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ALMEIDA, M. J. A pesquisa, o tempo, a política - resenha crítica

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RESENHA CRÍTICA
Rosemberg Jônatas Gomes de Sousa1
ALMEIDA, M. J. A PESQUISA, O TEMPO, A POLÍTICA... Educ. Soc., Campinas, v. 32, n. 117, 
p. 1203-1212, out.-dez. 2011.
Em seu artigo “A PESQUISA, O TEMPO, A POLÍTICA...” o professor-doutor Milton José
de Almeida, falecido no ano de 2011 e ex-pesquisador da Arte da Memória e das diferentes
linguagens verbais, visuais e audiovisuais – que dão forma e ideologia à Educação Cultural, ao
imaginário e à inteligência contemporânea –, inicia suas concepções legitimando a ideia de que há a
necessidade de se realizar uma transformação na práxis da pesquisa. 
Ao explanar o fato de que tal fenômeno está globalizado e enquadrado numa estrutura
padronizada, assim como os congressos científicos, Almeida lança o argumento de que o cultural foi
convertido em universal, e que as diferenças são descartadas em detrimento das características
comuns, reduzindo em muito o espaço daquelas. Segundo ele, as diferenças, juntamente com o
Humanismo, foram substituídas pela política do poder oficial, da massa e da identidade – fato que o
leva a alcunhar de “mercadoria” o modelo de pesquisa atual. Ou seja, há um paradoxo: de um lado o
intelectual com liberdade e ideias, e do outro, o pesquisador estandardizado influenciado, também,
pelos interesses das agências de fomento.
O autor faz-se valer das contribuições de Hannah Arendt, a qual explicita que a lógica
pragmática da ciência – totalitária e dogmática – despreza os outros saberes e assume seus valores
como verdades absolutas. De acordo com ela, se as ideias científicas forem aplicadas a todo o curso
dos acontecimentos, independente do mundo e dos saberes do senso comum, deixará de ser uma
hipótese e passará a ser premissa – autossuficiente e subjugadora. Ademais, citando Gouveritch,
Almeida ressalta a importância da noção de tempo e espaço na experiência humana. Esse
entendimento, o qual não é natural, mas afetado pela cultura à qual o homem pertence, é
fundamental na construção do saber e no fazer científico.
De uma maneira um pouco diferente e salvaguardando o contexto cultural, no qual a escola
e a educação são produzidos, Almeida tece críticas quanto à forma cristã de pensar os estudos
acadêmicos e à ordem do saber ocidental, comparando-as à ortodoxia epistemológica e ao próprio
capitalismo, respectivamente. No aspecto de que a especialidade não é suficiente nas ciências
humanas, e em defesa da liberdade do pesquisador, o autor manifesta, ainda, algumas de suas
1 Acadêmico do curso de Psicologia da UNESP/Bauru. E-mail: rosemberg.psicologia@fc.unesp.br.
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idealizações concernentes à atividade de pesquisa, a saber: a horizontalidade (complementaridade
dos opostos); o conflito ao invés da sistematização; o bem e o mal como constituintes do ser
humano; o conhecimento como verdade transitória e de criação do pesquisador, ou seja, não pré-
existente; a pluralidade, não o monoteísmo; e o homem moderno. Outro importante ensinamento de
Almeida é que se faz necessário ao pesquisador refletir sobre o modo como se compreende a si
próprio.
Como compentente pesquisador das diferentes formas de expressões artísticas, o autor
utiliza-se do fenômeno cinema para abordar o tempo e a imagem em perspectiva, apontando que
tempo e história são representados num ritual de alguns minutos, por meio da cinematografia.
Almeida faz menção a origem dessa arte e salienta que é preciso imaginação para sua efetivação,
pois nela, política e estética são vistos por meio de imagens e em diferentes perspectivas, envoltas
por palavras embuídas de significados. Como conclusão, o autor acentua que todo filme unifica as
massas, é forma de conhecimento do presente nele representado, e, por fim, trata-se de pontos de
verdade em transição e não de uma verdade sistematizada.
Concorda-se com o autor no tocante à necessidade de se valorizar as características nativas,
o contexto socioeconômico e cultural dos pesquisadores nas práticas educativas e na configuração
do fazer em pesquisa. E ainda, considera-se a relativização e a parcimônia do cientista como peças-
chave para a condução de suas atividades, pois não se pode atestar que parâmetros utilizados em um
determinado local, em um tempo e condição específicos, sejam aplicáveis em âmbito universal. 
A despeito desses aspectos, reconhece-se que grandes avanços foram alcançados por meio
das padronizações no campo metodológico das ciências, entretanto sugere-se que o estabelecimento
de fixações e paradigmas não sejam considerados como inviolóveis e verdade única na prática
científica. Antes, é necessário o pensar no como fazer, de modo que esse seja um processo dinâmico
e que se transforma com o passar do tempo e com as mudanças ocorridas nos campo acadêmico e
na sociedade como um todo.

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