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Interdisciplinaridade perspectivas e desafios

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INTER
DISCI
PLINA
RIDADE
PERSPECTIVAS E DESAFIOS
Conselho Editorial da UNICENTRO
Marcos Ventura Faria
Elaine Maria dos Santos
Karina Worm Beckmann
Denise Gabriel Witzel
Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira
Marcos Roberto Kühl
Josiane Lopes
Luiz Gilberto Bertotti
Marcos Antonio Quináia
Poliana Fabíula Cardozo
Kátia Cylene Lombardi
Gilmar de Carvalho Cruz
Eduardo Alexandre Santos de Oliveira
Clayton Luiz da Silva
Ruth Rieth Leonhardt
João Francisco Morozini
Oséias de Oliveira
Maria Cleci Venturini
Sidnei Osmar Jadoski
Marciano Adilio Spica
Luciene Regina Leineker
Editora UNICENTRO
Rua Salvatore Renna, 875, Santa Cruz
85015-430 - Guarapuava - PR
Fone: (42) 3621-1019
editora@unicentro.br
www.unicentro.br/editora
INTER
DISCI
PLINA
RIDADE
Fábio André Hahn
Frank Antonio Mezzomo
Cristina Satiê de Oliveira Pátaro
(Org.)
PERSPECTIVAS E DESAFIOS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE 
Copyright © 2020 Editora UNICENTRO
Nota: O conteúdo desta obra é de exclusiva responsabilidade de seus autores.
Editora UNICENTRO
Direção: Denise Gabriel Witzel
Divisão de Editoração: Renata Daletese
Assessoria Técnica: Beatriz Anselmo Olinto, Suelem Andressa de 
Oliveira Lopes
Correção: Dalila Oliva de Lima Oliveira
Diagramação: Renata Daletese
Capa: Valmir Dzielevski Junior
Diagramadores: Luis Marcelo Moreira Rodrigues, Valmir Dzielevski 
Junior, Vanessa Cristina Lima 
Reitor: Fábio Hernandez
Vice-Reitor: Ademir Juracy Fanfa Ribas
 
Catalogação na Publicação 
Biblioteca da UNICENTRO, Campus CEDETEG 
Fabiano de Queiroz Jucá (CRB 9/1249) 
 
 
 
I61 INTERDISCIPLINARIDADE: perspectivas e desafios / Organizado por 
Fábio André Hahn, Frank Antonio Mezzomo, Cristina Satiê de Oliveira Pátaro. 
- - Guarapuava: Ed. Unicentro, 2020. 
 302 p. : il. 
 
 ISBN 978-65-5597-002-9 
 
 Bibliografia 
 
 1. Interdisciplinaridade. 2. Conhecimento. I. Título. 
 
 CDD 001 
 
 
Agradecemos o apoio de órgãos 
de pesquisa e de fomento à 
investigação, em particular à 
Universidade Estadual do Paraná, 
Campus de Campo Mourão, 
que viabilizou a produção do 
presente livro. A definição de 
políticas públicas voltadas para 
o fortalecimento da ciência e da 
tecnologia, mesmo em tempos 
de crises, é um alento para todos 
que acreditam no potencial 
civilizatório da humanidade.
apresentação
parte 1
interdisciplinaridade e questões epistemológicas
capítulo 121 Interdisciplinaridade e pesquisa a partir de três perspectivas de 
produção dos saberes:
o conhecimento científico e o popular
11
Fernanda Nunes da Rosa Mangini 
Lucídio Bianchetti
capítulo 2 57Ciência ou método interdisciplinar, 
nos meandros de uma definição
José Carlos dos Santos
capítulo 385 A interdisciplinaridade na produção 
historiográfica
Ricardo Marques de Mello
capítulo 4 107Transdisciplinaridade: uma 
necessidade ético-política João Alcione S. Figueiredo
Simone Loureiro Brum Imperatore
Valdir Pedde
parte 2
Interdisciplinaridade e diferentes experiências
capítulo 5135 Além das fronteiras da própria disciplina: Durkheim e a origem da 
sociologia francesa
dário Paulo Barrera Rivera
capítulo 6 157
O Estado da Arte da 
Interdisciplinaridade no Brasil: o 
construto epistemológico de Ivani 
Fazenda na Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo
Ivani Catarina Arantes Fazenda
Fausto Rogério Gentile
capítulo 7167 Estratégia de projetos, interdisciplinaridade e formação 
humana na escolaUlisses Ferreira de Araújo
Ricardo Fernandes Pátaro
capítulo 8 193A perspectiva interdisciplinar e suas 
contribuições para o debate sobre 
juventudes e religião Ada Otoni Ferreira Fontanella
Cristina Satiê de Oliveira Pátaro
Frank Antonio Mezzomo
capítulo 9231 Sociologia Política, História Social e Psicanálise: um diálogo 
interdisciplinar a partir de Casa 
Grande & SenzalaMárcia Barros Ferreira Rodrigues
capítulo 10 263O desafio da interdisciplinaridade: possibilidades de leitura para um 
jovem pesquisador Fábio André Hahn
sobre os
 autores293
APRE
SEN
TAÇÃO
A proposta da organização desta coletânea, com foco na 
interdisciplinaridade, surgiu a partir de uma demanda verificada 
em sala de aula em uma atividade realizada junto aos estudantes 
do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar Sociedade e 
Desenvolvimento da Universidade Estadual do Paraná – Unespar.
Três questões foram constatadas que fundamentam a 
demanda verificada.
A primeira é a demanda por textos qualificados que 
discutam a problemática da interdisciplinaridade e que possam 
ser aproveitados para os debates nos Programas de Pós-Graduação 
interdisciplinar. O reduzido número de publicações em formato de 
livros e coletâneas tem chamado a atenção já há algum tempo. A 
hipótese principal para essa redução poderia ser atribuída à gradual 
mudança e migração de disseminação das pesquisas, passando 
de livros para periódicos científicos eletrônicos, tendo em vista o 
atual impacto de abrangência impulsionada pelo acesso aos meios 
de comunicação marcados pelos suportes da tecnologia digital e, 
evidentemente, pela redução de custos na transição do impresso ao 
eletrônico, mais frequente e já consolidado em revistas, mas ainda 
muito incipiente em livros. Entretanto, essa hipótese também não 
parece se manter estável, tendo em vista o fato de se constatar 
um bom número de publicações sobre interdisciplinaridade em 
periódicos, embora pouco representativo se comparado com áreas 
disciplinares ou mesmo com a publicação de livros. A disseminação 
de debates epistemológicos e pesquisas empíricas interdisciplinares 
em periódicos científicos ainda são tímidas no contexto brasileiro. 
O mesmo, apesar de revelar uma fragilidade acentuada, pode ser 
constatado em teses e dissertações produzidas nos programas de pós-
graduação vinculados a essa área. Nessas pesquisas, é perceptível 
que a interdisciplinaridade, muitas vezes, passa ao lado de uma 
reflexão aprofundada e fundamentada, reveladora de um debate 
ainda pouco caloroso com que tem sido conduzido.
A segunda demanda é claramente editorial e ligada aos 
argumentos já expostos anteriormente, apesar da maior amplitude 
e menos restritiva aos programas de pós-graduação da área inter-
14
disciplinar. É facilmente identificável em pesquisas “disciplinares”, 
o recurso recorrente à interdisciplinaridade na condução e/ou fun-
damentação conceitual, resultando em maior consistência e inova-
ção dentro dos círculos de debate em que as pesquisas são condu-
zidas. O baixo impacto editorial dos debates e estudos específicos 
sobre a interdisciplinaridade é facilmente identificável, bastando um 
rápido acesso a qualquer buscador de livros na internet que ficará 
evidente de que já se passaram mais de três décadas da publicação 
de “Interdisciplinaridade e patologia do saber” (1976) de Hilton 
Japiassu, obra que inaugurou o debate mais específico sobre interdis-
ciplinaridade no Brasil, que ela ainda é uma das principais referên-
cias. A timidez da produção editorial específica nessa área é espanto-
sa, distante da gigante demanda já revelada.
A terceira demanda diz respeito ao número de Programas 
de Pós-Graduação interdisciplinar no Brasil, já fundamentada pe-
los apontamentos anteriormente mencionados. Conforme dados 
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
(Capes), após a criação do comitê multidisciplinar em 1999, houve 
um crescimento exponencial do número de programas, constituído 
por 360 cursos, a maior área na Capes. Grosso modo, isso repre-
senta o ingresso de aproximadamente 5.400 estudantes todos os 
anos, considerando uma média de 15 estudantes por turma, o que 
é bastante razoável. Apesar do número expressivo de teses e disser-
tações oriundas desses programas, a ausência de um debate mais 
consiste é revelador da urgência do investimento em uma produção 
qualificada e de um olhar mais atento para a área.
Externalizado o que se apresenta como demanda, o obje-
tivo dessa coletânea é impulsionar o debate sobre ainterdisciplina-
ridade. A dificuldade na sua definição tem assustado em certa me-
dida os pesquisadores e estudantes da área. Assim como qualquer 
campo de investigação, a abordagem interdisciplinar tem suas difi-
culdades e limitações e mostra-se, ainda, um campo em construção.
A coletânea ora apresentada foi dividida em duas etapas. 
A primeira Interdisciplinaridade e questões epistemológicas e a segunda 
Interdisciplinaridade e diferentes experiências.
15
A primeira parte é constituída de cinco capítulos. O pri-
meiro capítulo intitulado Interdisciplinaridade e pesquisa a partir de três 
perspectivas de produção dos saberes: o conhecimento científico e o popular, de 
Fernanda Mangini e Lucídio Bianchetti, em que analisam os con-
ceitos de saber popular e científico a partir de uma revisão biblio-
gráfica, sistematizando as principais vertentes (perspectiva clássica; 
perspectiva transformadora; perspectiva marxista gramsciana) e que 
tratam das relações entre esses conhecimentos, pontuando a questão 
da pesquisa e da interdisciplinaridade. O segundo capítulo, Ciência 
ou método interdisciplinar, nos meandros de uma definição, de José Carlos 
dos Santos, procura discutir a questão da produção do conhecimento 
acadêmico, aspectos metodológicos e de recepção social, problema-
tizando a interdisciplinaridade a partir das políticas da Capes e do 
CNPq, que impactaram o crescimento da área. Já Ricardo Mello, 
no capítulo intitulado A interdisciplinaridade na produção historiográfi-
ca, coloca em questão a interdisciplinaridade no campo da História.
Apesar de sua presença sempre ressaltada, pouco são os estudos que 
se ocupam em identificá-la especificamente no trabalho dos historia-
dores. Para tratar da questão, Mello divide sua argumentação em seis 
considerações, identificadas ao longo do século XX e embasadas por 
referências bibliográficas e por pesquisas realizadas sobre as tendên-
cias historiográficas na Revista Brasileira de História, no período de 
1981 a 2000.
Já no quarto capítulo, os autores João Alcione Figueiredo, 
Simone Loureiro Brum Imperatore e Valdir Pedde convidam o 
leitor para revisitar alguns clássicos das ciências sociais em diálogo 
com pensadores contemporâneos, e problematizar a importância 
em superar o paradigma moderno da produção de conhecimento, 
chamando a atenção para o papel que a transdisciplinaridade 
pode trazer em um mundo marcado pela fluidez e complexidade. 
Nesse sentido, para além do papel centrado no protagonismo 
exclusivista do sujeito/pesquisador x objeto/pesquisado, o olhar 
para e da sociedade pode ser determinante para pensar a ciência 
em uma perspectiva ética e política. Por fim, no último capítulo 
dessa primeira parte do livro, Paulo Barrera faz uma instigante 
16
retomada de diversos escritos de Durkheim – alguns conhecidos 
e outros pouco explorados –, que, juntamente com sua equipe 
de pesquisa, e depois daqueles que se filiam à sua perspectiva 
teórica, deixou patente a necessidade do diálogo interdisciplinar 
para a constituição da Sociologia. No entendimento do autor, há 
elementos para afirmar que a Sociologia francesa, constituída por 
Durkheim entre fins do XIX e XX, traz a marca do chamamento 
do “além das fronteiras” como propulsora e fundante da ciência que 
então nascia.
A segunda parte é constituída por cinco capítulos que tratam 
de diferentes experiências de pesquisa na área interdisciplinar. No 
primeiro texto, de Ivani Fazenda e Fausto Gentile, é apresentada 
a contribuição das pesquisas sobre interdisciplinaridade, realizadas 
na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), sob 
liderança da professora Ivani Fazenda, referendando fenômenos, 
construções e processos capazes de possibilitar a geração de 
experiências inovadoras na Educação, tanto no sentido teórico quanto 
praxiológico do Currículo e da Didática. No capítulo intitulado 
Estratégia de projetos, interdisciplinaridade e formação humana na escola, 
Ulisses Araújo e Ricardo Pátaro apresentam a possibilidade da 
“estratégia de projetos” como uma prática interdisciplinar capaz de 
contemplar um ensino escolar que vise, ao mesmo tempo, a instrução 
nos conteúdos escolares e uma formação ética que fundamente 
o exercício da cidadania para a transformação da realidade, com 
vistas a superar as injustiças e desigualdades que marcam a 
sociedade contemporânea. Em seu texto, os autores discutem as 
etapas implicadas na prática pedagógica em questão, apresentando 
ao mesmo tempo um exemplo de um projeto desenvolvido junto a 
uma turma dos anos iniciais do ensino fundamental, chamando a 
atenção para os princípios de interdisciplinaridade e complexidade 
nos quais se embasa a estratégia de projetos.
Com o texto A perspectiva interdisciplinar e suas contribui-
ções para o debate sobre juventudes e religião, Ada Fontanella, Cristina 
Pátaro e Frank Mezzomo fazem um movimento em duas direções. 
17
Primeiro, a partir de uma literatura que tematiza a complexidade 
e a interdisciplinaridade, procuram demonstrar a necessidade de 
operar noções de ciência e conhecimento para além dos balizamen-
tos da ciência moderna, a fim de apreender a dinamicidade da so-
ciedade contemporânea. Em seguida, com base em tais noções, os 
autores procuram refletir acerca das inter-relações entre juventude 
e religião, a fim de compreender as dinâmicas sociais que envol-
vem a juventude e a religião, ou as diferentes maneiras de o sujeito 
expressar e vivenciar a religião e suas crenças, em geral plurais e 
fluidas e nem sempre institucionalizadas.
No trabalho intitulado Sociologia Política, História Social 
e Psicanálise: um diálogo interdisciplinar a partir de Casa Grande & 
Senzala, Márcia Rodrigues procura analisar, como resultado de sua 
pesquisa de pós-doutorado, indícios de base psicanalítica a partir de 
uma interpretação interdisciplinar da obra Casa Grande & Senzala 
de Gilberto Freyre, estabelecendo uma relação entre ethos, pathos, 
violência, poder e subjetividade. O último capítulo da coletânea, 
intitulado O desafio da interdisciplinaridade: possibilidades de leitura 
para um jovem pesquisador, de Fábio Hahn, busca apresentar algumas 
reflexões sobre aspectos da interdisciplinaridade que possam cola-
borar com jovens pesquisadores em busca de seus primeiros passos 
de investigação na área interdisciplinar, assim como apresentar um 
balanço dos principais referenciais de leitura que permitirão uma 
compreensão mais clara da complexidade e da importância da área 
para a investigação científica.
Por todos os argumentos elencados anteriormente e por 
uma rápida menção aos textos que compõem esta coletânea, fica 
evidenciada a necessidade da intensificação do debate acadêmico, 
o que essa coletânea procura estimular de forma mais acentuada 
com textos reflexivos. Esperamos, portanto, que o leitor possa 
usufruir das pesquisas, dos debates e das provocações que marcam 
a presente coletânea.
Desejamos uma boa leitura!
Organizadores
PARTE 1
INTER
DISCI
PLI
NARI
DADE E QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS
INTER
DISCI
PLI
NARI
DADE
E PESQUISA A PARTIR DE TRÊS 
PERSPECTIVAS DE PRODUÇÃO 
DOS SABERES: O CONHECIMENTO 
CIENTÍFICO E O POPULAR
Fernanda Nunes da Rosa Mangini
Lucídio Bianchetti
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Em termos de mundo ocidental-judaico-cristão, desde os 
seus primórdios, o saber era unitário, constituindo a Cosmologia1. 
Em seguida, foi passando por um processo de sistematização de 
ciências, como a Filosofia (séc. V a.C.), por exemplo, com seus 
conteúdos e métodos próprios. O filósofo era detentor de todos os 
saberes existentes, desde os mais incipientes até os mais profundos, 
de acordo com os tempos históricos que vão da Grécia Antiga 
até o final da Idade Média. Com o advento do Capitalismo (séc. 
XVI), o desenvolvimento das forças produtivas impulsiona o 
crescimento, a multiplicação e a divisão dos campos do saber, das 
ciências e de suas aplicações, originando a tecnologia como campo 
de saber e intervenção na realidade. Se entre os séculosXVI e 
XVIII tem-se o desenvolvimento da Astronomia, da Física, da 
Química e da Biologia, no século XIX, evidencia-se uma explosão 
de novas ciências, como a Biologia, a Psicologia, a Antropologia 
e a Sociologia. Temos assim, sinteticamente, a passagem do saber 
unitário ao fragmentado. Já, no decorrer do século XX, notamos 
um lento caminhar em direção a movimentos de resgate de uma 
unidade perdida, porém em patamar qualitativo diferente e por 
motivos diversos. São exemplos os movimentos estudantis dos anos 
de 1968, contrários à fragmentação do ensino e das disciplinas, bem 
como da perda da perspectiva de totalidade. São também evidências 
disto, inclusive, nomenclaturas de cursos universitários que, até há 
pouco, apareciam isoladamente e, agora, vêm aglutinados, como é 
o caso, entre tantos outros, dos cursos de Bioquímica, Engenharia 
Mecatrônica etc.
Paralelamente a outros movimentos, o crescimento 
e a expansão das ciências, em determinada direção, foram 
1 Este texto é uma versão ampliada e modificada do artigo Três perspectivas 
de análise dos saberes: multidisciplinaridade e interdisciplinaridade, publicada 
originalmente na Revista Educação em Questão (v. 50, n. 36, p. 73-98, 
2014). Ficam aqui registrados nossos agradecimentos aos editores da 
Revista pela liberação do artigo para compor esta coletânea.
24
uma necessidade e tornaram-se funcionais ao capitalismo, por 
oferecerem um conjunto de especialistas necessários aos processos 
produtivos, em termos de quantidade e variedade. Os efeitos da 
acelerada especialização, de vantagens inegáveis para a produção e 
produtividade, tornaram-se nefastos ao pensarmos nas proporções 
em que se chegou a dividir a concepção e a execução do trabalho e 
suas repercussões sobre os trabalhadores como seres humanos, na sua 
integralidade. O modelo de produção taylorista-fordista foi um dos 
exemplos mais emblemáticos, ao fragmentar tempos e movimentos 
dos trabalhadores na linha de produção, influenciando, por 
decorrência, a forma de organização (curricular) e o funcionamento 
da escola e da Universidade, que passaram a incorporar e formar 
especialistas para atender as demandas do mercado.
Nesse contexto, foi com o progressivo desenvolvimento da 
ciência que se consolidam as divisões entre os campos de conheci-
mento, as disciplinas e os distintos tipos de saberes, como o popular, 
o científico, o religioso, o senso comum, entre outros. Em outras 
palavras, à medida que a ciência progrediu e foi se consolidando 
como campo de conhecimento, foi se produzindo um discurso que 
visava distingui-la dos outros tipos de saber, especialmente no que 
diz respeito à sua forma de produção do conhecimento. Com a ex-
cessiva fragmentação da ciência e a perda da referência de unidade 
entre os saberes, em meados do século XX, surge o conceito de in-
terdisciplinaridade, que interpela em novas bases o debate das rela-
ções entre as disciplinas e os diferentes tipos de saberes. Tal debate 
surge em um cenário de crise do capitalismo, que passa a reorgani-
zar-se em um modelo de acumulação flexível, pautado pela ideia de 
integração dos blocos econômico-financeiros, flexibilidade e inter-
disciplinaridade nos processos de trabalho, demandando uma for-
mação e atuação que buscava superar o especialismo. É nesta am-
biência que a Organização de Cooperação para o Desenvolvimento 
Econômico (OCDE), na década de 1960, convoca intelectuais do 
porte de Georges Gusdorf (1912-2000), Jean Piaget (1896-1980), 
Eric Jantsch (1929-1980) entre outros, para explicarem o des-
compasso entre o mundo da educação e o da produção. Foi desse 
25
Congresso, realizado em Nice, na França, que se sistematizaram 
as diversas “disciplinaridades”: multi, pluri, inter e transdiscipli-
naridade, como formas de organizar, transmitir e aplicar os conhe-
cimentos, com repercussões na escola-universidade e no mundo 
da produção (MUELLER; BIANCHETTI; JANTSCH, 2008)2.
Mas o cenário não era mais aquele de ‘pleno’ emprego, 
acompanhado da produção e consumo de massa promovidos 
pelo taylorismo-fordismo e, de modo complementar, reforçado 
pela perspectiva Keynesiana, cujo ideário teve influência sobre a 
construção do Estado de bem-estar social, que ajudou a conformar os 
‘anos de ouro do capitalismo’. Nesse momento, o ‘solo’ histórico no 
qual a palavra de ordem era a interdisciplinaridade caracterizava-se 
pelo acirramento do desemprego e da competividade entre capitais 
e entre os próprios trabalhadores. Os Organismos Multilaterais 
como a OCDE cumpriram um papel importante de divulgação 
da interdisciplinaridade como possibilidade de incremento das 
habilidades e competências dos trabalhadores e de diversificação 
das trajetórias e percursos acadêmicos e formativos frente a um 
mercado de trabalho inchado, mas ávido por mudanças em termos 
de inovação e diversidade. O relatório Delors intitulado “Educação: 
um tesouro a descobrir” é um exemplo da visão de que a saída 
para o desemprego poderia ser encontrada via diversificação das 
trajetórias de aprendizagem, mediante uma omnidisciplinaridade, 
isto é, uma radicalização (omni significa total) ou extrapolação da 
interdisciplinaridade (MANGINI; BIANCHETTI, 2013).
É nesse contexto que se inserem as novas demandas edu-
cacionais e produtivas, ganhando centralidade a interdisciplinari-
dade e a pesquisa. Observa-se aumento da consciência social acerca 
do poder e do alcance da atividade científica na vida das comu-
nidades, no contexto local, regional e até supranacional. Ocorre 
2 Uma versão desse texto foi republicada na 9ª edição da coletânea de Jantsch 
e Bianchetti (2011). O diferencial desta edição, em relação às anteriores, 
foi justamente a inserção daquele que foi um dos últimos artigos de cuja 
redação e discussão Ari Paulo Jantsch participou. A coletânea conta também 
com um breve Prefácio à 9ª edição, com algumas reflexões e informações a 
respeito da morte prematura do nosso colega Ari.
26
aproximação entre ciência e sociedade, que tem contribuído para o 
surgimento de novos modos de produção de conhecimento, supos-
tamente mais democráticos, por envolverem uma diversidade de 
atores e não se concentrarem necessariamente no espaço universi-
tário. Esse movimento ocorre devido à constatação de uma maior 
conscientização dos cientistas e dos tecnólogos no que diz respeito 
às consequências de seu trabalho, e, também, maior conscientiza-
ção das pessoas sobre as potencialidades positivas e destrutivas dos 
desenvolvimentos científico-tecnológicos para suas vidas. Tal movi-
mento tem favorecido o despertar do interesse público e do desejo 
de interferir na produção e no resultado das pesquisas, aumentando 
os pontos de contato entre o saber científico e o popular, e lançando 
a problemática e os desafios de se estabelecer em relações demo-
cráticas e plurais entre os detentores destes (GIBBONS, 1994).
Além disso, a temática da interdisciplinaridade, a 
partir das relações entre os diferentes tipos de saberes pautou 
os debates acadêmicos e universitários dos últimos anos, sendo 
uma problemática colocada por diversas vertentes de pesquisa, 
especialmente a de inspiração pós-moderna3. Nesse sentido é 
que se faz importante refletir sobre o tratamento desses saberes, 
especialmente as concepções de conhecimento científico e popular 
de acordo com o referencial e a vertente de sua fundamentação, 
que, por sua vez, têm implicações para os modos pelos quais se 
concebe e se gesta a pesquisa de inspiração interdisciplinar. Essa 
discussão assume maior relevância para os educadores, tanto 
do ponto de vista de um exame crítico dos seus saberes quanto 
da forma como dialogam e estabelecem intercâmbios com os 
saberes dos indivíduos e grupos para/com os quais trabalham e 
os saberes destes.
Por meio do presente texto, objetiva-se descrever e ana-
lisar os conceitos de saber popular e científico, a partir de uma 
revisão da bibliografia relacionada à temática, visando sistematizar 
3 Na perspectiva de contribuir com as denúnciasà pretensão de a ciência 
moderna ser apresentada como único e legítimo modo de conhecer, como 
verdade absoluta e sistema de saber fundado.
27
as principais vertentes de discussão que abordam as relações entre 
esses conhecimentos e analisar como, em cada vertente, se apre-
senta a questão da pesquisa e da interdisciplinaridade. Esse debate 
não é isento de problemas, a começar pela própria definição (e, 
muitas vezes, indefinição) dos conceitos de conhecimento científi-
co, conhecimento comum, senso comum, bom senso, entre outros. 
A abrangência dos conceitos de conhecimento comum e seus cor-
relatos (saber popular, senso comum) denota a importância de um 
tratamento mais analítico desses conceitos, observando as diferen-
ças entre eles, e o referencial ou a vertente de sua fundamentação.
O texto é estruturado em três vertentes, sendo a primeira, 
a perspectiva clássica, ilustrada por Mario Bunge, para quem o 
conhecimento científico é superior ao vulgar e não necessita deste 
último. A segunda, a perspectiva transformadora, é defendida por 
aqueles pensadores, como Boaventura Souza Santos e outros, que 
se sentem compromissados com uma transformação social radical. 
Trata-se de autores que questionam a supremacia do saber científico 
sobre o senso comum, por entenderem que, de algum modo, o saber 
científico deve combinar-se com o saber considerado não científico. 
E a terceira, a perspectiva marxista gramsciana, é representada, 
principalmente, pelo filósofo brasileiro Ari Paulo Jantsch que, 
mesmo focando sua análise no conhecimento popular, compreende 
que o senso comum é sempre um obstáculo a ser superado.
Antes de adentrar na discussão de cada vertente 
propriamente dita, considera-se necessário fazer algumas distinções. 
As expressões “conhecimento comum” ou “saber vulgar” são 
utilizadas pelos autores de todas as vertentes, que também empregam 
outras expressões, como “conhecimento ordinário”, “senso comum” 
e “conhecimento popular”. Por estarem presentes, de algum 
modo, em todos eles, optou-se por utilizar essas expressões como 
equivalentes ou sinônimos, embora se reconheça a importância da 
distinção. No dicionário, o termo vulgar é sinônimo de vulgo, ou 
seja, popular. Significa ainda aquilo que é comum, ordinário, trivial 
ou usual. Essa palavra, às vezes, comporta um sentido pejorativo, 
significando algo reles, ‘vulgar’, desprezível, baixo; outras vezes, 
28
é apreendido no sentido mais positivo, designando aquilo que é 
sabido e notório, disseminado e muito conhecido.
De maneira geral, não há consenso, entre aqueles que se 
dedicam ao seu estudo, quanto a um modo único de denominação do 
conhecimento comum, o qual é tratado, por vezes, como sinônimo de 
senso comum e de conhecimento popular. No caso dos principais autores 
de cada vertente: Bunge (1980) usa muito a expressão conhecimento 
ordinário, vulgar ou comum; Jantsch (1995), conhecimento popular 
e senso comum; já Santos (1989) trabalha mais com a noção de senso 
comum, embora também utilize a expressão saber vulgar.
Depreende-se que, às vezes, são confundidos os significados 
desses conceitos. Além desses, poderiam ser acrescentados outros, 
como o conceito de bom senso. Este último refere-se à capacidade 
de tomar boas decisões em circunstâncias problemáticas e difíceis, 
quando as regras e receitas do pensamento e das consideradas boas 
vivências parecem não funcionar. Aplica-se tanto ao conhecimento 
comum quanto ao conhecimento científico, possuindo um sentido 
positivo que indica racionalidade, ao contrário de “conhecimento 
vulgar” e de “senso comum” que, na literatura especializada, geral-
mente são apresentados como portadores de um sentido negativo 
e irracional.
O senso comum é frequentemente igualado ao 
conhecimento comum ou saber vulgar, mas pode ainda aludir ao que 
se considera sensato em uma determinada ordem de pensamentos. 
Já “conhecimento popular” é uma denominação que leva em 
conta o conhecimento comum, em vista de sua especificidade, por 
exemplo, o saber das rendeiras, dos analfabetos, dos trabalhadores 
em geral. Por fim, cabe um esclarecimento a respeito do referencial 
e do conceito de interdisciplinaridade utilizado para as análises. 
Estamos tomando a interdisciplinaridade a partir das análises 
da vertente marxista-gramsciana, que enfatiza a importância de 
refletir sobre esse conceito à luz das condições histórico-sociais 
de produção da existência e do conhecimento. Nessa perspectiva, 
a interdisciplinaridade é um princípio que se refere à busca da 
totalidade epistêmica do objeto de conhecimento e é também um 
29
conceito que diz respeito aos processos de comunicação, empréstimo 
(conceitos e metodologias), integração (de conteúdos, metodologias 
e até áreas e disciplinas) e criação de novos campos de investigação 
e domínios conhecimento.
A partir dessas noções gerais, examinam-se tais conceitos 
em suas vertentes correspondentes. Ao final, apontam-se possíveis 
limitações e contribuições das relações multi/interdisciplinares entre 
os saberes popular e científico, vistos sob o prisma de cada vertente. 
Busca-se compreender o significado da pesquisa interdisciplinar 
desde a simples comunicação até a efetiva troca e integração de 
conhecimentos, a partir das diferentes perspectivas. O resultado 
é que cada vertente propõe um modo peculiar de lidar com a 
particularidade dos saberes, sendo que umas priorizam aspectos 
metodológicos enquanto outras definem as finalidades da produção 
de conhecimentos como essenciais a uma construção interdisciplinar. 
Essa reflexão torna-se fundamental, particularmente, àqueles que 
atuam em cursos de pós-graduação e que assumem explicitamente 
a perspectiva da pesquisa interdisciplinar e da relação da pós-
graduação com os outros níveis de ensino e com o entorno local e 
regional da universidade.
A PERSPECTIVA CLÁSSICA
Representada, na nossa análise, por Mario Bunge, um 
dos mais influentes defensores da distinção entre conhecimento 
vulgar e especializado. Por essa perspectiva clássica, parte-se 
do reconhecimento da superioridade do saber científico sobre os 
conhecimentos vulgares e populares, visto que aquele tem um 
caráter metódico e sistemático que as outras modalidades não 
possuem. É, pois, um saber especializado cuja superioridade decorre 
não necessariamente do seu conteúdo, mas sim do seu modo de 
conhecer, estruturado por um procedimento lógico de investigação 
e por um objetivo de aumentar e aprimorar constantemente o 
30
conhecimento. Na visão do autor (1980, p. 19), trata-se do modo 
“[…] más reciente, [...] más universal y [...] más provechoso de 
todos los estilos”.
Bunge (1985) adverte que essa superioridade não 
significa perfeição, pois, se fosse assim, o saber científico já estaria 
extinto, uma vez que a sua própria lógica de justificação reside 
na existência de lacunas do saber, na possibilidade de indagar e 
aprimorar o conhecimento. Também adverte que o conhecimento 
vulgar pode estar mais à frente da ciência no que diz respeito ao 
conteúdo. Do seu ponto de vista, um fazendeiro pode estar mais 
apto a fazer previsões do tempo do que um meteorologista; um 
pedreiro pode corrigir os erros de um engenheiro e um poeta pode 
descrever os sentimentos e as emoções com mais profundidade 
do que um psicólogo. A diferença é que o modo de construir o 
conhecimento científico está pautado em critérios, como precisão, 
segurança e objetividade. Ainda que seja um conhecimento falível, 
seus criadores e disseminadores estão idealmente sempre dispostos 
a corrigirem-se a si mesmos.
O conhecimento vulgar, pelo contrário, não se consubs-
tancia com a objetividade (condução do saber de maneira impesso-
al), tampouco com a sistematização do saber em teorias, em enun-
ciados testáveis e sujeitos à revisão, como se procede na ativida-
de científica. Não obstante essas características do saber vulgar, 
Bunge (1985) parece ter uma visão bastante positiva dele, sobretu-
do quando vinculado ao bom senso, concebido pelo estudiosocomo 
um conhecimento que aspira à criticidade (adequação aos fatos) e à 
racionalidade (coerência). É possível aventar que, para a perspecti-
va clássica, é no bom senso que reside o ponto de equilíbrio entre o 
conhecimento vulgar, o senso comum e o conhecimento científico.
O conhecimento vulgar está presente desde o princípio na 
atividade científica, por meio da linguagem comum, que é empregada 
como ponto de partida em todos os campos do saber. O conhecimento 
vulgar também pode inspirar a construção de problemas científicos, 
ainda que em um nível bastante elementar, pois essa construção 
depende de um acúmulo de saber, e pode, igualmente, ser inspirada 
31
por outros conhecimentos científicos, novamente sujeitos à revisão e 
correção. Para Bunge (1980, p. 19-20),
[…] a medida que progresa, la investigación corrige o hasta 
rechaza porciones del acervo del conocimiento ordinario. Así 
se enriquece este último con los resultados de la ciencia: parte 
del sentido común de hoy día es resultado de la investigación 
científica de ayer: de hecho, la investigación científica empieza 
en el lugar mismo en que la experiencia y el conocimiento 
ordinarios dejan de resolver problemas o hasta de plantearlos. La 
ciencia no es una mera prolongación ni un simple afinamiento 
del conocimiento ordinario.
Se a ciência fosse um mero prolongamento do conhecimento 
comum, ela se reduziria a uma dimensão empírica, espaço privilegiado 
desse tipo de saber que tem, na vida cotidiana e na experiência 
privada, seu ponto de partida para conhecer. Mas, pelo contrário, a 
ciência encontra-se, muitas vezes, distante do conhecimento comum, 
pois trabalha com conceitos e objetos empiricamente não acessíveis 
ao leigo, como os conceitos de átomos, células etc. Mesmo naquelas 
ciências em que a experiência tem um papel fundamental, ela deve ser 
confrontada para ser verificada ou falseada, para que o conhecimento 
não se reduza à percepção e à ação imediata que caracterizam o modo 
pelo qual o sujeito comum conhece4.
Nessa perspectiva de análise, não somente o conhecimen-
to científico é mutável, mas também o conhecimento vulgar, que 
varia conforme a época (tempo) e o local (espaço) de sua produção 
e difusão. Por exemplo, um conhecimento científico pode tornar-se 
conhecimento comum (fragmento de alguma teoria refutada) e um 
conhecimento vulgar pode dar origem a um conhecimento científi-
co. Baseando, mais uma vez, em Bunge (1985), os conhecimentos 
básicos de aritmética, física e tecnologia têm se tornado conheci-
4 O conhecimento comum pode configurar-se a partir de grandes visões 
sintéticas (generalizações) ou de pensamentos fragmentários.
32
mento vulgar em países industrializados, embora ainda sejam co-
nhecimentos especializados em nações subdesenvolvidas.
Isso leva a crer que, no pensamento do autor, os 
conhecimentos científico e vulgar estão em constante relacionamento 
(diálogo), embora de um modo mais propriamente multidisciplinar 
do que interdisciplinar, pois as formas de construir e validar cada 
um são distintas, desde a formulação de enunciados até o exame de 
suas afirmações.
Como exposto anteriormente, o conhecimento científico 
pode alterar o conhecimento vulgar. De igual forma, o conhecimento 
vulgar pode interferir no desenvolvimento da atividade científica, 
tanto de um modo positivo (suscitando a formulação de problemas 
e até mesmo como modo de pensar contrário e divergente) quanto 
de um modo negativo (pequenas porções de verdades cristalizadas 
ou dogmas que podem limitar o fazer científico). Um exemplo dado 
por Bunge (1985) a respeito dessa distorção é a tenacidade com que 
alguns físicos se agarram à interpretação positivista da mecânica 
quântica, e até mesmo, por vezes, tentam suprimir o dissenso.
A ciência é, para o autor, uma atividade na qual sobressai 
o conhecimento como valor central. Secundariamente, ela pode 
ser utilizada para promover o bem-estar das populações, apesar 
de não ser esse seu objetivo principal ou intrínseco. Os principais 
benefícios da ciência ou de uma ampla difusão da atitude científica 
consistem em que, por meio dela, são produzidas transformações 
de mentalidade e de comportamento nos indivíduos e grupos. São 
palavras do autor:
La adopción universal de una actitud científica puede hacernos 
más sabios: nos haría más cautos, sin duda, en la recepción de 
la información, en la admisión de creencias y en la formulación 
de previsiones; nos haría más exigentes en la contrastación de 
nuestras opiniones, y más tolerantes con las de otros; nos haría más 
dispuestos a inquirir libremente acerca de nuevas posibilidades, 
y a eliminar mitos consagrados que sólo son mitos, robustecería 
nuestra confianza en la experiencia, guiada por la razón y 
33
nuestra confianza en la razón contrastada por la experiencia; nos 
estimularía a planear y controlar mejor la acción, a seleccionar 
nuestros fines y a buscar normas de conducta coherentes con esos 
fines y con el conocimiento disponible, en vez de dominadas por 
el hábito y por la autoridad; daría más vida al amor de la verdad, a 
la disposición de reconocer el proprio error, a buscar la perfección 
y a comprender la imperfección inevitable; nos daría una visión 
del mundo eternamente joven, basada en teorías contrastadas, 
en vez de estarlo en la tradición, que rehúye tenazmente todo 
contraste con los hechos; y nos animaría a sostener una visión 
realista de la vida humana, una visión equilibrada, ni optimista 
ni pesimista (BUNGE, 1980, p. 51).
Embora essas mudanças se processem em escala limitada, 
para Bunge (1980), já é possível observar os frutos da difusão de 
uma atitude científica no âmbito da cultura.
É sobre essa aparente supervalorização do conhecimento 
científico que autores como Boaventura de Souza Santos marcaram 
sua divergência, como será exposto a seguir.
A PERSPECTIVA TRANSFORMADORA
Por meio dessa perspectiva, entende-se o conhecimento 
como elemento fundamental para a transformação social, sendo 
que ela foi fortemente influenciada pelo movimento pós-moder-
no. Resguardadas as devidas diferenças entre os participantes do 
pós-modernismo, um dos marcos essenciais desse movimento foi 
assentado por François Lyotard (1924-1998), com seu livro A 
condição pós-moderna, obra na qual abordou a questão do conhe-
cimento nas sociedades pós-industriais, situando a ciência como 
um subconjunto de conhecimento e o saber como atributo não 
exclusivo da ciência. Conforme o autor, trata-se de um pensa-
mento atento aos erros da ciência e preocupado com o respeito e a 
igualdade entre os saberes de outros povos e de outras tendências 
ou perspectivas (LYOTARD, 2004).
34
A ciência é compreendida por Lyotard como o modo de 
pensar hegemônico da Modernidade, que contribuiu para instaurar 
a violência e a desigualdade entre os saberes, com as supostas 
respostas definitivas de que seriam portadoras as metanarrativas. 
Para outro expoente desse movimento, Gianni Vattimo (2007), 
o ideal de emancipação realizar-se-ia por meio da dissolução dos 
absolutos, neste caso, da ciência como única verdade válida. O 
pensamento pós-moderno é, essencialmente, um pensamento por 
meio do qual se defende um conhecimento livre de hierarquias e 
condenam-se as guerras que foram feitas em nome da verdade. 
Talvez, por isso, entenda-se que se devam formar acordos provisórios 
capazes de romper com o totalitarismo de uma única noção de 
verdade, de uma lei universal, uma vez que a verdade é força, é 
poder (VATTIMO; ROVATTI, 1988).
Essas ideias introdutórias estão na base do surgimento 
do pós-modernismo e indicam o fio condutor por meio do qual 
esse movimento cresceu e atraiu outros pensadores. Parece ser 
nessa mesma linha – mantidas as diferenças entre opções teórico-
metodológicas dos autores pós-modernos – que o sociólogo 
português Boaventura de Souza Santos defende que não há 
superioridade do conhecimento científico. Em sua visão, trata-se de 
um saber que aniquila os conhecimentos alternativos dospovos e 
dos grupos sociais cujas práticas neles fundamentam-se. Isso porque 
a ciência procede de modo polarizado ou rivalizado com essas 
formas de conhecimento, isto é, primeiro os recusa para, depois, 
transformá-los em matéria-prima, com vistas ao desenvolvimento 
de seu próprio campo.
As classificações hierárquicas que se estabelecem a partir do 
conhecimento científico para distingui-lo de outros saberes carecem 
de fundamento e sentido, tanto do ponto de vista dos métodos da 
ciência como do conhecimento produzido por ela. Tal distinção está 
pautada em um juízo de valor e, no caso da ciência, é esse juízo que 
determina a sua preferência entre outras práticas cognitivas. São 
esses mesmos valores, que foram negados pela ciência clássica, por 
35
serem considerados aspectos meramente “subjetivos” e indesejáveis, 
que, na verdade, definem a primazia da ciência moderna e atribuem 
sentido ao conhecimento desta.
Na busca por rigor e precisão, os ‘profetas’ da ciência 
moderna, portanto, acabam por reduzir a complexidade do mundo 
e desqualificá-lo. Os prejuízos ao conteúdo desse saber decorrem 
da fixação à forma, que tem, no modelo da matemática, o exemplo 
de redução da qualidade à quantidade. Com isso, constrói-se um 
conhecimento que tem como resultado um estreitamento em 
relação a outros saberes e, mesmo que tenha contribuído para a 
sobrevivência humana, não reverteu em sabedoria para a vida. Essa 
seria a principal falha da ciência moderna, na visão de Santos, já 
que o saber da ciência não contribui para a transformação.
A ciência clássica, construída por Isaac Newton (1642-
1727), Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650), 
entre outros, procede de modo totalitário, negando o caráter de 
racionalidade a todas as outras formas de saber que não adotem 
seus princípios epistemológicos e suas regras metodológicas. A 
introdução de novos desenvolvimentos teóricos, como os de Albert 
Einstein (1879-1955), os da física quântica e os questionamentos 
a respeito do rigor da matemática são, para Santos (2009), 
elementos que colocam em questão a superioridade da ciência e a 
sua racionalidade.
O procedimento analítico, característico da ciência clássica, 
é responsável, conforme o autor citado, por reduzir o real, porque 
divide e classifica, para depois tentar juntar o que fragmentou. 
Na mesma direção, o saber disciplinar da ciência clássica tornou 
o cientista, na visão de Santos (2009, p. 74), um “ignorante 
especializado”. As disciplinas delimitam fronteiras rígidas e impõem 
limites à transposição destas, segregando os saberes entre si. Em 
face dessa situação, a aposta de Santos (2009) reside na diluição das 
fronteiras disciplinares e na flexibilização das divisões rígidas entre 
a ciência, o saber vulgar e as humanidades, como afirma na citação 
a seguir:
36
Na concepção que aqui defendo, é o da superação da distinção 
entre ciência e senso comum e da transformação de ambos numa 
nova forma de conhecimento, simultaneamente mais reflexivo 
e mais prático, mais democrático e mais emancipador do que 
qualquer um deles em separado (SANTOS, 1989, p. 86).
Em outras palavras, a proposta de Santos contém 
elementos na direção de uma inter/transdisciplinaridade entre os 
conhecimentos, a partir do momento que vislumbra não somente 
o diálogo, mas também os pontos de confluência entre os saberes, 
com base em suas interações (produção do conhecimento de 
forma “horizontal” e “compartilhada”). Trata-se de articular uma 
pluralidade metodológica pautada na imaginação e em critérios 
pessoais do cientista, com o intuito de converter os saberes em 
sabedoria de vida, que pode traduzir-se em desenvolvimento do 
conhecimento, inovação, aprendizado e transformação social.
Por meio do senso comum, é possível orientar-se e dar 
sentido às práticas humanas. É o conhecimento da vida, que possui 
uma direção articulada a um propósito, ao contrário da ciência 
clássica, que se restringe a averiguar como funciona determinado 
setor da realidade, em termos gerais. Em vista disso, parece que se 
atribui um sentido mais positivo do que negativo ao conhecimento 
comum, por este ser um saber pautado na experiência, que, para 
essa perspectiva, não se deve desperdiçar, nem isolar e tampouco 
desprezar. A experiência e o hábito de decidir bem formam as bases 
da sabedoria prática, ou melhor, da sabedoria para a vida. É por isso 
que Santos (2009) se inspira na sabedoria oriental e na sabedoria de 
povos indígenas e camponeses.
Daí a necessidade de afirmar e reconhecer os diferentes 
tipos de saberes, condição necessária para uma “ecologia dos 
saberes”. Em termos práticos, isso significa o reconhecimento 
dos méritos da ciência e de outras formas de saber. Para ser fiel 
ao pensamento do autor, significa reconhecer, por exemplo, que a 
ciência é o melhor conhecimento para levar o homem ou a mulher à 
Lua, embora não o seja para preservar a biodiversidade. Nesse caso, 
37
“[...] de nada serve a ciência moderna. Ao contrário ela a destrói. 
Porque o que vem conservando e mantendo a biodiversidade são os 
conhecimentos indígenas e camponeses” (SANTOS, 2007, p. 33).
A proposta da “ecologia dos saberes” pressupõe que não há 
justiça global sem uma justiça entre os conhecimentos:
Não se trata de ‘descredibilizar’ as ciências nem de um 
fundamentalismo essencialista ‘anticiência’[...]. O que vamos 
tentar fazer é o uso contra-hegemônico da ciência hegemônica. 
Ou seja, a possibilidade de que a ciência entre não como 
monocultura mas como parte de uma ecologia mais ampla de 
saberes, em que o saber científico possa dialogar com o saber 
laico, com o saber popular, com o saber dos indígenas, com o 
saber das populações urbanas marginais, com o saber camponês 
(SANTOS, 2007, p. 33).
Nesse sentido é que o autor aposta em uma nova relação 
entre a ciência, o senso comum e o conhecimento popular, 
longe daquela visão da ciência clássica, que concebe o saber não 
científico a partir de um ponto de vista etnocêntrico e o percebe 
negativamente, como algo: ilusório, superficial, falso; conservador, 
enviesado etc. Esse caráter ilusório, conservador ou preconceituoso 
do senso comum pode ser mais ou menos acentuado, dependendo 
das relações sociais em que esse conceito é construído e refletido5. 
“Senso comum” não é um conceito fixo e estático. Na concepção 
do autor, uma sociedade democrática com desigualdades pouco 
acentuadas, que tenha um sistema educativo generalizado e 
orientado por uma pedagogia libertária, provavelmente produzirá 
um senso comum diferente daquele produzido por uma sociedade 
autoritária, com forte desigualdade e ignorância (SANTOS, 1989).
5 Na interpretação do autor, o conceito filosófico do senso comum, por 
exemplo, surgiu no século XVIII, ligado ao combate ideológico da 
burguesia contra o irracionalismo do mundo feudal. Quando a burguesia 
conquistou o poder, o senso comum perdeu as características da razão e 
da prudência que mantinha até então, tornando-se superficial e ilusório 
(SANTOS, 1989).
38
O conceito de senso comum adquire centralidade nessa 
perspectiva, por possibilitar o desenvolvimento de mudanças 
substantivas na esfera econômica, política e social. Como menor 
denominador daquilo que um indivíduo ou grupo acredita, o senso 
comum possui uma “vocação solidarista e transclassista” (SANTOS, 
1989, p. 37), cujas implicações, numa sociedade de classes, marcada 
pela ciência moderna, não podem 
[...] deixar de assumir um viés conservador e preconceituoso, 
que reconcilia a consciência com as injustiças, naturaliza a 
desigualdade, e mistifica o desejo de transformação. Porém, 
opô-lo, por essas razões, à ciência como quem opõe as trevas à 
luz não faz hoje sentido por muitas outras razões. Em primeiro 
lugar, porque, se é certo que o senso comum é o modo como 
os grupos ou classes subordinados vivem a sua subordinação, 
não é menos evidente que, [...] essa vivência, longe de ser 
meramente acomodatícia, contém sentidos de resistência que, 
dadas ascondições, podem desenvolver-se e transformar-se em 
armas de luta (SANTOS, 1989, p. 37).
Daí a importância de transformar o conhecimento científico 
em um novo senso comum, formando uma racionalidade composta 
de diversas racionalidades. A proposta de uma ciência pós-moderna 
está pautada na afirmação do elo entre o conhecimento, a ética e a 
política, a partir do questionamento do papel do conhecimento no 
enriquecimento ou empobrecimento da vida humana. Mais ainda, 
o conhecimento é parte de uma racionalidade que visa não somente 
à compreensão do real, mas também à sua transformação6. Em 
outras palavras, o conhecimento precisa estar comprometido com 
6 As ideias de autonomia da ciência clássica e de desinteresse do conhecimento 
científico não se sustentam, para Santos (2009), que aponta o fenômeno 
global da industrialização das ciências, nas décadas de 1930 e 1940, como 
exemplos de direcionamento político da ciência, tanto na organização da 
investigação quanto na aplicação dos seus resultados. O fenômeno ocorreu 
nas sociedades capitalistas, em geral, e socialistas do leste europeu.
39
o viver bem, permitindo a satisfação pessoal desde a sua produção 
até o seu usufruto.
A perspectiva apresentada na sequência, à semelhança da 
primeira vertente, enfatiza a distinção entre os conhecimentos cien-
tíficos e vulgares, sendo até mais radical no tocante a essa separação.
A PERSPECTIVA MARXISTA GRAMSCIANA
É a perspectiva cujos intérpretes inspiraram-se nas obras 
de Karl Marx (1818-1883) e, especialmente, de Antônio Gramsci 
(1891-1937)7 para pensar a relação entre conhecimento científico e 
o popular sob um ponto de vista político e epistemológico. Por meio 
dessa perspectiva, visa-se à transformação social, mas à diferença 
da perspectiva transformadora; seus proponentes entendem que é 
preciso garantir o acesso dos setores populares aos produtos mais 
elevados do conhecimento, que são a ciência e a tecnologia.
Um de seus intérpretes, o filósofo brasileiro Ari Paulo 
Jantsch, abordou o conhecimento vulgar e o senso comum sob 
o aspecto mais específico do conhecimento popular8. Apesar de 
reconhecer a necessidade de diálogo entre o senso comum e o 
conhecimento científico, defendeu a superação desse saber comum 
e até mesmo do bom senso pelo conhecimento científico9. No 
entendimento de Jantsch (1995), o bom senso é nada mais do 
7 Gramsci foi um autor que buscou os traços que caracterizavam o 
conhecimento popular, uma vez que tinha em vista a organização de uma 
possível contra-hegemonia das classes subalternas.
8 No entendimento de Jantsch (1995), o conhecimento popular não se 
confunde meramente com o senso comum e, embora se relacione com ele, 
diz respeito ao conhecimento que está atrelado à cultura, às tradições dos 
diversos grupos humanos, ao folclore, à religião etc. 
9 Apesar de muito diferentes em sua motivação e em seus propósitos, esta 
visão pode ser comparada à do filósofo Gaston Bachelard (1972), para 
quem a ciência só pode ser negação do conhecimento vulgar, cujas crenças 
e convicções constituem-se mais em obstáculos epistemológicos do que em 
pontos de partida efetivos para a construção do conhecimento científico.
40
que um refinamento do senso comum. Somente o conhecimento 
científico permite o desenvolvimento de uma práxis crítica, criativa, 
revolucionária e transformadora.
Nessa vertente, assim como na perspectiva clássica ante-
riormente apresentada, a superioridade do conhecimento científico 
decorre do modo ou do processo pelo qual o saber é construído, e 
não dos objetos de conhecimento. Mesmo porque, pelo conheci-
mento científico não se tem em vista a formação de uma verdade 
final ou de um conhecimento pronto e acabado. Este é superior 
justamente porque está pautado na construção de verdades provi-
sórias, passíveis de confirmação, aprimoramento e revisão.
O cultivo da atitude científica permite alcançar diversos 
objetivos: a crítica, entendida como o olhar da realidade a partir de 
critérios objetivos, por meio de dados, de metas ou de avaliações; 
a criação, compreendida como a superação de um estado de coisas, 
de um mundo dado, cristalizado e dogmatizado; a revolução, ou 
seja, a construção de mudanças radicais que rompam com um 
mundo compreendido de maneira superficial e enganosa; e a 
transformação, o alcance de novos mundos. Este último objetivo 
seria a materialização ou concretização dos elementos crítico, 
criativo e revolucionário (JANTSCH, 1995).
O conhecimento popular torna-se relevante como 
questão epistemológica devido às suas possíveis interações com 
o conhecimento científico, a começar pela linguagem cotidiana. 
É por meio desta que se processam as primeiras ligações com o 
conhecimento científico. Aqui, a linguagem cotidiana, por sua 
vez, é aquela próxima da experiência e de outros conhecimentos 
pré-teóricos que estão presentes no fazer e no agir rotineiro do ser 
humano, nas relações com ele mesmo e com os outros. Um exemplo 
dessa linguagem cotidiana é o ato de dirigir um automóvel ou de 
usar um martelo (PAVIANI, 2009).
No entanto, nessa perspectiva, não é possível demarcar 
fronteiras rígidas entre os saberes científico e popular, tendo em 
vista que nenhum deles está livre das interações com o outro, não 
havendo um conhecimento científico ou popular puro. Isso não sig-
41
nifica, entretanto, defender uma relativa interdisciplinaridade entre 
eles. Pelo contrário, parece mais adequado falar em uma multidis-
ciplinaridade entre esses saberes, levando em conta as suas diferen-
ças e evitando cair em homogeneizações simplificadoras. Mesmo 
porque, no diálogo com o conhecimento popular, o importante é 
alcançar o “motor epistemológico” (JANTSCH; BIANCHETTI, 
2011, p. 174), isto é, o avanço do conhecimento, que, por sua vez, 
se traduz no desenvolvimento da alta ciência e tecnologia.
O conhecimento popular é, todavia, um conhecimento 
que se almeja superar, pois indica um modo subalterno de se 
relacionar e de se apropriar do complexo chamado conhecimento. 
Os autores que se enquadram nessa perspectiva consideram como 
conhecimento do povo “todo aquele que não é científico”. É 
geralmente um saber atribuído às pessoas das camadas populares, 
cujas condições socioeconômicas são limitadas, mas, na verdade, 
não se restringe a elas. O conhecimento comum
[...] não é um privilégio dos indivíduos populares, mas está 
presente, também, nas elites políticas e econômicas [...]. Por 
outro lado, é a condição que coloca as elites em condições 
favoráveis na relação com a ciência, a filosofia e a tecnologia 
(JANTSCH, 1995, p. 162).
Em seus estudos, Schaefer e Jantsch (1995) atribuem 
um sentido mais negativo do que positivo às características do 
conhecimento popular, mesmo considerando-o como um saber que 
muda conforme a sociedade e a época de sua elaboração e transmissão. 
Os autores entendem ser um conhecimento que não consegue 
administrar de maneira lógica as peças ultrapassadas, conservadoras 
e reacionárias do seu saber (aspecto negativo) com os seus elementos 
criadores, inovadores e progressistas (aspecto positivo), mantendo-
os sem solução. Para os autores, o conhecimento popular caracteriza-
se pela ambiguidade, heterogeneidade, fragmentariedade, acriticidade, 
imediaticidade e dogmaticidade.
42
A ambiguidade é expressa pela falta de clareza nas situa-
ções reais, não implicando, necessariamente, contradição. O pensa-
mento ambíguo é percorrido por um polo positivo (lugar do “sim”, 
da afirmação) e por outro polo negativo (espaço do “não”, da nega-
ção), sem haver qualquer decisão cognitiva por algum dos dois, de 
maneira que ambos convivem sem solução. Cita-se aqui o exemplo 
dado pelos próprios autores10, de um sujeito que manifesta posições 
ambíguas em dois momentos quando questionado sobre o governo:
Sim, através das eleições vamos tirar Sarney da presidência e seu 
substituto vai melhorar a situação do país. Não: no futuro, ou 
seja, com o novo governante eleito vai ser a mesma coisa, não 
adianta.Esse ‘não’ se refere não somente ao governante a ser 
eleito, mas a si mesmo como não-sujeito de mudanças, pois as 
mudanças, quando vêm, se originam politicamente fora e longe 
do indivíduo que as espera e deseja (SCHAEFER; JANTSCH, 
1995, p. 34).
A heterogeneidade refere-se à falta de coerência ou ao 
agregado inconsistente de ideias e representações que impedem o 
desenvolvimento de níveis maiores de abstração cognitiva. Trata-se 
do ajuntamento indiscriminado e acrítico dos resquícios de cultura 
e de saberes atuais e passados, sejam estes de origem científica 
ou não, os quais conformam, de acordo com o entendimento 
de Schaefer e Jantsch (1995, p. 49), uma espécie de “colcha de 
retalhos” cognitiva.
A tendência de aplicação do conhecimento popular é de 
voltar-se mais àqueles assuntos ou temas que têm mais afinidade 
com o universo pessoal das camadas populares, como aspectos do 
seu cotidiano e do seu trabalho, restringindo-se à experiência sen-
sível. No geral, os componentes das classes populares não conse-
guem identificar o fio condutor de um pensamento ou as causas de 
uma determinada situação. É quando ocorre o “emparelhamento” 
10 Os exemplos das características a seguir também são extraídos das obras 
dos autores citados.
43
ou a “intraposição” conceitual, para usar os termos dos autores, que 
significa a sobreposição acrítica de um conceito sobre outro, ocasio-
nando a junção e a indistinção de ambos, como se fossem a mesma 
coisa. Segundo os autores, mesclar o poder de Deus com o poder 
humano seria um exemplo de “intraposição” do conceito religioso 
no profano.
A fragmentariedade é a falta de articulação dos conteúdos 
do saber em um todo lógico. O pensamento permanece diluído 
e cindido. É por isso que o indivíduo revela dificuldades de fazer 
sínteses abrangentes, tendo uma compreensão reduzida de espaço e 
de tempo. Um exemplo é a dificuldade dos componentes das classes 
populares de relacionarem os conceitos do jurídico, do político, do 
econômico, do cultural etc.
A acriticidade é a presença constante de todos os elementos 
anteriores ou a dificuldade de eliminar a prática cognitiva ambígua, 
heterogênea e fragmentária. A acriticidade também se expressa 
na ausência de dados objetivos. Um exemplo de acriticidade é a 
tendência a não ver a questão do poder como produto humano, 
tornando-o como algo extra-humano, mágico ou sobrenatural.
A imediaticidade é a falta de distanciamento dos fatos, 
que está relacionada a dificuldades de abstração e à fixação em 
representações mentais sensíveis. Exemplos de imediatismo 
podem ser observados nos conceitos populares de “democracia”, 
significando apenas as eleições diretas para presidente, ou de 
economia, representando estritamente uma melhora na vida 
pessoal, nos salários, no bairro etc.11
A dogmaticidade materializa-se na opção por um estado 
de segurança cognitiva no qual se tem dificuldade para discutir 
as próprias certezas. Exemplos: a certeza de outra vida, (no céu e 
no inferno), da imortalidade da alma, da existência de santos e de 
11 Outro exemplo de imediaticidade e de acriticidade que pode ser agregado ao 
exemplo dos autores é quando um sujeito julga adequado o consumo da água 
de um rio ou de uma fonte pelo seu aspecto límpido ou cristalino, conforman-
do-se com a aparência e com os conhecimentos sensoriais, ao passo que, na 
ciência, a água é submetida a uma análise para identificar a sua potabilidade. 
44
santas (como seres com poderes espirituais diversos) etc. Conforme 
os autores, é necessário superar o conhecimento popular, pois
[...] o dogmatismo deixaria o indivíduo numa espécie de 
inércia mental (resistência a modificar o movimento cognitivo, 
sua dinâmica, seu processo e seus resultados conceituais). A 
capacidade de crítica que poderia imprimir novo movimento 
– pelo exercício da dúvida, por exemplo – apesar de existir na 
lógica-processual popular, não conseguiria ser suficiente para 
quebrar a inércia. Enquanto permanecesse esse estado de coisas 
o conhecimento popular continuaria dogmático. O importante 
para o nosso caso é atentar para a impressão real de segurança 
intelectual que o pensamento dogmático oferece ao homem do 
senso comum (SCHAEFER; JANTSCH, 1995, p. 26).
Além disso, a dogmaticidade consiste em um modo 
de pensar rígido e conformista, que pode contribuir para o 
desenvolvimento de atitudes de submissão político-econômica. 
Um exemplo é a interpretação popular dos problemas desse âmbito 
como expressão das provas e expiações de culpas neste mundo 
terreno que, por sua vez, supõem o sofrimento e a resignação. O 
pensamento dogmático é aquele em que se atribui maior peso à 
segurança de supostas verdades do que aos processos cognitivos de 
duvidar ou questionar as suas próprias crenças, noções, ideias, seus 
conceitos, valores, suas concepções de mundo etc.
Quanto à relação entre ciência e política, o problema não 
parece ser a atividade científica em si, mas a sua apropriação pelas 
classes sociais. Na opinião dos autores dessa vertente, é possível 
desenvolver uma ciência e um conhecimento científico livres 
dos direcionamentos políticos (esquerda ou direita, socialismo 
ou capitalismo, dominação ou libertação). A tarefa principal 
residiria em promover a construção de contra-hegemonias aos 
modos particularistas e privatistas de apropriação e usufruto do 
conhecimento científico-tecnológico. Isso porque o reconhecimento 
é objeto de disputa entre classes sociais (entre elas e dentro delas), 
45
de modo que se faz necessário refletir sobre a relação que cada classe 
tem com o conhecimento desde sua elaboração até seu uso final.
O conhecimento popular está presente em todas as 
classes, embora de modo predominante naquelas que têm menos 
acesso ao conhecimento científico12. Por isso, o importante é 
superar a desigualdade de acesso, construção e socialização do 
saber científico, a fim de não desenvolver uma atitude hostil em 
face dos conhecimentos populares, mas sim de aproveitá-los como 
elemento de dúvida e de criação13, evidenciando a preocupação com 
a qualidade do conhecimento científico e com as transformações 
sociais, as quais têm mais condições de acontecer à medida que 
os sujeitos cognitivos possuam mais chances para se apropriar do 
conhecimento científico ou produzi-lo.
Na opinião de Jantsch (1995, p. 136), “[...] insistir no 
senso comum [isto é, conformar-se com ele] não é favor algum, 
nem a indivíduos, nem à camada popular (classe) – pelo contrário, 
é condená-los de vez à situação de inferioridade no jogo das relações 
econômicas e sociais.” Daí a importância de investir na luta política 
contra a apropriação particularizada da ciência e em busca da 
democratização do saber, bem como da universalização da ciência e 
da habilidade de fazê-la.
INTERDISCIPLINARIDADE E PESQUISA A PARTIR DE TRÊS 
PERSPECTIVAS DE ANÁLISE DOS SABERES
Pensar como se apresenta a questão da pesquisa e da 
interdisciplinaridade para cada vertente exige aventurar-se nas 
pistas deixadas no universo teórico de seus expoentes, muitos dos 
12 Vale destacar ainda que ele se apresenta como resto ou resíduo de 
conhecimentos científicos ultrapassados.
13 Para favorecer o acesso dos componentes das classes populares ao 
conhecimento científico, é necessário captar o estágio lógico-processual do 
grupo em questão, as características do seu senso comum e o conteúdo que 
os sustenta.
46
quais não se propuseram a uma reflexão específica sobre a temática 
interdisciplinar, apesar de trazerem esse tema subjacente em 
seus debates. Uma das vertentes que efetivamente se ocupou da 
temática foi a perspectiva marxista gramsciana, cujos autores vêm 
produzindo um conjunto de conhecimentos acerca da temática da 
interdisciplinaridade. À exceção dessa perspectiva, cujos contributos 
podem ser melhor explorados, o desafio consiste em buscar um 
conjunto de hipóteses norteadoras, por meio das quais se possa 
formar uma conexão coerente do significado desses conceitos para 
cada linhade pensamento.
Para a primeira perspectiva, pensar numa interdisciplina-
ridade entre os conhecimentos científico e popular seria bastante 
problemático e difícil, haja vista o desenvolvimento e a complexifi-
cação experimentada pela ciência nos últimos anos. Nessa vertente, 
seria possível estabelecer uma comunicação que, para muitos auto-
res, não é sinal de efetiva interdisciplinaridade, embora constitua 
um ponto de partida importante e necessário (KLEIN, 1990). Essa 
comunicação dar-se-ia a partir dos conteúdos do conhecimento 
popular e não da integração das formas de conhecer de ambos os 
tipos de saberes. Isso significa que os conteúdos do conhecimento 
popular poderiam servir de base a uma pesquisa, contribuindo no 
estabelecimento de hipóteses investigativas, no rol de informações 
que podem integrar a coleta de dados e na realização de testes em-
píricos. Um exemplo nesse sentido parece ser o chá de espinheira 
santa (Maytenus ilicifolia), reconhecido por propriedades curativas e 
medicinais e utilizado durante anos para essa finalidade apenas com 
base no saber popular14. (ALMEIDA et al., 2015)
Trata-se do estabelecimento do diálogo, da comunicação 
e da troca a partir dos conteúdos, mas não do modo de conhecer. 
É esse modo de conhecer que, para Bunge (1980), distingue a 
14 Há estudos científicos que apontam para a eficácia da espinheira-santa no 
que diz respeito à prevenção e o tratamento de problemas gástricos. Ver 
Baggio (2007 apud ALMEIDA et al., 2015). Sobre os diálogos e as trocas 
entre o saber científico e o popular a respeito de plantas medicinais, vale 
consultar o artigo de Bittencourt, Caponi e Falkenberg (2002).
47
ciência de outras formas de saberes e a caracteriza pelo emprego 
de uma estratégia geral de pesquisa. Ou seja, não é que haja um 
método único, tendo em vista a diversidade de áreas e campos 
disciplinares, mas que se identifica um procedimento geral para 
o conhecer científico, normalmente caracterizado pela formulação 
de hipóteses, construção do problema de pesquisa, definição das 
alternativas metodológicas, testes e revisões. Essa estratégia não 
suprimiria a necessidade de criatividade e inovação, fundamentais a 
todo processo de pesquisa.
Nessa linha, a interdisciplinaridade é uma demanda 
inerente ao objeto de estudo e que não se justifica pela necessidade 
de mudanças na realidade. Esse seria um objetivo secundário, 
já que o objetivo central seria o compromisso com o avanço do 
saber, em se tratando de ciência básica. A construção de um senso 
comum desenvolvido ou melhorado seria decorrência natural 
do investimento em pesquisa de um país, cujos resultados são 
apropriados e socializados entre a população. Consequência 
que, para o autor dessa vertente, dependeria do investimento 
em pesquisa e em políticas públicas de educação, ou, nos seus 
termos, “planejamento de larga escala”, campo tecnológico de 
alta complexidade, cujos problemas exigem uma abordagem 
interdisciplinar entre especialistas de diversas áreas. O autor cita 
o exemplo das políticas de combate e prevenção ao uso abusivo de 
drogas (BUNGE, 1985).
Ocorre que, para esse pensador, aos campos de saber 
tecnológicos, que têm, na sua justificação de existência, a necessidade 
de resolver problemas práticos, se coloca de uma forma mais incisiva 
a necessidade de interdisciplinaridade, inclusive entre outras formas 
de saberes, já que o tecnólogo está mais próximo dos problemas 
práticos e, para tanto, podem-se procurar fontes diversificadas de 
saber para tentar resolvê-los. São esses campos tecnológicos que têm 
correspondência mais direta com as demandas da população, pondo 
em cena novos modos de pesquisa, cujo caráter interdisciplinar 
e socialmente comprometido destaca-se. Entretanto, no que diz 
respeito à ciência básica, o autor reconhece que o conhecimento 
48
científico chegou a uma grau de desenvolvimento e complexidade, 
via especialização, que o diálogo e a comunicação se tornariam 
difíceis (mas não impossíveis) para áreas e disciplinas, mesmo que 
vizinhas, em face do grau de abstração e de complexidade de seus 
conceitos e objetos.
Assim, a interdisciplinaridade coloca-se como um conceito 
referente aos desafios da ciência e do avanço das pesquisas dos 
próprios cientistas quando estes percebem que é possível tomar de 
empréstimo metodologias, ampliar teorias, descobrir novos campos 
de conhecimento nas áreas fronteiriças, sem perder de vista a 
coerência, o rigor teórico, a objetividade dos processos e produtos do 
pensamento, entre outras possibilidades que envolvem o aumento 
da consistência de assuntos e métodos. O próprio autor comprova 
isso, por meio de seu percurso acadêmico e formativo, pois é físico e 
filósofo, um erudito das ciências de forma geral, tendo escrito sobre 
diversos temas, desde física às ciências humanas e sociais.
Assim, a primeira perspectiva contribui para salvaguardar 
a especificidade de cada campo do saber, reforçando o caráter 
profissionalizado da atividade científica, comprometida com a 
produção de saber e a formulação de teorias e os valores subjacentes 
a essa prática, como a dúvida, por exemplo, que se expressa no ato 
de submeter o conhecimento a contínuo exame e revisão. Por mais 
que o sujeito que detém o conhecimento vulgar também possa 
ser reflexivo e questionador, esse tipo de saber, pela sua própria 
processualidade, não se caracteriza pelo comprometimento com um 
construto teórico, além de apresentar-se carente de sistematização 
e método.
A segunda vertente faria o diálogo e o intercâmbio 
entre os saberes científico e popular não se importando com as 
diferenças entre sujeito e objeto do conhecimento. Uma pesquisa 
interdisciplinar nesses moldes mais se parece com a modalidade de 
pesquisa-ação, na qual a construção do conhecimento acompanha 
o processo de intervenção na realidade investigada. Embora, em 
última instância, o nível de conhecimento do cientista pesquisador 
jogue um papel crucial na tomada de decisão e na coordenação do 
49
processo de pesquisa, a forma de conhecer e elaborar a pesquisa 
estaria enriquecida com os afetos, a comunicação, a vivência e a 
mobilização dos sujeitos em direção a uma finalidade social.
A pesquisa de inspiração interdisciplinar consistiria em um 
empreendimento não apenas investigativo, mas também educativo 
para a formação de novas racionalidades, do respeito às diferenças 
e do reconhecimento do saber dos diferentes povos e indivíduos. 
O pesquisador cientista entraria mais como um coordenador dos 
saberes, favorecendo a troca entre eles e a garantia de uma unidade 
e síntese abrangentes.
O ponto problemático da perspectiva transformadora 
é a diluição das peculiaridades de cada saber, resultando num 
relativismo, aspecto complicado, uma vez que, mesmo ao falar 
em interdisciplinaridade, a disciplina continua posta. Se são os 
juízos de valor que determinam a preferência pela ciência, como 
explica Santos (1989), não são quaisquer valores que fazem dela 
uma atividade diferente de outras. Para Cupani (2006), são 
valores específicos, como a racionalidade (coerência), a verdade 
e o respeito aos fatos, aos ideais, que conformam a peculiaridade 
da atitude científica, isto é, aquilo que o bom cientista persegue 
no seu fazer cotidiano. Esse autor distingue a atitude científica da 
pesquisa científica, uma vez que esta nem sempre está à altura do 
ideal esboçado pela atitude científica, podendo ser mais ou menos 
correta, eficiente, útil ou honesta. Mas antes que qualquer falha na 
pesquisa científica conduza ao relativismo, os ideais ou a confiança 
nos valores da atitude científica pressupõem que se busque um 
conhecimento cada vez mais rico, seguro e correto.
A perspectiva transformadora é tributária de uma época 
na qual a confiança na ciência clássica, isto é, nos avanços do 
conhecimento, não acompanhou os desenvolvimentos esperados 
em termos humanos e sociais. Nessa direção, antes que se 
produzisse uma desconfiança frente à forma de produzir um 
saberque aspira ser verdadeiro, seguro e honesto, os defensores 
da terceira vertente esclarecem que os limites estão postos pela 
disputa entre as classes sociais em torno da apropriação da ciência e 
50
da tecnologia. Ou seja, os conflitos colocam-se porque a burguesia 
se apropriou privadamente da alta ciência e da tecnologia ao invés 
de democratizar suas conquistas. Daí a interdisciplinaridade como 
uma necessidade, mas também, e sobretudo, como um problema e 
desafio para a pesquisa.
Ao contrário das características positivas do saber popular 
levantadas por Santos (2007), os expoentes da terceira vertente te-
riam muitos exemplos de atrasos sociais e políticos provocados por 
esse conhecimento quando assume um caráter dogmático, imedia-
tista e fragmentário. Isso não quer dizer que tais autores não ve-
jam possibilidades fecundas nesse conhecimento. Certamente, uma 
abordagem de ciência e tecnologia de alto nível e comprometida 
com valores sociais e humanos transformadores dependeria da ela-
boração cognitiva das camadas populares. Em outros termos, a pes-
quisa interdisciplinar não seria uma escolha individual descolada da 
realidade, mas uma possibilidade que depende das condições con-
cretas, de ordem econômica, política e cultural, sob as quais as clas-
ses travam suas lutas sociais (JANTSCH; BIANCHETTI, 2011).
No contexto da terceira vertente, portanto, a realização 
de empreendimentos de interdisciplinaridade protagonizados pelas 
classes sociais subalternas não dependem somente dos desafios de 
ordem teórica, epistemológica e conceitual, antes disso, precisam 
extrapolar esse campo para efetivamente terem condições de 
realizar-se. A necessidade de promover o acesso dos componentes 
das classes populares aos processos e produtos do conhecimento 
científico e tecnológico é, em verdade, uma estratégia para combater 
a desigualdade, que se coloca num plano social e não apenas no 
plano dos saberes, como defendem os autores vinculados à segunda 
perspectiva. Trata-se do entendimento de que a ciência e a tecnologia 
se tornaram elementos valiosos na disputa pela hegemonia, sendo 
apropriados pelas classes dominantes. A preocupação central seria a 
de promover o acesso e o protagonismo dos segmentos subalternos 
no que diz respeito aos processos de apropriação, construção e 
usufruto dos produtos do conhecimento científico-tecnológico.
51
Ademais, são as necessidades postas pela realidade que 
impõem ao pesquisador a condução da pesquisa interdisciplinar. Nos 
termos de Etges (2011), a interdisciplinaridade é um conceito dos 
cientistas; ela é o princípio da exploração máxima das potencialidades 
de cada ciência. Valorizar o saber popular e trazê-lo para um 
processo de pesquisa interdisciplinar não significaria abdicar das 
disciplinas que conformam o próprio termo interdisciplinaridade – 
assim como as outras ‘disciplinaridades’, mas conjugar esses saberes 
de acordo com a complexidade determinada pelo próprio objeto de 
pesquisa (PIAGET, 1973).
Entretanto, para a primeira e para a terceira perspectivas, 
parece de comum acordo que a ciência não pode integrar-se 
simplesmente ao conhecimento comum − tarefa impossível ou 
mesmo utópica15 − sob o risco de descaracterizar-se. É possível que 
possuidores desses diferentes conhecimentos dialoguem e troquem 
saberes (a exemplo das pesquisas científicas iniciadas a partir do 
saber popular que acredita na influência da Lua no desenvolvimento 
da agricultura16), mas não ao ponto de se confundirem numa 
totalidade heterogênea e eclética.
Como nos diz Klein (1996), a interdisciplinaridade é 
o resgate do horizonte de unidade e síntese, mas evocar o saber 
popular para garantir a efetividade do princípio da totalidade é cair 
em uma totalidade abstrata e vazia, que não significa a procura 
por tudo e nem pelo princípio fundador de tudo. A totalidade não 
é mera junção eclética de partes desconexas, mas sim o resgate das 
múltiplas dimensões e mediações constitutivas de um objeto de 
pesquisa delimitado (FRIGOTTO, 2011). É por isso que Jantsch 
(1996) nos fala em totalidade epistêmica, como um limite dos 
processos de conhecimento, pois nosso objeto de pesquisa é um 
recorte da totalidade histórico-social, que tentamos compreender e 
nos aproximar em face de seu caráter complexo e dinâmico.
15 Ainda que a utopia seja válida como horizonte para guiar as ações humanas. 
Sobre a utopia vale consultar a obra organizada por Bianchetti e Thiesen 
(2014).
16 Vide revisão de literatura realizada por Jovchelevich (2006).
52
Assim, em vez de uma mistura eclética em nome da 
totalidade dos saberes ou de uma hierarquização do conhecimento 
científico e do popular como inferior-superior, parece mais adequado 
considerar as particularidades e as diferenças existentes entre eles 
em vista das demandas da pesquisa e da interdisciplinaridade.
Por fim, cabe ressaltar que, seja pela vontade dos 
professores, dos pesquisadores de qualquer tendência, ou a 
despeito delas, os alunos – de todos os níveis, nos dias atuais e com 
a mediação dos diferentes aparatos tecnológicos – estão fazendo 
pesquisa interdisciplinar, uma vez que buscam novas informações, 
desconhecendo possíveis fronteiras entre os campos do saber. 
Aos docentes, impõe-se o incontornável desafio de fazer com que 
o estoque/acúmulo de informações amealhadas pelos discentes 
seja trabalhada na perspectiva da construção do conhecimento e 
de sua aplicação, tendo no horizonte os compromissos históricos 
e ético-políticos. Nesse sentido, velhas certezas e posturas na 
relação professor-aluno precisam ser revisitadas e ressignificadas, 
particularmente evitando, por parte daqueles, as concepções de 
ensino do que se sabe (como saber um dia construído e cristalizado), 
abrindo-se para a aprendizagem, que resulta do ensino e da pesquisa. 
Mas isso é assunto para outro texto. Queremos, contudo, concluir 
com uma frase que está na obra A aula, de Roland Barthes (1979, 
p. 47), quando este, próximo aos 70 anos, faz sua estreia na École 
de France, afirmando que: “Há uma idade em que se ensina o que 
se sabe; mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não se 
sabe”. E conclui: “isso se chama pesquisar!”.
REFERÊNCIAS
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Reiss.): saber de erveiros e feirantes em Pelotas (RS). Revista brasileira 
de plantas medicinais, Botucatu, v. 17, n. 4, p. 722-729, 2015. 
53
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arttext&pid=S1516-05722015000500722&lng=en&nrm=i
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BACHELARD, Gaston. Conhecimento comum e conhecimento 
científico. Tempo Brasileiro, São Paulo, n. 28, p. 47-56, jan./mar. 
1972.
BARTHES, Roland. A aula. São Paulo: Cultrix, 1979.
BIANCHETTI, Lucídio; THIESEN, Juares da Silva (Orgs.). Utopias 
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Bacon, J. Bentham, A. Huxley e G. Orwell. Ijuí: Unijuí, 2014.
BITTENCOURT, Sílvia Cardoso; CAPONI, Sandra; 
FALKENBERG, Miriam de Barcellos. O uso das plantas medicinais 
sob prescrição médica: pontos de diálogo e controvérsias com o 
uso popular. Revista brasileira de farmacognosia, Maringá, v. 12, supl. 
1, p. 89-91, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
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BUNGE, Mario. La investigación científica: su estrategia y su filosofia. 
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na ciência. In: STEIN, Sofia; KUIAVA, Evaldo (Org.). Linguagem, 
ciência e valores: sobre as representações humanas no mundo. Caxias 
do Sul: Educs, 2006, p. 73-84.
ETGES, Norberto J. Ciência, interdisciplinaridade e educação. 
In: JANTSCH, Ari Paulo; BIANCHETTI, Lucídio (Orgs.). 
Interdisciplinaridade: para além da filosofia do sujeito. 9. ed. 
Petrópolis: Vozes, 2011, p. 51-84.
FRIGOTTO, Gaudêncio. A interdisciplinaridade como necessidade

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