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Apostila Relações Étnicos Raciais EAD Uniabeu

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Relações Étnico-Raciais
e Direitos Humanos
UniabeuRJ
uniabeuvideos
UniabeuRJCEAD www.uniabeu.edu.br
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
02
CEAD
Relações Étnico-Raciais e 
Direitos Humanos
1ª Edição
Márcia Cristina Roma de Vasconcellos
 Vinícius Miranda Gentil
BELFORD ROXO
UNIABEU
2017
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
CEAD
03
CATALOGAÇÃO NA FONTE/BIBLIOTECA - UNIABEU
U58r Uniabeu Centro Universitário. Pró Reitoria de Graduação, Pesquisa e Extensão
 Relações étnico raciais e direitos humanos [livro eletrônico] / Márcia Cristina 
 Roma de Vasconcellos, Vinícius Miranda Gentil.-- Belford Roxo: Uniabeu, 2017.
 139 p. 
 
 Modo de acesso: World Wide Web
 <HTTP://www.uniabeu.edu.br/index.php?p=ebooks>
 ISBN: 978-85-98716-23-7
 1.Direitos humanos. 2.Etnias. I. Roma, Márcia Cristina Roma de Vasconcellos
 II. Gentil, Vinícius Miranda. III. Título.
 CDD 341.481
SUMÁRIO
Unidade 01
As Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos: Um Assunto Atual...................................................................05
Unidade 02
Da Compreensão dos Problemas Indígenas à Luz da História da Colonização...................................................15
Unidade 03
As políticas indigenistas no Brasil.......................................................................................................................23
Unidade 04
Movimento Indígena: As Arenas de Luta..............................................................................................................30
Unidade 05
A(s) África(s) e sua Historicidade..........................................................................................................................39
Unidade 06
Trezentos e Cinquenta Anos de Escravidão Africana no Brasil............................................................................45
Unidade 07
Movimento Negro no Brasil..................................................................................................................................53
Unidade 08
O processo histórico dos fundamentos dos Direitos Humanos...........................................................................58
Unidade 09
A Violação diária dos Direitos Humanos no Brasil: as minorias e a luta por direitos.........................................68
Unidade 10
Movimentos Sociais Contemporâneos: MST, MTST – A luta pela direito a moradia no campo e na cidade......79
Unidade 11
O Estado como instrumento de ruptura dos Direitos Humanos..........................................................................91
Unidade 12
O problema dos Refugiados no Mundo Contemporâneo...................................................................................100
Unidade 13
Uma discussão sobre os direitos da posse de terra no Brasil: as demarcações indígenas...............................108
Unidade 14
Em luta: Políticas Afirmativas.............................................................................................................................115
Referências Bibliográficas..................................................................................................................................121
Gabarito..............................................................................................................................................................125
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
CEAD
05
As Relações Étnico-Raciais e
Direitos Humanos: Um Assunto Atual
Unidade 01
Objetivos
• Reconhecer a existência de racismo na sociedade brasileira;
• Entender os conceitos de raça e de etnia;
• Compreender a definição de Direitos Humanos.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
06
CEAD
INTRODUÇÃO
Desde o Império (1822-1889) houve a necessidade de forjar uma nação. Tal projeto foi 
perpetuado pela República (1889), preocupada com a construção da identidade nacional. No século 
XIX muitos intelectuais exaltavam as ações dos portugueses e idealizavam uma sociedade branca, 
ideias defendidas na centúria seguinte. Outros, entretanto, passaram a considerar a miscigenação 
uma marca de brasilidade. Como exemplo do segundo grupo citamos Gilberto Freyre, sociólogo e 
antropólogo que nos anos de 1930 publicou o livro Casa Grande e Senzala (1992). Na obra, traduzida 
para diversos idiomas, o autor conta a trajetória das relações estabelecidas, no Nordeste açucareiro 
colonial, entre a casa grande, espaço dos senhores de escravos, e a senzala, local ocupado por africanos 
e descendentes. Segundo ele, ao lado da violência intrínseca à sociedade escravista, estabeleceram-
se relações de complementariedade entre os dois espaços, resultando daí a cultura brasileira, repleta 
de traços provenientes dos continentes africano, europeu e americano. Do contato entre brancos, 
ameríndios (índios) e negros resultou uma sociedade miscigenada, original, capaz de adaptar-se às 
diferentes circunstâncias. Também é do autor a ideia de uma democracia racial, exatamente, por 
sermos miscigenados. Sem tirar a originalidade e os méritos de Casa Grande e Senzala, surgem 
as questões: será que não há racismo entre nós? Será que brancos, nativos e negros têm iguais 
oportunidades? Para refletirmos sobre as perguntas acima, vejamos, em primeiro lugar, as visões 
correntes acerca dos indígenas e, posteriormente, sobre os afrodescendentes.
Ocupantes das terras que vieram a se chamar Brasil, os indígenas pouco aparecem hoje na mídia 
e são lembrados apenas no dia 19 de abril. Nos livros didáticos de História são descritos quando 
da chegada dos portugueses e tendem a desaparecer após 1530, quando é iniciada a ocupação 
do território. Na maioria das vezes são considerados como povos que desapareceram ou estão em 
processo de desaparecimento¹. Há quem acredite que eles vivem no meio da floresta e que aqueles 
que se inseriram na “sociedade brasileira”, ou seja, usam calça jeans e têm acesso às tecnologias 
disponíveis não são mais índios “legítimos”. Também aparecem associados à preguiça, vadiagem 
e alcoolismo. Mas será que tais ideias são confirmadas quando analisamos a trajetória dos povos 
ameríndios? A fim de entender tais visões, precisamos retornar no tempo e analisar como se deu o 
contato entre nativos e europeus e o papel que coube aos primeiros durante a colonização. Tais temas 
serão tratados nas Unidades seguintes, assim como estudaremos a emergência de um movimento 
indígena, nos anos de 1970, mas que tem sua origem no século XVI.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
CEAD
07
Quanto aos afrodescendentes, vejamos a história de Alexandre Matheus, do Alma Preta², 
“jovem, negro, universitário, de baixa renda, e porque não dizer, gay?!” Comigo o 
caso é diferente, e de certa forma muito semelhante à realidade da maioria da 
população negra. Nasci em uma família tipicamente brasileira: vários matizes 
de cores, mistura de várias regiões do Brasil, e o mais importante, admiradores 
do ideal branco; do lado paterno todos negros, com quem tive, porém, pouco 
contato na minha infância, a não ser por uma tia e um primo. O convívio na 
família materna me marcou muito pelas manifestações jocosas nos encontros 
familiares. “Ixi, ficou tudo escuro” ainda é o cumprimento tradicional quando 
eu e minha irmã chegamos às visitas. (...) Se em casa não foi moleza, a escola 
veio com o selo oficial de que ser negro não é uma coisa legal. Quando eu não 
era hostilizado por não seguir a performance heteronormativa que se espera 
de um menino em uma sociedade machista e homofóbica, a “zueira” rolava 
solta em cima da pelepreta. Não, esta não dá para disfarçar! Está na cara, no 
cabelo, nos braços, nas pernas… Infelizmente esse espaço só me levou em 
consideração nas três páginas sobre escravidão no livro de história, que por 
sinal eram os piores dias para ir à escola. Não posso negar que este foi o 
período que mais desejei ser branco, ter cabelo liso, e talvez com isso ter mais 
amigos, me sentir bonito e admirado. 
A experiência de Alexandre Matheus é, como ele mesmo diz, mais comum do que poderíamos 
imaginar. Nela observamos o preconceito de cor não apenas entre estranhos, mas no seio da família. 
Imagine ser hostilizado entre familiares desde pequeno? Imagine ser hostilizado na escola? Imagine 
ver seus antepassados sendo narrados, nas Unidades de História, como escravos que só apanhavam 
e eram incapazes de serem sujeitos de sua própria história? Imagine ser bombardeado pela indústria 
de beleza e pela mídia que deixam explícito que beleza é sinônimo de branco e de cabelo liso?
Sem dúvida, a autoestima vai para o “espaço”. Podemos observar isso entre meninas negras bem 
pequenas que dizem que são feias e seus cabelos “ruins”, ao contrário de bonecas, como a Barbie, 
que é magra, loira, branca... Também já ouvimos alunos narrar que seus pais não aprovaram suas 
uniões com pessoas de pele preta, pois estariam retardando um projeto familiar de branqueamento. 
Existem casos de mulheres que casaram com homens brancos de olhos azuis visando “limpar a 
barriga” (FANON, 2008). Outra situação frequente foi narrada por Alain Pascal Kaly, em estudo sobre 
crianças em Salvador e no Rio de Janeiro: “quando os meninos no ponto de ônibus são de cor preta, 
o motorista tendia a não parar para levá-los, caso não tivesse um passageiro para descer naquele 
ponto” (KALY, 2013, p. 203)
¹Ao contrário do que se afirma, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para um crescimento dos grupos indígenas nos últimos 
anos. Ou seja, estão longe de desaparecer.
²O Alma Preta é um site que aborda a temática racial.
(http://www.geledes.org.br/as-experiencias-do-ser-negro-na-sociedade-brasileira-2/) (http://www.geledes.org.br/as-experiencias-do-ser-negro-na-sociedade-
brasileira-2/)
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
08
CEAD
De outro lado, um aluno branco não enfrentava tais atos humilhantes. Parecia 
que os próprios motoristas e cobradores de ônibus já acreditavam que os 
alunos pretos não tinham nenhuma chance na escola e fingiam que estavam 
indo à escola. A cor da pele passava ou ainda passa por sinônimo de fracasso 
ou insucesso escolar, de mentira, de ladrão (KALY, 2013, p. 203). 
Após os exemplos apontados sobre as visões acerca dos nativos e negros, podemos continuar 
crendo que não existe racismo? Espero que o leitor tenha respondido não!
Observamos também que a cor da pele define o lugar social e econômico ocupado pelo indivíduo, 
isto é, quanto maior poder aquisitivo ou instrução há uma tendência da sociedade reconhecer o 
indivíduo como “quase” branco. Lilia Schwarcz (2012) relata uma situação vivida por uma professora 
negra da Universidade de São Paulo (USP), quando perguntada por um pesquisador do Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre sua cor nos anos de 1980. Ela respondeu ser negra, 
recebendo como resposta do pesquisador: “mas a senhora não é professora da USP”? (SCHWARCZ, 
2012, p. 106) Ou seja, a pele é sinônimo de “sucesso” ou “fracasso”.
Outra questão diz respeito à afirmação corrente de que somos miscigenados (FREYRE, 1992). 
Sem dúvida, somos mestiços e podemos constatar isso nos censos populacionais realizados pelo 
IBGE. Segundo o levantamento para o ano de 2013, 93.202.116 se declararam brancos; 16.056.818, 
pretos; 90.567.159, pardos; 947.423, amarelos; e 689.164, índios (http://www.ipea.gov.br/retrato/
indicadores_populacao.html)
Ou seja, a maioria se define de cor branca, seguida pela parda. Os pardos seriam, segundo 
o IBGE, aqueles que reconhecem suas cores como fruto de diferentes misturas, descendentes de 
brancos e negros, de brancos e indígenas, de negros e indígenas. O mesmo é confirmado em artigo 
de Sérgio D. J. Pena e Telma S. Birchal (2005-2006). Os autores apontam, a partir de estudo biológico, 
que a maior parte da população brasileira é oriunda da miscigenação, geralmente proveniente de 
pais brancos e de mães negras ou ameríndias. No entanto, o discurso da miscigenação, tal como 
apresentado por Freyre, estava inserido em um projeto de construção da nacionalidade que deveria 
ter uma identidade, no singular, com o predomínio do elemento branco. Nesse sentido, falar em 
miscigenação é o mesmo que considerar que “as diferenças se somam em uma sociedade que não 
segrega, não separa, não divide” (GONTIGO, 2003, p. 59). Diante do que foi dito páginas acima, seria 
coerente considerar que não há separação e divisão? Não! Considerar o Brasil miscigenado, como 
sinônimo de democracia racial, é apagar as diferenças existentes. Somos sim, brancos, amarelos, 
negros, pardos, ameríndios, ao mesmo tempo em que, ao contrário da ideia de uma única identidade, 
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
CEAD
09
o Brasil possui diversas identidades e uma pluralidade cultura.
A disciplina “Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos” tem como objetivo auxiliar na reflexão 
sobre o racismo. Abordaremos os conceitos de etnia e raça. Posteriormente analisaremos as relações 
étnico-raciais ao longo da trajetória da sociedade brasileira com ênfase na temática indígena e na 
afro-brasileira, quando veremos como se deu o contato entre ameríndios e europeus e as visões 
que os últimos tinham acerca dos ocupantes iniciais do continente americano; conheceremos um 
pouco da história do continente africano, local de procedência de muitos que para cá vieram na 
qualidade de escravos; os estereótipos presentes desde o período colonial acerca da cor da pele e 
o projeto, elaborado durante o Brasil Independente, de branqueamento da população. Estudaremos, 
em seguida, as ações dos movimentos negro, indígena e de outros grupos considerados “minorias” em 
prol de reconhecimento e de direitos e os Direitos Humanos.
Uma reflexão sobre os conceitos de raça e etnia
Durante o século XIX, em meio à industrialização e ascensão de uma sociedade burguesa e 
capitalista, a ciência tudo respondia. “Homens cultos deste período não estavam apenas orgulhosos 
de suas ciências, mas preparados para subordinar todas as outras formas de atividade intelectual a 
elas” (HOBSBAWM, 1982, p. 261). Foi o período marcado pelo desenvolvimento, por exemplo, da física, 
da química e da matemática, com interpretações vistas por todos como definitivas. Era o progresso do 
homem, o ápice da civilização! Veio da biologia uma das teorias mais famosas, a teoria da evolução 
de Charles Darwin, facilmente aceita por muitos, particularmente por usar a ideia de competição, 
defendida e reconhecida na época. Na mesma centúria surgiram a sociologia e a antropologia. A 
segunda resultou da fusão da “‘antropologia física’ (basicamente derivada de interesses anatômicos 
e similares) e a ‘etnografia’, ou a descrição de várias comunidades-geralmente atrasadas e primitivas” 
(HOBSBAWM, 1982, p. 275). 
As duas estavam preocupadas em compreender as diferenças entre os grupos humanos, 
a descendência e os variados tipos de sociedade, entendendo-se a burguesa como a mais 
desenvolvida. Foi da antropologia física que a ideia de raça ganhou notoriedade³ . Esta beneficiou-
se do desenvolvimento da frenologia e da antropometria, responsáveis pelo estudo do tamanho e 
proporção do cérebro de variados povos, além de defender que na superfície do crânio haveriam 
diferentes “órgãos”4. Muitos acreditavam que as “diferentes raças humanas constituíram ‘espécies 
diversas, ‘tipos’ específicos, não redutíveis, seja pela aclimatação, seja pelo cruzamento, a uma única 
humanidade” (SCHWARCZ,2011, p. 49).
As diferenças entre brancos, amarelos e negros eram, na visão da época, indiscutíveis. Inicialmente 
tais diferenças não levariam, necessariamente, à crença na superioridade de uma em detrimento de 
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
10
CEAD
outras. No entanto, a ideia de que algumas raças estariam mais próximas do macaco poderia, como 
levou, à noção de hierarquia entre elas e, automaticamente, a inferioridade de uma sobre a outra, 
no caso, do negro sobre o branco. Tal ideia foi empregada pela antropologia cultural que, usando o 
método comparativo, utilizou a definição de sociedade atrasada e primitiva.
Outras raças eram “inferiores” porque representavam um estágio anterior da 
evolução biológica ou de evolução sócio-cultural, ou então de ambas. E esta 
inferioridade era comprovada porque, de fato, a “raça superior” era superior 
pelo critério de sua própria sociedade: tecnologicamente mais avançada, 
militarmente mais poderosa, mais rica e mais “bem-sucedida” (HOBSBAWM, 
1982, p. 276).
A partir daí povos, como os ameríndios e africanos foram definidos como atrasados e em estado 
primitivo, pois não tinham chegado ao estágio de desenvolvimento que acreditava-se existir na Europa. 
A África, assim como a América antes da chegada dos europeus, era entendida como um continente 
sem organização social, sem cultura, sem História. E claro! A cultura, a civilização, o progresso eram 
condições existentes apenas na Europa, diga-se de passagem, branca. Ou seja, a ideia de raça passou 
a ser usada a fim de justificar processos de dominação e de legitimação do poder, empregado pelos 
europeus sobre a África, em finais do século XIX. Outro famoso exemplo foi o Holocausto, durante a 
segunda guerra mundial.
Estas teorias chegaram ao Brasil no século XIX e reforçaram visões negativas acerca dos 
ameríndios e, em particular, dos africanos. Os últimos, considerados representantes de uma raça 
inferior, deveriam ser varridos do país, pois contaminaram a todos com seus maus costumes e hábitos. 
Era necessário purificar a população e, para isso, a migração de europeus foi vista como uma solução. 
Além de eliminar traços africanos era necessário, acreditava-se, eliminar o mestiço, visto como o 
mais perigoso, pois teria recebido as piores características das raças. Este é um dos pontos para 
compreendermos a permanência de práticas racistas no Brasil, como vimos acima.
Hoje, após estudos sobre o genoma humano, sabemos que não existem raças humanas, visto 
que todos os seres humanos atualmente presentes na Terra compartilharam um ancestral 
africano relativamente recente, e as diferenças morfológicas que observamos nos humanos, 
são desenvolvimentos novos, tendo ocorrido apenas nos últimos 50.000-40.000 anos (PENA 
e BIRCHAL, 2005-2006, p. 13).
A cor da pele, anteriormente associada à raça, é, segundo os estudos atuais, uma característica 
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
CEAD
11
genética sujeita à seleção natural, “há uma significância correspondência geográfica entre os níveis de 
UV e o grau de pigmentação da pele das várias populações humanas” (PENA e BIRCHAL, 2005-2006, 
p. 14). Já o formato da face, a grossura dos lábios e a cor e textura do cabelo são traços considerados 
“superficiais” pelos estudos atuais, resultantes, também, de adaptações ao clima e demais variáveis 
ambientais (PENA e BIRCHAL, 2005-2006, p. 15). Portanto, em termos biológicos não existem raças e, 
logo, ninguém e nenhum povo é superior ou inferior. O conceito, no entanto, continua a ser empregado, 
agora, apenas a partir da percepção das diferenças físicas dos variados grupos, como a cor da pele e 
o cabelo.
Na medida em que a noção de raça vai perdendo força, a de etnia passou a ser cada vez mais 
usada na área das ciências sociais. O termo surgiu no início do século XIX para definir os aspectos 
culturais de um grupo, como a língua e os costumes. Atualmente apresenta diferentes definições, 
embora seja, em geral, associada à cultura, à ideia de uma origem comum, assim como engloba 
membros que se sentem parte do grupo. Entretanto, da mesma forma que o conceito de raça foi 
empregado para apontar as diferenças entre os povos, além de justificar o domínio e a superioridade, 
o termo etnia pode levar ao mesmo caminho, pois, o indivíduo, ao se identificar como membro de 
uma cultura, automaticamente estará diferenciando-se de outro grupo e, nesse embate, o primeiro 
tende a considerar-se superior (etnocentrismo). Kalina Silva e Maciel Silva (2006) dão como exemplo 
o caso dos muçulmanos na França. Os primeiros são oriundos de diferentes partes do mundo, mas 
partilham a mesma religião. Estes são vistos pelos franceses como inferiores, pois não possuem 
igual origem e cultura. Observamos uma situação semelhante no continente americano, envolvendo 
estadunidenses e latinos, como os mexicanos.
Portanto, enquanto antropólogos, sociólogos e historiadores debatem sobre os termos raça e 
etnia, o que podemos concluir é que: a espécie humana não é definida por raças; somos oriundos de 
uma origem comum, o continente africanos; nossas diferenças físicas, como cor da pele e cabelo, são 
dados genéticos de pouca relevância; pertencemos a variadas culturas, não havendo superioridade, 
apenas diferenças e trajetórias históricas diversas.
E os Direitos Humanos?
A noção de Direitos Humanos não é nova. Se voltarmos na história alguns séculos, as discussões 
oriundas do Iluminismo e da Revolução Francesa podem ser lidas como o embrião da luta por direitos. 
No entanto, a ideia de uma igualdade complexa e que permitisse englobar todos os cidadãos é 
mais contemporânea, tendo como base o final da 2ª Guerra Mundial. Os danos da guerra em si e o 
Holocausto lançaram os holofotes do mundo para a real capacidade que o homem tem de destruição, 
além das enormes atrocidades que são igualmente competentes em realizar.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
12
CEAD
³ A noção de raça já era empregada no século XVII.
4 Da cronologia técnica, que analisava a medição do índice cefálico, passou-se a avaliar variedades do cérebro humano. Criminosos e doentes mentais, por 
exemplo, passaram a ser estudados levando-se em conta apenas fatores naturais, sem considerar condições culturais e sociais. (SCHWARTZ, 2011, pp. 48-49).
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
CEAD
13
RESUMINDO
• A Unidade 1 apresentou o problema do racismo na sociedade brasileira, os 
conceitos de raça e de etnia e procurou problematizar a ideia de miscigenação.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
14
CEAD
Questões objetivas:
1. “Uma notícia de 1887, no jornal Correio Paulistano, que com o sugestivo título ‘Milagre’ 
documentava a ‘cura’ de um escravo que ‘branqueava-se a olhos vistos’”. A citação, retirada do texto 
da antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz (2012, p. 105), foi manchete em finais do século XIX. 
Sobre ela, marque a alternativa correta:
a) a notícia não tinha relevância na época, já que havia uma crença nas virtudes da miscigenação.
b) a miscigenação e a democracia racial já eram defendidas em fins do século XIX.
c) aponta a surpresa dos mineiros com a mudança da cor de um escravo.
d) nesse período as elites brasileiras buscavam meios a fim de garantir o branqueamento, visto 
que acreditavam que a raça negra e, ainda mais, os mestiços, levariam o país ao atraso.
2. É muito comum ouvir no Brasil a seguinte frase: “somos racistas, mas nosso racismo é melhor, 
é ameno, se comparado ao existente nos EUA”. Sobre a frase, marque a alternativa correta:
a) sem dúvida, o racismo nos EUA é mais agressivo e ofensivo.
b) como julgar o racismo? O preconceito de cor ou raça, assim como qualquer outra forma de 
discriminação não pode ser mensurada.
c) o racismo, entre nós, não está presente em situações cotidianas.
d) no Brasil, país miscigenado,não existe preconceito de cor, pelo contrário, exaltamos nossa 
mestiçagem como marca de brasilidade.
Questão discursiva:
1. “Preconceito é marca abrangente e significa fazer da diferença (seja ela racial, de gênero, 
de religião, de classe) algo mais do que efetivamente é. Em outras palavras, implica valorizar 
negativamente certos marcadores sociais de diferença e incluir neles uma análise moral” (SCHWARCZ, 
2012, p. 76)
Relacione a citação acima aos dados apresentados pela pesquisa de Alain Pascal, citados na 
Unidade.
EXERCÍCIOS
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
CEAD
15
Da Compreensão dos Problemas Indígenas à Luz 
da História da Colonização
Objetivos
• Aprender sobre a existência de diferentes culturas na América antes da chegada dos europeus;
• Compreender as visões dos europeus acerca dos povos existentes em outras áreas para além do 
continente europeu;
• Entender historicamente o estabelecimento das relações entre nativos e europeus.
Unidade 02
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
16
CEAD
INTRODUÇÃO
No dia 7 de outubro de 2015 a líder indígena da etnia Guarani Kaiowá, Valdelice Veron, 
em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos deputados, em Brasília, 
denunciou a morte de mais de 300 nativos em conflitos fundiários no Mato Grosso do Sul. Embora 
pouco divulgada, a notícia não é uma novidade. Conflitos por terra em diferentes partes do território 
brasileiro é uma constante, vitimando centenas de indígenas. Tal problema nos remete ao momento 
em que portugueses chegaram a América, em fins do século XV.
No dia 22 de abril de 1500 os lusitanos atingiram o atual litoral da Bahia. Dois dias depois 
ameríndios e europeus encontraram-se. A curiosidade e o estranhamento marcaram o contato, 
embora tenha sido menos traumático que aquele vivenciado por indígenas da região das Antilhas e 
os espanhóis que estavam sob o comando de Cristóvão Colombo, oito anos antes. Os dois eventos, o 
de 1492 e o de 1500, deram início a mudanças substanciais no continente americano, pois, antes da 
chegada de Colombo, os nativos estiveram isolados por muito tempo.
A partir daí hábitos e visões de mundo completamente diferentes foram confrontados. Para os 
europeus da época, os acessos a outros povos e territórios fizeram com que percebessem sua própria 
cultura. E desta experiência aprofundaram a crença na sua superioridade, na existência e validade de 
sua cultura e religiosidade.
Durante a ocupação e a colonização da América Portuguesa (Brasil), os lusitanos acreditavam 
estar trazendo os “verdadeiros” valores aos povos locais e para tal foi imprescindível a ação da 
Companhia de Jesus. Entretanto, antes de virem para cá muitos jesuítas se perguntaram sobre a 
humanidade dos indígenas. Questões foram formuladas: seriam os nativos humanos, já que andavam 
nus, praticavam a poligamia, o incesto e o canibalismo? Uma parte da ordem religiosa acreditava 
que não. Ou seja, os locais não teriam alma e, como consequência, seriam incapazes de aprender o 
cristianismo. Outro grupo, mesmo criticando os hábitos dos ameríndios, reconhecia sua feição humana 
concluindo, portanto, que eram humanos, que tinham alma e poderiam ser convertidos ao catolicismo. 
Vale lembrar que naquele período a religião representava uma visão de mundo, influenciava a cultura, 
os hábitos e costumes de um povo. (NEVES, 1978).
Ao lado da evangelização, foi necessário tornar os nativos, vistos sem cultura e sem história, 
produtivos. Estes foram empregados em diferentes atividades, como a agricultura, construção, 
apresamento de outros nativos, dentre outros, muitas das vezes na condição de escravos, mesmo 
com a oposição da coroa e dos jesuítas. Ao mesmo tempo suas terras foram tomadas pelos colonos, 
mesmo existindo uma legislação que protegia tais territórios.
Façamos algumas perguntas: será que as diferentes etnias existentes na América não tinham 
culturas, regras sociais, crenças, história, tal como acreditavam os europeus? É correto afirmar que 
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o Brasil foi descoberto? Os nativos, presentes em algumas regiões em grande número, nada fizeram 
diante da chegada dos europeus?
Os nativos antes dos europeus
Vejamos, inicialmente, o processo de ocupação do continente americano. Acredita-se que os 
nativos são descendentes de grupos nômades que passaram da Ásia, pelo Estreito de Bering, até a 
América do Norte. Desta localidade foram, gradativamente, descendo em direção a América do Sul 
pela costa do Pacífico. Outros vieram da Polinésia, por meio do oceano Pacífico, chegando a áreas 
próximas ao atual Chile (GIMENEZ e COELHO, 2005). As migrações mais importantes teriam ocorrido 
em torno de 12 mil anos, embora existam sítios arqueológicos, como os localizados no Piauí, datados 
de 30 mil anos. (CARNEIRO, 2009). Ou seja, os primeiros ocupantes do nosso continente não são 
autóctones, corroborando a tese de que a espécie humana é originária da África e descartando a 
crença da existência de diferentes raças (branca, amarela e preta). (Ver Unidade 1)
Carlos Fausto (2005, p. 68) afirma que “às vésperas da conquista, este era um continente que 
acolhia diversas formas de articulação social, econômica e política, em escalas local e regional”. Isto 
é, ao contrário do que os europeus acreditavam, a América era ocupada por povos portadores de 
historicidade e de culturas.
Os indígenas que habitavam o Brasil
Na região da várzea amazônica havia uma variedade de etnias e de aldeias, algumas 
de grandes extensões.
Recursos abundantes, grandes populações reunidas em povoados de dimensões 
consideráveis, estruturas públicas com função político-cerimonial, capacidade 
de mobilização de numerosos guerreiros e existência de articulação social entre 
diferentes povoados (FAUSTO, 2005, p. 45).
Nas áreas distantes dos rios a organização era baseada em pequenas comunidades, em geral semi-sedentárias. Os 
nativos praticavam a agricultura, a caça e a coleta, características semelhantes às encontradas hoje entre os índios 
que lá vivem. Já na região próxima ao rio Xingu as aldeias eram compostas por elevado número de moradores, havia 
uma interação entre elas, além de fortificações, sendo seus habitantes sedentários e conhecedores da agricultura 
de mandioca. Já no Brasil central, à época da chegada dos europeus, os locais, em grande número, reuniam-se em 
aldeias circulares que concentravam entre 800 e 2.000 pessoas (FAUSTO, 2005, p. 65)
Ao longo de boa parte do litoral vivia os tupi-guarani, uma população homogênea em termos linguísticos e culturais:
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Ao sul, os Guarani ocupavam as bacias dos rios Paraná, Paraguai, Uruguai e o litoral; 
desde a Lagoa dos Patos até Cananéia (SP); ao norte, os Tupinambá dominavam 
a costa desde Iguape até, pelo menos, o Ceará, e os vales dos rios que desaguam 
no mar. No interior, a fronteira cairia entre os rios Tietê e Paranapanema (FAUSTO, 
2005, p. 68).
Em função dos diversos recursos oriundos da caça, coleta e agricultura, estima-se que o 
contingente populacional era elevado: entre os Tupinambá haveria 1 milhão de habitantes e, entre 
os Guarani, 1,5 milhões. (FAUSTO, 2005, p. 70). Áreas como a baía de Guanabara, o Recôncavo Baiano 
e a ilha de São Luís do Maranhão concentravam considerável número de nativos, enquanto outras 
áreas eram menos densas.
Muitas aldeias estavam vinculadas por laços de consanguinidade e aliança, garantindo relações 
pacíficas, participação em rituais comuns e em expedições guerreiras. Entretanto as alianças não 
eram fixas, elas se redefiniam constantemente, ou seja, o amigo de hoje poderia tornar-se o inimigo 
de amanhã. Quando aliadas, as aldeias não se aglutinavam em torno de um centro, um núcleo 
regional, um chefe comum. “Os grandesxamãs tupi-guarani, conhecidos como Karaí ou Karaíba, não 
exerciam uma força centrípeta-eram eles que circulavam pela terra, de aldeia em aldeia, profetizando 
e curando” (FAUSTO, 2005, p. 77).
A estrutura política era variada, pois em algumas aldeias havia um único chefe e, em outras, cada 
maloca possuía um indivíduo que se destacava (FAUSTO, 2005, p. 77). Da mesma forma que a escolha 
dos principais (representantes dos grupos) não resultava da hereditariedade, mas da capacidade dos 
“candidatos”, como liderança, das alianças estabelecidas e suas virtudes. “O status era conquistado, e 
não atribuído; era preciso (...) articular uma parentela forte, ser temido e respeitado como guerreiro 
(...) e ser um orador eficaz” (FAUSTO, 2005, p. 78).
A guerra, em geral, não tinha como pretensão a conquista territorial. Era motivada pela 
vingança e pela captura de prisioneiros que seriam mortos e devorados. “A execução era um momento 
privilegiado de articulação das aldeias (...) e estava ligada a concepções sobre prestígio, a reprodução 
humana e o destino póstumo” (FAUSTO, 2005, p. 79). Havia a crença de que quem ingeria um guerreiro 
adquiria a bravura, força e determinação do morto. Portanto, a prática de comer carne humana deve 
ser entendida à luz da cultura daqueles povos. Por mais que nos pareça estranho hoje, tal ritual era 
vital para os grupos.
Enfim, observamos a presença de diferentes grupos ao longo do atual território brasileiro que 
possuíam regras quanto a organização social; entendiam a guerra como um ritual; estabeleciam 
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alianças a partir, por exemplo, do matrimônio; conheciam a cultura da terra e viviam dos recursos 
que a natureza oferecia; e dividiam seu tempo entre a obtenção de alimentos, a religiosidade e a vida 
comunitária. Eram, assim, portadores de cultura e de historicidade.
Descoberta?
Uma vez que as terras eram ocupadas antes de 1500, não é correto falar em “descoberta”, ainda 
mais descoberta do Brasil. Havia um Brasil? Não! O que tínhamos eram diferentes povos, entendidos 
como sujeitos históricos que viviam conforme regras estabelecidas.
Poderíamos utilizar “descoberta” visto que lusitanos e nativos não se conheciam anteriormente. 
Uma alternativa seria usar “encontro”, mas o termo passa a ideia de um evento pacífico, sem conflitos 
e temores. Talvez pudéssemos empregar o termo “achamento”, mas também não dá conta da 
complexidade do evento histórico. Por tudo que foi dito, acreditamos ser mais correto empregar a 
palavra “invasão”, pois o que os europeus fizeram, embora imbuídos da crença que o território lhes 
pertenciam, foi tomar terras já ocupadas.
Em meio à invasão, diferentes culturas se confrontaram. Deste confronto, a europeia se sobrepôs, 
não como resultado de sua superioridade, já que não há cultura mais ou menos desenvolvida. Os 
lusitanos sabiam o que fariam aqui, ao contrário dos nativos, que só compreenderam o propósito da 
conquista a partir de 1530. Entretanto a conquista não se deu sem resistência.
Resistência
Após 1530, em função das ameaças estrangeiras em terras brasileiras, os portugueses iniciaram 
o processo de ocupação. A invasão e fixação foram acompanhadas por um aparato político e religioso, 
sendo o segundo de suma importância, pois, como visto, transformaria os “selvagens” em partícipes 
da cultura europeia. Na ocasião não havia mais os antigos questionamentos acerca da humanidade 
dos locais, visto que a autoridade papal já havia reconhecido serem homens e mulheres (CARNEIRO, 
2009).
Caberia às ordens religiosas, em particular a jesuítica, a missão de catequisar os nativos por 
meio da ida às aldeias para a realização do batismo e, posteriormente, nos aldeamentos (aldeias 
criadas pelos jesuítas em terras próximas às vilas que se formavam). Nestes, diferentes grupos nativos 
que aceitassem a conversão viveriam juntos; passariam pelo ritual do casamento monogâmico; os 
homens, que até então não cultivavam a terra, passariam a dedicar-se a agricultura; além da proibição 
da prática do canibalismo. Ou seja, além de aprender a religião passaram a ter acesso a cultura 
europeia. Esta, não obstante, foi apreendida pelos locais a partir de suas vivências e experiências, 
assim como os religiosos e demais europeus sofreram influência dos hábitos americanos, como o 
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consumo da mandioca, do milho e da batata, dentre outros. Quanto aos indígenas que não aceitaram 
a conversão, a política indigenista adotada pela coroa portuguesa estabelecia a escravidão. Assim 
vários povos foram escravizados legalmente, enquanto outros de forma ilegal. Pois é! A legislação 
nem sempre era seguida nas terras dos papagaios.
Mas os nativos aceitaram passivamente a presença estrangeira? Na qualidade de sujeitos 
históricos, ou seja, capazes de transformar suas vidas, os ameríndios estabeleceram diferentes 
estratégias. As mais conhecidas são a guerra, a fuga para o interior, a bebedeira e a rejeição ao 
trabalho, em particular, na agricultura. Sobre a última, vale lembrar que o cultivo da terra não era 
uma atividade realizada por homens, mas por mulheres, logo, quando rejeitavam tal serviço estavam 
apenas seguindo seus hábitos. Portanto, não eram preguiçosos (ver Unidade 1). Não obstante, existiram 
outras formas de resistência.
Até meados do século XVI, além dos portugueses estavam por aqui outros europeus, 
como os franceses. Isso dava aos nativos a possibilidade de escolher a quem se aliar, 
isto é, cada grupo ou parte do mesmo estabelecia a aliança que melhor atendesse a 
seus anseios, ao contrário da crença de que eram os europeus que ditavam as regras. 
Outro exemplo: na medida em que a administração portuguesa foi se estabelecendo, 
muitos nativos optaram por não se opor diretamente à presença lusitana e passaram a 
utilizar as regras impostas. Há relatos de indígenas que colaboraram com a colonização 
e que, posteriormente, enviaram pedidos à coroa a fim de obter ganhos, demonstrando 
que passaram a conhecer os códigos da cultura europeia da época, utilizando-os a seu 
favor. Existem ainda os casos de rearranjo entre diferentes grupos étnicos que acabam 
se unindo, advindo daí novas identidades grupais (ALMEIDA, 2010).
No entanto, é inquestionável que a conquista levou ao desaparecimento de vários povos, em 
função de guerras, da chegada de doenças e do excesso de trabalho. (CUNHA, 2009). Por mais que 
não fosse intencional, a invasão levou ao genocídio. Mesmo assim, na região do Xingu existem hoje 
3 mil índios, dispersos em mais de uma dezena de aldeias, de 10 grupos distintos. De língua Karibe, 
temos os Kuikuro, Kalapalo, Nahukwá e Matipu; da família arawak, os Waurá, Mehinaku e Yawalapiti; 
do tronco tupi, os Kamayurá e Aweti; e, finalmente, os Trumai, cuja língua é considerada isolada. Esses 
grupos de fala e origem diversas acabaram por construir um modus vivendi comum, constituindo um 
conjunto multilocal internamente pacífico, articulado por rituais, trocas de bens de valor e relações 
matrimoniais (FAUSTO, 2005, p. 53).
E quanto às terras indígenas? Hoje, os descendentes dos ameríndios que foram contemporâneos 
à invasão e conquista lutam, retomando a denúncia feita no início do texto, pelas terras que lhes 
restam.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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RESUMINDO
• A Unidade 2 apresentou os povos indígenas como sujeitos históricos, capazes de 
lutar e mudar suas vidas e a existência de diferentes grupos étnicos portadores 
de cultura. O conceito de “descoberta” foi questionado e, em seu lugar, propomos 
o uso do termo “invasão”. Vimos, também, algumas das visões que os europeus 
tinham acerca dos ameríndios.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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Questões objetivas:
1. A crença de que os nativos são preguiçosos e que se aproveitam da legislaçãohoje vigente 
acerca do direito à terra têm sua origem no momento de contato com os europeus.
a) a afirmação é verdadeira, visto que os europeus, portadores de uma cultura superior, foram 
capazes de perceber as manobras e vícios dos locais.
b) a afirmação é verdadeira, pois, diante da resistência de muitos em trabalhar na agricultura, 
passou-se a acreditar e propagar a ideia de que os nativos eram “vagabundos” e preguiçosos.
c) a afirmação é errada, já que os nativos não são vistos, na atualidade, como preguiçosos ou 
oportunistas.
d) a afirmação é errada, pois os nativos não eram dados ao trabalho de nenhuma espécie muito 
antes da chegada dos europeus.
2. Sobre as terras indígenas podemos dizer, exceto:
a) muitas foram tomadas pelos colonos para construção de vilas e de fazendas.
b) desde o período colonial houve um respeito às terras nativas.
c) os conflitos de terra existentes hoje no Brasil tem ligação com a trajetória histórica da 
colonização.
d) atualmente as comunidades indígenas ainda sofrem com a invasão de suas terras.
Questão discursiva:
1. “Os índios integrados à colonização iniciavam um processo de aculturação, isto é, de mudanças 
culturais progressivas que os conduziam à assimilação e consequentemente à perda de identidade 
étnica. Assim, as relações de contato com sociedades envolventes e os vários processos de mudança 
cultural (...) eram considerados simples relações de dominação impostas aos índios de tal forma que 
não lhes restava nenhuma margem de manobra, a não ser a submissão passiva a um processo de 
mudanças culturais que os levaria a serem assimilados e confundidos com a massa da população” 
(ALMEIDA, 2010, p. 14).
Contraponha a citação acima e as ideias apresentadas acerca dos indígenas na Unidade 2.
EXERCÍCIOS
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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As políticas indigenistas no Brasil
Objetivos
• Compreender as diferentes ações do Estado para com os povos nativos;
• Entender as dinâmicas de ocupação dos territórios indígenas no país.
Unidade 03
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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INTRODUÇÃO
Frequentemente estudamos nos ensinos fundamental e médio que os povos nativos estavam no 
Brasil quando da chegada dos europeus, que atuaram ao lado dos lusitanos na atividade de escambo, 
até 1530. Após a data, entretanto, os indígenas “desaparecem” dos livros escolares, exatamente no 
momento em que os portugueses iniciam o processo de ocupação do território. No entanto, vimos 
na Unidade anterior (Unidade 2) que os habitantes originários da América continuaram a interagir 
com o invasor, tanto na qualidade de aliados quanto de inimigos. Agora, é importante que saibamos 
como o Estado tratou a questão indígena ao longo do tempo. Para isso, iremos, brevemente, analisar 
as políticas indigenistas aplicadas desde o período colonial até a república. Desta forma, poderemos 
entender a situação dos atuais povos que vivem no Brasil, suas lutas, enfim “o longo caminho que 
perpassou a história da cidadania indígena no Brasil” (BICALHO, 2010, p. 60).
As leis e a prática
O primeiro documento que abordou a questão dos povos nativos foi o Regimento de Tomé de 
Souza, primeiro governador geral do Brasil que aqui chegou em 1549. Temas ligados à escravização 
e posse das terras foram tratados naquele documento e em muitos outros ao longo dos séculos. 
Quanto à escravidão, a mesma foi proibida desde o século XVI, embora na prática muitos foram 
submetidos a trabalhos forçados até o século XIX.
Quanto à posse da terra, já no século XVII foi elaborada uma legislação fundiária que reconhecia 
que os indígenas eram os donos de suas produções e não poderiam ser obrigados a sair das terras em 
que estavam. No entanto, tal como visto no caso da escravização, as terras indígenas eram tomadas 
pelos colonos de forma ilegal. No século XVIII Marquês de Pombal “reafirmou o direito dos índios 
às suas terras como anterior ‘à concessão das sesmarias’” (BICALHO, 2010, p. 61). Foi nessa época 
que os povos nativos tornaram-se vassalos do Reino e deixaram de ser “dementes” (BICALHO, 2010, 
p. 63), passando à condição de igualdade diante dos demais colonos. Tratava-se de uma política de 
assimilação que, embora pareça um avanço, impunha a obrigação de europeização, desconsiderando, 
assim como fizeram os jesuítas, suas particularidades culturais. Da mesma forma, “as suas aldeias 
foram se tornando vilas habitadas por todo e qualquer indivíduo e, numa hierarquia social, a condição 
do índio era a dos cidadãos mais empobrecidos.” (BICALHO, 2010, p. 64).
Na primeira constituição brasileira, datada de 1824, não havia nenhuma menção aos nativos. 
Em 1850, por meio da Lei de Terras, as terras indígenas foram consideradas propriedades dos mesmos 
e fonte de sobrevivência até alcançarem “o seu estado de civilização” (BICALHO, 2010, p. 64). As 
terras citadas na legislação não eram aquelas habitadas desde o mais remoto passado, mas sim as 
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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resultantes dos aldeamentos realizados pelos jesuítas e pelo Estado, ou seja, terras impostas pelos 
europeus desde o momento em que iniciaram a colonização. Ainda no Império foi promulgado o 
Regulamento das Missões que visava “prolongar o sistema de aldeamento; acelerar a assimilação dos 
índios a comunidade nacional; centralizar a questão indígena” (BICALHO, 2010, p. 68).
A primeira constituição da República, em 1891, também não mencionava os nativos e “transferiu 
aos estados da federação as terras devolutas” , ou seja, aquelas terras que outrora tinham sido 
aldeamentos, mas que estavam abandonadas. Na prática, os territórios ocupados por eles foram, 
em grande parte, consideradas terras devolutas, portanto, tomadas pelo Estado. Isto é, mais uma vez 
observamos uma tomada das terras indígenas, prática que remonta o século XVI (BICALHO, 2010, p. 
70).
No início do século XX foi criado o Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores 
Nacionais (SPILTN) ou Serviço de Proteção ao índio (SPI), de 1910. O SPI perdurou até os anos de 1960. 
Tratava-se de uma política que pretendia proteger, pacificar e controlar os nativos. Proteger e pacificar, 
pois, na visão do Estado, os nativos eram incapazes de fazê-los. Será? Em tese bem intencionada, 
encabeçada pelo Marechal Rondon, tinha o objetivo de proteger a(s) cultura(s) indígena(s) e os 
próprios índios. No entanto, na prática, assumiu o perfil das velhas políticas assimilacionistas e de 
integração dos primeiros habitantes à sociedade brasileira, assim como gerou a invasão dos brancos 
sobre as terras nativas, levando, mais uma vez ao desaparecimento de diversas etnias. Outras leis 
surgiram ao longo do século visando garantir a posse das terras aos nativos, mas desrespeitadas. 
Na verdade, diversas áreas ocupadas por eles acabaram sendo integradas à sociedade assim como 
muitas etnias foram atraídas à assimilação. Entretanto, muitos resistiram às politicas de integração.
Na década de 1970 foi criada a Fundação Nacional do índio (FUNAI), substituindo o SPI. Entretanto, 
em termos concretos, poucas mudanças ocorreram, pois mantiveram os princípios de assimilação e 
de integração. Poucos anos depois, o Estatuto do Índio, de 1973, determinava a demarcação das terras 
indígenas. Mais uma vez, a intenção poderia ser boa, mas, na prática, novamente, pouco se fez.
Enfim, do século XVI até parte do XVIII, coroa portuguesa e jesuítas tentaram garantir a 
integridade das diversas etnias, embora impusessem o catolicismo como religião e formas de 
vida baseadas nos valores europeus. De meados do século XVIII até os anos de 1970, vemos uma 
politica, em geral, preocupada com a integração e assimilação dos nativos. Tais projetos estavam 
baseados na ideia, assim como vimos no inicio da colonização, da incapacidade dos indígenas em 
tomar decisões, na visão de que não tinhamcapacidade de gerir suas vidas e na concepção de que 
viviam, literalmente, em estado “selvagem”. Observamos um projeto de formação de uma comunidade 
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nacional, um “pseudo-Brasil unificado cultural e socialmente” (BICALHO, 2010, p. 69).
As diversidades étnico e cultural dos grupos não eram levadas em conta, assim como as ideias 
e as reivindicações dos mesmos. Integrar-se ou não é uma decisão que não cabe ao Estado, mas sim 
aos nativos. Da mesma forma o direito às terras que, em tese garantida em legislação, na prática foi 
e ainda é desrespeitado.
Mudança substancial veio com a Constituição de 1988. Fruto não de uma concessão do Estado, 
mas da luta do movimento indígena, como veremos na próxima Unidade (Unidade 4).
Alguns dados sobre os índios hoje
A ampliação das políticas em defesa dos indígenas das últimas décadas mudou o processo de 
extinção dos indígenas, visível desde o século XV. Os dados da FUNAI demonstram esse revigorar da 
identidade indígena. A partir de 1991, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) incluiu 
os indígenas no censo demográfico nacional.
O ritmo de crescimento foi quase seis vezes maior que o da população em geral. O percentual 
de indígenas em relação à população total brasileira saltou de 0,2% em 1991 para 0,4% em 2000, 
totalizando 734 mil pessoas. Houve um aumento anual de 10,8% da população, a maior taxa de 
crescimento dentre todas as categorias, quando a média total de crescimento foi de 1,6%. (http://
www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao)
Por meio do quadro e gráfico podemos visualizar as mudanças ocorridas ao longo de mais de 
quinhentos anos na demografia dos povos nativos.
Fonte: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao
A atual população indígena brasileira, segundo resultados preliminares do Censo 
Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, é de 817.963 indígenas, dos quais 
502.783 vivem na zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas brasileiras. Este 
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Censo revelou que em todos os Estados da Federação, inclusive do Distrito Federal, 
há populações indígenas. A Funai também registra 69 referências de índios ainda 
não contatados, além de existirem grupos que estão requerendo o reconhecimento 
de sua condição indígena junto ao órgão federal indigenista. (http://www.funai.gov.
br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao)
Por muito tempo acreditou-se no desaparecimento dos povos indígenas em função do contato 
com o homem branco, dos conflitos, das doenças, da política assimilacionista. No entanto, os números 
apresentados pelo IBGE demonstram o contrário, ou seja, vemos um aumento numérico daqueles que 
se declaram indígenas.
Dados importantes, pois comprovam a capacidade de reação dos mesmos diante das adversidades 
assim como um reconhecimento de sua própria identidade.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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RESUMINDO
• O processo de extermínio dos índios continuou mesmo depois da independência 
e da República Brasileira e um dos grandes entraves para o processo de dizimação 
dos índios é o não reconhecimento da igualdade política, econômica e social de 
tais grupos étnicos no Brasil. A partir do final do século XX e início do século XXI a 
população indígena voltou a crescer e se organizar para a defesa de seus direitos.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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Questões objetivas:
1. Veja o gráfico abaixo e, em seguida, responda a alternativa correta:
Fonte: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao
a) os povos indígenas foram vítimas de uma política deliberada de extermínio, iniciada no século XV 
e foram incapazes de reagir.
b) os povos indígenas se concentram, na atualidade, apenas na região norte do Brasil.
c) ao contrário do que se acredita, os povos indígenas estão localizados em todas as regiões do Brasil.
d) as políticas assimilacionistas adotadas em diferentes momentos da história do Brasil respondem 
aos dados apresentados no gráfico.
2. Os nativos foram derrotados e passaram a fazer parte da ordem colonial, sem capacidade de reagir. 
Foram, portanto, vítimas indefesas diante da presença estrangeira. Sobre a afirmação acima, marque 
a certa:
a) a afirmação está certa, visto que os indígenas não tiveram nenhuma oportunidade de reagir diante 
das armas, das doenças e das imposições culturais advindas dos europeus.
b) a afirmação está correta, pois os nativos foram sujeitos históricos.
c) a afirmação está correta e uma prova disso é a redução numérica dos indígenas na atualidade.
d) a afirmação está errada, já que os povos locais foram capazes de desenvolver estratégias diante 
da ação colonizadora.
Questão discursiva:
Faça uma pesquisa sobre as expedições dos irmãos Villas-Boas e depois relacione com o período 
histórico da ditadura civil-militar no Brasil.
EXERCÍCIOS
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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Movimento Indígena: As Arenas de Luta
Objetivos
• Compreender as ações dos povos nativos ao longo do tempo;
• Discutir a importância dos movimentos indígenas para a sobrevivência da(s) cultura(s) indígena(s) 
e acesso aos direitos humanos universais.
Unidade 04
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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INTRODUÇÃO
Nas Unidades anteriores (Unidades 2 e 3) refletimos sobre o encontro entre indígenas e 
europeus, os impactos da conquista e invasão do território sobre as diferentes etnias que aqui viviam, 
mas observamos, também, a capacidade de reação e de luta dos nativos diante dos novos problemas 
que surgiram ao longo de mais de quinhentos anos. A seguir veremos como eles atuaram e atuam a 
partir dos anos de 1970.
Os anos finais de 1970 e início dos anos de 1980 foram marcados pelo processo de reabertura 
política, em meio a um governo ditatorial civil militar, iniciado em 1964. Durante a redemocratização 
houve uma intensificação das ações populares, unificando diferentes grupos que possuíam variadas 
propostas e demandas em prol da luta pelo fim do Estado autoritário (BICALHO, 2010,p. 85). Dos 
diferentes movimentos sociais presentes, estava o movimento indígena.
Movimento Indígena
A década de 1970 foi caracterizada não só pela oposição ao regime civil-militar vigente no 
Brasil mas em outras partes da América Latina. Foi também o período de expansão do capitalismo 
internacional, do crescimento econômico e dos processos de modernização. Tais acontecimentos 
colaboraram para o aparecimento “das primeiras frentes de resistência indígena ao progresso que 
invadiu as suas terras, derrubou florestas e buscou minérios com o intuito de atender às demandas 
de uma nova economia globalizada” (BICALHO, 2010, p. 100).
Algumas lideranças indígenas se deslocaram em direção aos grandes centros visando divulgar 
para a sociedade os diversos crimes cometidos sobre seus povos ao longo de mais de cinco séculos 
(ver Unidades 2 e 3), como a devastação do ambiente e a invasão constante às suas terras.
Ao mesmo tempo foi essencial uma consciência da indianidade, uma identidade consciente 
“em si e para si”, uma identidade étnica por meio, dentre outros, da língua, da cultura. Suas bandeiras 
centrais: a reivindicação pelo direito à diferença, em oposição a uma política encabeçada por 
diferentes governos que defendiam a assimilação (ver Unidade 3), a luta por direitos políticos e 
sociais, igualdade de direitos em relação aos demais cidadãos, defesa do direito à diferença cultural 
e à demarcação de suas terras (BICALHO, 2010).
Movimento indígena do Brasil distingue-se pela especificidade da diversidade de suas 
organizações, não se caracterizando pela vinculação direta com partidos políticos e/ou organizações 
sindicais; além de não se definir pelo funcionamento unificado através de uma única organização(BICALHO, 2010, p. 83).
Unidade 04
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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As ações movidas pelo Movimento Indígena Brasileiro (MIB) ganharam repercussão em meio 
a Assembleia Nacional Constituinte, quando suas lideranças utilizaram a mídia a fim de mobilizar a 
opinião pública quanto às suas reivindicações.
A Constituição de 1988
A Constituição de 1988 garantiu a ampliação dos direitos políticos e civis e dos direitos sociais. 
Foi a primeira que incluiu um capítulo, Capítulo VIII, sobre os índios, reconhecendo seu caráter de 
cultura étnica, concedendo-lhes o usufruto de suas terras assim como o direitos de cidadãos.
No Capítulo VIII
São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e 
tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, 
competindo à União demarca-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens; além 
de determinar que ‘os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas 
para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses intervindo o Ministério 
Público em todos os atos de processo’ (BICALHO, 2010, p. 228).
A Constituição determina também que os povos nativos devem receber uma educação por meio 
de suas línguas maternas e devem ser submetidos a processos de aprendizagem compatíveis com 
suas realidades e particularidades, durante o ensino fundamental.
Os índios são considerados cidadãos brasileiros, mas sendo dado a eles o direito à diversidade 
étnica e cultural, um avanço se comparado às antigas bandeiras de incorporação dos mesmos à 
cultura nacional (política assimilacionista) e as terras tradicionalmente ocupadas são destinadas à 
posse permanente. São vistos como sujeito de direito, conferindo-lhes “autoconfiança e autonomia 
jurídica” (BICALHO, 2010, p. 229).
No entanto, a inclusão das demandas indígenas na Carta Magna não podem ser vistas como 
uma concessão do Estado. Ao contrário, vimos linhas acima a atuação do Movimento Indígena e suas 
reivindicações. Portanto, o Capítulo VIII da Constituição deve ser visto como uma conquista oriunda 
das lutas realizadas por diferentes lideranças indígenas, demonstrando, mais uma vez, que tratam-se 
de sujeitos históricos, tal como vimos nas Unidades 1, 2 e 3.
Embora garantida em lei, o processo de demarcação das terras indígenas caminha a passos 
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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lentos, como veremos na Unidade 14. Outras conquistas ainda precisam ser postas em prática, como 
o respeito às suas particularidades culturais.
A conquista dos direitos indígenas garantidos na Constituição não conclui o processo de 
luta do MIB, ao contrário, revigorou-o. O caminho em busca da concretização do direito 
conquistado é longo e árduo, pois envolve uma série de interesses e a necessidade de 
mudanças não apenas nas relações entre povos indígenas, Estado e sociedade; mas, 
principalmente, na mentalidade do povo brasileiro quanto ao reconhecimento e a 
convivência com o diferente (BICALHO, 2010, p. 231).
Poliene Bicalho (2010) toca em um aspecto essencial: o respeito à diferença. Mas será que a 
sociedade brasileira reconhece e aceita o diferente? Será que nós, no nosso dia a dia, no convívio com 
os parentes, amigos e colegas de trabalho nos respeitamos? Trata-se de uma boa reflexão.
Quanto aos indígenas, os meios de comunicação constantemente narram tristes casos de 
violência contra eles:
Quem lembra do caso do índio Galdino, queimado vivo em Brasília há 15 anos?
Fonte: http://www.geledes.org.br/tragedia-de-indio-galdino-queimado-vivo-em-brasilia-completa-15-anos/
Há 15 anos, cinco jovens de classe média em Brasília escolhiam uma forma inusitada e cruel 
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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de se divertir durante a madrugada, depois de uma festa com os amigos. Compraram gasolina 
e uma caixa de fósforo, atearam fogo em um índio que dormia em uma parada de ônibus 
na W3 Sul, avenida de um bairro nobre da capital federal, e fugiram. O índio pataxó Galdino 
Jesus dos Santos, de 44 anos, que estava na cidade para comemorar o Dia do Índio, acordou 
em chamas e horas depois morreu no hospital com 95% do corpo queimado. Os rapazes 
foram reconhecidos, presos e condenados a 14 anos de prisão, mas a lei brasileira garantiu 
que ficassem apenas oito anos na cadeia — e com direito a várias regalias. Para justificar o 
crime bárbaro, os rapazes alegaram que acreditavam ser um mendigo e resolveram “brincar” 
com ele.
E o crime cometido em Santa Catarina, no início do ano 2016, você lembra?
Em julho, os caingangues do oeste de Santa Catarina vão trocar a festa do terceiro 
aniversário de Vitor Pinto por um rito em homenagem aos mortos. Até lá, seus pais, 
Sônia, de 27 anos, e Arcelino, de 42, esperam ver a condenação de um assassino.
Mas a morte do menino de 2 anos, degolado com uma lâmina no pescoço no dia 30, por 
um homem que fingiu afagar seu rosto enquanto sua mãe o amamentava na rodoviária 
de Imbituba, é vista pela comunidade indígena como mais um marco em sua trajetória 
de perdas e de abandono pela sociedade.
“Ser índio no Sul é, na versão hardcore do senso comum, ser vagabundo; é contar com 
a tutela generosa da Fundação Nacional do Índio (Funai). Só quando viram que os 
próprios índios começaram a se movimentar é que o caso foi ganhando visibilidade, 
até pelo descaso”, afirma Leonel Piovezana, professor dos Programas de Mestrado em 
Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais e de Educação da Universidade Comunitária da 
Região de Chapecó (SC).
Natural da Aldeia Condá, em Chapecó, a família tinha ido para o litoral, onde há mais 
movimento no verão, para vender o artesanato da tribo, como faz todo fim de ano. “Não 
somos bandidos, somos trabalhadores. Temos de fazer o que sabemos, o que é da nossa 
cultura, como o balaio e o artesanato para vender. É uma questão de sobrevivência”, 
afirma a avó de Vitor, Teresa, com olhar perdido, e lágrimas no rosto, após cerimônia 
pelo sétimo dia da morte. (http:// noticias.r7.com/sao-paulo/morte-de-bebe-indigena-
em-sc-expoe-rotina-de-descaso-09012016)
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Os dois casos narrados acima fazem parte de uma rotina de violência que amedronta todos 
nós, sem dúvida! No entanto, os crimes citados têm ligação com a intolerância diante do outro, do 
diferente. Vejamos, a seguir, as condições em que vivem os povos nativos em Santa Catarina:
Segundo o historiador Clóvis Brighenti, desde 1940 eles vêm sendo expulsos do seu 
território até por servidores que deveriam protegê-los. Com o território expropriado, os 
caingangues da Condá viviam abrigados em barracos de lona no centro até a década 
de 1990.
Nessa época, muitos foram espancados por moradores. A repulsa da sociedade fez com 
que fossem removidos para o local atual. A aldeia tem 2.300 hectares e fica na zona 
rural. Cerca de 800 pessoas vivem lá.
O isolamento fez muitos nem sequer aprenderem o português. Eles falam em Jê. 
Apesar dos movimentos de proteção, a violência continua brutal, segundo o Conselho 
Missionário Indigenista.
A Funai está pleiteando sete terras na região. “São três tribos no Sul do País”, justificou 
Silva. Já Piovezana considera que o fim da disputa se encontra na mão do governo 
porque a organização e aproveitamento da terra está na mão “de quatro ou cinco 
pessoas”, enquanto 85% dos indígenas estão sem terra.
Enfim, o Movimento Indígena conseguiu substanciais conquistas, como a inclusão do Capítulo 
VIII na Constituição de 1988, mas, como afirmou a pesquisadora Bicalho (2010), ainda há muito o que 
fazer.
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RESUMINDO
• A mobilização dos líderes indígenas e suas conquistas, o Movimento Indígena 
Brasileiro (MIB)e as lutas travadas ainda hoje pelo MIB.
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Questões objetivas:
1. “A realidade da América Latina quanto à garantia dos direitos indígenas nas constituições 
nacionais demonstram os avanços e as conquistas do Movimento Indígena em vários países” (BICALHO, 
2010, p. 245). Marque a alternativa incorreta:
a) no Brasil, a Constituição de 1988, reconheceu várias das demandas do movimento indígena, 
excetuando o direito à pluralidade étnica.
b) a Carta Magna de 1988 resultou de longos anos de luta dos movimentos sociais, dentre eles, 
o indígena.
c) o Capítulo VIII dedica-se a tratar dos Índios.
d) as antigas políticas assimilacionistas não estão presentes na Constituição em vigor no Brasil.
2. Sobre o movimento indígena marque a certa:
a) o movimento indígena na atualidade tem vínculos com partidos políticos e sindicatos.
b) o MIB concretizou sua missão visto que a Constituição de 1988 inseriu um capítulo exclusivo 
para as demandas do movimento.
c) seria incorreto afirmar que o movimento indígena iniciou-se nos anos de 1970, visto que os 
povos nativos sempre resistiram diante dos europeus, colonos e Igreja.
d) os povos indígenas na atualidade são reconhecidos e contam com amplo apoio da sociedade 
brasileira.
EXERCÍCIOS
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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Questão discursiva:
1. “Ao invés de desaparecerem, como previsto, os índios, em nossos dias, crescem e se fortalecem politicamente, exercendo 
considerável influência sobre os estudos acadêmicos. Eles próprios entram nas universidades e produzem conhecimentos sobre 
suas culturas e histórias. Saem dos bastidores e lentamente vão conquistando espaços no palco de nossa história, ainda que 
espaços muito acanhados, deve-se convir” (ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na História do Brasil. Rio de Janeiro: 
FGV, 2010. p. 160).
Relacione a citação acima e o MIB.
EXERCÍCIOS
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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A(s) África(s) e sua Historicidade
Objetivos
• Compreender que o continente africano é portador de culturas e historicidade;
• Discutir a importância da história da África para a compreensão do Brasil e das relações étnico-
raciais.
Unidade 05
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INTRODUÇÃO
A história ocidental foi, até pouco tempo, marcada pelo chamado padrão histórico europeu, 
onde as demais áreas do planeta eram analisadas a partir do etnocentrismo, ou seja, olhar uma 
cultura baseando-se na sua.
Nesse contexto, a África era vista como um continente sem povos, sem estados, sem passado e, 
portanto, sem história. Tal visão eurocêntrica resultava da crença em uma cisão, tendo como “barreira” 
o deserto do Saara, dividindo a África Branca, onde suas características aproximavam-se daquelas 
do Mediterrâneo, destacando-se o Egito e os povos no norte do continente, e uma África Negra 
(subsaariana), estacionada, sem progresso, com “povos de imobilização eterna” (HERNANDEZ, 2008).
As Diferentes Visões Sobre a(s) África(s)
Em afirmação hoje famosa, o filósofo Friedich Hegel, na década de 1830, afirmou que a África 
não fazia parte da história do mundo (HEGEL apud WESSELING, 1992). Sua visão foi compartilhada 
por Karl Marx e encontra-se presente em outros textos que defendem que em grande parte da África 
não havia classes e, portanto, Estados. Na primeira metade do oitocentos o conceito de raças e a 
classificação das mesmas atribuíam ao negro a inaptidão para civilizar-se, ou seja, empregavam-
se razões de cunho biológico, além dos acontecimentos ocorridos no Haiti. Tais crenças, ao lado 
de discussões realizadas no meio acadêmico, contribuíram para justificar, por exemplo, o impulso 
imperialista e as missões religiosas propagadas naquele continente (HERNNANDEZ, 2008). Ao mesmo 
tempo o século XIX ficou marcado por uma concepção de história objetiva e imparcial, da Escola 
Alemã, que deveria se fartar de documentos escritos. Entretanto, em parte do continente africano 
havia a falta daqueles, reforçando a ideia de ausência de uma história (WESSELING, 1992).
Para a historiografia etnocentrista, a África dita negra passou a fazer parte da História quando do 
contato com os europeus, inicialmente portugueses interessados no estabelecimento de intercâmbios 
comerciais, adquirindo marfim, ouro, escravos etc. Isto é, a África foi inserida na “história mundial” a 
partir do encontro com a “civilização”.
No século XX ainda encontramos textos sob influencia do etnocentrismo, como a colocação de P. 
Gaxottetas que, em 1957, afirmou que os povos africanos (da África subsaariana) em nada contribuíram 
para a história universal e o continente não produziu nenhum “grande” homem (KI-ZERBO, 1999). 
Em contrapartida, nesta centúria a história da África, dos africanos e seus descendentes vem sendo 
revista. Vejamos os motivos para estas mudanças.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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Primeiras Décadas do Século XX
Africanos que foram estudar nos Estados Unidos e na Europa e lá entraram em contato com 
outros africanos e descendentes começaram a repensar a África. Como homens de seu tempo, também 
empregavam o conceito de raça, refletindo a influência das ideias etnocentristas e racionalistas do 
momento, dando partida ao movimento pan-africanista que encontrou seu ápice nos anos de 1910 
e 1920. Viam a África e seus “filhos” como alvos da injustiça e concediam àquele continente uma 
origem mítica, que unificava todos os africanos espalhados pelo mundo. Organizaram congressos e 
conferências onde o conceito de negritude, embora com definições variadas, foi, em geral, concebido 
como identidade e destino. Entretanto, tal como afirma Hernandez (2008), este movimento ficou 
restrito às elites africanas e às grandes cidades dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França.
Segunda Metade do Século XX
Após a segunda guerra mundial houve o declínio da Europa e a emergência de novos estados 
fora do continente europeu, além da perda da influência do eurocentrismo. A elite letrada africana, 
os afro-americanos e euro-africanos se perguntavam como poderia a Europa, palco da “civilização” 
e da “cultura” ter participado de uma guerra marcada pela carnificina, tendo a participação ativa da 
dita raça ariana. Estes questionamentos desencadearam reflexões entre os pan-africanistas acerca da 
situação dos negros (APPIAH, 1997).
O pós-guerra caracterizou-se pelo combate gradativo dos povos nativos contra o domínio colonial. 
Também ocorreu uma reformulação sobre as formas de escrever a História, com uma gradativa perda 
de interesse, por parte dos historiadores, dos temas vinculados à política e às questões militares e 
a valorização da história econômica e social, destacando-se, por exemplo, os homens comuns como 
sujeitos históricos.
A partir de 1960 intensificou-se a atuação e influência de historiadores norte-americanos e a 
produção realizada pela elite nativa africana. Os últimos, embora trabalhando com arquivos e fontes 
ocidentais, desenvolveram uma interpretação antiocidental. Observamos a busca pela historicidade 
das sociedades africanas. No decênio seguinte propagaram-se estudos sobre artefatos e sítios 
arqueológicos africanos, além da tradição oral passar a ser empregada como fonte de pesquisa, a partir 
do método desenvolvimento por Jan Vansina. Sua contribuição foi inestimável para o desenvolvimento 
do conhecimento para áreas além da Etiópia, da franja sudanesa de influência islâmica e das cidades 
do Índico (HERNANDEZ, 2008). Houve uma releitura de fontes escritas antigas, dos escritos árabes e 
dos relatos europeus e passou-se a empregar fontes africanas recentes, asiáticas e americanas.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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Muitos estudos passaram a denunciar a exploração colonial e, portanto,a exigir uma reparação 
aos danos causados por séculos de exploração e miséria. Embora importantes, particularmente 
se levarmos em conta o contexto caracterizado pelos processos de independência e de busca por 
identidades, estas reflexões acabaram vitimizando os africanos e colocando-os como passivos 
(THORNTON, 2004).
Os Anos de 1990 e 2000
Nas décadas de 1990 e 2000 observamos a propagação de especialistas em afro-américa que 
visam resgatar a dimensão positiva da experiência africana na cultura americana e também europeia. 
Alguns destes especialistas se voltaram, posteriormente, para a África, embora o africanista Thornton 
(2004) considere que poucos são aqueles que se dedicam ao continente no período pré-colonial. 
Sobre a fase anterior aos europeus, podemos citar, dentre outros, além de Thornton, Alberto da Costa 
e Silva (1996).
Atualidade
Atualmente, especialistas em África reconhecem a necessidade de interdisciplinaridade entre a 
História, a Antropologia, a Arqueologia e a Linguística assim como não fazem mais distinções entre 
as ditas África Branca e África Negra, reconhecendo a integração entre as duas áreas por meio do 
emprego de camelos e de rotas transaarianas (SILVA, 1996).
Temas como abolição do tráfico e da escravidão, imperialismo, islamismo, resistências e a saga 
dos africanos que retornaram à “mãe África” após anos de exploração no Novo Mundo despertam 
importantes indagações entre os africanistas. Isso ocorre mesmo diante das dificuldades impostas aos 
pesquisadores em algumas áreas do continente, como os conflitos políticos, a censura universitária e 
as rivalidades acadêmicas (LOVEJOY, 2002).
Estudos atuais sobre, por exemplo, a escravidão, verificam a sua existência antes da chegada 
dos europeus, já nos séculos VII e XV, como resultado de conflitos internos originários na antiguidade 
e agravados com a propagação do islã assim como oriundos de conflitos entre “estados” em formação 
ou já constituídos, por fome e com a demanda por escravos no Mediterrâneo. Ou seja, havia um 
comércio que envolvia diferentes partes da África Ocidental antes da chegada dos europeus e que 
não se resumia a cativos, incluindo ouro, marfim etc.
Hoje, todos, ou quase todos, reconhecem o continente africano com povos de origens, culturas, 
organizações social e econômica diferentes. A África é vista como sujeito histórico que transformou 
as influências e demandas externas, da mesma forma que gerou mudanças para o mercado externo.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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RESUMINDO
• As diferentes visões produzidas sobre o continente africano, a historicidade da 
África e de seus habitantes.
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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Questões objetivas:
1. Sobre a história da África, podemos dizer que, exceto:
a) os europeus no século XIX consideravam que a África Negra era a histórica.
b) as teorias raciais consideravam que o negro estava em estágio de desenvolvimento abaixo do 
branco.
c) que os povos da África Negra, abaixo do deserto do Saara, já realizavam trocas comerciais com 
outros povos desde a chegada do camelo ao continente.
d) os povos da África subsaariana eram ausentes de cultura e historicidade até a chegada dos europeus.
2. Sobre os estudos acerca da África, podemos dizer que:
a) desde o século XIX havia um reconhecimento das culturas e organizações sociais existentes na 
África. Para tal, foi de suma importância a produção realizada por europeus.
b) nos anos de 1990 e 2000 houve um aumento das pesquisas sobre o continente e seus habitantes.
c) para o estudo da África não há necessidade de interdisciplinaridade.
d) a segunda guerra mundial demonstrou a superioridade do homem branco enquanto raça.
Questão discursiva:
1. Contraponha as visões dos pesquisadores do século XIX e da segunda metade do século XX sobre 
a história africana.
EXERCÍCIOS
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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Trezentos e Cinquenta Anos de Escravidão 
Africana no Brasil
Objetivos
• Analisar as características da escravidão africana no Brasil;
• Discutir o conceito de escravo como sujeito histórico;
• Compreender como os negros foram empurrados para as margens da sociedade desde a abolição.
Unidade 06
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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INTRODUÇÃO
Quando pensamos em escravidão africana nas Américas vem à mente apenas cenas de violência 
e de trabalho. De fato, o trabalho compulsório foi (e é) de uma violência impar. Assim como o tráfico 
de escravos, responsável por arrancar indivíduos de suas comunidades e transportá-los pelo oceano 
Atlântico em direção a terras desconhecidas. Aqui chegando homens, mulheres e crianças eram 
levados para casas ou fazendas onde não conheciam ninguém, não tinham domínio da língua e nem 
dos costumes locais. A violência física era real. Os senhores de escravos tinham o domínio pleno 
sobre eles e poderiam fazer o que bem quisessem. No entanto, será que “apenas” o castigo e o chicote 
podem dar conta de explicar a perpetuação do sistema escravista por mais de três séculos? Imagine 
propriedades com cento e cinquenta escravos submetidos às mais variadas formas de violência. Será 
que um dia, os cativos não poderiam se rebelar e facilmente dominar a casa grande?
A fim de responder às perguntas acima, pesquisas realizadas nos últimos trinta anos dedicaram-
se a analisar o cotidiano escravista nas Américas e, em particular, no Brasil colonial e imperial. Da 
análise de diferentes documentos históricos, constatou-se que, além da violência física, os senhores 
faziam uso de outros meios para garantir a perpetuação da escravidão, como a concessão de terras 
para os escravos, de dias para que pudessem batucar, jogar capoeira, a autorização para que pudessem 
constituir famílias, dentre outros. Ou seja, proprietários permitiam que seus cativos experimentassem 
momentos de autonomia, assim poderiam melhor suportar o dia a dia. No entanto, os escravos 
percebiam que os senhores precisavam de sua força de trabalho e, a partir daí, reivindicavam, por 
exemplo, o “direito” de casar, de plantar e de comercializar o que produziam etc. Ou seja, a relação 
senhor e escravo baseou-se na violência física, mas também em negociações e barganhas.
Os Estudos Sobre a Escravidão
Como dito anteriormente, a historiografia dedicada ao estudo da escravidão promoveu uma 
revisão sobre o “viver escravo”. Não descartando a definição do cativo como propriedade e mercadoria, 
vulnerável a diversas transações comerciais, diversas pesquisas tiveram o cuidado de reconhecer 
homens e mulheres escravizados como sujeitos históricos. Entendem, portanto, a relação senhor e 
escravo de forma ativa e permeada de negociações, conquistas parciais, avanços e recuos das partes. 
No entanto, até os anos de 1980 e 1990, os estudos sobre o tema apresentaram outras conclusões. 
Vejamos.
Em fins do século XIX, os intelectuais de Ciência empregavam a ideia de uma hierarquia racial, 
em que o conceito de raça deixava de ligar-se à biologia para adentrar questões de cunho político 
e cultural. Pode-se citar, como exemplo de seguidor deste modelo, o médico Nina Rodrigues (1988). 
O autor destacava a necessidade de um conhecimento acerca dos diferentes povos africanos por 
Relações Étnico-Raciais e Direitos Humanos
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decorrência da mestiçagem em que a população brasileira vivia. O estudo justificava-se, pois, em torno 
da mestiçagem, “gravita o desenvolvimento da nossa capacidade cultural e no sangue negro havemos 
de buscar, como em fonte matriz, com algumas das nossas virtudes, muitos dos nossos defeitos” 
(RODRGUES, 1988, p. 14). Segundo ele, os comportamentos imorais dos escravos estariam associados 
ao estágio de desenvolvimento da raça negra, e, portanto, a promiscuidade estaria justificada por 
esse motivo.
Contrariando tais ideias, Gilberto

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