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A PESSOA COM AUTISMO: o caso Temple Grandin sob a ótica da Logoterapia e Análise Existencial FACULDADE SOCIAL DA BAHIA CURSO DE PSICOLOGIA Teorias e técnicas psicoterápicas III Docente: Tiago Silva DISCENTES: Cristiane Santos Gildeon Bispo Leila Gil Patrícia Silva Paulo Lima TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO (TEA) O autismo é um transtorno complexo do desenvolvimento que envolve atrasos nas áreas de interação social e linguagem, incluindo uma ampla gama de sintomas emocionais, cognitivos, motores e sensoriais (Greenspan; Wieder, 2006). VISÃO HISTÓRICA DO AUTISMO Expressão utilizada pela primeira vez em 1910, pelo suíço Eugen Bleuler. Esquizofrenia infantil - caracterizava grupo de crianças que estavam fora da realidade e viviam predominantemente interiorizada sem se preocupar com o mundo externo. 1943 – Leo Kanner publicou artigo “Alterações Autistas do Contato Afetivo. VISÃO HISTÓRICA DO AUTISMO Descreve caso de onze crianças por ele estudadas e que apresentavam características de distúrbios de desenvolvimento. Kanner e Asperger descobre a síndrome do autismo. Asperger – Aspecto educacional Kanner – Questões clínicas DESCRIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO AUTISMO CID-10 – Transtornos Globais de Desenvolvimento. DSM-V – Utiliza-se a denominação Transtorno do Espectro do Autismo. PREJUÍZOS NO DOMÍNIO COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO SOCIAL 1. Déficits de reciprocidade sócio-emocional; 2. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para as interações sociais; 3. Déficits em desenvolver, manter e entender relacionamentos. DOMÍNIO COMPORTAMENTOS, INTERESSES E ATIVIDADES RESTRITOS E ESTEREOTIPADOS. 1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala repetitivos ou estereotipados; 2. Insistência em uniformidade, aderência inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal; DOMÍNIO COMPORTAMENTOS, INTERESSES E ATIVIDADES RESTRITOS E ESTEREOTIPADOS. 3. Interesses altamente restritos e fixos, anormais em intensidade ou foco; 4. Hiper ou hipossensibilidade à estimulação sensorial ou interesse incomum em aspectos sensoriais do ambiente. LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL Fundada pelo neuropsiquiatra, austríaco Viktor Emil Frankl (1905-1997). Em meio ao contexto da Segunda Guerra Mundial, Frankl encontrou a compreensão de que a existência humana é voltada para a vontade do sentido. “...quem tiver um por-que-viver suporta quase sempre o como viver.” (Viktor Frankl) LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL Escola psicológica de caráter fenomenológico, existencial e humanista. “Psicoterapia do Sentido da Vida” - Terceira Escola Vienense de Psicoterapia. (Ao lado Psicanálise de Freud e da psicologia individual de Adler) LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL "(...) a logoterapia se situa (...) no que concerne à doutrina, em uma oposição didática à psicoterapia, tal como esta tem sido praticada até hoje. Não pretende, contudo, ser um substituto da psicoterapia, no sentido estrito do termo. É impossível colocar a logoterapia no lugar da psicoterapia; é necessário, apenas, complementar a psicoterapia com a logoterapia" (Frankl, 1978, pp. 198-199). LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL A finalidade da Logoterapia é incluir o logos na psicoterapia: o logos propõe introduzir na psicoterapia uma reflexão sobre o sentido e os valores. LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL A finalidade da Análise Existencial é incluir a existência à psicoterapia: a existência traria a este campo de atuação do psicoterapeuta uma reflexão sobre a liberdade e a responsabilidade. LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL “Sentido da vida”: Constitui a pedra angular sobre a qual se alicerça a visão de mundo subjacente à Logoterapia. Um dos temas principais na produção intelectual de Frankl. LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL A Logoterapia se baseia no conceito de que a vida possui um sentido: Logos: sentido / terapia: cura Sentidos: São respostas únicas e singulares, não podem ser separados de seu contexto e não podem ser transmitidos pela tradição. LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL Sentidos: Frankl afirma que a vida sempre tem sentido, o qual está no mundo, sendo simplesmente necessário que este sentido seja "descoberto" pela pessoa. LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL Considera que o ser humano possui em si mesmo a possibilidade de dar um significado à própria existência, tendo o psicoterapeuta a tarefa de auxiliar o paciente no empenho e na procura do sentido da própria existência. LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL Visa ampliar a capacidade da pessoa de perceber todas as possibilidades existentes de sentido em sua vida, escolhendo para realizar aquelas que considera mais significativas. LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL Amplia a visão do ser humano como um ser único, responsável e capaz de se posicionar diante dos condicionamentos da vida. A liberdade e a responsabilidade diante da vida constituem o eixo principal da antropologia frankliana. O importante é que a liberdade tenha direção transcendente: não só “liberdade de”, mas “liberdade para”. LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL Frankl compreendia que os seres humanos não deveriam ser reduzidos à busca de prazer (Psicanálise) e nem pela vontade de poder (psicologia individual, cognitiva e comportamental). Para o autor, a neurose coletiva e as patologias de toda ordem estão relacionadas à falta de sentido e, por ressonância, ao vazio existencial aberto por ela. LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL O homem de hoje, ao contrário do que ocorria nos tempos de Sigmund Freud, já não é sexualmente frustrado, mas existencialmente frustrado. E hoje sofre menos do que no tempo de Alfred Adler, de um sentimento de inferioridade do que de um sentimento de falta de sentido, precedido por um sentimento de vazio, de um vazio existencial para sua vida (FRANKL,1991, p. 155). VISÃO DE HOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL A abordagem ontológica do ser humano aprofundada por Frankl na Logoterapia, tem por fundamento compreender homens e mulheres em sua totalidade (bio-psico-sócio- espiritual). VISÃO DE HOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL SUSTENTADA POR 03 PILARES: 1. LIBERDADE DE VONTADE 2. VONTADE DE SENTIDO 3. SENTIDO DA VIDA VISÃO DE HOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1. LIBERDADE DE VONTADE Livre arbítrio, indispensável ao ser humano. Homem visto em sua totalidade pode ser condicionado, mas não determinado. Crítica ao condicionamento (comportamental) e as pulsões (Psicanálise). VISÃO DE HOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 1. LIBERDADE DE VONTADE O homem não é livre "de" pulsões, condicionamentos, herança genética, mundo circundante, mas é livre "para" escolher e se posicionar diante destes elementos. A liberdade está associada a responsabilidade. VISÃO DE HOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 2. VONTADE DE SENTIDO Inerente à existência humana. Motivação primária interior que orienta para a realização do sentido e exterior que se refere ao caráter significativo da situação. VISÃO DE HOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 3. SENTIDO DA VIDA Expressão de que a vida tem um sentido, incondicional Nunca cessam. embora sejam mutáveis por estarem relacionados às situações VISÃO DE HOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL O ser humano encontra sentido na vida através da realização de valores: 01 – VALORES DE CRIAÇÃO 02 – VALORES VIVENCIAIS OU EXPERIENCIAIS 03 – VALORES DE ATITUDES OU ATITUDINAIS VISÃO DEHOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 01 - VALORES DE CRIAÇÃO Relacionados à descoberta de sentido no criar uma obra ou no completar uma ação VISÃO DE HOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 02 - VALORES VIVENCIAIS OU EXPERIENCIAL: Relacionados à experiência de algo ou no encontrar alguém. VISÃO DE HOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL 03 - VALORES DE ATITUDES OU ATITUDINAIS: Quando não há possibilidade de criação, nem de experienciar algo que vem do mundo. O que importa não é mudar a situação, quando ela não pode ser mudada, mas mudar a si mesmo, em favor de uma atitude afirmativa da vida. VISÃO DE HOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL Opções de posicionamentos do homem diante de suas contingências. AUTODISTANCIAMENTO: Capacidade humana de se distanciar de qualquer condição, ou de si mesmo, escolhendo uma atitude, se posicionando. (heroísmo – campos de concentração; humor) VISÃO DE HOMEM DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL Opções de posicionamentos do homem diante de suas contingências. AUTOTRANSCENDÊNCIA: Capacidade humana de transcender a si mesmo tanto em direção a um outro ser (amor), quanto em busca de um sentido, através do órgão do sentido (consciência). VISÃO DE HOMEM: Antropologia e Ontologia Dimensional 1ª LEI: Quando um mesmo fenômeno é projetado de sua dimensão particular em dimensões diferentes, mais baixas do que a sua própria, as figuras que aparecerão em cada plano serão contraditórias entre si. VISÃO DE HOMEM: Antropologia e Ontologia Dimensional 2ª LEI: Quando diferentes fenômenos são projetados de suas dimensões particulares em uma dimensão diferente, mais baixa do que a sua própria, as figuras que aparecerão em cada plano serão ambíguas. VISÃO DE HOMEM: Antropologia e Ontologia Dimensional Enquanto o ser humano for observado através das suas projeções físicas e psicológicas, a unidade do ser será perdida. É importante ver o homem em sua totalidade, em sua unidade e, principalmente, em sua singularidade. METODOLOGIA: estudo de caso O caso envolve situações de realidade. Desenvolvimento de análise, discussões e decisões finais sobre dada situação, estabelecendo uma relação entre a experiência e a teoria. METODOLOGIA: estudo de caso Fontes de dados biográficos, discussão das vivências, escolhas e atitudes assumidas em diversas situações de vida. Compreender a pessoa com autismo na perspectiva da Logoterapia e Análise Existencial. TEMPLE GRANDIN DE MARTE À TERRA: A PESSOA COM AUTISMO SOB A ÓTICA DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL Estudo de Caso: Temple Grandin nasceu em Massachssets, nos EUA, por volta de 1947; Desde os primeiros anos de vida, mostrava-se diferente da maioria das crianças: era hipersensível a sons, quando frustrada sofria de ataques de raiva violentos, vivia submersa num mundo caótico e desorganizado; Estudo de Caso: Aos três anos de idade, Temple recebeu um diagnóstico de autismo grave por um neurologista, que sugeriu uma internação vitalícia diante da total ausência de fala, interesses estereotipados e desinteresse em relações sociais; Contudo, a mãe de Temple não permitiu que ela fosse internada e insistiu em educá-la; Estudo de Caso: Foi enviada a um jardim de infância para crianças com distúrbios ou algum tipo de deficiência e foi sugerida a ela a terapia da fala. Estudo de Caso: Iniciou-se, então, uma lenta emersão: adquiriu meios para compreender e ordenar o mundo de sensações e estímulos que antes lhe parecia um verdadeiro caos. Suas oscilações de humor e as peculiaridades do sistema sensório começaram a se estabilizar. Estudo de Caso: Aos seis anos já possuía um acervo linguístico satisfatório, que possibilitou a ela lidar melhor com as características do autismo. Atualmente, Temple é Phd em veterinária, especialista em neurociências e realiza palestras no mundo todo sobre design de currais e matadouros e sobre autismo. Estudo de Caso: Conclui-se que a partir do exposto que Temple Grandin ao autodeterminar- se e autotranscender-se exerce a capacidade de escolha e de posicionar-se diante de sua condição de autista. Dessa forma a liberdade de sentido tem como orientação a dimensão espiritual que é voltada para a Vontade de sentido presente em todo ser humano. Estudo de Caso: Compreende-se que a vontade de sentido trata do ser humano lançado no mundo se posicionando e escolhendo Escolher é um imperativo e o não se posicionar constitui o que na analise existencial da qual embasa a logoterapia é chamada de má fé ou de uma existência inautêntica. Estudo de Caso: Temple Grandin apesar do autismo, apreendeu a linguagem, conseguiu ser instruída e, atualmente, é conhecida mundialmente pelos seus desenhos e obras em matadouros e currais, além das palestras sobre autismo. Estudo de Caso: A percepção exterior de Temple se encontrava diminuída devido ao caos no qual estava submersa; no entanto, a motivação primária permanecia preservada o que foi observado quando, após a apreensão da linguagem, ela pôde realizar diversos valores. Estudo de Caso: É possível perceber que a vontade de sentido está presente nela e se manifesta através da busca por realizar um trabalho significativo, através do qual dá sua peculiar contribuição ao mundo. Estudo de Caso: Através da criação da máquina do abraço, como ela denominou posteriormente, Temple pôde ter acesso à linguagem da ciência e da tecnologia. Diferente da linguagem social, utilizada no cotidiano, cheia de sutilezas e signos imperceptíveis, a linguagem científica, por ser objetiva, explícita e menos dependente de assunções tácitas, mostrou-se um campo aberto a possibilidades. Estudo de Caso: 1. Valores atitudinais, na medida em que, frente ao medo de ser tocada por humanos aliado ao intenso desejo de ser tranqüilizada, Temple decide mudar de atitude; Estudo de Caso: 2. Valores criativos, quando inventa a máquina; 3. Valores vivenciais, quando ela experimenta a sensação de ser abraçada, além da compreensão de algumas emoções, como o amor e o carinho por outrem. Estudo de Caso: Temple fez um paralelo entre o tratamento dado aos animais e o que é dado às pessoas com deficiência. Temple se autodistancia da sua própria condição, do seu diagnóstico de autismo, supera limitações típicas desse transtorno, abrindo-se ao mundo, em busca de um sentido maior, a saber, a humanização no tratamento de animais de corte. Estudo de Caso: É possível identificar aí, também, a autotranscendência, quando ela se doa a um trabalho a fim de que os animais sejam mais respeitados – e, para além disso, que os deficientes e autistas possam também receber um tratamento mais humanizado. Ela se doou a uma tarefa em sinal de empatia, em sinal de amor pelos animais. Considerações finais: Refletir acerca de sua singularidade, apresentando uma visão mais totalizante e humanizada da pessoa autista; Considerações finais: Considera-se que a Logoterapia e Análise Existencial pode ser utilizada como referencial para estudos sobre a pessoa com autismo, por ressaltar o caráter de unicidade e humanidade dos mesmos, além de lançar luz também sobre a responsabilidade e liberdade que são inerentes ao ser humano. REFERÊNCIAS: ASSUMPÇÃO JUNIOR, Francisco Baptista. Autismo Infantil: Novas Tendências e Perspectivas. 2 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2015. (Série de Psiquiatria: da infância à adolescência. FRANKL, V. E. Psicoterapia para todos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1991. FRANKL, V. E. (1978).Fundamentos antropológicos da psicoterapia. Rio de Janeiro: Zahar. REFERÊNCIAS: KROEFF, Paulo. Logoterapia: uma visão da psicoterapia. Rev. Abordagem Gestalt., Goiânia , v. 17, n. 1, p. 68-74, jun. 2011. PEREIRA, I. S. Mundo e Sentido na Obra de Viktor Frankl. PSICO, Porto Alegre, PUCRS, v. 39, n. 2, pp. 159-165, abr./jun. 2008. REFERÊNCIAS: PIRES, B. S.; CARVALHO, T. O. A pessoa com autismo: o caso Temple Grandin sob a ótica da Logoterapia e Análise Existencial. Logos & Existência. Revista da Associação Brasileira de Logoterapia e Análise Existencia v.3, n.1, p. 57-72, 2014. RODRIGUES, L. A.; BARROS, L. A. Sobre o Fundador da Logoterapia: Viktor Emil Frankl e sua contribuição à Psicologia. EVS - Estudos Vida e Saúde, Goiânia, v. 36, n. 1, p. 11-31, mar. 2010.
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