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INTER DISCI PLINA RIDADE PERSPECTIVAS E DESAFIOS Conselho Editorial da UNICENTRO Marcos Ventura Faria Elaine Maria dos Santos Karina Worm Beckmann Denise Gabriel Witzel Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira Marcos Roberto Kühl Josiane Lopes Luiz Gilberto Bertotti Marcos Antonio Quináia Poliana Fabíula Cardozo Kátia Cylene Lombardi Gilmar de Carvalho Cruz Eduardo Alexandre Santos de Oliveira Clayton Luiz da Silva Ruth Rieth Leonhardt João Francisco Morozini Oséias de Oliveira Maria Cleci Venturini Sidnei Osmar Jadoski Marciano Adilio Spica Luciene Regina Leineker Editora UNICENTRO Rua Salvatore Renna, 875, Santa Cruz 85015-430 - Guarapuava - PR Fone: (42) 3621-1019 editora@unicentro.br www.unicentro.br/editora INTER DISCI PLINA RIDADE Fábio André Hahn Frank Antonio Mezzomo Cristina Satiê de Oliveira Pátaro (Org.) PERSPECTIVAS E DESAFIOS UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE Copyright © 2020 Editora UNICENTRO Nota: O conteúdo desta obra é de exclusiva responsabilidade de seus autores. Editora UNICENTRO Direção: Denise Gabriel Witzel Divisão de Editoração: Renata Daletese Assessoria Técnica: Beatriz Anselmo Olinto, Suelem Andressa de Oliveira Lopes Correção: Dalila Oliva de Lima Oliveira Diagramação: Renata Daletese Capa: Valmir Dzielevski Junior Diagramadores: Luis Marcelo Moreira Rodrigues, Valmir Dzielevski Junior, Vanessa Cristina Lima Reitor: Fábio Hernandez Vice-Reitor: Ademir Juracy Fanfa Ribas Catalogação na Publicação Biblioteca da UNICENTRO, Campus CEDETEG Fabiano de Queiroz Jucá (CRB 9/1249) I61 INTERDISCIPLINARIDADE: perspectivas e desafios / Organizado por Fábio André Hahn, Frank Antonio Mezzomo, Cristina Satiê de Oliveira Pátaro. - - Guarapuava: Ed. Unicentro, 2020. 302 p. : il. ISBN 978-65-5597-002-9 Bibliografia 1. Interdisciplinaridade. 2. Conhecimento. I. Título. CDD 001 Agradecemos o apoio de órgãos de pesquisa e de fomento à investigação, em particular à Universidade Estadual do Paraná, Campus de Campo Mourão, que viabilizou a produção do presente livro. A definição de políticas públicas voltadas para o fortalecimento da ciência e da tecnologia, mesmo em tempos de crises, é um alento para todos que acreditam no potencial civilizatório da humanidade. apresentação parte 1 interdisciplinaridade e questões epistemológicas capítulo 121 Interdisciplinaridade e pesquisa a partir de três perspectivas de produção dos saberes: o conhecimento científico e o popular 11 Fernanda Nunes da Rosa Mangini Lucídio Bianchetti capítulo 2 57Ciência ou método interdisciplinar, nos meandros de uma definição José Carlos dos Santos capítulo 385 A interdisciplinaridade na produção historiográfica Ricardo Marques de Mello capítulo 4 107Transdisciplinaridade: uma necessidade ético-política João Alcione S. Figueiredo Simone Loureiro Brum Imperatore Valdir Pedde parte 2 Interdisciplinaridade e diferentes experiências capítulo 5135 Além das fronteiras da própria disciplina: Durkheim e a origem da sociologia francesa dário Paulo Barrera Rivera capítulo 6 157 O Estado da Arte da Interdisciplinaridade no Brasil: o construto epistemológico de Ivani Fazenda na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Ivani Catarina Arantes Fazenda Fausto Rogério Gentile capítulo 7167 Estratégia de projetos, interdisciplinaridade e formação humana na escolaUlisses Ferreira de Araújo Ricardo Fernandes Pátaro capítulo 8 193A perspectiva interdisciplinar e suas contribuições para o debate sobre juventudes e religião Ada Otoni Ferreira Fontanella Cristina Satiê de Oliveira Pátaro Frank Antonio Mezzomo capítulo 9231 Sociologia Política, História Social e Psicanálise: um diálogo interdisciplinar a partir de Casa Grande & SenzalaMárcia Barros Ferreira Rodrigues capítulo 10 263O desafio da interdisciplinaridade: possibilidades de leitura para um jovem pesquisador Fábio André Hahn sobre os autores293 APRE SEN TAÇÃO A proposta da organização desta coletânea, com foco na interdisciplinaridade, surgiu a partir de uma demanda verificada em sala de aula em uma atividade realizada junto aos estudantes do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento da Universidade Estadual do Paraná – Unespar. Três questões foram constatadas que fundamentam a demanda verificada. A primeira é a demanda por textos qualificados que discutam a problemática da interdisciplinaridade e que possam ser aproveitados para os debates nos Programas de Pós-Graduação interdisciplinar. O reduzido número de publicações em formato de livros e coletâneas tem chamado a atenção já há algum tempo. A hipótese principal para essa redução poderia ser atribuída à gradual mudança e migração de disseminação das pesquisas, passando de livros para periódicos científicos eletrônicos, tendo em vista o atual impacto de abrangência impulsionada pelo acesso aos meios de comunicação marcados pelos suportes da tecnologia digital e, evidentemente, pela redução de custos na transição do impresso ao eletrônico, mais frequente e já consolidado em revistas, mas ainda muito incipiente em livros. Entretanto, essa hipótese também não parece se manter estável, tendo em vista o fato de se constatar um bom número de publicações sobre interdisciplinaridade em periódicos, embora pouco representativo se comparado com áreas disciplinares ou mesmo com a publicação de livros. A disseminação de debates epistemológicos e pesquisas empíricas interdisciplinares em periódicos científicos ainda são tímidas no contexto brasileiro. O mesmo, apesar de revelar uma fragilidade acentuada, pode ser constatado em teses e dissertações produzidas nos programas de pós- graduação vinculados a essa área. Nessas pesquisas, é perceptível que a interdisciplinaridade, muitas vezes, passa ao lado de uma reflexão aprofundada e fundamentada, reveladora de um debate ainda pouco caloroso com que tem sido conduzido. A segunda demanda é claramente editorial e ligada aos argumentos já expostos anteriormente, apesar da maior amplitude e menos restritiva aos programas de pós-graduação da área inter- 14 disciplinar. É facilmente identificável em pesquisas “disciplinares”, o recurso recorrente à interdisciplinaridade na condução e/ou fun- damentação conceitual, resultando em maior consistência e inova- ção dentro dos círculos de debate em que as pesquisas são condu- zidas. O baixo impacto editorial dos debates e estudos específicos sobre a interdisciplinaridade é facilmente identificável, bastando um rápido acesso a qualquer buscador de livros na internet que ficará evidente de que já se passaram mais de três décadas da publicação de “Interdisciplinaridade e patologia do saber” (1976) de Hilton Japiassu, obra que inaugurou o debate mais específico sobre interdis- ciplinaridade no Brasil, que ela ainda é uma das principais referên- cias. A timidez da produção editorial específica nessa área é espanto- sa, distante da gigante demanda já revelada. A terceira demanda diz respeito ao número de Programas de Pós-Graduação interdisciplinar no Brasil, já fundamentada pe- los apontamentos anteriormente mencionados. Conforme dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), após a criação do comitê multidisciplinar em 1999, houve um crescimento exponencial do número de programas, constituído por 360 cursos, a maior área na Capes. Grosso modo, isso repre- senta o ingresso de aproximadamente 5.400 estudantes todos os anos, considerando uma média de 15 estudantes por turma, o que é bastante razoável. Apesar do número expressivo de teses e disser- tações oriundas desses programas, a ausência de um debate mais consiste é revelador da urgência do investimento em uma produção qualificada e de um olhar mais atento para a área. Externalizado o que se apresenta como demanda, o obje- tivo dessa coletânea é impulsionar o debate sobre ainterdisciplina- ridade. A dificuldade na sua definição tem assustado em certa me- dida os pesquisadores e estudantes da área. Assim como qualquer campo de investigação, a abordagem interdisciplinar tem suas difi- culdades e limitações e mostra-se, ainda, um campo em construção. A coletânea ora apresentada foi dividida em duas etapas. A primeira Interdisciplinaridade e questões epistemológicas e a segunda Interdisciplinaridade e diferentes experiências. 15 A primeira parte é constituída de cinco capítulos. O pri- meiro capítulo intitulado Interdisciplinaridade e pesquisa a partir de três perspectivas de produção dos saberes: o conhecimento científico e o popular, de Fernanda Mangini e Lucídio Bianchetti, em que analisam os con- ceitos de saber popular e científico a partir de uma revisão biblio- gráfica, sistematizando as principais vertentes (perspectiva clássica; perspectiva transformadora; perspectiva marxista gramsciana) e que tratam das relações entre esses conhecimentos, pontuando a questão da pesquisa e da interdisciplinaridade. O segundo capítulo, Ciência ou método interdisciplinar, nos meandros de uma definição, de José Carlos dos Santos, procura discutir a questão da produção do conhecimento acadêmico, aspectos metodológicos e de recepção social, problema- tizando a interdisciplinaridade a partir das políticas da Capes e do CNPq, que impactaram o crescimento da área. Já Ricardo Mello, no capítulo intitulado A interdisciplinaridade na produção historiográfi- ca, coloca em questão a interdisciplinaridade no campo da História. Apesar de sua presença sempre ressaltada, pouco são os estudos que se ocupam em identificá-la especificamente no trabalho dos historia- dores. Para tratar da questão, Mello divide sua argumentação em seis considerações, identificadas ao longo do século XX e embasadas por referências bibliográficas e por pesquisas realizadas sobre as tendên- cias historiográficas na Revista Brasileira de História, no período de 1981 a 2000. Já no quarto capítulo, os autores João Alcione Figueiredo, Simone Loureiro Brum Imperatore e Valdir Pedde convidam o leitor para revisitar alguns clássicos das ciências sociais em diálogo com pensadores contemporâneos, e problematizar a importância em superar o paradigma moderno da produção de conhecimento, chamando a atenção para o papel que a transdisciplinaridade pode trazer em um mundo marcado pela fluidez e complexidade. Nesse sentido, para além do papel centrado no protagonismo exclusivista do sujeito/pesquisador x objeto/pesquisado, o olhar para e da sociedade pode ser determinante para pensar a ciência em uma perspectiva ética e política. Por fim, no último capítulo dessa primeira parte do livro, Paulo Barrera faz uma instigante 16 retomada de diversos escritos de Durkheim – alguns conhecidos e outros pouco explorados –, que, juntamente com sua equipe de pesquisa, e depois daqueles que se filiam à sua perspectiva teórica, deixou patente a necessidade do diálogo interdisciplinar para a constituição da Sociologia. No entendimento do autor, há elementos para afirmar que a Sociologia francesa, constituída por Durkheim entre fins do XIX e XX, traz a marca do chamamento do “além das fronteiras” como propulsora e fundante da ciência que então nascia. A segunda parte é constituída por cinco capítulos que tratam de diferentes experiências de pesquisa na área interdisciplinar. No primeiro texto, de Ivani Fazenda e Fausto Gentile, é apresentada a contribuição das pesquisas sobre interdisciplinaridade, realizadas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), sob liderança da professora Ivani Fazenda, referendando fenômenos, construções e processos capazes de possibilitar a geração de experiências inovadoras na Educação, tanto no sentido teórico quanto praxiológico do Currículo e da Didática. No capítulo intitulado Estratégia de projetos, interdisciplinaridade e formação humana na escola, Ulisses Araújo e Ricardo Pátaro apresentam a possibilidade da “estratégia de projetos” como uma prática interdisciplinar capaz de contemplar um ensino escolar que vise, ao mesmo tempo, a instrução nos conteúdos escolares e uma formação ética que fundamente o exercício da cidadania para a transformação da realidade, com vistas a superar as injustiças e desigualdades que marcam a sociedade contemporânea. Em seu texto, os autores discutem as etapas implicadas na prática pedagógica em questão, apresentando ao mesmo tempo um exemplo de um projeto desenvolvido junto a uma turma dos anos iniciais do ensino fundamental, chamando a atenção para os princípios de interdisciplinaridade e complexidade nos quais se embasa a estratégia de projetos. Com o texto A perspectiva interdisciplinar e suas contribui- ções para o debate sobre juventudes e religião, Ada Fontanella, Cristina Pátaro e Frank Mezzomo fazem um movimento em duas direções. 17 Primeiro, a partir de uma literatura que tematiza a complexidade e a interdisciplinaridade, procuram demonstrar a necessidade de operar noções de ciência e conhecimento para além dos balizamen- tos da ciência moderna, a fim de apreender a dinamicidade da so- ciedade contemporânea. Em seguida, com base em tais noções, os autores procuram refletir acerca das inter-relações entre juventude e religião, a fim de compreender as dinâmicas sociais que envol- vem a juventude e a religião, ou as diferentes maneiras de o sujeito expressar e vivenciar a religião e suas crenças, em geral plurais e fluidas e nem sempre institucionalizadas. No trabalho intitulado Sociologia Política, História Social e Psicanálise: um diálogo interdisciplinar a partir de Casa Grande & Senzala, Márcia Rodrigues procura analisar, como resultado de sua pesquisa de pós-doutorado, indícios de base psicanalítica a partir de uma interpretação interdisciplinar da obra Casa Grande & Senzala de Gilberto Freyre, estabelecendo uma relação entre ethos, pathos, violência, poder e subjetividade. O último capítulo da coletânea, intitulado O desafio da interdisciplinaridade: possibilidades de leitura para um jovem pesquisador, de Fábio Hahn, busca apresentar algumas reflexões sobre aspectos da interdisciplinaridade que possam cola- borar com jovens pesquisadores em busca de seus primeiros passos de investigação na área interdisciplinar, assim como apresentar um balanço dos principais referenciais de leitura que permitirão uma compreensão mais clara da complexidade e da importância da área para a investigação científica. Por todos os argumentos elencados anteriormente e por uma rápida menção aos textos que compõem esta coletânea, fica evidenciada a necessidade da intensificação do debate acadêmico, o que essa coletânea procura estimular de forma mais acentuada com textos reflexivos. Esperamos, portanto, que o leitor possa usufruir das pesquisas, dos debates e das provocações que marcam a presente coletânea. Desejamos uma boa leitura! Organizadores PARTE 1 INTER DISCI PLI NARI DADE E QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS INTER DISCI PLI NARI DADE E PESQUISA A PARTIR DE TRÊS PERSPECTIVAS DE PRODUÇÃO DOS SABERES: O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E O POPULAR Fernanda Nunes da Rosa Mangini Lucídio Bianchetti CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Em termos de mundo ocidental-judaico-cristão, desde os seus primórdios, o saber era unitário, constituindo a Cosmologia1. Em seguida, foi passando por um processo de sistematização de ciências, como a Filosofia (séc. V a.C.), por exemplo, com seus conteúdos e métodos próprios. O filósofo era detentor de todos os saberes existentes, desde os mais incipientes até os mais profundos, de acordo com os tempos históricos que vão da Grécia Antiga até o final da Idade Média. Com o advento do Capitalismo (séc. XVI), o desenvolvimento das forças produtivas impulsiona o crescimento, a multiplicação e a divisão dos campos do saber, das ciências e de suas aplicações, originando a tecnologia como campo de saber e intervenção na realidade. Se entre os séculosXVI e XVIII tem-se o desenvolvimento da Astronomia, da Física, da Química e da Biologia, no século XIX, evidencia-se uma explosão de novas ciências, como a Biologia, a Psicologia, a Antropologia e a Sociologia. Temos assim, sinteticamente, a passagem do saber unitário ao fragmentado. Já, no decorrer do século XX, notamos um lento caminhar em direção a movimentos de resgate de uma unidade perdida, porém em patamar qualitativo diferente e por motivos diversos. São exemplos os movimentos estudantis dos anos de 1968, contrários à fragmentação do ensino e das disciplinas, bem como da perda da perspectiva de totalidade. São também evidências disto, inclusive, nomenclaturas de cursos universitários que, até há pouco, apareciam isoladamente e, agora, vêm aglutinados, como é o caso, entre tantos outros, dos cursos de Bioquímica, Engenharia Mecatrônica etc. Paralelamente a outros movimentos, o crescimento e a expansão das ciências, em determinada direção, foram 1 Este texto é uma versão ampliada e modificada do artigo Três perspectivas de análise dos saberes: multidisciplinaridade e interdisciplinaridade, publicada originalmente na Revista Educação em Questão (v. 50, n. 36, p. 73-98, 2014). Ficam aqui registrados nossos agradecimentos aos editores da Revista pela liberação do artigo para compor esta coletânea. 24 uma necessidade e tornaram-se funcionais ao capitalismo, por oferecerem um conjunto de especialistas necessários aos processos produtivos, em termos de quantidade e variedade. Os efeitos da acelerada especialização, de vantagens inegáveis para a produção e produtividade, tornaram-se nefastos ao pensarmos nas proporções em que se chegou a dividir a concepção e a execução do trabalho e suas repercussões sobre os trabalhadores como seres humanos, na sua integralidade. O modelo de produção taylorista-fordista foi um dos exemplos mais emblemáticos, ao fragmentar tempos e movimentos dos trabalhadores na linha de produção, influenciando, por decorrência, a forma de organização (curricular) e o funcionamento da escola e da Universidade, que passaram a incorporar e formar especialistas para atender as demandas do mercado. Nesse contexto, foi com o progressivo desenvolvimento da ciência que se consolidam as divisões entre os campos de conheci- mento, as disciplinas e os distintos tipos de saberes, como o popular, o científico, o religioso, o senso comum, entre outros. Em outras palavras, à medida que a ciência progrediu e foi se consolidando como campo de conhecimento, foi se produzindo um discurso que visava distingui-la dos outros tipos de saber, especialmente no que diz respeito à sua forma de produção do conhecimento. Com a ex- cessiva fragmentação da ciência e a perda da referência de unidade entre os saberes, em meados do século XX, surge o conceito de in- terdisciplinaridade, que interpela em novas bases o debate das rela- ções entre as disciplinas e os diferentes tipos de saberes. Tal debate surge em um cenário de crise do capitalismo, que passa a reorgani- zar-se em um modelo de acumulação flexível, pautado pela ideia de integração dos blocos econômico-financeiros, flexibilidade e inter- disciplinaridade nos processos de trabalho, demandando uma for- mação e atuação que buscava superar o especialismo. É nesta am- biência que a Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), na década de 1960, convoca intelectuais do porte de Georges Gusdorf (1912-2000), Jean Piaget (1896-1980), Eric Jantsch (1929-1980) entre outros, para explicarem o des- compasso entre o mundo da educação e o da produção. Foi desse 25 Congresso, realizado em Nice, na França, que se sistematizaram as diversas “disciplinaridades”: multi, pluri, inter e transdiscipli- naridade, como formas de organizar, transmitir e aplicar os conhe- cimentos, com repercussões na escola-universidade e no mundo da produção (MUELLER; BIANCHETTI; JANTSCH, 2008)2. Mas o cenário não era mais aquele de ‘pleno’ emprego, acompanhado da produção e consumo de massa promovidos pelo taylorismo-fordismo e, de modo complementar, reforçado pela perspectiva Keynesiana, cujo ideário teve influência sobre a construção do Estado de bem-estar social, que ajudou a conformar os ‘anos de ouro do capitalismo’. Nesse momento, o ‘solo’ histórico no qual a palavra de ordem era a interdisciplinaridade caracterizava-se pelo acirramento do desemprego e da competividade entre capitais e entre os próprios trabalhadores. Os Organismos Multilaterais como a OCDE cumpriram um papel importante de divulgação da interdisciplinaridade como possibilidade de incremento das habilidades e competências dos trabalhadores e de diversificação das trajetórias e percursos acadêmicos e formativos frente a um mercado de trabalho inchado, mas ávido por mudanças em termos de inovação e diversidade. O relatório Delors intitulado “Educação: um tesouro a descobrir” é um exemplo da visão de que a saída para o desemprego poderia ser encontrada via diversificação das trajetórias de aprendizagem, mediante uma omnidisciplinaridade, isto é, uma radicalização (omni significa total) ou extrapolação da interdisciplinaridade (MANGINI; BIANCHETTI, 2013). É nesse contexto que se inserem as novas demandas edu- cacionais e produtivas, ganhando centralidade a interdisciplinari- dade e a pesquisa. Observa-se aumento da consciência social acerca do poder e do alcance da atividade científica na vida das comu- nidades, no contexto local, regional e até supranacional. Ocorre 2 Uma versão desse texto foi republicada na 9ª edição da coletânea de Jantsch e Bianchetti (2011). O diferencial desta edição, em relação às anteriores, foi justamente a inserção daquele que foi um dos últimos artigos de cuja redação e discussão Ari Paulo Jantsch participou. A coletânea conta também com um breve Prefácio à 9ª edição, com algumas reflexões e informações a respeito da morte prematura do nosso colega Ari. 26 aproximação entre ciência e sociedade, que tem contribuído para o surgimento de novos modos de produção de conhecimento, supos- tamente mais democráticos, por envolverem uma diversidade de atores e não se concentrarem necessariamente no espaço universi- tário. Esse movimento ocorre devido à constatação de uma maior conscientização dos cientistas e dos tecnólogos no que diz respeito às consequências de seu trabalho, e, também, maior conscientiza- ção das pessoas sobre as potencialidades positivas e destrutivas dos desenvolvimentos científico-tecnológicos para suas vidas. Tal movi- mento tem favorecido o despertar do interesse público e do desejo de interferir na produção e no resultado das pesquisas, aumentando os pontos de contato entre o saber científico e o popular, e lançando a problemática e os desafios de se estabelecer em relações demo- cráticas e plurais entre os detentores destes (GIBBONS, 1994). Além disso, a temática da interdisciplinaridade, a partir das relações entre os diferentes tipos de saberes pautou os debates acadêmicos e universitários dos últimos anos, sendo uma problemática colocada por diversas vertentes de pesquisa, especialmente a de inspiração pós-moderna3. Nesse sentido é que se faz importante refletir sobre o tratamento desses saberes, especialmente as concepções de conhecimento científico e popular de acordo com o referencial e a vertente de sua fundamentação, que, por sua vez, têm implicações para os modos pelos quais se concebe e se gesta a pesquisa de inspiração interdisciplinar. Essa discussão assume maior relevância para os educadores, tanto do ponto de vista de um exame crítico dos seus saberes quanto da forma como dialogam e estabelecem intercâmbios com os saberes dos indivíduos e grupos para/com os quais trabalham e os saberes destes. Por meio do presente texto, objetiva-se descrever e ana- lisar os conceitos de saber popular e científico, a partir de uma revisão da bibliografia relacionada à temática, visando sistematizar 3 Na perspectiva de contribuir com as denúnciasà pretensão de a ciência moderna ser apresentada como único e legítimo modo de conhecer, como verdade absoluta e sistema de saber fundado. 27 as principais vertentes de discussão que abordam as relações entre esses conhecimentos e analisar como, em cada vertente, se apre- senta a questão da pesquisa e da interdisciplinaridade. Esse debate não é isento de problemas, a começar pela própria definição (e, muitas vezes, indefinição) dos conceitos de conhecimento científi- co, conhecimento comum, senso comum, bom senso, entre outros. A abrangência dos conceitos de conhecimento comum e seus cor- relatos (saber popular, senso comum) denota a importância de um tratamento mais analítico desses conceitos, observando as diferen- ças entre eles, e o referencial ou a vertente de sua fundamentação. O texto é estruturado em três vertentes, sendo a primeira, a perspectiva clássica, ilustrada por Mario Bunge, para quem o conhecimento científico é superior ao vulgar e não necessita deste último. A segunda, a perspectiva transformadora, é defendida por aqueles pensadores, como Boaventura Souza Santos e outros, que se sentem compromissados com uma transformação social radical. Trata-se de autores que questionam a supremacia do saber científico sobre o senso comum, por entenderem que, de algum modo, o saber científico deve combinar-se com o saber considerado não científico. E a terceira, a perspectiva marxista gramsciana, é representada, principalmente, pelo filósofo brasileiro Ari Paulo Jantsch que, mesmo focando sua análise no conhecimento popular, compreende que o senso comum é sempre um obstáculo a ser superado. Antes de adentrar na discussão de cada vertente propriamente dita, considera-se necessário fazer algumas distinções. As expressões “conhecimento comum” ou “saber vulgar” são utilizadas pelos autores de todas as vertentes, que também empregam outras expressões, como “conhecimento ordinário”, “senso comum” e “conhecimento popular”. Por estarem presentes, de algum modo, em todos eles, optou-se por utilizar essas expressões como equivalentes ou sinônimos, embora se reconheça a importância da distinção. No dicionário, o termo vulgar é sinônimo de vulgo, ou seja, popular. Significa ainda aquilo que é comum, ordinário, trivial ou usual. Essa palavra, às vezes, comporta um sentido pejorativo, significando algo reles, ‘vulgar’, desprezível, baixo; outras vezes, 28 é apreendido no sentido mais positivo, designando aquilo que é sabido e notório, disseminado e muito conhecido. De maneira geral, não há consenso, entre aqueles que se dedicam ao seu estudo, quanto a um modo único de denominação do conhecimento comum, o qual é tratado, por vezes, como sinônimo de senso comum e de conhecimento popular. No caso dos principais autores de cada vertente: Bunge (1980) usa muito a expressão conhecimento ordinário, vulgar ou comum; Jantsch (1995), conhecimento popular e senso comum; já Santos (1989) trabalha mais com a noção de senso comum, embora também utilize a expressão saber vulgar. Depreende-se que, às vezes, são confundidos os significados desses conceitos. Além desses, poderiam ser acrescentados outros, como o conceito de bom senso. Este último refere-se à capacidade de tomar boas decisões em circunstâncias problemáticas e difíceis, quando as regras e receitas do pensamento e das consideradas boas vivências parecem não funcionar. Aplica-se tanto ao conhecimento comum quanto ao conhecimento científico, possuindo um sentido positivo que indica racionalidade, ao contrário de “conhecimento vulgar” e de “senso comum” que, na literatura especializada, geral- mente são apresentados como portadores de um sentido negativo e irracional. O senso comum é frequentemente igualado ao conhecimento comum ou saber vulgar, mas pode ainda aludir ao que se considera sensato em uma determinada ordem de pensamentos. Já “conhecimento popular” é uma denominação que leva em conta o conhecimento comum, em vista de sua especificidade, por exemplo, o saber das rendeiras, dos analfabetos, dos trabalhadores em geral. Por fim, cabe um esclarecimento a respeito do referencial e do conceito de interdisciplinaridade utilizado para as análises. Estamos tomando a interdisciplinaridade a partir das análises da vertente marxista-gramsciana, que enfatiza a importância de refletir sobre esse conceito à luz das condições histórico-sociais de produção da existência e do conhecimento. Nessa perspectiva, a interdisciplinaridade é um princípio que se refere à busca da totalidade epistêmica do objeto de conhecimento e é também um 29 conceito que diz respeito aos processos de comunicação, empréstimo (conceitos e metodologias), integração (de conteúdos, metodologias e até áreas e disciplinas) e criação de novos campos de investigação e domínios conhecimento. A partir dessas noções gerais, examinam-se tais conceitos em suas vertentes correspondentes. Ao final, apontam-se possíveis limitações e contribuições das relações multi/interdisciplinares entre os saberes popular e científico, vistos sob o prisma de cada vertente. Busca-se compreender o significado da pesquisa interdisciplinar desde a simples comunicação até a efetiva troca e integração de conhecimentos, a partir das diferentes perspectivas. O resultado é que cada vertente propõe um modo peculiar de lidar com a particularidade dos saberes, sendo que umas priorizam aspectos metodológicos enquanto outras definem as finalidades da produção de conhecimentos como essenciais a uma construção interdisciplinar. Essa reflexão torna-se fundamental, particularmente, àqueles que atuam em cursos de pós-graduação e que assumem explicitamente a perspectiva da pesquisa interdisciplinar e da relação da pós- graduação com os outros níveis de ensino e com o entorno local e regional da universidade. A PERSPECTIVA CLÁSSICA Representada, na nossa análise, por Mario Bunge, um dos mais influentes defensores da distinção entre conhecimento vulgar e especializado. Por essa perspectiva clássica, parte-se do reconhecimento da superioridade do saber científico sobre os conhecimentos vulgares e populares, visto que aquele tem um caráter metódico e sistemático que as outras modalidades não possuem. É, pois, um saber especializado cuja superioridade decorre não necessariamente do seu conteúdo, mas sim do seu modo de conhecer, estruturado por um procedimento lógico de investigação e por um objetivo de aumentar e aprimorar constantemente o 30 conhecimento. Na visão do autor (1980, p. 19), trata-se do modo “[…] más reciente, [...] más universal y [...] más provechoso de todos los estilos”. Bunge (1985) adverte que essa superioridade não significa perfeição, pois, se fosse assim, o saber científico já estaria extinto, uma vez que a sua própria lógica de justificação reside na existência de lacunas do saber, na possibilidade de indagar e aprimorar o conhecimento. Também adverte que o conhecimento vulgar pode estar mais à frente da ciência no que diz respeito ao conteúdo. Do seu ponto de vista, um fazendeiro pode estar mais apto a fazer previsões do tempo do que um meteorologista; um pedreiro pode corrigir os erros de um engenheiro e um poeta pode descrever os sentimentos e as emoções com mais profundidade do que um psicólogo. A diferença é que o modo de construir o conhecimento científico está pautado em critérios, como precisão, segurança e objetividade. Ainda que seja um conhecimento falível, seus criadores e disseminadores estão idealmente sempre dispostos a corrigirem-se a si mesmos. O conhecimento vulgar, pelo contrário, não se consubs- tancia com a objetividade (condução do saber de maneira impesso- al), tampouco com a sistematização do saber em teorias, em enun- ciados testáveis e sujeitos à revisão, como se procede na ativida- de científica. Não obstante essas características do saber vulgar, Bunge (1985) parece ter uma visão bastante positiva dele, sobretu- do quando vinculado ao bom senso, concebido pelo estudiosocomo um conhecimento que aspira à criticidade (adequação aos fatos) e à racionalidade (coerência). É possível aventar que, para a perspecti- va clássica, é no bom senso que reside o ponto de equilíbrio entre o conhecimento vulgar, o senso comum e o conhecimento científico. O conhecimento vulgar está presente desde o princípio na atividade científica, por meio da linguagem comum, que é empregada como ponto de partida em todos os campos do saber. O conhecimento vulgar também pode inspirar a construção de problemas científicos, ainda que em um nível bastante elementar, pois essa construção depende de um acúmulo de saber, e pode, igualmente, ser inspirada 31 por outros conhecimentos científicos, novamente sujeitos à revisão e correção. Para Bunge (1980, p. 19-20), […] a medida que progresa, la investigación corrige o hasta rechaza porciones del acervo del conocimiento ordinario. Así se enriquece este último con los resultados de la ciencia: parte del sentido común de hoy día es resultado de la investigación científica de ayer: de hecho, la investigación científica empieza en el lugar mismo en que la experiencia y el conocimiento ordinarios dejan de resolver problemas o hasta de plantearlos. La ciencia no es una mera prolongación ni un simple afinamiento del conocimiento ordinario. Se a ciência fosse um mero prolongamento do conhecimento comum, ela se reduziria a uma dimensão empírica, espaço privilegiado desse tipo de saber que tem, na vida cotidiana e na experiência privada, seu ponto de partida para conhecer. Mas, pelo contrário, a ciência encontra-se, muitas vezes, distante do conhecimento comum, pois trabalha com conceitos e objetos empiricamente não acessíveis ao leigo, como os conceitos de átomos, células etc. Mesmo naquelas ciências em que a experiência tem um papel fundamental, ela deve ser confrontada para ser verificada ou falseada, para que o conhecimento não se reduza à percepção e à ação imediata que caracterizam o modo pelo qual o sujeito comum conhece4. Nessa perspectiva de análise, não somente o conhecimen- to científico é mutável, mas também o conhecimento vulgar, que varia conforme a época (tempo) e o local (espaço) de sua produção e difusão. Por exemplo, um conhecimento científico pode tornar-se conhecimento comum (fragmento de alguma teoria refutada) e um conhecimento vulgar pode dar origem a um conhecimento científi- co. Baseando, mais uma vez, em Bunge (1985), os conhecimentos básicos de aritmética, física e tecnologia têm se tornado conheci- 4 O conhecimento comum pode configurar-se a partir de grandes visões sintéticas (generalizações) ou de pensamentos fragmentários. 32 mento vulgar em países industrializados, embora ainda sejam co- nhecimentos especializados em nações subdesenvolvidas. Isso leva a crer que, no pensamento do autor, os conhecimentos científico e vulgar estão em constante relacionamento (diálogo), embora de um modo mais propriamente multidisciplinar do que interdisciplinar, pois as formas de construir e validar cada um são distintas, desde a formulação de enunciados até o exame de suas afirmações. Como exposto anteriormente, o conhecimento científico pode alterar o conhecimento vulgar. De igual forma, o conhecimento vulgar pode interferir no desenvolvimento da atividade científica, tanto de um modo positivo (suscitando a formulação de problemas e até mesmo como modo de pensar contrário e divergente) quanto de um modo negativo (pequenas porções de verdades cristalizadas ou dogmas que podem limitar o fazer científico). Um exemplo dado por Bunge (1985) a respeito dessa distorção é a tenacidade com que alguns físicos se agarram à interpretação positivista da mecânica quântica, e até mesmo, por vezes, tentam suprimir o dissenso. A ciência é, para o autor, uma atividade na qual sobressai o conhecimento como valor central. Secundariamente, ela pode ser utilizada para promover o bem-estar das populações, apesar de não ser esse seu objetivo principal ou intrínseco. Os principais benefícios da ciência ou de uma ampla difusão da atitude científica consistem em que, por meio dela, são produzidas transformações de mentalidade e de comportamento nos indivíduos e grupos. São palavras do autor: La adopción universal de una actitud científica puede hacernos más sabios: nos haría más cautos, sin duda, en la recepción de la información, en la admisión de creencias y en la formulación de previsiones; nos haría más exigentes en la contrastación de nuestras opiniones, y más tolerantes con las de otros; nos haría más dispuestos a inquirir libremente acerca de nuevas posibilidades, y a eliminar mitos consagrados que sólo son mitos, robustecería nuestra confianza en la experiencia, guiada por la razón y 33 nuestra confianza en la razón contrastada por la experiencia; nos estimularía a planear y controlar mejor la acción, a seleccionar nuestros fines y a buscar normas de conducta coherentes con esos fines y con el conocimiento disponible, en vez de dominadas por el hábito y por la autoridad; daría más vida al amor de la verdad, a la disposición de reconocer el proprio error, a buscar la perfección y a comprender la imperfección inevitable; nos daría una visión del mundo eternamente joven, basada en teorías contrastadas, en vez de estarlo en la tradición, que rehúye tenazmente todo contraste con los hechos; y nos animaría a sostener una visión realista de la vida humana, una visión equilibrada, ni optimista ni pesimista (BUNGE, 1980, p. 51). Embora essas mudanças se processem em escala limitada, para Bunge (1980), já é possível observar os frutos da difusão de uma atitude científica no âmbito da cultura. É sobre essa aparente supervalorização do conhecimento científico que autores como Boaventura de Souza Santos marcaram sua divergência, como será exposto a seguir. A PERSPECTIVA TRANSFORMADORA Por meio dessa perspectiva, entende-se o conhecimento como elemento fundamental para a transformação social, sendo que ela foi fortemente influenciada pelo movimento pós-moder- no. Resguardadas as devidas diferenças entre os participantes do pós-modernismo, um dos marcos essenciais desse movimento foi assentado por François Lyotard (1924-1998), com seu livro A condição pós-moderna, obra na qual abordou a questão do conhe- cimento nas sociedades pós-industriais, situando a ciência como um subconjunto de conhecimento e o saber como atributo não exclusivo da ciência. Conforme o autor, trata-se de um pensa- mento atento aos erros da ciência e preocupado com o respeito e a igualdade entre os saberes de outros povos e de outras tendências ou perspectivas (LYOTARD, 2004). 34 A ciência é compreendida por Lyotard como o modo de pensar hegemônico da Modernidade, que contribuiu para instaurar a violência e a desigualdade entre os saberes, com as supostas respostas definitivas de que seriam portadoras as metanarrativas. Para outro expoente desse movimento, Gianni Vattimo (2007), o ideal de emancipação realizar-se-ia por meio da dissolução dos absolutos, neste caso, da ciência como única verdade válida. O pensamento pós-moderno é, essencialmente, um pensamento por meio do qual se defende um conhecimento livre de hierarquias e condenam-se as guerras que foram feitas em nome da verdade. Talvez, por isso, entenda-se que se devam formar acordos provisórios capazes de romper com o totalitarismo de uma única noção de verdade, de uma lei universal, uma vez que a verdade é força, é poder (VATTIMO; ROVATTI, 1988). Essas ideias introdutórias estão na base do surgimento do pós-modernismo e indicam o fio condutor por meio do qual esse movimento cresceu e atraiu outros pensadores. Parece ser nessa mesma linha – mantidas as diferenças entre opções teórico- metodológicas dos autores pós-modernos – que o sociólogo português Boaventura de Souza Santos defende que não há superioridade do conhecimento científico. Em sua visão, trata-se de um saber que aniquila os conhecimentos alternativos dospovos e dos grupos sociais cujas práticas neles fundamentam-se. Isso porque a ciência procede de modo polarizado ou rivalizado com essas formas de conhecimento, isto é, primeiro os recusa para, depois, transformá-los em matéria-prima, com vistas ao desenvolvimento de seu próprio campo. As classificações hierárquicas que se estabelecem a partir do conhecimento científico para distingui-lo de outros saberes carecem de fundamento e sentido, tanto do ponto de vista dos métodos da ciência como do conhecimento produzido por ela. Tal distinção está pautada em um juízo de valor e, no caso da ciência, é esse juízo que determina a sua preferência entre outras práticas cognitivas. São esses mesmos valores, que foram negados pela ciência clássica, por 35 serem considerados aspectos meramente “subjetivos” e indesejáveis, que, na verdade, definem a primazia da ciência moderna e atribuem sentido ao conhecimento desta. Na busca por rigor e precisão, os ‘profetas’ da ciência moderna, portanto, acabam por reduzir a complexidade do mundo e desqualificá-lo. Os prejuízos ao conteúdo desse saber decorrem da fixação à forma, que tem, no modelo da matemática, o exemplo de redução da qualidade à quantidade. Com isso, constrói-se um conhecimento que tem como resultado um estreitamento em relação a outros saberes e, mesmo que tenha contribuído para a sobrevivência humana, não reverteu em sabedoria para a vida. Essa seria a principal falha da ciência moderna, na visão de Santos, já que o saber da ciência não contribui para a transformação. A ciência clássica, construída por Isaac Newton (1642- 1727), Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650), entre outros, procede de modo totalitário, negando o caráter de racionalidade a todas as outras formas de saber que não adotem seus princípios epistemológicos e suas regras metodológicas. A introdução de novos desenvolvimentos teóricos, como os de Albert Einstein (1879-1955), os da física quântica e os questionamentos a respeito do rigor da matemática são, para Santos (2009), elementos que colocam em questão a superioridade da ciência e a sua racionalidade. O procedimento analítico, característico da ciência clássica, é responsável, conforme o autor citado, por reduzir o real, porque divide e classifica, para depois tentar juntar o que fragmentou. Na mesma direção, o saber disciplinar da ciência clássica tornou o cientista, na visão de Santos (2009, p. 74), um “ignorante especializado”. As disciplinas delimitam fronteiras rígidas e impõem limites à transposição destas, segregando os saberes entre si. Em face dessa situação, a aposta de Santos (2009) reside na diluição das fronteiras disciplinares e na flexibilização das divisões rígidas entre a ciência, o saber vulgar e as humanidades, como afirma na citação a seguir: 36 Na concepção que aqui defendo, é o da superação da distinção entre ciência e senso comum e da transformação de ambos numa nova forma de conhecimento, simultaneamente mais reflexivo e mais prático, mais democrático e mais emancipador do que qualquer um deles em separado (SANTOS, 1989, p. 86). Em outras palavras, a proposta de Santos contém elementos na direção de uma inter/transdisciplinaridade entre os conhecimentos, a partir do momento que vislumbra não somente o diálogo, mas também os pontos de confluência entre os saberes, com base em suas interações (produção do conhecimento de forma “horizontal” e “compartilhada”). Trata-se de articular uma pluralidade metodológica pautada na imaginação e em critérios pessoais do cientista, com o intuito de converter os saberes em sabedoria de vida, que pode traduzir-se em desenvolvimento do conhecimento, inovação, aprendizado e transformação social. Por meio do senso comum, é possível orientar-se e dar sentido às práticas humanas. É o conhecimento da vida, que possui uma direção articulada a um propósito, ao contrário da ciência clássica, que se restringe a averiguar como funciona determinado setor da realidade, em termos gerais. Em vista disso, parece que se atribui um sentido mais positivo do que negativo ao conhecimento comum, por este ser um saber pautado na experiência, que, para essa perspectiva, não se deve desperdiçar, nem isolar e tampouco desprezar. A experiência e o hábito de decidir bem formam as bases da sabedoria prática, ou melhor, da sabedoria para a vida. É por isso que Santos (2009) se inspira na sabedoria oriental e na sabedoria de povos indígenas e camponeses. Daí a necessidade de afirmar e reconhecer os diferentes tipos de saberes, condição necessária para uma “ecologia dos saberes”. Em termos práticos, isso significa o reconhecimento dos méritos da ciência e de outras formas de saber. Para ser fiel ao pensamento do autor, significa reconhecer, por exemplo, que a ciência é o melhor conhecimento para levar o homem ou a mulher à Lua, embora não o seja para preservar a biodiversidade. Nesse caso, 37 “[...] de nada serve a ciência moderna. Ao contrário ela a destrói. Porque o que vem conservando e mantendo a biodiversidade são os conhecimentos indígenas e camponeses” (SANTOS, 2007, p. 33). A proposta da “ecologia dos saberes” pressupõe que não há justiça global sem uma justiça entre os conhecimentos: Não se trata de ‘descredibilizar’ as ciências nem de um fundamentalismo essencialista ‘anticiência’[...]. O que vamos tentar fazer é o uso contra-hegemônico da ciência hegemônica. Ou seja, a possibilidade de que a ciência entre não como monocultura mas como parte de uma ecologia mais ampla de saberes, em que o saber científico possa dialogar com o saber laico, com o saber popular, com o saber dos indígenas, com o saber das populações urbanas marginais, com o saber camponês (SANTOS, 2007, p. 33). Nesse sentido é que o autor aposta em uma nova relação entre a ciência, o senso comum e o conhecimento popular, longe daquela visão da ciência clássica, que concebe o saber não científico a partir de um ponto de vista etnocêntrico e o percebe negativamente, como algo: ilusório, superficial, falso; conservador, enviesado etc. Esse caráter ilusório, conservador ou preconceituoso do senso comum pode ser mais ou menos acentuado, dependendo das relações sociais em que esse conceito é construído e refletido5. “Senso comum” não é um conceito fixo e estático. Na concepção do autor, uma sociedade democrática com desigualdades pouco acentuadas, que tenha um sistema educativo generalizado e orientado por uma pedagogia libertária, provavelmente produzirá um senso comum diferente daquele produzido por uma sociedade autoritária, com forte desigualdade e ignorância (SANTOS, 1989). 5 Na interpretação do autor, o conceito filosófico do senso comum, por exemplo, surgiu no século XVIII, ligado ao combate ideológico da burguesia contra o irracionalismo do mundo feudal. Quando a burguesia conquistou o poder, o senso comum perdeu as características da razão e da prudência que mantinha até então, tornando-se superficial e ilusório (SANTOS, 1989). 38 O conceito de senso comum adquire centralidade nessa perspectiva, por possibilitar o desenvolvimento de mudanças substantivas na esfera econômica, política e social. Como menor denominador daquilo que um indivíduo ou grupo acredita, o senso comum possui uma “vocação solidarista e transclassista” (SANTOS, 1989, p. 37), cujas implicações, numa sociedade de classes, marcada pela ciência moderna, não podem [...] deixar de assumir um viés conservador e preconceituoso, que reconcilia a consciência com as injustiças, naturaliza a desigualdade, e mistifica o desejo de transformação. Porém, opô-lo, por essas razões, à ciência como quem opõe as trevas à luz não faz hoje sentido por muitas outras razões. Em primeiro lugar, porque, se é certo que o senso comum é o modo como os grupos ou classes subordinados vivem a sua subordinação, não é menos evidente que, [...] essa vivência, longe de ser meramente acomodatícia, contém sentidos de resistência que, dadas ascondições, podem desenvolver-se e transformar-se em armas de luta (SANTOS, 1989, p. 37). Daí a importância de transformar o conhecimento científico em um novo senso comum, formando uma racionalidade composta de diversas racionalidades. A proposta de uma ciência pós-moderna está pautada na afirmação do elo entre o conhecimento, a ética e a política, a partir do questionamento do papel do conhecimento no enriquecimento ou empobrecimento da vida humana. Mais ainda, o conhecimento é parte de uma racionalidade que visa não somente à compreensão do real, mas também à sua transformação6. Em outras palavras, o conhecimento precisa estar comprometido com 6 As ideias de autonomia da ciência clássica e de desinteresse do conhecimento científico não se sustentam, para Santos (2009), que aponta o fenômeno global da industrialização das ciências, nas décadas de 1930 e 1940, como exemplos de direcionamento político da ciência, tanto na organização da investigação quanto na aplicação dos seus resultados. O fenômeno ocorreu nas sociedades capitalistas, em geral, e socialistas do leste europeu. 39 o viver bem, permitindo a satisfação pessoal desde a sua produção até o seu usufruto. A perspectiva apresentada na sequência, à semelhança da primeira vertente, enfatiza a distinção entre os conhecimentos cien- tíficos e vulgares, sendo até mais radical no tocante a essa separação. A PERSPECTIVA MARXISTA GRAMSCIANA É a perspectiva cujos intérpretes inspiraram-se nas obras de Karl Marx (1818-1883) e, especialmente, de Antônio Gramsci (1891-1937)7 para pensar a relação entre conhecimento científico e o popular sob um ponto de vista político e epistemológico. Por meio dessa perspectiva, visa-se à transformação social, mas à diferença da perspectiva transformadora; seus proponentes entendem que é preciso garantir o acesso dos setores populares aos produtos mais elevados do conhecimento, que são a ciência e a tecnologia. Um de seus intérpretes, o filósofo brasileiro Ari Paulo Jantsch, abordou o conhecimento vulgar e o senso comum sob o aspecto mais específico do conhecimento popular8. Apesar de reconhecer a necessidade de diálogo entre o senso comum e o conhecimento científico, defendeu a superação desse saber comum e até mesmo do bom senso pelo conhecimento científico9. No entendimento de Jantsch (1995), o bom senso é nada mais do 7 Gramsci foi um autor que buscou os traços que caracterizavam o conhecimento popular, uma vez que tinha em vista a organização de uma possível contra-hegemonia das classes subalternas. 8 No entendimento de Jantsch (1995), o conhecimento popular não se confunde meramente com o senso comum e, embora se relacione com ele, diz respeito ao conhecimento que está atrelado à cultura, às tradições dos diversos grupos humanos, ao folclore, à religião etc. 9 Apesar de muito diferentes em sua motivação e em seus propósitos, esta visão pode ser comparada à do filósofo Gaston Bachelard (1972), para quem a ciência só pode ser negação do conhecimento vulgar, cujas crenças e convicções constituem-se mais em obstáculos epistemológicos do que em pontos de partida efetivos para a construção do conhecimento científico. 40 que um refinamento do senso comum. Somente o conhecimento científico permite o desenvolvimento de uma práxis crítica, criativa, revolucionária e transformadora. Nessa vertente, assim como na perspectiva clássica ante- riormente apresentada, a superioridade do conhecimento científico decorre do modo ou do processo pelo qual o saber é construído, e não dos objetos de conhecimento. Mesmo porque, pelo conheci- mento científico não se tem em vista a formação de uma verdade final ou de um conhecimento pronto e acabado. Este é superior justamente porque está pautado na construção de verdades provi- sórias, passíveis de confirmação, aprimoramento e revisão. O cultivo da atitude científica permite alcançar diversos objetivos: a crítica, entendida como o olhar da realidade a partir de critérios objetivos, por meio de dados, de metas ou de avaliações; a criação, compreendida como a superação de um estado de coisas, de um mundo dado, cristalizado e dogmatizado; a revolução, ou seja, a construção de mudanças radicais que rompam com um mundo compreendido de maneira superficial e enganosa; e a transformação, o alcance de novos mundos. Este último objetivo seria a materialização ou concretização dos elementos crítico, criativo e revolucionário (JANTSCH, 1995). O conhecimento popular torna-se relevante como questão epistemológica devido às suas possíveis interações com o conhecimento científico, a começar pela linguagem cotidiana. É por meio desta que se processam as primeiras ligações com o conhecimento científico. Aqui, a linguagem cotidiana, por sua vez, é aquela próxima da experiência e de outros conhecimentos pré-teóricos que estão presentes no fazer e no agir rotineiro do ser humano, nas relações com ele mesmo e com os outros. Um exemplo dessa linguagem cotidiana é o ato de dirigir um automóvel ou de usar um martelo (PAVIANI, 2009). No entanto, nessa perspectiva, não é possível demarcar fronteiras rígidas entre os saberes científico e popular, tendo em vista que nenhum deles está livre das interações com o outro, não havendo um conhecimento científico ou popular puro. Isso não sig- 41 nifica, entretanto, defender uma relativa interdisciplinaridade entre eles. Pelo contrário, parece mais adequado falar em uma multidis- ciplinaridade entre esses saberes, levando em conta as suas diferen- ças e evitando cair em homogeneizações simplificadoras. Mesmo porque, no diálogo com o conhecimento popular, o importante é alcançar o “motor epistemológico” (JANTSCH; BIANCHETTI, 2011, p. 174), isto é, o avanço do conhecimento, que, por sua vez, se traduz no desenvolvimento da alta ciência e tecnologia. O conhecimento popular é, todavia, um conhecimento que se almeja superar, pois indica um modo subalterno de se relacionar e de se apropriar do complexo chamado conhecimento. Os autores que se enquadram nessa perspectiva consideram como conhecimento do povo “todo aquele que não é científico”. É geralmente um saber atribuído às pessoas das camadas populares, cujas condições socioeconômicas são limitadas, mas, na verdade, não se restringe a elas. O conhecimento comum [...] não é um privilégio dos indivíduos populares, mas está presente, também, nas elites políticas e econômicas [...]. Por outro lado, é a condição que coloca as elites em condições favoráveis na relação com a ciência, a filosofia e a tecnologia (JANTSCH, 1995, p. 162). Em seus estudos, Schaefer e Jantsch (1995) atribuem um sentido mais negativo do que positivo às características do conhecimento popular, mesmo considerando-o como um saber que muda conforme a sociedade e a época de sua elaboração e transmissão. Os autores entendem ser um conhecimento que não consegue administrar de maneira lógica as peças ultrapassadas, conservadoras e reacionárias do seu saber (aspecto negativo) com os seus elementos criadores, inovadores e progressistas (aspecto positivo), mantendo- os sem solução. Para os autores, o conhecimento popular caracteriza- se pela ambiguidade, heterogeneidade, fragmentariedade, acriticidade, imediaticidade e dogmaticidade. 42 A ambiguidade é expressa pela falta de clareza nas situa- ções reais, não implicando, necessariamente, contradição. O pensa- mento ambíguo é percorrido por um polo positivo (lugar do “sim”, da afirmação) e por outro polo negativo (espaço do “não”, da nega- ção), sem haver qualquer decisão cognitiva por algum dos dois, de maneira que ambos convivem sem solução. Cita-se aqui o exemplo dado pelos próprios autores10, de um sujeito que manifesta posições ambíguas em dois momentos quando questionado sobre o governo: Sim, através das eleições vamos tirar Sarney da presidência e seu substituto vai melhorar a situação do país. Não: no futuro, ou seja, com o novo governante eleito vai ser a mesma coisa, não adianta.Esse ‘não’ se refere não somente ao governante a ser eleito, mas a si mesmo como não-sujeito de mudanças, pois as mudanças, quando vêm, se originam politicamente fora e longe do indivíduo que as espera e deseja (SCHAEFER; JANTSCH, 1995, p. 34). A heterogeneidade refere-se à falta de coerência ou ao agregado inconsistente de ideias e representações que impedem o desenvolvimento de níveis maiores de abstração cognitiva. Trata-se do ajuntamento indiscriminado e acrítico dos resquícios de cultura e de saberes atuais e passados, sejam estes de origem científica ou não, os quais conformam, de acordo com o entendimento de Schaefer e Jantsch (1995, p. 49), uma espécie de “colcha de retalhos” cognitiva. A tendência de aplicação do conhecimento popular é de voltar-se mais àqueles assuntos ou temas que têm mais afinidade com o universo pessoal das camadas populares, como aspectos do seu cotidiano e do seu trabalho, restringindo-se à experiência sen- sível. No geral, os componentes das classes populares não conse- guem identificar o fio condutor de um pensamento ou as causas de uma determinada situação. É quando ocorre o “emparelhamento” 10 Os exemplos das características a seguir também são extraídos das obras dos autores citados. 43 ou a “intraposição” conceitual, para usar os termos dos autores, que significa a sobreposição acrítica de um conceito sobre outro, ocasio- nando a junção e a indistinção de ambos, como se fossem a mesma coisa. Segundo os autores, mesclar o poder de Deus com o poder humano seria um exemplo de “intraposição” do conceito religioso no profano. A fragmentariedade é a falta de articulação dos conteúdos do saber em um todo lógico. O pensamento permanece diluído e cindido. É por isso que o indivíduo revela dificuldades de fazer sínteses abrangentes, tendo uma compreensão reduzida de espaço e de tempo. Um exemplo é a dificuldade dos componentes das classes populares de relacionarem os conceitos do jurídico, do político, do econômico, do cultural etc. A acriticidade é a presença constante de todos os elementos anteriores ou a dificuldade de eliminar a prática cognitiva ambígua, heterogênea e fragmentária. A acriticidade também se expressa na ausência de dados objetivos. Um exemplo de acriticidade é a tendência a não ver a questão do poder como produto humano, tornando-o como algo extra-humano, mágico ou sobrenatural. A imediaticidade é a falta de distanciamento dos fatos, que está relacionada a dificuldades de abstração e à fixação em representações mentais sensíveis. Exemplos de imediatismo podem ser observados nos conceitos populares de “democracia”, significando apenas as eleições diretas para presidente, ou de economia, representando estritamente uma melhora na vida pessoal, nos salários, no bairro etc.11 A dogmaticidade materializa-se na opção por um estado de segurança cognitiva no qual se tem dificuldade para discutir as próprias certezas. Exemplos: a certeza de outra vida, (no céu e no inferno), da imortalidade da alma, da existência de santos e de 11 Outro exemplo de imediaticidade e de acriticidade que pode ser agregado ao exemplo dos autores é quando um sujeito julga adequado o consumo da água de um rio ou de uma fonte pelo seu aspecto límpido ou cristalino, conforman- do-se com a aparência e com os conhecimentos sensoriais, ao passo que, na ciência, a água é submetida a uma análise para identificar a sua potabilidade. 44 santas (como seres com poderes espirituais diversos) etc. Conforme os autores, é necessário superar o conhecimento popular, pois [...] o dogmatismo deixaria o indivíduo numa espécie de inércia mental (resistência a modificar o movimento cognitivo, sua dinâmica, seu processo e seus resultados conceituais). A capacidade de crítica que poderia imprimir novo movimento – pelo exercício da dúvida, por exemplo – apesar de existir na lógica-processual popular, não conseguiria ser suficiente para quebrar a inércia. Enquanto permanecesse esse estado de coisas o conhecimento popular continuaria dogmático. O importante para o nosso caso é atentar para a impressão real de segurança intelectual que o pensamento dogmático oferece ao homem do senso comum (SCHAEFER; JANTSCH, 1995, p. 26). Além disso, a dogmaticidade consiste em um modo de pensar rígido e conformista, que pode contribuir para o desenvolvimento de atitudes de submissão político-econômica. Um exemplo é a interpretação popular dos problemas desse âmbito como expressão das provas e expiações de culpas neste mundo terreno que, por sua vez, supõem o sofrimento e a resignação. O pensamento dogmático é aquele em que se atribui maior peso à segurança de supostas verdades do que aos processos cognitivos de duvidar ou questionar as suas próprias crenças, noções, ideias, seus conceitos, valores, suas concepções de mundo etc. Quanto à relação entre ciência e política, o problema não parece ser a atividade científica em si, mas a sua apropriação pelas classes sociais. Na opinião dos autores dessa vertente, é possível desenvolver uma ciência e um conhecimento científico livres dos direcionamentos políticos (esquerda ou direita, socialismo ou capitalismo, dominação ou libertação). A tarefa principal residiria em promover a construção de contra-hegemonias aos modos particularistas e privatistas de apropriação e usufruto do conhecimento científico-tecnológico. Isso porque o reconhecimento é objeto de disputa entre classes sociais (entre elas e dentro delas), 45 de modo que se faz necessário refletir sobre a relação que cada classe tem com o conhecimento desde sua elaboração até seu uso final. O conhecimento popular está presente em todas as classes, embora de modo predominante naquelas que têm menos acesso ao conhecimento científico12. Por isso, o importante é superar a desigualdade de acesso, construção e socialização do saber científico, a fim de não desenvolver uma atitude hostil em face dos conhecimentos populares, mas sim de aproveitá-los como elemento de dúvida e de criação13, evidenciando a preocupação com a qualidade do conhecimento científico e com as transformações sociais, as quais têm mais condições de acontecer à medida que os sujeitos cognitivos possuam mais chances para se apropriar do conhecimento científico ou produzi-lo. Na opinião de Jantsch (1995, p. 136), “[...] insistir no senso comum [isto é, conformar-se com ele] não é favor algum, nem a indivíduos, nem à camada popular (classe) – pelo contrário, é condená-los de vez à situação de inferioridade no jogo das relações econômicas e sociais.” Daí a importância de investir na luta política contra a apropriação particularizada da ciência e em busca da democratização do saber, bem como da universalização da ciência e da habilidade de fazê-la. INTERDISCIPLINARIDADE E PESQUISA A PARTIR DE TRÊS PERSPECTIVAS DE ANÁLISE DOS SABERES Pensar como se apresenta a questão da pesquisa e da interdisciplinaridade para cada vertente exige aventurar-se nas pistas deixadas no universo teórico de seus expoentes, muitos dos 12 Vale destacar ainda que ele se apresenta como resto ou resíduo de conhecimentos científicos ultrapassados. 13 Para favorecer o acesso dos componentes das classes populares ao conhecimento científico, é necessário captar o estágio lógico-processual do grupo em questão, as características do seu senso comum e o conteúdo que os sustenta. 46 quais não se propuseram a uma reflexão específica sobre a temática interdisciplinar, apesar de trazerem esse tema subjacente em seus debates. Uma das vertentes que efetivamente se ocupou da temática foi a perspectiva marxista gramsciana, cujos autores vêm produzindo um conjunto de conhecimentos acerca da temática da interdisciplinaridade. À exceção dessa perspectiva, cujos contributos podem ser melhor explorados, o desafio consiste em buscar um conjunto de hipóteses norteadoras, por meio das quais se possa formar uma conexão coerente do significado desses conceitos para cada linhade pensamento. Para a primeira perspectiva, pensar numa interdisciplina- ridade entre os conhecimentos científico e popular seria bastante problemático e difícil, haja vista o desenvolvimento e a complexifi- cação experimentada pela ciência nos últimos anos. Nessa vertente, seria possível estabelecer uma comunicação que, para muitos auto- res, não é sinal de efetiva interdisciplinaridade, embora constitua um ponto de partida importante e necessário (KLEIN, 1990). Essa comunicação dar-se-ia a partir dos conteúdos do conhecimento popular e não da integração das formas de conhecer de ambos os tipos de saberes. Isso significa que os conteúdos do conhecimento popular poderiam servir de base a uma pesquisa, contribuindo no estabelecimento de hipóteses investigativas, no rol de informações que podem integrar a coleta de dados e na realização de testes em- píricos. Um exemplo nesse sentido parece ser o chá de espinheira santa (Maytenus ilicifolia), reconhecido por propriedades curativas e medicinais e utilizado durante anos para essa finalidade apenas com base no saber popular14. (ALMEIDA et al., 2015) Trata-se do estabelecimento do diálogo, da comunicação e da troca a partir dos conteúdos, mas não do modo de conhecer. É esse modo de conhecer que, para Bunge (1980), distingue a 14 Há estudos científicos que apontam para a eficácia da espinheira-santa no que diz respeito à prevenção e o tratamento de problemas gástricos. Ver Baggio (2007 apud ALMEIDA et al., 2015). Sobre os diálogos e as trocas entre o saber científico e o popular a respeito de plantas medicinais, vale consultar o artigo de Bittencourt, Caponi e Falkenberg (2002). 47 ciência de outras formas de saberes e a caracteriza pelo emprego de uma estratégia geral de pesquisa. Ou seja, não é que haja um método único, tendo em vista a diversidade de áreas e campos disciplinares, mas que se identifica um procedimento geral para o conhecer científico, normalmente caracterizado pela formulação de hipóteses, construção do problema de pesquisa, definição das alternativas metodológicas, testes e revisões. Essa estratégia não suprimiria a necessidade de criatividade e inovação, fundamentais a todo processo de pesquisa. Nessa linha, a interdisciplinaridade é uma demanda inerente ao objeto de estudo e que não se justifica pela necessidade de mudanças na realidade. Esse seria um objetivo secundário, já que o objetivo central seria o compromisso com o avanço do saber, em se tratando de ciência básica. A construção de um senso comum desenvolvido ou melhorado seria decorrência natural do investimento em pesquisa de um país, cujos resultados são apropriados e socializados entre a população. Consequência que, para o autor dessa vertente, dependeria do investimento em pesquisa e em políticas públicas de educação, ou, nos seus termos, “planejamento de larga escala”, campo tecnológico de alta complexidade, cujos problemas exigem uma abordagem interdisciplinar entre especialistas de diversas áreas. O autor cita o exemplo das políticas de combate e prevenção ao uso abusivo de drogas (BUNGE, 1985). Ocorre que, para esse pensador, aos campos de saber tecnológicos, que têm, na sua justificação de existência, a necessidade de resolver problemas práticos, se coloca de uma forma mais incisiva a necessidade de interdisciplinaridade, inclusive entre outras formas de saberes, já que o tecnólogo está mais próximo dos problemas práticos e, para tanto, podem-se procurar fontes diversificadas de saber para tentar resolvê-los. São esses campos tecnológicos que têm correspondência mais direta com as demandas da população, pondo em cena novos modos de pesquisa, cujo caráter interdisciplinar e socialmente comprometido destaca-se. Entretanto, no que diz respeito à ciência básica, o autor reconhece que o conhecimento 48 científico chegou a uma grau de desenvolvimento e complexidade, via especialização, que o diálogo e a comunicação se tornariam difíceis (mas não impossíveis) para áreas e disciplinas, mesmo que vizinhas, em face do grau de abstração e de complexidade de seus conceitos e objetos. Assim, a interdisciplinaridade coloca-se como um conceito referente aos desafios da ciência e do avanço das pesquisas dos próprios cientistas quando estes percebem que é possível tomar de empréstimo metodologias, ampliar teorias, descobrir novos campos de conhecimento nas áreas fronteiriças, sem perder de vista a coerência, o rigor teórico, a objetividade dos processos e produtos do pensamento, entre outras possibilidades que envolvem o aumento da consistência de assuntos e métodos. O próprio autor comprova isso, por meio de seu percurso acadêmico e formativo, pois é físico e filósofo, um erudito das ciências de forma geral, tendo escrito sobre diversos temas, desde física às ciências humanas e sociais. Assim, a primeira perspectiva contribui para salvaguardar a especificidade de cada campo do saber, reforçando o caráter profissionalizado da atividade científica, comprometida com a produção de saber e a formulação de teorias e os valores subjacentes a essa prática, como a dúvida, por exemplo, que se expressa no ato de submeter o conhecimento a contínuo exame e revisão. Por mais que o sujeito que detém o conhecimento vulgar também possa ser reflexivo e questionador, esse tipo de saber, pela sua própria processualidade, não se caracteriza pelo comprometimento com um construto teórico, além de apresentar-se carente de sistematização e método. A segunda vertente faria o diálogo e o intercâmbio entre os saberes científico e popular não se importando com as diferenças entre sujeito e objeto do conhecimento. Uma pesquisa interdisciplinar nesses moldes mais se parece com a modalidade de pesquisa-ação, na qual a construção do conhecimento acompanha o processo de intervenção na realidade investigada. Embora, em última instância, o nível de conhecimento do cientista pesquisador jogue um papel crucial na tomada de decisão e na coordenação do 49 processo de pesquisa, a forma de conhecer e elaborar a pesquisa estaria enriquecida com os afetos, a comunicação, a vivência e a mobilização dos sujeitos em direção a uma finalidade social. A pesquisa de inspiração interdisciplinar consistiria em um empreendimento não apenas investigativo, mas também educativo para a formação de novas racionalidades, do respeito às diferenças e do reconhecimento do saber dos diferentes povos e indivíduos. O pesquisador cientista entraria mais como um coordenador dos saberes, favorecendo a troca entre eles e a garantia de uma unidade e síntese abrangentes. O ponto problemático da perspectiva transformadora é a diluição das peculiaridades de cada saber, resultando num relativismo, aspecto complicado, uma vez que, mesmo ao falar em interdisciplinaridade, a disciplina continua posta. Se são os juízos de valor que determinam a preferência pela ciência, como explica Santos (1989), não são quaisquer valores que fazem dela uma atividade diferente de outras. Para Cupani (2006), são valores específicos, como a racionalidade (coerência), a verdade e o respeito aos fatos, aos ideais, que conformam a peculiaridade da atitude científica, isto é, aquilo que o bom cientista persegue no seu fazer cotidiano. Esse autor distingue a atitude científica da pesquisa científica, uma vez que esta nem sempre está à altura do ideal esboçado pela atitude científica, podendo ser mais ou menos correta, eficiente, útil ou honesta. Mas antes que qualquer falha na pesquisa científica conduza ao relativismo, os ideais ou a confiança nos valores da atitude científica pressupõem que se busque um conhecimento cada vez mais rico, seguro e correto. A perspectiva transformadora é tributária de uma época na qual a confiança na ciência clássica, isto é, nos avanços do conhecimento, não acompanhou os desenvolvimentos esperados em termos humanos e sociais. Nessa direção, antes que se produzisse uma desconfiança frente à forma de produzir um saberque aspira ser verdadeiro, seguro e honesto, os defensores da terceira vertente esclarecem que os limites estão postos pela disputa entre as classes sociais em torno da apropriação da ciência e 50 da tecnologia. Ou seja, os conflitos colocam-se porque a burguesia se apropriou privadamente da alta ciência e da tecnologia ao invés de democratizar suas conquistas. Daí a interdisciplinaridade como uma necessidade, mas também, e sobretudo, como um problema e desafio para a pesquisa. Ao contrário das características positivas do saber popular levantadas por Santos (2007), os expoentes da terceira vertente te- riam muitos exemplos de atrasos sociais e políticos provocados por esse conhecimento quando assume um caráter dogmático, imedia- tista e fragmentário. Isso não quer dizer que tais autores não ve- jam possibilidades fecundas nesse conhecimento. Certamente, uma abordagem de ciência e tecnologia de alto nível e comprometida com valores sociais e humanos transformadores dependeria da ela- boração cognitiva das camadas populares. Em outros termos, a pes- quisa interdisciplinar não seria uma escolha individual descolada da realidade, mas uma possibilidade que depende das condições con- cretas, de ordem econômica, política e cultural, sob as quais as clas- ses travam suas lutas sociais (JANTSCH; BIANCHETTI, 2011). No contexto da terceira vertente, portanto, a realização de empreendimentos de interdisciplinaridade protagonizados pelas classes sociais subalternas não dependem somente dos desafios de ordem teórica, epistemológica e conceitual, antes disso, precisam extrapolar esse campo para efetivamente terem condições de realizar-se. A necessidade de promover o acesso dos componentes das classes populares aos processos e produtos do conhecimento científico e tecnológico é, em verdade, uma estratégia para combater a desigualdade, que se coloca num plano social e não apenas no plano dos saberes, como defendem os autores vinculados à segunda perspectiva. Trata-se do entendimento de que a ciência e a tecnologia se tornaram elementos valiosos na disputa pela hegemonia, sendo apropriados pelas classes dominantes. A preocupação central seria a de promover o acesso e o protagonismo dos segmentos subalternos no que diz respeito aos processos de apropriação, construção e usufruto dos produtos do conhecimento científico-tecnológico. 51 Ademais, são as necessidades postas pela realidade que impõem ao pesquisador a condução da pesquisa interdisciplinar. Nos termos de Etges (2011), a interdisciplinaridade é um conceito dos cientistas; ela é o princípio da exploração máxima das potencialidades de cada ciência. Valorizar o saber popular e trazê-lo para um processo de pesquisa interdisciplinar não significaria abdicar das disciplinas que conformam o próprio termo interdisciplinaridade – assim como as outras ‘disciplinaridades’, mas conjugar esses saberes de acordo com a complexidade determinada pelo próprio objeto de pesquisa (PIAGET, 1973). Entretanto, para a primeira e para a terceira perspectivas, parece de comum acordo que a ciência não pode integrar-se simplesmente ao conhecimento comum − tarefa impossível ou mesmo utópica15 − sob o risco de descaracterizar-se. É possível que possuidores desses diferentes conhecimentos dialoguem e troquem saberes (a exemplo das pesquisas científicas iniciadas a partir do saber popular que acredita na influência da Lua no desenvolvimento da agricultura16), mas não ao ponto de se confundirem numa totalidade heterogênea e eclética. Como nos diz Klein (1996), a interdisciplinaridade é o resgate do horizonte de unidade e síntese, mas evocar o saber popular para garantir a efetividade do princípio da totalidade é cair em uma totalidade abstrata e vazia, que não significa a procura por tudo e nem pelo princípio fundador de tudo. A totalidade não é mera junção eclética de partes desconexas, mas sim o resgate das múltiplas dimensões e mediações constitutivas de um objeto de pesquisa delimitado (FRIGOTTO, 2011). É por isso que Jantsch (1996) nos fala em totalidade epistêmica, como um limite dos processos de conhecimento, pois nosso objeto de pesquisa é um recorte da totalidade histórico-social, que tentamos compreender e nos aproximar em face de seu caráter complexo e dinâmico. 15 Ainda que a utopia seja válida como horizonte para guiar as ações humanas. Sobre a utopia vale consultar a obra organizada por Bianchetti e Thiesen (2014). 16 Vide revisão de literatura realizada por Jovchelevich (2006). 52 Assim, em vez de uma mistura eclética em nome da totalidade dos saberes ou de uma hierarquização do conhecimento científico e do popular como inferior-superior, parece mais adequado considerar as particularidades e as diferenças existentes entre eles em vista das demandas da pesquisa e da interdisciplinaridade. Por fim, cabe ressaltar que, seja pela vontade dos professores, dos pesquisadores de qualquer tendência, ou a despeito delas, os alunos – de todos os níveis, nos dias atuais e com a mediação dos diferentes aparatos tecnológicos – estão fazendo pesquisa interdisciplinar, uma vez que buscam novas informações, desconhecendo possíveis fronteiras entre os campos do saber. Aos docentes, impõe-se o incontornável desafio de fazer com que o estoque/acúmulo de informações amealhadas pelos discentes seja trabalhada na perspectiva da construção do conhecimento e de sua aplicação, tendo no horizonte os compromissos históricos e ético-políticos. Nesse sentido, velhas certezas e posturas na relação professor-aluno precisam ser revisitadas e ressignificadas, particularmente evitando, por parte daqueles, as concepções de ensino do que se sabe (como saber um dia construído e cristalizado), abrindo-se para a aprendizagem, que resulta do ensino e da pesquisa. Mas isso é assunto para outro texto. Queremos, contudo, concluir com uma frase que está na obra A aula, de Roland Barthes (1979, p. 47), quando este, próximo aos 70 anos, faz sua estreia na École de France, afirmando que: “Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não se sabe”. E conclui: “isso se chama pesquisar!”. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Caio et al. Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reiss.): saber de erveiros e feirantes em Pelotas (RS). Revista brasileira de plantas medicinais, Botucatu, v. 17, n. 4, p. 722-729, 2015. 53 Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1516-05722015000500722&lng=en&nrm=i so>. Acesso em: 17 maio 2016. BACHELARD, Gaston. Conhecimento comum e conhecimento científico. Tempo Brasileiro, São Paulo, n. 28, p. 47-56, jan./mar. 1972. BARTHES, Roland. A aula. São Paulo: Cultrix, 1979. BIANCHETTI, Lucídio; THIESEN, Juares da Silva (Orgs.). Utopias e distopias na Modernidade: educadores em diálogo com T. Morus, F. Bacon, J. Bentham, A. Huxley e G. Orwell. Ijuí: Unijuí, 2014. BITTENCOURT, Sílvia Cardoso; CAPONI, Sandra; FALKENBERG, Miriam de Barcellos. O uso das plantas medicinais sob prescrição médica: pontos de diálogo e controvérsias com o uso popular. Revista brasileira de farmacognosia, Maringá, v. 12, supl. 1, p. 89-91, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0102-695X2002000300044&lng =en&nrm=iso>. Acesso em: 17 maio 2016. BUNGE, Mario. La investigación científica: su estrategia y su filosofia. 7. ed. Barcelona: Ariel, 1980. ______. Treatise on basic philosophy. Dordrecht: Reidel, 1985. CUPANI, Alberto Oscar. Sobre a importância de certos valores na ciência. In: STEIN, Sofia; KUIAVA, Evaldo (Org.). Linguagem, ciência e valores: sobre as representações humanas no mundo. Caxias do Sul: Educs, 2006, p. 73-84. ETGES, Norberto J. Ciência, interdisciplinaridade e educação. In: JANTSCH, Ari Paulo; BIANCHETTI, Lucídio (Orgs.). 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