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Civilização Persa Aquemênida 
MOURREAU, J. A Pérsia dos Grandes Reis e de Zoroastro. Rio de 
Janeiro: Otto Pierre, 1979. 
 
A lança do homem persa penetrou ao longe... " A frase de Dario faz 
pensar. Como, em apenas um século, os reis aquemênidas de Ansan 
puderam se tornar os senhores incontestáveis de todo o Oriente? É 
certo que as qualidades excepcionais de Giro, o Grande, de Gambises e 
de Dario explicam o fato em grande parte. A seus méritos acrescentam-
se os dos Persas e dos Medos: os grandes chefes são sempre apenas a 
recompensa dos povos. 
 
O Iranismo, isto é, o conjunto de tradições, costumes, crenças que 
dividem Medos e Persas, representava na época uma fonte de poderio 
inegável." Essa afirmação de Van Effeterre não pode ser contradita. O 
império persa, o primeiro de tanta importância e o primeiro a reagru-
par tantos países e povos diferentes, tirava sua força e estabilidade de 
um novo estado de espírito. Ele é o produto de um povo feito para 
conquistar e organizar. 
 
Rompendo totalmente com as cruéis tradições do militarismo assírio, 
esse espírito imperial ultrapassa o despotismo. Está ligado à coesão e 
ao bem-estar dos povos. Destruindo os antigos costumes orientais, cria 
então um acontecimento único na história, através da originalidade de 
seus princípios. 
 
O rei dos reis: o eleito dos deuses 
 
No topo do império: o rei. Seu título de khshathra (guerreiro) indica 
claramente a origem militar da monarquia persa. Os reis aquemênidas 
são eleitos pela ordem dos guerreiros. Alguns príncipes, como Ciro e 
Dario, cuidarão de dirigir suas eleições ainda em vida para que um de 
seus filhos seja designado como sucessor. Mas o príncipe continua. 
 
Em caso de ruptura ou na ocasião de um interregno, como vimos na 
época da morte de Cambises, as famílias da aristocracia guerreira 
colocam essa escolha sob a égide dos deuses. O cavalo, animal sagrado 
do deus solar, designa então o eleito dos deuses. Essas formas de 
designação do soberano enquadram-se bem nas tradições indo-
européias onde o poder supremo 
cabe de modo geral a um nobre guerreiro escolhido por seus 
companheiros ou o rei é eleito pelos deuses. 
 
Pela imagem e pela escrita, Dario reconhece que seu poder emana do 
deus Ahura Mazda. Em seu sinete-cilindro de calcedônia, um ser a 
meio-corpo, barbudo e coroado, apóia a mão esquerda sobre o disco 
alado e eleva a mão direita para abençoar e proteger. 
 
Cavaleiro místico, arquétipo divino 
 
"Esse simbolismo do 'Sábio Senhor", comenta Joseph Wiesner, 
"acompanha o carro de caça real puxado por dois cavalos, que sai à 
caça do leão. Ele vaga pelo meio do campo entre o Grande Rei que atira 
com o arco e o leão atingido erguido de frente para a parelha de 
cavalos." O soberano representa o poder luminoso de Ahura Mazda. Ele 
é o herói radiante enfrentando o velho príncipe da morte, o 
demonismo refratário do Mal, o espírito mau de Ahriman, que simboli-
za o leão. 
 
Esse símbolo encontra-se num baixo-relevo de Persépolis: o rei está de 
pé, em frente a um grifo de chifres que já lançou suas garras sobre ele, 
enquanto o gládio real encontra-se enfiado no corpo da fera. E o baixo-
relevo rupestre de Behistum, onde vemos Dario massacrar o 
usurpador Gaumata, é apenas a versão da história. 
 
"Ser cavaleiro, ser mestre no arco e dizer a verdade", essas exigências 
da ética iraniana são as do Grande Rei. Cavaleiro místico, o soberano é 
o arquétipo do divino, o senhor da "realeza total". 
 
A Pérsia antiga ignora o culto imperial. Mas seu rei, escolhido pelos 
deuses, é respeitado como tal. Escutemos Plutarco: "Os povos rendiam 
grandes honras ao príncipe regente, porque respeitavam nele o caráter 
de divindade do qual ele era a imagem viva e cujo lugar ele ocupava, 
tendo subido ao trono pela mão do soberano mestre, e revestido de sua 
autoridade, para ser com relação a eles o ministro de sua bondade e de 
sua providência." 
 
Um respeito religioso 
 
Banido pelos seus e refugiado na Pérsia, o Grego Temístocles pedirá 
audiência ao rei. Ele ouvirá Artaban explicar os costumes da corte: "O 
melhor de nossos inúmeros e bons costumes é que honramos o rei, e 
nos inclinamos diante dele, da mesma forma que diante da imagem do 
deus que salva o universo." 
 
A proskynese, que confundirá e irritará muito os companheiros de 
Alexandre quando este decide adotar os costumes aquemênidas, é um 
cumprimento e um ato de adoração. Prosternação profunda 
consistindo em se jogar ao chão diante do soberano, ela esclarece o 
aspecto religioso ligado a sua função. 
 
Dessa ideologia origina-se todo o cerimonial: "Quando o rei saía de seu 
palácio, locomovia-se de carro ou em seu cavalo, jamais era visto a pé." 
Ateneu também conta: "Quando fazia suas 
refeições, seus convidados não ficavam a sua mesa, ficava separado 
deles por uma cortina." 
 
Rei de paz com auréola 
 
Essa função religiosa aliada à soberania tem uma repercussão na 
conduta do rei, sobretudo no campo de batalha. Na verdade, a ideologia 
real iraniana oriunda de Yima, primeiro homem e primeiro soberano, 
um rei solar e portanto de paz. O rei persa não pode, portanto, em 
princípio, participar diretamente da guerra. 
 
É num trono elevado, indica Windengren, que Xerxes fiscaliza a batalha 
de Salamina. É instalado em seu carro de guerra que Dario 3 acom-
panha o desenrolar dos combates de Isso e de Gaugamela. O que 
explica os comentários pouco lisonjeiros feitos pelos Gregos. 
 
A cor da função guerreira é o vermelho. E esta portanto a cor do rei. 
Mas, como a dos sacerdotes é o branco, um compromisso deve ser 
adotado para conciliar as duas funções do soberano: 
 
"O grande rei aquemênida usava uma túnica de púrpura com 
entremeios brancos, e seu ornamento de cabeça também era de 
púrpura com faixas brancas", observará Curtius Rufus. 
 
Obtendo dos deuses sua soberania, o rei é descrito ou representado 
com uma auréola, como um nimbo em torno da cabeça. Esse sevarnah, 
fenômeno luminoso, que emana da pessoa do rei, materializa sua sorte, 
sua riqueza e sua felicidade. É o atributo natural do cavaleiro radioso. 
 
Uma aristocracia e uma fidelidade 
 
Embora o poder político do rei aquemênida seja considerável, é falso 
pensar que seja também ilimitado. O soberano deve contar com sua 
família e sua corte. Esta última, indica Windengren, tomará a forma de 
uma guarda do corpo: os "Dez Mil Imortais". 
 
Os seis guerreiros nobres que, com Dario, correram os riscos da revolta 
contra o usurpador Gaumata, desfrutarão assim de privilégios 
excepcionais. Conselheiros do Grande Rei, com o qual podem ter 
contato a qualquer momento, estão intimamente associados aos 
negócios do império: 
 
"Seus conselheiros estavam muito bem instruídos sobre a disposição 
das leis, as sentenças do Estado, os antigos costumes. Seguiam por toda 
parte o príncipe que não fazia nada e não decidia nenhum negócio 
importante sem consultá-los." 
 
A autoridade do comando reside na personalidade do rei, mas este leva 
em consideração as opiniões dos que o cercam, e também dos nobres 
que vivem na sua corte. É exatamente o oposto do déspota oriental que 
só escuta a si mesmo. 
 
A idéia principal sustentando e conduzindo a política real dos 
Aquemênidas e também a da fidelidade que estabelece seus elos entre 
a nobreza persa, a família real, os companheiros de armas e o rei. Esse 
último pode também delegar uma parte de seus poderes e oferecer a 
seus feudatários o privilégio de exercer livremente sua autoridade nos 
territórios do império. 
 
A fidelidade liga também pessoas de raças e religiões diferentes ao 
"Persa, filho do Persa, 
Ariano, de descendência ariana" como gostam de ser chamados os 
grandes reis aquemênidas. O rei, sem pensar jamais em assimilar seus 
vassalos, pode assim, através desse elo, respeitar cada particularismo, 
e evitar que a suserania persa seja muito opressora.Baseadas na 
fidelidade, as tendências particularistas e feudais, próprias ao Irã 
antigo, opor-se-ão sempre ao monstruoso sistema burocrático e 
centralizador do antigo mundo oriental. 
 
Satrapias, poder regional 
 
Evitando a asfixia centralizadora, a política real dos Aquemênidas 
organiza o império com base nas satrapias. O princípio desses 
governos "regionais", confiados a oficiais reais, já havia sido 
implantado na Babilônia e na Assíria, porém visava apenas reforçar o 
autoritarismo dos déspotas mesopotâmicos. Com os Aquemênidas, 
afirma-se o propósito oposto. 
 
A satrapia persa é uma verdadeira delegação de poderes. Ela 
reconhecia as identidades e as autonomias locais. Cada região conserva 
sua própria língua, suas leis, seus costumes, sua moral, sua religião e 
seus deuses, às vezes até mesmo seus chefes. Assim será na Fenícia, no 
Egito, na Palestina. Esse modo de ver e de organizar as relações entre o 
soberano persa e as múltiplas etnias vassalas justifica o título de "rei 
dos reis" usado pelos soberanos aquemênidas. 
 
O rei persa jamais exige a integração das nações vassalas. "Ariano, filho 
de Ariano", ele tem demasiada consciência de sua especificidade étnica 
para impô-la aos povos submissos ao império. Contenta-se em ver o 
reconhecimento da suserania persa. Esta aliás pode ser apenas uma 
simples obrigação de fidelidade que se concretiza através do 
pagamento de um tributo. 
 
A satrapia é construída em torno de um povo específico ou de uma 
região natural precisa. Às vezes são ligadas a alguns elementos meno-
res tais como principados, antigas cidades autônomas, pequenas tribos 
inseridas. O império aquemênida é portanto amplamente" 
regionalista". 
 
O número de satrapias variará de 20 a 30, de acordo com a vontade 
imperial. Heródoto citará 20. A inscrição de Persépolis enumera 24, a 
de Naqsh-i-Rustem, 28. Esse número chegará a 32. 
 
No início, havia 23 satrapias. Eis a lista: 
Fars ou Pérsida; Elam ou Susiana; Caldéia; Assíria; Mesopotâmia; Síria; 
Fenícia e Palestina confundidas sob o nome de Arabaia; Egito; os povos 
do mar: Cilícios e Cipriotas; Jônia ou colônias gregas da Ásia Menor; 
Lídia e Mísia; Média, Armênia; Katpatuka ou Capadócia; Pártia e 
Hircânia; Zarangia; Ária; Corasmia; Bactriana; Sogdiana; Gandária; os 
Saka ou Saces na grande planície da Tartária; os Thatagus ou 
Satagídios da bacia do Helmend; a Aracósia; os Makas do estreito de 
Ormuz. Sua distribuição descreve um círculo em torno de Pêrsida, no 
sentido dos ponteiros do relógio. 
 
Em torno do Sátrapa 
 
O sátrapa ou khchathrapa é nomeado pelo rei, investido de todos os 
seus poderes. Esse alto dignitário, cujo título permaneceu em nosso 
vocabulário muitas vezes com sentido pejorativo, possui sua 
administração, seu palácio e sua corte. É um verdadeiro vice-rei. 
Xenofonte diz: "A mesma ordem que reinava na corte do rei devia ser 
proporcionalmente observada nas cortes das satrapias." 
 
O sátrapa governa em nome do rei. Só a ele presta conta de seus atos. 
Sua missão essencial é manter a paz e fazer reinar a justiça entre sua 
gente. Tem também o encargo de receber os impostos e recrutar 
tropas para as guerras. 
 
Este vice-rei não está sozinho. Temendo que ele se conduza como um 
déspota ou dissidente, os reis aquemênidas o rodearão de homens 
seguros e leais, como vimos fazer Dario. 
 
Xenofonte conta: "Quando Giro envia sátrapas às províncias que havia 
subjugado, não queria que governadores particulares locais, nem ofi-
ciais das tropas entretidas pela segurança do país dependessem deles, 
a fim de que um sátrapa convencido de sua grandeza e de suas 
riquezas, viesse a abusar de sua autoridade, ele encontrava em seu 
próprio governo testemunhos e censores de sua má conduta." 
 
Outros Persas, cuja fidelidade ao rei é infalível, rodeiam portanto o 
sátrapa. Cada satrapia é assim dotada de um escriba real, encarregado 
da chancelaria, de um general ou karonos que comanda as tropas reais 
das guarnições. 
 
Esses dois dignitários são independentes do sátrapa. Nomeados pelo 
rei, só recebem instruções do soberano e de sua corte. O escriba per-
mite que o rei esteja totalmente informado sobre as atitudes do 
sátrapa e do general. Alguns outros oficiais são encarregados de postos 
autônomos: governador da fortaleza ou argapat, guardião do tesouro. 
 
Pode também acontecer que um parente próximo do rei, ou general de 
confiança, seja chamado para exercer uma autoridade superior 
englobando várias satrapias. 
 
 
“Os olhos e ouvidos do rei” 
 
O sátrapa tem inteira responsabilidade pelo seu território. Tem total 
liberdade de ação A autoridade real exerce-se simplesmente através do 
controle das iniciativas, a posterior; escolhido pelo rei, entre os 
grandes do império, comissários vão pessoalmente visitar as 
províncias. 
 
Heródoto define assim a missão desses enviados: "Reprimir os 
movimentos de revolta, impedir as injustiças e violências dos magistra-
dos, romper absolutamente com tudo que é feito contra a ordem e as 
regras, em uma palavra, levar a toda parte uma influência salutar, ouvir 
tudo, sem rejeitar nenhuma queixa ou súplica." 
 
Chamados de “olhos e ouvidos do rei”, esses funcionários devem 
prestar contas da situação particular de cada satrapia. Seu crédito é 
grande. Com base na fé de seus relatos, a corte real toma decisões. 
 
Reforçado por Daria, no dia seguinte às primeiras revoltas, esse 
controle efetua-se sem piedade. Assim, Oroites da Lídia, que trama sua 
independência, é morto por seus próprios soldados, por ordem de 
Bagadeus que se apresenta como homem de confiança do rei. 
 
Alguns autores consideraram-nos como uma organização análoga a 
dos missi dominici de Carlos Magno. Mas a tarefa desses conselheiros 
ou comissários não se resume a um controle político. Leva ao soberano 
aquemênida todo conhecimento útil sobre o andamento de seu 
império. E, embora esses comissários se interessem pela política, pela 
justiça, pelas finanças, permitindo assim que seja mantida a realeza 
persa, inquietam-se também com o progresso econômico, e a qualidade 
de vida: a limpeza das cidades, o conforto das habitações, a 
manutenção das vias de comunicação. 
 
Baseado em suas pesquisas, o rei pode fazer reclamações ou elogios. 
Assim Daria, informado por seu homem de confiança, pode escrever a 
Gádatas, sátrapa de Magnésia: "Quando cultivas cuidadosamente 
minhas terras, e planta árvores frutíferas no sul da Ásia, elogio tua 
intenção e isto te vale muita gratidão junto à casa do rei. " 
 
Respeito aos particularismos 
 
O sistema satrápico permite, é verdade, a presença eficaz e durável da 
administração, assim como a defesa dos interesses persas e reais. Mas 
essa administração, dissemos, não é a expressão de uma centralização 
autoritária. 
 
O sátrapa dispõe de uma real autonomia de governo. Emprega seu 
poder dentro do espírito e da lógica dos Persas: organiza, desenvolve e 
protege. Se o tributo é às vezes caro para os povos submissos, o 
sátrapa procura manter a paz entre os vassalos e reprimir a pilhagem. 
Mantém a segurança nas estradas e protege a agricultura. A paz 
aquemênida é um fator de prosperidade decisivo para os povos que 
viviam até então num estado constante de guerra. A administração 
satrápica também não é a expressão de uma concepção de 
totalitarismo. Embora seja certamente muito forte falar em um 
federalismo persa, é incontestável que o império aquemênida 
apresenta uma desconcentração muito liberal. E isso fará com que 
colha frutos beneficiando-se com um clima de paz interior que o 
mundo oriental jamais conhecera. 
 
Graças ao respeito aos particularismos, os povos continuam a viver de 
acordo com seus costumes. A justiça dos sátrapas considera leis es-
pecíficas a seus povos. As religiões e os deuses não são exceções. 
 
Proteção ativa aos cultos estrangeiros 
 
Ciro inauguraa política persa de tolerância religiosa e prova ter um 
espírito de ajuda ativa com relação aos cultos estrangeiros na Pérsia. 
Dario agirá da mesma forma. Graças a ele, os 
Judeus que não puderam conduzir satisfatoriamente a reconstrução do 
templo de Jerusalém devido à perturbação provocada pelos 
Samaritanos, poderão concluí-la, sendo as despesas pagas pelo Grande 
Rei. O édito de Dario, que se tornou famoso, proclama: 
 
“Eis portanto, Tattenai, governador de Abarnahara, Satrbozenai e seus 
colegas, os investigadores estão em Abarnahara: permaneçam à dis-
tância, dêem toda liberdade ao governador dos Judeus e aos antigos 
Judeus para o trabalho nesse templo: podem construí-lo no seu local. 
 
E a ordem é dada por mim, pela presente, incluindo o modo como 
devem agir com os antigos Judeus com relação à construção desse 
templo: as despesas devem ser abatidas integralmente dos lucros do 
rei graças aos impostos da província de Abarnahara, para que os 
trabalhos não sejam interrompidos; assim como as coisas necessárias, 
a saber, touros jovens, carneiros e ovelhas para oferecer sacrifícios ao 
deus do céu. Segundo seus pedidos, serão dados aos sacerdotes de Je-
rusalém, dia após dia, trigo, sal e óleo, sem negligência, para que 
ofereçam ao deus do céu sacrifícios de perfume e rezem pela vida do 
rei e de seus filhos. 
 
E ordenei também que se alguém não respeitar esse edito, seja 
arrancada uma viga de sua casa, e que seja empalado; e mais, sua casa 
será reduzida a um amontoado de escombros. E que o deus que faz seu 
nome habitar lá derrube todo rei e todo povo que estender a mão para 
agir de modo diferente, a fim de destruir esse templo de Jerusalém! 
 
Eu, Dario, dei essa ordem. Que seja executada integralmente!" 
 
Outros documentos atestam a proteção aquemênida que beneficia os 
cultos estrangeiros na Pérsia. Assim, na seqüência de sua carta a 
Gádatas, Dario acrescenta reprovações aos elogios. Reprova o sátrapa 
por ter imposto taxas aos que cultivam as terras consagradas a Apoio, 
forçando-os assim a trabalhar terras profanas: li Com isso, desprezas 
os sentimentos de meus ancestrais com relação a esse deus, que 
sempre disse aos Persas somente a verdade." 
 
Vemo-lo, respeitoso com relação aos deuses estrangeiros, protetor de 
seus cultos, dos quais participa a seu modo, o rei aquemênida proíbe 
qualquer repressão religiosa ou proselitismo. Ainda aí, é a consciência 
da especificidade do Persa e do Ariano que faz com que procure a 
harmonia dentro da diversidade. 
 
Sociedade Persa e Governo 
 
Três forças essenciais asseguram o poderio do império aquemênida: a 
justiça, que, expressão da ética persa, assegura ao reino a ordem e a 
igualdade entre as pessoas; o exército, instrumento indispensável para 
a conquista e manutenção da hegemonia persa; as finanças que 
permitem aos reis adquirirem o que querem e cuja principal fonte é o 
tributo dos países submissos. 
 
Fixação e percepção dos impostos 
 
"O rei é a espada e o escudo do Estado; assegura seu repouso e sua 
tranqüilidade. Para defendê-lo, ele necessita de armas, soldados, 
fortalezas, arsenais, vassalos e todas essas coisas exigem muitas 
despesas. Aliás é justo que o príncipe tenha como sustentar a 
majestade do império e meios para fazer respeitar sua pessoa e sua 
autoridade. São essas as duas principais razões do estabelecimento de 
tributos." Heródoto explica e justifica o imposto ao qual os reis 
aquemênidas submetem os povos conquistados. 
 
Sua percepção é assegurada pelo sátrapa. Este emprega uma parte 
para seu próprio uso, para o soldo dos funcionários locais e 
administração de seu território. O resto, que é a maior parte, é 
entregue ao rei. 
 
Segundo Plutarco, o montante da parte entregue ao rei é decidido em 
conjunto entre este e os representantes das províncias: "A história 
observa que Dario, impondo seus tributos, demonstrou uma grande 
sabedoria e uma grande moderação. Chamou os principais chefes de 
cada província, que melhor podiam conhecer o forte e o fraco, e que 
tinham interesse em falar com sinceridade. Perguntou-lhes se uma 
certa soma, que propunha para cada um deles para suas províncias, 
não era muito a/ta e não excedia suas forças. Sua intenção, dizia-lhes, 
não era sobrecarregar seu povo, mas de tirar deles recursos proporcio-
nais ao lucro, que eram absolutamente necessários para a defesa do 
Estado. Todos lhe responderam que a soma parecia-lhes razoável e que 
não seria uma carga para seus povos. Entretanto ele ainda abateu a 
metade, preferindo ficar bem à margem das normas justas, que expor-
se talvez a ultrapassar." 
 
Não sendo o sátrapa submetido a nenhum controle para a percepção 
desses impostos, a sabedoria do rei estava ciente da parte suplementar 
que o governador não deixaria de exigir para empregar em suas 
próprias necessidades. Além disso, o sátrapa devia saber como o 
imposto é irritante para quem o paga. 
 
Pagamentos em espécie e “in natura” 
 
A índia enviaria assim 4.680 talentos, a Assíria e a Babilônia 1.000, o 
Egito 700, a Ásia Menor, dividida em quatro circunscrições ou 
"nomos", fornecerá 1.760. O total geral atingirá 14.560 talentos, 
aproximadamente, um bilhão de cruzeiros. 
 
Suas riquezas são guardadas nas tesourarias, as gaza, das principais 
capitais reais. Nestes locais, lingotes de ouro ou de prata são guardados 
e serão cunhados em moedas à medida em que exigem as necessidades 
do reino. 
 
Mas o imposto não é recebido somente em "espécie". Heródoto o diz: 
"Além desses tributos recebidos em dinheiro, havia uma contribuição 
que se fazia in natura através de mercadorias e provisões para a 
manutenção da mesa do rei e de sua casa, e através do fornecimento de 
sementes, forragens e víveres para subsistência dos exércitos, cavalos 
para a remonta da cavalaria." 
 
Esses impostos em natureza tomam formas variadas e às vezes 
inesperadas: 120.000 medidas de trigo, destinadas ao exército de 
ocupação, para o Egito; SOO eunucos para a Babilônia; 100.000 ovelhas 
para a Média; 300.000 frangos para a Armênia; cães de caça e pó de 
ouro para a índia; dentes de elefantes, madeira de ébano e cinco 
crianças para a Núbia; 100 quintais de incenso para os Árabes ... 
 
Esses tributos naturalmente só são obrigatórios para os conquistados. 
Os Persas, "povo mestre", são isentos. A Pérsia contenta-se em oferecer 
presentes aos reis respeitados. 
 
A grande importância dada à justiça 
 
"Parece que, na Pérsia, os reis tinham um grande cuidado para que a 
justiça fosse administrada com muita integridade e desinteresse." Essa 
observação de Heródoto nada tem de surpreendente. 
 
Cavaleiro radioso, inimigo das forças obscuras e da mentira, o rei age 
em nome de Ahura Mazda, o deus luminoso. Sua função é a de juiz 
supremo. Sendo inspirado pelo grande deus, a lei que edita é 
considerada como expressão da vontade divina. 
 
Uma promessa ou uma decisão reais são irrevogáveis. O direito baseia-
se apenas em decretos reais. A educação dos príncipes os prepara para 
esse encargo. Falando de Ciro, o Ciropédia de Xenofonte observa: "Ele 
ia à escola para aprender a justiça, como se vai para aprender as letras 
e as ciências." 
 
O soberano aquemênida transforma a justiça em matéria penal, 
sobretudo quando se trata de crimes contra a segurança do Estado ou 
contra sua pessoa. Em matéria civil, delega de modo geral seus poderes 
aos velhos sábios de sua corte. 
 
O império dispõe de uma Alta Corte de justiça. Composta de sete juízes 
reais. A corrupção dos magistrados é um crime capital que sanciona a 
execução do corruptor e do corrompido. Vimos a medida tomada por 
Cambises com relação a Sisamnés. 
 
Dispersos pelo império, os tribunais tratam de casos menos 
importantes. A esse propósito, Xenofonte destaca: "Os juízes comuns 
eram tirados do conjunto de velhos, onde não se entrava antes de 50 
anos. Assim,ninguém exercia justica antes dessa idade, pois os Persas 
acreditavam que não se estava suficientemente maduro para julgar 
fatos que decidem os bens, a reputação e a vida dos cidadãos." 
 
Uma justiça ponderada, humana ... 
 
A fim de evitar a lentidão da justiça, essa rede de sociedades 
burocráticas, um prazo máximo é previsto para o exame de cada caso. 
Usava-se o juramento e o ordálio. 
 
Uma lei essencial da justiça persa: jamais condenar um culpado sem 
confrontá-lo com seus acusadores e sem dar a ele tempo e meios para 
responder aos chefes da acusação feita contra ele. Uma pessoa acusada 
erroneamente vê seu delator ser condenado à própria pena que lhe era 
destinada. Por ódio à mentira, a justiça persa dá mais valor à noção de 
verdade... Dizer a verdade" pertence à moral aquemênida. 
 
O tribunal persa não dispensa apenas penas, mas também 
recompensas. Sanciona a vida pública. Em seus julgamentos, considera 
os antecedentes e os serviços prestados pelo acusado. Heródoto 
observa: “Não era permitido nem aos particulares matar um escravo, 
nem ao rei aplicar pena de morte contra nenhum homem por uma 
primeira e única falta, pois ela podia ser vista mais como efeito da 
fraqueza e da fragilidade humana que como marca de uma tendência 
criminosa. " 
 
Boas e más ações, méritos e desmerecimentos encontram seus lugares 
na balança da justiça. Os Persas não consideram justo que um só crime 
possa apagar a lembrança de todas as boas ações de um homem. 
 
Heródoto prossegue: “Se, através de um exame refletido, ficasse 
estabelecido que as faltas do escravo fossem em maior número e mais 
consideráveis que seus serviços, seu senhor podia então agir segundo 
sua cólera." 
 
Naturalmente os juízes consideravam os costumes particulares dos 
povos, suas leis próprias ou o espírito de seu código. Adaptam seus 
vereditos em função desses elementos específicos. 
 
Bastante complexo por esses diversos critérios, o direito dará origem a 
uma classe de especialistas: os “oradores da lei" que levarão seus 
conselhos aos queixosos e dirigirão seus processos. 
 
....mas com penas terríveis 
 
A gama de castigos é vasta e o juiz tem dificuldade de escolha. As penas 
leves consistem em chicotadas, variando de cinco a 200. O homicídio 
involuntário expõe a 99 golpes. O envenenamento de um cão de pastor 
recebe a pena máxima: 200 golpes. Essas penas são conversíveis em 
multa. 
 
As penas mais graves são sancionadas pelo ferro quente, a mutilação, a 
privação da vista, o envenenamento e a morte. A traição, o rapto, a 
sodomia, o assassinato, o fato de queimar um morto, uma intrusão na 
intimidade do monarca, o fato de aproximar-se de uma de suas 
concubinas, sentar-se em seu trono ou causar algum desgosto em sua 
casa são sancionados com a pena capital seguindo diversos modos de 
execução. Estes vão do envenenamento ao sufocamento, passando pela 
crucifixão, empalamento e enforcamento. 
 
A alta traição conduz à degolação e extração de um braço. O rebelde é 
punido de modo exemplar: cortam-lhe o nariz, as orelhas, furam-lhe os 
olhos, depois é exposto ao povo e enforcado no local em que cometeu 
sua falta. Serão esses os processos da justiça repressiva utilizados por 
Dario após as revoltas. 
 
 
A religião dos Persas 
In TATSCH, F. Persas in FUNARI, P. (org.) Religiões que o mundo 
esqueceu. São Paulo: Contexto, 2010. 
 
Zoroastro foi o primeiro a conceder ao próprio homem o 
livre-arbítrio, a responsabilidade por seus atos e 
pensamentos. Também foi pioneiro ao contemplar o 
julgamento individual baseado na ética pessoal. Como 
resultado desse juízo, pode-se chegar ao paraíso ou ao 
inferno. Segue-se a ressurreição do corpo e, finalmente, o 
Julgamento Final. Esses preceitos se tornariam comuns a 
muitas outras religiões, como o judaísmo, o cristianismo e o 
islamismo. 
 
O zoroastrismo é uma das mais antigas religiões monoteístas. 
Foi fundado na Pérsia, atual Irã, por Zaratustra, ou Zoroastro, 
com diziam os gregos. Essa religião influenciou — direta ou 
indiretamente — outras crenças religiosas, entre elas o judaísmo, 
o cristianismo e o islamismo. Em sua época áurea 
tornou-se religião de Estado de três grandes impérios 
iranianos dos séculos VI a.C. até VII d.C. Atualmente, há um 
pequeno número de seguidores que vivem no Irã e na Índia. 
Zaratustra Spitama nasceu na região que hoje engloba o norte 
do Irã e sul do Afeganistão. É difícil estabelecer uma data 
específica para o nascimento, mas é possível situá-lo entre 
1500 e 1200 a.C. Pouco se conhece de sua vida. Segundo a 
tradição, era um sacerdote (zaotar), viveu muitos anos, casou-se 
três vezes, levava uma vida simples com poucos bens ("Eu 
sei, ó Sábio, por que não tenho poder: é porque poucos são os 
meus rebanhos e poucos os homens de que disponho." Yasna, 
46:2). 
 
Aos 30 anos, em meio a um ritual de purificação, teve uma 
visão. Único fundador de um credo no qual era ao mesmo 
tempo sacerdote e profeta, percebeu que a sabedoria, a justiça 
e a bondade estavam separadas da fraqueza e da crueldade. 
Acreditando ter sido instruído diretamente por Ahura Mazda, 
o Ser Supremo, passou a transmitir a mensagem divina à 
comunidade: o mundo vivia em meio a uma disputa de forças 
contrárias e o homem, assim como os espíritos, tinha o livre arbítrio 
para escolher entre o bem e o mal, entre a luz e a 
escuridão. 
 
A nova proposta, baseada em idéias reformistas, entrou em 
conflito com as antigas práticas religiosas tradicionais e, em 
pouco tempo, as reações se fizeram sentir. Zoroastro partiu 
em busca de refúgio e, em suas andanças, encontrou guarida 
na tribo da rainha Hutaosa e seu marido,Vishtaspa, que logo 
se converteria às novas idéias tornando-se grande protetor e 
amigo do profeta. 
 
A doutrina de Zoroastro incomodou duplamente os 
seguidores da antiga religião indo-iraniana. Por um lado, as 
propostas reformistas ofereciam a salvação a todos que 
optassem por uma vida justa e honrada independentemente 
de sua classe social, rompendo com a tradição que estipulava 
uma vida de suplícios após a morte àqueles que não 
pertenciam à aristocracia ou ao sacerdócio. Por outro, a 
rejeição aos daevas e a incorporação de conceitos como um 
único Creador, dualismo, grande batalha cósmica e 
julgamento eram muito difíceis de serem aceitas por parte da 
comunidade politeísta, como veremos adiante. 
Em sua própria tribo, conquistou um único discípulo: 
Maidhyoimanha. Zoroastro começou a ganhar adeptos 
somente com a conversão da rainha Hutaosa e seu marido 
Vishtaspa. 
 
As antigas práticas dos indo-iranianos 
É preciso retomar alguns aspectos e práticas da antiga 
religião para compreender a natureza da revelação de 
Zoroastro. Os ancestrais daqueles que se conhecem como 
iranianos e indianos formavam um só povo identificado como 
proto-indo-iranianos, um dos ramos da família indoeuropéia. 
Viviam entre as terras das estepes ao sul da Rússia 
até o Volga, criando gado e ovelhas. Por volta do terceiro 
milênio antes de Cristo, parte dos proto-indo-iranianos 
migrou para o sul e atravessou o Hindukush, passando a 
ocupar a Índia. Dessa separação resultou a formação de dois 
povos que, apesar de se comunicarem em línguas distintas, 
conservaram alguns elementos em comum, fosse o domínio 
da sociedade pela aristocracia guerreira e pelos sacerdotes, 
fossem algumas práticas religiosas. 
 
Somente os sacerdotes podiam realizar diariamente o culto 
(yasna). Antes de iniciar a cerimônia ingeriam o haotna, 
bebida provavelmente preparada a partir de folhas de 
ephedra, cujo caráter alucinógeno provocava uma espécie de 
transe. A solenidade contava ainda com o sacrifício de 
animais — para os iranianos, o espírito do animal 
encaminhava-se até uma divindade chamada Geush Urvan (A 
alma do touro). 
 
Rico e diversificado, o panteão indo-iraniano — em grande 
parte concebido antropomorficamente— estava formado por 
deuses (daevas) ligados a fenômenos físicos da natureza ou a 
conceitos diversos. No primeiro grupo, podemos listar Atar (o 
fogo), Apa (a água), Asman (o céu) e Zam (a Terra), Hyar (o 
Sol) e Mah (a Lua), Vata e Vayu (os dois deuses do vento); no 
segundo, Airyaman (poder da amizade), Arshtat (Justiça), 
Ham-vareti (coragem) e Sraosha (obediência). Acima desses, 
dois deuses se destacavam Apan Napat e Mithra. 
Amplamente venerados, a eles atribuíam-se muitos conceitos: 
ao primeiro, "juramento", "verdade"; já Mithra era o 
"contrato"; o deus do Sol, o maior dos fogos, aquele que 
acompanhava o astro durante seu trajeto diário; a "lealdade". 
Ambos receberam o título de ahura, que significa "deus", 
"senhor". 
 
Ahura Mazda e a escolha entre o Bem e o Mal 
De acordo com a tradição, após se tornar sacerdote aos 15 
anos, Zaratustra vagou durante muito tempo em busca da 
verdade até que, finalmente, a alcançou durante um ritual 
(Gãthãs; Yasna, 43). Em busca de água para o haoma, entrou 
em um rio e ao retornar à margem, em estado de pureza física 
e espiritual promovido pelo elemento purificador (a água), 
teve uma visão: um ser iluminado, que se revelou como Vohu 
Manah (o bom pensamento), levou-o até a presença de Ahura 
Mazda e outros cinco seres divinos: Asha Vahishta, Spenta 
Armaiti, KhshathraVairya, Haurvatãt e Ameretãt. Essa foi a 
primeira de inúmeras visões nas quais ouviu o Ser Supremo 
chamando-o a Si. 
 
Mazda, um dos maiores ahuras do panteão iraniano, era 
venerado e cultuado como o guardião do asha (ordem da 
verdade, justiça). Zaratustra proclamou Ahura Mazda como o 
Senhor Supremo; o imortal; Deus da sabedoria; o Creador de 
todas as coisas; aquele a partir de quem emanavam todas as 
outras criaturas divinas. Em sua visão, o Creador estava 
acompanhado por seus dois filhos gêmeos, Spenta Mainyu 
(espírito benfeitor) e Angra Mainyu (espírito destruidor, 
ignorante, maligno, aquele que originou a morte). "Existem 
dois espíritos, gêmeos, conhecidos por estarem sempre em 
conflito. Em pensamento em palavras e em atos eles são dois, 
o bem e o mal..." (Yasna, 30.3-5). Os espíritos deviam 
escolher entre a verdade (asha), ou a falsidade, a maldade, a 
mentira (drug), existentes em todos os pensamentos, palavras 
ou atos. 
 
Na teologia de Zoroastro, o bem e o mal precedem ao próprio 
Criador. O dualismo de seu pensamento está na separação 
desses opostos revelada na origem da criação dos espíritos 
gêmeos: tanto Angra Mainyu quanto Spenta Mainyu tiveram 
a liberdade de optar pelo caminho a seguir; na realidade, as 
escolhas se deram baseadas na natureza de cada um. Nesse 
sentido, não se pode culpar Ahura Mazda pela origem do mal 
ou pela direção tomada por Angra Mainyu, pois o drug 
antecede a própria criação do espírito. Em sua sabedoria, 
onipotência e bondade, o Senhor Supremo já antevia qual 
seria a opção dos filhos. 
 
O caráter original desse preceito transformaria as 
classificações dos deuses existentes na antiga religião indoiraniana, 
na qual ahuras e daevas eram seres divinos. A partir 
de então, os primeiros seriam considerados como aqueles que 
optaram pelo asha, enquanto os últimos se transformavam 
em forças destrutivas, demônios ou deuses da guerra 
(principalmente o deus Indra) seguidores do drug. 
Cabe aqui ressaltar que o asha contém implicações éticas 
atuantes tanto na esfera divina como na conduta humana. 
Honestidade, lealdade, coragem e virtude fazem parte da 
ordem natural; de onde se apreende que o mundo como um 
todo se encontrava envolto nas mesmas tensões. Sob esse 
ponto de vista, os ensinamentos conferem um outro sentido 
ao conceito dualista do bem e do mal: assim como os 
espíritos, os homens tinham o livre-arbítrio para escolher 
entre os dois caminhos. Para o profeta, o masdeísta (aquele 
que escolhia Ahura Mazda) optava pelas virtudes e, portanto, 
deveria lutar contra seus contrários, no caso as forças 
demoníacas representadas pelos daevas. 
 
Amesha Spenta ou os Sete Imortais 
Na primeira visão de Zoroastro, à beira do rio, Ahura Mazda 
estava acompanhado de seis outros seres iluminados, que já 
existiam no panteão iraniano antes da visão. O conjunto todo 
é conhecido como os sete Yazatas ou Amesha Spenta e 
constitui uma parte fundamental dos ensinamentos de 
Zaratustra. Considerados emanações diretas ou indiretas de 
Ahura Mazda, possuem cada qual uma característica que lhes 
habilitava a lutar para derrotar o mal e favorecer o bem. 
Liderando o grupo, estava Vohu Manah (o bom pensamento) 
sempre acompanhado por Asha Vahishta (verdade perfeita), 
divindade que melhor personificava o asha. Em seguida 
vinham: Spenta Armaiti (devoção sagrada), sempre dedicado 
ao que é bom e justo; Khshathra Vairya (senhoria desejável), 
representando tanto o poder com o qual cada pessoa pode 
praticar a justiça em sua vida quanto o poder e o reino de 
Deus; Haurvatãt (saúde, integridade) e Ameretãt 
(imortalidade), que não só prolongavam a vida dos homens 
quanto lhes conferiam saúde e bem-estar durante sua 
existência. 
 
Os masdeístas, eles mesmos resultado da criação de Ahura 
Mazda, compartilhavam com os yazatas o objetivo de lutar 
contra o mal. Daí a necessidade de dedicar o culto diário 
(yasha) a todo o conjunto de imortais ou a uma das 
divindades em particular. Procurando se conectar com a 
presença imaterial e invisível dos Amesha Spenta, o fiel podia 
alcançar um estado espiritual específico (maga) no qual se 
considerava apto a se unir e constituir um só com Spenta 
Mainyu (espírito benfeitor). 
 
A doutrina de Zoroastro estava apoiada, antes de tudo, em 
uma ética e moralidade que infundia nos homens a 
preocupação de viverem sempre sob bons pensamentos, 
palavras e atos. Dessa maneira, a doutrina gerava no homem 
responsabilidade pelo mundo em seu redor. 
 
A história cósmica em três etapas 
Zoroastro dividiu a história cósmica em três etapas distintas: 
Bundahishn (a criação), Gumecishn (a mescla) e Frashegird 
(a separação ou a renovação). 
 
O Bundahishn se deu em duas fases: na primeira, Ahura 
Mazda concedeu a vida a todas as coisas em um estado 
espiritual e imaterial, que em pahlavi se chama de menog, 
totalmente vulnerável ao mal e passível de ataques por parte 
de Angra Mainyu. Daí a segunda etapa, na qual o estado 
inicial do menog se transforma, originando e adquirindo o 
getig, o aspecto material e físico da existência. 
A criação foi sucedida pelo Gumecishn, momento em que o 
espírito mal mata o touro e o homem primordiais — de cujos 
sêmens nasceram tanto os animais bons quanto o primeiro 
casal humano (Mashya e Mashyãnag). Durante essa etapa, 
Angra Manyu se juntou aos devaes e espíritos maus (que 
havia criado para fazer frente aos Amesha Spenta) para atacar 
os homens, infligindo-lhes tudo aquilo que poderia causar 
sofrimentos morais, espirituais e físicos. O mundo não era 
mais totalmente bom, mas uma mistura entre o bem e o mal. 
Na terceira etapa, Frashegird (palavra em pahlavi que 
provavelmente significa renovação), marcada pela purificação 
no fogo e a transfiguração da vida, a humanidade junta-se aos 
yazatas para restaurar o mundo a seu estado inicial, ou seja, 
antes da existência e dos ataques de Angra Mainyu. Nesse 
momento, o bem é separado do mal, os justos dos injustos. 
Para Zoroastro, a separação é uma etapa infindável da 
história. E o período no qual Ahura Mazda, os seis Amesha 
Spenta e a humanidade viverão em perfeita harmonia, 
cercados pela bondade e paz eternas. Com a restauração, o 
mundo retorna ao estado inicial. Entre a primeira e a última 
etapa, está o momento em que o bem e o mal se enfrentam, 
uma batalha na qual deuses e homens lutam pelo mesmo 
ideal. Ora, a doutrina de Zoroastro não só concede a todos o 
livre-arbítrio como oferece à humanidade uma razão pela 
qual viver. 
 
O homem diante da morte 
Noperíodo do Gumecishn, a morte carrega as almas levando-as 
novamente ao estado de menog. Três dias depois da 
separação do corpo, o espírito é conduzido até a ponte Cinvat, 
local em que será moralmente julgado por um tribunal 
presidido por Mithra, acompanhado dos deuses Sraosha e 
Rashnu. A alma é, então, pesada em uma balança e avaliada 
segundo seus pensamentos, palavras e atos: se o prato da 
balança pender para o bem, a ponte se alarga permitindo a 
passagem da alma, que é encaminhada até o paraíso por uma 
bela donzela (personificação da própria consciência, daena). 
Mas, se o prato da balança pender para o mal, a ponte se 
estreita e uma terrível harpia leva a alma para o inferno, 
presidido em pessoa por Angra Mainyu. Existia, ainda, um 
terceiro lugar para onde as almas daqueles que não eram nem 
bons nem maus seriam encaminhadas, denominado Misvan 
Gatu (o lugar dos misturados). 
 
Segundo Zoroastro, mesmo tendo chegado ao paraíso, as boas 
almas só alcançariam a felicidade plena no Frashegird, 
quando a terra devolveria os ossos aos mortos. Essa espécie 
de ressurreição seria antecedida por um julgamento final, no 
qual um rio de lava e metal derretido separaria os justos e os 
injustos. Os maus sofreriam uma espécie de segunda morte, 
juntamente com os daevas e as legiões da escuridão. 
Finalmente derrotados, Angra Mainyu e tudo o que ele 
representava desapareceriam do universo. 
 
Após a vitória, Ahura Mazda e os Amesha Spenta conduzem 
um ritual (yasna) no qual é realizado um derradeiro sacrifício 
(a morte, então, é suprimida). Além disso, prepara-se o 
'haoma branco' que confere a imortalidade aos corpos 
ressuscitados dos bons. A partir desse momento, os 
abençoados são elevados à condição de imortais: livres das 
doenças; dos maus pensamentos, atos e palavras; da 
corrupção; vivendo para sempre e com alegria no Reino de 
Deus. 
 
Zoroastro foi o primeiro a conceder ao próprio homem o 
livre-arbítrio, a responsabilidade por seus atos, pensamentos 
e palavras. Também foi o primeiro a contemplar o julgamento 
individual baseado na ética pessoal - cujo resultado podia 
levar ao paraíso ou ao inferno —, seguido pela ressurreição do 
corpo e, finalmente, pelo julgamento final. Esses preceitos se 
tornariam, posteriormente, comuns a muitas outras religiões, 
como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. 
 
Iniciação, oração 
A princípio, a nova doutrina não tinha nenhum caráter 
ritualístico. Apesar da oposição ao culto dedicado aos daevas, 
sabe-se que algumas práticas continuaram a ser realizadas 
com a ingestão do haoma pelos sacerdotes e os sacrifícios de 
animais em benefício dos leigos. Na realidade, Zoroastro não 
pretendia extinguir tais ritos, mas criticar tanto a crueldade 
aplicada aos animais quanto a absorção desmedida da bebida 
alucinógena. Com o passar do tempo e a adesão de novos 
fiéis, o ritual diário de orações (yasna) passou a agregar 
formas de liturgia que se preservaram até os dias de hoje. 
Grande parte dos rituais enfatiza a purificação da mente e do 
corpo e a luta contra o Angra Mainyu. O fogo é visto como o 
mais alto símbolo de pureza e representa a luz de Ahura 
Mazda assim como a mente iluminada. Por isso, os cultos são 
realizados sempre na presença de um fogo sagrado, mantido 
nos Templos do Fogo (Agiaries). 
 
Os iniciados da antiga religião indo-iraniana tinham como 
costume usar um cordão trançado ao redor do pescoço como 
símbolo de pertencimento à comunidade religiosa. A nova 
doutrina apropriou-se desse signo, porém ampliou o uso e 
significado original: a iniciação é estendida a todos, 
independente da classe social ou sexo. Na cerimônia do 
Navjote ou Sedreh-Pushi, celebrada por um sacerdote 
(mobed), a criança — entre 7 e 15 anos — recebe um cordão 
(kusti, em persa) e enrola-o como um cinto três vezes ao 
redor da cintura, amarrado na frente e atrás. A partir de 
então, e pelo resto de sua vida, deve atar e desatar o cordão 
repetidamente durante as preces. Sob o kusti deve-se usar 
uma camisa totalmente branca (a suara) com um pequeno 
bolso costurado na altura da garganta, cujo objetivo é lembrar 
continuamente que o masdeísta deve preenchê-lo com 
méritos gerados por bons pensamentos, falas e ações. 
Zaratustra estabeleceu a obrigação de cinco orações 
individuais diárias e a celebração de festas comunais. O ritual 
da prece tem início com a limpeza do rosto, mãos e pés. Em 
seguida, ereto e de frente para o fogo, o fiel desata os nós do 
cordão sagrado e, segurando-o com ambas as mãos à sua 
frente, ora a Ahura Mazda e amaldiçoa Angra Mainyu. Por 
fim, amarra novamente o cordão enquanto prossegue com as 
orações. Essa prática dura somente alguns minutos, no 
entanto, é a constante repetição que se torna um importante 
exercício religioso, constituindo tanto uma disciplina quanto 
uma renovação dos votos de fé. 
 
As festas 
Anualmente, os zoroastrianos têm a obrigação de celebrar 
sete festas dedicadas a Ahura Mazda e os Amesha Spentas. A 
origem desses eventos remonta aos antigos rituais indoiranianos 
em que os agricultores comemoravam as passagens 
das estações do ano. Seis delas são chamadas de gahanbars 
ou gahambars seus nomes são preservados do Zend Avesta 
até hoje: Maidhyoi-zaremaya ("no meio da primavera"); 
Maidhyoi-shema ("no meio do verão"); Paitishahya 
("trazendo a colheita para casa"); Ayathrima ("trazendo o 
rebanho para casa"); Maidhyairya ("meio do ano"/ "festa do 
inverno"); Hamaspathmaedaya (de nome incerto, algo como 
"todas as almas", celebrada na última noite do ano, antes do 
equinócio da primavera). Dedicada ao fogo, Nõ Rüz é a sétima 
festa. Festejada sempre no equinócio da primavera, 
corresponde ao Ano Novo. Profundamente enraizada na 
cultura do Irã, também é celebrada pelos islâmicos, ainda que 
não comporte em si nenhum aspecto religioso. 
 
O zoroastrismo ao longo dos séculos 
Ao longo dos séculos, o zoroastrismo alternou momentos de 
apogeu — como religião de Estado de três grandes impérios — 
e declínio. 
 
A dinastia dos aquemênidas (séculos VI-IV a.C.) unificou os 
reinos medos e persas e expandiu seus domínios pela Ásia 
Menor, Babilônia, norte da África até as margens do rio 
Danúbio, na Europa, estabelecendo o primeiro Império Persa. 
Ciro, o Grande, o fundador, e seus sucessores, Cambises II e 
Dario I (respectivamente, filho e neto), praticaram a 
tolerância religiosa, porém elevaram o zoroastrismo a uma 
situação privilegiada e procuraram governar de acordo com 
os princípios do asha. 
 
Firmemente estabelecido, o zoroastrismo sofreria um grande 
golpe com a invasão da Ásia Menor por Alexandre da 
Macedônia e a conquista dos territórios do Império. Muitos 
sacerdotes foram sacrificados e grande parte dos textos, 
destruídos, restando somente os Gãthãs. Com a morte de 
Alexandre, em 323 a.C., seus generais entraram em guerra 
pela sucessão. Dos séculos IV a.C. ao III d.C., o poder se 
alterou entre o domínio dos selêucidas (311-141 a.C.) e dos 
partos arsácidas (141 a.C-224 d.C.) que, assim como os 
aquemênidas, procuraram governar de acordo com os 
princípios do asha. 
 
Ardashir derrotou os partos arsácidas, criou a dinastia dos 
sassânidas, coroou a si mesmo como rei — fato que chocou 
em muito os contemporâneos —, fundou uma denominação 
religiosa persa baseada no ortodoxismo zoroastriano e 
perseguiu outros credos. Político e astuto, criou um novo 
Império Persa lançando mão da propaganda religiosa para 
afirmar seu poder. Durante a dinastia dos sassânidas (séculos 
III—VII d.C.), muitos aspectos do zoroastrismo foram 
desenvolvidos. Exemplo: a compilação dos textos do Avesta e 
dos Gãthãs; a promoção dos templos de fogo; o impedimento 
do uso de imagens durante os rituais; extensão da liturgia e 
escritura de textos sagrados (Bundahishn e Denkard); 
reformas no calendário zoroastriano que passou a ter 365 dias 
noano (até esse momento, o calendário anual contava com 
360 dias divididos em 12 meses de 30 dias; para manter 
alinhadas as datas das estações, inseria-se um 13° mês a cada 
6 anos). 
 
A partir do século VII d.C., árabes, turcos e mongóis 
alternaram-se no domínio da Pérsia. O golpe foi ainda maior 
do que no tempo macedônico: livrarias destruídas; imposição 
da língua árabe sobre o persa; conversões forçadas e 
humilhações sociais tornaram a vida dos zoroastrianos muito 
difícil. A antiga religião de Estado passou, lentamente, a ser 
praticada por uma minoria. No século x, um grupo partiu do 
Irã em busca de refúgio e se instalou no Gujarat, Índia. 
Chamados de parsi (em gujarati), os seguidores de Zaratustra 
sobrevivem ainda hoje dispersos pela Índia, Paquistão, Sri 
Lanka, Irã e, até mesmo, em alguns países do Ocidente. 
 
As fontes 
Os primeiros ensinamentos foram reunidos por Zoroastro nos 
Gãtliãs (cânticos): conjunto de 17 hinos cuja forma segue a 
concepção religiosa indo-iraniana que alia poesia sagrada e 
tradição mântrica, ou seja, as palavras são expressas de forma 
suave durante a apreensão do divino. Na antiga religião, esse 
tipo de poesia era compreendido somente pelos iniciados — 
os sacerdotes. Zaratustra, porém, rompe com tal primazia e 
passa a proferir a nova doutrina para toda a comunidade. 
Ao longo dos séculos, um conjunto de preceitos reuniu-se aos 
cânticos formando o Avesta: Yasna (sacrifícios), Yasht (hinos 
às divindades), Vendidad (regras de pureza), Visperad 
(liturgia), Nyayishyu e Gâh (orações), Khorda ou Pequeno 
Avesta (orações cotidianas), Hadhõkht Nask (livro das 
Escrituras), Aogemadadêchã (instruções sobre o além), e o 
Nirangistãn (regras culturais). 
 
Transmitido oralmente de geração em geração, o Avesta foi 
compilado durante o império dos sassânidas nos séculos IV a 
VI d.C. em língua pahlavi. Até então, os Gãthãs eram de difícil 
compreensão uma vez que tinham sido elaborados em 
avestan, dialeto falado por Zoroastro, então caído em desuso. 
No século IX d.C. surgiram outras escrituras, como: Zand 
(tradução do Avesta em língua vernácula), Bundahishn 
(gênesis do zoroastrismo), Denkard (coleção de informações 
sobre a religião). Textos tardios também podem ser 
encontrados em persa, gujarati, sânscrito e, até mesmo, em 
inglês. Para os seguidores do zoroastrismo, todas as 
escrituras revelam diferentes aspectos da religião, devendo 
ser cultuadas, independente do período de sua elaboração.

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