brasil, sociedades cooperativas são sociedades de pessoas, com 
forma e natureza jurídica própria, constituída para prestar serviços aos 
associados, cujo regime jurídico, atualmente, é instituído pela Lei 5764, de 16 
de dezembro de 1971. 
Já na Alemanha, “As Cooperativas são sociedades com número de 
sócios variável, que pretendem fomento das economias de seus sócios através 
de um negócio administrado em comum”. 
Na definição da Lei Argentina “As cooperativas prestam serviços a 
seus associados e aos não associados sob certas circunstâncias”.11 
Mesmo havendo dificuldades para defini-la, certeiro é seu objetivo, no 
que tange a proporcionar vantagens econômicas a seus membros através da 
racionalização de gastos comuns; do reforço ao poder de barganha com o 
mercado; da eliminação de intermediários, etc. 
De forma mais abrangente, Walmor Franke assim define: 
A palavra “cooperativismo” pode ser tomada em duas acepções. Por 
um lado designa o sistema de organização econômica que visa a 
eliminar os desajustamentos sociais oriundos dos excessos da 
intermediação capitalista; por outro, significa a doutrina corporificada 
no conjunto de princípios que devem reger o comportamento do 
homem integrado naquele sistema.12 
Deste modo, a sociedade cooperativa vem ser a intermediária entre os 
associados e suas relações com o mercado. 13 
Além das peculiaridades que a distingue das demais sociedades, as 
cooperativas são caracterizadas, conforme expresso em Lei, pelas seguintes 
propriedades:14 
a) adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo 
impossibilidade técnica de prestação de serviços; 
b) variabilidade do capital social representado por quotas-partes; 
c) limitação do número de quotas-partes do capital para cada 
associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de 
proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento 
dos objetivos sociais; 
d) inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos 
à sociedade; 
e) singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, 
federações e confederações de cooperativas, com exceção das 
 
11
 LUZ FILHO, Fábio. Apud IRION, João Eduardo. Cooperativismo e economia social. São 
Paulo: STS, 1997. p. 182. 
12
 FRANKE, Walmor. Direito das sociedades cooperativas. São Paulo: Saraiva, 1973. p. 1. 
13
 Nas palavras de Walmor Franke, op. cit. p. 11, “O contato que o sujeito econômico 
cooperativado estabelece com o mercado mediante a organização empresarial cooperativa dá 
lugar, por isso mesmo, ao afastamento de um “tertius”, que será conforme o caso, o 
comerciante atacadista ou varejista, o industrial, adquirente da matéria-prima, o banqueiro, 
prestador de crédito, o patrão, empregador de mão-de-obra, com os quais o cooperado 
necessariamente entraria em relação jurídica negocial se não existisse a sociedade 
cooperativa”. 
14
 Art. 4° da Lei 5.764/71, que define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime 
jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. 
 
 
 
6 
que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da 
proporcionalidade; 
f) quorum para o funcionamento e deliberação da Assembléia Geral 
baseado no número de associados e não no capital; 
g) retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente àsoperações realizadas pelo associado, salvo deliberação em 
contrário da Assembléia Geral; 
h) indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica 
Educacional e Social; 
i) neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social; 
j) prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos 
estatutos, aos empregados da cooperativa; 
k) área de admissão de associados limitada às possibilidades de 
reunião, controle, operações e prestação de serviços. 
Nota-se que as características principais do cooperativismo, fixadas 
pelo legislador brasileiro, refletem as normas estabelecidas pelos pioneiros de 
Rochdale. 
2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS COOPERATIVAS 
 
As sociedades cooperativas são classificadas como: 
a) Cooperativas singulares, ou de 1° grau: destinadas a prestar 
serviços diretamente aos associados; 
b) Cooperativas centrais e federações de cooperativas, ou de 2° grau: 
constituídas por cooperativas singulares e que objetivam organizar, 
em comum e em maior escala, os serviços econômicos e 
assistenciais de interesse das filiadas, integrando e orientando suas 
atividades, bem como facilitando a utilização recíproca dos 
serviços; 
c) Confederação de cooperativas, ou de 3° grau: constituídas por 
centrais e federações de cooperativas e que têm por objetivo 
orientar e coordenar as atividades das filiadas, nos casos em que o 
vulto dos empreendimentos transcenderem o âmbito de capacidade 
ou conveniência de atuação das centrais ou federações. 
 
2.3.1 Classificação quanto ao objeto 
 
As cooperativas poderão adotar qualquer ramo de conhecimento 
negocial humano, desde que lícitos, morais e possíveis, respeitando o disposto 
no art. 5° da Lei 5764/71. 
Existem diferentes formas de classificação das cooperativas. A OCB 
(Organização das Cooperativas do Brasil), considera a divisão das 
cooperativas por ramos: agropecuário, consumo, crédito, educacional, especial, 
infra-estrutura, habitacional, mineral, produção, saúde, trabalho, turismo e 
lazer, transporte (cargas e passageiros). São treze ramos que, na visão de 
alguns autores confundem-se, como por exemplo, a cooperativa de saúde e 
trabalho médico, por isso, grande parte dos autores as classificam em três 
tipos: recebimento, fornecimento e produção, que não as confundem. 
Abaixo, podemos perceber a representatividade no Brasil, de cada um 
dos ramos citados, principalmente quanto ao número de empregos diretos 
 
 
7 
gerados na economia e o número de cooperados. Importante destacar, que em 
países como o Canadá15, por exemplo, o percentual de cooperados em relação 
à população adulta é de aproximadamente 80%, infinitamente superior em 
relação à realidade brasileira. 
Quadro 1 - Composição do Sistema Cooperativo Brasileiro16 
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Diante da classificação apresentada, aprofundaremos nosso estudo no 
ramo do cooperativismo de crédito, também enquadrado no tipo recebimento, 
uma vez que, recebe valores para administrar. 
2.4 NATUREZA JURÍDICA DAS COOPERATIVAS 
 
A lei 5764/71, em seu art. 3°, prevê que “celebram contrato de 
sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir 
com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de 
proveito comum, sem objetivo de lucro”. 
Uma vez que a lei fala em “contrato de sociedade cooperativa”, cuja 
finalidade é o “exercício de atividade econômica”, deixa claro de que se trata de 
sociedade e não de associação, vez que esta não admite fins econômicos (art. 
53 do CC). 17 
As cooperativas adotaram como fundamento a cooperação, tendo 
como finalidade a melhoria das condições econômicas através da criação de 
uma sociedade de interesse comum, destinada a prestar serviços aos seus 
associados18 afastando os intermediários. 
 
15
 ACI. Disponível em: <http://www.ica.coop/icfo/index.html>. Acesso em: 4 set. 2005. 
16
 COAMO AGROINDUSTRIAL. Cooperativismo no Brasil. Disponível em 
<http://www.coamo.com.br/coopbrasil.html>. Acesso em 04 de outubro de 2006. 
17
 ALMEIDA, Marcos Elidius; ALMEIDA, Michelli de (org). Cooperativas à luz do código civil. 
São Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2006. p. 20. 
18
 Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, define associado como aquele “1 que se associou 
[. . .] 3 integrante de uma coligação; coligado [. . .] 4 integrante de uma sociedade empresarial 
ou de um clube; sócio 5 que ou o que colabora com outrem; parceiro [. . .]”18. Já cooperado, é 
definido como “aquele sujeito que é membro de uma cooperativa; cooperativado”18, ou seja, o 
associado colabora, auxilia ou trabalha junto com os outros, tendo por objetivo um mesmo fim. 
Entende-se que cooperado é espécie do gênero associado. 
 
 
8 
Conforme expressa disposição legal, constante no art. 982, parágrafo 
único do CC, as sociedades cooperativas são consideradas sempre simples19, 
isto é, não-empresárias, independentemente de seu objeto. Assim, não estão 
sujeitas à falência, a teor do que dispõe o art. 4° da Lei 5764/71 e art. 94 da Lei 
de Falências20. 
Não obstante sua natureza não-empresária, os atos constitutivos e 
demais documentos societários estão sujeitos a registro nas juntas comerciais, 
por força do art. 18, parágrafo 6°, da Lei 5764/71, que, por ser norma especial, 
deverá prevalecer sobre a regra geral estabelecida no art. 1150 do novo 
Código Civil.21 
Nota-se a singularidade e o hibridismo das cooperativas, pois são 
sociedades (exercem atividade econômica), mas não visam o lucro; são não-
empresariais, mas registram-se nas juntas comerciais. Diante da existência de 
normas e princípios próprios, verifica-se que as cooperativas não se 
enquadram em nenhum dos ramos tradicionais do direito (direito civil, direito 
comercial ou empresarial, direito administrativo, direito do trabalho, etc), 
tornando-se possível falar-se de um novo ramo, o direito cooperativo. 
Assim se manifesta Waldirio Bulgarelli sobre o direito cooperativo: 
Baseados na idéia de que o cooperativismo, como um sistema 
econômico característico, com filosofia e técnica própria, criou seu 
próprio direito, passaram os autores cooperativistas à não se 
conformarem com o enquadramento das cooperativas ao Direito Civil 
ou ao Direito Comercial, ou a ambos, apontando as falhas desse falso 
enquadramento e as conseqüências danosas, na ordem prática que 
ele implica. Da mesma forma como outros ramos do Direito vêm 
aspirando a dignidade de ciência autônoma, tais como o direito social, 
o Direito Agrário, o Direito Tributário, - o Direito Cooperativo quer 
encontrar e ver reconhecida a sua verdadeira posição no quadro da 
ciência do direito. As alegações fundamentais que levaram aos 
autores a pretender a autonomia do Direito Cooperativo podem ser 
assim resumidas: - não se enquadra no sistema do Direito Civil nem 
no sistema do Direito Comercial; possui princípios, extensão e 
métodos próprios; - já ter sido reconhecido por quase todos os 
direitos positivos, (com leis distintas do Direito Civil e do Direito 
Comercial); pela necessidade de ser dotado de regime jurídico apto a 
propiciar-lhe o desenvolvimento de acordo com as suas verdadeiras 
características. 22 
Todavia, apesar de serem definidas como sociedadessimples, as 
cooperativas têm forma própria, segundo o art. 4° da Lei 5764/71 e por 
ressalva no parágrafo único do art. 983 do Código Civil, não se enquadrarão 
em nenhum dos tipos societários previstos no Código Civil, obedecendo às 
normas que lhe são próprias. 
 
19
 O novo código civil emprega o termo “simples” com dois significados diversos: a) para 
designar as sociedades não empresariais (art. 982), e b) para designar um tipo de sociedade 
(art. 997 e seguintes), causando confusões e enganos por parte dos operadores do Direito. 
Ver, a propósito: MACHIONI, Jarbas Andrade. Novos Fundamentos do Direito Comercial sob o 
Código Civil de 2002. In: SIMÔES FILHO, Adalberto; LUCCA, Newton (coord.). Direito 
Empresarial Contemporâneo. São Paulo: Juares de Oliveira, 2004. p. 360. 
20
 Lei n.° 11.101 de 09 de fevereiro de 2005 que regula a recuperação judicial, a extrajudicial e 
a falência do empresário e da sociedade empresária. 
21
 ALMEIDA, Marcos Elidiu set al. Cooperativas à luz do Código Civil. São Paulo: Quartier 
Latin do Brasil, 2006. p. 21. 
22
 BULGARELLI, Waldírio. As sociedades cooperativas e a sua disciplina jurídica. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2000. p. 105. 
 
 
9 
Não obstante, conforme dispõe o art. 1096 do Código Civil, serão 
aplicadas às Cooperativas as regras da sociedade simples, nos casos omissos, 
quando compatíveis com as características previstas no art. 1094. 23 
Para BULGARELLI24, este dispositivo não tem maiores implicações, 
porque a aplicação da legislação especial cooperativista tornará bastante difícil 
a configuração de omissão na regulamentação das sociedades cooperativas. 
 
2.5 RESPONSABILIDADE DOS ASSOCIADOS 
 
A responsabilidade do associado poderá ser de forma limitada, quando 
responder pelos compromissos da sociedade até o valor do capital subscrito 
por ele, ou ilimitada, quando responder pelos compromissos da sociedade de 
forma pessoal, solidária e sem limites. 
Essa matéria está regulamentada nos arts. 11 e 12 da Lei 5764/71 e 
também no art. 1095 do Código Civil. Independentemente da escolha, ela 
deverá constar no estatuto social da cooperativa. 
Importante ressalvar que a redação do art. 1094, I trazida pelo novo 
Código Civil, possibilita à cooperativa a dispensa do capital social, sendo 
assim, caso a sociedade cooperativa opte por não ter capital social, 
necessariamente a responsabilidade dos sócios será ilimitada. 
Diante do princípio da igualdade entre os associados, parece não ser 
possível a previsão estatutária de categorias diferentes de sócios, ou seja, 
alguns com responsabilidades limitadas e outros com responsabilidade 
ilimitada, pois, tal duplicidade causaria insegurança as relações jurídicas com 
terceiros25. 
Entretanto, conforme dispõe o art. 13 da Lei 5764/71, a 
responsabilidade dos associados será sempre subsidiária em relação à própria 
cooperativa. 
No caso de desligamento do associado, independentemente da forma 
como ocorreu (demissão, eliminação ou exclusão), sua responsabilidade 
perante terceiros, em decorrência de compromissos assumidos pela sociedade, 
perdura até a data de aprovação das contas do exercício que tenha ocorrido o 
desligamento, previsto no art. 36 da Lei 5764/71. 
A legislação passada chegou a prever em até cinco anos o tempo em 
que perdurava a responsabilidade dos associados retirantes (Decreto n° 1637 
de 05.01.1907, art. 20), sendo reduzida para dois anos esse limite (Decreto-lei 
n° 5893 de 19.10.1943) e, finalmente até a data da aprovação das contas do 
exercício em que ocorreu o desligamento, conforme redação do art. 36 da Lei 
5764/71. 26 
 
3 ORIGEM DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO 
 
 
23
 ALMEIDA, Marcos Elidius et al. Cooperativas à luz do Código Civil. São Paulo: Quartier 
Latin do Brasil, 2006. p. 22. 
24
 BULGARELLI, Waldírio. As sociedades cooperativas e a sua disciplina jurídica. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2000. p. 88. 
25
 ALMEIDA, Marcos Elidius Michelli de Almeida (Org). Cooperativas à luz do código civil. 
São Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2006. p. 35. 
26
 POLONIO, Wilson Alves. Manual das sociedades cooperativas. São Paulo: Atlas, 1998. p. 
43. 
 
 
10 
Através do ato dos tecelões de Rochdale, denominado marco do 
cooperativismo, outras cooperativas foram surgindo. A primeira cooperativa de 
crédito, entretanto, veio a surgir 03 anos depois, em 1847 na Alemanha, 
fundada por Friedrich Wilhelm Raiffesen27. Natural da Remânia, criou no 
povoado de WeyerbuschWesterwald a primeira associação de apoio a 
população rural, embora não fosse ainda uma cooperativa, serviria de modelo 
para futura atividade cooperativista de Raiffeisen. 
As cooperativas fundadas por Raiffesen, eram vinculadas às 
comunidades rurais, tinham como principais características a responsabilidade 
ilimitada e solidária dos associados, a singularidade de votos dos sócios, 
independentemente do número de quotas-partes, a área de atuação restrita, a 
ausência de capital social e a não distribuição de sobras, excedentes ou 
dividendos. 
O pioneirismo dos alemães permanece com o surgimento das 
cooperativas de crédito urbanas, fundadas por Herman Schulze, em 1850. 
Schulze foi o responsável pela constituição de uma cooperativa de crédito na 
cidade de Delitzch. Os bancos populares, como ficaram conhecidos, 
diferenciavam-se do modelo Raiffeisen por apresentar uma área de ação não-
restrita, remunerar os dirigentes e prever o retorno das sobras líquidas 
proporcionalmente ao capital. 
Inspirado nos modelos alemães, em 1865, na cidade de Milão, o 
italiano Luigi Luzzatti, organiza a constituição da primeira cooperativa, cujo 
modelo herdaria seu nome, passando a ser conhecida como cooperativa do 
tipo Luzzatti, cujo capital era dividido em cotas-partes de pequeno valor, 
responsabilidade limitada ao valor da cota-parte e área de atuação circunscrita 
ao município da sede da cooperativa. 
Nas Américas, o jornalista Alphonso Desjardins idealizou a constituição 
de uma cooperativa com características distintas, embora inspirada nos 
modelos preconizados por Raiffeinsen, Schulze e Luzzati. A primeira 
cooperativa criada por Dejardins foi a da província canadense de Quebec, em 
06 de dezembro de 1900. 
Esse tipo de cooperativa, que no Brasil hoje é conhecida como 
cooperativa de crédito mútuo, tinha como principal característica a existência 
de alguma espécie de vínculo entre os sócios, reunindo grupos homogêneos 
como os de clubes, trabalhadores de uma mesma categoria, funcionários 
públicos, etc. 
3.1 COOPERATIVISMO DE CRÉDITO NO BRASIL 
 
O cooperativismo de crédito chegou ao Brasil em 1902, trazido pelo 
Padre Theodor Amstad, desenvolvendo-se na localidade de Linha Imperial, 
município de Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul.28 
Theodor Amstad, ordenado sacerdote na Inglaterra e posteriormente 
enviado para o Brasil, precisamente para o interior do Rio Grande do Sul, 
 
27
 PINHEIRO. Marcos Antonio Henriques Pinheiro. Cooperativas de crédito. Brasília: Banco 
Central do Brasil, 2006. p. 25. 
 
28
 SANTOS. João Carlos de Los. Os 25 anos da retomada do Cooperativismo de Crédito 
Brasileiro. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2005. p.13. 
 
 
11 
trabalhava como missionário, desenvolvendo trabalhos sociais nas colônias 
alemãs. 
O pároco foi responsável pela difusão do cooperativismo, fundando em 
Linha Imperial a primeira cooperativa de crédito do Brasil, denominada Caixa 
de Economia e Empréstimos Amstad, posteriormente batizada de Caixa Rural 
de Nova Petrópolis. Essa cooperativa continua em atividade até hoje, sob a 
denominação de Cooperativa de Crédito Rural de Nova Petrópolis. 
O cooperativismo de crédito se tornou viável, dianteda situação 
econômica e social que se encontravam os imigrantes. 
Com o desemprego que assombrou a Europa, os imigrantes chegaram 
ao Brasil com muito entusiasmo e disposição para trabalhar, entretanto, 
encontraram no território brasileiro situação diversa daquela prometida, pois as 
terras ofertadas localizavam-se longe dos centros urbanos, os terrenos 
localizavam-se em pequenos vales, dificultando o plantio agrícola, não havia 
incentivo estatal na concessão de crédito, tanto no estímulo para investir nas 
terras, adquirindo insumos, quanto na estruturação, para construção de 
estradas, pontes, etc. 29 
A dificuldade também se estendia na busca de incentivos nos bancos 
privados, que viam a concessão de crédito como risco de investimento, sendo 
assim, como última instância, os colonos recorriam aos financistas mais 
abastardos da região, que acrescentavam juros exorbitantes sobre valor 
emprestado, fazendo com que os colonos vendessem suas terras para honrar 
com as dívidas. 
Após conquistar a confiança dos colonos e implementar a primeira 
cooperativa, Amstad permaneceu difundindo o cooperativismo, ajudando a 
fundar mais cooperativas. Além disso, fortaleceu o espírito de cooperação pelo 
desenvolvimento sustentado, harmônico e democrático. 
Em 1906, foi constituída no município de Lajeado, no Rio Grande do 
Sul, a primeira cooperativa de crédito do tipo Luzzatti, denominada Caixa 
Econômica de Empréstimos de Lajeado, como tal inspirada no modelo do 
italiano Luigi Luzzatti, tendo como principal característica a não exigência de 
vínculo para associação, ou seja, qualquer pessoa, mesmo sem vínculo ao 
ramo rural poderia associar-se a cooperativa. Essa cooperativa permanece em 
atividade, sob a denominação de Cooperativa de Crédito de Lajeado – 
SICREDI VALE DO TAQUARI RS, integrada ao Sistema SICREDI. 
Entre 1902 e 1964, surgiram 66 cooperativas de crédito no Rio Grande 
do Sul, baseadas pelo modelo Raiffeisen. 
3.2 DEFINIÇÃO DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO 
 
As Cooperativas de Crédito têm como objetivo eliminar o intermediário 
na captação de recursos, nos investimentos e na concessão de empréstimos, 
fazendo do tomador e do investidor uma só pessoa. 
De forma mais satisfatória, Alcenor Pagnussatt assim define: 
Cooperativas de crédito são sociedades de pessoas, constituídas 
com o objetivo de prestar serviços financeiros aos seus associados, 
na forma de ajuda mútua, baseada em valores como igualdade, 
 
29
 SANTOS. João Carlos de Los. Os 25 anos da retomada do Cooperativismo de Crédito 
Brasileiro. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2005. p. 14. 
 
 
 
12 
eqüidade, solidariedade, democracia e responsabilidade social. Além 
de prestação de serviços comuns, visam diminuir desigualdades 
sociais, facilitar o acesso aos serviços financeiros, difundir o espírito 
de cooperação e estimular a união de todos em prol do bem-estar 
comum. 30 
John T. Croteau afirma que “a cooperativa de crédito é um instrumental 
econômico que diligencia em desenvolver entre os seus participantes uma 
abordagem de eficiência empresarial na operação de suas respectivas 
realizações”.31 
Por ser considerada uma instituição financeira por equiparação32, 
essas sociedades são controladas e fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil, 
conforme dispõe o art. 92, I da Lei 5764/71. 
O Cooperativismo de crédito, se aplicado em escala nacional, como 
acontece em países como a Alemanha, Canadá, Holanda, França e Estados 
Unidos, por exemplo, traz consigo a possibilidade de maximizar um conjunto de 
fenômenos de natureza sócio-econômica úteis para o desenvolvimento 
sustentável de um país. 33 
O cooperativismo de crédito desempenha um importante papel que lhe 
caracteriza como propulsor do desenvolvimento econômico-social, pois: 
a) O cooperativismo de crédito, como os demais ramos do 
cooperativismo, proporciona ao associado vivenciar um processo 
democrático, onde boas decisões alavancam as finanças 
individuais e de toda comunidade envolvida. Por exemplo: A 
poupança de um determinado segmento da sociedade, que se 
organiza em torno de uma cooperativa de crédito, é revertida em 
forma de crédito para o desenvolvimento da própria comunidade, 
aspecto fundamental, principalmente no que se refere aos 
pequenos empreendimentos urbanos e rurais; 
b) As decisões sobre as operações de crédito a serem realizadas 
nessas entidades são tomadas por representantes da própria 
entidade local, uma vez que, as diretorias das cooperativas são 
formadas pelo seu quadro de associados; 
c) Outra característica importante, própria de cooperativas de crédito, 
é a humanização do crédito, decorrente do conhecimento pessoal 
existente entre o tomador e o doador do crédito. Soma-se a isso, o 
fato de que, inúmeras cooperativas prevêem no próprio estatuto 
social a responsabilidade destes associados no cumprimento da 
suas obrigações junto à cooperativa, fazendo com que os índices 
de inadimplência sejam bastante reduzidos; 
 
d) Um dos principais motivos observados na mobilização de pessoas 
em torno de uma cooperativa de crédito é a possibilidade de 
obtenção de linhas de crédito mais adaptadas às suas demandas, 
 
30
 PAGNUSSATT, Alcenor. Guia do cooperativismo de crédito. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 
2004. p. 13. 
31
 CROTEAU, John T. A economia das cooperativas de crédito. São Paulo: Atlas, 1968. 
32
 As cooperativas de crédito equiparam-se a instituições financeiras, conforme dispõe a Lei 
4595/64. 
33
 PINHO. Diva Benevides. O Cooperativismo de Crédito no Brasil. São Paulo. Confebrás, 
2004. p. 106 
 
 
13 
principalmente no que se refere às taxas de juros, tarifas, prazos e 
garantias; 
e) Por sua natureza, as cooperativas de crédito não visam lucro, no 
entanto têm a necessidade de gerar sobras como elemento de 
sustentabilidade econômica. Por ser uma organização de pessoas, 
e não de capital, as sobras são distribuídas com base na 
movimentação financeira dos associados e não no aporte de 
capital; 
f) Devido ao compromisso das cooperativas com seus associados, 
esforços sistemáticos são feitos no sentido de levar às 
comunidades desassistidas linhas de crédito governamentais, não 
repassadas em larga escala pela iniciativa bancária convencional, 
uma vez que esta alega baixa relação entre o custo e benefício na 
realização desses repasses, sobretudo os de pequeno valor. À 
medida que as cooperativas de crédito assumem esta atribuição, o 
poder público em suas três esferas, passa a contar com um novo 
canal de distribuição de crédito cujas características tendem a 
conferir alta eficiência às políticas públicas. 
g) Outra forma de dar retorno ao investimento feito pelos seus 
associados é através do Fundo de Assistência Técnica, 
Educacional e Social, que conforme previsto em Lei34, é destinado 
a prestação de assistência aos associados, seus familiares e, 
quando previstos nos estatutos, aos empregados da cooperativa, 
constituídos de 5% das sobras líquidas apuradas no exercício. 
Essas são algumas características das cooperativas de crédito, que já 
possibilitam analisar o importante papel que estas desempenham nas 
sociedades onde atuam. 
Além disso, o cooperativismo de crédito passou por diversos 
aperfeiçoamentos regulamentares que influenciaram no seu crescimento, 
conforme trataremos no próximo item. 
3.3. EVOLUÇÃO NORMATIVA 
 
Segundo Ênio Meinen et al.35. “A legislação deverá sempre buscar a 
satisfação da necessidade societária, nenhuma norma sobrevive sozinha, sua 
dinâmica evolução é condição máxima, para que não ocorra engessamento do 
instituto que regula”. 
Para entendermos melhor como ocorreu esse desenvolvimento no 
ramo das cooperativas de crédito no Brasil, vejamos de forma cronológica: 
1891– Decreto datado de 1891, segundo Carvalho de Mendonça36 foi 
o marco regulatório que permitiu a constituição das cooperativas de crédito. 
Esse decreto regulava as sociedades anônimas, o qual concedeu a autorização 
para ser organizada uma “Sociedade Cooperativa”, sob a forma anônima. 
1903 – O Decreto do Poder Legislativo n.° 979, de 06 de janeiro de 
1903, também norteou o cooperativismo de crédito. Facultou aos profissionais 
 
34
 Art. 28, II da Lei 5764/71. 
35
 MEINEN, Ênio et al . Aspectos jurídicos do cooperativismo. Porto Alegre: Sagra Luzatto, 
2002. p. 51. 
36
 MENDONÇA, Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro. Rio de Janeiro: Freitas 
Bastos, 1957, v. 7. p. 243. 
 
 
14 
da agricultura e industriais rurais a organizarem sindicatos para o estudo, 
custeio e defesa dos seus interesses. Baseado na organização livre, sem 
qualquer restrição ou ônus, teve seus atos constitutivos levados ao cartório de 
registros. 
1907 – A primeira norma que permitiu o funcionamento de sociedades 
cooperativas foi o Decreto do Poder Legislativo n.° 1637, de 05 de janeiro de 
1907, baseado na Lei Belga de 1873. Esse Decreto permitiu às cooperativas a 
organizarem-se sob a forma de sociedade anônima, sociedade em nome 
coletivo ou em comandita, sendo regidas pelas leis específicas. Permitia-se, 
ainda, às cooperativas, receberem dinheiro a juros não só dos associados, 
como de pessoas estranhas à sociedade37. 
1907 – O Decreto n.° 6532, de 20 de junho de 1907, deu ampla 
liberdade de funcionamento às cooperativas, bastando o depósito dos atos 
constitutivos na Junta Comercial, tendo como obrigação, a prestação semestral 
da lista de sócios e as alterações estatutárias promovidas. 
Segundo Waldírio Bulgarelli38, “a liberdade operacional de que 
gozavam as cooperativas que podiam entre outras, emprestar sob hipoteca de 
imóveis, penhor agrícola e “warrant” estabelecendo para este fim armazéns 
gerais na forma das leis em vigor. Podiam estabelecer em depósito dinheiro a 
juros, não só dos sócios como de pessoas estranhas à sociedade”. 
1925 – Nesse ano, foi publicada a Lei n.° 4984 que eliminou as 
cooperativas de crédito do tipo Raiffeisen e Luzzatti da exigência de expedição 
de carta patente e de pagamento de quotas de fiscalização, atribuindo ao 
Ministério da Agricultura a incumbência da fiscalização, ao contrário dos 
Bancos, que eram fiscalizados pelo Ministério da Fazenda.39 
Diante da fiscalização do Ministério da Agricultura, despreparado para 
inspecionar matéria do sistema financeiro, acabou por permitir a ocorrência de 
irregularidades na gestão das cooperativas de crédito. Por haver facilidade, 
abriam-se cooperativas para conseguir a carta bancária e, posteriormente 
montavam um banco mercantil ou vendiam a um banco já existente, pois para 
conseguir essa liberação como banco, havia mais controle, visto que as “cartas 
patentes” ou “cartas bancárias” eram concedidas pelo Ministério da Fazenda. 
Um fato como esse ocorreu, por exemplo, com a “Sociedade 
Cooperativa de Crédito de Responsabilidade Limitada – Banco Popular e 
Agrícola Norte do Paraná”, constituída em 17 de janeiro de 1929, no município 
de Tomazina, que posteriormente transformou-se em Banco Bamerindus, um 
dos bancos mercantis privados de bastante expressão no mercado financeiro 
brasileiro, que nos anos 90 foi vendido para o grupo multinacional The 
Hongkong and Shanghai Banking Corporations, mais conhecido como HSBC40. 
1926 – Diante desse processo distorcido, as cooperativas do tipo 
Luzzatti quase desapareceram. Então, em 02 de junho de 1926, o governo 
expediu o Decreto n.° 17.339, o qual determinou a obrigatoriedade de 
fiscalização por parte do Ministério da Agricultura nas Cooperativas de Crédito 
 
37
 PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo no Brasil: da vertente pioneira à vertente 
solidária. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 22 
38
 BULGARELLI, Waldírio. As sociedades cooperativas e a sua disciplina jurídica. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2000. p. 64. 
39
 PINHEIRO, Marcos Antônio Henrique. Cooperativas de crédito. Brasília: Banco Central do 
Brasil, 2006. p. 53. 
40
 PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo de crédito no Brasil. São Paulo: Editora 
Confebrás, 2004. p. 46. 
 
 
15 
do tipo Raiffeisen e Luzzatti. 41 Coube ao Serviço de Inspetoria e Fomento 
Agrícola a tarefa de fiscalizar as cooperativas de crédito, dando maior 
credibilidade às mesmas, pois estas deviam remeter à Diretoria da Inspetoria, 
diversos documentos, tais como o balanço anual, lista nominativa de sócios e 
cópia do estatuto. 
1932 – Dois anos após assumir o poder, o então presidente Getúlio 
Vargas baixou o Decreto n° 22.239, que estabeleceu o cooperativismo 
Rochdaleano no País, o que se deve ao fato do Presidente Getúlio ter sido 
governador do Rio Grande do Sul, Estado que apresentava um cooperativismo 
bem desenvolvido naquela época42. 
Segundo Fábio Luz Filho43, o Decreto n° 22.239, foi a terceira lei na 
América Latina a dar uma caracterização jurídico-doutrinária da sociedade 
cooperativa. 
O Decreto n° 22.239 reformou as disposições do Decreto 1637, na 
parte referente às sociedades cooperativas. 
Esta nova norma trouxe como referência o art. 30, onde as 
cooperativas de crédito foram definidas como aquelas que têm por objetivo 
principal proporcionar aos seus associados, crédito e moeda, por meio de 
mutualidade e da economia, mediante uma taxa módica de juros, auxiliando, de 
modo particular, o pequeno trabalho em qualquer ordem de atividade em que 
se manifeste, seja agrícola, comercial ou profissional e, acessoriamente, 
podendo fazer, com pessoas estranhas à sociedade, operações de crédito 
passivo e outros serviços conexos ou auxiliares ao crédito. 
1934 – Em 10 de julho de 1934, o Decreto 24.647 revoga o Decreto 
22.239, com isso todas as cooperativas de crédito passam a necessitar de 
autorização do governo para funcionar. O normativo ainda estabelece que as 
cooperativas devem ser formadas por pessoas de mesmo profissão ou de 
profissões afins, exceto nos casos de cooperativas de crédito formadas por 
industriais, comerciantes ou capitalistas que poderiam ser formadas por 
pessoas de profissões distintas.44 
1938 – Em regime de exceção, o governo promulgou o Decreto-Lei n.° 
581 que revoga o Decreto 24.647 e revigora o Decreto 22.239 de 1932. 
Finalmente a democracia cooperativista foi implantada, pela força da lei 
da espada, acabando com a idéia de transformação de cooperativas em 
sociedades anônimas45. 
Outra alteração relevante trazida por este Decreto foi a transferência da 
incumbência de fiscalização das cooperativas de crédito urbanas para o 
Ministério da Fazenda, mantendo as cooperativas rurais sob a fiscalização do 
Ministério da Agricultura. 
1941 - Nesta época as cooperativas de crédito passavam por um 
período conturbado, devido aos desvios de valores e também as atitudes 
viciadas dos dirigentes das cooperativas. Esta situação vinha ocorrendo há 
tempos, mas piorou no período dos anos 40 e 50. 
 
41
 PINHO, op. cit., p. 46. 
42
 PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo de crédito no Brasil. São Paulo: Editora 
Confebrás, 2004. p. 49. 
43
 LUZ FILHO, Fábio. O direito cooperativo. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1962. p. 46. 
44
 PINHEIRO, Marcos Antônio Henrique. Cooperativas de crédito. Brasília: Banco Central do 
Brasil, 2006. p. 54. 
45
 LUZ FILHO, Fábio. O direito cooperativo. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1962. p. 46. 
 
 
16 
Em resposta aos acontecimentos, o governou federal determinou, 
através do Decreto n.° 6980, de 19 de março de 1941, que o Ministério da 
Fazenda fiscalizasse as cooperativas de crédito46. 
1943 –Ao entrarmos nos anos 40 do século XX, notamos a presença 
do Estado Novo sobre o cooperativismo. Com essa influência houve a 
promulgação do Decreto-Lei n° 5893, de 10 de outubro de 1943, dispondo 
sobre a organização, funcionamento e fiscalização das cooperativas. Cria a 
Caixa de Crédito Cooperativo, destinada ao financiamento e fomento do 
cooperativismo. Este Decreto revogou novamente o Decreto 22.239, assim 
como o Decreto-Lei 581. 
1944 – O Decreto-lei de 14 de fevereiro de 1944, alterações 
disposições do Decreto-Lei 5893. 
1945 – Através do Decreto-Lei n° 7293, de 02 de fevereiro de 1945, 
criou-se a Superintendência da Moeda e do Crédito – SUMOC, como sendo 
órgão do Ministério da Fazenda, com a atribuição de fiscalizar bancos, casas 
bancárias, sociedades de crédito, financiamento e investimento e cooperativas 
de crédito, processando os pedidos de autorização de funcionamento, reforma 
de estatutos, aumento de capital, e abertura de agências, etc. Porém, as 
medidas legais não conseguiram estabelecer uma fiscalização efetiva e 
saneadora no seguimento de crédito47. 
1945 – Em 19 de dezembro de 1945, o Decreto-Lei 8401, revoga os 
Decretos-Leis 5893 e 6274, e revigora mais uma vez, o Decreto 22.239, 
juntamente com o Decreto-Lei 581, mantendo a fiscalização das cooperativas 
sob incumbência do Ministério da Agricultura. 
1951 – A Lei 1412, de 13 de agosto de 1954, transformou a Caixa de 
Crédito Cooperativo no Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC), com 
objetivo de assistência e amparo às cooperativas. 
1957 – O Decreto 41.872, de 16 de julho de 1957, esclarece que as 
cooperativas de crédito sujeitam-se à fiscalização da SUMOC, no que 
relacionar com as normas gerais reguladoras da moeda e do crédito, baixadas 
pelo governo48. 
1961 – A Portaria 1098 de 11 de dezembro de 1961, expedida pelo 
Ministério da Agricultura, reafirma que as cooperativas de crédito estavam 
sujeitas à prévia autorização do Governo para se constituírem, exceto as 
caixas rurais raiffeisen, as cooperativas de crédito agrícolas, as cooperativas 
mistas com seção de crédito agrícola, as centrais de crédito agrícola e as 
cooperativas de crédito mútuo. 
As cooperativas do tipo Luzzatti vinham passando por séria crise, 
devido aos indivíduos fraudulentos que fundavam cooperativas de crédito e 
fugiam com o dinheiro dos associados. Diante dessa triste realidade, o 
presidente João Goulart baixou normas que restringiam ainda mais a abertura 
de cooperativas de crédito, principalmente do tipo Luzzatti. Iniciou-se então um 
controle mais rígido por parte do governo49. 
 
46
 PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo no Brasil: da vertente pioneira à vertente 
solidária. São Paulo: Saraiva, 2004.p. 30. 
 
47
 PINHEIRO, Marcos Antônio Henrique. Cooperativas de crédito. Brasília: Banco Central do 
Brasil, 2006. p. 55. 
48
 PINHEIRO, op. cit., p. 56. 
49
 PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo de crédito no Brasil. São Paulo: Editora 
Confebrás, 2004. p. 53. 
 
 
17 
A situação ficou ainda pior com o golpe militar de março de 1964 e a 
grande pressão dos banqueiros sobre o novo regime autoritário, o governo 
começou a exterminar as cooperativas de crédito. 
 
Este foi o período de profunda crise para sistema cooperativo 
brasileiro50. Todas as cooperativas de crédito caíram em descrédito. 
1964 – As cooperativas já vinham sofrendo mudanças, mas a mais 
significativa foi com a Lei n° 4595 de 1964, mais conhecida como Lei da 
Reforma Bancária, que reformou o sistema bancário e estabeleceu normas da 
política financeira do Governo Federal, acabando quase totalmente com as 
cooperativas de crédito no país – raiffeiseanas, luzzattianas, de crédito urbano 
e rural51. Esta lei equiparou as cooperativas de crédito às demais instituições 
financeiras, passando a ser fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil – 
BACEN. 
O Banco Central do Brasil – BACEN, foi constituído em 1964 em 
substituição à Superintendência da Moeda e do Crédito – SUMOC. Passou a 
tratar as cooperativas de crédito como instituições financeiras, atendendo ao 
disposto na Lei 4595/6452. Assim, as cooperativas de crédito saíram 
definitivamente do controle do Ministério da Agricultura e passaram a ser 
controladas pelo Ministério da Fazenda. 
1965 – Sob a nova fiscalização, surgiram com a Resolução 11 do 
Conselho Monetário Nacional – CMN, de 20 de dezembro de 1965, as 
primeiras restrições às cooperativas de crédito, determinando a extinção das 
atividades creditícias exercidas por sucursais, agências, filiais, departamentos, 
escritórios ou qualquer outra espécie de dependência existente em 
cooperativas de crédito e cria diversas vedações, conforme apresentado a 
seguir: 
IV - É vedado às cooperativas de crédito: 
a) usar em sua denominação a palavra "Banco"; 
b) realizar operações de crédito com pessoas jurídicas (ressalvando-
se, em relação às cooperativas que efetuem operações de crédito 
agrícola, associados admitidos em conformidade com o § 2º do Art. 7º 
do Decreto nº 22.239: "pessoas jurídicas cuja existência tenha por 
fim a prática da agricultura ou da pecuária"); 
c) conceder empréstimos ou adiantamentos sem observância do 
prazo de carência de 90 dias de inscrição do associado; 
d) negociar, ou receber em garantia de empréstimos, títulos que não 
sejam emitidos diretamente a seu favor pelo associado, exceto 
conhecimentos de embarque, "warrants" e os respectivos 
conhecimentos de depósito, e promissórias rurais representativas do 
transporte, armazenamento ou venda de produção rural própria do 
cooperado; 
e) adquirir imóveis não destinados ao próprio uso, salvo os recebidos 
em liquidação de empréstimos de difícil ou duvidosa solução, caso 
em que deverão vendê-los dentro do prazo de um ano, a contar do 
recebimento; 
 
50
 BULGARELLI, Waldírio. Regime jurídico das sociedades cooperativas. Rio de Janeiro: 
Pioneira, 1965. p. 68. 
51
 PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo no Brasil: da vertente pioneira à vertente 
solidária. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 34. 
52
 BANCO CENTRAL DO BRASIL. História do Banco Central. Disponível em: 
<http://www.bcb.gov.br/?HISTORIABC>. Acesso em: 11 set. 2006. 
 
 
18 
f) manter aplicações em imóveis de uso próprio que, somadas ao seu 
ativo em instalações e móveis e utensílios, excedam o valor do capital 
realizado e reservas livres; 
g) outorgar aceites, avais, fianças ou outras garantias com a 
finalidade de facilitar o levantamento de empréstimos ou obtenção de 
recursos junto a terceiros, exceto em estabelecimentos oficiais de 
crédito; 
h) admitir saques a descoberto em contas de depósitos ou de 
empréstimos, e nestas, ainda, além do limite contratual; 
i) participar do capital de sociedades outras que não o do Banco 
Nacional de Crédito Cooperativo e o de cooperativas centrais 
V - As cooperativas de crédito não poderão concentrar em um só 
devedor mais de 5% do total dos empréstimos, nem importância 
superior a 20% do capital realizado da sociedade, norma que se 
aplica inclusive aos eventuais empréstimos a administradores, 
membros do Conselho Fiscal e seus parentes.53 
 
A Resolução torna a autorizar a constituição e funcionamento de 
cooperativas de crédito, sob as modalidades de cooperativas de crédito de 
produção rural com o objetivo de operar em crédito e cooperativas de crédito 
com o quadro social formado unicamente de empregados de determinada 
empresa ou entidade pública54. 
1966 – Após um mês da publicação da Resolução n° 11, o Conselho 
Monetário Nacional – CMN volta a restringir a atuação das cooperativas de 
crédito, através da Resolução n° 15, de 20 de janeiro de 1966, que estabelece 
que as cooperativas de crédito e as seções de crédito das cooperativas mistas 
devem receberdepósitos à vista exclusivamente de seus associados. 
Estabelece, ainda, a vedação de distribuição de eventuais sobras apuradas 
entre seus associados. 
Após 06 meses, a Resolução n° 27 do Conselho Monetário Nacional – 
CMN estabelece que as cooperativas de crédito e as seções de crédito das 
cooperativas mistas devam receber depósitos à vista exclusivamente dos seus 
associados pessoas físicas, funcionários da própria cooperativa e instituições 
de caridade, religiosas, científicas, educacionais e culturais, beneficentes ou 
recreativas. 
1966 – Em 21 de dezembro de 1966, com a edição do Decreto-Lei 59, 
determinou-se que as atividades creditórias das cooperativas somente 
pudessem ser exercidas em entidades constituídas exclusivamente com esta 
finalidade. Estabelece que as seções de crédito existentes podem passar a 
constituir cooperativas de crédito autônomas, cujo restrito estava assegurado, 
desde que cumpridas as exigências do Banco Central, ou limitar-se a fazer 
adiantamentos aos associados, através de títulos de crédito acompanhados de 
documentos que assegurasse a entrega da respectiva produção, vedando o 
recebimento de depósitos até mesmo de seus associados. 55 
 
53
 Lei 5764/71. Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das 
sociedades cooperativas, e dá outras providências. 
54
 PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo de crédito no Brasil. São Paulo: Editora 
Confebrás, 2004. p 34. 
55
 PINHEIRO, Marcos Antônio Henrique. Cooperativas de Crédito. Brasília: Banco Central do 
Brasil, 2006. p. 58. 
 
 
19 
Este Decreto-Lei criou o Conselho Nacional do Cooperativismo (CNC), 
criando um exagerado controle estatal56. 
O Decreto definia a política cooperativista entendendo-a como: 
[. . .] as atividades decorrentes de todas as iniciativas ligadas ao 
sistema cooperativo, sejam originárias do setor privado ou público, 
isoladas ou coordenadas entre si”, e incumbindo o Governo Federal 
de orientar esta política, “coordenando as iniciativas que se 
propusessem a dinamizá-la para adaptá-las às reais necessidades 
de economia nacional e seu processo de desenvolvimento.57 
O Decreto-Lei n° 59 sobreveio definindo a política nacional de 
cooperativismo e modificando a respectiva legislação. Os requisitos 
tipificadores da sociedade cooperativa foram mantidos nesse diploma, de 
conformidade com a ortodoxia doutrinária, mediante a consagração das regras 
de adesão voluntária, variabilidade do capital social, da inacessibilidade das 
quotas-partes, da singularidade do voto, do retorno das sobras líquidas na 
proporção das operações realizadas pelo sócio, da indivisibilidade dos fundos 
de reserva e da indiscriminação religiosa racial 58. 
1967 – Com a promulgação do Decreto n° 60.597, de 19 de abril de 
1967, que regulamentava o Decreto-Lei n° 59, o regime jurídico das 
cooperativas de crédito ficou completo. 
Segundo Bulgarelli59 
Talvez a única parte positiva do Decreto-lei 59 e seu regulamento 
residia no fato atentado pela primeira vez, para a parte operacional 
das cooperativas. Em conseqüência, vários foram os dispositivos que 
esclareceram as características operacionais das cooperativas, até 
então confundidas em grande parte com a atividade dos outros tipos 
de empresa não cooperativas. 
1971 – O presidente Emílio Garratazu Médice assinou a Lei n.° 5764. 
Esta lei, denominada a Lei Cooperativista, revogou o Decreto n.° 59, instituindo 
o regime jurídico vigente das sociedades. Definiu as cooperativas como 
sociedade de pessoas, de natureza civil, mantendo a fiscalização e o controle 
das cooperativas de crédito e das seções de crédito das agrícolas mistas com 
o Banco Central do Brasil. 60 
As mudanças econômicas da época eram vistas como “milagre 
econômico”61. 
O governo conseguia dinheiro fácil no exterior e endividava a Nação. 
Parte dos recursos financeiros subsidiava, inclusive, os agricultores. Dessa 
forma, o governo conseguiu desviar a atenção dos agricultores na fundação de 
cooperativas de crédito, o que levou ao esvaziamento do movimento. Ocorreu 
uma destruição maciça, tanto de cooperativas do tipo Raiffeisen, quanto às do 
tipo Luzzatti, sendo que, em relação à primeira, o esmagamento foi total com a 
retirada das seções de crédito nas cooperativas mistas. 
 
56
 PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo de crédito no Brasil: da vertente pioneira à 
vertente solidária. São Paulo: Saraiva , 2004. p.37. 
57
 BULGARELLI, Waldírio. As sociedades cooperativas e a sua disciplina jurídica. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2000. p. 69-70. 
58
 FRANKE, Walmor. Direito das sociedades cooperativas. São Paulo: Saraiva, 1973. p. 141. 
59
 BULGARELLI, Waldírio. Regime jurídico das sociedades cooperativas. Rio de Janeiro: 
Pioneira, 1965. p.70. 
60
 PINHEIRO, Marcos Antônio Henrique. Cooperativas de crédito. Brasília: Banco Central do 
Brasil, 2006. 
61
 PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo de crédito no Brasil. São Paulo: Editora 
Confebrás, 2004. p. 54. 
 
 
20 
Durante este período, o interesse do governo estava voltado para a 
exportação. Com isso, entravam dólares no país e injetavam dinheiro na área 
rural através dos bancos, esgotando ainda mais as cooperativas de crédito. 
Ao final dos anos 70, quando acabou o “milagre econômico”, as 
cooperativas de crédito da área rural estavam praticamente extintas e o setor 
agropecuário do país passou a sentir dificuldades em virtude da falta de 
financiamentos adequados ao desenvolvimento rural. 
1982 – Diante da caótica situação em que se encontravam as 
cooperativas de crédito pós-ditadura militar, um cooperativista brasileiro, 
chamado Mário Kruel Guimarães62 iniciou a reorganização do sistema 
cooperativo rural. 
Foram constituídas 13 cooperativas e a Cooperativa de Crédito do Rio 
Grande do Sul – COCECRER. O modelo institucional da COCECRER foi a 
base para implantação ou reestruturação das federações de crédito de outras 
regiões do país63. Ainda hoje está em funcionamento, sob a denominação 
Cooperativa Central de Crédito do Rio Grande do Sul – CENTRAL SICREDI 
RS. 
Esta Central começou a organizar-se e expandir, servindo de exemplo 
para que fossem organizadas centrais em outros Estados. Porém, somente em 
1984, esta Central obteve a autorização para funcionamento pelo BACEN. 
A evolução das cooperativas acompanhou o movimento político de 
cada época, sendo que a década de 80 foi a descompressão política do Brasil, 
havendo uma abertura política lenta e gradual. 
1988 – A matéria jurídica sobre as cooperativas surgiu com a Carta 
Magna de 1988, pois até então, nenhuma Constituição havia feito referência ao 
assunto. 
Os dispositivos que aludem o cooperativismo são abordados de forma 
a incentivar a atividade e estão expostas na seguinte ordem. 
Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no 
país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
[. . .] 
XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas 
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em 
seu funcionamento.64 
Ficou evidente o apoio à livre iniciativa, onde a sociedade poderia 
livremente organizar-se, sem intervenção do governo, podendo este, no 
máximo atuar como agente normativo e regulador da atividade econômica, 
conforme podemos ver a seguir: 
Art. 174 Como agente normativo e regulador da atividade econômica, 
o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, 
incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor 
público e indicativo para o setor privado. 
[. . .]62
 Mário Kruel Guimarães, como membro da Federação de Cooperativas Agrícolas do Rio 
Grande do Sul (FECOTRIGO), liderou o movimento de renascimento do Cooperativismo de 
Crédito Rural. Segundo 
 PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo de crédito no Brasil. São Paulo: Editora 
Confebrás, 2004. p. 67. 
63
 PINHO, op. cit., p. 68. 
64
 BRASIL. Constituição Federal. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 5. 
 
 
21 
§ 2° A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de 
associativismo; 
§ 3° O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em 
cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a 
promoção econômico-social dos garimpeiros; 
§ 4° As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão 
prioridade na autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos 
recursos e jazidas de minerais garimpais. 
[. . .] 
Art. 187. A política agrícola será planejada e executada, na forma da 
lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo 
produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de 
comercialização, de armazenamento e de transporte, levando em 
conta, especialmente: 
[. . .] 
VI – o cooperativismo. 
[. . .] 
“Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a 
promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir os 
interesses da coletividade, será regulado em lei complementar, que 
disporá, inclusive, sobre: 
[. . .] 
VIII – o funcionamento das cooperativas de crédito e os requisitos 
para que possam ter condições de operacionalidade e estruturação 
próprias das instituições financeiras. 65 
 
A Constituição Federal também manteve a tutela das cooperativas de 
crédito submetidas ao Banco Central do Brasil – BACEN, o qual juntamente 
com o Conselho Monetário nacional – CMN, mantém o controle sobre as 
cooperativas de crédito, autorizando sua abertura e funcionamento e fazendo 
intervenções e liquidações quando necessárias. 
Diante da evolução econômica e social, o Banco Central do Brasil edita 
resoluções que vão lentamente, dando maior abertura às cooperativas de 
crédito. 
Art. 146. Cabe à lei complementar: 
[. . .] 
III – estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, 
especialmente sobre: 
[. . .] 
c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas 
sociedades cooperativas. 66 
A promulgação da Constituição Federal de 1988 fortalece e incorpora 
valores aos dispositivos da Lei 5764/71, uma vez que, a Constituição Federal 
de 1969 não trazia qualquer referência a associação. 
Segundo Ênio Meinen67 
A República Federativa do Brasil, com a noção democrática, pluralista 
e solidária (arts 1º, 3º e 170, IV da Lei Suprema), baseia-se em 
fundamentos como cidadania, dignidade da pessoa humana, valor 
social do trabalho, livre iniciativa e pluralismo político, bem assim 
objetivos como liberdade, justiça social, solidariedade, 
desenvolvimento, redução de desigualdades, promoção do bem 
comum ou coletivo e não discriminação. Tais postulados compõe 
 
65
 BRASIL, op cit., p. 132-138. 
66BRASIL. Constituição Federal. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 111-112. 
67
 MEINEN, Ênio et al. O adequado tratamento tributário das sociedades cooperativas. 
Porto Alegre: Sagra Luzzato, 2003. p. 12. 
 
 
22 
exatamente o rol de valores e princípios do cooperativismo, assim 
secularmente consagrados. 
Entre os dispositivos, o constituinte ofertou tratamento diferenciado às 
cooperativas, impondo ao Estado a obrigatoriedade de privilegiar tal tipo 
associativo. 
Celso Bastos 68 comenta o § 2° do art. 174 da Constituição Federal de 
1988, dizendo:
 
O estímulo ao cooperativismo encontra inspiração muito visível nas 
Constituições portuguesa e espanhola. Tal como na nossa, o que ali 
se procura é fomentar essa modalidade associativa, que apresenta, 
sem dúvida nenhuma, um grande alcance social, quando levada a 
efeito, debaixo de um autêntico espírito cooperativo. 
No entanto, o Estado não pode impor essa modalidade de 
organização. 
1990 – em 21 de março de 1990 o Decreto 99.192 extingue o BNCC. 
1992 – Ainda neste lento caminhar, em 1992 o Conselho Monetário 
Nacional - CMN aprovou a Resolução n° 1914, que regulamentou a 
constituição e o funcionamento das cooperativas de crédito. Vedando a 
constituição de cooperativas de crédito do tipo “luzzatti” e estabelecendo como 
tipos básicos as cooperativas de economia e crédito mútuo e as cooperativas 
rurais. 
1995 – Diante das pressões das Centrais de cooperativas de crédito, o 
Banco Central do Brasil – BACEN editou a Resolução n° 2193 permitindo as 
cooperativas centrais constituírem bancos privados. Este fato se deu, em 
função da extinção do Banco Nacional do Cooperativismo de Crédito – BNCC e 
por determinação legal as cooperativas de crédito eram obrigadas a ser 
clientes exclusivas do Banco Central do Brasil, o que gerou uma relação 
cartorial pela obrigação de estarem submissas a um determinado banco. 
Neste vínculo de dependência, o Banco do Brasil cobrava muito caro 
pelos seus serviços, o que inviabilizava as cooperativas de crédito. As 
cooperativas se organizaram de modo a pressionar o governo e conseguiram 
que o então presidente Fernando Henrique Cardoso, em conjunto com então 
presidente do BACEN, expedissem a Resolução n° 2393, de 31 de agosto de 
1995, a qual permitiu que as centrais das cooperativas de crédito fundassem 
seus bancos cooperativos privados. 
A partir daí nasce o primeiro banco cooperativo, o Banco Cooperativo 
SICREDI S.A., em 16 de outubro de 1995, ligado às cooperativas filiadas ao 
Sistema de Crédito Cooperativo – SICREDI, com operação em seis estados 
brasileiros (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato 
Grosso do Sul e São Paulo). 
Segundo Schardong: 
[.. .] os bancos cooperativos eram peças indispensáveis às 
Cooperativas de Crédito para que estas pudessem acessar os 
mecanismos operacionais próprios dos bancos comerciais, sem 
perderem a condição societária particular de ser cooperativa.69” 
(Grifo nosso) 
Os bancos cooperativos oferecem às cooperativas de crédito, além da 
centralização financeira, diversas operações de crédito, por meio de 
 
68
 BASTOS, Celso. Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, 
v. 7. p. 101-103. 
69
 SCHARDONG, Ademar. Cooperativa de crédito: instrumento de organização econômica da 
sociedade. Porto Alegre: Rigel, 2002. 
 
 
23 
financiamentos, linhas de repasse, bem como transferência de recursos, 
cobrança, cartão de crédito e outros serviços. Oferecem, ainda, por intermédio, 
uma gama de produtos e serviços financeiros: conta corrente, cobrança, home-
banking, recebimento de contas, depósitos, investimentos (CDB e RDB) e 
linhas de crédito (cheque especial, empréstimos, desconto de duplicatas, 
capital de giro, crédito rural, repasse). 
Outras resoluções foram sendo baixadas em virtude do crescimento 
das cooperativas de crédito. Assim o BACEN e o CMN aumentam a 
fiscalização sobre as cooperativas. 
1998 – O BACEN baixou a Resolução n° 2554 tornando obrigatória a 
aplicação do Acordo da Basiléia 70 em cooperativas de crédito, tal como ocorre 
com os bancos. 
1999 – Foi emitida a Resolução 2608, que estabeleceu auditoria 
obrigatória nas cooperativas de crédito singulares, sendo aplicada pelas 
centrais. A referida Resolução estipulou um prazo de dois anos para que se 
extinguissem as poucas cooperativas Luzzatti que restavam no país. Esta 
determinação gerou um descontentamento geral representado pela 
Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito – CONFEBRÁS, primeira 
confederação das cooperativas de crédito, criada em 1986. 
2000 - No embate, o CMN e o BACEN recuaram, baixando no ano de 
2000 a Resoluçãon° 2771, em substituição a Resolução n° 2608/99. Com isso, 
permaneceram em funcionamento as cooperativas Luzzatti remanescentes, 
sendo vedada a abertura de novas cooperativas Luzzatti. 
2002 – Com as alterações trazidas pelo novo Código Civil, os artigos 
1093 a 1096 passaram a estabelecer sobre a sociedade cooperativa, 
remetendo a regulamentação do tipo jurídico das cooperativas à lei especifica 
(5764/71). 
2002 – Com a Resolução n° 3058 de dezembro de 2002, o BACEN 
possibilitou a formação de cooperativas de pequenos empresários, 
microempresários e microempreendedores, responsáveis por negócio de 
natureza industrial, comercial ou prestação de serviços, incluídas as atividades 
da área rural, cuja receita bruta anual, por ocasião da associação, seja igual ou 
inferior ao limite estabelecido na legislação vigente para pequenas e 
microempresas71. 
2003 – De grande importância para o fortalecimento e crescimento das 
cooperativas de crédito no país, foi editada a Resolução 3106, em 25 de junho 
de 2003. A resolução aprimora dispositivos regulamentares, aplicáveis às 
cooperativas de crédito, fortalece o papel das cooperativas de crédito centrais e 
permite a criação de cooperativas de livre admissão de associados. A medida 
foi precedida de ampla consulta ao setor cooperativo de crédito e representante 
de vários órgãos do Poder Executivo, reunidos em Grupos de trabalho 
coordenados pelo Ministério da Fazenda. 
 
70
 ACORDO DA BASILÉIA: Acordo firmado em 1988 no âmbito do BIS (Bank for International 
Settlements – Banco Internacional de Compensação ou Banco para Pagamentos 
Internacionais) que contém resoluções para o requerimento de capital próprio das instituições 
financeiras (associadas) em função do risco apresentado em suas operações financeiras. 
Disponível em: <http://www.ajudabancaria.com/termos_mercado_a.html>. Acesso em: 14 set. 
2006. 
71
 PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo de crédito no Brasil. São Paulo: Editora 
Confebrás, 2004. p. 60. 
 
 
24 
Segundo Ênio Meinen72, a edição da Resolução n° 3.106/03, não 
desmerecidos outros possíveis balizadores, assenta-se em quatro importantes 
pressupostos: o cumprimento do Art. 5o., XVII, c/c com Art. 174, § 2o., de nossa 
Constituição Federal (dispositivos que, sob o manto do incentivo ao 
cooperativismo, ordenam a livre admissão de associados); a efetividade do 
discurso do atual Governo, que evidencia apoio ao desenvolvimento das 
cooperativas de crédito; o atendimento de antigo (o mais importante) apelo do 
setor e, finalmente, o reconhecimento (pela autoridade controladora e 
reguladora) da maturidade das cooperativas de crédito, especialmente quando 
reunidas em sistemas integrados. 
2003 – A Resolução 3140 permite a constituição de cooperativas de 
crédito de empresários participantes de empresas vinculadas diretamente a um 
mesmo sindicato patronal. Permite que as cooperativas de livre admissão 
instalem postos sem necessidade de atendimento aos novos requisitos 
estabelecidos na Resolução 3106. 
2003 – Ainda, em 17 de dezembro do mesmo ano, a Resolução n° 
3156 autorizou as cooperativas a contratarem correspondentes no País, nas 
mesmas condições das demais instituições financeiras. 
2004 – Em 29 de março de 2004, a Resolução n° 3188, autorizou aos 
bancos cooperativos o recebimento de poupança rural, ficando a contratação 
de correspondente no país, para esse fim, limitadas às cooperativas de crédito 
rural e as de livre admissão de associados. 
2005 – A Resolução 3309 dispõe sobre a certificação de empregados 
das cooperativas de crédito, assim como autoriza as cooperativas de crédito a 
atuarem na distribuição de cotas de fundos de investimento abertos. 
 
2005 – Em 30 de setembro de 2005, a Resolução 3321, revogou a 
Resolução 3106 e a 3140, reproduzindo, em linhas gerais, as diretrizes dos 
normativos revogados. Possibilitou a constituição de cooperativas de livre 
admissão de associados em regiões com até 300 mil habitantes, permitiu 
novas possibilidades de constituição de cooperativas com quadro social 
segmentado, ampliou o limite de diversificação de risco, tanto para 
cooperativas singulares, quanto para centrais, possibilitou a instalação de 
postos de atendimento eletrônico, assim como revogou a proibição de 
instalação de postos de atendimento por parte de cooperativas luzzattis, além 
de outras alterações de menor impacto. 73 
A regulamentação das cooperativas de crédito deverá estar voltada 
para facilitar seu acesso na participação de organização populacional. 
Atualmente, as cooperativas de crédito já conseguem atuar dessa forma em 
localidades de difícil acesso a serviços financeiros, locais às vezes, distantes 
dos grandes centros. Isso ocorre através da mobilização de associados e a 
conseqüente aplicação de recursos na localidade, estimulando pequenos 
empreendimentos rurais e urbanos geradores de emprego e renda. 
 
72
 MEINEN, Ênio. A Resolução n° 3.106/03: razões e efeitos da livre admissão. Disponível em: 
<http://www.bcb.gov.br/pre/SeMicro2/Trabalhos/05_2T_Enio.doc>. Acesso em: 13 set. 2006. 
 
73
 PINHEIRO, Marcos Antônio Henrique. Cooperativas de Crédito. Brasília: Banco Central do 
Brasil, 2006. 
 
 
25 
Ao tratarmos da evolução normativa, verificamos o quanto essas 
instituição eram limitadas e suas operações restritas. Hoje, dentro das 
operações que estão autorizadas, as cooperativas de crédito podem74: 
Na ponta da captação: 
a) Captar depósitos, somente de associados, sem emissão de 
certificado; 
b) Obter empréstimo ou repasses de instituições financeiras nacionais 
ou estrangeiras; 
c) Receber recursos oriundos de fundos oficiais, e recursos, em 
caráter eventual, isentos de remuneração, ou a taxas favorecidas, 
de qualquer entidade na forma de doações, empréstimos ou 
repasses. 
Na ponta de empréstimos: 
a) Conceder créditos e prestar garantias, inclusive em operações 
realizadas ao amparo da regulamentação do crédito rural em favor 
de produtos rurais, somente a associados; 
b) Aplicar recursos no mercado financeiro, inclusive em depósitos a 
vista e a prazo com ou sem emissão de certificado, observadas 
eventuais restrições legais e regulamentares específicas de cada 
aplicação. 
Na ponte de serviços: 
a) Prestar serviços de cobrança, de custódia, de recebimentos e 
pagamentos por conta de terceiros sob convênio com instituições 
públicas e privadas, 
b) Prestar serviços de correspondente no País, nos termos da 
regulamentação em vigor. 
Conforme vimos, a partir de 2002, a quantidade de normativos de 
incentivo, fomento e apoio ao cooperativismo, aumentaram consideravelmente. 
Se compararmos o crescimento e a representatividade do cooperativismo de 
crédito no Brasil, conforme tabela abaixo, percebemos que, coincidentemente, 
o período de maior crescimento na participação de ativos ocorreu justamente a 
partir de 2002, o que evidencia a grande influência destes normativos no 
crescimento do cooperativismo que, apesar de ocupar ainda um pequeno 
espaço no Sistema Financeiro Nacional, vem apresentando um expressivo 
crescimento no percentual de participação destes ativos. 
Comparando essa participação com a Alemanha75, por exemplo, onde 
o cooperativismo de crédito representa cerca de 16% dos ativos daquele 
poderoso mercado financeiro, percebe-se que o cooperativismo de crédito no 
Brasil ainda tem um grande espaço e potencial para crescimento. 
 
74
 FORTUNA, Eduardo. Mercado financeiro. Rio de Janeiro: Ed. Qualitymark, 2005.p. 31 
 
75
 PAGNUSSAT. Alcenor. Guia do cooperativismo de crédito. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 
2004 p. 46. 
 
 
26 
Participação percentual das instituições do segmento bancário

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