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Aproximação da Fenomenologia na Psicoterapia

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Aula 09 (1) – 24/04 
CONTEXTO GERAL
Como aquela visão de mundo, visão de método dentro do pensamento filosófico poderia ser pensada no âmbito da nossa pratica, da psicoterapia.
Não é simples, pois quando partimos de uma abordagem que é originada no campo da filosofia, não se trata apenas de uma aplicação das ideias da filosofia para a psicologia – Não há uma passagem direta de um campo para o outro.
Tomar cuidado para não categorizar que todo mundo vive no impessoal – Heidegger não é para ser usado como uma teoria que vai explicar o que se passa com o outro.
Primeira tentativa de ser apropriar do pensamento fenomenológico e levar para a prática da psiquiatria inicialmente
Psiquiatra Suíço, Binswanger, pai da Daseinsanalyse – Não foi o primeiro a fazer aproximação com a fenomenologia, mas é o desenvolvedor da Daseinsanalyse – psiquiatria fundada nas ideias de Husserl e do Heidegger.
Contexto que Binswanger vivia: 
Por volta do séc XIX, havia uma influencia do pensamento cientifico no estudo do desenvolvimento das doenças mentais – percepção de que as doenças mentais podem ser tratadas como qualquer outra doença, há uma tentativa de descrever e categorizar para oferecer assim, um tratamento.
Doença mental cai para o campo da fisiologia/biologia – influencia do modelo médico
Por volta do séc. XX, a psicanalise começa a tomar um lugar importante – Quando Freud traz a ideia de desejo e INCS, traz tbm uma outra proposta, em que não basta apenas descrever sintoma, explicar ou classificar, mas entender a sua gênese, é preciso entender como essas doenças se constituem na historia de vida do individuo.
O Binswanger tinha que estar dentro de alguma dessas propostas – modelo médico ou da psicanalise. 
Freud não queria que a psicanalise se fundasse em especulações teóricas/filosóficas, mas se insira no ramo da ciência natural – E apesar de Binswanger ter tido uma formação uma densa em psicanalise em um primeiro momento, futuramente, tendo um contato maior com fenomenologia começa a questionar tal aspecto da proposta teórica da psicanalise.
Daseinsanalyse x Psicanalise – o principal ponto de divergência não é o método/ a técnica terapeuta, mas sim em relação à parte epistemológica – briga de campo teórico.
Maior ponto de divergência do Daseinsanalyse em relação a meta psicologia (aspectos teóricos e conceptuais da psicanalise) no cotidiano:
Ideia de inconsciente – Para Daseinsanalysta, INCS seria construto teórico, seria algo que não é evidente, obvio e que seria um recurso que Freud utilizou para explicar coisas que ele não dava conta de explicar.
Antes INCS era visto apenas como algo fora do funcionamento da CSC, então Freud dá um lugar para o INCS, passa a ser uma instancia, ele passa a conferir leis de funcionamento.
A explicação que Freud dá ao psiquismo é uma explicação muito presa ao âmbito das ciências naturais. 
Ex: Recalque – lei da física acredita que uma força não pode simplesmente se dissipar ou se perder, então se há uma força “X” ela não se dissipa no ar, ela vira algo (sintoma).
Critica se esse modelo é compatível com a essência humana, se da conta de falar sobre a totalidade do homem, ou é apenas um modelo explicativo que tenta se inserir no campo das ciências. 
LUDWING BINSWANGER (1881-1996): vida e obra
Binswanger tem uma influencia de uma família inteira trabalhando na psiquiatria, porém, ele tinha muito conhecimento da literatura, filosofia, artes, o que influenciou muito para uma nova proposta (Daseinsanalyse).
Amigo próximo de Jung, que o apresentou para Freud, tornando-se amigo e seguidor do mesmo, porém, passou a questionar a psicanalise.
Critica a psicanalise: Binswanger fala que a psicanalise vê o homem como homo natura – homem da natura – e consequentemente, acaba reduzindo o homem a natureza, sem abarcar a totalidade da experiência humana e sua historicidade.
Quando Daseinsanalyse diz que a psicanalise reduz o homem a ciência, não se trata de tentar enquadrar o homem na teoria como antecedente, mas tentar explicar o que se passa com o outro a partir da teoria.
Quando Freud atendia não existia a “psicanalise”, isso veio depois, ele se colocava em posição de escuta e observador e deixava os fenômenos aparecer.
O impacto de Ser e Tempo sobre Binswanger
Binswanger ao ter contato com a ideia de Dasein começa a ver um novo campo de estudo para refundar às bases da psiquiatria, isto é, uma nova concepção de homem com a qual trabalhar. – A proposta inicial era teórica, reescrever a psiquiatria e a psicopatologia em outras bases, que não estivessem dentro do campo das ciências naturais, mas em algo existencial/ fenomenológico.
Começa-se então, a repensar o modo como via o sofrimento.
Binswanger começa a tentar descrever e fundamentar as vivencias do mundo dos doentes – Pensa no homem sem o separar do seu mundo e tenta descrever as psicopatologia, não só em termos de sintomas, mas de vivencias.
Todos nos temos a mesma estrutura existencial, somos todos ser no mundo/projeto, mas essa estrutura sofre variações no modo como a pessoa lida com o próprio sofrimento.
Patologia seria uma espécie de variação, dessas diferentes coordenadas existenciais (estruturas), mas que diz respeito a qualquer ser humano.
Apesar de fundamentar sua compreensão sobre a psicopatologia em Heidegger, Binswanger realiza mudanças significativas das ideias heideggerianas.
Principais ideias de Binswanger e as controvérsias com Heidegger 
A compreensão da existência humana a partir da estrutura de ascensão e queda.
O primeiro texto que Binswanger escreve que “inaugura” Daseinsanalyse psiquiatra é o “sonho e existência”
Nessa obra diz que sonhos ajudam a compreender estruturas da existência humana. 
Binswanger não diferencia conteúdo latente e manifesto.
Para Binswanger não é necessário fazer tal diferenciação, pois ele acreditar que o conteúdo manifesto revelam estruturas básicas da existência.
As imagens dos sonhos não simbolizam outras coisas (por isso não é necessário a diferenciação), as imagens dos sonhos objetificam certos afetos, modos de estar experienciando afetivamente nosso espaço, isto é, imagens do sonho diz respeito a uma experiência.
Nós somos um corpo no espaço – não há uma distinção de corpo separado de mundo – “sou um corpo no mundo que tenho uma experiência no espaço que não é nunca desarticulada de afetos”.
O que o paciente traz do sonho, já está falando o modo como ele se percebe no mundo.
Pela experiência do sonho, a gente observa que a existência humana oscila entre duas direções:
Estrutura de ascensão: Dimensão da busca humana pela autorrealização, desejos, planos (sentimento de elevação) – “saltamos de alegria” “humor elevado” “elevação espiritual” “estou nas nuvens” 
Não é algo apenas metafórico, são expressões que usamos para expressar como nos sentimentos diante de tais fenômenos, ou seja, estamos falando das nossas experiências/vivencias.
Uma pessoa em estado maníaco só existe praticamente a ascensão, sempre está em estado de euforia, de excessos. 
Estrutura de queda: Ruptura com a familiaridade – Experiências de queda “caiu do céu” “caiu do cavalo” “caiu em descaso” “caiu morto” “fiquei sem chão”
Ate encontrarmos novamente um ponto de apoio firme no mundo, toda nossa existência irá se situar na direção de sentido que é a do tropeço, do afundamento, da queda.
Por um lado, é importante que o individuo passe por esse processo, mas para sobreviver é necessário um ponto de apoio, e que perder o chão/apoio subitamente traz essa experiência abrupta de queda (o que pode ser aterrorizante) – O psiquiatra ajuda a resgatar esse contato.
Binswanger com sua experiência em casos mais severos vai contra a ideia de Heidegger.
Heidegger diz que a experiência da angustia é importante para quem está no impessoal, para um processo de singularização. Já o Binswanger, trabalhando com casos mais graves, com pessoas que estão privadas de compartilhar existência com o outro, acredita então que é necessário fazer um movimentoinverso para ajuda-los a resgatar o estar com o outro. – Ex: esquizofrênico. 
Ajuda então o paciente a fazer essa passagem do isolamento no mundo privado para o partilhar do mundo comum
O desafio é encontrar uma proporção equilibrada para as duas.
A nostridade: amor e infinitude.
Houve-se uma critica severa de Heidegger ao ler Binswanger, pois, disse que o mesmo não entendeu nada de Ser e Tempo.
Principal ponto de divergência de Binswanger e Heidegger: Acrescentar a noção de amor à noção de cuidado e dar primazia ao tempo infinito ao invés do finito-para-a-morte.
Em um primeiro momento, Binswanger diz que quando Heidegger desenvolve a analítica existencial, ele deixa algo muito importante de fora quando fala da estrutura da preocupação (ser do dasein), esquece que o mais fundamental na existência humana é a dimensão do amor.
Heidegger ficou muito preso em “se apropriar da existência”, e para Binswanger isso soa como um esquecimento de que o que nos funda originariamente seria a dimensão da nostridade (amor).
Isto é, Binswanger fala que Heidegger esquece que antes do “meu” ou do “teu”, nós somos um “nós” – e ela quem possibilita que o homem pode ir além de si mesmo.
Heidegger fala que o cuidado funda o amor – Binswanger depois concorda com ele, mas compreende que o mesmo está inserido no campo da ontologia fundamental, e Binswanger desenvolve uma antropologia.
Estrutura que temos mais fundamental – anterior até mesmo ao cuidado – que possibilita nossa abertura ao ser e aos outros é o amor. (Nostridade)
Nostridade – Nós seres humanos podemos encontrar um encontro profundamente genuíno (de estar junto com o outro) e autentico que é fundamental para que a gente possa se abrir para a existência.
Então, para Binswanger, se apropriar da existência só é possível se eu estiver em uma relação de encontro genuíno e aberto com outras pessoas, pois assim se conquista a confiança para poder se abrir.
Heidegger fala apenas da temporalidade finita, mas quando Binswanger traz ideia de amor, traz consigo além da finitude heideggeriana, mas ele fala da dimensão de infinitude, pois o homem não se caracteriza só pelo tempo, mas sim também pela experiência da infinitude.
O amor não e uma experiência que se temporaliza.
Quando ele fala “amor” não é de forma romantizada, mas um estado de abertura, estar disponível enquanto humanos, porque sem essa disponibilidade está privado de uma dimensão muito essencial.
Repercussões na atuação clinica
Binswanger diz ainda que mais importante que escutar, é o poder estar em uma relação genuína e autentica de pessoa para pessoa, experiência do partilhar, estabelecendo relação de confiança.
Terapeuta não está em uma posição superior ao seu paciente, ele é um Dasein, passível de sofrer as mesmas angustia que seu paciente sofre.
Terapeuta tem que se colocar em uma posição de parceria, isto é, se disponibilizar para que juntos construa uma relação de confiança, possibilitando a atrevessia do sofrimento – Terapeuta é guia de montanha.
Não se trata de tirar a responsabilidade do outro, apenas devolve ao paciente o cuidado da sua própria existência.
Uma coisa é lembrar-se dos próprios medos sozinho, o que pode ser muito assustador. É diferente de descobrir sobre suas coisas e se deparar com o sentimento de angustia confiando no outro.
FENOMENO AULA 10 (2): A DASEINSANÁLISE DE MEDARD BOSS
MEDARD BOSS, outro percursor importante para a Daseinsanálise
Influenciado diretamente pelo trabalho do Binswanger, são contemporâneos, pensam muito parecidos, porém, diferente do Binswanger, Boss não quis modificar nenhum pensamento de Heidegger. 
Formou-se em Medicina (Psiquiatra) e foi trabalhar no mesmo hospital que o Binswanger estava sendo acompanhado de perto pelo Jung. Nesse local, acabou se deparando com o trabalho do Binswanger, interessou-se por seu trabalho e também começou a frequentar grupos de estudo com o Jung (que também estava orientando Binswanger). Formou-se também em Psicanálise. Fez análise com Freud. Pensou em reformular a metapsicologia, a teoria freudiana.
Durante a 2ªGM, foi convocado a servir como médico no exército suíço, e leva no bolso o livro “Ser e Tempo”, obra do Heidegger. Viu muito sentido nas ideias ali contidas, porém não entendia muito bem. Para se aprofundar, escreve uma carta para o Heidegger, pedindo por esse auxilio. Heidegger responde e se dispõe para conversarem sobre sua teoria e suas ideias. (Parecido com o percurso de Binswanger com o Freud)
Boss convida Heidegger para participar, coordenar e apresentar seminários para Médicos Psiquiatras e profissionais da área da saúde que se despertaram para este interesse do campo filosófico do Heidegger. Esses encontros ficaram conhecidos como “Seminários de Zollikon”. Acabou até virando um livro, pois eram registradas essas aulas, durante os 10 anos que aconteceram. 
Heidegger, neste livro, faz críticas à teoria Psicanalítica; se debruça mais na noção de corpo; fala da Daseinsanálise Psiquiátrica. 
Fundações de Associações e Sociedades de Daseinsanalyses. 
Principais contribuições do Boss: 
Noção de saúde e doença
Relação terapeuta-cliente
Corporeidade
Noção de Saúde e Doença
Boss, formado em Medicina, passou a criticar o modo como a Medicina entendia as doenças. Sempre foi pensado a doença a partir de qual a causa, qual a etiologia, de onde ela se origina. Isso traz impasses, ele não nega a importância da biologia/medicina, mas critica o que elas desconsideram. Precisamos ir além: qual o SENTIDO dela? Não basta saber os sintomas. Devemos saber qual a experiência daquele adoecer. 
Doença implica em privação. Privação de poder dispor livremente da minha vida, da minha existência, das minhas possibilidades. Uma pessoa saudável é aquela que pode dispor livremente das suas possibilidades existenciais. Portanto, uma pessoa doente está impossibilitada da liberdade, está aprisionada.
 Isso implica em vários graus de perda de liberdade, paralisa a vida, restringe a vida. Quanto maior a perda de liberdade, quanto maior o aprisionamento, maior será o sofrimento e maior será o adoecimento, mais intenso. Lembrando que cada pessoa é a sua própria medida, uma situação pode causar sofrimento intenso para uma pessoa, enquanto para outra pode ser uma situação mais tranquila. O parâmetro é a própria experiência, que é singular. 
Psiquiatria e a Psicanálise buscam a causa da doença, o explicar do porque alguém se comporta assim. Já a Daseinsanálise vai se orientar mais pelo “para que” a pessoa age desse jeito, buscando o sentido daquela experiência para o paciente. Para que a pessoa age desse jeito, para quem? O que sustenta a restrição. 
Relação terapeuta-cliente
Refundar a Psicanálise em outras bases, refundar a metapsicologia freudiana. Vai se utilizar dos métodos clínicos de Freud mas existem divergências entre eles para se compreender os fenômenos psicopatológicos. 
Encontro terapêutico para o paciente restituir o cuidado de si mesmo, restituir sua liberdade que foi privada pelo adoecimento. 
O que aproveita/mantém da Psicanálise: a) Uso do divã
 b) Associação livre
Deitados no divã, estamos numa postura mais relaxada, o que facilita que as tensões possam ser reduzidas. Também há a questão do olhar, ficar de costa para o terapeuta, não enxergando seus olhos e reações, o que poderia ser algo que inibisse o paciente. Importante lembrar que a terapia se faz com base numa relação de confiança, no divã o terapeuta não fica visível, portanto preciso confiar que ele está ali, me ouvindo e que estou sendo importante para ele. Portanto, usar o divã também seria uma conquista e estabelecimento de uma confiança do paciente com o terapeuta. Não vejo o que ele está fazendo, mas me entrego e confio que ele está ali. Estabelecimento de uma confiança, de um vínculo. 
Relação NÃO será vista como transferencial (Psicanálise). Mas sim relação mediada pela coexistência, de analista e analisando (Daseinsanálise).A transferência, seria reeditar com o terapêuticas as experiências vividas e resignificá-las. Mas pra que entender o terapeuta como uma tela de projeção? Porque dizer que o que o paciente vive com o analista é apenas uma reedição de uma outra experiência? Porque eu não posso dizer que esse nosso encontro é verdadeiro/genuíno/autêntico? O que ele vive com o analista não é reedição de experiências com os outros, mas sim com o analista. Quando o cliente se comporta de um modo com o analista, é o único modo que ele tem para lidar atualmente. Não é revivido, é atual, que se expressa com o terapeuta. Nesse momento, é o único recurso que o paciente tem e sabe para lidar com a situação. Se comporta assim não só com o terapeuta, mas também com seus familiares, seus amigos, no trabalho, etc. 
Heidegger: “com as coisas a gente se ocupa, com os outros a gente se preocupa”. Duas formas de preocupação: Solicitude Liberadora e a Solicitude Substitutiva. Solicitude Substitutiva, é uma preocupação que me leva a passar por cima da necessidade do outro, faço as coisas por ele, retiro a possibilidade dele assumir a sua existência enquanto cuidado, que tem que ser dele, não meu. Naturalmente, uma mãe nos primeiros meses de vida do bebe tem a preocupação Substitutiva, que tem que fazer tudo por ele. Porém, no cotidiano, uma preocupação Substitutiva pode ser muito perigosa, uma pessoa que quer fazer tudo pelo outro, tira a chance dele se apropriar de sua vida, se responsabilizar por sua vida. E o quanto eu, ocupando minha vida cuidando do outro, eu fujo de mim mesmo, dou sentido pra minha vida cuidando do outro. Esse cuidado Substitutivo também é perigoso pois cuido do outro a partir do que eu acho que é importante pro outro, a partir das minhas necessidades, fazendo com que eu não enxergue o outro, tratando-o como uma extensão de mim mesmo. Essa relação substitutiva não pode ocorrer especialmente na terapia, pois eu enquanto terapeuta não posso partir do princípio que eu sei o que é melhor pro outro, ou o que ele deveria fazer. Isso não liberta, isso aprisiona, aprisiona a pessoa à mim, ao que eu acho que ela deve ser. Terapeuta deve adotar a Solicitude Liberadora, que não é tão fácil, primeiro devo achar em minha experiência o que é meu e o que é do paciente, cuidando da minha própria vida. Terapeuta não pode dizer ao cliente “melhor fazer tal coisa”, o terapeuta deve reconhecer “o que o paciente precisa de mim?”, cada pessoa vai nos requisitar de uma maneira diferente, “que modo eu posso estar com aquela pessoa para ajudá-la a se libertar?”
Corporeidade e espacialidade 
Medicina e Psicologia surgem de uma cisão, um dualismo. “Médicos cuidam do corpo, biológico, fisiológico, anatômico. E Psicologia surge pra cuidar dos psiquismos.” Como se isso fosse óbvio. Corpo e mente separados, e uma ciência para cuidar de cada um. 
Quando surge uma ciência “Psicossomática”: pessoas com sintomas físicos porém o corpo não havia uma origem biológica para aquilo ocorrer. Há uma relação/comunicação entre o psiquismo e o corpo. Porém, a Psicossomática mesmo relacionando essas duas dimensões, parte do princípio que são separadas. Algo mal resolvido psiquicamente, desemboca no corpo. 
Daseinsanálise não fala de corpo E mente, bio E psicológico. Não existo desvinculado do meu corpo. Experiencio tudo com meu corpo. Meu corpo está em tudo o que eu faço. Estou no mundo corporalmente! Corpo existencial. Não é INTEGRAÇÃO mente e corpo. Porque não há mente E corpo. Há corporeidade! Meu estar no mundo é corpóreo! Impossível separar. Quando falo do meu corpo, falo de mim mesmo. Eu sou meu corpo. 
Aula 11 (09/05)
Terapia funciona?
A terapia trata-se de uma relação, dependente desde que o psicólogo tenha embasamento e comprometimento teórico e que o paciente esteja aberto á mudanças, É um processo de reciprocidade. Exige dedicação e disponibilidade do paciente para comparecer ás sessões, e considerando esse investimento o paciente quer garantias do “produto” que ele está comprando, e quer a solução, o resultado, quer se livrar de seu sofrimento, e isso, o mais rápido possível. Muitas pessoas não enxergam que o horizonte em que elas estão olhando sobre a terapia não é o mesmo horizonte que aborda o processo terapêutico, utilizam-se do princípio de produção, em que algo só é bom e funciona se for eficiente no menor período de tempo. Existem propostas de terapias breves, que, não se tratam de serem melhores ou piores, mas sim, diferentes da proposta da Daseinanalyse. Na Daseinanalyse é pensado que não devemos lutar contra o tempo, mas sim, tomar o tempo a nosso favor, sabermos caminhar junto ao tempo para trazermos mudanças.
De acordo com Heideger (1954), o horizonte da terapia no contexto atual, seria o horizonte histórico que chamamos de era da técnica, em seu texto ele não olha somente para o Dasein e como ele poderia se apropriar de si, ele fala que a essência da técnica moderna é o nosso horizonte histórico, onde acredita-se que tudo pode ser produzido de modo melhor, mais rápido, tudo pode ser substituído e aprimorado, uma época em que a ciência pode descobrir tudo e transformar aquilo em algo mais claro. De acordo com ele, se ainda não sabemos ou não descobrimos algo não é por falta de recurso, é uma questão de tempo. É como se a descoberta de tudo, o desenvolvimento de tudo fosse mais importante que o próprio homem, é como se a lógica tivesse uma vida própria e estivéssemos no mundo apenas para corresponder a essa lógica que já estaria aqui. O homem acaba perdendo sua humanidade, a técnica se autonomiza e anula o homem. Segundo Bauman, no mundo contemporâneo o homem é um turista que não firma raízes em lugar nenhum, está sempre de passagem.
A produção de tecnologias e ciência produz conhecimento apenas por conhecimento, isto é, desenvolvem novas formas de “inteligências artificiais” e produtos cada vez mais evoluídos, mas até que ponto isso traz benefícios para a vida do homem? O quanto esse tipo de raciocínio está sendo levado adiante pensando no nosso bem-estar? É um fazer por fazer, é um melhorar por melhorar, produzir por produzir, pensando apenas na lógica econômica. Pensando assim, onde ficam os limites do homem perante o tempo com essas tecnologias cada vez mais rápidas? É uma ideia de que o homem pode tudo e isto é perigoso perante as repercussões na nossa vida. Segundo Heideger, projetamos nossas vidas através dos sentidos que damos as coisas, e é através desse horizonte hermenêutico que eu interpreto a mim mesmo, Isso interfere nas nossas frustrações pois com essa ideia de que o “homem pode tudo” acabamos não sabendo lidar com os fracassos, torna-se desestruturador, esquecemos dos nossos limites e isso tudo gera sofrimento.

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