Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Sistema Regional de Inovação: Um estudo de caso do Consórcio Público para o Desenvolvimento do Alto Paraopeba – MG Márcio Carneiro Reis – Marcelle Santos Vieira RESUMO O presente trabalho tem por objetivo analisar as possibilidades de se constituir um Sistema de Inovação nos municípios que formam um Consórcio Público no Alto Paraopeba, considerando os diversos atores regionais e a prospecção que os mesmos argumentam para a implementação de estratégias de desenvolvimento sustentado. A perspectiva da inovação regional pretende um avanço consistente em formatos que ultrapassem as proposições básicas até então pensadas e que estimulem novas vocações empreendedoras e comerciais, em sinergia com a estrutura já consolidada e com as intervenções constantes em planejamento futuro. Os principais resultados encontrados apontam para a relevância da atuação do Consórcio Público, espaço privilegiado de governança, capaz de possibilitar, além da cooperação, a geração de processos de inovação que atendam o maior número de demandas dos diversos segmentos sociais e econômicos. Foi considerada também a possibilidade de criação de uma cadeia de fornecedores que possibilite a inserção de pequenas e médias empresas no mercado local, que atualmente é predominado por grandes mineradoras e siderúrgicas. Além disso, foram visualizadas prováveis formas de incrementar as atividades turísticas e ecologicamente sustentáveis da Região do Alto Paraopeba. Palavras-Chave: Sistemas de Inovação, políticas de inovação e Desenvolvimento Regional. ABSTRACT This study aims to examine the possibilities of forming an Innovation System in the small cities that form a Public Consortium in Alto Paraopeba, considering the various regional players and the prospect they argue for the implementation of strategies for sustainable development. The prospect of regional innovation want a consistent advance in formats that go beyond those basics propositions hitherto thought and stimulate new business and entrepreneurial vocations, in synergy with the structure already established and with the interventions listed in future planning. The main results show the impact of actions by the Public Consortium, special area of governance, capable of providing, in addition to cooperation, the generation of innovative processes that meet the highest of various social and economic demands. It was also considered the possibility of creating a belt of suppliers that allows the insertion of small and medium companies in the local market, heavily dominated by large mining and steel companies. In addition, forms were seen likely to increase tourism and ecologically sustainable activities in Alto Paraopeba. Keywords: Systems of Innovation, innovation policies and Regional Development. 1. INTRODUÇÃO Nos dias atuais, observa-se que as organizações buscam incessantemente conquistar vantagem competitiva perante os seus concorrentes. Possas (2002) em sua análise acerca da concorrência schumpeteriana, considerou que a dinâmica concorrencial é caracterizada por um posicionamento ativo das empresas, tendo como premissa diferenciar-se dos seus rivais por meio da introdução de inovações no mercado, com o objetivo principal de obter lucros extraordinários. De acordo com Johnson e Lundvall (2005), observa-se um novo tipo de competição, no qual a criação de competências e habilidades voltadas para a introdução de inovações no mercado torna-se um fator essencial para todos os atores nos mercados globais. Segundo Hasenclever e Tigre (2002), a partir da introdução de inovações, as organizações são capazes de transformar ou criar novos mercados, vislumbrando um universo de oportunidades e margens de lucros cada vez maiores. Adicionalmente, o desenvolvimento de estratégias de inovação por parte das empresas deve considerar as suas estruturas internas, bem como suas interações externas com o sistema de inovação mais amplo no qual se estabelecem. Britto (2002) em sua análise acerca das formas de cooperação entre empresas descreveu a respeito da crescente investigação em torno dos fatores que contribuem para o melhor desempenho das organizações. De acordo com o autor, nota-se que existem vertentes de variadas escolas de pensamento, que consideram a análise das relações entre empresas e entre estas e as demais instituições, um enfoque mais relevante do que apenas a investigação sobre a empresa individual. Além disso, considera-se que a complexidade inerente às interdependências entre as empresas e outras instituições, constitui um aprofundamento em relação aos temas aproximados ao conceito genérico de rede de empresas. Dentre estes temas, convém destacar os “Sistemas Nacionais e Regionais de Inovação baseados na especialização e interação de diversos tipos de agentes envolvidos com a realização de atividades inovativas” (BRITTO, 2002, p.346). Tendo em vista as oportunidades oferecidas pelos Sistemas de Inovação para a promoção do desenvolvimento econômico em diversas regiões, o presente artigo pretende investigar como pode ser conformado um Sistema Regional de Inovação junto aos agentes instalados em Minas Gerais, mais especificamente, entre os municípios que formam o Consórcio Público para o Desenvolvimento do Alto Paraopeba, a saber: Belo Vale, Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Entre Rios de Minas, Jeceaba, Ouro Branco e São Brás do Suaçuí. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Fundamentos da Inovação Segundo Schumpeter, (1982) a inovação contempla cinco fatores, a saber: (I) introdução de um novo produto ou de uma nova qualidade de um bem; (II) criação de um novo método de produção; (III) abertura de um novo mercado; (IV) conquista de uma nova fonte de matérias-primas ou de bens semimanufaturados, e (V) estabelecimento de uma nova organização de qualquer natureza. Em relação à atividade inovativa, Freeman & Perez (1988 apud FURTADO, 2006, p.183- 184), introduziram em uma teoria integrada, associada à tese das ondas longas, que foi desenvolvida primeiramente por Kondratiev em 1926 e depois, aprofundada por Schumpeter em 1939. Os autores definem diversas modalidades de inovação, quais sejam: Inovações progressivas ou incrementais que se dão de forma regular, com o objetivo de aperfeiçoar os produtos e processos já existentes. Inovações radicais, que são eventos descontínuos. Estas inovações são de natureza diferente das anteriores. Sistemas tecnológicos novos ou constelações de inovações radicais e incrementais, relacionados entre si técnica e economicamente. Mudanças de “paradigma técnico-econômico”, que implica a força de destruição criadora, essência da teoria de ciclos longos. Lundvall (2001) destaca que deveria haver uma atenção maior para a constituição do novo paradigma técnico-econômico, conforme abaixo: Argumentar-se-á que, na elaboração dos novos sistemas tecnológicos visando a enfrentar os problemas inerentes ao aprendizado da economia globalizada, áreas como a social e a ecologia sustentada podem ser a chave para o próximo paradigma técnico-econômico, da mesma forma como o engajamento dos Estados Unidos na Guerra Fria desempenhou papel fundamental na criação da base para a moderna tecnologia de informação global (LUNDVALL, 2005, p.201). Diante da percepção acerca do potencial da inovação para o desenvolvimento, pode-se afirmar que a inovação se caracteriza pela junção entre o novo e o mercado, ou seja, está completamente vinculada ao fato econômico. (SALERNO e KUBOTA, 2008, p.17). Rosenberg (1979, apud FURTADO, 2006, p. 181-182) enfatiza a importância das inovações que são advindas pelos usuários no processo de difusão de inovações.Propõe-se, desta forma, os termos de learning-by-using em complemento ao de learning-by-doing, que resulta da experiência acumulada de produtores. Considera-se um conjunto complexo de transformações que envolvem produtores e usuários, inerentes ao processo de inovação, a saber: Desenvolvimento de habilidades técnicas dos usuários (learning-by-using); Desenvolvimento de habilidades na fabricação de máquinas (learning-by-doing); Complementaridade entre diferentes técnicas dentro de atividades de produção; Aperfeiçoamento em paralelo da velha e da nova tecnologia, e Contexto Institucional. Possas (2006) postulou que a inovação é o elemento preponderante para o caráter evolucionário da concorrência, que por sua vez caracteriza-se na diferença, criação, eliminação e recriação de “novas combinações”. Neste enfoque, a inovação surge como uma tentativa da empresa ganhar força perante a concorrência e passa a ser buscada então, nos segmentos em que a firma considera ter maiores chances de estabelecer vantagens competitivas. Cabe enfatizar ainda que as mudanças provocadas pelas inovações também alteram o que pode ser uma vantagem competitiva e seu peso relativo. Desta forma, inovações adicionais são induzidas e o processo como um todo também está sujeito às decisões tomadas anteriormente. Possas (2006) ainda argumenta: A história importa e é irreversível. Ocorre uma trajetória de dependência (path dependence). Se uma firma introduz uma inovação, não se volta mais ao ambiente que existia antes. Os determinantes mudam. Por isso, é impossível estabelecer leis de mudança. No máximo, pode-se criar cenários plausíveis. Os conhecimentos técnicos, organizacionais e do mercado que as firmas detêm também devem evoluir, pois muitos vão se tornando obsoletos e novas fronteiras devem ser abertas (POSSAS, 2006, p.22 e 23). De acordo com Heller (2006), o conceito de path dependence parte do princípio de que uma sequência de escolhas econômicas é condicionada pela situação criada por escolhas anteriores. De acordo com Nelson (2006) a vinculação entre a ciência e a tecnologia, originada há cerca de cem anos, proporcionou o surgimento de laboratórios de pesquisas como o principal local para o desenvolvimento de inovações (partindo das indústrias químicas e elétricas para as demais). Este tipo de arcabouço institucional, formado por cientistas e engenheiros, passou a se associar a determinadas empresas produtivas. Contudo, nem todas as atividades e investimentos realizados por empresas em inovação são realizados em laboratórios de P&D, sendo que a ocorrência destas atividades pode variar de ramo para ramo. Muito do trabalho inovador, inserido em empresas pequenas ou nas dedicadas a prover produtos para clientes individuais, pode não ser computado como P&D. Porém, mesmo considerando estes casos, e nas atividades de P&D que se baseiam em fontes externas, em grande parte dos ramos, os esforços mais importantes em inovação são desenvolvidos pelas próprias empresas. A partir de meados da década de 1970, iniciaram os debates relacionados à capacitação tecnológica das nações mais desenvolvidas. Estas discussões foram desencadeadas pelo baixo crescimento dos países mais avançados em termos de industrialização, que estavam sendo ultrapassados pelo desenvolvimento intenso do Japão: um país que se consolidava com grande poder econômico e tecnológico. Neste contexto, a atividade inovadora da firma - foco central da análise do progresso técnico da abordagem schumpeteriana - passou a ser concebida por uma visão sistêmica da inovação, a qual considera a ação coordenada de diferentes atores (universidades, empresas, instituições financeiras e de pesquisa e órgãos governamentais de políticas públicas) como aspecto preponderante para a conquista de melhores performances pelos países (SBICCA e PELAEZ, 2006). 2.2 Sistemas de Inovação (SI) A partir deste enfoque, surge então o conceito de Sistema Regional de Inovação, originado a partir dos estudos acerca dos Sistemas Nacionais de Inovação e sobre os aspectos relacionados ao desenvolvimento regional. Considera-se que os sistemas de inovação não podem ser entendidos como fórmulas programadas, uma vez que estes assumem diferenças consideráveis, em virtude de suas especificidades regionais e locais (MARCANTONIO, ANTUNES JUNIOR e PELLEGRIN, 2006). Ainda analisando a importância desse aspecto “específico” para a abordagem dos Sistemas de Inovação, Lastres, Cassiolato e Arroio (2005, p. 36) fazem a seguinte consideração: A abordagem de sistemas de inovação tem sido criticada por sua falta de formalização. (...) argumenta-se que o desenvolvimento dessa abordagem jamais intencionou reproduzir padrões convencionais de formalização. O objetivo central foi o de elaborar um quadro de referência útil para analisar a dinâmica da inovação. Esta abordagem não insere a inovação e os processos de aprendizado em um modelo tipo “camisa-de-força”, desenvolvido com base na experiência específica de um ou de alguns poucos países avançados. Tal modelo dificilmente poderia ser reproduzido em outras economias do Norte, quanto mais do Sul. Dessa forma, o que é tido por alguns como uma desvantagem é visto por nós como importante elemento positivo por fornecer um referencial analítico flexível e útil. Do pondo de vista específico dos países menos desenvolvidos, a utilidade dessa abordagem reside precisamente no fato de que seus principais blocos constituintes – a diversidade de atores sociais, econômicos e políticos, a especificidade dos contextos, a abordagem sistêmica, a observância de relacionamentos micro, meso e macro, etc. – permitem que as especificidades locais sejam consideradas. De particular relevância é que este enfoque enfatiza a importância da contextualização na análise do processo de aprendizagem e capacitação. Aqui reiteramos que, na discussão sobre geração e uso de conhecimentos relevantes para a economia, contexto importa e geopolítica, mais ainda. Segundo Sbicca e Pelaez (2006), um Sistema de Inovação pode ser definido como sendo um conjunto de instituições públicas e privadas que atuam coordenadamente, contribuindo para o desenvolvimento e a difusão de novas tecnologias. Argumenta-se que o SI “é um instrumental de intervenção através do qual os governantes de um país podem criar e implementar políticas de Estado a fim de influenciar o processo inovativo de setores, de regiões ou mesmo de nações” (SBICCA e PELAEZ, 2006, p. 417). Nessa rede de relações, destacam-se alguns atores fundamentais: as universidades e os centros de pesquisa (os quais possuem como objetivo principal a pesquisa básica, que não necessariamente se caracteriza por finalidade produtiva imediata), bem como o Estado e as Empresas (estes últimos orientados a fornecer a pesquisa aplicada, destinada à promoção de soluções ao setor produtivo). (SBICCA e PELAEZ, 2006). Antes, porém, de conceituar acerca dos Sistemas Regionais de Inovação (SRIs), convém destacar os conceitos relacionados aos Sistemas Nacionais de Inovação (SNIs), de onde surgiram os principais trabalhos relacionados ao tema. 2.2.1. Sistemas Nacionais de Inovação (SNIs) Albuquerque (1996), a respeito do Sistema Nacional de Inovação e sua aplicabilidade ao caso brasileiro, propôs a seguinte definição a respeito de um SNI: Sistema Nacional de Inovação é uma construção institucional, produto de uma ação planejada e consciente ou de um somatório de decisões não-planejadas e desarticuladas, que impulsiona o progresso tecnológico em economias capitalistas complexas. Através da construção desse sistema de inovação viabiliza-se a realização de fluxos de informaçãonecessária ao processo de inovação tecnológica (ALBUQUERQUE, 1996, p. 57). O autor ainda define os arranjos institucionais que conformam um SNI, de acordo com a descrição abaixo: Esses arranjos institucionais envolvem as firmas, redes de interação entre empresas, agências governamentais, universidades, institutos de pesquisa, laboratórios de empresas, atividades de cientistas e engenheiros. Arranjos institucionais que se articulam com o sistema educacional, com o setor industrial e empresarial, e também com as instituições financeiras, completando o circuito dos agentes que são responsáveis pela geração, implementação e difusão das inovações (ALBUQUERQUE, 1996, p. 57). Nelson (2006) comparou diversos modelos de Sistemas Nacionais de Inovação. Em seu estudo, o autor delimitou os aspectos mais importantes que deveriam ser considerados para sua análise comparativa entre os países, como: a alocação das atividades de P&D e suas fontes de financiamento; as características das empresas, os papéis desempenhados pelas universidades e as políticas governamentais voltadas para o estímulo e criação da inovação industrial. Comparando os modelos de SI do Brasil e da Coréia, verifica-se que nas décadas de 1960 e 1970, os dois países aceleraram seu desenvolvimento industrial, comandados por fortes regimes autoritários e vultosos esquemas de investimentos financeiros. Mesmo diante destas semelhanças, as duas nações seguiram caminhos diferentes. Na década de 1980, o Brasil já tinha atingindo um nível de industrialização, caracterizado pela Segunda Revolução Industrial i . Por outro lado, a Coréia estava atrasada no que se refere à integração de sua estrutura industrial. Todavia, a Coréia era mais avançada do que o Brasil, no que tange ao âmbito social. A Coréia realizou o seu programa de reforma agrária e se reestruturou educacionalmente. Por outro lado, no Brasil, a estrutura social manteve-se caracterizada pela desigualdade e os investimentos no âmbito social e na reforma agrária não foram realizados (SBICCA e PELAEZ, 2006). Conforme destaca Araújo (2000), os anos 1980 foi marcado por uma mudança de paradigma, no qual a matéria-prima “petróleo” é substituída pelo fator “conhecimento”. Neste sentido, a revolução científica passa a comandar o cenário mundial e novos setores surgem na dinâmica econômica global. A autora detalha a trajetória seguida pelo Brasil neste contexto: No Brasil, não acompanhamos essa locomotiva e passamos a década nos debatendo na crise da dívida, transferindo poupança para o exterior, paralisando o investimento, aprofundando a crise financeira do setor público e convivendo, na segunda metade da década, com a ameaça constante da hiperinflação. Na segunda parte da década, os choques estabilizantes se sucedem, cada vez mais próximos um do outro. O curto prazo domina o cenário nacional. O governo, as famílias, a maioria das empresas entram na lógica do curto prazo. O modelo industrializante das décadas anteriores claudica, a ausência de investimento degrada a infra-estrutura econômica, deteriora os serviços sociais, dificulta que as empresas acompanhem os avanços que seguem se efetivando em outros países (ARAUJO, 2000, p. 22). Já no início dos anos 1990 toda essa situação foi agravada com o congelamento discricionário de todos os ativos financeiros no Primeiro Plano Collor, demandando altas taxas de juros. Com o processo de liberalização econômica, a incerteza em relação ao futuro passou a ser ainda maior, refletindo a crescente pressão competitiva que foi adicionada ao setor industrial e que exacerbou as estratégias defensivas do setor privado. Somente a partir de 1992 que este cenário passou a se alterar, tendo a adoção de medidas, como a redefinição do Estado na economia e suas conseqüentes políticas de privatização e diminuição da regulamentação do governo, como motores para a mudança econômica (SBICCA e PELAEZ, 2006). Araújo (2000) postula que a década de 1990 se inicia com a mesma ótica do curto prazo dos anos anteriores. Inversamente à postura adotada pelos países avançados, o Brasil prosseguiu destruindo, mais do que construindo o seu aparato de produção de Ciência & Tecnologia, essencialmente público. Esta realidade proporcionou maior atraso à nação. A elucidação da trajetória brasileira nas últimas décadas, exposta acima, permitiu a seguinte consideração: Pode-se considerar que no caso brasileiro não houve ainda a formação de um sistema nacional de inovação. Como se viu, dos três elementos fundamentais do SNI apenas universidades e institutos de pesquisa formaram relações promissoras com empresas estatais, se bem que elas acabaram sendo enfraquecidas posteriormente, em razão de alterações nas políticas macroeconômicas. O processo inflacionário presente ao longo da história brasileira aumentou a incerteza já inerente a todo o processo de inovação e prejudicou a tomada de decisões sobre inovações tecnológicas e gerenciais. Não existiu na realidade uma política de C&T articulada com as políticas econômicas adotadas pelo Estado. Estas últimas tiveram como objetivo a redução da inflação e, ainda nos anos 1990, estavam voltadas para o alcance da estabilidade econômica. Inexistiu a articulação com o meio empresarial, necessária para a realização de programas de P&D e para estimular todo o sistema de inovação, de forma a proporcionar resultados em produtividade e competitividade das empresas nacionais e do país (SBICCA e PELAEZ, 2006, p. 442-443). 2.2.2 Sistemas Regionais de Inovação (SRIs) A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE (2009) afirmou sobre a importância que os Sistemas Regionais de Inovação exercem no apoio à implantação de políticas de inovação. Além disso, o desempenho inovativo que deles emerge, pode contribuir para melhorar a economia competitiva global de específicas regiões por meio do crescimento da produtividade das firmas. Importante destacar que os objetivos das políticas regionais de inovação são relevantes para os atores políticos provenientes dos campos de desenvolvimento regional e de Ciência & Tecnologia. De acordo com Marcantônio, Antunes Júnior e Pellegrin (2006), designa-se como Sistema Regional de Inovação (SRI) aquele conjunto de atores que tratam a inovação e a competitividade pela ótica regional. Theis, Matted e Meneghel (2006), num estudo acerca da contribuição da universidade para o desenvolvimento de um sistema regional de inovação na cidade de Blumenau (SC), afirmam que a abordagem acerca dos sistemas de inovação se refere a um sistema social caracterizado pelo aprendizado e interação entre um determinado número de atores. Os autores ainda destacam a importância da universidade Furb [Universidade Regional de Blumenau] na conformação do SRI em Blumenau, a partir da constituição de quatro instâncias que contribuíram fortemente para o desenvolvimento regional: (I) parque tecnológico; (II) pólo de software; (III) pré-incubadora, e (IV) Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Entre as quatro instâncias citadas, apenas o projeto do parque tecnológico logrou em insucesso, devido à falta de articulação entre os governos local e estadual. No entanto, os demais projetos foram bem-sucedidos, com a participação direta da Universidade Furb, contribuindo para que a cidade Blumenau viesse a ser considerada como uma das principais desenvolvedoras de software do país. 2.3 Desenvolvimento Regional e Políticas de Inovação 2.3.1. Desenvolvimento Regional Conforme é salientado por Araújo (2000), as importantes transformações que vem marcando o mercado global nos últimos anos fornecem tendências que se tornam cada vez mais hegemônicas:Dentre elas, a tendência à globalização dos fluxos comerciais, produtivos, tecnológicos e financeiros, sob o comando de verdadeiros “atores globais”. A enorme mobilidade desses fluxos globalizados, auxiliada pela redução crescente dos custos de transportes e pela revolução das comunicações, impõe novos desafios aos atores que operam em espaços locais. A crise dos Estados nacionais é outro elemento importante do presente contexto, ao mesmo tempo em que, com rapidez nunca vista, novos espaços locais (muitos deles urbanos) surgem e se projetam, enquanto outros entram em crise ou se degradam (ARAUJO, 2000, p. 25). Neste contexto, a globalização tem se compatibilizado com movimentos de descentralização, nos quais os espaços locais surgem com papel de destaque e as cidades passam a ser reconhecidas como atores políticos relevantes, atuando como articuladores entre os interesses da sociedade civil, o setor privado e diferentes instâncias do Estado. Esta tendência descentralizadora possui como fundamento valorizar espaços locais como espaços de poder, embora não seja essa a tradição brasileira (ARAUJO, 2000). Marcantonio, Antunes Júnior e Pellegrin (2006) em seu estudo acerca dos modelos de inserção de Ciência, Tecnologia e Inovação no desenvolvimento regional analisam as constantes transformações que o ambiente mercadológico nacional tem sofrido nas últimas duas décadas. Neste contexto de transformações intensas, os autores enfatizam a idéia de Casarotto (1998) de que, para a promoção do desenvolvimento, três fenômenos precisam ser destacados: (I) globalização/mundialização da economia; (II) regionalização social, e (III) descentralização política. Vale citar que os dois primeiros fatores são conflitantes entre si, uma vez que a globalização promove o acirramento da competição em âmbito mundial, enquanto a regionalização implica em estimular a articulação entre diversos atores, visando tornar as empresas mais competitivas regionalmente. Já o processo de descentralização política busca estimular e desenvolver, a partir do estabelecimento de objetivos comuns, a formação de redes para cooperação entre atores de diferentes realidades locais e regionais. Casarotto (1998 apud MARCANTONIO, ANTUNES JUNIOR e PELLEGRIN, 2006, p.1) argumenta que uma coordenação territorial eficaz deve considerar: (a) diversos atores em torno de um propósito; (b) envolvimento dos mesmos na fase de concepção do projeto; (c) realização de projetos direcionados ao desenvolvimento local, e (d) existência de um gestor que represente as intenções dos atores envolvidos ii . De acordo com Johnson e Lundvall (2005), os países em desenvolvimento se deparam com imensos desafios, exigindo que eles observem que a elaboração de estratégias deve abranger o aumento da competitividade internacionalmente de forma social e ecologicamente sustentável. Neste contexto surge a preocupação com o desenvolvimento do capital tangível, que pode ser ameaçado pela negligência conferida à sustentabilidade ambiental. De outra forma, a utilização eficiente do capital intelectual possui dependência do capital social. “Assim não é sustentável uma estratégia de desenvolvimento que focaliza somente o capital produtivo e o intelectual” (JOHNSON e LUNDVALL, 2005, p. 88). Portanto, a acumulação do capital produtivo não deve desgastar o capital natural, tampouco o estímulo à acumulação do capital intelectual deve prejudicar a existência do capital social. Nesse sentindo é que Lastres, Cassiolato e Arroio (2005) argumentam que a capacidade de inovação é bastante influenciada pelos aspectos inerentes ao capital social iii . Isto porque o sentimento de pertencimento de um grupo, que estimula a constante interação e cooperação dentro de uma cultura local, são fatores que contribuem para a ocorrência da inovação. Diante das inúmeras transformações impostas pelo novo contexto econômico mundial, o aprendizado institucional, juntamente com o capital social, tornam-se aspectos de extrema relevância para os países em desenvolvimento e a inovação exerce um papel de estímulo à sustentabilidade, conforme salientado por Johnson e Lundvall (2005, p. 88-89): A inovação pode ter um papel positivo no apoio à sustentabilidade. No que diz respeito ao desenvolvimento de substitutos para recursos naturalmente escassos, a inovação técnica pode, por exemplo, ajudar a lidar com o fato de que o capital natural nem sempre pode ser reproduzido. De forma similar, a inovação e o redesenho institucional – por exemplo, visando a reduzir a corrupção e a aumentar a participação popular na implementação de programas de desenvolvimento – podem contribuir para superar uma crise quando o capital social é frágil. Em ambos os casos, é importante observar que a atuação desimpedida das forças de mercado enfraquecerá as bases do crescimento econômico. Tanto o capital social quanto o natural serão destruídos. 2.3.2 Políticas de Inovação De acordo com Lundvall (2001), os formuladores de políticas estão cada vez mais próximos da teoria econômica, tendo em vista que, ao longo da década de 1990, houve a transição do foco da política científica com objetivos sociais amplos, para o foco da política de inovações e o seu impacto no desempenho da economia. “Por isso é útil cotejar as implicações políticas de diferentes abordagens teóricas com a inovação e o aprendizado” (LUNDVALL, 2001. p. 201). Em relação à crescente importância do papel do conhecimento e da transferência deste, na captação do conhecimento global para a criação do desenvolvimento regional, faz-se necessário que os governos se articulem em torno de estratégias nacionais específicas que visem incluir políticas voltadas à absorção e transmissão do conhecimento (JOHNSON & LUNDVALL, 2005). Ainda segundo Lundvall (2001), como o processo de aprendizagem é socialmente vinculado, as políticas de inovação também devem estar voltadas para a qualidade e interação entre pessoas e organizações, tendo em vista que a busca pela competência por parte das empresas se torna um objetivo legítimo. Petit (2005) ainda considerou que importantes mudanças estruturais realizadas durante muitos anos e específicas de cada país são objeto das novas políticas. Essas mudanças são: (I) difusão das TICs (tecnologias de informação e comunicação); (II) investimentos em educação efetuados pelos países, especialmente após a 2ª Guerra Mundial, e (III) crescente envolvimento internacional entre países, impulsionado pela liberalização do comércio e pela expansão do fluxo entre fronteiras de intangíveis. Alguns exemplos de políticas podem ser citados para cada uma dessas vertentes descritas acima: (I) difusão das TICs é de extrema importância assegurar que pequenas empresas e consumidores menos favorecidos possam tirar proveito das novas tecnologias. Uma opção é ligar a difusão das TICs com a educação da força de trabalho. (II) investimentos em educação Petit (2005, p.143) considera: A educação tornou-se um dado social importante, isto é, um objetivo importante de realização pessoal para homens e mulheres. A educação gera competências para usar equipamentos e serviços associados às TICs. Em um ambiente em constante mudança, um objetivo importante para as políticas públicas é evitar uma obsolescência muito rápida desse conhecimento. Outro objetivo é seguir e tomar parte no desenvolvimento dessas tecnologias, o que requer uma boa interação entre universidades e empresas e, mais especificamente, entre a pesquisa pública e a privada. (III) internacionalização entre países O processo de desregulamentação desde a década de 1980 foi a primeira fase das transformações que ainda irão persistir:Os Estados Nações têm agora em suas agendas de política a coordenação e a harmonização das condições para acesso e uso da ampla rede logística constituída por tais atividades. Essa agenda inclui o desenho de novos regulamentos que se fazem necessários em razão do desenvolvimento das transações de intangíveis, e nesse quesito o tema central é o direito de propriedade intelectual (PETIT, 2005, p. 143) Freeman (2005) ainda considerou que as novas ondas de mudanças técnicas e seus condicionantes são pontos de partidas para o desenvolvimento de políticas tecnológicas e econômicas efetivas, tanto na esfera pública, quanto na privada. Contudo, faz-se necessário o constante ajustamento e reformulação dessas políticas, na medida em que forem impostas mais mudanças. Ao mesmo tempo, a elaboração de políticas demandará informação, conhecimento e compreensão dos sistemas relevantes, além de se ater para “a possível necessidade de regulação política para limitar ou prevenir conseqüências sociais indesejáveis de qualquer nova tecnologia” (FREEMAN, 2005, p. 60). Lundvall (2001) chamou a atenção para a necessidade de um espectro mais amplo de políticas associar-se à estratégia de acompanhar os desafios impostos pela economia do aprendizado. Diante disso, os objetivos principais relacionados às políticas de inovação, devem contribuir para: (a) capacitação das empresas e de firmas voltadas ao conhecimento da população em geral e aprimoramento humano; (b) novas formas de organização; (c) formação de redes, bem como aos novos papéis a serem desempenhados (d) pelas empresas de serviços e (e) pelas universidades, como disseminadoras do aprendizado. Além disso, uma alternativa que se coloca é implantar políticas de inovação que tenham por objetivo sanar problemas causados pela aceleração da transformação. Os dois principais problemas apontados por Lundvall (2001) são a polarização social e regional e os riscos ambientais causados pela rápida transformação. Embora o aspecto de polarização social e regional não seja um fenômeno novo na história do capitalismo, ele se dá atualmente, devido às diferenças enraizadas ao longo do tempo no campo da educação e capacitação. Por isso é que os sistemas educacionais deveriam ser adaptados à realidade de cada contexto e deveriam ser formuladas políticas com vistas a estimular o acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação de regiões marginalizadas. No tocante aos riscos ambientais causados pela rápida transformação, precisam existir maiores esforços transdisciplinares e multitecnológicos, que exijam maior conhecimento dos grupos e interações existentes. 2.3.3. Políticas de Sistemas de Inovação Conforme salientado por Lastres, Cassiolato e Arroio (2005) a agenda para políticas públicas e privadas de longo prazo tornou-se mais extensa e complexa. Em complemento, as condições nacionais e locais podem levar a inúmeros caminhos, que demandam uma multiplicidade de alternativas, e estas podem assumir diferentes formas e contextos. Tudo isso implica não haver apenas uma solução e receita de políticas. Além do mais, a consolidação do novo regime de acumulação financeira, resulta de mudanças político- institucionais que conduziram os processos de re-regulamentação, privatização e liberalização em todo o globo. Os autores ainda enfatizam a importância da dimensão nacional dentro da abordagem dos sistemas de inovação, que pressupõe que a efetividade das políticas locais é reforçada por sua articulação com as estratégias nacionais e até supranacionais. Este argumento é contrário à suposição exagerada do aumento do papel das instâncias locais e do chamado terceiro setor, em detrimento da importância dada ao governo nacional. Lastres, Cassiolato e Arroio (2005), em sua análise acerca da importância dos contextos social, político e institucional, reforçam: O processo de inovação é cumulativo, depende de capacidades endógenas e baseia-se em conhecimentos tácitos. A capacidade inovativa de um país ou região decorre das relações entre os atores econômicos, políticos e sociais. Reflete condições culturais e institucionais, historicamente definidas. Nesse sentido, a abordagem de sistemas nacionais de inovação reforça a tese de que a geração de conhecimentos e tecnologias é localizada e está restrita às fronteiras nacionais e regionais, o que se contrapõe à idéia de um suposto tecnoglobalismo. A pretensa globalização do novo paradigma tecnoeconômico mascara a existência de uma grande diversidade mundial de soluções locais e nacionais para problemas econômicos e sociais (LASTRES, CASSIOLATO e ARROIO, 2005, p. 32). Adicionalmente, para propor políticas e compreender a dinâmica do desenvolvimento industrial e tecnológico, “é fundamental considerar e atuar sobre os condicionantes do quadro macroeconômico, político, institucional e financeiro específico de cada país” (LASTRES, CASSIOLATO e ARROIO, 2005, p. 40). Convém reforçar ainda a tese proposta pelos autores de que a consideração de condições gerais para implementar políticas se deterioram de forma significativa e que tal tarefa não é simples, uma vez que lida com situações de alta complexidade. Johnson e Lundvall (2005) postulam o fim da hegemonia do Consenso de Washington iv , no tocante às políticas de desenvolvimento. A ênfase recaia sobre o equilíbrio macroeconômico e a correção de preços relativos, além de ter o objetivo de definir uma estratégia de desenvolvimento do tipo “best practices”. Embora as considerações apontadas pelo Consenso de Washington sejam relevantes, elas devem ser complementadas com inovações institucionais. “Quanto mais se enfatizam as instituições, o conhecimento e as relações entre elas, torna-se mais óbvio que existem diferentes caminhos de desenvolvimento e que cada país, até certo ponto, tem de desenvolver sua própria estratégia” (JOHNSON e LUNDVALL, 2005, p. 84). No que se refere à crescente importância do papel do conhecimento e da transferência deste na captação do conhecimento global para a criação do desenvolvimento regional, faz-se necessário que os governos se articulem em torno de estratégias nacionais específicas que visem incluir políticas voltadas à absorção e transmissão do conhecimento. Ainda conforme levantado por Johnson e Lundvall (2005), muitos estudos relacionados aos sistemas de inovação mostram a existência de diferenças marcantes entre eles, no tocante a padrões de especialização e estrutura institucional, revelando que esses contrastes se originam de profundas raízes históricas. Diante deste argumento, os autores constroem uma visão acerca do que seria necessário elaborar para obter uma boa estratégia de desenvolvimento, baseada na abordagem de sistemas de inovação: Uma estratégia de desenvolvimento baseada em uma abordagem de sistemas nacionais de inovação teria como ponto de partida uma análise de todas as partes da economia que contribuem para o desenvolvimento de competências e para a inovação. Focalizaria as redes e as sinergias entre as partes que compõem o sistema como um todo e, particularmente, tentaria identificar os pontos nodais e as redes cruciais de estímulo e aprendizado. Tentaria também identificar as redes e interações ausentes, reduzindo o desempenho inovativo da economia. Universidades excelentes e um bom treinamento acadêmico são pouco relevantes se o setor privado não tem conexões, diretas ou indiretas, com o sistema universitário. Se as empresas experimentam grandes dificuldades em formar redes e em cooperar para produzir e utilizar o conhecimento, pode ser de pouca utilidade estimular o desenvolvimento de competências no âmbito de uma única empresa. O antigo conceito gerencialde análise de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças pode ser utilizado aqui. As oportunidades e as ameaças estão relacionadas à potencial equiparação com o desenvolvimento global, enquanto forças e fraquezas incluem tanto a localização de aglomerações produtivas fortes, quanto as conexões ausentes no sistema. É importante considerar as rápidas mudanças no ambiente global e, portanto, elementos de prospectiva tecnológica e social que podem auxiliar na localização de requisitos associados à quebra de antigos relacionamentos e no estabelecimento de novas interações (JOHNSON e LUNDVALL, 2005, p. 100). Admite-se que quanto menor for a abrangência territorial e política de um Sistema Regional de Inovação, maior serão as chances de geração de políticas de inovação que possam atender as características intrínsecas de cada região. “Políticas regionais de inovação podem ser estabelecidas a partir de características locais, levando em consideração sua inserção nacional e internacional” (MARCANTONIO, ANTUNES JUNIOR e PELLEGRIN, 2006, p. 4). 4. METODOLOGIA 4.1. Caracterização da Pesquisa No que se refere à presente pesquisa, considerou-se a utilização da abordagem qualitativa. Quanto aos fins, caracterizou-se como Pesquisa Descritiva. Em relação aos meios, foi utilizada a metodologia de um Estudo de Caso. O instrumento de pesquisa utilizado foi o método de entrevista semi-estruturada, que tem por finalidade obter um maior grau de liberdade, em detrimento de uma entrevista estruturada que visa à objetividade. Quanto ao procedimento de análise de dados foi utilizado o método denominado Configuração Alternativa da Hermenêutica em Profundidade, elaborada por Pedro Demo (2001). Este procedimento possibilita abarcar também fases anteriores da pesquisa, como por exemplo, a utilização dos conhecimentos obtidos por meio do referencial teórico e da formação histórica dos entrevistados na interpretação dos resultados. 5. ESTUDO DE CASO De acordo com a Revista CODAP (2010), o Consórcio Público para o Desenvolvimento do Alto Paraopeba foi constituído oficialmente em 2006, com base na legislação federal que regulamentou a formação de parcerias dessa natureza (Lei 11.107/05). No entanto, a história da entidade teve seu início em 2003, quando representantes dos poderes públicos locais começaram a articular um projeto inovador para as cidades localizadas na referida Região. O principal interesse dos prefeitos e políticos que participavam das discussões era buscar uma solução para a integração regional dos municípios que tinham muito em comum, mas se distanciavam em termos de administração pública e que por diversas vezes demonstravam indisposição de ordem político-partidária entre si (REVISTA CODAP, 2006). Atualmente, participam do Consórcio Público sete municípios, a saber: Belo Vale, Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Entre Rios de Minas, Jeceaba, Ouro Branco e São Brás do Suaçuí. Estes municípios estão localizados na Região denominada Alto Paraopeba, no Estado de Minas Gerais, e abrigam suas atividades em um entorno reconhecido essencialmente por suas ricas características minerais, que lhe conferem enormes oportunidades de crescimento econômico. Daí pode se ressaltar a relevante dependência dos municípios da região em relação à indústria do ferro e do aço. A Figura 1 demonstra a proximidade de localização entre os municípios supracitados. Pode-se afirmar que os resultados da parceria entre os municípios por meio do Consórcio Público, apareceram rapidamente, a partir dos avanços observados nas reuniões, além do Governo Estadual ter sido receptivo à idéia e da intenção do Governo Federal em transformar os consórcios tradicionais em públicos. As dificuldades, entretanto, não deixaram de existir, pois algumas lideranças acreditavam que o consórcio era fruto de um partido exclusivamente. Esta percepção foi sendo aos poucos modificada, quando as lideranças passaram a perceber que a parceria não era de natureza partidária e sim para promover o desenvolvimento regional integrado, na linha de políticas públicas, angariando recursos, promovendo um ordenamento territorial e auxiliando em programas e projetos para a melhoria da formação profissional dos trabalhadores, entre outros aspectos (REVISTA CODAP, 2006). No Referencial Teórico, fez-se referência à importância da conformação de arranjos institucionais que dessem estabilidade às relações entre os atores participantes de um SRI. Conforme salientado por Albuquerque (1996), esses quadros institucionais abrangem as firmas, redes de empresas, governo, universidades, institutos de pesquisa, bem como atividades de cientistas e engenheiros que se articulam com os sistemas educacional, governamental, empresarial e financeiro, formando um conjunto de agentes que são responsáveis pelo desenvolvimento de inovações. Neste sentido, a conformação do Consórcio Público para o desenvolvimento do Alto Paraopeba demonstra ser um importante passo nessa direção, pois cria o marco legal e político institucional, capaz de organizar a ação conjunta dos setores públicos municipais em prol da constituição e fortalecimento do Sistema Regional de Inovação na região do Alto Paraopeba. Contudo, este tipo de arranjo institucional é dependente da cooperação e da solidariedade entre as partes envolvidas. A descontinuidade administrativa nos poderes públicos municipais, neste contexto, torna-se uma grande ameaça ao arranjo institucional proposto pela estratégia dos consórcios públicos. Esta ameaça pode ser minimizada, no caso dos SRIs, pela valorização da participação de atores não públicos, como as empresas e a sociedade civil organizada, além das universidades. Adicionalmente, ações estruturantes, ainda no que diz respeito aos SRIs, a ampliação da eficiência dos sistemas de educação e maior aproximação entre empresas, centros de pesquisa e instituições de ensino superior podem proporcionar maior perenidade ao arranjo como um todo e ao Sistema de Inovação em particular. 6. SÍNTESE DOS RESULTADOS ENCONTRADOS Por meio dos resultados encontrados foi possível observar, entre inúmeras questões relevantes, a importância que o papel do Consórcio Público exerce na Região do Alto Paraopeba, na visão dos entrevistados. Alguns salientaram que a simples existência do Consórcio Público e suas recorrentes ações, já configuram em uma inovação. Importante salientar as variadas visões que os entrevistados expressaram sobre Inovação. Enquanto alguns respondentes consideraram a inovação num sentindo amplo, outros vincularam o conceito de forma restrita ao desenvolvimento técnico e ao campo do conhecimento científico. Merecem destaques algumas forças e oportunidades visualizadas, em relação aos municípios que formam o Consórcio Público: A grande maioria dos entrevistados considerou a possibilidade de criação de uma cadeia de fornecedores que agregue valor às atividades minero-siderúrgicas na região. Consolidação da Agenda 21v como processo de estímulo ao diálogo entre os atores, com o objetivo de trazer bons resultados para o desenvolvimento regional. Foi inserida a visão de que as iniciativas tomadas por esse tipo de cooperação podem contribuir, no futuro, para que a atividade exploratória da região seja melhor recebida pela sociedade local, tendo em vista as ações sustentáveis que são relevadas pela Agenda 21. Proposição de iniciativas voltadas ao fortalecimento e competitividade da agricultura familiar, em detrimento da forte valorização conferida ao aspecto social do trabalho do campo. Tal argumento pode ser concebido como uma excelente fonte para a introdução de novas vocações regionais. Outrasáreas foram citadas neste sentido: turismo voltado para as riquezas ecológicas, culturais e religiosas; atendimento às demandas tecnológicas das grandes empresas; aperfeiçoamento do setor de saúde de Conselheiro Lafaiete, e criação de uma infra-estrutura de serviços para a cadeia produtiva do aço de manutenção e de fabricação de equipamentos para a mineração. A Universidade local foi citada como possível indutora da cultura do empreendedorismo nos jovens da comunidade, a fim de existir um espírito empreendedor e assunção de um papel de articulação em torno de formação de parcerias entre os diversos atores, em função da credibilidade que a entidade possui por se tratar de um agente autônomo e imune às influências políticas. Contribuição da Metodologia DRS (Desenvolvimento Regional Sustentável), originada de uma Instituição Financeira, para o fortalecimento da competitividade e introdução de inovações na Região do Alto Paraopeba. A seguir, serão relacionadas as principais ameaças e fraquezas inerentes aos municípios que formam o Consórcio Público: Alto déficit educacional por parte dos estudantes locais, necessitando de aperfeiçoamento do ensino básico. Necessidade de ter medidas compensatórias, devido aos prejuízos ao meio ambiente ocasionados pelas atividades minerais exploratórias. Importância de uma maior integração entre as três esferas de poder: Local, Estadual e Federal, uma vez que existe incompatibilidade política entre as três instâncias. Baixa capacidade da sociedade da região para aproveitar os vultosos investimentos que já estão sendo injetados e os que ainda estão previstos a serem concretizados. A resistência à mudança e o modelo mental por parte da população local, bem como o estilo de liderança política praticada na região podem ser entraves significativos à constituição de um Sistema Regional de Inovação. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os principais resultados alcançados com esta pesquisa indicam que a constituição de um Sistema de Inovação na região será de grande utilidade, especialmente no que se refere à introdução de novas vocações econômicas entre os municípios que formam o Consórcio Público para o Desenvolvimento do Alto Paraopeba, tendo em vista a grande predominância das atividades de mineração e siderurgia no território. Além disso, pode-se afirmar que a cooperação entre atores, fator fundamental para a conformação de um Sistema Regional de Inovação é algo que já iniciou entre os municípios, tendo o Consórcio Público como um dos principais pontos nodais neste contexto. No entanto, existiram importantes limitações nesta pesquisa, relacionadas à contextualização das trajetórias sociais e históricas dos municípios que formam o Consórcio Público e, principalmente, faltou uma análise mais aprofundada da economia e sociedade da região, visando aprimorar o estudo dos vértices do Sistema Regional de Inovação e a necessidade de ampliar o número de atores a serem entrevistados. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, E. M.: “Sistema Nacional de Inovação no Brasil: uma análise introdutória a partir de dados disponíveis sobre a ciência e tecnologia”. Revista de Economia Política, vol.16, nº 3 (63), julho-setembro, 1996. ARAUJO, T.B.: “Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências”. Rio de Janeiro: Revan: Fase, 2000. BRITTO, J.: “Cooperação interindustrial e redes de empresas”. In KUPFER, D. & HASENCLEVER, L.: Economia Industrial: fundamentos teóricos e práticas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2002. Cap 15. FREEMAN, C.: “Um pouso forçado para a “Nova Economia”? A Tecnologia da Informação e o Sistema Nacional de Inovação dos Estados Unidos”. In LASTRES, H.M.M., CASSIOLATO, J.E., ARROIO, A. Conhecimento, Sistemas de Inovação e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Contraponto, 2005. FURTADO, A.: “Difusão Tecnológica: um debate superado?” In PELAEZ, V. & SZMRECSANYI, T.; Organizadores. Economia da Inovação Tecnológica. São Paulo: Editora Hucitec: Ordem dos Economistas do Brasil, 2006. HASENCLEVER, L. & TIGRE, P.: “Estratégias de Inovação”. In KUPFER, D. & HASENCLEVER, L.: Economia Industrial: fundamentos teóricos e práticas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2002. HELLER, C.: “Path-dependence, Lock-in e Inércia”. In PELAEZ, V. & SZMRECSANYI, T.; Organizadores. Economia da Inovação Tecnológica. São Paulo: Editora Hucitec: Ordem dos Economistas do Brasil, 2006. JOHNSON, B., LUNDVALL, B.A.: “Promovendo sistemas de inovação como resposta à economia do aprendizado crescentemente globalizada”. In LASTRES, H. M., CASSIOLATO, J.E., ARROIO, A. Conhecimento, Sistemas de Inovação e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Contraponto, 2005. LASTRES, H. M., CASSIOLATO, J.E., ARROIO, A.: “Sistemas de Inovação e desenvolvimento: mitos e realidades da economia do conhecimento global”. In LASTRES, H. M., CASSIOLATO, J.E., ARROIO, A. Conhecimento, Sistemas de Inovação e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Contraponto, 2005. LUNDVALL, B.A.: “Políticas de Inovação na Economia do Aprendizado”. Primeira Abordagem na contribuição ao projeto “Produtividade Local por Amostragem Setorial e Sistemas de Inovação” no Brasil; novas políticas industriais e tecnológicas (1º de agosto de 2000). Revista Parcerias Estratégicas – número 10 – Março de 2001. MARCANTONIO, M. I. P. ; ANTUNES JUNIOR, J. A. V. ; PELLEGRIN, I. . “Modelo de Inserção de Ciência Tecnologia e Inovação no Desenvolvimento Regional algumas considerações: Conceituais e Práticas”. Legislação e Textos para leitura e análise - Escola de Governo. 2006 NELSON, R. R.: “As fontes do crescimento econômico”. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2006. OCDE: “OECD Reviews of Regional Innovation”. Piedmont, Italy. 2009. PETIT, P.: “Estrutura e desenvolvimento de uma economia baseada no conhecimento: implicações para políticas”. In LASTRES, H. M., CASSIOLATO, J.E., ARROIO, A. Conhecimento, Sistemas de Inovação e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Contraponto, 2005. POSSAS, M. L.: “Concorrência Schumpeteriana”. In KUPFER, D. & HASENCLEVER, L.: Economia Industrial: fundamentos teóricos e práticas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2002. Cap 17. POSSAS, S.: “Concorrência e Inovação”. In PELAEZ, V. & SZMRECSANYI, T.; Organizadores. Economia da Inovação Tecnológica. São Paulo: Editora Hucitec: Ordem dos Economistas do Brasil, 2006. REVISTA CODAP. Veículo Informativo do Consórcio Público para o Desenvolvimento do Alto Paraopeba. Maio de 2010. SALERNO, M. S., KUBOTA, L.C.: “Estado e Inovação”. Políticas de Incentivo à Inovação Tecnológica no Brasil. Brasília: IPEA, 2008. Cap. 1. SBICCA, A.; PELAEZ, V.; “Sistemas de Inovação”. In PELAEZ. V. & SZMRECSANYI. T.; Organizadores. Economia da Inovação Tecnológica. São Paulo: Editora Hucitec: Ordem dos Economistas do Brasil, 2006. SCHUMPETER, J. A. “Teoria do Desenvolvimento Econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico”. São Paulo: Abril Cultural, 1982. THEIS, I. M.; MATTED, M. A.; MENEGHEL, S. M.: “A contribuição da universidade para sistemas regionais de inovação: o caso da Furb”. E & G Economia e Gestão. Belo Horizonte: Editora PucMinas, janeiro de 2006. FIGURA 1 – Municípios participantes do Consórcio Público para o desenvolvimento do Alto Paraopeba Fonte: Adaptado de Barbieri e Ruiz (2010). i Modelo baseado na utilização de energia elétrica, motores de combustão interna, aço e química pesada e, ainda, com departamentos de P&D nas firmas (SBICCA & PELAEZ, 2006) ii Grifo dado pela autora deste trabalho. iii Capital Social pode ser entendidocomo um conjunto de hábitos e normas sociais que interferem na confiança, interação e aprendizado de um sistema social (JOHNSON e LUNDVALL, 2005). iv De acordo com os autores Johnson e Lundvall (2005, p. 84) o Consenso de Washington adotava uma visão de desenvolvimento orientado pelo mercado, que emergiu na década de 1980 e desdobrou-se em políticas recomendadas por organismos internacionais como a OECD, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. v A Agenda 21 é um documento mundial, criado em 1992 na Conferência Eco-92, que contou com a participação de cerca de 180 países. É uma carta de intenções que visa, por meio da participação dos vários setores da sociedade, conciliar métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
Compartilhar