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Trabalho Teoria Psicanalítica

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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP
" COM AMOR, VAN GOGH ":
Uma análise de Van Gogh conforme os pressupostos psicanalíticos
Alunas:
Barbara Cristina – R.A:
Luana Duarte – R.A:
Raphaela Brito – R.A:
Tais Sales – R.A:
Tamara Duarte – R.A: T5762B4
Professora: Suzan Iaki
					
São Paulo
2018
INTRODUÇÃO 
O objeto de estudo da psicanálise concentra-se na relação entre os desejos inconscientes e os comportamentos e sentimentos vividos pelas pessoas, desta forma, o presente trabalho discorre sobre conceitos psicanalíticos aplicados ao filme “Com Amor, Van Gogh”, pois o filme baseado na vida e obra de Van Gogh é uma obra rica para análises psicanalíticas devido sua vida cheia de percalços desde seu nascimento até a morte. Falaremos dos conceitos principais que identificamos no filme, seus significados e aplicação.
O trabalho está dividido em dois pontos: vida e obra de Van Gogh e correlação com conceitos psicanalíticos, pois achamos importante explorar mais sobre a pessoa de Van Gogh, porque mais que sua obra, o filme, ele foi um ser humano com várias questões mal resolvidas que acarretaram nos desdobramentos que iremos abordar, é importante entender o contexto histórico, cultural, relação familiar e social para começar a estudar o sujeito.
Assim, a partir da observação, identificamos vestígios de traumas, desejos e ideias que tenham sido reprimidas para o inconsciente de Van Gogh e que, como consequência, provocaram distúrbios comportamentais.
A VIDA E OBRA DE VAN GOGH
Desde a tenra infância, Van Gogh vive a sombra de uma pessoa que já tinha morrido, seu irmão mais velho que coincidentemente, tinha nascido um ano antes no mesmo dia de seu nascimento, lhe causando confusão de identidade, de sua própria aceitação e de um posicionamento "seu lugar" no mundo.
Experimentou em todos os momentos de sua vida abandonos, quando criança com sua mãe, até a sua morte com seu médico.
Van Gogh transferia para suas pinturas toda a emoção e sentimentos contidos em si, dos seus fracassos e frustrações, principalmente no tocante a relacionamentos amorosos. Vislumbrava a possibilidade de estabelecer um laço com o outro. Sua arte era como "válvula de escape" para expressar através das formas e cores praticamente obsessivas, todo o movimento interior de sua inquietação, transmitia através da sua obra a realidade vivida por ele, que se fazia latente em todas as suas manifestações artísticas, em algumas vezes melancólicas e em outras trágicas como nos autorretratos.  Desta forma, jazia manifestada a psicose, como um conjunto de energias/conteúdos reprimidos no inconsciente, procurando romper a barreira para chegar até o consciente, que em muitos casos lhe causava desequilíbrios e sofrimentos emocionais para si e para aqueles que estavam a sua volta.
Quando se vê numa situação em que sente incapacidade de resolver seus conflitos e fracassos, impotência diante da realidade, seus desejos inalcançados e na constatação da sua própria limitação (supondo que não era suficientemente bom para nada que fazia), sua estrutura psíquica não suporta e o joga para a depressão e os ataques de humor, levando-o ao sabor da pintura e o dissabor das negativas nas vendas de seus quadros, entretanto, trazia um pouco de alivio a todo esse conflito e loucura vividos por ele.
Apesar de toda a instabilidade, mantinha sua opinião sobre sua arte, desagradando seus amigos com sua posição, porém, também ficava aborrecido pelo fato de não ser aceito, com isso se isolava e buscava uma compensação no amor e na religiosidade, que por sua vez não teve êxito também. 
Se sentia muito rejeitado, a margem da sociedade e quando seu melhor amigo Gauguin decidiu ir embora, ele o atacou, mas sem coragem de o ferir, acabou se ferindo, mutilando sua própria orelha, como numa tentativa de mostrar o quanto aquela separação era dolorosa.
CORRELAÇÃO COM CONCEITOS PSICANALÍTICOS
Ao longo do filme podemos ver vários conceitos psicanalíticos, dentre eles o complexo de édipo e os mecanismos de defesa, que são eles: sublimação, projeção e recalque.
Sabemos que o complexo de édipo surge entre os 3 e 5 primeiros anos de vida da criança. Nessa fase ocorre o desenvolvimento psicossexual da criança do sexo masculino e feminino, nessa fase a criança do sexo masculino começa a sentir um grande desejo pela figura materna e cria uma relação de conflito com a figura paterna. A criança cria um sentimento de ambivalência, ama-se a mãe odeia o pai.
No filme “Com Amor, Van Gogh” vemos que Van Gogh não passou pela fase do complexo de édipo. Percebemos isso na cena quando sua mãe sai de casa e segue em direção ao cemitério onde seu irmão mais velho estava enterrado. Van Gogh se aproxima de sua mãe tentando segura-la pela mão, mas a mesma o rejeita afastando-se dele. Segundo Freud, a superação do completo de édipo é necessária para que a criança do sexo masculino perceba o valor do pai na relação, estruturando assim sua personalidade/identidade. E a não superação dessa fase pode acarretar a algumas consequências no comportamento futuro em sua vida adulta. E por não ter tido essa relação com sua mãe, consequentemente não havia relação com seu pai, é observado que Van Gogh teria sido posto por sua mãe no lugar de seu irmão que nasceu morto, o que lhe teria causado um profundo conflito de identidade, em decorrência do fato de “ocupar” o lugar de um outro, de um morto, de ser ele o representante do desejo materno de negar a morte de um outro. Isso significa que, a mãe jamais reconhece e legitima esse filho em sua singularidade.
Com isso ocorreu o deslocamento do que se esperava no irmão falecido em Van Gogh, podemos dizer que devido a isso também ocorreu a condensação, já que ele tinha as suas vontades reprimidas para poder suprir os desejos de sua mãe e assim ocorria às misturas de características próprias deles com as esperadas sobre o seu irmão falecido.
Os mecanismos de defesa do Ego são processos do subconsciente desenvolvidos pela personalidade e que assim possibilita a mente a desenvolver uma solução para esses conflitos. Em outras cenas podemos ver nitidamente os mecanismos de defesa do ego, o primeiro mecanismo é a sublimação, que é quando o sujeito carrega em si um sentimento de angustia e não sabe lidar com esse sentimento e então sublima para algo “bom”. Van Gogh sublima toda sua angustia em seus quadros, ele opta, inconscientemente, por descontar toda sua raiva pela rejeição de seus pais para criação de quadros, para Van Gogh o sofrimento decorrido da reprovação de sua mãe que nunca aceitou o filho como ele é, acabando assim fazendo com que ele tentasse o suicídio até consegui-lo, como defesa das dores do Ego.
Mesmo com o passar do tempo ele assumindo as suas características próprias e se dedicando ao que sempre quis, em seu inconsciente sempre estava a rejeição materna e assim ele tinha uma fixação que é a evolução da personalidade pela persistência resultante de certos elementos incompletamente amadurecido.
Já a projeção vemos na relação o Dr. Gachet com Van Gogh. Quando Armand procura saber sobre a relação que o Dr. Gachet mantinha com o Van Gogh a princípio achava que a relação dos dois parecia harmoniosa, porém, relataram que os dois, por diversas vezes, discutiam. Falaram também que ambos apresentavam as mesmas características, tanto físicas como emocionais, chegaram a falar que eles tinham o mesmo olhar de tristeza. 
Dr. Gachet tinha um desejo de se tornar um pintor famoso, mas não tinha vocação assim como Van Gogh, então começou a falar que Van Gogh era tomado por uma solidão, e ao mesmo tempo começou a criticar suas atitudes, característico de alguém que faz projeção. A projeção é quando um determinado indivíduo atribui a outra pessoa os sentimentos inaceitáveis ou indesejados por si, tendo então a função de “proteger” e defender seu ego das ameaças. Dr. Gachet se sentia fracassado por não conseguir ter o mesmo talento de Van Gogh, e por isso sempre tentava atribuir a culpa do fracasso a Van Gogh paraproteger sua própria culpa.
O recalque é a exclusão dos sentimentos e desejos que o indivíduo não quer admitir que os têm. São recalcados então os traumas e conflitos que não foram resolvidos pelo indivíduo, e por não serem resolvidos eles podem se tornar neuroses, psicoses ou doenças psicossomáticas. Van Gogh recalcou todo sofrimento tido na infância, por isso tornou-se psicótico.
Podemos também destacar o estado de melancolia que Van Gogh se encontrava, pois desde o seu nascimento ele lidava com o luto de sua mãe que um ano antes havia perdido o seu filho mais velho, segundo Freud a melancolia seria uma psicose alucinatória do desejo e assim o melancólico volta seu ódio ou desejo contra si mesmo e não contra o outro ou o social. 
CONCLUSÃO
O trabalho possibilitou a aplicação dos conceitos de psicanálise aprendidos em sala de aula, de forma a transcender os conhecimentos, pois tivemos um olhar psicanalítico sobre vida e obra de um grande artista, procurando explicar através da psicanálise os motivos que desencadearam uma vida conturbada de Van Gogh.
Como um método investigativo, assim como é o papel do personagem principal do filme, que vai à busco de informações, diferentes pontos de vista para construir sua própria teoria a respeito de Van Gogh, nós também tivemos um papel investigativo para saber o que cada personagem representou na vida dele, como ele era visto e o porquê de uma vida social fracassada. 
REFERÊNCIAS 
FREUD, Sigmund. (1923-1925). O Ego e o Id e Outros Trabalhos. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol. 19. Rio de Janeiro: Imago, 1990, p. 101-110. 
COLEÇÃO FOLHA GRANDES MESTRES DA PINTURA. GOGH, Vincent Van. Barueri, SP: Editorial Sol 90 Folha de São Paulo, Vol. 1, 2007, p 13-29. 
ROSA, Kátia Margarete F. Da. Luto e Melancolia nas Teorias de Freud e Melanie Klein. Disponível em: <https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/luto-e-melancolia-nas-teorias-de-freud-e-melanie-klein> Acesso em 24/03/2018
RIVERA, Tania. Entre dor e deleite. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002012000300016> Acesso em 24/03/2018
Deslocamento e condensação. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/deslocamento-e-condensacao/40521> Acesso em 24/03/2018
MIRANDA, Alex Barbosa Sobreira De. Uma Breve Compreensão sobre o Complexo de Édipo. Disponível em: <https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/uma-breve-compreensao-sobre-o-complexo-de-edipo> Acesso em 30/03/2018

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