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10 AULA DE18

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FACULDADES INTEGRADAS BARROS MELO - AESO
BACHARELADO EM DIREITO
DIREITO EMPRESARIAL I
PROF. ME. ARTHUR MAGALHÃES
AULA Nº 10
ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
1 – CONCEITO DE ESTABELECIMENTO
Sabe-se que a empresa é conceito jurídico que expressa a ideia de atuação econômica organizada. Dessa forma, não é a produção em si de riquezas que permite compreendê-la. 
Tomando por exemplo um Jurista que em sua biblioteca trabalha na confecção de um parecer, pelo qual será remunerado, não é uma empresa. O garimpeiro que recolhe sozinho diamantes e os vende por valores altíssimos também não atua empresarialmente. 
Por certo, não é a produção e circulação onerosa de bens ou a prestação de serviços que dá a caracterização de empresa, embora seja um dos seus elementos componentes. 
Na empresa, essa produção, circulação ou prestação se conformam numa arquitetura maior, definida em termos conceituais e práticos que é o empreendimento não eventual, desenvolvido para que sejam auferidas vantagens pecuniárias. 
Pode-se conceituar empresa como coletividade de bens jurídicos, enfeixados e organizados para a concretização do objetivo empresarial. 
Essa coletividade de bens, esse patrimônio especificado para os fins empresariais, seja por uma secção escritural no patrimônio da pessoa natural (o empresário individual) ou dotada como capital social da pessoa jurídica deve-se estruturar de forma a garantir o estabelecimento da empresa. 
Por certo, se a empresa é a atividade exercida pelo empresário, a sua representação patrimonial é denominada de estabelecimento, que é a reunião de todos os bens necessários para a realização da atividade empresarial. O estabelecimento pode também ser chamado de fundo de comércio. 
Estes bens, que em seu conjunto acabam ganhando um sobre valor, na medida em que a reunião deles acaba por produzir a riqueza explorada pelo empresário, podem ser materiais ou imateriais. 
Por bens materiais, sabe-se, trata-se do maquinário da indústria, estantes da livraria, mesas e cadeiras do restaurante. Os bens imateriais, por sua vez, se observam como a marca do produto, etc. 
Estabelecimento empresarial é, pois o complexo organizado de bens, estruturado para exercício da empresa, por empresário ou por sociedade empresária, conforme Art. 1.142 do Código Civil de 2002. 
É a representação física da empresa. 
Sob tal ângulo específico, a empresa é enfocada como realidade tangível concreta: Trata-se de uma composição de bens; há bens materiais (coisas) como imóveis de uso, empregados diretamente na atividade empresarial, coisas móveis do ativo permanente, isto é, não destinadas à negociação, como bens de equipamento ou de serviço, ou coisas destinadas à negociação, escrituradas no ativo circulante. Há também no conceito de estabelecimento empresarial os bens imateriais, a exemplo das marcas e das patentes, escrituradas também no ativo permanente da empresa, destinando-se diretamente à consecução de suas atividades. 
2- INDIVIDUALIZAÇÃO DO ESTABELECIMENTO
Estabelecimento empresarial não se confunde com patrimônio do empresário ou da sociedade empresária. 
O empresário pode ter bens que não constem desse complexo organizado para o exercício da empresa. Por exemplo, imóveis, móveis e direitos a exemplo de marcas e patentes que não sejam empregados na atividade empresarial. São parte do patrimônio do empresário ou sociedade empresária, constam de seu ativo, mas não compõem seu estabelecimento, isto é, não compõem o complexo organizado de bens para o exercício da empresa. 
No mais, o patrimônio empresarial que é empregado no exercício da atividade pode estar dividido em diversos estabelecimentos. 
O conceito de estabelecimento dá margem a uma dicotomia em seu emprego, uma vez que é possível utilizá-lo para referir-se à totalidade da estrutura física, conceitual e humana da empresa, a incluir unidades autônomas (filiais, sucursais e agências), da mesma forma como é possível usá-lo para aludir a uma unidade em especial, destacada da totalidade da empresa e de seu respectivo estabelecimento. 
3 – AVIAMENTO EMPRESARIAL 
Também conhecida pela expressão goodwill of a trade, trata-se o aviamento do sobrevalor verificado com a reunião de todos os bens integrantes do estabelecimento empresarial que, agrupados, têm o propósito de gerar riquezas. 
Quanto melhor administrados os elementos integrantes do estabelecimento, maior será sua aptidão para a obtenção de lucros. 
O aviamento é pois uma qualidade ou atributo do estabelecimento. 
É dizer, quanto mais eficiente a organização dos seus elementos, mais aviado será o estabelecimento. 
O aviamento é indissociável do estabelecimento empresarial, pois o empresário reúne os diversos elementos do estabelecimento com um claro objetivo, qual seja a obtenção de lucros. 
O aviamento é justamente a qualidade atribuída ao estabelecimento para gerar lucros. 
No mais, aviamento não é considerado elemento imaterial, uma vez que sua existência só se viabiliza mediante a reunião dos bens integrantes do estabelecimento. 
Distinguem-se duas formas de aviamento: 
Aviamento Objetivo
É o proveniente da reunião dos elementos do estabelecimento e sua organização para o objetivo empresarial. 
Aviamento Subjetivo
Liga-se à pessoa ou às pessoas que estão à frente da empresa e que emprestam a ela todo o seu prestígio, boa fama, correção e demais qualidades que, certamente, acabam por aviar o estabelecimento tanto quanto a reunião dos seus elementos objetivamente considerados. 
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Há uma ligação íntima entre o aviamento e a clientela, uma vez que esta nada mais é do que o resultado do aviamento. Se o aviamento é a aptidão, a qualidade de gerar lucros, esses lucros somente advirão com a existência de um conjunto de pessoas que são atraídas ao estabelecimento à procura de bens e serviços. 
Quanto mais aviado o estabelecimento, maior sua clientela. A clientela assim é um dos fatores do aviamento.
4- PONTO EMPRESARIAL
Na grande maioria dos casos, o local exato onde se fixa o empresário acaba por traduzir-se num elemento fundamental de seu estabelecimento. 
Há casos em que o empresário, como resultado do trabalho de longos anos, cultiva uma clientela que o identifica pelo seu endereço, que acaba por se transformar em um importante bem imaterial de seu estabelecimento. 
Todavia, nem todos os empresários gozam de um ponto localizado em imóvel próprio. 
Para tanto, é muito comum a existência de pactos locatícios, onde a fim de exercer a empresa, o empresário ou sociedade empresária, se servem de locações imobiliárias comerciais. 
Por essa razão, dado o crescimento da complexidade diante dessas relações sociais, a Lei 8.245/91 surgiu para estabelecer ao locatário, duas garantias básicas: 
A possibilidade de renovação compulsória do contrato de locação empresarial, mediante o preenchimento de determinados requisitos; 
A indenização pela perda do ponto no caso da não renovação, nas hipóteses legalmente previstas; 
Em análise superficial, pode-se dizer que o empresário terá direito à renovação do contrato locatício desde que o pacto tenha sido celebrado por escrito, com prazo determinado e que o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de no mínimo cinco anos. 
No mais, a exploração da empresa ou atividade civil com fins lucrativos, no mesmo ramo de atividade, deverá constar com pelo menos três anos ininterruptos, tempo razoável considerado pelo legislador para que o empresário tenha amealhado sua clientela. 
Preenchidos esses requisitos, terá o empresário condições de pleitear a renovação compulsória da locação, independentemente da vontade do locador, se propuser a chamada ação renovatória no interregno de tempo de um ano até seis meses antes do término do contrato em vigor. 
5- TRESPASSE: ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
O estabelecimento pode ser objeto de diversos negócios jurídicos. 
A cessão da universalidade de bens(estabelecimento) ganha o nome de trespasse. 
Otrespasse é pois a operação pela qual um empresário vende a outro o seu estabelecimento empresarial, ficando este responsável pela condução dos negócios a partir de então. 
Não se pode confundir venda da sociedade empresária com a venda do estabelecimento (trespasse). 
Na venda da sociedade empresária, ou seja, na venda da totalidade das quotas sociais, o estabelecimento continuará pertencendo a empresa, de modo que os sócios serão substituídos, porém a sociedade empresária enquanto pessoa jurídica permanecerá diante do estabelecimento que já possuída. 
O objeto do trespasse por sua vez é a universalidade de bens materiais ou imateriais que compõem o estabelecimento. 
Com o trespasse muda-se a figura do seu titular que passa a ser o comprador, enquanto com a venda da sociedade empresária não existe qualquer alteração com relação ao titular do estabelecimento, que continua o mesmo. 
(Proteção aos Credores)
Mister que se diga, com o objetivo de proteger os credores do alienante, a Lei de Falência e Recuperação de Empresas impõe determinadas restrições à venda do estabelecimento empresarial. 
Conforme o Art. 129, VI, da Lei. 11.101/05, são ineficazes, com relação à massa falida, a venda ou transferência do estabelecimento, se feita sem consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores, e se não tiver o devedor bens suficientes para solver o seu passivo. 
Somando-se a isso, o Art. 1.145 do Código Civil, leciona que, “se ao alienante não restaram bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação”. 
É dizer, sendo o empresário insolvente, a venda somente terá validade caso o alienante tenha notificado seus credores a respeito do negócio, e destes não tenha havido nenhuma objeção nos trinta dias subsequentes à notificação. 
No contrato de Trespasse, vale dizer, o adquirente assume a responsabilidade pelo pagamento dos débitos existentes à época do negócio, provenientes de dívidas assumidas pelo alienante até aquele momento, isto se de tais débitos o adquirente tomou ciência, seja por meio da contabilidade do estabelecimento, seja por qualquer outro meio idôneo. 
Nessa hipótese, por força do Art. 1.146 do Código Civil, a responsabilidade pelo pagamento é solidária entre o alienante e o adquirente, solidariedade essa que permanecerá pelo prazo de um ano contado a partir da publicação da comunicação do trespasse, em se tratando de débitos vencidos, ou da data dos respectivos vencimentos, em se tratando de dívidas a vencer. 
(Cláusula de Não-Concorrência no Trespasse)
Trata-se de obrigação que o alienante assume de não fazer concorrência ao adquirente. É dizer, aqui o adquirente tem a certeza de que a clientela que se dirige ao estabelecimento adquirido não será desviada para outro estabelecimento pertencente ao alienante. 
Na hipótese de o contrato silenciar a esse respeito, surge a obrigação legal da não concorrência ao adquirente nos próximos cinco anos subsequentes à transferência. 
Em se tratando de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a não concorrência deverá ser respeitada durante todo o prazo do contrato. Ressalte-se que não há impedimento para que se estabeleça expressamente no contrato o direito de o alienante, arrendante ou proprietário concorrer com o adquirente ou usufrutuário. 
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REFERÊNCIAS
MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Empresa e Atuação Empresarial, Vol.1, 9ª Edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Atlas, 2016, p.25-33.

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