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PDF PROCESSO PENAL INQUERITO POLICIAL PARTE 2

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CURSO TROPA DE ELITE – PREPARAÇÃO PARA A 
GUERRA 
POLÍCIA FEDERAL 2012 – AGENTE/ESCRIVÃO 
PROF. EMERSON CASTELO BRANCO 
DISCIPLINA: PROCESSO PENAL 
1. INQUÉRITO POLICIAL – PARTE 2 
1. 8 Providências (ou diligências) preliminares 
Logo que tiver conhecimento da prática de infração penal, conforme dispõe 
o art. 6.°, do CPP, a autoridade policial deverá: “I - dirigir-se ao local, 
providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, 
até a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que tiverem 
relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; III - colher todas 
as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; 
IV - ouvir o ofendido; V - ouvir o indiciado, com observância, no que for 
aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o 
respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham 
ouvido a leitura; VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a 
acareações; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo 
de delito e a quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do 
indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos 
sua folha de antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob 
o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua 
atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e 
quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu 
temperamento e caráter.” 
Inicialmente, cabe observar que a autoridade policial poderá realizar outras 
diligências probatórias não elencadas no art. 6.°, do CPP. Em outras 
palavras, as atividades aí elencadas não são taxativas. 
A partir do momento em que toma conhecimento da infração penal, a 
autoridade policial se dirige ao local da ocorrência para velar pelo local, 
impedindo que o estado das coisas seja alterado, nos termos do art. 169, 
do CPP: “Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a 
infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere 
o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus 
laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos”. 
Após a liberação dos peritos, a autoridade policial deverá apreender todos 
os objetos que tenham relação com o fato apurado. Referidos objetos 
acompanharão os autos do inquérito, por expressa disposição do art. 11, do 
CPP. 
NOTE! Conforme orientação do STJ, a autoridade policial pode apreender 
objetos relacionados com o crime antes mesmo da instauração do inquérito 
policial. 
Em seguida, deve buscar outras provas que tenham relação com o fato. 
Os elementos colhidos na fase pré-processual, anotam Nestor Távora e 
Rosmar Rodrigues Alencar, “não devem ter via única, ou seja, restringir-se 
à seara acusatória. O inquérito deve estar comprometido com a apuração 
da verdade, e os elementos em prol da defesa não podem ser 
desconsiderados.”1 
Passo seguinte é a ouvida da vítima (ofendido). Logo depois, a ouvida do 
indiciado. 
O ofendido não possui a faculdade de ser ou não ouvido, daí porque o seu 
não comparecimento injustificado pode acarretar a sua condução coercitiva 
pela autoridade policial. 
NOTE! De acordo com a orientação majoritária, a condução coercitiva do 
indiciado não depende de autorização judicial. 
 
1 TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal, 6.ª ed., 
Salvador: Juspodivm, 2011, pág. 112 
 
O reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações devem ser realizados 
sempre que forem adequado e necessário. 
A acareação consiste em confrontar depoimentos divergentes entre 
testemunha e investigado, entre investigados, entre testemunhas, ou entre 
testemunha e vítima, ou ainda entre vítima e investigado. Se não existe 
dúvida alguma a ser dirimida, não haverá necessidade de utilização desse 
meio de prova. 
Mesmo raciocínio adota-se em relação à reprodução simulada dos fatos, 
sendo desnecessária quando se sabe como ocorreu a infração. 
Se for o caso, deve a autoridade realizar exame de corpo de delito, bem 
como outras perícias. 
Cumpre observar que a identificação criminal passou a ser exceção. No inc. 
LVIII, do art. 5.º da CF/88, restou proibida a identificação dactiloscópica 
(“impressão digital”) das pessoas civilmente identificadas, salvo as 
hipóteses previstas em Lei. 
De acordo com o at. 3.º, da nova Lei de Identificação Criminal (Lei 12.037, 
de 2009), embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer 
identificação criminal quando: I – o documento apresentar rasura ou tiver 
indício de falsificação; II – o documento apresentado for insuficiente para 
identificar cabalmente o indiciado; III – o indiciado portar documentos de 
identidade distintos, com informações conflitantes entre si; IV – a 
identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo 
despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou 
mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da 
defesa; V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou 
diferentes qualificações; VI – o estado de conservação ou a distância 
temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado 
impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais. 
A autoridade policial deve ainda proceder no sentido de juntar as folhas de 
antecedentes do indiciado, com o objetivo de conhecer sua vida pregressa. 
NOTE! Especificamente em relação aos delitos envolvendo acidente de 
trânsito (Lei n.° 9503/97), poderá a autoridade pública remover coisas que 
estejam colocando em risco a segurança no local. Trata-se de exceção à 
regra da inalterabilidade do local do crime. 
IMPORTANTÍSSIMO !!! QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Para parte 
da doutrina, o direito ao silêncio do indiciado não abrangeria a fase de 
qualificação do interrogatório (denominada de “interrogatório de 
qualificação”), porque nesta haveria apenas a identificação deste, não 
adentro as perguntas em aspectos relacionados ao fato criminoso. Contudo, 
a questão não é pacífica, havendo entendimento no sentido de que o direito 
ao silêncio abrangeria o próprio interrogatório de qualificação. A 
jurisprudência do STJ sempre foi sólida no sentido de que “a conduta do 
acusado que, em interrogatório policial, atribui-se falsa identidade visa 
impedir o cerceamento da liberdade, e não ofender a fé pública, consistindo, 
assim, em exercício da autodefesa, ante ao princípio nemo tenetur se 
detegere, o qual consagra o direito do acusado de permanecer silente, não 
sendo compelido a produzir prova contra si mesmo.”2 
Todavia, de acordo com a mais nova orientação do STF (14.10.2011), o 
princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não 
alcança aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial com 
o intento de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta 
praticada pelo agente (art. 307 do CP). O tema possui densidade 
constitucional e extrapola os limites subjetivos das partes. STF RE 640139 
RG/DF 14.10.2011. 
Em razão da repercussão geral do tema no STF, ocorreu uma mudança de 
orientação no STJ: “No âmbito desta Corte Superior de Justiça consolidou-
se o entendimento no sentido de que não configura o crime disposto no art. 
304, tampouco no art. 307, ambos do Código Penal a conduta do acusado 
que apresenta falso documento de identidade perante a autoridade policial 
com intuito de ocultar antecedentes criminais e manter o seu status 
libertatis, tendo em vista se tratarde hipótese de autodefesa, já que 
 
2 STJ HC 130309/MS 29/06/2009 
amparado pela garantia consagrada no art. 5º, inciso LXIII, da Constituição 
Federal. Contudo, o Supremo Tribunal Federal, ao examinar o RE 
640.139/DF, cuja repercussão geral foi reconhecida, entendeu de modo 
diverso, assentando que o princípio constitucional da ampla defesa não 
alcança aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial com 
o objetivo de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta 
praticada pelo agente. Embora a aludida decisão, ainda que de reconhecida 
repercussão geral, seja desprovida de qualquer caráter vinculante, é certo 
que se trata de posicionamento adotado pela maioria dos integrantes da 
Suprema Corte, órgão que detém a atribuição de guardar a Constituição 
Federal e, portanto, dizer em última instância quais situações são 
conformes ou não com as disposições colocadas na Carta Magna, motivo 
pelo qual o posicionamento até então adotado por este Superior Tribunal de 
Justiça deve ser revisto, para que passe a incorporar a interpretação 
constitucional dada ao caso pela Suprema Corte.” STJ HC 151866/RJ 
13/12/2011 
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Presente uma das exceções legais, o 
indiciado pode se negar a passar pela identificação datiloscópica, alegando o 
princípio da não auto-incriminação? Trata-se de questão extremamente 
polêmica, havendo duas orientações sobre o tema: 1.ª posição 
(majoritária): A identificação criminal é obrigatória nas hipóteses legais, não 
podendo haver recusa; 2.ª posição (minoritária): O indiciado não poderia 
ser compelido a passar por esta identificação, porque estaria produzindo 
provas contra si mesmo. Cumpre observar apenas que a recusa na 
identificação criminal não constitui crime de desobediência, entendendo o 
STJ que posturas nesse sentido são naturais de pessoas em manifestação 
de autodefesa. 
1.9 Término do inquérito policial 
Nos termos do art. 10, do CPP, o inquérito deverá ser encerrado no prazo 
de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso 
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que 
se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver 
solto, mediante fiança ou sem ela. 
Se a prisão preventiva for decretada, o inquérito policial deve ser concluído 
no máximo em 10 dias, contado o prazo do dia em que se executar a ordem 
de prisão. A extrapolação do limite deste prazo torna a prisão ilegal, 
ensejando pedido de relaxamento de prisão e ação de habeas corpus. 
Entretanto, conforme orientação do STJ, “o oferecimento da denúncia 
prejudica as alegações de constrangimento ilegal por excesso de prazo para 
o encerramento do inquérito policial.”3 
Da mesma forma, o não encerramento do inquérito policial no prazo torna a 
prisão ilegal, ensejando ação de habeas corpus. 
No caso da prisão em flagrante, o prazo deverá ser contado da data da 
prisão, observado o § 1.º, do art. 798, do CPP: “Não se computará no prazo 
o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento”. 
Entretanto, parcela considerável da doutrina vem considerando que a 
contagem deve ser realizada de acordo com o art. 10 do Código Penal, 
incluindo-se o dia do começo e excluindo-se o do vencimento, em razão de 
ser norma processual material, atrelada à liberdade de locomoção.4 
Importante observar que havendo elementos para a decretação da prisão 
preventiva, não se pode argumentar a necessidade de dilação de prazo 
(improrrogável) para a conclusão do inquérito policial, porque já existe 
prova suficiente para o oferecimento da denúncia. 
Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a 
autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores 
diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz (§ 3o, do 
art.10, do CPP). 
NOTE! Qual o prazo da prorrogação? E é possível mais de uma 
prorrogação? Como a lei não o fixou, fica a cargo de o juiz determiná-lo. A 
prorrogação do prazo do inquérito policial depende de autorização do juiz, 
 
3 STJ HC 41862/CE 24/04/2006 
4 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 6.ª ed.,São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, pág. 142 
 
via solicitação do delegado de polícia responsável pela investigação, sendo 
perfeitamente possível mais de uma prorrogação, se for necessário. 
Se o prazo do inquérito encerrar-se em dia onde não há expediente forense, 
observam Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar, “não cabe falar-se 
em prorrogação para o primeiro dia útil subsequente, assim como se a 
prisão em flagrante ocorreu no final de semana, o inquérito terá o seu início 
imediatamente, afinal as delegacias de polícia atuam em sistema de 
plantão.”5 
O inquérito policial será encerrado com minucioso relatório do que tiver sido 
apurado, devendo narrar todas as diligências produzidas, fazendo o 
histórico das investigações. Contudo, não pode a autoridade policial formar 
juízo de valor acerca da presença dos elementos estruturais do crime, isto 
é, sobre o fato típico, a antijuridicidade e a culpabilidade. 
No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido 
inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas (§ 2o, do art. 
10, do CPP). 
Encerrado o inquérito policial, a autoridade policial (delegado de polícia) 
enviará os autos ao juiz competente. 
NOTE! É possível o trancamento de inquérito policial via habeas corpus? Em 
regra, não. Contudo, excepcionalmente, sim. Trata-se da orientação do STJ: 
“O trancamento de Inquérito Policial por falta de justa causa, por meio de 
HC, mais ainda do que da própria Ação Penal, é providência 
excepcionalíssima, exigindo que se constate, de plano, ser absurda a 
investigação policial em desenvolvimento por total atipicidade da conduta 
ou falta de elementos indicativos mínimos de autoria.”6 
QUESTÃO POTENCIAL DE PROVA! Por expressa disposição do §1.°, do 
art. 10, da Lei n.° 1.521/51, o prazo para a conclusão do inquérito, nas 
hipóteses de crime contra a economia popular, solto ou preso o indiciado, 
 
5 TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal, 6.ª ed., 
Salvador: Juspodivm, 2011, pág. 102 
6
 STJ HC 113169/RS 27/04/2009 
será de 10 dias: “Os atos policiais (inquérito ou processo iniciado por 
portaria) deverão terminar no prazo de 10 (dez) dias”. Na apuração dos 
crimes previstos na Lei de Drogas (Lei n.° 11.343/2006), nos termos do art. 
51, o inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o 
indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto; podendo 
ainda os referidos prazos ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério 
Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. Já 
se for inquérito militar, o prazo para indiciado preso é de 20 dias; se solto, 
o prazo é de 40 dias, prorrogável por mais 20 pela autoridade militar 
superior, desde que não estejam concluídos exames ou perícias já iniciados, 
ou haja necessidade de diligência, indispensáveis à elucidação do fato (§1.°, 
art.20, CPPM).

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