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Como surgiram as autarquias no Brasil

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Como surgiram as autarquias no Brasil? 
Comecemos pelo Decreto – Lei nº 200/1967. O mesmo promoveu alterações na organização e 
funcionamento da máquina pública, expandindo a administração pública indireta (empresas 
públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas e autarquias) e reorganizando a 
administração direta. Tal decreto é referência em matéria de organização estrutural da 
administração pública do Brasil. Percebeu onde se situa uma autarquia? Isso mesmo! Ela faz 
parte da administração pública indireta. 
Ok, mas isso quer dizer o quê? A administração pública brasileira é composta por duas grandes 
estruturas: administração direta e administração indireta. A direta é formada por órgãos 
integrantes da estrutura de um ente federativo (União, Distrito Federal, Estado ou Município), 
desempenhado função administrativa. Exemplo? Ministério da Saúde, Secretaria de Educação 
do seu estado ou município. Esses órgãos não possuem personalidade (não têm “vida própria”, 
autonomia), apenas dão forma às competências das entidades portadoras da personalidade. Em 
um exemplo, o departamento de graduação (órgão especializado) de uma Universidade 
desempenha uma competência da entidade. 
Por outro lado, a administração indireta (onde encontramos as autarquias) é formada pelo 
conjunto de pessoas jurídicas vinculadas à administração direta dotadas de personalidade 
jurídica própria (têm vida própria), possuindo competência para o exercício de atividades 
administrativas, de forma descentralizada. Fechando o parêntese e respondendo à pergunta feita 
há pouco, isso quer dizer que uma autarquia possui autonomia administrativa para 
desenvolver suas atividades. 
Leia mais: de 1500 até hoje, a administração pública no Brasil. 
Entendendo o conceito de autarquia 
Agora que já sabemos como surgiu e onde está localizada na estrutura da administração pública, 
vamos seguir com seu conceito. O Decreto – Lei nº 200/1967 define autarquia como: 
“serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios para 
executar atividades típicas de Administração Pública, que requeiram, para seu melhor 
funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.” 
Antes de explicar os diversos aspectos presentes em seu conceito, é importante saber que a 
jurisprudência entende autarquia como gênero, com as seguintes espécies: autarquia comum 
ou ordinária; autarquia sob regime especial; autarquia fundacional e associação pública. 
Ainda sobre as espécies de autarquias, é indispensável fazer uma observação quanto às 
“agências reguladoras” e às “agências executivas”. Ambas são autarquias, contudo 
apresentam diferenças. 
As agências reguladoras são autarquias sob regime especial, responsável pela regulação de 
determinado setor da economia (Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL, por 
exemplo). As agências executivas, por sua vez, podem ser autarquias ou fundações públicas 
que celebrem contrato de gestão com o Poder Público (§ 8.º do art. 37 da Constituição Federal 
de 1988) e atendam aos requisitos previstos na Lei 9.649/1998 (por exemplo, o Instituto Nacional 
de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial – Inmetro). 
Quais são as atividades desenvolvidas nas autarquias? 
As autarquias são titulares de direitos e obrigações próprias, não se confundindo com os 
direitos e obrigações do ente político criador (seu estado, município…). Quanto à personalidade, 
são pessoas jurídicas de direito público, desempenhando atividades típicas de Estado, 
desprovidas de caráter econômico. Nessa perspectiva, as autarquias são instituídas para prestar 
serviço social e desempenhar atividades que possuam prerrogativas públicas, de forma 
especializada, técnica, com organização própria, administração ágil e não sujeita a decisões 
políticas pertinentes aos seus assuntos (exemplos: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos 
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – 
INCRA, Banco Central do Brasil – BACEN) 
Classificando as autarquias 
Quanto à sua classificação, Maria Sylvia Di Pietro, autora de diversas obras jurídicas voltadas 
ao Direito Administrativo, traz os seguintes critérios: capacidade administrativa, estrutura e nível 
federativo. Confira um resumo do que significa cada uma dessas classificações: 
 Quanto à capacidade administrativa, há duas formas: a geográfica, que tem capacidade 
administrativa genérica (Territórios Federais) e a de serviço, que possui capacidade 
administrativa específica, limitada a determinado serviço que lhe foi atribuído por lei; 
 No que se refere à estrutura, a mesma é subdividida em fundacionais e corporativas. 
Aquelas são fundações de direito público dotadas de patrimônio ligado a um fim que irá 
beneficiar pessoas indeterminadas (Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo, 
por exemplo). Já as corporativas são formadas por sujeitos unidos para o alcance de um 
fim de interesse público, contudo só diz respeito aos próprios associados (como o 
Conselho Federal de Administração). 
 E por fim, quanto ao nível federativo, podem ser federais, estaduais, distritais e 
municipais, uma vez instituídas pela União, pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos 
municípios, respectivamente. 
Quem pode criar ou extinguir uma autarquia? 
Primeiro ponto: criação e extinção. Lembra do primeiro trecho do Decreto – Lei nº 200/1967 
(serviço autônomo, criado por lei…)? Com efeito, a criação e extinção das autarquias depende 
somente da edição dessa lei específica, como dispõe o art. 37, XIX, da Constituição Federal. Ou 
seja, por meio dessa edição, a autarquia já é capaz de contrair direitos e obrigações – 
diferentemente de uma empresa pública, que após sua criação autorizada por lei ainda depende 
de registro de comércio, além do cumprimento de formalidades constantes no direito privado, por 
exemplo. 
Em âmbito federal, a lei de criação das autarquias é de iniciativa privativa do chefe do Poder 
Executivo (Presidente da República). Essa regra também se aplica aos estados, ao Distrito 
Federal e aos municípios, adaptando-se à iniciativa privativa, ao Governador e ao Prefeito. 
Naturalmente, se a criação e extinção da entidade se vincular aos outros Poderes, Legislativo ou 
Judiciário, a iniciativa da lei caberá ao respectivo chefe de Poder. 
Como é a relação das autarquias com seu ente instituidor? 
Outro ponto que merece destaque é que não há relação de subordinação com o ente estatal 
instituidor, sendo assim, não existe hierarquia entre a União, estados, Distrito Federal e 
municípios e suas respectivas autarquias. O que existe, na verdade, é apenas vinculação 
administrativa. Como assim? O IBAMA, uma autarquia federal, está vinculada ao Ministério do 
Meio Ambiente, que por sua vez exerce o chamado controle finalístico. Isso implica em dizer que, 
inexistindo hierarquia, o controle finalístico tem como objetivo assegurar que a entidade 
controlada esteja atuando segundo a finalidade para a qual foi criada: o Ministério do Meio 
Ambiente verifica se o IBAMA está exercendo, dentre outras atribuições conferidas, o poder de 
polícia ambiental, por exemplo. 
Quem faz “a coisa acontecer” nas autarquias? Para desempenhar suas atividades, as 
autarquias contam com a força de trabalho de servidores públicos estatutários, sujeitos – 
atualmente – ao regime jurídico único. A forma de admissão segue a regra prevista na 
Constituição que exige a realização de concurso público (Constituição Federal art. 37 II). 
No que diz respeito aos seus dirigentes, cabe ao chefe do Poder Executivo nomeá-los 
(Constituição Federal art. 84, XXV). 
Para tanto, na esfera federal, ainda poderá ser exigida aprovação prévia por parte do Senado 
Federal do nome indicado pelo Presidente da República (ConstituiçãoFederal art. 84, XIV), 
como ocorre com os dirigentes das agências reguladoras (ANATEL, ANEEL, ANAC, por 
exemplo). Essa regra também se aplica aos estados, Distrito Federal e municípios, subordinando 
a nomeação de dirigentes à prévia aprovação da Assembléia Legislativa.

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