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Acidez e calagem do solo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS 
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA RURAL 
Rodovia Admar Gonzaga, 1346 – Itacorubi – Florianópolis – SC 
Caixa Postal 476 – CEP 88.040-900 Site: http://www.ufsc.br/erural/ 
Tel. (0xx48) 37215426 Fax: 3721-5427 E-mail: enr@cca.ufsc.br 
 
 
 
Aula: Acidez do solo1 
 
A acidez de um solo caracteriza-se pelo seu valor de pH e seu caráter ácido aumenta à medida que o pH do solo 
diminui. Entre os problemas de um solo ácido, destacam-se a menor disponibilidade de alguns nutrientes (especialmente o 
fósforo e molibdênio) e a toxidez de alumínio e manganês. Entretanto, as rochas das quais os solos se originam, quando 
moídas e em contato com a água, mantém o pH próximo à neutralidade (pH 7,0) e contêm substâncias muito pouco 
solúveis enquanto que, após milhares de anos, os solos formados a partir destas rochas apresentam reação ácida e aumento 
na concentração de elementos com alta valência (Fe e Al). A primeira questão a entender é: como uma rocha com pH 7,0 
origina um solo com pH 4,0? 
O ataque da rocha pela água da chuva é potencializado pela reação de dissolução do CO2 atmosférico: CO2 + H2O 
 HCO3- + H+. O próton originado reage com a rocha desintegrando os minerais (intemperismo químico), liberando os 
cátions e ânions para a solução que servirão para o crescimento dos organismos vivos. Assim, através da intemperização 
dos minerais e da atuação dos fatores de formação do solo (material de origem, relevo, clima, organismos, tempo e 
homem), via processos de formação, os elementos químicos são liberados para a solução do solo. Muitos desses elementos 
são perdidos do sistema, sendo mais pronunciado para os carbonatos, sílica e os metais alcalinos e alcalinos terrosos (Na, 
K, Ca, Mg) e aumentos na atividade de elementos como o alumínio e o ferro. Também, a partir dos elementos na solução 
ocorre a neoformação de argilominerais (2:1  1:1  óxidos), que juntamente com a matéria orgânica, criam um campo 
elétrico negativo que atraem os cátions, evitando a sua percolação. A presença de ânions é obrigatória para que ocorra a 
lixiviação. Cabe lembrar que a atividade dos microorganismos na decomposição dos resíduos orgânicos também libera 
prótons e ânions (N-NO3-), que aceleram o processo de acificação do solo. 
Nos solos, parte do alumínio que estava contido nos minerais primários continua sendo estrutural retido pelos 
átomos de oxigênio nas estruturas dos argilominerais e óxidos. Portanto, esse Al não é tóxico aos organismos vivos. 
Aqueles átomos de Al liberados quando ocorre a ruptura desses minerais secundários para a solução é que se tornam 
tóxicos. Isso só ocorre depois que a quantidade de H+ for alta (pH < 5,5). Em outras palavras, primeiro o solo se torna ácido 
para depois aparecer Al+3. O Al+3 é conseqüência da acidez e não causa. 
A acidez do solo é a recíproca da quantidade de bases para sua correção. Há vários tipos de acidez, dependendo do 
modo de medição adotado. 
a) Acidez ativa  é a quantidade de H+ presente na solução do solo. É tão pequena que é medida em valores de pH (-log 
H+). Por exemplo, pH 4,0 tem apenas 0,0001 mol H+ L-1. 
b) Acidez trocável ou Al trocável  refere-se à quantidade de Al+3 adsorvido pelas cargas negativas do solo (CTC). Ele 
está bloqueando as cargas e mantém um equilíbrio com a solução do solo. Pode ser tão alto como mais de 0,2 mol kg-1. 
Há uma quantidade muito grande de Al no solo, sendo que a grande maioria faz parte da estrutura dos colóides 
inorgânicos. O Al complexado pela MO do solo pode perfazer mais de 100 vezes àquele que se encontra no complexo 
de troca. Esse Al só será liberado para a solução se a MO for destruída pelo ataque microbiano. 
c) Acidez não trocável  refere-se a quantidade de hidrogênio ligado por ligações de coordenação aos grupos funcionais 
dos colóides orgânicos (MO) e inorgânicos (argilas e óxidos). Esse hidrogênio só se dissocia quando se adiciona OH-1 
no solo. Assim, quanto mais OH-1 se adiciona ao solo, mais H se extrai, o que torna obrigatório citar o pH da solução 
extratora (por exemplo, acetato de cálcio pH 7,0). 
d) Acidez potencial  o somatório do Al+3 + H é a acidez potencial do solo. Ela representa exatamente a quantidade de 
calcário a ser adicionada para elevar o pH do solo a um valor específico, de acordo com o que foi determinada. 
 
Calagem 
A fertilidade do solo está centrada na eficiência com que as plantas adquirem e utilizam os nutrientes essenciais, o 
que depende do sincronismo entre a capacidade do solo em fornecê-los em quantidades e taxas suficientes e a habilidade 
que as plantas possuem em absorvê-los. Sempre que há uma referência à baixa fertilidade em solos ácidos, o alumínio ou a 
sua associação com a deficiência de fósforo tem sido apontado como um dos maiores limitadores da produtividade. Desde 
o desenvolvimento do conceito de pH em 1909 por Sorensen e a sua adoção pela ciência do solo, a disponibilidade de 
nutrientes e o ambiente para o desenvolvimento do sistema radicular foram associados aos valores de pH do solo. Como a 
agricultura alcançava alta produtividade de grãos em regiões de solos com pH  6,5-7,0, esta passou a ser a meta pois, caso 
contrário, salientava-se que os nutrientes não estavam na sua máxima disponibilidade e haveria elementos tóxicos que 
prejudicariam o crescimento radicular. 
 
1 Resumo elaborado pelos Professores Danilo Rheinheimer dos Santos (UFSM) e Gustavo Brunetto (UFSC). 
 
Assim, a TOMADA DE DECISÃO para a aplicação ou não o calcário sempre foi baseada num valor de pH. Para a 
maioria das culturas, esse valor inicialmente era de 6,5, mais tarde foi modificado para 6,0, atualmente para o sistema 
plantio direto recomenda-se 5,5 e sempre que o pH estivesse menor do que estes valores deveria ser adicionado o corretivo 
de acidez. Entretanto, o uso isolado do pH como tomada de decisão deve ser abandonado, pois alguns solos já calcariados 
não apresentam resposta ao insumo, mesmo com valores de pH inferiores a 5,5. O que se deve usar é a presença de Al 
trocável (ou sua saturação na CTC efetiva) e a saturação de bases como auxiliares na tomada de decisão. Recomenda-se o 
uso do calcário quando a análise de solo indicar a presença de Al trocável ou quando a saturação de bases for menor que 
60% (de maneira geral, isto ocorrerá quando o pH for menor do que 5,5). Se for a primeira vez que o solo recebe calcário 
ou houver mobilização para incorporá-lo com a lavração e a gradagens, recomenda-se elevar o pH a 6,0 para que o efeito se 
estenda até os 20 cm de profundidade e para aumentar o efeito residual. 
As primeiras recomendações de DOSES de calcário no RS e SC foram baseadas no teor de alumínio trocável, 
através do “fator calagem”, já que previa uma tonelada de calcário por hectare para cada cmolc L-1 de alumínio. Com a 
evolução de estudos da estimativa da necessidade de calcário em função do teor de alumínio trocável, este fator foi 
crescendo gradativamente, passou para 1,33; 2,0 e 2,4. O método SMP foi introduzido no RS e SC em 1969, passando a ser 
o método oficial, mudando-se a filosofia de recomendação de calagem. Assim, abandonou-se a estimativa da dose a partir 
do teor de alumínio trocável e adotou-se elevar o pH do solo até um valor pré-estabelecido para as culturas. 
Uma vez constatada a necessidade de adição de corretivos da acidez e estabelecida à dose recomendada, têm-se 
pelo menos mais duas incógnitas a serem resolvidas. A primeira diz respeito ao tipo de corretivo. Os corretivos mais 
baratos e abundantes são os calcários dolomíticos, que apresentam Ca e Mg como cátions acompanhantes. Isto mostra que 
o calcário também é um fertilizante, tendo em vista as grandes quantidades de Ca e Mg na sua composição. O uso de 
calcário de concha (calcítico) dever ser avaliado criteriosamente, considerando a relaçãocusto/benefício para neutralizar a 
acidez, em comparação com o calcário dolomítico, bem como o fato do calcário de concha não apresentar Mg na sua 
composição, o que é uma desvantagem. A qualidade do calcário depende da sua composição química (poder de 
neutralização) e do grau de moagem (reatividade), o que determina o PRNT (poder relativo de neutralização total). A 
segunda incógnita refere-se ao modo de aplicação. No sistema convencional, o calcário e aplicado na superfície e 
incorporado por lavração e gradagens. No sistema plantio direto, o calcário é distribuído e mantido em superfície. A 
correção da acidez em profundidade neste sistema dependerá da quantidade de calcário adicionada, do tipo de solo, do tipo 
de resíduos de plantas, da atividade biológica, e do tempo, entre outros.

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