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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO “A INFLUÊNCIA DO BULLYING NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM” MARINA DE OLIVEIRA CHIORLIN SÃO CARLOS 2007 Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO “A INFLUÊNCIA DO BULLYING NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM” Marina de Oliveira Chiorlin Redação Final do Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à banca examinadora como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia. Orientador: Eduardo Pinto e Silva SÃO CARLOS 2007 Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus que me possibilitou a existência, e sempre esteve comigo me guardando para que nenhum mal me acontecesse e me deu forças em todos os dias de minha vida. Agradeço ao meu pai e a minha mãe por terem me ensinado a sempre lutar pelos meus sonhos, pelo imenso incentivo e apoio na conquista de meus objetivos, sem vocês comigo nessa trajetória, não teria chegado aonde cheguei. Agradeço ao Rodrigo pelo carinho e por sempre estar ao meu lado nos momentos em que precisei de compreensão, e palavras de estímulo para seguir em frente sem fraquejar. Agradeço a Direção da escola por ter aberto suas portas para a realização dessa pesquisa. Agradeço aos professores e professoras da escola pela disponibilidade e pela grande e, indispensável contribuição. Agradeço ao Professor Eduardo, pela dedicação, pela competência na orientação desta pesquisa, e pelos saberes compartilhados no percurso de elaboração deste trabalho que foram essenciais para a conquista deste resultado. Agradeço a todas as Professoras e Professores desta Universidade que passaram pela minha vida acadêmica e me ensinaram o verdadeiro sentido e a devida importância da palavra Educação. Agradeço as colegas de sala, em especial a Lígia e a Cassiana que compartilharam as angústias, as dificuldades, as conquistas, as dúvidas, e os problemas encontrados durante o caminho que agora chegou ao fim. Enfim, agradeço a todos, de coração, por terem me ajudado direta ou indiretamente durante minha graduação e na elaboração deste trabalho. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. RESUMO Este trabalho analisa a visão dos professores de uma escola estadual de Ensino Fundamental sobre a influência do bullying no processo de ensino-aprendizagem através de questionários e entrevistas semi-estruturadas. Verificou-se que os professores consideram que a vítima do bullying tende a apresentar agressividade, medo, isolamento, diminuição da concentração e da auto-estima, prejudicando o aprendizado. Os professores tendem a atribuir o fenômeno à família ou à personalidade do aluno e, embora o relacionem também aos problemas sociais e à mídia, não o fazem de forma suficientemente aprofundada. Palavras-chave: bullying, processo ensino-aprendizagem, professores, violência, instituição. . Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. ABSTRACT This work analyzes the teacher’s views from a public school of Basic Education about the influence of bullying in the process of teaching-learning through questionnaires and half- structuralized interviews. It was noticed that the teachers consider that the victim of bullying tends to present aggressiveness, fear, isolation, reduction of the concentration and of self- esteem, becoming the learning process difficult. The teachers tend to attribute the phenomenon to the family or to the personality of the pupil and, even so they relate it also to social problems and to the media, it is not deep enough. Key-Words: bullying, process teaching-learning, teachers, violence, institution. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. LISTA DE FIGURAS GRÁFICO 1 Formas como acontecem as intimidações/ provocações...................18 GRÁFICO 2 Fatores primordiais de influência das provocações/intimidações entre os alunos...................................................................................19 GRÁFICO 3 Aspectos percebidos nas vítimas de provocação..............................25 Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. SUMÁRIO INTRODUÇÃO..............................................................................................................1 CAPÍTULO 1- Referencial Teórico...............................................................................2 · As violências que nos cercam.............................................................................2 · Uma especificidade: O fenômeno bullying.........................................................6 CAPÍTULO 2 – Metodologia........................................................................................11 · Contextualização...............................................................................................11 · Participantes.....................................................................................................12 · Instrumentos utilizados e justificativa..............................................................13 · Procedimento e dinâmica da coleta de dados..................................................14 CAPÍTULO 3 – Apresentação e Análise dos Dados....................................................18 CAPITULO 4 – Considerações Finas...........................................................................28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................31 APÊNDICES...............................................................................................................33 ANEXOS....................................................................................................................... Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. INTRODUÇÃO O presente trabalho diz respeito à redação final da monografia de conclusão de curso apresentada como um dos requisitos para a obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal de São Carlos e tem como intenção contribuir para o desenvolvimento de capacidades científicas e crítico-reflexivas do futuro pedagogo. Neste trabalho foi proposta uma investigação sobre a influência do fenômeno bullying no processo de ensino-aprendizagem de alunos de uma escola da cidade de São Carlos a partir da visão dos professores acerca dessa problemática. A coleta de dados se deu através da aplicação de questionários e realização de entrevistas. O objetivo geral foi o de compreender o fenômeno bullying e as relações deste com o processo de ensino-aprendizagem, visando contribuir com subsídios para o esclarecimento acerca de tal fenômeno e, conseqüentemente, apontar caminhos para a melhoria da qualidade da educação. Nosso objetivo específico foi o de investigar através da visão dos professores, se o fenômeno bullying influenciaria negativamente o processo de ensino-aprendizagem. O trabalho foi organizado em quatro capítulos: o primeiro capítulo discute a questão da violência, da violência escolar, e da indisciplina na sociedade atual visto que esses são assuntos que perpassam a problemática do fenômeno estudado; neste capítulo também é feita uma definição do conceito de bullying bem como a discussão de suas conseqüências no cotidiano da escola e sua relação com outros aspectos da sociedade. O segundo capítulo apresentaa metodologia de pesquisa utilizada, a contextualização do local de pesquisa e a justificativa da escolha do objeto, além de apresentar o procedimento e a dinâmica da coleta de dados. No terceiro capítulo apresentamos e analisamos os dados coletados buscando compreender a relação existente entre o fenômeno bullying e o processo de ensino- aprendizagem, além de discutirmos outros aspectos que foram levantados no decorrer da pesquisa. E por fim, nas considerações finais, sintetizamos as principais discussões realizadas ao longo do trabalho, buscando apontar alternativas para contribuir com a melhoria da qualidade da educação brasileira. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. CAPÌTULO 1 REFERENCIAL TEÓRICO As violências que nos cercam Atualmente vivemos em uma sociedade na qual a violência tornou-se parte do nosso cotidiano e, nesse sentido, a escola como instituição pertencente a ela, também acaba envolvida por esse problema. Conforme nos aponta Silva (2006), a violência nas escolas, atualmente, pode ser considerada um fato. A violência é um fenômeno complexo e multifacetado, que foi social e historicamente construído, conforme Silva (2006) "a violência está nos próprios fins de uma determinada forma de organização social, sob forma de exploração do homem pelo homem", ou seja, a violência provém de uma estrutura social construída no percurso da história da humanidade, seus sentidos se definem conforme seu contexto cultural, social e econômico, variando de acordo com o sistema de valores adotados por cada sociedade (Fante, 2005). Podemos nos referir ao fenômeno da violência não apenas em suas manifestações físicas, tais como crimes, homicídios, roubos, mas também às situações de humilhação, indiferença, desrespeito, exclusão, presentes nas relações estabelecidas dentro das instituições como a família, a escola, entre outras instituições que, através de sua dinâmica, exercem ações coercitivas que, de alguma maneira, causam prejuízos físicos e/ou psicológicos nos sujeitos dessas relações, o que pode ser caracterizado, nesse sentido, como uma violência invisível, que também pode ser nomeada de assédio moral, como define Heloani (2003). No entanto, o assédio moral diz respeito à violência invisível que ocorre nos locais de trabalho, na relação existente entre os funcionários na qual um ou mais indivíduos colocam um terceiro numa situação de humilhação em que ele é levado a uma posição de “fraqueza psicológica” (Leymann, Apud Heloani, 2003). Porém, outros autores (Smith & Sharp, 1994) vão denominar esse tipo de fenômeno, mesmo nos locais de trabalho, como bullying. Costa (Apud Fante, 2005, p.155) apresenta uma definição interessante sobre violência: “é uma particularidade do viver social, um tipo de 'negociação’, que através do emprego da força ou da agressividade visa encontrar soluções para conflitos que não se deixam resolver pelo diálogo e pela cooperação.". Para complementar essa idéia, cabe Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. acrescentar, que as relações de poder também são um meio de 'negociação', como referido acima, e que essas muitas vezes se dão de forma oculta, não aparente. Entretanto, ao estudar a violência em seu nível micro, ou seja, a violência escolar, dá-se ênfase ou a aspectos individuais, ou a aspectos sociais tratando-os como entidades separadas (Medeiros, 2006). Porém, ambos estão intrinsecamente relacionados, mas a escola, de maneira geral, acaba revertendo esse problema a aspectos individuais dos alunos (Aquino, 1998). O comportamento agressivo ou violento é resultante de diversos fatores dentre eles, os fatores de ordem econômica e social como a desigualdade social; o desemprego; a pobreza; a competitividade imposta pelo sistema capitalista; a exclusão social. Nesse sentido o comportamento violento não está atrelado somente à personalidade do indivíduo, ou ainda, aos problemas de relações inter-pessoais. Fante (2005) acrescenta: “a exclusão social, principalmente da infância e da juventude, é uma das causas que fazem com que prolifere a violência, pois uma vez excluídos do convívio social, os jovens não encontram outra alternativa senão a violência - uma forma de mostrarem que existem e que também fazem parte do mesmo contexto social". (p.170) Complementando a posição de Fante (2005), também é preciso considerar que na sociedade atual a violência não é apenas uma maneira de o jovem se destacar frente ao restante da sociedade. Muitas vezes os protagonistas da violência dentro da escola são vítimas de um sistema social excludente e a violência para eles se torna uma alternativa de "sobrevivência", pois em meio à tamanha exclusão social o jovem rende-se ao caminho “mais fácil” que encontra diante de sua realidade, que é partir para o mundo do crime, do narcotráfico, não que ele tenha escolhido seguir por esse caminho, mas o sistema social acaba propiciando essa condição. Frente a essa realidade, a escola não tem meios, nem subsídios para impedir a influência desses fatores externos sobre a vida de seus alunos e acaba se tornando alvo dos casos de violência praticados por conta desses fatores externos, uma vez que estão além do controle que ela pode exercer. De acordo com Debarbieux (Apud Abramovay, 2003), a violência na escola pode estar associada a três dimensões: a primeira dimensão seria a dificuldade de gestão da escola, resultando em estruturas deficientes; a segunda dimensão seria o contexto social, isto é, a violência que se origina fora e se infiltra na escola através da manifestação de gangues, tráfico de drogas e da crescente exclusão social na comunidade escolar; e por fim, a terceira Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. dimensão se deve aos componentes internos de cada escola, ou seja, suas especificidades, a cultura da escola. Estudos apontam que a violência escolar vem aumentando nos últimos anos (Medeiros, 2006). O número de pesquisas relacionadas ao assunto também têm aumentado significativamente, principalmente na década de 90 (Sposito, 2001). Essas pesquisas sobre violência escolar, de acordo com Sposito (2001), tiveram dois enfoques principais: o primeiro era investigar a violência como "decorrência de um conjunto significativo de práticas escolares inadequadas" e o outro era considerar a violência escolar como "um dos aspectos que caracterizam a violência na sociedade". Como resultado dessas pesquisas pôde-se definir as principais modalidades da violência escolar: ações contra o patrimônio, isto é, depredações, pichações; e formas de agressão interpessoal, sobretudo entre os próprios alunos (Sposito, 2001). Apesar de sempre ter existido, a violência escolar com o passar dos anos teve suas formas de manifestação transformadas, e segundo Sposito (2001), no Brasil esse tema começou a ter repercussão no debate público no início dos anos 80, quando o país passou pelo processo de reabertura política e redemocratização. Nesse sentido, tornou-se visível para a sociedade a rotina do sistema de ensino público no Brasil, que outrora foi ocultado pela ditadura militar. O problema da violência atinge o âmbito escolar de distintas formas, manifestadas através de furtos, agressões verbais e físicas, ameaças, depredações contra o patrimônio, entre outras, concreta, ou ainda, de forma simbólica. O conceito de violência simbólica foi desenvolvido pelo sociólogo Pierre Bourdieu, segundo ele (Bourdieu, 1970, Apud Vasconcelos, 2002), a violência simbólica é o mecanismo que as instituições dominantes e seus agentes se utilizam para legitimar a dominação sobre uma classe, de forma que esses indivíduosvejam como “naturais” as representações e as idéias dos dominantes. Em outras palavras, é uma maneira oculta de impor os ideais de uma classe dominante, de modo que seja possível gerir a sociedade em favor do exercício de dominação. Nesse sentido, a escola é encarada como um dos meios de prática da violência simbólica. Outra forma de violência simbólica é a criação de um estigma ou marca negativa por um indivíduo ou grupo a outrem, com a intenção de inferiorizá-lo socialmente. Isto faz com que se preservem as normas e condutas do grupo social já estabelecido (Silva Filho, 2004). Dessa forma, o fenômeno bullying pode ser relacionado como uma manifestação de violência dentro da escola, caracterizado como violência Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. simbólica, mas que algumas vezes se manifesta de maneira concreta, por meio de violência física, entre outras. A questão da violência escolar nos mostra ainda que ela pode ser interpretada de formas distintas: como violência na escola e violência da escola. A violência na escola é aquela que se manifesta na relação entre os alunos, que pode ser influenciada de alguma forma por fatores externos, ou entre alunos e professores, e que pode acarretar em prejuízos no processo de ensino-aprendizagem. A violência da escola é aquela que se dá através da dinâmica da instituição como forma de coerção sobre os alunos, isto é, seus programas, a organização do tempo e do espaço, e as relações de poder instituídas nesse contexto. Esta muitas vezes reverte-se em reações dos alunos na forma de apatia, indisciplina e violência, que geralmente acabam sendo mal interpretadas, transferindo toda a "culpa" para os alunos (Aquino, 1998). Nesse sentido, é importante se ter uma clara definição sobre o significado de indisciplina. A indisciplina é sempre um tema polêmico a ser discutido. Porém, é um problema presente e constante em todas as escolas do mundo, seja ela particular ou pública. A imagem da escola na atualidade está ameaçada. Podemos afirmar até que ela está passando por uma grande crise, pois seus moldes não se transformaram seguindo o ritmo da transformação da sociedade. A sociedade de hoje não se comporta como a sociedade do início do século passado. Entretanto, a escola perdura com a estrutura similar daquela época. Nesse sentido, o fenômeno da indisciplina pode ser relacionado intrinsecamente com o problema que a própria estrutura da escola apresenta, e que seus alunos, através de comportamentos indisciplinares, refletem essa “deficiência” ou “ineficiência” da escola. A indisciplina escolar indica que existe uma recusa desse novo sujeito histórico, que a sociedade atual produziu, em relação às práticas arraigadas no cotidiano escolar. A indisciplina é uma tentativa de apropriação da escola de outra maneira, mais aberta, mais fluida, mais democrática, diferente da escola de antigamente (Aquino, 1998). Contudo, a indisciplina geralmente é remetida a fatores individuais dos alunos, caracterizando-os como: alunos desrespeitadores, alunos sem limites, alunos desinteressados, de maneira geral os “alunos-problema” da escola. Mas o fato do profissional da Educação taxar seus alunos dessa maneira pode ser considerado, de acordo com Aquino (1998), como um “equívoco ético”, uma vez que a disciplina não é requisito para a ação pedagógica, e sim um dos produtos ou efeitos do trabalho cotidiano na sala de aula. Portanto, o professor não deve abandonar sua função, justificando que os alunos não dão conta de aprender ou não dão Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. conta de se comportar e entrar nos padrões exigidos para se estar na escola, ou ainda, que possuam problemas, mas sim transformar suas ações, buscando novas formas de atuação para tornar essa função altamente atrativa para seus alunos. Eis o desafio de ser professor. A violência no âmbito escolar é uma realidade que não pode ser negligenciada. Investir em pesquisas e ações na questão da violência e indisciplina na escola é um fator imprescindível para a garantia da qualidade do processo de ensino-aprendizagem e para uma compreensão crítica acerca da dinâmica da instituição escolar, visto que esses fenômenos estão intrinsecamente ligados à prática educativa nos dias de hoje. Diante disso, levar em consideração as interações entre os alunos dentro da escola, tendo em vista que sua identidade é construída pelos processos de socialização em diferentes espaços, é uma das formas de se construir uma cultura escolar na qual se estabeleçam práticas escolares mais democráticas e menos excludentes. Uma especificidade: o fenômeno bullying O fenômeno bullying diz respeito a uma modalidade específica de violência na escola: a violência intraescolares (Fante, 2005). Embora o termo seja empregado, sobretudo para referir-se a tal modalidade de violência, o fenômeno bullying também se faz presente em outros âmbitos, tais como os locais de trabalho, família, comunidade e outros contextos sociais (Smith & Sharp, 1994). Heloani (2003) é um dos autores que discutem no Brasil, sobre uma das “vertentes” de compreensão do fenômeno da violência oculta nas relações sociais, denominado por ele, como dito anteriormente neste trabalho, de assédio moral. O assédio moral é característico do mundo corporativo, no qual os algozes costumam ser pessoas de cargo mais elevado dentro das relações de trabalho que abusam de seu poder e da situação de fragilidade de seus liderados. As vítimas se sentem encurraladas e não denunciam o abuso por temer a possibilidade de demissão do emprego. Dentre as conseqüências do assédio moral está o desenvolvimento de patologias como úlcera, cefaléia e depressão (Heloani, 2003). O bullying escolar, de acordo com Fante (2005, p.28), é caracterizado como uma manifestação de atitudes agressivas intencionais e repetidas que ocorrem sem motivação evidente e que são adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), executadas dentro de uma relação desigual de poder, tornando possível a intimidação da vítima, causando a ela dor, angústia e sofrimento, já que esta é ridicularizada, insultada e/ou hostilizada. Tal fenômeno Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. geralmente relaciona-se à exclusão do aluno vitimado, provocando distintos danos (físicos, morais, psicológicos, materiais etc). Na definição de Smith & Sharp (1994), bullying é descrito como sistemático abuso de poder e esse abuso têm como característica ser repetitivo e deliberado, podendo ocorrer em diversos contextos, como já dito, incluindo locais de trabalho e o lar. De acordo com esses autores, bullying é um problema presente nos grupos sociais em que há uma clara relação de poder (Smith & Sharp, 1994, p. 2). A palavra bullying se origina da palavra bully que pode ser designada como verbo sendo traduzido como "tiranizar", "brutalizar", "amedrontar", ou ainda, ser designada como substantivo, traduzido como "valentão", " tirano". Dessa forma, de acordo com Fante (2005, p.28) bullying pode ser entendido como um "subconjunto de comportamentos agressivos, sendo caracterizado por sua natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder". Fante (2005) aponta que existem três tipos de pessoas envolvidas nessa situação de violência: o espectador, o agressor, e a vítima. No entanto, esta última possui em sua classificação três categorias. O espectador é aquele que presencia as situações de bullying e não interfere e que representa a maioria dos alunos que convive com o problema. Sua omissão deve-se pelo fato de temer represálias, ou ser a próxima vítima de ataque do agressor e, nesse caso, prefereadotar a “lei do silêncio”. O agressor é aquele que vitimiza os mais fracos e costuma manifestar pouca empatia. Ele impõe mediante o poder e ameaça para alcançar aquilo a que se propõe. Geralmente é mais forte que seus companheiros de classe, por ser mais velho ou maior fisicamente que suas vítimas, ou ainda, por apresentar maior habilidade física nas brincadeiras e nos esportes. A vítima é aquela freqüentemente ameaçada, intimidada, isolada, ofendida, discriminada, agredida. Recebe apelidos e provocações, tem os objetos pessoais furtados ou quebrados, mas pode ser diferenciada em sua classificação quando serve de bode expiatório para um grupo e não consegue reagir diante das agressões sofridas, pois tem dificuldades de impor-se ao grupo. Neste caso, ela pode ser denominada de “vítima típica”. Quando a vítima consegue reagir e se torna agressiva com quem a agrediu, e costuma causar tensões no ambiente em que se encontra, essa pode ser caracterizada como “vítima provocadora”. Por fim, a vítima que reproduz os maus-tratos que sofreu em indivíduos mais frágeis que ela, para transformá-los em bode expiatório buscando dessa forma, transferir as agressões sofridas. Neste caso, ela pode ser denominada como “vítima agressora”. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. O fenômeno bullying pode ser distinguido por três formas (Medeiros, 2006, p. 26): o bullying físico, no qual há agressão física do agressor para com a vítima; o bullying verbal, no qual o agressor apelida ou qualifica sua vítima de modo injurioso; e por fim, o bullying afetivo, no qual o agressor é excluído de seu grupo de colegas. As conseqüências do bullying escolar afetam todos os envolvidos, mas sobretudo a vítima é a que apresenta maiores prejuízos (Fante, 2005). Dentre os aspectos percebidos nas vítimas estão a baixa auto-estima, sentimentos negativos e pensamentos de vingança, dificuldades de aprendizagem, queda no rendimento escolar, estresse, depressão, afetando dessa forma seu desenvolvimento emocional e social, podendo gerar até comportamentos agressivos. A não superação do trauma causado pelas humilhações sofridas pode repercutir em efeitos que o indivíduo levará para a sua vida, tornando-se um adulto introspectivo, inseguro e com dificuldades de se relacionar socialmente. Os espectadores, por viverem em um ambiente de conflito, tensão, no qual as relações entre os companheiros estão deterioradas, se vê desmotivado e não sente vontade de freqüentar a escola, e concomitantemente a isso, tem que lidar com sentimentos de insegurança e medo constante de se tornar o próximo alvo do agressor. Aqueles que praticam o bullying poderão levar para a vida adulta o mesmo comportamento agressivo, adotando atitudes agressivas em suas relações familiares (violência familiar) e/ou relações de trabalho (assédio moral). Estudos como o realizado por Olewus (Apud Fante 2005), aponta uma relação existente entre o bullying e a criminalidade, pois verificou-se, através de um acompanhamento realizado com jovens com idades entre 12 e 16 anos, identificados como agressores no fenômeno bullying que, “ a 60% deles havia sido imputada uma condenação legal antes que completassem 24 anos de idade” (Fante, 2005.p. 81). Porém, isso não pode ser considerado como determinante ou que todos os agressores apresentarão essa conduta, pois as conseqüências poderão variar de acordo com o contexto social que todos os envolvidos estão inseridos. Embora a disseminação da terminologia bullying seja relativamente recente, ela foi abordada por estudiosos ingleses em 1994 (Smith & Sharp, 1994) e estudada, pioneiramente na Europa, por um autor norueguês chamado Dan Olweus, em seu livro "Agression in the schools: bullies and whipping boys” (Olwues, 1978, Apud Smith & Sharp,1994, p. 2-3). O fenômeno bullying, como nos aponta Fante (2005), Smith & Sharp(1994) e outros autores como Corti (2002), Pinheiro (2006) e Medeiros (2006), porém, é bastante antigo. No Brasil o bullying vem sendo minimizado e prevenido através de programas desenvolvidos por instituições com parcerias público-privadas, além de projetos e Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. estratégias curriculares nas próprias unidades escolares. Assim, trata-se de uma forma de violência que sempre existiu nas escolas, mas que vem efetivamente sendo pesquisado nas últimas décadas, despertando a atenção da sociedade para suas conseqüências. A mídia tem sido um forte meio de divulgação desse fenômeno. Na internet existem muitos sites relacionados ao assunto, além de reportagens em revistas especializadas e até mesmo em jornais televisivos têm-se falado sobre casos de bullying nas escolas. Apesar de a mídia ter popularizado esse assunto principalmente após a tragédia em Columbine (vide anexo), ela ainda trata com superficialidade e ambigüidade esse fenômeno, uma vez que o identifica como um fenômeno específico; ou melhor, o apresenta como um fenômeno de relações interpessoais, não contextualizando-o com seus determinantes sociais, culturais e ideológicos. No Brasil ainda não existe um número significativo de estudos acadêmicos relacionados a esse assunto específico, o bullying escolar. Esse fato nos traz possibilidades, mas também limitações desse espaço de discussão, pois as fontes encontradas, apesar de importantes, tendem a abordar o problema pelo viés das relações inter-pessoais, ou ainda, negando ou considerando insuficientemente a sua articulação com problemas intrinsecamente relacionados à lógica econômica e competitiva ensejada pelo sistema capitalista, tal como ocorre na abordagem de Fante (2005). Devemos nos atentar nesse sentido para que se interprete esse fenômeno criticamente, de modo a melhor compreender as relações dialéticas entre problemas inter- pessoais e macro-sociais, e aí que surge a necessidade de se investigar melhor o fenômeno da violência inter-pessoal, e superar a tendência da explicação pela via de relações causais, notadamente da explicação do problema com ênfase nas relações inter-pessoais. A partir da visão do materialismo histórico dialético é possível entender e explicar o bullying como sendo um fenômeno que apresenta influências recíprocas entre o indivíduo e a sociedade, e não como uma relação de causa e efeito (Vigotsky, 1992). Dessa forma, a escola torna-se o lugar privilegiado para articular a análise micro e a análise macro do fenômeno, para que se possa superar as lacunas de ambas, pois a escola se relaciona concomitantemente com essas duas esferas de compreensão da sociedade. Portanto, o fenômeno bullying deve ser considerado um problema, uma modalidade de violência escolar, cuja presença no cotidiano da escola, não pode ser negligenciada ou banalizada. Porém deve-se admitir que há uma grande dificuldade de captar a totalidade concreta e as relações dialéticas entre os aspectos inter-pessoais e macro sociais para abordar o fenômeno enquanto realidade psicossocial, visto que os estudos específicos Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. sobre bullying escolar ainda são muito recentes e em número reduzido. Esta dificuldade de compreender o fenômeno em sua totalidade deve ser levada em conta também pelo fato de, especificamente este trabalho, se tratar de uma análise feita através das representações sociais do professores. As representações sociais são definidas por Jodelet (Apud Spink, 1995. p. 86) como: “(...)relação entre as produções mentais e as dimensões materiais e funcionais da vida dos grupo”, “que são resultado do contínuo diálogo entre os indivíduos, que acontece tanto interna quanto externamente no qualas representações individuais repercutem ou são complementadas” (Spink, 1995.p. 99), ciente dos limites e possibilidades do nosso recorte do objeto de pesquisa, analisaremos o fenômeno bullying através da percepção que os professores têm acerca dele. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. CAPÌTULO 2 METODOLOGIA Contextualização A pesquisa teve como objetivo principal verificar, através da visão dos professores, se o fenômeno bullying interfere negativamente no processo de ensino- aprendizagem de alunos das 5ª e 6ª séries. A pesquisa foi realizada em uma escola estadual localizada na periferia da cidade de São Carlos que oferece os cursos do Ensino Fundamental Ciclo I e II (1ª a 4ª séries) e também 5ª e 6ª séries no período da manhã e da tarde. A região onde se localiza a escola é considerada uma região marginalizada da cidade, tanto no sentido literal da palavra quanto pelo fato de ser um bairro violento, com alto índice de tráfico de drogas. As casas são bastante simples, a maioria é inacabada, o bairro não possui áreas de lazer, mas há algumas praças onde esporadicamente são instalados pequenos parques de diversão itinerantes. O comércio também é pequeno, alguns bares e mercearias apenas para suprir as necessidades básicas da população, pois os supermercados ficam longe dessa região. Entretanto, apesar de ser um bairro periférico está rodeado por um condomínio residencial de alto padrão e também um campus de uma universidade pública. Essa escola é a única do bairro e de suas proximidades que atende a clientela de sete a doze anos e, de acordo com o depoimento da Direção, a partir do ano de 2007 serão implementadas as demais séries do Ensino Fundamental. Os alunos que freqüentam essa escola são unanimemente provindos de uma classe social menos favorecida e são em sua maioria moradores do bairro ou de suas proximidades. Os pais e responsáveis da maioria dos alunos trabalham como operários, pedreiros, empregadas domésticas e as faixas salariais variam de dois a quatro salários mínimos e também há uma parcela desempregada. A escola não apresenta um clima favorável às relações de ensino e aprendizagem. Existem alguns fatores que contribuem para um ambiente de trabalho improdutivo, tanto para os professores quanto para os alunos, desde condições físicas, como baixa iluminação, pouca ventilação, até condições geradas pelas relações que são estabelecidas no seu cotidiano, como por exemplo, relações de autoritarismo, punição. Nessa escola há uma preocupação muito grande em se manter uma ordem. Um exemplo disso é que as crianças não podem correr em momento algum, nem durante o recreio, e quando isso Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. acontece, sempre aparece uma figura de repressão para tolher esse tipo de brincadeira. Entre os professores não há uma relação de cooperação e troca de saberes. As funções de Direção e Coordenação são bastante compartimentalizadas, como em uma fábrica em que o operário não tem noção do todo, do produto final. Há uma ênfase apenas no aspecto burocrático- administrativo, em detrimento dos aspectos pedagógicos de ensino-aprendizagem dos alunos. Participantes Participaram dessa pesquisa dez professores de um total de treze professores que lecionam nas 5ª e 6ª séries dessa escola. Dos professores participantes, quatro possuem o curso superior completo, dois possuem além do curso superior o curso de magistério, dois concluíram mestrado e dois o doutorado. Todos os professores participantes trabalhavam em outras escolas além da que foi realizada a pesquisa. O critério para participação da pesquisa era que o professor já tivesse lecionado em 5ª e/ou 6ª séries, pois partíamos da hipótese que o fenômeno bullying se tornaria mais notável nessa faixa etária, ou seja, o início da adolescência ou puberdade, visto que as mudanças no corpo que ocorrem nessa fase da vida podem se tornar alvo de provocações entre os alunos. Porém, tal condição não é um fator determinante, pois há registros na literatura em que se descrevem casos de bullying também na infância. (Fante, 2005) A delimitação desse objeto de pesquisa (representação social dos professores) se deu por conta do próprio caráter do tema tratado na pesquisa, pois, o fenômeno bullying envolve uma complexa trama subjetiva, cultural e sócio-institucional, ou ainda, atos de violência velada e uma lei do silêncio em relação aos mesmos. Sendo assim, os sujeitos envolvidos dificilmente revelariam informações sobre o que realmente se passa nas relações entre vítimas e agressores, ou seja, uma vítima de bullying não se exporia ao ponto de revelar a que agressão já fora submetido; e o agressor, por outro lado, não assumiria que de fato o é. Sendo assim, optamos por analisar a visão dos professores, pois garantiria maior rigor nas informações adquiridas. Acrescente-se a tal fator, o foco da pesquisa, ou seja, a busca da compreensão da influência do fenômeno bullying na relação de ensino-aprendizagem, relação esta na qual integra-se o professor e cujas características e processos são por ele cotidianamente observadas, avaliadas, analisadas etc. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. Instrumentos utilizados e justificativa Para a realização da coleta de dados foram utilizados dois instrumentos: questionários estruturados (em apêndice) com questões abertas e fechadas e entrevistas semi- estruturadas. O questionário foi escolhido para a obtenção de dados objetivos sobre a relação “bullying x aprendizagem” e, nesse sentido, quantificar alguns aspectos envolvidos acerca dessa questão, produzindo uma caracterização preliminar do fenômeno bullying. A entrevista foi utilizada neste trabalho como um instrumento que proporcionou a obtenção de dados qualitativos sobre a relação “bullying x aprendizagem”, visando também a complementação dos dados quantitativos adquiridos através dos questionários, preenchendo algumas lacunas que, eventualmente, o questionário não consegue preencher, pelo fato de ser um instrumento mais objetivo e impessoal. Nesta pesquisa procuramos superar a dicotomia entre o quantitativo e qualitativo referida por Minayo (2000) quando problematiza a metodologia da pesquisa nas distintas práticas sociais, a autora discute a polêmica estabelecida no meio científico entre as abordagens metodológicas quantitativas e qualitativas. Nesse sentido, a autora afirma que “a pesquisa social não pode ser definida de forma estática ou estanque” (MINAYO, 2000, p.27) e, sobretudo que: “qualquer pesquisa social que pretenda um aprofundamento maior da realidade não pode ficar restrita ao referencial apenas quantitativo” (MINAYO, 2000, p.28). Minayo (2000) justifica seu argumento sobre a questão acima referida a partir do caráter específico do objeto de conhecimento da pesquisa social: o ser humano e a sociedade. Tal objeto se recusa categoricamente a se revelar apenas nos números. Neste contexto, foi igualmente adotado, neste trabalho, o que Gamboa (2000) define como tendência dialética de pesquisa, tendência esta que admite a inter-relação quantidade/qualidade, ou ainda, a integração crítica de instrumentos quantitativos de abordagens mais descritivas nas pesquisas interpretativas e crítico-dialéticas. Procedimento e dinâmica da coleta de dados O primeiro contato foi realizado verbalmente com a diretora da escola para saber da disponibilidade de realização da pesquisa. Foi entregue pessoalmente uma carta de Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. solicitação de autorização (em apêndice) paraingressar na escola e realizar a pesquisa. A carta continha informações a respeito do estudo, do objetivo, dos procedimentos a serem empregados e sobre os aspectos éticos, esclarecendo sobre a preservação do anonimato da instituição e dos sujeitos, além da participação voluntária dos mesmos. Mediante a autorização da direção a pesquisadora contabilizou o número de professores que trabalham nas 5ª e 6ª séries e consultou o quadro de horários para saber os dias da semana que eles estavam na escola, pois a Direção informou que especificamente os professores em sua maioria não eram efetivos na escola e também trabalhavam em outras escolas. Portanto, não havia nenhum horário em comum em que a pesquisadora pudesse reuní-los e solicitar a participação na pesquisa, uma vez que eles não participavam do horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC). Sendo assim, o único horário que pudemos encontrá-los foi o do momento de intervalo das aulas. Sendo assim, a pesquisadora conversou individualmente com cada professor durante o intervalo das aulas na sala dos professores, apresentando a pesquisa e o termo de consentimento informado (em apêndice), no qual se esclareciam os aspectos éticos da pesquisa, tais como a participação voluntária, a garantia de sigilo da identidade dos participantes e das informações fornecidas por eles, bem como a liberdade de interrupção da participação a qualquer momento. Nesse sentido, cabe ressaltar a dificuldade encontrada em adquirir a adesão dos professores, pois o momento que foi concedido para a conversa com eles era um momento em que eles estavam em sua pausa do trabalho e muitos se recusaram a conversar por esse fato. A primeira fase da coleta de dados, que foi a aplicação dos questionários, ocorreu após algumas visitas feita a escola. Foi preciso mais de um dia para que fosse possível entrar em contato com todos os professores, pois alguns não estavam todos os dias na escola. Os principais objetivos do questionário foram: avaliar se a agressão entre os alunos era um fato presente no cotidiano da escola em questão, verificando se os professores já haviam constatado agressões entre os alunos; identificar quais eram as formas de agressão que ocorriam entre os alunos; avaliar quais os principais fatores de influência das agressões entre os alunos; identificar como os professores vêem os protagonistas do fenômeno bullying, assim como as reações dos alunos agredidos; identificar os desdobramentos no processo de ensino-aprendizagem dos alunos vitimizados; verificar qual a repercussão, perante os alunos de modo geral, das atitudes e imagens protagonizadas pelo “valentão” (agente do bullying). Vale ressaltar que após a formulação das questões, antes do início da pesquisa, o questionário passou por uma fase de teste com uma professora que trabalha na rede estadual Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. e uma que trabalha na rede municipal de outra cidade do interior do estado de São Paulo, para que elas ressaltassem possíveis dúvidas quanto à clareza das perguntas, sendo que algumas sugestões contribuíram para o aperfeiçoamento do questionário. Após o primeiro contato e mediante a assinatura do termo de consentimento, a pesquisadora combinou com cada professor um dia em que ela poderia levar o questionário para que eles respondessem. Porém alguns professores preferiram responder de imediato, justificando que não teriam tempo em outros dias porque era a época de fechamento de notas no final do bimestre, e ainda outros, pediram para que pudessem levar o questionário para casa e trazer em outro momento, mas, por cuidados metodológicos, a pesquisadora pediu que fossem respondidos no mesmo dia, para que não corresse o risco de eles esquecerem de responder ou até mesmo de não trazerem de volta. Nos outros dias em que a pesquisadora foi à escola para levar os questionários, alguns professores preferiram responder no horário do intervalo na sala dos professores, e outros preferiram responder na sala de aula depois de passarem alguma tarefa para os alunos. Antes do início do preenchimento do questionário a pesquisadora esclareceu aos participantes que qualquer dúvida que surgisse poderia ser manifestado o pedido de esclarecimento. Porém, nenhum professor se manifestou. Contudo, essa não foi a condição ideal para que esse trabalho fosse realizado, pois o local em que os professores responderam o questionário não estava apropriado. Havia muitos fatores que atrapalhavam a concentração do professor como, por exemplo, a movimentação e o barulho da sala dos professores no horário do intervalo, o fato de ser um momento de descanso e descontração para eles. Os que responderam durante à sua própria aula não tiveram condições favoráveis de dar uma elaboração mais pormenorizada de suas respostas, o que acabou refletindo no resultado encontrado na análise dos questionários: algumas respostas obtidas não apresentaram o aprofundamento necessário sobre o tema tratado. A segunda fase da coleta de dados foi a realização de entrevistas semi- estruturadas que ocorreram após a manifestação de interesse de alguns professores em participar e também da disponibilidade dos mesmos. A identificação desses professores foi feita através do próprio questionário, que continha um item de preenchimento em que o participante demonstrava seu interesse e forma de contato para o agendamento da entrevista. A entrevista foi feita com cinco professores que participaram da primeira fase da coleta de dados e duraram em média trinta minutos cada. Elas não foram realizadas todas no mesmo dia, mas todas, com exceção de uma, que aconteceu em uma sala de aula vazia, Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. foram realizadas na sala dos professores. Duas entrevistas aconteceram durante o horário do intervalo, e as outras três no horário vago dos professores. As entrevistas tiveram um tempo restrito porque o horário dos professores era sempre limitado, o que de certa forma dificultou o aprofundamento nas respostas obtidas. Os locais de realização das entrevistas também não eram muito apropriados, pois havia grande circulação de pessoas, gerando inibição dos professores e interrupções em determinados momentos por conta do professor ser solicitado por terceiros. As entrevistas tiveram como tema geral a relação entre o fenômeno bullying e a aprendizagem para, a partir disso, descobrir outros aspectos envolvidos nessa temática, tais como a influência da família, da sociedade e da dinâmica da escola no comportamento do aluno; as características dos alunos agredidos e dos alunos agressores; os tipos de agressão presentes na relação entre os alunos. Nas entrevistas a pesquisadora procurou entender e aprofundar o que os professores escreveram como respostas nas perguntas abertas do questionário, assim como entender qual havia sido a intenção deles ao responder às questões fechadas, buscando, dessa forma, traçar o posicionamento dos mesmos frente à violência entre os alunos e suas possíveis repercussões. Porém, não houve um aprofundamento relevante no que diz respeito à influência negativa das agressões entre os alunos na aprendizagem dos mesmos, talvez pela forma como a entrevista foi conduzida, devido a inexperiência da pesquisadora com esse tipo de coleta de dados, a saber: seguiu-se a ordem das perguntas do questionário, não permitindo que o entrevistado fosse diretamente e/ou priorizasse, em sua fala, o referido aspecto (bullying e ensino-aprendizagem). Todo o processo de coleta de dados durou aproximadamente trinta dias entre conversa com a Direção, com os professores e a coleta de dados de fato, e posteriormente, as entrevistas foram transcritas(em apêndice) para a possibilidade de análise dos dados obtidos. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. Formas como acontecem as intimidações/provocações 0% 10% 70%70% 80%80% 100% 90% 90% 0% 20% 40% 60% 80% 100% Xingamentos Agressões Brincadeiras de mau gosto Apelidos pejorativos Ameaças Ridicularização/Humilhação por características físicas Ridicularização/Humilhação por raça ou cor Outros Ricularização/Humilhação por religião 0% CAPÍTULO 3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Diante da leitura dos dados obtidos através dos questionários e das entrevistas puderam-se constatar muitas informações relevantes para a discussão do fenômeno bullying e sua relação com o processo de ensino-aprendizagem, entre outros aspectos que permeiam essa temática. Após tabular os dados dos questionários, foram constatados que 100% dos participantes da pesquisa já presenciaram algum tipo de agressão entre os alunos, tal dado evidencia que a presença da violência e, conseqüentemente, do fenômeno bullying é uma realidade na escola e, portanto confirma a pertinência deste estudo. Ao investigar os tipos de agressões que os professores já presenciaram no cotidiano escolar foi possível sistematizar os dados no gráfico abaixo: Gráfico 1. Diante desse gráfico notamos que na visão dos professores a principal forma de agressão entre os alunos é feita através de xingamentos, que totalizaram 100%. Em seguida, há agressões e brincadeiras de mau gosto, com 90%. Em terceiro os apelidos pejorativos e as ameaças com 80%, seguido de 70% de ridicularizações/humilhações por características físicas e por raça ou cor, e não houve ocorrência de ridicularização ou humilhação por religião. Todas essas formas de agressões apresentadas pelos professores podem ser caracterizadas como bullying em suas manifestações verbais e físicas. Cabe ressaltar que, em outra pesquisa, Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. F a t o r e s p r im o r d ia is d e in f lu ê n c ia d a s p r o v o c a ç õ e s e in t im id a ç õ e s e n t r e o s a lu n o s 4 0 % 5 0 % 0 % 1 0 % 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0 1 0 0 s o c ie d a d e d in â m ic a d a e s c o la d in â m ic a d a f a m ília p e r s o n a lid a d e d o a lu n o realizada por Candau (1999, Apud Sposito, 2001) também com professores, mas com o foco no tema violência escolar, as manifestações verbais e físicas de violência também foram apontadas como as mais freqüentes entre os entrevistados. Outro dado relevante é a questão dos fatores de influência das provocações e intimidações entre os alunos. No questionário, foi solicitado aos participantes que ordenassem os fatores que influenciam as provocações e intimidações entre os alunos, dentre os quais estavam: sociedade, dinâmica da escola, dinâmica da família e personalidade do aluno. Diante desses aspectos, os participantes deveriam numerá-los, sendo que o número um devia ser atribuído ao aspecto cuja influência fosse primordial na opinião deles. Para tabular essa questão, foram colocados em foco somente os aspectos considerados primordiais, ou seja, aqueles que estavam assinalados com o número um. Verificou-se o seguinte resultado: metade dos participantes acreditavam que o principal fator de influência era a família, enquanto 40% acreditavam que o principal fator de influência era a própria personalidade do aluno e apenas 10% presumiram ser a sociedade a principal influência. Por fim, nenhum dos participantes acreditava que a dinâmica da escola pudesse gerar influência nas provocações e intimidações entre os alunos. Como pode ser visualizado no gráfico a seguir: Gráfico 2. Diante desse gráfico é importante nos atentarmos para um dado significativo: nenhum professor considera como primordial a influência da dinâmica da escola nas agressões e intimidações entre os alunos. Entretanto, a dinâmica da escola pode ser relacionada à agressividade intra-escolar, visto que a instituição escolar possui uma estrutura em que exerce o controle de seus alunos por meio de sua própria organização. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. O sistema escolar está estruturado de tal forma que através de seus programas, currículos e normas pedagógicas têm o poder de produzir sujeitos submissos e dóceis na medida em que determinam o tempo, o espaço, o movimento, o gesto e as atitudes de seus alunos e ainda controlam tais aspectos por meio da vigilância e da punição. A escola classifica seus alunos (alunos bons e os ruins), hierarquiza as relações entre corpo docente e discente, define o que é normal e o que é anormal, estigmatizando seus alunos; Tragtenberg (1985, p.41) acrescenta: “A escola, ao dividir os alunos e o saber em séries, graus, salienta as diferenças, recompensando os que se sujeitam aos movimentos regulares impostos pelo sistema escolar”. Portanto é nesse ponto que a dinâmica da escola vai interferir no comportamento de seus alunos, pois aqueles que não se adeqüam a esse modelo de escola serão de alguma forma punidos. Porém, é através de suas atitudes que esses alunos tentam sinalizar à comunidade escolar que há algo de errado nessa estrutura e nessas relações que são estabelecidas dentro da escola e que isso precisa ser de alguma forma transformado. Os dados do Gráfico 2 foram confrontados com a análise das entrevistas e foi possível observar que na fala dos professores a questão da influência da sociedade se faz presente, ainda que tenha sido mais enfatizada a influência da dinâmica da família. A família, segundo os professores, é a base da educação das crianças. Segundo os mesmos, é na família que acontecem as primeiras aprendizagens da criança. Portanto, ela terá como base o que aprende com a família e, através dela, formará sua personalidade. Frente a isso os professores consideraram a família como fator primordial de influência das agressões e intimidações entre os alunos, defendendo o princípio de que as famílias na sociedade atual estão "desestruturadas" e não dão mais conta de educar seus filhos, como é elucidado na fala de um professor: "várias pessoas além de pai, mãe e filhos, moram outras pessoas da família, há um desarranjo nesse sentido, então os pais deixam de cobrar o comportamento das crianças, de cobrar atividades, deixa de cobrar o empenho”. No entanto, o que se verificou foi uma relação dos problemas familiares com a visão estereotipada de “família desestruturada”; mas não podemos nos esquecer de que vivemos em uma sociedade na qual a família não possui mais a mesma estrutura nuclear de pai, mãe e filhos. Notou-se no discurso dos professores que eles culpabilizam a família pela reprodução de agressões e intimidações entre os alunos. Existe de fato uma correlação entre os problemas de violência familiar e o comportamento agressivo das crianças inclusive da prática do bullying escolar, e há estudos que comprovam essa influência (Pinheiro, 2006). No entanto, esses problemas familiares também estão relacionados com os problemas sociais mais amplos, ou seja, a violência social a qual essas famílias estão submetidas, em suas múltiplas Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. dimensões, como o desemprego, a exclusão social, a desigualdade econômica a baixa escolaridade. A culpabilização e o estereótipo de família desestruturada, porém dificultam tal compreensão mais ampla. Neste contexto, os atos individuais dos alunos não podem ser minimizados a meros problemas interpessoais ou de personalidade. Existe uma relação dialéticaentre o sujeito e a sociedade na qual sua identidade vai se construindo ao longo da história. A identidade dos agentes do bullying é construída socialmente, nos processos de socialização, mediados principalmente pela mídia e pela cultura do espetáculo (Türcke, 2004, Zuin, 2006). Os professores, em suas falas, colocaram a questão da sociedade atrelada ao bairro onde os alunos moram e por isso eles conviviam com situações de violência dentro e fora de casa pelo fato de parentes e/ou vizinhos estarem envolvidos com o tráfico de drogas ou com roubos e, portanto tinham o exemplo de violência e atitudes violentas muito próximas deles, gerando de certa forma a reprodução da violência dentro da escola das formas como puderam ser visualizadas no Gráfico 1. Porém, Fante (2005), através de seus estudos, aponta que o bullying não é um fenômeno próprio de grandes cidades, escolas públicas e zonas periféricas onde a violência, o tráfico e o consumo de drogas se integram à vida dos habitantes, pois os índices de sua incidência não são menores nas escolas particulares e nem em cidades pequenas. Sendo assim, essa relação do bullying com a sociedade foi apresentada de maneira superficial pelos professores, não passando de mera justificativa do problema. Não foi feita uma análise mais profunda da sociedade como fator de influência, ou seja, quais são de fato os aspectos da sociedade que influenciam os alunos. O que pôde ser destacado da fala dos professores nesse sentido é a relação que alguns deles fizeram da sociedade atrelada à mídia e pôde ser ilustrada nas seguintes falas: “a sociedade é retratada na TV” e “a sociedade atual se forma na mídia”. Nesse contexto, esses professores defenderam o argumento de que a mídia é um fator muito presente na vida de seus alunos e que exercem constante influência sobre eles. Um dos professores até citou o exemplo de que algumas alunas se vestiam como as personagens de uma determinada novela que era transmitida pela televisão naquela época e que fez muito sucesso com o público infanto-juvenil brasileiro, apontando dessa forma o grau de influência da mídia sobre a vida dos alunos. Outro aspecto destacado por um dos professores no qual a mídia influencia é a questão da banalização da violência. Para esse professor a TV divulga e promove a violência mostrando a “realidade nua e crua” e, através de seus meios, “exige da vida da criança que ela seja adulta que tenha atitudes adultas e isso inclui a violência”. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. O que vivemos na atual sociedade é a busca constante por ser percebido, há uma super valorização daquele que consegue impressionar: hoje em dia “ser significa ser percebido” (Türcke, 2004. p.65, Zuin, 2006). Aquele que não é percebido não é considerado bom, somente o que impressiona se torna válido. Como afirma Türcke (2004), a mídia se fixa cada vez mais, sem qualquer tipo de escrúpulo diante da morte, da miséria, do horror, da violência, sensacionalizando tudo e todos, mas ao mesmo tempo proporciona ao telespectador uma “pseudosegurança” de que ele está protegido pela tela da TV de tudo que acontece na sociedade, o que acarreta na banalização dos acontecimentos, inclusive da violência, como se tudo o que acontecesse estivesse num mundo à parte. Nesse contexto, é desenvolvido nas pessoas um constante desejo de ser exaltado e ser percebido pelos demais e, para que isso aconteça, a mídia passa a idéia de que tudo é possível, não havendo nenhum tipo de limite que impeça a satisfação do desejo. Diante disso, ser percebido se torna uma necessidade de existência e essa luta pela sobrevivência se transforma em um problema estético, de acordo com argumentos de Türcke (2004) em seu texto: “Sociedade da sensação: a estetização da luta pela existência”, no qual considera que tudo é movido pelas aparências e pela busca das sensações obsessivamente. Essa constante busca de valorização pelos demais foi constatada nas entrevistas quando se tratou sobre os agentes praticantes do bullying. Entre os alunos há uma constante busca de identificação dentro de um grupo. Para eles é muito importante fazer parte de um grupo e ser reconhecido dentro dele, pois isso contribui para a própria formação da identidade do indivíduo; mas fazer parte de um grupo também pode ser interpretado como uma busca de valorização dessa identidade. Assim agem os alunos “valentões”, como caracterizado nos questionários, no qual foi constatado que 80% dos professores percebem que esses alunos são temidos pelos demais e ainda, 70% dos professores acreditam que a figura do aluno “valentão” é valorizada pelos outros alunos, um dos professores comenta: “ele quer atenção e eles vão ser valorizados pelos demais que presenciam a situação, ele vai querer ser cada vez mais notado através de suas atitudes” (se referindo ao aluno agente do bullying). Esse é um dado preocupante porque mostra implicitamente a atuação da mídia diante dessa valorização, pois diariamente é veiculada pelos meios de comunicação a violência pela qual a sociedade está submetida e a imagem dos agentes da violência é exposta sob o pretexto de se criticar a violência, mas o que acontece de fato é a transformação dessas tragédias em um grande espetáculo a ser consumido pela sociedade e, a violência escolar, de acordo com Sposito (2001, p. 91) vem sendo apresentada esporadicamente pela imprensa e Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. pela mídia nos últimos anos privilegiando homicídios que ocorreram nas cercanias ou no interior dos prédios escolares. Um exemplo disso foi o fato de um aluno (vide anexo) que neste ano de 2007 matou trinta e duas pessoas incluindo alunos e professores da universidade onde estudava nos EUA e depois se suicidou deixando, como definiu a mídia, um “manifesto multimídia” composto de fotografias do estudante posando com armas na mão, textos e uma fita de vídeo gravada por ele na qual dizia que os assassinos da tragédia acontecida em Columbine (vide anexo), há alguns anos atrás, eram mártires, na opinião dele. Essa fita foi veiculada pela mídia de todo o mundo e exibida como um grande espetáculo, de maneira sensacionalista e que, em momento posterior, é facilmente esquecido pela sociedade, não causando nenhum tipo de reflexão sobre o assunto. Existe apenas a preocupação em impressionar a população com o fato, e ela, por outro lado assiste como mero telespectador. Nessa “sociedade das sensações” (Türcke, 2004) a qual estamos submetidos, a banalização é um fator que se faz presente e, claramente pôde ser observado na visão de alguns professores entrevistados acerca do fenômeno bullying. Ao questionar os professores sobre o fato de os alunos se agredirem verbalmente ou às vezes até fisicamente, atribuindo uns aos outros apelidos pejorativos, fazendo brincadeiras de mau gosto alguns professores descrevem isso como “brincadeiras de criança” ou ainda dizem “é normal, é a idade”, “crianças são crianças”. Entretanto, essa opinião dos professores está atrelada, segundo Fante (2005, p. 67) “ao fato deles não estarem preparados para distinguir entre condutas violentas e brincadeiras próprias da idade, bem como lhes falta preparo para identificar, diagnosticar e desenvolver estratégias pedagógicas para enfrentar os problemas bullying”. Também deve ser considerado que o fenômeno bullying ainda é pouco estudado no meio acadêmico brasileiro. Portanto, na realidade escolar do Brasil, esse assunto se torna ainda mais distante do conhecimento dos professores. Este fato se constata no momento em que ouvimos dos professores a descrição do fenômeno como “brincadeiras estúpidas” ou ainda, “brincadeiras depreciativas”.Embora os adjetivos sejam pertinentes ao fenômeno em questão, o substantivo não o é. Ao relacionar esse tipo de postura do professor frente ao bullying devemos analisar que tal postura pode interferir no processo de ensino-aprendizagem dos alunos; na vítima, pois ela não vê no professor uma fonte segura em que pode se apoiar nos momentos em que é agredida, afinal para o professor não passa de mera brincadeira; e por outro lado o agressor pode ser identificado de maneira injusta e qualificado como aluno violento, sem antes considerar os aspectos que estão envolvidos na situação ou no próprio aluno. Nesse sentido, a conduta do professor é fundamental, pois ela pode ser uma das fontes causadoras do Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. Aspectos percebidos nas vítimas de provocação 70% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10%10% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Agressividade Medo Queda da auto-estima Isolamento Queda no desempenho escolar Inibição Apatia Vergonha Procuram ajuda sofrimento desses alunos, proporcionando prejuízos no seu desenvolvimento socioeducacional. Mas também é necessário ressaltar que a visão dos professores na análise das entrevistas apresentou uma significativa oscilação de posturas, não apresentando uma visão somente simplificada durante suas falas. Nesse sentido, foi possível identificar, algumas vezes na fala de um mesmo professor, visões estereotipadas como a referência à “família desestruturada”, visões moralistas quando diz “o mundo está liberal demais”, visões reducionistas quando se refere à “ele faz o que quer, a hora que quer sem limites”, e também visões mais críticas, relacionando os problemas dos alunos com a questão da mídia. Houve também críticas à sociedade, ao sistema educacional brasileiro, como no caso do professor que citou a questão do “Programa de Progressão Continuada” do governo do Estado de São Paulo, mostrando que tem opinião contrária à esse sistema e que isso influencia no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Enfim, algumas posições foram tomadas acerca dos problemas que permeiam a sociedade, ainda que não aprofundados. Diante do olhar dos professores conseguimos elencar algumas características presentes nas vítimas do fenômeno bullying visualizadas a seguir: Gráfico 3 Os aspectos mais visíveis pelos professores são a agressividade e o medo, ambos com 70%. Em seguida estão a queda da auto-estima com 60%, depois com 50% aparece o isolamento e, com 40%, estão a queda no desempenho escolar e a distorção da auto- Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. imagem. Ansiedade e inibição vêem logo após, com 30%, e a apatia aparece com 20%. Por fim, com 10% estão a vergonha e a procura de ajuda para resolver o problema. Tendo em vista esses dados apresentados, concluímos que o bullying não pode ser considerado como mera brincadeira de criança, já que características negativas como essas citadas acima são visivelmente percebidas nos alunos e, de alguma forma, estão interferindo na vida deles, assim como também interfere na dinâmica da escola. Na fala dos professores pudemos verificar que o bullying interfere no processo de ensino-aprendizagem, considerando este como as relações existentes entre professores e alunos, alunos e alunos, professores e professores, nas quais se firmam aprendizagens e ensinamentos dentro do contexto escolar. De modo geral os professores acreditam que o fenômeno bullying pode influenciar negativamente a aprendizagem dos alunos e isso foi comprovado, pois nenhum dos professores que preencheram o questionário assinalou a alternativa “não” quando lhes foi colocada essa questão, enquanto 60% assinalaram “sim” e 40% assinalaram “em termos”. Ao analisar as entrevistas foi possível conhecer a opinião dos professores frente à influência negativa que o bullying pode ter na aprendizagem de seus alunos, mas também a interferência que ele gera na dinâmica da escola. Apesar desse fenômeno acontecer principalmente longe dos olhos dos adultos, como confirma Olweus (Apud Fante, 2005,p. 149) dizendo que: “o mais habitual é que as agressões e ou condutas indesejáveis se produzam quando os adultos não estão presentes ou quando não observam o que as crianças ou adolescentes estão fazendo”, e isso foi percebido na fala de um professor: “eu percebi alguma coisa assim, um bilhetezinho, uma palavrinha baixa” (se referindo a alunos que estavam envolvidos com uma situação de bullying e que tentavam ocultar o acontecimento). Entretanto as conseqüências desse fenômeno podem ser observadas por aqueles que têm como função analisar e avaliar o processo de aprendizagem das crianças cotidianamente, isto é, o professor. Nas entrevistas, as influências negativas foram mais relacionadas à aprendizagem dos alunos que são vítimas do bullying. Para os professores esse fenômeno faz com que o aluno se sinta coagido, pois há uma relação de poder entre mais fortes e mais fracos. A vítima se vê numa posição acovardada, o aluno, segundo depoimento de um professor, “se sente encurralado”, “fica com medo”, e a “lei do silêncio” impera sobre os alunos: as vítimas são ameaçadas pelos agressores e não revelam em hipótese alguma nada do que acontece com ela por medo de represálias, e os espectadores também temem o agressor, por pensarem que também podem ser futuros alvos de ataques. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. Outro ponto destacado é o fato de que o aluno transfere sua atenção, ficando alerta a possíveis agressões que pode ser submetido, acarretando na falta de concentração e na dificuldade de assimilar o conteúdo por conta disso. Fante (2005) nos acrescenta ainda que: “o medo constante e repetitivo bloqueia a agressividade e o bom funcionamento mental, prejudicando as funções de raciocínio, abstração, interesse por si mesmo e pelo aprendizado, além de estender-se a outras faculdades mentais ligadas à autopercepção, concentração, auto-estima e capacidade de interiorização” (p. 24). Aspectos como desinteresse, diminuição da freqüência às aulas, também foram mencionados por eles como ilustrado nessa fala: “quem sofreu agressão, ele fica retraído, então ele fica com medo, ele fala para a mãe que não quer vir para a escola, quando vem às vezes ele é exposto a uma situação de ridicularização”. Ainda nesse sentido, foi mencionada nas entrevistas, a questão da identificação com o grupo. A criança, quando não se identifica com o restante do grupo, se sente desmotivada, e se desliga, se fecha, prefere não participar das atividades em grupo e acaba se descomprometendo com as atividades em sala de aula, pelo medo de se expor a novas agressões e chegam ao ponto, segundo Fante (2005, p. 49), de “o aluno agredido estranhar quando pouco hostilizado, pois no fundo, acredita que não tem valor e que é merecedor de ataques”. Nesse sentido é preciso refletir sobre a dinâmica da sala de aula pois ela é mais um aspecto do contexto escolar, depois dos alunos, que é influenciado pelo fenômeno bullying e acaba sofrendo modificações diante das manifestações desse fenômeno porque de alguma maneira o professor tenta intervir na situação de agressão dentro da sala de aula. Nesse sentido o professor se vê diante da necessidade de desenvolver uma postura de forma a sanar ou amenizar esse problema criando estratégias e condições para a criação de um ambiente mais favorável a aprendizagem dos alunos. Entretanto esse fenômeno ainda é interpretado como "inocentes brincadeirinhas" e não é tratado com rigor no cotidiano da sala de aula. Em vista disso, se faz necessário repensar os caminhos nos quais os professorese demais agentes escolares devem se guiar para que não percorram o caminho da punição, do autoritarismo, da imposição, contribuindo, dessa forma, para a permanência da atual estrutura da escola, que está ainda pautada em moldes similares ao do século passado. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. CAPÍTULO 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A hipótese a partir da qual iniciamos o trabalho era a de que as crianças vítimas do bullying apresentariam prejuízos em seu processo de ensino-aprendizagem. De fato, ao analisar o ponto de vista dos professores sobre o fenômeno, verificamos que o bullying gera nas vítimas reações tais como: agressividade, medo, queda da auto-estima e isolamento. Portanto, foi possível constatar que, na visão dos professores, o bullying influencia negativamente a aprendizagem dos alunos, visto que as reações por eles verificadas são prejudiciais não somente ao aprendizado, mas também à vida e à identidade do aluno. Entretanto, no percurso de elaboração do trabalho, com as discussões realizadas acerca da dialética existente entre o individuo e a sociedade e da análise feita da visão dos professores sobre o bullying, compreendemos que são diversos fatores, além do fenômeno bullying, que influenciam negativamente a aprendizagem dos alunos dentro da escola. Dentre eles podemos destacar: os problemas da própria estrutura escolar, que faz com que os alunos não se sintam parte integrante desse meio; a deterioração das condições materiais e objetivas de vida que atingem sobretudo as classes populares em nosso país; a mediação da mídia nos processos de socialização relacionados à produção da violência. A visão dos professores nos deu alguns subsídios para a análise da relação dialética entre o indivíduo e a sociedade, visto que, em suas falas, eles estabeleciam correlações entre o comportamento de seus alunos e o contexto social em que eles estão inseridos, na medida em que citavam a família, a mídia, a violência, como fatores de influência sobre os alunos. No entanto, alguns professores, em determinados momentos, apresentaram visões reducionistas e superficiais a respeito acerca de tais relações, o que é compreensível, sobretudo quando temos em vista que vivemos em uma sociedade, na qual o sistema, por meio de sua dinâmica e ideologia, nos impede de compreender a totalidade dos problemas que nos cercam. Procuramos com este trabalho superar a visão reducionista do fenômeno bullying, na qual suas causas são atreladas aos problemas interpessoais e/ou de personalidade, sem considerar a relação que existe entre estes e a realidade macro-social que permeia a vida do aluno. Dessa forma, concluímos que o aluno que pratica bullying, denominado como agressor, não o faz pelos simples fato de ter uma personalidade agressiva ou por questões de caráter pessoal. Compreendemos que sua personalidade é construída através dos processos de Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. socialização e por influências que recebeu de um forte elemento mediador de tais processos existente na nossa sociedade atual: a mídia. Com a realização deste trabalho foi possível elaborar uma breve caracterização dos aspectos que classificam a violência escolar, identificando suas formas de manifestação, tanto concretamente quanto simbolicamente. Verificamos que a violência é um problema que a escola enfrenta, mas que ainda não consegue superá-lo. A violência escolar interfere na qualidade de ensino, prejudicando o processo de ensino-aprendizagem, pois ela gera um clima de tensão e medo dentro da escola e, dessa forma, professores e alunos se tornam inseguros e desmotivados a desenvolver qualquer tipo de trabalho significativo. Diante disso, é necessário refletir que a escola é um importante espaço de socialização onde são construídas relações de ensino e aprendizagem entre professores e alunos e esta é a razão de existência da escola. São eles os protagonistas do processo educativo e, lhes proporcionar condições adequadas de trabalho, é tarefa imprescindível para se garantir a qualidade do ensino. O foco da escola é a aprendizagem do aluno, então, adequar a proposta pedagógica, tornando-a mais atraente e significativa ao mesmo, é uma maneira de se construir uma escola mais democrática e menos excludente, em que se priorize a formação da sua autonomia. Do nosso ponto de vista, a escola fechada ao diálogo em relação aos conteúdos, às suas formas de gestão e aos problemas daí relativamente decorrentes, tal como o da violência intra-escolares, deve sofrer mudanças que são processuais e inter-dependentes de outras transformações institucionais, culturais e sociais. Ao concluirmos este trabalho, nos deparamos com a necessidade de transformação da escola como uma das soluções pelas quais podemos minimizar ou superar o problema da violência neste âmbito. Entretanto, o problema da violência está em todos os âmbitos da sociedade e a escola não consegue resolver este problema isoladamente, pois são muitos, complexos e inter-relacionados, os fatores envolvidos nessa problemática e a educação não é o único meio para transformar a sociedade. Consideramos igualmente importante explicitar, nas presentes considerações finais, que o fenômeno bullying é uma realidade dentro da escola. Porém, ainda é visto como “brincadeiras de criança”. Contudo, ele não deve ser tratado dessa forma, pois esse fenômeno gera conseqüências que interferem diretamente na aprendizagem, identidade e vida dos alunos. Estes geralmente ficam desmotivados, perdem a concentração nos estudos e se preocupam mais com as possíveis humilhações que podem vir a sofrer do que propriamente com os conteúdos escolares e seus próprios interesses. A auto-estima é deteriorada, sendo que a literatura nos aponta para casos em que o aluno perde até mesmo a vontade de viver e chega Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. a cometer suicídio, ainda que não tenhamos verificado tal ocorrência em nossa pesquisa. A vontade de vingança contra aqueles que inferiorizaram a vítima do bullying pode conduzi-lo à reprodução da violência, criando-se, assim, um círculo vicioso. Portanto, consideramos necessário construir um projeto pedagógico que tenha como objetivo principal a superação da desigualdade social e a exclusão social, respeitando os direitos de cidadania dos alunos, além de se criar meios de conscientização dos professores com relação ao fenômeno bullying. Compreendemos que a solução para a violência escolar não se efetiva através da colocação de grades, instalação de câmeras de vídeo e policiamento e que tais medidas apenas contribuem para a degradação do ambiente escolar e reprodução da violência, uma vez que tenta combatê-la através da repressão, o que somente aumentaria a cultura disciplinadora e autoritária dento da escola, o quê, com certeza, não seria o caminho a se seguir. Cientes da dificuldade das transformações na escola e na sociedade que aqui defendemos e dos limites de nosso trabalho e do próprio recorte de nosso objeto de estudo, esperamos, não obstante, poder ter dado nossa parcela de contribuição à compreensão da violência entre escolares e de suas complexas relações com a dinâmica sócio-institucional. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das Graças. Violência nas escolas. Versão resumida. Brasília: Pitágoras Rede/ Unesco, 2003. AQUINO, Julio Groppa. A Indisciplina e a escola atual. Revista Faculdade de Educação, São Paulo, v.24, n.2, p. 181-204, jul./dez. 1998. BOURDIEU, Pierre. La reproduction.
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