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Geomorfologia do livro Anna e o Planeta (Jostein Gaarder)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI 
INSTITUTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA 
BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA 
 
 
 
 
CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DO LIVRO ANNA E O PLANETA 
 
 
 
 
ANA CLARA MAGALHÃES 
HIAGO AGUIAR 
PLÍNIO AUGUSTO REIS 
 
 
 
 
 
 
DIAMANTINA 
2017 
1. INTRODUÇÃO 
 O presente trabalho consiste na caracterização geomorfológica do livro Anna e o 
Planeta, de Jostein Gaarder. Para tal, foram feitos levantamentos e caracterização de unidades 
como relevo, vegetação, clima e fauna, além da análise de elementos geomorfológicos e 
pedológicos. 
 O enredo do livro gira em torno de Anna, uma adolescente que começa a receber 
mensagens do futuro em seus sonhos. A personagem têm visões do ano de 2082, onde a Terra 
está desolada, castigada pela poluição, quase sem fauna e flora, e como temperaturas 
absurdamente altas. 
 A motivação principal para a escolha da obra foi, além da riqueza de detalhes sobre os 
dados que precisariam ser analisados e coletados para a confecção do trabalho, justamente o 
tema: como as atitudes dos seres humanos no presente podem afetar no futuro do planeta e, 
consequentemente, no futuro da própria população. 
“Coitados dos nossos descendentes, ela pensou, que não apenas teriam que 
suportar a vida num planeta enfraquecido pelo egoísmo e pela negligência 
das gerações anteriores, mas também teriam que viver cheios de cuidados” 
(GAARDER, 2017). 
 
2. DADOS DO LIVRO 
Anna e o Planeta, publicado em 2017 pela Editora Seguinte, possui 168 páginas e foi 
escrito pelo norueguês Jostein Gaarder, autor do sucesso O Mundo de Sofia. Jostein Gaarder 
estudou Línguas Escandinavas, Filosofia, Teologia e Literatura na Universidade de Oslo, e foi 
professor durante dez anos. É um dos escritores de maior destaque em seu país, tendo iniciado 
sua carreira em 1986. 
A história se passa durante dois anos distintos, 2012 e 2082, na capital da Noruega, 
Oslo. Em 2012, Anna está prestes a completar 16 anos e tem uma grande preocupação acerca 
do aquecimento global. Ela tem medo que as mudanças climáticas causadas pelo homem 
coloquem o meio ambiente em risco e, consequentemente, prejudique as gerações que virão 
depois. 
Quando dorme, Anna sonha que está na pele da sua bisneta, Nova, no ano de 2082. 
Nova vive num mundo diferente do que existe hoje: quase não existem animais e florestas, a 
poluição é visivelmente perturbadora e as temperaturas são tão altas que é impossível 
imaginar a situação dos pontos congelados do Globo. Por acreditar que os sonhos são reais, 
Anna decide fazer alguma coisa, qualquer coisa, para que essa tragédia não aconteça. Essa 
empreitada parece praticamente impossível, mas ela contará com a ajuda do seu namorado 
Jonas e do psiquiatra Dr. Benjamin. 
“A principal causa da morte de tantas plantas e de tantos animais é o 
aquecimento global, que acelerou vertiginosamente há algumas décadas. 
Cem anos atrás o planeta era um lugar maravilhoso. No decorrer do século, 
porém, perdeu muito de seu encanto. O mundo jamais voltará a ser como 
antes. Já faz muito tempo que a humanidade parou de despejar dióxido de 
carbono na atmosfera— que coisa mais idiota!—, mas não é possível extrair 
os gases do efeito estufa do ar. O planeta passou por vários pontos de 
inflexão cruciais. Não são mais os homens os responsáveis pelo 
aquecimento global. Os processos agora acontecem por conta própria” 
(GAARDER, 2017). 
Os capítulos de Anna e o Planeta são alternados entre as protagonistas, o que permite 
uma ampla visão dos acontecimentos tanto no passado, quando no futuro crítico que a Terra é 
submetida. A narrativa, apesar do tom mais didático, é de fácil compreensão, acompanhando 
duas garotas críticas e totalmente determinadas a salvar o planeta. 
3. CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS ÁREAS ONDE SE PASSA A HISTÓRIA 
 A maior parte da trama se passa na Noruega, um país nórdico da Europa 
setentrional que ocupa a parte ocidental da Península Escandinava, a ilha de Jan Mayen e 
o arquipélago ártico de Svalbard, através do Tratado de Svalbard. A parte continental do país 
divide fronteira a leste com a Suécia e ao norte com a Finlândia e a Rússia. 
 Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou, pelo 12º ano 
consecutivo, que a Noruega é o país com o melhor Índice de Desenvolvimento Humano 
(IDH) entre as 188 nações analisadas, seguindo parâmetros de expectativa de vida e educação. 
 Segundo uma publicação no site Lonely Planet, a Noruega destaca-se por formações 
rochosas naturais que lembram plataformas e proporcionam visuais panorâmicos e 
oportunidades para fotografias perfeitas. Nas alturas, a grande atração é a rocha Trolltunga, 
localizada em Odda, que pode ser observada na figura 1. 
 
Figura 1. Trolltunga, rocha que se assemelha a uma “língua esticada pra fora” (daí o nome), sobre um 
precipício a 700m em relação ao lago Ringedalsvatnet. Fonte: Google Imagens. 
 A Trolltunga faz parte da Região do Hardangerfjord, o quarto fiorde mais longo do 
mundo e o segundo mais longo da Noruega. Na área continental do país, predomina a 
paisagem de montanhas, platôs e fiordes (golfos estreitos e profundos, delimitados por 
montanhas). O terreno glacial é formado em maior parte por platôs altos e montanhas ásperas, 
através dos quais aparecem vales férteis; possui pequenas e irregulares planícies, a linha 
costeira bastante recortada por fiordes e tundra ao norte. 
 O clima da Noruega pode ser oceânico, continental, subártico e alpino. Os verões são 
amenos e os invernos longos e rigorosos, com ventos extremamente fortes e bastante neve. Na 
cidade de Oslo (figura 2), por exemplo, as temperaturas atingem aproximadamente -10ºC. 
Diferente de outros países escandinavos, a Noruega possui uma grande faixa litorânea à beira 
do Mar do Norte e do Mar da Noruega que é aquecida pela corrente do golfo, fazendo com 
que se apresente mesmo no mês mais frio, janeiro, regiões com temperaturas médias 
superiores a 0 °C, sendo mais comum precipitações em forma de chuva do que neve. 
 
Figura 2. Oslo no inverno, onde as temperaturas chegam a -10ºC. Fonte: Google Imagens. 
 O ponto mais baixo do país é o Mar da Noruega, a zero metro de altitude. Já o ponto 
mais alto é a montanha Galdhøpiggen (figura 3), localizada na cordilheira Jotunheimen com 
2469 metros de altitude. As 29 montanhas mais altas da Noruega estão inclusas na cordilheira 
supracitada. Os principais rios são o Klarälven, cuja nascente está localizada na Suécia, e o 
Vinnu. 
 
Figura 3. Vista do Galdhøpiggen, o ponto mais alto da cordilheira Jotunheimen e também da Noruega. 
 As florestas da Noruega cobrem cerca de 38% do território do país, porém, a tundra é 
o bioma predominante, cuja vegetação é marcada pela presença de pequenos vegetais 
espaçados entre si, com predominância para arbustos, ervas, liquens e musgos. Essas espécies, 
no entanto, só se desenvolvem durante os meses de verão, quando as temperaturas são menos 
frias, chegando às máximas de 10ºC. Durante o restante do ano, os solos e os vegetais 
permanecem congelados, sob condições de temperaturas que chegam à -20ºC. 
4. LEVANTAMENTO E DEFINIÇÃO DOS ELEMENTOS QUE REPRESENTAM A 
PAISAGEM 
No livro, as cenas se passam em diversos lugares com morfologias distintas, onde a 
personagem Anna, através de seus sonhos, faz viagens entre o presente e o futuro. 
Localizada ao norte da Europa, já na altura da Groelândia, a Noruega é um país de 
baixas temperaturas. Na região de Oslo, as rochas pertencem a um grupo metassedimentar, 
formadas na era paleozoica entre 488 e 444 milhões de anos atrás. 
No local há predominância de uma morfologiaglacial, no parágrafo abaixo, retirado 
do livro, percebe-se a presença de montanhas baixas, formando peneplanos em seu topo; 
também há montanhas mais altas com picos pontiagudos. 
“Quinze minutos depois, já tinha chegado ao planalto da montanha. A 
imponente estepe estava banhada pelo sol do inverno, e seu topo 
descampado se estendia até onde alcançava a vista, com montanhas altas 
com planícies aos seus arredores” (GAARDER, 2017). 
Em trechos como “nem no alto da montanha, nem nas planícies abaixo a neve não 
caiu” e “lá no alto a vegetação é rasteira”, pode-se notar a presença da tundra, que é um bioma 
característico de regiões do hemisfério norte, principalmente próximas ao Ártico. O clima da 
tundra, portanto, é o polar: muito frio e seco, com poucas precipitações. Em razão dessas 
condições climáticas severas, das baixas profundidades do solo e da ausência de claridade, 
não existe nenhum tipo de floresta densa com árvores altas nessas áreas. Nessa região, como a 
precipitação de chuva é muito baixa e devido à temperatura, ocorre o favorecimento da erosão 
glacial, que ocorre quando os blocos de gelo derretem a ponto de deslizar sobre a terra. O 
atrito causado entre a geleira e o solo forma um tipo de erosão nas encostas das altas 
montanhas que tem um formato de “U”. 
A história se passa também em um futuro um pouco mais distante, onde, devido aos 
efeitos do aquecimento global, o gelo derreteu e o solo ficou exposto à superfície. No seguinte 
parágrafo, pode-se perceber que a mata tomou o lugar do gelo, alterando o bioma da região. 
“Deixou para trás as encostas íngremes e chegou ao platô. Também ali as 
bétulas vicejam emaranhadas. Ela sabe que a área costumava ser um cume 
ermo, mas o campo aberto está repleto de bétulas e arbustos. Ocultas pela 
vegetação densa, ela já não consegue ver nem a estepe nem as rochas preto-
azuladas da montanha. Sabe que em algum lugar atrás da mata de bétulas, 
nos picos da montanha, existe um local coberto de musgo e líquen; sabe que 
naquela altitude é possível aprender mais sobre mitos e lendas antigos; 
talvez conheça o terreno o suficiente para encontrar o caminho que leva até 
o meio daquela vastidão de trilhas e estradas cobertas por pedregulhos, mas 
simplesmente não consegue avistá-los de onde está” (GAARDER, 2017). 
Já no trecho “[...] nas encostas das colinas do outro lado do rio ela consegue avistar a 
grande quantidade de solo erodido e a rodovia que se destaca no terreno”, é possível observar 
a presença da erosão causada pela água que depositou sedimento nas trilhas e na beira da 
estrada. 
Outra evidência da mudança pode ser percebida no trecho “Me dê o mundo. Me dê um 
rebanho de renas selvagens em Hardangervidda, outro em Jotunheimen e outro em Rondane. 
Faça o que eu digo já. Se não, pode levantar e ir embora”, onde muitos animais se 
extinguiram e outros deixaram seu habitat natural pra buscar uma região onde clima 
favorecesse sua existência. 
Hardangervidda é um planalto montanhoso que fica localizado na região de 
Hardanger, ao norte da Noruega, próximo a Oslo. É o maior planalto do gênero na Europa, 
além de ser o local onde se situa a maior geleira norueguesa. O ponto mais é a montanha 
Sandfloeggi, com cerca de 1721 metros de altitude. 
A geologia de Hardangervidda é bastante antiga, com indícios de ações glaciares 
ocorridas na Era do Gelo. O terreno, bastante rochoso, indicam formações dos períodos Pré-
Cambriano e Cambriano-Siluriano. O local pode ser observado na figura 4, abaixo. 
 
Figura 4. O planalto montanhoso Hardangervidda é o maior do gênero na Europa. Fonte: Google Imagens. 
 Rondane é uma área montanhosa típica, com planaltos grandes e dez picos com 
altitudes acima de 2000 metros. Nas partes mais baixas, o solo e as rochas são cobertos por 
urze e líquens. Em altitudes acima de 1500 metros, as áreas são praticamente estéreis. 
 Além disso, as montanhas são divididas por vales, sendo o mais estreito preenchido 
pelo lago Rondvatnet. Também há vales de pedras chatas, abaixo das paredes de montanhas 
íngremes, conhecidos por botns. Apesar de não receber precipitações para gerar geleiras 
permanentes, há acumulo de neve nos vales traseiros. Em muitas partes da região, existem 
geleiras da idade do gelo e pequenas colinas peculiares chamadas eskers. A região pode ser 
analisada na figura 5, abaixo. 
 
Figura 5. Vista panorâmica de Rondane. Fonte: Google Imagens. 
5. DISCUSSÃO: O QUE REPRESENTAM OS ASPECTOS NATURAIS PARA O 
ENREDO DO LIVRO 
De acordo com o enredo do livro, é possível concluir que a natureza como um todo 
pode ser tratada como um personagem, já que tudo gira em torno dela. A história se baseia 
nos aspectos naturais da região, onde a morfologia glacial foi de grande importância para o 
seu desenvolvimento. 
À medida que a personagem Anna foi percebendo as mudanças na fisionomia do 
ambiente ao seu redor, foi surgindo dentro dela uma revolta para com as atitudes dos seres 
humanos em relação aos cuidados com o planeta. Isso criou todo o contexto para que a 
história fosse desenvolvida. 
Como resultado do aquecimento global, o derretimento das geleiras em alguns pontos 
do planeta desencadeou vários processos que, em condições normais, não aconteceriam. Por 
exemplo, a presença de bétulas em uma área que costumava ser um cume ermo significa que 
muito da fauna e da flora montanhosa, antes característica do local, foi perdida devido às 
mudanças climáticas. O fator do aparecimento desse tipo de vegetação em altas atitudes é a 
seca, fazendo a paisagem perder suas peculiaridades. 
Outro ponto bastante discutido pelos personagens é a extração de recursos naturais, 
que além de alterar drasticamente a paisagem – principalmente quando as áreas de explotação 
não são recuperadas –, acabam deixando resíduos tóxicos no meio ambiente. Tais fatores 
interferem diretamente no desaparecimento da biodiversidade. 
No decorrer da narrativa, o autor não se poupou em descrever as mudanças nas 
características do local apresentado, demonstrando certo exagero ao colocar o homem como 
culpado principal para as mudanças climáticas no mundo. 
O planeta Terra, desde seus primórdios, vem sofrendo mudanças e vai continuar em 
constante evolução. É verdade que o homem tem uma influência nesse processo, mas não de 
forma tão exagerada como representada pelo livro. Porém, a crítica apresentada é 
extremamente importante para a conscientização acerca do tema abordado na literatura. 
“Nenhuma das paisagens pelas quais ela navega é imaginária. É um jogo 
com apenas duas coordenadas: tempo e espaço. A Amazônia de 1960 não é 
a Amazônia de 2060. O Serengueti de 2080 não é o Serengueti de 1980. A 
Terra de 2082 não é a Terra de 2012” (GAARDER, 2017). 
6. REFERÊNCIAS 
GAARDER, Jostein. Anna e o Planeta. São Paulo: Editora Seguinte, Grupo Companhia das 
Letras, 2017. 168 p. 
GRUPO COMPANHIA DAS LETRAS. Jostein Garder. Disponível em: < 
https://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=00176>. Acesso em: 09 set 2017. 
HARDANGERVIDDA.COM. Hardangervidda National Park. Disponível em: 
<http://en.hardangervidda.com/Hardangervidda-National-Park>. Acesso em: 10 set 2017 
HUGHES, Roland. Cinco razões para não ser fã da Noruega, o “melhor país para se 
viver”. Disponível em: 
<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151217_noruega_melhor_mdb>. Acesso 
em: 10 set 2017 
KRÁS, Lígia. 10 curiosidades sobre a Noruega. Disponível em: < 
http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Visao/noticia/2015/05/10-curiosidades-sobre-
noruega.html>. Acesso em: 10 set 2017 
LONELY PLANET. Norway. Disponível em: < https://www.lonelyplanet.com/norway>. 
Acesso em: 09 set 2017. 
NASJONALPARKENE. Rondane national park. Disponívelem: 
<http://www.nasjonalparker.org/en/nasjonalparkene/rondane/>. Acesso em: 09 set 2017. 
NASJONALE TURISTVEGER. Hardangervidda. Disponível em < 
http://www.nasjonaleturistveger.no/en/routes/hardangervidda>. Acesso em: 09 set 2017. 
NEXT STOP NORWAY. Top Hikes: Galdhøpiggen – The Highest Moutain in Norway. 
Disponível em: < https://nextstopnorway.com/explore/galdhopiggen-hike/>. Acesso em: 09 
set 2017. 
PENA, Rodolfo Alves. Tundra. Disponível em: 
<http://brasilescola.uol.com.br/geografia/tundra.htm>. Acesso em: 10 set 2017. 
SUMIT POST. Galdhøpiggen. Disponível em: < http://www.summitpost.org/galdh-
piggen/150792>. Acesso em: 11 set 2017.

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