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Direito Empresarial

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Prévia do material em texto

Capítulos 1 ao 7
Capítulo 1
MAT
ERIA
L 
EXE
MPL
AR
 
1 
Olá, aluno! 
Bem-vindo ao estudo para o Exame de Ordem. Preparamos todo esse material para você 
não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que 
você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente. 
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins 
de entender como a Banca costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua 
atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é 
escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre! 
Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo 
completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a 
estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar 
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada 
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto 
com a leitura de jurisprudência selecionada. 
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser 
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou 
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para 
a gente! 
Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum, 
trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina. 
Faça bom uso do seu PDF Ad Verum! 
Bons estudos  
 
 
 
 
 
 
mailto:pdfadverum@cers.com.br
 
2 
Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Empresarial da seguinte forma: 
 
RECORRÊNCIA 
 Como dito, sabemos que estudar de forma direcionada, com base nos assuntos 
objetivamente mais recorrentes, é essencial. Afinal, uma separação planejada pode fazer toda 
diferença. Pensando nisso, através de estudo realizado pelo nosso setor de inteligência com 
base nas últimas provas, trouxemos os temas mais abordados nessa disciplina! 
Do Direito de Empresa
21%
Da Sociedade
7%
Da Recuperação Judicial, 
Extrajudicial e da Falência 
do Empresário e da 
Sociedade Empresária
36%
Dos Títulos de Crédito
21%
Dos Contratos 
Empresariais
7%
Da Propriedade Industrial
7%
DIREITO EMPRESARIAL
Do Direito de Empresa
Da Sociedade
Da Recuperação Judicial, Extrajudicial e da Falência do Empresário e da Sociedade Empresária
Dos Títulos de Crédito
Dos Contratos Empresariais
Da Propriedade Industrial
 
3 
CAPÍTULOS 
Capítulo 1 – Teoria Geral do Direito Empresarial 
Capítulo 2 – Regime Jurídico da Atividade Empresarial 
Capítulo 3 – Direito Societário 
Capítulo 4 – Crise da Atividade Empresarial 
Capítulo 5 – Títulos de Crédito 
Capítulo 6 – Contratos Empresariais 
Capítulo 7 – Propriedade Industrial 
 
 
 
 
4 
SUMÁRIO 
DIREITO EMPRESARIAL, Capítulo 1 .................................................................................................................................. 6 
1. Teoria Geral do Direito Empresarial ....................................................................................................................... 7 
1.1 Evolução Histórica do Direito Empresarial ............................................................................................................. 7 
1.2 Conceito de empresa ................................................................................................................................................... 10 
1.2.1 Empresa como atividade ............................................................................................................................................ 11 
1.2.2 Economicidade ............................................................................................................................................................... 12 
1.2.3 Organização .................................................................................................................................................................... 12 
1.2.4 Profissionalismo ............................................................................................................................................................. 14 
1.2.5 Objetivo Específico........................................................................................................................................................ 15 
1.3 Fixação de Regime Jurídico ....................................................................................................................................... 15 
1.4 O Empresário .................................................................................................................................................................. 16 
1.4.1 Conceito e Espécies ...................................................................................................................................................... 16 
1.4.2 Caracterização................................................................................................................................................................. 18 
1.4.3 Empresário Rural............................................................................................................................................................ 22 
1.4.4 Empresário Casado ....................................................................................................................................................... 23 
1.5 Dos requisitos de regularidade ................................................................................................................................ 25 
1.5.1 Da Inscrição ..................................................................................................................................................................... 25 
1.5.2 Da capacidade ................................................................................................................................................................ 25 
1.5.3 Ausência de impedimento legal .............................................................................................................................. 28 
1.6 Da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) .................................................................... 29 
1.7 Microempreendedor Individual, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte...................................... 32 
1.8 Estabelecimento empresarial..................................................................................................................................... 32 
1.8.1 Trespasse .......................................................................................................................................................................... 36 
1.8.2 Eficácia do trespasse .................................................................................................................................................... 37 
1.8.3 Responsabilidade do adquirente e do alienante ............................................................................................... 38 
1.8.4 Sub-rogação nos contratos de exploração .......................................................................................................... 42 
 
5 
1.8.5 Aviamento ........................................................................................................................................................................ 43 
1.8.6 Ponto comercial ............................................................................................................................................................. 44 
1.8.7 Ação Renovatória ..........................................................................................................................................................45 
QUADRO SINÓTICO ............................................................................................................................................................. 48 
QUESTÕES COMENTADAS ............................................................................................................................................... 49 
GABARITO ................................................................................................................................................................................... 61 
LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................................................. 65 
JURISPRUDÊNCIA ..................................................................................................................................................................... 67 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................................................ 73 
 
 
 
6 
 
 
 
E ai, OABeiro! Tudo certinho? 
A apostila de número 01 do nosso curso de Direito Empresarial tratará sobre Teoria do Direito 
Empresarial, matéria que é extremamente cobrada no Exame de Ordem ao decorrer desses 
anos! De acordo com a nossa equipe de inteligência, esse assunto esteve presente 9 VEZES 
nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de altíssima relevância. 
Assim, é imprescindível que você dedique um tempo para estudar este conteúdo com calma e 
responda as questões que tratam sobre o referido tema, ok? 
Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta 
é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei 
e entendimentos jurisprudenciais, e sempre em companhia de alguma doutrina à sua escolha. 
Lembre-se: A resolução de questões é a chave para a aprovação! 
Vamos juntos! 
 
 
 
7 
DIREITO EMPRESARIAL 
Capítulo 1 
1. Teoria Geral do Direito Empresarial 
Neste capítulo, estudaremos a Teoria Geral do Direito Empresarial, tema de grande valia 
para a compreensão de toda a matéria de Direito Empresarial, além de ser composto por 
assuntos de alta incidência nos últimos concursos para Carreiras Jurídicas. Estabelecer uma 
“teoria geral” é um exercício que objetiva permitir que o estudioso conheça a dimensão da 
matéria e seus conceitos basilares. Para fazê-lo em sede do Direito Empresarial, é importante 
introduzir que se trata de ramo do direito privado que regula a atividade econômica exercida 
de modo organizado e aqueles que a exercem com proficiência. 
 
1.1 Evolução Histórica do Direito Empresarial 
Há um campo específico da Ciência Jurídica estruturado com base na concepção atual de 
“empresa”. Essa noção, por sua vez, surgiu a partir da evolução dos critérios utilizados para 
definição do objeto do Direito Empresarial. 
O desenvolvimento histórico desse ramo jurídico é tão relevante que até mesmo a sua 
denominação acompanhou o progresso de seus institutos. Tanto assim que superou a 
designação Direito Comercial, antes utilizada para indicar o conjunto de normas, princípios e 
práticas aplicáveis às relações entre aqueles que desempenhavam certa atividade econômica: o 
comércio. 
Pois bem, em um determinado período histórico inexistiu, sequer, nomenclatura para 
designar o conjunto de práticas mercantis utilizadas pelos “cônsules” da Idade Média para a 
solução de litígios. Dessa constatação, extraem-se dois aspectos elementares da primeira fase 
 
8 
evolutiva do Direito Empresarial: a consuetudinariedade de suas normas e a atuação do “Juízo 
Consular”. 
Daí se depreendem as seguintes características desse momento evolutivo inicial do Direito 
de Empresa: a) costumeiro, em que os usos e costumes geralmente observados pelos 
mercadores constituíam a sua principal fonte; b) internacional, uma vez que os usos e costumes 
mercantis eram aplicados geralmente em toda a Europa, nas grandes feiras; e c) corporativo, 
pois suas normas eram aplicadas pelo tribunal das corporações (juízo consular) no julgamento 
das controvérsias existentes entre os seus próprios membros. O Direito Comercial é, nesse 
momento, um direito de classe. 
Percebe-se, assim, que um conjunto de usos e costumes foi esboçado em benefício, tão 
somente, da figura do comerciante. Por esta razão, essa incipiente fase foi considerada como 
subjetivista. 
O cônsul era um comerciante ou um mestre artesão (dono de uma corporação de ofício) 
que, em razão de sua maior experiência, dominava melhor os costumes mercantis. Por isso, era 
ele quem decidia os dissídios entre mercadores, aplicando tais práticas, tendo-se em vista a 
inexistência de normas codificadas. 
Em um segundo momento, logo após a Revolução Francesa, buscou-se a sistematização 
das normas consuetudinárias em um único diploma legal. O marco histórico dessa segunda 
fase do Direito Empresarial foi a edição do Código Comercial Francês de 1807, geralmente, 
associado à figura Napoleão Bonaparte. 
Nessa etapa, passou a ser considerado como objeto do Direito Comercial todo e qualquer 
ato enumerado, taxativamente, como mercancia. Daí falar-se na Teoria dos Atos de Comércio. 
Por não se centralizar mais sobre a figura do comerciante, tal teoria imprimiu uma feição 
objetivista a essa fase. 
Sendo assim, pode-se dizer que essa segunda fase foi marcada pelas seguintes 
características: a) clara separação entre Direito Comercial e Direito Civil como ramos 
autônomos e independentes; b) especificidade do direito comercial, sendo que o próprio ato 
do comércio caracterizava a profissão dos comerciantes; c) caracterização do Direito Comercial 
 
9 
pelo objeto (comércio) e não pelo sujeito (comerciante); d) monopólio da jurisdição pelo 
Estado devido à perda da força das corporações de ofício. 
Todavia, também o método de delimitação da matéria comercial proposto pela Teoria 
dos Atos de Comércio se mostrou insuficiente, vez que não alcançava outros setores da 
economia, tais como a indústria e a prestação de serviços. 
Diante disso, surgiu, na Itália, nova proposta para estabelecer o alcance do ramo do 
direito privado ora examinado, a qual foi marcada como terceira fase evolutiva do Direito 
Empresarial. A Teoria da Empresa, recepcionada pelo Código Civil Italiano de 1942 e com 
grande aceitação por diversos ordenamentos jurídicos, trouxe parâmetros bem mais sofisticados. 
Conforme mencionado acima, os novos critérios provocaram, inclusive, a mudança da 
terminologia utilizada para designar o setor do saber jurídico ao qual se aplicavam. Sendo assim, 
de Direito Comercial passou-se à denominação Direito Empresarial. 
André Luiz Ramos Santa-Cruz, inspirado nas lições de Waldirio Bulgarelli, assim compara 
as duas teorias: 
Para a teoria da empresa, o direito comercial não se limita a regular apenas as relações 
jurídicas em que ocorra a prática de um determinado ato definido em lei como ato de 
comércio (mercancia). A teoria da empresa faz com que o direito comercial não se ocupe 
apenas com alguns atos, mas com uma forma específica de exercer uma atividade 
econômica: a forma empresarial.1 
O foco passou, então, para o exercício de atividade econômica, sob a modalidade de 
empresa. Isso se dá sempre que é organizada de acordo com os parâmetros eleitos pe la lei 
como identificadores da atividade empresarial. Daí porque essa fase foi considerada subjetivista 
moderna. 
 
 
1 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, Rio de Janeiro: Forense, 
2019, p. 37 e 38. 
 
10 
1.2 Conceito de empresa 
Como vimos, a fase da teoria da empresa, também conhecida como sistema italiano, 
teve como ápice o Códice Civile (Código Civil Italiano) de 1942, que pretendeu unificar o direito 
privado da Itália.As três fases históricas descritas no tópico anterior espelharam-se no Brasil, o 
que pode ser constatado no fluxograma abaixo, o qual demonstra a evolução dessas teorias 
conforme seus respectivos marcos legais no direito pátrio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A teoria da empresa acarretou uma ampliação da abrangência do Direito Comercial (agora 
Direito Empresarial). Tratando-se do sistema utilizado pelo Código Civil de 2002, com esta teoria , 
surgem as ideias de empresa e de empresário. Contam com a proteção das normas de direito 
empresarial aqueles que praticarem empresa (atividade econômica, exercida profissionalmente 
e organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços). 
O art. 966 do Código Civil definiu o empresário a partir do conceito de empresa, 
considerando-a como atividade dotada das seguintes características: economicidade, 
profissionalismo, organização e finalidade de produção ou circulação de bens ou serviços. É 
Fase Subjetivista
Comerciante
Fase Objetivista
Atos de Comércio 
(mercancia)
Fase Subjetivista 
(Moderna)
Empresário
Regulamento 
737 de 1850 
“Considera-se 
Mercancia”... 
Tribunais de Comércio Código Comercial de 1850 Código Civil de 2002 
 
11 
importante mencionar que, embora o dispositivo não tenha contemplado a especulação, essa 
também pode ser considerada uma atividade de natureza empresarial, muito embora, muitas 
vezes, não repercuta na produção ou circulação de qualquer bem ou serviço. 
O quadro abaixo representa os aspectos essenciais para que uma atividade seja 
caracterizada como empresária: 
 
Conforme a mesma norma, a priori, estão excluídas da noção de empresa as atividades 
intelectuais de natureza artística, científica ou literária. Mas, por ora, não convém adentrar as 
nuances do parágrafo único daquela norma (art. 966. CC), posto que serão melhor abordadas 
posteriormente. 
 
1.2.1 Empresa como atividade 
A natureza jurídica da empresa é de atividade, porquanto consiste em um conjunto 
coordenado de atos voltados à obtenção de um resultado comum. Logo, empresa não é sujeito 
nem objeto de direitos. Logo, do ponto de vista jurídico, há uma impropriedade terminológica 
existente em expressões como “tenho uma empresa” ou vou na empresa. 
 
Empresa = Atividade
Econômica
Organizada
Profissional
Industrial, Comercial ou de 
Prestação de Serviços
 
12 
1.2.2 Economicidade 
Econômica é aquela atividade que tem como fim precípuo a distribuição de lucros ou a 
geração de valor. No caso do empresário individual, o lucro se destina a acrescer o próprio 
patrimônio. Nas sociedades empresárias, o fim da atividade é a distribuição de lucros aos sócios. 
Contudo, a ausência da finalidade lucrativa não descaracteriza uma atividade como empresária 
caso ela se destine à circulação de riqueza ou à prestação de serviço remunerado. É o caso, por 
exemplo, de uma sociedade empresária criada para objetivos filantrópicos, mas que, para 
alcança-los, precisa angariar recursos comercializando bens ou cobrando por serviços prestados. 
Nas palavras de André Luiz Ramos Santa Cruz 
Ao destacarmos a expressão atividade econômica, por sua vez, queremos enfatizar que 
empresa é uma atividade exercida com intuito lucrativo. Afinal, conforme veremos, é 
característica intrínseca das relações empresariais a onerosidade. Mas não é só à ideia de 
lucro que a expressão atividade econômica remete. Ela indica também que o empresário, 
sobretudo em função do intuito lucrativo de sua atividade, é aquele que assume os seus 
riscos técnicos e econômicos. 
Entenda-se a ideia de lucro aqui como utilidade. É lucrativa a atividade que produz uma 
utilidade, e não somente aquela que se traduz em dinheiro. De qualquer forma, o critério 
de economicidade é essencial. A atividade deve produzir o suficiente para, pelo menos, 
remunerar os fatores da produção e, dentre eles, o capital investido, de molde a assegurar, 
por si mesma, a sua sobrevivência.2 
 
1.2.3 Organização 
Vimos que, sob a égide do atual Código Civil Brasileiro, a empresa é tida como atividade, 
cuja marca essencial é a obtenção de lucros com o oferecimento ao mercado de bens ou 
serviços, gerados mediante a organização dos fatores de produção (força de trabalho/mão 
de obra, matéria-prima, capital e tecnologia).3 
 
2 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, Rio de Janeiro: 
Forense, 2018, p. 37 e 38. 
3 MELLO FRANCO, Vera Helena. Manual de direito comercial. 2. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 51. v. 1. Resume bem 
a professora da USP: “a ideia de organização, assim, deve ser entendida em sentido amplo, de molde a considerar 
 
13 
Asquini dividia a expressão empresa em quatro perfis. Em um perfil subjetivo, empresa 
seria sinônimo de empresário. Em um perfil funcional, empresa seria a atividade (utilizado 
pela teoria da empresa). Em um perfil objetivo, empresa seria sinônimo de patrimônio aziendal 
ou estabelecimento. Por fim, em um perfil corporativo, empresa é instituição, na medida em 
que reúne pessoas com propósitos comuns (empresário e empregados). 4 
Saliente-se que, conforme entendimento majoritário, o Código Civil de 2002 não 
unificou o direito privado, mas apenas o direito dos contratos e das obrigações. O Direito 
Empresarial permanece autônomo, apesar de o Código Comercial ter sido derrogado pelo 
referido diploma (revogado parcialmente, já que a parte sobre comércio marítimo permanece 
vigente). 
A atividade dos empresários pode ser vista como a de articular (organizar) os fatores de 
produção, que, no sistema capitalista, são quatro: capital, mão-de-obra, insumo e tecnologia. 
Estruturar a produção ou circulação de bens ou serviços significa reunir os recursos financeiros 
(capital), humanos (mão-de-obra), materiais (insumo) e tecnológicos que viabilizem oferece-
los ao mercado consumidor com preços e qualidade competitivos. 
Organização é a reunião desses quatro fatores de produção, assim descritos por Fábio 
Ulhoa Coelho: 
 Mão-de-obra: é um fato de produção que envolve o auxílio de prepostos do 
empresário para a consecução de sua atividade, devendo, necessariamente, ser 
um trabalho alheio, seja por contrato de trabalho, seja por prestação de serviço 
etc. Ex.: Uma pessoa faz, embrulha e vende trufas com habitualidade e finalidade 
lucrativa, mas se não possuir mão de obra contratada não poderá ser 
considerada empresária, e sim apenas sociedade simples. 
 Insumos (matéria-prima): correspondem aos bens articulados pela empresa; 
 Capital: é o montante em dinheiro necessário ao desenvolvimento da atividade; 
 Tecnologia: faz compor a ideia de que o empresário detém as informações 
necessárias ao desenvolvimento da atividade a que se propôs explorar. 
 
‘organizada’ toda atividade realizada de modo profissional, isto é, que não seja extemporânea ou improvisada, 
destinada à colocação de bens ou serviços no mercado”. 
4 ASQUINI, Alberto. Perfis da Empresa. Tradução de Fábio Konder Comparato. Revista de Direito Mercantil, 
Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 35, n. 104, p.109-126, out./dez. 1996. 
 
14 
Segundo o supracitado autor, a ausência de qualquer um dos quatro fatores 
descaracteriza a organização e, consequentemente, a pessoa jurídica como sociedade 
empresária ou Empresa Individual de Responsabilidade limitada e a pessoa física como 
empresário individual5. 
André Luiz Ramos é contrário a esse posicionamento, tendo em vista que a 
automatização permite a inobservância do requisito da “mão de obra contratada”, sem 
descaracterizar, em sua essência, a figura do empresário6. Para ele, estará caracterizada a 
organização se a atividade fim tiver de ser exercida com a colaboração de terceiros ou 
mediante recursos de terceiros (pessoas ou bens).Assim, uma lavanderia totalmente 
computadorizada poderia ser considerada uma atividade empresarial. Pode-se citar também o 
caso dos empresários virtuais, que, muitas vezes, atuam completamente sozinhos, resumindo-
se sua atividade à intermediação de produtos ou serviços por meio da internet. 
 
1.2.4 Profissionalismo 
O caráter profissional da atividade remete à ideia de exercício com qualificação técnica 
e aprimoramento, muito embora, em vários casos, não seja necessária uma formação 
específica para desempenho da empresa. Evidente, pois, que, desse somatório de elementos 
organizados para exercício da atividade empresária exsurge a ideia de habitualidade na prática 
desta função, podendo-se afirmar que somente a atividade praticada com certa constância 
pode ser reconhecida como de natureza profissional (REsp 1.539.154 de 25/11/2015). 
Se o exercício da atividade econômica se dá de forma esporádica, por exemplo, seu 
promovente não será considerado empresário, não sendo abrangido, portanto, pelo regime 
jurídico empresarial. Em síntese, “importa que a atividade corresponda a um constante repetir-
se, não podendo tratar-se da realização de um negócio ocasional de compra e venda ou de 
mediação”. 
 
5 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 13-14. 
6 123. 
 
15 
1.2.5 Objetivo Específico 
Por fim, a produção ou circulação de bens ou serviços demonstra a abrangência da 
teoria da empresa, em contraposição à antiga teoria dos atos de comércio, a qual, como visto, 
restringia o âmbito de incidência do regime jurídico comercial a determinadas atividades 
econômicas elencadas na lei. Para a teoria da empresa, em contrapartida, qualquer atividade 
econômica poderá, em princípio, submeter-se ao regime jurídico empresarial, bastando que 
seja exercida profissionalmente, de forma organizada e com intuito lucrativo. Sendo assim, a 
expressão produção ou circulação de bens ou de serviços deixa claro que nenhuma atividade 
econômica está excluída, em princípio, do âmbito de incidência do direito empresarial. 
Além de denotar a abrangência da teoria da empresa, a expressão em análise também 
nos permite concluir que só restará caracterizada a empresa quando a produção ou circulação 
de bens ou serviços destinar-se ao mercado, e não ao consumo próprio. 
 
1.3 Fixação de Regime Jurídico 
É imperioso enfatizar quais são os desdobramentos da caracterização da atividade de 
um sujeito de direitos como empresária, pois dela decorre sua submissão ao conjunto de regras 
e princípios do Direito de Empresa (regime jurídico empresarial). Logo, diretrizes e preceitos 
civilistas incompatíveis com o regramento empresarialista cederão espaço àquelas que 
disciplinam a matéria com maior especificidade. 
Sob essa perspectiva, cabe apontar os seguintes efeitos práticos, já os comparando com 
as atividades não empresariais, as quais se submetem ao regime jurídico civil: 
 
REGIME CARACTERÍSTICAS PRÓRIA 
Civil 
 Subordinação dos atos ao registro civil 
 Sujeição ao procedimento de insolvência civil 
 Impossibilidade de se valer da recuperação (extra) judicial; 
 
16 
 Ilegitimidade para ação renovatória da locação empresarial; 
Empresarial 
 Subordinação dos atos ao registro empresarial 
 Sujeição ao procedimento de execução concursal (falência); 
 Possibilidade de se valer da recuperação (extra) judicial; 
 Legitimidade para ação renovatória da locação empresarial; 
 
Percebe-se, assim, que a noção de empresa é o principal alicerce de todo o conteúdo 
didático da disciplina de Direito Empresarial, pois permite a apreensão de seus institutos jurídicos 
peculiares, notadamente, as figuras do empresário e do estabelecimento empresarial. Em razão 
disso, é recorrentemente cobrada nas provas de concurso, conforme se pode verificar na parte 
de exercícios deste material. 
1.4 O Empresário 
1.4.1 Conceito e Espécies 
O Código Civil de 2002, em seu art. 966, caput, nos traz o conceito de empresário como 
sendo aquele que exerce, profissionalmente, atividade econômica organizada para a produção 
ou a circulação de bens ou de serviços. A essa atividade exercida se dá o nome de “empresa”. 
Esse conceito legal será mais bem detalhado a seguir. Por enquanto, é importante 
mencionar que a expressão “empresário” pode ser concebida em sentido amplo para abarcar 
o empresário pessoa física (empresário individual) e o empresário pessoa jurídica (sociedade 
empresária ou empresa individual de responsabilidade limitada - EIRELI). Em sentido estrito, 
empresário é a pessoa física que exerce empresa, ou seja, o empresário individual. 
 
 
 
17 
 
Empresário (em sentido amplo)7 
 
Empresário Individual 
(ou empresário em sentido 
estrito) 
Empresa Individual de 
Responsabilidade 
Limitada 
(EIRELI) 
Sociedade Empresária 
Pessoa Física que exerce 
atividade econômica organizada, 
conforme o art. 966 do CC. 
Pessoa Jurídica 
INDIVIDUAL exercente 
de atividade econômica 
organizada de acordo 
com o art. 966 do CC. 
Pessoa Jurídica, formada, em 
regra, por PLURALIDADE de 
membros (sócios), cujo 
objeto social se destina ao 
exercício de atividade 
empresária (art. 966 do CC) 
* Exceção: sociedade limitada 
com sócio único 
Mesmo sendo pessoa física, terá 
CNPJ. 
Pode ser simples ou 
empresária. 
Atualmente, a sociedade 
limitada poderá ser 
unipessoal 
 
Saliente-se que a própria sociedade é quem é empresária, e não os seus sócios. Isso 
porque é ela que organiza, sob sua titularidade, ou seja, em seu nome a atividade de produção 
ou circulação de bens ou serviços. Assim, sócio de sociedade empresária não é considerado 
empresário, mas sim um empreendedor, quando, além de ter aportado capital, também 
colabora com seus serviços na organização da atividade (ex. sócio diretor) ou mero investidor, 
caso não participe da condução dos negócios. 
Em se tratando do empresário individual, trata-se de pessoa natural que exerce empresa, 
tendo responsabilidade direta e ilimitada (todo o seu patrimônio responde por todas as 
obrigações, tenha ou não relação com o exercício da atividade). A doutrina entende que o 
 
7 Questão 8 
 
18 
empresário individual deve responder primeiro com os bens afetados à exploração da empresa 
e, apenas subsidiariamente, com os bens não afetados. Nesse sentido: 
Enunciado 5 da I Jornada de Direito Comercial: Quanto às obrigações decorrentes de 
sua atividade, o empresário individual tipificado no art. 966 do Código Civil responderá 
primeiramente com os bens vinculados à exploração de sua atividade econômica, nos 
termos do art. 1.024 do Código Civil. 
Consigne-se que o fato de ser pessoa natural não impede que o empresário individual 
seja inserido no Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas - CNPJ para fins tributários. Assim, por 
mais estranho que pareça, um empresário individual terá um número de CNPJ para poder 
identificar os negócios praticados que se relacionam ao exercício da atividade empresária. 
 
1.4.2 Caracterização 
Conforme mencionado anteriormente, o Código Civil Brasileiro de 2002 recepcionou a 
Teoria da Empresa e, por isso, adotou o conceito jurídico indeterminado de empresário em 
seu artigo 966. 
No entanto, a precisa interpretação desse dispositivo legal requer análise em diferentes 
etapas, técnica hermenêutica denominada de “Exegese Quadripartite”8. 
Essa técnica hermenêutica se concentra nos seguintes pontos relevantes , sintetizado pelo 
fluxograma abaixo em quatro estágios interpretativos: 
 
8 PARENTONI, Leonardo Netto et alii. Análise quadripartite do artigo 966 do Código Civil de 2002. Jornal da 
Faculdade de Direito da UFMG (O Sino do Samuel). Belo Horizonte, Ano X, n. 78, p. 3, out. 2004. 
 
19 
 
Uma vez visualizadastais etapas, cabe detalhá-las da seguinte forma: 
 1ª parte: 
O caput dispõe que, em regra, as atividades industriais, comerciais e de prestação de 
serviços são empresariais. A contrario sensu, valendo-se da ideia de exclusão, não estando 
presentes os elementos da atividade empresária (atividade econômica, exercida de forma 
profissional e organizada e direcionada à produção ou à circulação de bens ou serviços), a 
atividade exercida será civil. 
 2ª parte: 
São exceções aquelas decorrentes de “profissão intelectual, de natureza científica, literária 
ou artística”, previstas no parágrafo único, ainda que com o concurso de auxiliares. 
 3ª parte: 
A parte final do parágrafo único considera empresariais atividades que, embora 
decorrentes de profissão intelectual, contenham elemento de empresa, situação que se configura 
quando a atividade intelectiva for absorvida pela organização dos fatores de produção, sendo 
apenas mais um dos elementos da empresa, ou seja, constitui apenas uma das etapas do 
Art. 966, 
caput
• Regra (caput):
• Atividade empresarial (indústria, comércio, serviços)
Art. 966, 
p.u., 1a
• Exceção (p. u., 1ª parte):
• Atividade intelectual científica, artística e literária
Art. 966, 
p.u., 2a
• Limites da exceção ou “exceção da exceção! (p.u., parte final):
• "Elemento de Empresa” 
Situações 
Especiais
• Tratamento legal diferenciado (outros dispositivos legais)
• Ex. (art. 1.089, CC/02): cooperativas (sempre civis) e S/As (sempre empresárias)
 
20 
processo de produção ou circulação de mercadorias ou serviços. 
Sendo assim, apenas o exercício das atividades exclusivamente intelectuais está excluído 
do conceito previsto no caput do art. 966. Isso porque a presença do “elemento de empresa” 
redireciona a esse preceito a caracterização da atividade, determinando-a como empresária. 
Em outras palavras, “elemento de empresa” é conceito legal indeterminado que, uma vez 
verificado, remete a atividade intelectual à regra do caput, categorizando-a como atividade 
empresária. 
 
Ei OABeiro, é importante dar uma lida no texto dos enunciados 193, 194 e 195 das 
Jornadas de Direito Civil do CJF, que, respectivamente estabelecem: “o exercício das atividades 
de natureza exclusivamente intelectual está excluído do conceito de empresa”; “os profissionais 
liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de produção for 
mais importante que a atividade pessoal desenvolvida”; e “a expressão ‘elemento de empresa’ 
demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade 
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização 
empresarial”. 
 
 4ª parte: 
Por disposição legal específica, algumas atividades, ainda que insertas nas hipóteses do 
caput ou do parágrafo único, devem sujeitar-se a regime jurídico especial. 
São exemplos: 
a) cooperativa (art. 4º e 18, § 6º, da Lei nº 5.764/1971); 
b) sociedade anônima (art. 1.089, CC/02). 
A primeira jamais poderá praticar atividades empresariais por expressa disposição da 
legislação especial enquanto a segunda sempre praticará atividades empresarias, qualquer que 
seja seu objeto social. Apesar de registradas na Junta Comercial (art. 18 da Lei nº 5.764/71), as 
 
21 
Cooperativas são sempre sociedades simples, exercendo atividade civil por força de lei (art. 982 
do CC/02). 
Sendo assim, não importa se uma cooperativa de produtores rurais pratica a mesma 
atividade que uma indústria dedicada ao agronegócio, porque ela sempre será considerada não 
empresária. Por outro lado, uma sociedade anônima sempre será considerada empresária, ainda 
que tenha como fim social atividade relacionada com a prática de atos filantrópicos. 
Infere-se, então, que a natureza intelectual, seja ela artística, científica ou literária, 
geralmente, impede o enquadramento como empresário daquele que a pratica. No entanto, 
Fábio Ulhoa Coelho invoca exceção que confirma a regra: 
Há uma exceção, prevista no mesmo dispositivo legal, em que o profissional intelectual se 
enquadra no conceito de empresário. Trata-se da hipótese em que o exercício da profissão 
constitui elemento de empresa. Para compreender o conceito legal, convém partir de um 
exemplo. Imagine o médico pediatra recém-formado, atendendo seus primeiros clientes 
no consultório. Já contrata pelo menos uma secretária, mas se encontra na condição geral 
dos profissionais intelectuais: não é empresário, mesmo que conte com o auxílio de 
colaboradores. Nesta fase, os pais buscam seus serviços em razão, basicamente, de sua 
competência como médico. Imagine, porém, que, passando o tempo, este profissional 
amplie seu consultório, contratando, além de mais pessoal de apoio (secretária, atendente, 
copeira etc.), também enfermeiros e outros médicos. Não chama mais o local de 
atendimento de consultório, mas de clínica. Nesta fase de transição, os clientes ainda 
procuram aqueles serviços de medicina pediátrica, em razão da confiança que depositam 
no trabalho daquele médico, titular da clínica. Mas a clientela se amplia e já há, entre os 
pacientes, quem nunca foi atendido diretamente pelo titular, nem o conhece. Numa fase 
seguinte, cresce mais ainda aquela unidade de serviços. Não se chama mais clínica, e sim 
hospital pediátrico. Entre os muitos funcionários, além dos médicos, enfermeiros e 
atendentes, há contador, advogado, nutricionista, administrador hospitalar, seguranças, 
motoristas e outros. Ninguém mais procura os serviços ali oferecidos em razão do trabalho 
pessoal do médico que os organiza. Sua individualidade se perdeu na organização 
empresarial. Neste momento, aquele profissional intelectual tornou-se elemento de 
empresa. Mesmo que continue clinicando, sua maior contribuição para a prestação dos 
serviços naquele hospital pediátrico é a de organizador dos fatores de produção. Foge, 
 
22 
então, da condição geral dos profissionais intelectuais e deve ser considerado, 
juridicamente, empresário.9 
 Outro exemplo seria o do cartunista Maurício Ricardo, que, até pouco tempo produzia 
charges eletrônicas para a Rede Globo de Televisão. No início de sua carreira, as produzia de 
modo basicamente “artesanal”, e, mesmo tendo colaboradores, não poderia ser considerado 
empresário, pois, em sua organização profissional, preponderava o caráter artístico de sua 
atividade intelectual. Contudo, ao contratar diversos colaboradores e produzir conteúdos para 
diversos clientes (ex. sítio eletrônico da UOL, programa Big Brother da Globo), teve o caráter 
artístico de seu trabalho “dissolvido” em meio a diversos outros componentes da atividade 
empresarial. Daí porque, nessa última situação, a produção de charges tornou-se tão somente 
um dos elementos de atividade empresária de muito maior vulto. 
Um último exemplo seria o de uma sociedade que presta serviços publicitários, que 
consistem na consultoria e elaboração de estratégias de marketing, estudos de mercado, criação 
de logotipos e slogans, não é empresária, porque esses serviços são de natureza exclusivamente 
intelectual. Por outro lado, caso a mesma sociedade, além de prestar os serviços mencionados, 
comercialize cartazes, folders, materiais publicitários e espaços em outdoors, será empresária, 
por associar elementos de empresa a seus serviços de natureza intelectual. 
Além de denotar a abrangência da teoria da empresa, a expressão em análise também 
nos permite concluir que só restará caracterizada a empresa quando a produção ou circulação 
de bens ou serviços destinar-se ao mercado, e não ao consumo próprio. 
1.1.1 Empresário Rural 
O empresário rural tem a faculdade de se registrar ou não perante o Registro Público 
de Empresas Mercantis. Se não for registrado, não é considerado empresário, exercendo 
atividade civil. Se optar pelo registro na Junta Comercial, equiparar-se-á a empresário para todos 
os fins(art. 971 do CC/02). Este registro terá natureza jurídica constitutiva, sendo exceção à 
regra de que o registro do empresário na Junta Comercial tem natureza meramente declaratória 
(uma vez que, via de regra, considera-se empresário em razão da atividade exercida, e não em 
 
9 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial : direito de empresa.23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. pp. 
36-40. 
 
23 
decorrência de registro). O empresário rural só pode pedir recuperação e falir se for registrado, 
já que são institutos restritos aos exercentes de empresa. 
1.1.2 Empresário Casado 
Duas situações que envolvem o casamento assumem grande relevância para o Direito 
Empresarial, são elas: 
1. A da possibilidade de cônjuges contratarem sociedade entre si ou com 
terceiros; e 
2. A do empresário casado e os reflexos na outorga conjugal para 
determinados atos. 
O art. 977 do CC/02 faculta aos cônjuges contratarem sociedade entre si ou com terceiros, 
desde que não estejam casados sob o regime de comunhão universal de bens ou no de 
separação obrigatória. Essa regra é relevante para o estudo de sociedades empresárias. 
Estabelece ser possível que marido e mulher figurem como sócios na mesma sociedade, desde 
que não sejam casados na comunhão universal ou separação obrigatória de bens. Há dispensa 
de outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus reais os imóveis da empresa. 
No que tange ao instituto do empresário individual, importante analisar o art. 978 do 
CC/02, que estabelece que “o empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, 
qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa 
ou gravá-los de ônus real”. Essa regra abrange tão somente o empresário individual, já que, em 
se tratando de sociedade empresária, a titular da empresa é a própria sociedade. 
No entanto, por indicar condição não prevista na lei, causa certa polêmica o seguinte 
enunciado da II Jornada de Direito Comercial da CJF: 
Enunciado 58 da I Jornada de Direito Comercial: O empresário individual casado é o 
destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende da outorga conjugal para alienar 
ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista 
prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio 
empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à 
margem de sua inscrição no registro público de empresas mercantis. 
 
24 
A corrente majoritária entende que o art. 978 é especial em relação ao art. 1.647, I, do 
CC/02, podendo o empresário individual casado, sem necessidade de outorga conjugal, em 
qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa 
ou gravá-los de ônus real. Uma segunda corrente entende que deveria ser feita uma averbação 
no Cartório de Registro de Imóveis e na Junta Comercial afetando o bem ao exercício da 
atividade, autorizando a sua alienação ou que seja posto ônus real. 
 
 
 
Importante consignar que os pactos e declarações antenupciais do empresário serão arquivados 
e averbados no Registro Civil e no Registro Público de Empresas Mercantis (art. 979 do CC/02) 10 
e que eventual decretação ou homologação da separação judicial do empresário ou 
reconciliação não poderá ser oposta a terceiro antes de arquivado e averbado no Registro 
Público de Empresas Mercantis (art. 980 do CC/02). 
Vejamos como esse assunto foi cobrado: 
(XXII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Fagundes e Pilar são noivos e pretendem se casar 
adotando o regime de separação de bens mediante celebração de pacto antenupcial. Fagundes 
é empresário individual e titular do estabelecimento Borracharia Dona Inês Ltda. ME. Celebrado 
o pacto antenupcial entre os nubentes, o advogado contratado por Fagundes providenciará o 
arquivamento e a averbação do documento 
A) no Registro Público de Empresas Mercantis e a publicação na imprensa oficial. 
B) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Pessoas Naturais. 
C) no Registro Civil de Pessoas Naturais e a publicação na imprensa oficial . 
D) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Títulos e Documentos. 
 
 
10 Vide questão 07 
 
25 
Observação: A questão acima citada e seu respectivo comentário encontram-se na bateria 
de questões ao final dessa apostila, ok? 😊 Além disso, a terminação “ME”, presente na 
questão, não é mais utilizada atualmente 
 
 
1.2 Dos requisitos de regularidade 
1.2.1 Da Inscrição 
A inscrição do empresário antes do início de sua atividade é obrigatória (art. 967 do 
CC/02). Para a maioria da doutrina, conforme será melhor especificado em sede de análise dos 
Registro Públicos, esse ato tem natureza declaratória. O registro das sociedades empresárias, 
por sua vez, assumirá natureza constitutiva 
A inscrição deve ser feita mediante requerimento que contenha: o seu nome, 
nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; a firma, com a respectiva 
assinatura autógrafa que poderá ser substituída pela assinatura autenticada com certificação 
digital ou meio equivalente que comprove a sua autenticidade; o capital; o objeto e a sede da 
empresa, conforme art. 968 do CC/02. 
A inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas 
Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos. À 
margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações 
nela ocorrentes. 
1.2.2 Da capacidade 
11O art. 972 do CC/02 exige que para o exercício da atividade de empresário a pessoa 
natural esteja em pleno gozo da capacidade civil (os que não forem incapazes) e não seja 
legalmente impedido (falido não reabilitado, magistrados, membros do MP, militares da ativa, 
etc.). Tem-se, portanto, os requisitos para que a pessoa física exerça atividade econômica como 
empresário individual: a capacidade civil e a ausência de impedimentos legais. 
 
11 Vide questão 09 
 
26 
No que tange à capacidade civil, a regra é que o incapaz não pode ser empresário 
individual, ressalvadas duas situações: a da incapacidade superveniente e do sujeito incapaz 
que herda a atividade empresarial. 
Assim, há idade mínima para iniciar a atividade como empresário individual (16 anos, 
sendo o exercício da empresa causa de emancipação nos termos do art. 5º, parágrafo único, 
inciso V, do Código Civil). Não há, contudo, idade mínima para dar continuidade a uma empresa 
anteriormente iniciada por seus pais (que faleceram) ou pelo autor da herança, devendo o menor 
ser representado ou assistido (princípio da preservação da empresa) (art. 974 do CC/02). No 
mesmo sentido, pode o empresário continuar a empresa por ele exercida enquanto capaz no 
caso de incapacidade superveniente. 
Em tais hipóteses, será necessária autorização judicial, após exame das circunstâncias e 
dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser 
revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, 
sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros (art. 974, §1º, do CC/02). 
A prova da emancipação e da autorização do incapaz e a de eventual revogação desta 
serão INSCRITAS ou AVERBADAS NO REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS. O uso 
da nova firma caberá, conforme o caso, ao gerente; ou ao representante do incapaz; ou a este, 
quando puder ser autorizado (art. 976 do CC/02) 
Como forma de proteção ao incapaz, não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens 
que ele já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo da 
empresa, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização (art. 974, §2º,do 
CC/02). 
Não se exige idade mínima para ser sócio ou titular de EIRELI (por analogia às sociedades 
limitadas), mas este sócio menor deverá integralizar todo o capital, não poderá ser administrador 
e deve estar assistido ou representado. 
 
 
 
 
27 
 IDADE MÍNIMA 
EMPRESÁRIO INDIVIDUAL Dezesseis anos para iniciar (causa de emancipação). 
Não há idade mínima para continuar. Deve estar 
representado ou assistido 
SÓCIO TITULAR DE EIRELI Não há idade mínima. O menor deve estar 
representado ou assistido, não pode ser 
administrador, todo o capital da sociedade deve ser 
integralizado. Se o menor for emancipado, tem plena 
capacidade de ser sócio. 
 
No que tange aos sujeitos legalmente impedidos de exercer empresa, trata-se de 
situação em que os sujeitos exercem função ou possuem condição incompatível com a atividade 
empresarial. Para conhecer esses impedimentos, é necessário conhecer algumas legislações 
específicas. 
Certas pessoas, como membros do MP e magistrados, não podem ser empresários 
individuais, mas podem ser sócias de sociedade empresária, desde que não exerçam 
administração. Se exercerem, apesar da proibição, serão responsabilizados pelas obrigações. 
No mesmo sentido, as pessoas impedidas de ser empresários podem ser titulares de EIRELI, 
desde que não a administrem. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de 
empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas (art. 973 do CC/02). 
Consigne-se que, acaso incapaz o sujeito, e seu o representante ou assistente for pessoa 
que, por disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, deve ser nomeado, com 
a aprovação do juiz, um ou mais gerentes. Por exemplo, caso um menor de 16 anos herde a 
empresa antes exercida por seus pais e o seu tutor seja impedido de exercer empresa (por ser 
ele um Promotor de Justiça, por exemplo), ele deverá, com aprovação do juiz, nomear gerente. 
Do mesmo modo, será nomeado gerente em todos os casos em que o juiz entender ser 
conveniente. Contudo, a aprovação do juiz não exime o representante ou assistente do menor 
ou do interdito da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados (art. 975 do CC/02). 
 
28 
1.2.3 Ausência de impedimento legal 
Há alguns casos previstos expressamente em lei que proíbem a pessoa de exercer 
atividade empresarial. 
É preciso atentar para o fato de que a proibição é para o exercício de empresa, não sendo 
vedado, pois, que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez que, 
nesse caso, quem exerce a atividade empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus sócios. 
Em suma: os impedimentos se dirigem aos empresários individuais, e não aos sócios de 
sociedades empresárias. 
Assim, são impedidos de exercer atividade de empresa como empresários individuais: 
 Membros do Ministério Público, da Magistratura, Servidores militares da ativa 
das Forças Armadas e das Polícias Militares para exercer o comércio individual 
ou particular de sociedade comercial, salvo se acionista ou quotista, obstada a 
função de administrador; 
 Empresários falidos, enquanto não forem reabilitados (Lei de Falências, art. 195); 
 Leiloeiros (o art. 36, do Decreto nº 21.891/32 proíbe os leiloeiros de exercerem 
a empresa direta ou indiretamente, bem como constituir sociedade empresária, 
sob pena de destituição); 
 Corretores (art. 20, da Lei 6.530/78); 
 Despachantes aduaneiros (art. 10, inciso I, do Decreto nº 646/92); 
 Cônsules, nos seus distritos, salvo os não-remunerados (Decreto nº 4.868/82, art. 
11 e Decreto 3.529/89, art. 82); 
 Médicos, para o exercício simultâneo da farmácia, drogaria ou laboratórios 
farmacêuticos e os farmacêuticos, para o exercício simultâneo da medicina 
(Decreto nº 19.606/31 c/c Decreto 20.877/31 e Lei 5.991/73). Segundo o STJ, 
para ter farmácia, o médico teria que pedir desligamento do Conselho de 
Medicina (REsp 796.560/AL); 
 
29 
 Pessoas condenadas a pena que vede, ainda que temporariamente o acesso a 
cargos públicos, ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, 
concussão, peculato ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro 
nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de 
consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da 
condenação (art. 1.011, §1º, CC); 
 Servidores públicos civis da ativa (Lei 1.711/52) e servidores federais (Lei 8112/90, 
art. 117, X, inclusive Ministros de Estado e ocupantes de cargos públicos 
comissionados em geral). Aqui é importante observar que o funcionário público 
pode participar como sócio cotista, comanditário ou acionista, sendo obstada a 
função de administrador; 
 Devedores do INSS (art. 95, §2º, da Lei nº 8.212/91). 
Destaque-se que o Código Civil estabelece, em seu art. 973, que “a pessoa legalmente 
impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações 
contraídas”. Portanto, as obrigações contraídas por um “empresário” impedido não são nulas. 
Ao contrário, elas terão plena validade em relação a terceiros de boa-fé que com ele 
contratarem. 
1.3 Da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada 
(EIRELI) 
A EIRELI não é uma sociedade, mas sim pessoa jurídica de direito privado diversa (art. 44, 
VI, do CC/02). No Direito Brasileiro, as únicas sociedades unipessoais existentes são a Sociedade 
Unipessoal de Advogado e a Subsidiária Integral da Sociedade Anônima. A EIRELI não é 
sociedade. 
A EIRELI será constituída por uma única pessoa, física ou jurídica (Instrução Normativa 
nº 38/2017 do Departamento de Registro Empresarial e Integração - DREI), titular da totalidade 
do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior 
 
30 
salário-mínimo vigente no País. A pessoa natural que constituir EIRELI, contudo, somente 
poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.12 
O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma 
ou a denominação social. 
A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da 
concentração das quotas de outra modalidade societária em um único sócio, 
independentemente das razões que motivaram tal concentração. Em regra, uma sociedade se 
dissolve quando ocorrer a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180 
dias. Não ocorrerá a dissolução, contudo, se o sócio remanescente requerer a transformação 
para empresário individual ou para EIRELI. 
Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para 
a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos 
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da 
pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional. 
Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras 
previstas para as sociedades limitadas. 
A limitação da responsabilidade daquele que exerce atividade econômica por meio de 
EIRELI foi reafirmada pela Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019), publicada em 
30/04/2019, que incluiu o §7º ao art. 980-A do CC/02, em determinação de que “somente o 
patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual de 
responsabilidade limitada, hipótese em que não se confundirá, em qualquer situação, com o 
patrimônio do titular que a constitui, ressalvados os casos de fraude”. Importante consignar que 
dispositivo de redação semelhante foi vetado anteriormente (§4º do art. 980-A do CC/02), sob 
o argumento de que se aplicariam as regras das sociedades limitadas, inclusive quanto à 
separação do patrimônio. 
 
 
 
 
 
 
. 
 
31 
 
 
 
 
 
 EIRELI titularizada por incapaz 
No dia 8 de março de 2019, a Instrução Normativa 55 do Departamento Nacional de 
RegistroEmpresarial e Integração - DREI foi publicada no Diário Oficial da União - DOU. Essa 
instrução altera o manual de registro da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - 
EIRELI para permitir que incapaz seja titular dessa modalidade de pessoa jurídica, desde que 
representado/assistido e sem exercer a administração, que deve ficar a cargo de terceiro. Perceba 
que essa norma tudo tem a ver com o §3º do art. 974 do CC/02,13 pois estabelece as mesmas 
exigências impostas para que o incapaz participe de sociedade. Portanto, equipara o titular da 
EIRELI a um sócio meramente investidor, muito embora, na EIRELI, ele não ocupe jamais essa 
posição, mas, tão somente, de proprietário/titular. 
 Pessoa Jurídica como titular de EIRELI 
O novo manual instituído pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI), 
por meio da publicação da Instrução Normativa n. 38, em 3 de março de 2017, prevê, 
expressamente, em seu item 1.2.59, a possibilidade de pessoa jurídica, nacional ou estrangeira, 
ser titular de EIRELI. O novo Manual de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade 
Limitada passou a vigorar em todo o território brasileiro a partir do dia 2 de maio de 2017, 
respeitados os 60 dias de vacatio legis. 
 
 
 
13 Vide questão 03 
 
32 
1.4 Microempreendedor Individual, Microempresa e Empresa 
de Pequeno Porte 
Não só o empresário e o sócio podem ser classificados, mas também a empresa. Essa, 
para efeitos tributários, pode ser categorizada de acordo com o fluxo financeiro que gera. Tem-
se, então, as seguintes qualificações: 
 Microempresa: para o empresário individual ou as sociedades empresárias 
(exceto a anônima) que percebam receita bruta anual de R$ 360.000,00 
(trezentos e sessenta mil reais) 
 Empresa de Pequeno Porte: para o empresário individual ou as sociedades 
empresárias (exceto a anônima) que percebam receita bruta anual de R$ 
4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais) (conforme alteração 
determinada pela LC 155/2016 sobre a LC 123/2006). 
 Microempreendedor Individual: é uma espécie particular de pequena empresa 
na qual pode se enquadrar, tão somente, o empresário individual que não exceda 
a receita bruta anual de R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais), cf. § 1º do art. 18-
A da LC 123/06. 
1.5 Estabelecimento empresarial 
Também chamado de estabelecimento comercial, fundo de comércio ou azienda (artigos 
1.142 ao 1.149 do CC). Estabelecimento é todo complexo de bens organizado para exercício da 
empresa, pelo empresário ou por sociedade empresária, sendo imprescindível para o exercício 
da atividade empresarial. Só fazem parte do estabelecimento os bens que estão diretamente 
relacionados à atividade empresarial. 
Assim sendo, o estabelecimento não se confunde com a empresa, uma vez que esta, 
conforme visto, corresponde a uma atividade. Da mesma forma, o estabelecimento não se 
confunde com o empresário, já que este é uma pessoa física ou jurídica que explora essa 
atividade empresarial e é o titular dos direitos e obrigações dela decorrentes. 
Mas, embora estabelecimento, empresa e empresário sejam noções que não se 
confundem, são conceitos que se inter-relacionam, podendo-se dizer, pois, que o 
 
33 
estabelecimento, como complexo de bens usado pelo empresário no exercício de sua atividade 
econômica, representa a projeção patrimonial da empresa ou o organismo técnico-econômico 
mediante o qual o empresário atua. 
 
 Bens corpóreos ou materiais: móveis, utensílios, mercadoria, maquinários, o 
próprio imóvel, veículos e todos os demais bens que o empresário utiliza para o 
bom desenvolvimento e organização de sua atividade econômica. Obs.: Bem 
imóvel não é o estabelecimento, mas sim elemento integrante do 
estabelecimento. Isso porque estabelecimento é diferente de patrimônio; 
 Bens incorpóreos ou imateriais: compreendem, principalmente, os bens 
industriais (registro de desenho industrial, marca registrada, patente de invenção, 
de modelo de utilidade, nome empresarial e título de estabelecimento) e o ponto 
(local ao qual a atividade econômica é explorada). 
O enunciado 7 da I Jornada de Direito Comercial apresenta interessante exemplo de bem 
incorpóreo que compõe o estabelecimento empresarial. 
Enunciado 7, CJF: O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem 
incorpóreo para todos os fins de direito. 
Estabelecimento não é sujeito de direito, mas objeto de direito. Sujeito de direito é o 
empresário individual ou a sociedade empresária. 
É objeto unitário de direito (art. 1.143, CC). Por isso o empresário pode vender, arrendar 
ou dar em usufruto o estabelecimento, pois trata-se simplesmente de um objeto. Pode o 
estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou 
constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. 
Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, 
translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. 
O estabelecimento comercial tem natureza jurídica de universalidade de fato, sendo 
composto de bens, direitos e interesses, materiais e imateriais, necessários, úteis e efetivamente 
aplicados ao exercício da empresa. 
 
34 
A reunião de bens do estabelecimento decorre da vontade do empresário ou da 
sociedade empresária, e não da vontade da lei. Logo, trata-se de uma universalidade de fato. O 
estabelecimento como universalidade de fato constitui um conjunto de bens materiais e 
imateriais que serve ao exercício de atividades econômicas. 
Universalidade de direito é aquele conjunto de bens que são reunidos por vontade da lei. 
Exemplo: herança e massa falida. Não se trata o estabelecimento empresarial, portanto, de 
unidade complexa de bens destinados a um fim determinado em lei (universitas juris), mas de 
um conjunto de bens com finalidade vinculada do seu dono, que é o empresário (universitas 
rerum ou facti). 
A doutrina brasileira majoritária, seguindo mais uma vez as ideias suscitadas pela doutrina 
italiana, sempre considerou o estabelecimento empresarial uma universalidade de fato, uma vez 
que os elementos que o compõem formam uma coisa unitária exclusivamente em razão da 
destinação que o empresário lhes dá, e não em virtude de disposição legal. 
Ao se afirmar que o estabelecimento empresarial não é sujeito de direito, o que se 
pretende afastar é a noção de personalização desse complexo de bens, presente em a lgumas 
proposições da segunda metade do século XIX, principalmente na Alemanha, que procuravam 
criar um conceito legal capaz de justificar a relativa autonomia entre a empresa e o empresário. 
Falava-se na tese da empresa em si. 
A tentativa de personalização do estabelecimento, contudo, não logrou êxito, inclusive no 
direito brasileiro. Segundo o disposto na legislação brasileira, é um equívoco considerar o 
estabelecimento empresarial uma pessoa jurídica. Sujeito de direito é a sociedade empresária, 
que, reunindo os bens necessários ou úteis ao desenvolvimento da empresa, organiza um 
complexo de características dinâmicas próprias. A ela, e não ao estabelecimento empresarial, 
imputam-se as obrigações e asseguram-se os direitos relacionados com a empresa. 
No âmbito do direito privado, cujos princípios gerais, à luz do art. 109 do CTN, são 
informadores para a definição dos institutos de direito tributário, a filial é uma espécie de 
estabelecimento empresarial, fazendo parte do acervo patrimonial de uma única pessoa jurídica, 
partilhando dos mesmos sócios, contrato social e firma ou denominação da matriz. Nessa 
condição, consiste, conforme doutrina majoritária, em uma universalidade de fato, não 
ostentando personalidade jurídica própria, não sendo sujeito de direitos, tampouco uma pessoa 
 
35 
distinta da sociedade empresária. Cuida-se de um instrumento de que se utiliza o empresário 
ou sóciopara exercer suas atividades (REsp 1.355.812/RS). 
Imaginemos a seguinte situação prática: no acervo patrimonial de determinada padaria 
há dois imóveis. O primeiro é sede da sociedade empresária, enquanto o segundo, localizado 
em outra unidade da federação, encontra-se alugado. Os valores recebidos a título de aluguéis 
desse segundo imóvel são aplicados no ativo patrimonial da referida sociedade empresária. 
Nessa situação, é correto afirmar que o imóvel alugado não faz parte do estabelecimento 
empresarial da mencionada pessoa jurídica. 
Ora, aquele imóvel faz parte do patrimônio da padaria, mas não integra o 
estabelecimento. A padaria possui um patrimônio e dentro dele há um estabelecimento. Isso 
porque só faz parte do estabelecimento os bens que estão diretamente relacionados à atividade 
empresarial. 
Assim, estabelecimento é diferente de patrimônio. O estabelecimento integra o 
patrimônio, mas não significa que o estabelecimento é o patrimônio. 
 
PATRIMÔNIO 
= 
estabelecimento + outros bens não relacionados diretamente a atividade empresarial 
 
O estabelecimento empresarial não compreende os débitos da empresa. Os débitos fazem 
parte do patrimônio da empresa e não do estabelecimento comercial. Sendo o estabelecimento 
uma universalidade de fato, ou seja, um complexo de bens organizado pelo empresário, ele não 
compreende os contratos, os créditos e as dívidas, por representarem matéria de direito. 
Eis mais uma distinção que pode ser feita, portanto, entre estabelecimento e patrimônio, 
uma vez que este, ao contrário daquele, compreende até mesmo as relações jurídicas – direitos 
e obrigações – do seu titular. 
 
36 
1.5.1 Trespasse 
Trespasse é o nome que se dá para o contrato de compra e venda de estabelecimento 
empresarial. O trespasse não se confunde com a cessão de cotas. 
Na cessão de cotas, não existe transferência da titularidade do estabelecimento, mas, tão 
somente, a transferência das cotas sociais. É alteração apenas do quadro societário. 
Na transferência da participação societária, o estabelecimento empresarial não muda de 
titular. Tanto antes como após a transação, o estabelecimento pertencia e continua a pertencer 
à sociedade empresária, à mesma pessoa jurídica, que apenas tem a sua composição de sócios 
alterada. Na cessão de cotas ou alienação de controle, o objeto da venda é a participação 
societária, ou seja, as cotas ou as ações, conforme a espécie societária. 
Trespasse implica a transferência do conjunto de bens organizados pelo alienante ao 
adquirente, de modo que este possa prosseguir com a exploração da atividade empresarial. 
 
TRESPASSE CESSÃO DE COTAS 
Provoca a transferência da titularidade do 
estabelecimento. 
Não ocorre a transferência da titularidade 
estabelecimento, mas sim a modificação do 
quadro social (alteração dos sócios). 
 
Para que o trespasse produza seus efeitos entre o alienante e o adquirente, não é 
necessário nenhum tipo de publicidade. Porém, para que o contrato de trespasse produza efeitos 
perante terceiros, é preciso que haja averbação na junta comercial, bem como publicação na 
imprensa oficial. 
Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do 
estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem 
da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas 
Mercantis, e de publicado na imprensa oficial. 
O art. 1.144 CC estabelece que para o contrato de trespasse produzir efeitos perante 
terceiros, será preciso: 
 
37 
 Averbação do contrato na Junta Comercial; 
 Publicação na imprensa oficial. 
Os prazos para a averbação ou publicação são indeterminados, cabendo ao interesse das 
partes do contrato a publicidade imediata, levando em consideração a desoneração de 
responsabilidades e efetividade da execução de direitos ou créditos. 
1.5.2 Eficácia do trespasse 
A eficácia do trespasse é garantida pelos bens que permanecem com o devedor, que 
devem ser suficientes para saldar sua dívida. 
Caso não sejam, deve-se observar a regra do art. 1.145, que estabelece o PAGAMENTO 
DE TODOS OS CREDORES ou AUTORIZAÇÃO DE TODOS OS CREDORES. 
É feita uma notificação dos credores, para que se manifestem, no prazo de 30 dias, 
dizendo se são contra ou a favor do trespasse. O silêncio, aqui, é entendido como 
consentimento. 
Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a 
eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, 
ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua 
notificação.14 
A Súmula 451 do STJ autoriza a penhora da sede do estabelecimento comercial. Porém, 
esta medida é excepcional, devendo ocorrer apenas em caso de não se encontrar outros bens 
para penhora. 
Súmula 451, STJ: É legítima a penhora da sede do estabelecimento comercial. 
Segundo definiu o STJ em sede de recurso repetitivo, a penhora de imóvel no qual se 
localiza o estabelecimento da empresa é excepcionalmente permitida quando inexistentes outros 
bens passíveis de penhora e desde que não seja servil à residência da família (REsp 1.114.767/RS, 
Rel. Ministro Luiz Fux, Corte Especial, julgado em 02/12/2009, DJe 04/02/2010). 
O art. 862 do novo CPC prevê que, “quando a penhora recair em estabelecimento 
comercial, industrial ou agrícola [leia-se, genericamente, estabelecimento empresarial] (...), o juiz 
 
14 Questão 06 
 
38 
nomeará administrador-depositário, determinando-lhe que apresente em 10 (dez) dias o plano 
de administração”. Apresentado o referido plano, o juiz ouvirá as partes e decidirá (§1º). O §2º, 
porém, prevê que “é lícito às partes ajustar a forma de administração e escolher o depositário, 
hipótese em que o juiz homologará por despacho a indicação”. 
Corroborando o entendimento jurisprudencial do STJ, no sentido de que a penhora de 
estabelecimento empresarial é medida excepcional, o art. 865 do novo CPC determina o 
seguinte: “a penhora de que trata esta subseção somente será determinada se não houver outro 
meio eficaz para a efetivação do crédito”. 
A violação do art. 1.145 do CC enseja ato de falência. O credor pode requerer a falência 
do empresário que venda bens sem respeitar o art. 1.145 do CC (sem o consentimento de todos 
os credores ou não permanecendo com bens suficientes para solver seu passivo), pois esse ato 
é considerado como ato de falência, conforme previsto no art. 94, III, “c” da Lei 11.101/05. 
 
1.5.3 Responsabilidade do adquirente e do alienante 
O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à 
transferência, desde que regularmente contabilizados. Mas atenção: a regra do art. 1.146 não se 
aplica para as dívidas trabalhistas ou tributárias15. 
Com relação às dívidas trabalhistas, aplica-se a regra da sucessão trabalhista, prevista nos 
arts. 10, 448 e 448-A, da CLT. 
A responsabilidade pelas dívidas trabalhistas recairá exclusivamente sobre o adquirente. 
O alienante só terá responsabilidade solidária se o trespasse houver sido fraudulento (com base 
no Código Civil). 
Já no que toca às dívidas tributárias, aplica-se a regra do art. 133, do CTN. 
Assim, em se tratando de dívidas tributárias ou de dívidas trabalhistas, não se aplica o 
disposto no art. 1.146 do Código Civil, uma vez que a sucessão tributária e a sucessão trabalhista 
possuem regimes jurídicos próprios, previstos em legislação específica (arts. 133 do CTN e 448 
da CLT, respectivamente). 
Exceção: não haverá sucessão trabalhista quando o trespasse decorrer de recuperação 
judicial ou falência (arts. 60 e 141 da Lei 11.101/2005). Quando se tratar de compra realizada no 
 
15 Vide Questão 02 
 
39 
processo de falência ou recuperação judicial (por meio de leilão), o adquirentedo 
estabelecimento não responde pela falência ou pelas dívidas tributárias, trabalhistas ou 
decorrentes de acidente de trabalho, nos termos do art. 141, II da Lei 11.101/05. 
O alienante (devedor primitivo) continua solidariamente obrigado, mas apenas no prazo 
de um ano, desde que a dívida esteja regularmente contabilizada. 
 Caso se trate de dívida vencida, conta-se um ano da DATA DA PUBLICAÇÃO NA 
IMPRENSA OFICIAL; 
 Caso se trate de dívida vincenda, conta-se um ano a partir da DATA DO 
VENCIMENTO. 
Enunciado 233, CJF: Art. 1.142: A sistemática do contrato de trespasse delineada pelo 
Código Civil nos arts. 1.142 e ss., especialmente seus efeitos obrigacionais, aplica-se 
somente quando o conjunto de bens transferidos importar a transmissão da 
funcionalidade do estabelecimento empresarial. 
Ou seja, essa sistemática, sobretudo para efeitos obrigacionais, só se aplica quando o 
conjunto de bens transferidos importar a transmissão da funcionalidade do estabelecimento 
empresarial. Justificou-se tal posicionamento sob a alegação de que, para se falar em trespasse 
de estabelecimento, é necessário que haja transferência de elementos suficientes à preservação 
de sua finalidade como tal, ou seja, a universalidade adquirida deve ser idônea a operar como 
estabelecimento, ainda que tenham sido decotados alguns de seus elementos originais. 
Difere da situação de transferência de participação em sociedade (transferência de cotas), 
onde a responsabilidade do sócio que transferiu perdura por um prazo de 2 anos. Isso porque 
o art. 1.003 do CC preconiza que o cedente responde solidariamente com o cessionário, perante 
a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio, até 2 anos depois de averbada 
a modificação do contrato. 
 
 
40 
 
 
1.2. Concorrência 
Antes do CC, não havia nenhuma referência legal que impedisse a concorrência. Portanto, 
o que acontecia, na prática empresarial, era a confecção de um contrato, onde se inseria uma 
cláusula chamada “cláusula de não-restabelecimento”. 
Hoje, a cláusula de não-restabelecimento está prevista no art. 1.147 do CC. Assim, a 
cláusula de não-restabelecimento está implícita aos contratos de trespasse, na forma do art. 
1.147 do CC, de modo que se faz necessária cláusula expressa a fim de que seja possível a 
concorrência. 
O contrato de trespasse irá definir sobre a possibilidade de concorrência do alienante do 
estabelecimento. Na omissão do contrato de trespasse, aplica-se a regra do art. 1.147 do CC. 
Ou seja, não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer 
concorrência ao adquirente, nos 5 anos subsequentes à transferência. 
A cláusula de não restabelecimento fixada por prazo indeterminado é considerada 
abusiva. 
Segundo o STJ, as partes não podem prever que a cláusula de “não restabelecimento” 
será por prazo indeterminado. O ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não 
aceita que cláusulas que limitem ou vedem direitos sejam estabelecidas por prazo indeterminado 
(REsp 680.815/PR, Min. Raul Araújo, j. 20/03/2014 – inf. 554). 
 
41 
É possível que seja ampliado, mas ele não pode ser fixado em prazo indeterminado e, no 
caso concreto, é possível que tal ampliação seja considerada abusiva se ampliar demais a 
restrição. Nesse sentido: 
Enunciado 490, CJF: A ampliação do prazo de 5 anos de proibição de concorrência pelo 
alienante ao adquirente do estabelecimento, ainda que convencionada no exercício da 
autonomia da vontade, pode ser revista judicialmente, se abusiva. 
Ainda de acordo com o STJ, é válida a cláusula contratual de não concorrência, desde 
que limitada espacial e temporalmente. Isso porque esse tipo de cláusula protege a concorrência 
e os efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de clientela, sendo esses valores jurídicos 
reconhecidos constitucionalmente (REsp 1.203.109/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado 
em 6/5/2015 – Inf. 561). 
O limite geográfico dessa limitação deve ser definido casualmente em função da natureza 
do comércio. Deve-se analisar se o eventual restabelecimento do alienante configura, de fato, 
concorrência ao adquirente. O elemento teleológico da norma referida não é a proibição do 
restabelecimento do alienante, e sim a proibição da concorrência desleal ao adquirente. 
Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial, a 
cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com sociedade empresária 
concorrente pode sim irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde que por um prazo 
certo e em determinado lugar específico (limitada temporária e espacialmente). 
Ex.: João resolveu montar um quiosque no shopping para vender celulares, cartões pré-
pagos etc. Para isso, ele fez um contrato com a operadora de celular “XXX” por meio da qual 
ele somente iria vender os produtos e serviços dessa operadora e, em troca, ela ofereceria a ele 
preços diferenciados, consultoria e treinamento para abrir a loja. No contrato assinado com a 
operadora, havia uma cláusula dizendo que João estava proibido, por 6 meses após a extinção 
do contrato, de contratar com qualquer empresa concorrente naquela cidade. Essa cláusula de 
não concorrência é válida. 
No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista persistirá 
durante o prazo do contrato (art. 1.147, parágrafo único). 
 
42 
1.5.4 Sub-rogação nos contratos de exploração 
É preciso entender que o contrato de trespasse não garante a clientela, que é mera 
situação de fato. A clientela não é elemento integrante do estabelecimento empresarial. Por 
conta disso, a fim de que a clientela se mantenha, o trespasse gera a sub-rogação automática 
do adquirente nos contratos estipulados para a exploração do estabelecimento, se não tiverem 
caráter pessoal. 
Havendo justa causa, os terceiros podem rescindir o contrato em 90 dias, contados da 
publicação da transferência. Assim dispõe o art. 1.148: 
Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação do 
adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem 
caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em 90 dias a contar da 
publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a 
responsabilidade do alienante. 
O art. 1.148 do CC traz uma regra importante: o adquirente terá a garantia que todos os 
contratados de exploração do estabelecimento continuarão em vigor. 
A jurisprudência e o Enunciado 234 do CJF entendem que nos contratos de trespasse 
ocorre a sub-rogação automática de todos os contratos, exceto o contrato de locação, em 
respeito ao art. 13 da Lei de Inquilinato (Lei 8.245/91). 
Enunciado 234, CJF: Art. 1.148: Quando do trespasse do estabelecimento empresarial, o 
contrato de locação do respectivo ponto não se transmite automaticamente ao adquirente. 
Fica cancelado o enunciado nº 64. 
A Lei de Locação (art. 13) prevê a anuência por escrito do locador do imóvel objeto da 
transferência do contrato de locação. 
O STJ entende que o contrato de locação, fugindo a regra do art. 1.148, não é transferido 
automaticamente, dependendo da anuência do locador. 
STJ: Transferência do fundo de comércio. Trespasse. Efeitos: continuidade do processo 
produtivo; manutenção dos postos de trabalho; circulação de ativos econômicos. Contrato 
de locação. Locador. Avaliação de características individuais do futuro inquilino. 
Capacidade financeira e idoneidade moral. Inspeção extensível, também, ao eventual 
prestador da garantia fidejussória. Natureza pessoal do contrato de locação. 
 
43 
Desenvolvimento econômico. Aspectos necessários: proteção ao direito de propriedade e 
a segurança jurídica. Afigura-se destemperado o entendimento de que o art. 13 da Lei do 
Inquilinato não tenha aplicação às locações comerciais, pois, prevalecendo este 
posicionamento, o proprietário do imóvel

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