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Capítulos 1 ao 7 Capítulo 1 MAT ERIA L EXE MPL AR 1 Olá, aluno! Bem-vindo ao estudo para o Exame de Ordem. Preparamos todo esse material para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente. Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de entender como a Banca costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre! Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto com a leitura de jurisprudência selecionada. E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para a gente! Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina. Faça bom uso do seu PDF Ad Verum! Bons estudos mailto:pdfadverum@cers.com.br 2 Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Empresarial da seguinte forma: RECORRÊNCIA Como dito, sabemos que estudar de forma direcionada, com base nos assuntos objetivamente mais recorrentes, é essencial. Afinal, uma separação planejada pode fazer toda diferença. Pensando nisso, através de estudo realizado pelo nosso setor de inteligência com base nas últimas provas, trouxemos os temas mais abordados nessa disciplina! Do Direito de Empresa 21% Da Sociedade 7% Da Recuperação Judicial, Extrajudicial e da Falência do Empresário e da Sociedade Empresária 36% Dos Títulos de Crédito 21% Dos Contratos Empresariais 7% Da Propriedade Industrial 7% DIREITO EMPRESARIAL Do Direito de Empresa Da Sociedade Da Recuperação Judicial, Extrajudicial e da Falência do Empresário e da Sociedade Empresária Dos Títulos de Crédito Dos Contratos Empresariais Da Propriedade Industrial 3 CAPÍTULOS Capítulo 1 – Teoria Geral do Direito Empresarial Capítulo 2 – Regime Jurídico da Atividade Empresarial Capítulo 3 – Direito Societário Capítulo 4 – Crise da Atividade Empresarial Capítulo 5 – Títulos de Crédito Capítulo 6 – Contratos Empresariais Capítulo 7 – Propriedade Industrial 4 SUMÁRIO DIREITO EMPRESARIAL, Capítulo 1 .................................................................................................................................. 6 1. Teoria Geral do Direito Empresarial ....................................................................................................................... 7 1.1 Evolução Histórica do Direito Empresarial ............................................................................................................. 7 1.2 Conceito de empresa ................................................................................................................................................... 10 1.2.1 Empresa como atividade ............................................................................................................................................ 11 1.2.2 Economicidade ............................................................................................................................................................... 12 1.2.3 Organização .................................................................................................................................................................... 12 1.2.4 Profissionalismo ............................................................................................................................................................. 14 1.2.5 Objetivo Específico........................................................................................................................................................ 15 1.3 Fixação de Regime Jurídico ....................................................................................................................................... 15 1.4 O Empresário .................................................................................................................................................................. 16 1.4.1 Conceito e Espécies ...................................................................................................................................................... 16 1.4.2 Caracterização................................................................................................................................................................. 18 1.4.3 Empresário Rural............................................................................................................................................................ 22 1.4.4 Empresário Casado ....................................................................................................................................................... 23 1.5 Dos requisitos de regularidade ................................................................................................................................ 25 1.5.1 Da Inscrição ..................................................................................................................................................................... 25 1.5.2 Da capacidade ................................................................................................................................................................ 25 1.5.3 Ausência de impedimento legal .............................................................................................................................. 28 1.6 Da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) .................................................................... 29 1.7 Microempreendedor Individual, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte...................................... 32 1.8 Estabelecimento empresarial..................................................................................................................................... 32 1.8.1 Trespasse .......................................................................................................................................................................... 36 1.8.2 Eficácia do trespasse .................................................................................................................................................... 37 1.8.3 Responsabilidade do adquirente e do alienante ............................................................................................... 38 1.8.4 Sub-rogação nos contratos de exploração .......................................................................................................... 42 5 1.8.5 Aviamento ........................................................................................................................................................................ 43 1.8.6 Ponto comercial ............................................................................................................................................................. 44 1.8.7 Ação Renovatória ..........................................................................................................................................................45 QUADRO SINÓTICO ............................................................................................................................................................. 48 QUESTÕES COMENTADAS ............................................................................................................................................... 49 GABARITO ................................................................................................................................................................................... 61 LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................................................. 65 JURISPRUDÊNCIA ..................................................................................................................................................................... 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................................................ 73 6 E ai, OABeiro! Tudo certinho? A apostila de número 01 do nosso curso de Direito Empresarial tratará sobre Teoria do Direito Empresarial, matéria que é extremamente cobrada no Exame de Ordem ao decorrer desses anos! De acordo com a nossa equipe de inteligência, esse assunto esteve presente 9 VEZES nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de altíssima relevância. Assim, é imprescindível que você dedique um tempo para estudar este conteúdo com calma e responda as questões que tratam sobre o referido tema, ok? Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei e entendimentos jurisprudenciais, e sempre em companhia de alguma doutrina à sua escolha. Lembre-se: A resolução de questões é a chave para a aprovação! Vamos juntos! 7 DIREITO EMPRESARIAL Capítulo 1 1. Teoria Geral do Direito Empresarial Neste capítulo, estudaremos a Teoria Geral do Direito Empresarial, tema de grande valia para a compreensão de toda a matéria de Direito Empresarial, além de ser composto por assuntos de alta incidência nos últimos concursos para Carreiras Jurídicas. Estabelecer uma “teoria geral” é um exercício que objetiva permitir que o estudioso conheça a dimensão da matéria e seus conceitos basilares. Para fazê-lo em sede do Direito Empresarial, é importante introduzir que se trata de ramo do direito privado que regula a atividade econômica exercida de modo organizado e aqueles que a exercem com proficiência. 1.1 Evolução Histórica do Direito Empresarial Há um campo específico da Ciência Jurídica estruturado com base na concepção atual de “empresa”. Essa noção, por sua vez, surgiu a partir da evolução dos critérios utilizados para definição do objeto do Direito Empresarial. O desenvolvimento histórico desse ramo jurídico é tão relevante que até mesmo a sua denominação acompanhou o progresso de seus institutos. Tanto assim que superou a designação Direito Comercial, antes utilizada para indicar o conjunto de normas, princípios e práticas aplicáveis às relações entre aqueles que desempenhavam certa atividade econômica: o comércio. Pois bem, em um determinado período histórico inexistiu, sequer, nomenclatura para designar o conjunto de práticas mercantis utilizadas pelos “cônsules” da Idade Média para a solução de litígios. Dessa constatação, extraem-se dois aspectos elementares da primeira fase 8 evolutiva do Direito Empresarial: a consuetudinariedade de suas normas e a atuação do “Juízo Consular”. Daí se depreendem as seguintes características desse momento evolutivo inicial do Direito de Empresa: a) costumeiro, em que os usos e costumes geralmente observados pelos mercadores constituíam a sua principal fonte; b) internacional, uma vez que os usos e costumes mercantis eram aplicados geralmente em toda a Europa, nas grandes feiras; e c) corporativo, pois suas normas eram aplicadas pelo tribunal das corporações (juízo consular) no julgamento das controvérsias existentes entre os seus próprios membros. O Direito Comercial é, nesse momento, um direito de classe. Percebe-se, assim, que um conjunto de usos e costumes foi esboçado em benefício, tão somente, da figura do comerciante. Por esta razão, essa incipiente fase foi considerada como subjetivista. O cônsul era um comerciante ou um mestre artesão (dono de uma corporação de ofício) que, em razão de sua maior experiência, dominava melhor os costumes mercantis. Por isso, era ele quem decidia os dissídios entre mercadores, aplicando tais práticas, tendo-se em vista a inexistência de normas codificadas. Em um segundo momento, logo após a Revolução Francesa, buscou-se a sistematização das normas consuetudinárias em um único diploma legal. O marco histórico dessa segunda fase do Direito Empresarial foi a edição do Código Comercial Francês de 1807, geralmente, associado à figura Napoleão Bonaparte. Nessa etapa, passou a ser considerado como objeto do Direito Comercial todo e qualquer ato enumerado, taxativamente, como mercancia. Daí falar-se na Teoria dos Atos de Comércio. Por não se centralizar mais sobre a figura do comerciante, tal teoria imprimiu uma feição objetivista a essa fase. Sendo assim, pode-se dizer que essa segunda fase foi marcada pelas seguintes características: a) clara separação entre Direito Comercial e Direito Civil como ramos autônomos e independentes; b) especificidade do direito comercial, sendo que o próprio ato do comércio caracterizava a profissão dos comerciantes; c) caracterização do Direito Comercial 9 pelo objeto (comércio) e não pelo sujeito (comerciante); d) monopólio da jurisdição pelo Estado devido à perda da força das corporações de ofício. Todavia, também o método de delimitação da matéria comercial proposto pela Teoria dos Atos de Comércio se mostrou insuficiente, vez que não alcançava outros setores da economia, tais como a indústria e a prestação de serviços. Diante disso, surgiu, na Itália, nova proposta para estabelecer o alcance do ramo do direito privado ora examinado, a qual foi marcada como terceira fase evolutiva do Direito Empresarial. A Teoria da Empresa, recepcionada pelo Código Civil Italiano de 1942 e com grande aceitação por diversos ordenamentos jurídicos, trouxe parâmetros bem mais sofisticados. Conforme mencionado acima, os novos critérios provocaram, inclusive, a mudança da terminologia utilizada para designar o setor do saber jurídico ao qual se aplicavam. Sendo assim, de Direito Comercial passou-se à denominação Direito Empresarial. André Luiz Ramos Santa-Cruz, inspirado nas lições de Waldirio Bulgarelli, assim compara as duas teorias: Para a teoria da empresa, o direito comercial não se limita a regular apenas as relações jurídicas em que ocorra a prática de um determinado ato definido em lei como ato de comércio (mercancia). A teoria da empresa faz com que o direito comercial não se ocupe apenas com alguns atos, mas com uma forma específica de exercer uma atividade econômica: a forma empresarial.1 O foco passou, então, para o exercício de atividade econômica, sob a modalidade de empresa. Isso se dá sempre que é organizada de acordo com os parâmetros eleitos pe la lei como identificadores da atividade empresarial. Daí porque essa fase foi considerada subjetivista moderna. 1 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 37 e 38. 10 1.2 Conceito de empresa Como vimos, a fase da teoria da empresa, também conhecida como sistema italiano, teve como ápice o Códice Civile (Código Civil Italiano) de 1942, que pretendeu unificar o direito privado da Itália.As três fases históricas descritas no tópico anterior espelharam-se no Brasil, o que pode ser constatado no fluxograma abaixo, o qual demonstra a evolução dessas teorias conforme seus respectivos marcos legais no direito pátrio. A teoria da empresa acarretou uma ampliação da abrangência do Direito Comercial (agora Direito Empresarial). Tratando-se do sistema utilizado pelo Código Civil de 2002, com esta teoria , surgem as ideias de empresa e de empresário. Contam com a proteção das normas de direito empresarial aqueles que praticarem empresa (atividade econômica, exercida profissionalmente e organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços). O art. 966 do Código Civil definiu o empresário a partir do conceito de empresa, considerando-a como atividade dotada das seguintes características: economicidade, profissionalismo, organização e finalidade de produção ou circulação de bens ou serviços. É Fase Subjetivista Comerciante Fase Objetivista Atos de Comércio (mercancia) Fase Subjetivista (Moderna) Empresário Regulamento 737 de 1850 “Considera-se Mercancia”... Tribunais de Comércio Código Comercial de 1850 Código Civil de 2002 11 importante mencionar que, embora o dispositivo não tenha contemplado a especulação, essa também pode ser considerada uma atividade de natureza empresarial, muito embora, muitas vezes, não repercuta na produção ou circulação de qualquer bem ou serviço. O quadro abaixo representa os aspectos essenciais para que uma atividade seja caracterizada como empresária: Conforme a mesma norma, a priori, estão excluídas da noção de empresa as atividades intelectuais de natureza artística, científica ou literária. Mas, por ora, não convém adentrar as nuances do parágrafo único daquela norma (art. 966. CC), posto que serão melhor abordadas posteriormente. 1.2.1 Empresa como atividade A natureza jurídica da empresa é de atividade, porquanto consiste em um conjunto coordenado de atos voltados à obtenção de um resultado comum. Logo, empresa não é sujeito nem objeto de direitos. Logo, do ponto de vista jurídico, há uma impropriedade terminológica existente em expressões como “tenho uma empresa” ou vou na empresa. Empresa = Atividade Econômica Organizada Profissional Industrial, Comercial ou de Prestação de Serviços 12 1.2.2 Economicidade Econômica é aquela atividade que tem como fim precípuo a distribuição de lucros ou a geração de valor. No caso do empresário individual, o lucro se destina a acrescer o próprio patrimônio. Nas sociedades empresárias, o fim da atividade é a distribuição de lucros aos sócios. Contudo, a ausência da finalidade lucrativa não descaracteriza uma atividade como empresária caso ela se destine à circulação de riqueza ou à prestação de serviço remunerado. É o caso, por exemplo, de uma sociedade empresária criada para objetivos filantrópicos, mas que, para alcança-los, precisa angariar recursos comercializando bens ou cobrando por serviços prestados. Nas palavras de André Luiz Ramos Santa Cruz Ao destacarmos a expressão atividade econômica, por sua vez, queremos enfatizar que empresa é uma atividade exercida com intuito lucrativo. Afinal, conforme veremos, é característica intrínseca das relações empresariais a onerosidade. Mas não é só à ideia de lucro que a expressão atividade econômica remete. Ela indica também que o empresário, sobretudo em função do intuito lucrativo de sua atividade, é aquele que assume os seus riscos técnicos e econômicos. Entenda-se a ideia de lucro aqui como utilidade. É lucrativa a atividade que produz uma utilidade, e não somente aquela que se traduz em dinheiro. De qualquer forma, o critério de economicidade é essencial. A atividade deve produzir o suficiente para, pelo menos, remunerar os fatores da produção e, dentre eles, o capital investido, de molde a assegurar, por si mesma, a sua sobrevivência.2 1.2.3 Organização Vimos que, sob a égide do atual Código Civil Brasileiro, a empresa é tida como atividade, cuja marca essencial é a obtenção de lucros com o oferecimento ao mercado de bens ou serviços, gerados mediante a organização dos fatores de produção (força de trabalho/mão de obra, matéria-prima, capital e tecnologia).3 2 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 37 e 38. 3 MELLO FRANCO, Vera Helena. Manual de direito comercial. 2. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 51. v. 1. Resume bem a professora da USP: “a ideia de organização, assim, deve ser entendida em sentido amplo, de molde a considerar 13 Asquini dividia a expressão empresa em quatro perfis. Em um perfil subjetivo, empresa seria sinônimo de empresário. Em um perfil funcional, empresa seria a atividade (utilizado pela teoria da empresa). Em um perfil objetivo, empresa seria sinônimo de patrimônio aziendal ou estabelecimento. Por fim, em um perfil corporativo, empresa é instituição, na medida em que reúne pessoas com propósitos comuns (empresário e empregados). 4 Saliente-se que, conforme entendimento majoritário, o Código Civil de 2002 não unificou o direito privado, mas apenas o direito dos contratos e das obrigações. O Direito Empresarial permanece autônomo, apesar de o Código Comercial ter sido derrogado pelo referido diploma (revogado parcialmente, já que a parte sobre comércio marítimo permanece vigente). A atividade dos empresários pode ser vista como a de articular (organizar) os fatores de produção, que, no sistema capitalista, são quatro: capital, mão-de-obra, insumo e tecnologia. Estruturar a produção ou circulação de bens ou serviços significa reunir os recursos financeiros (capital), humanos (mão-de-obra), materiais (insumo) e tecnológicos que viabilizem oferece- los ao mercado consumidor com preços e qualidade competitivos. Organização é a reunião desses quatro fatores de produção, assim descritos por Fábio Ulhoa Coelho: Mão-de-obra: é um fato de produção que envolve o auxílio de prepostos do empresário para a consecução de sua atividade, devendo, necessariamente, ser um trabalho alheio, seja por contrato de trabalho, seja por prestação de serviço etc. Ex.: Uma pessoa faz, embrulha e vende trufas com habitualidade e finalidade lucrativa, mas se não possuir mão de obra contratada não poderá ser considerada empresária, e sim apenas sociedade simples. Insumos (matéria-prima): correspondem aos bens articulados pela empresa; Capital: é o montante em dinheiro necessário ao desenvolvimento da atividade; Tecnologia: faz compor a ideia de que o empresário detém as informações necessárias ao desenvolvimento da atividade a que se propôs explorar. ‘organizada’ toda atividade realizada de modo profissional, isto é, que não seja extemporânea ou improvisada, destinada à colocação de bens ou serviços no mercado”. 4 ASQUINI, Alberto. Perfis da Empresa. Tradução de Fábio Konder Comparato. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 35, n. 104, p.109-126, out./dez. 1996. 14 Segundo o supracitado autor, a ausência de qualquer um dos quatro fatores descaracteriza a organização e, consequentemente, a pessoa jurídica como sociedade empresária ou Empresa Individual de Responsabilidade limitada e a pessoa física como empresário individual5. André Luiz Ramos é contrário a esse posicionamento, tendo em vista que a automatização permite a inobservância do requisito da “mão de obra contratada”, sem descaracterizar, em sua essência, a figura do empresário6. Para ele, estará caracterizada a organização se a atividade fim tiver de ser exercida com a colaboração de terceiros ou mediante recursos de terceiros (pessoas ou bens).Assim, uma lavanderia totalmente computadorizada poderia ser considerada uma atividade empresarial. Pode-se citar também o caso dos empresários virtuais, que, muitas vezes, atuam completamente sozinhos, resumindo- se sua atividade à intermediação de produtos ou serviços por meio da internet. 1.2.4 Profissionalismo O caráter profissional da atividade remete à ideia de exercício com qualificação técnica e aprimoramento, muito embora, em vários casos, não seja necessária uma formação específica para desempenho da empresa. Evidente, pois, que, desse somatório de elementos organizados para exercício da atividade empresária exsurge a ideia de habitualidade na prática desta função, podendo-se afirmar que somente a atividade praticada com certa constância pode ser reconhecida como de natureza profissional (REsp 1.539.154 de 25/11/2015). Se o exercício da atividade econômica se dá de forma esporádica, por exemplo, seu promovente não será considerado empresário, não sendo abrangido, portanto, pelo regime jurídico empresarial. Em síntese, “importa que a atividade corresponda a um constante repetir- se, não podendo tratar-se da realização de um negócio ocasional de compra e venda ou de mediação”. 5 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 13-14. 6 123. 15 1.2.5 Objetivo Específico Por fim, a produção ou circulação de bens ou serviços demonstra a abrangência da teoria da empresa, em contraposição à antiga teoria dos atos de comércio, a qual, como visto, restringia o âmbito de incidência do regime jurídico comercial a determinadas atividades econômicas elencadas na lei. Para a teoria da empresa, em contrapartida, qualquer atividade econômica poderá, em princípio, submeter-se ao regime jurídico empresarial, bastando que seja exercida profissionalmente, de forma organizada e com intuito lucrativo. Sendo assim, a expressão produção ou circulação de bens ou de serviços deixa claro que nenhuma atividade econômica está excluída, em princípio, do âmbito de incidência do direito empresarial. Além de denotar a abrangência da teoria da empresa, a expressão em análise também nos permite concluir que só restará caracterizada a empresa quando a produção ou circulação de bens ou serviços destinar-se ao mercado, e não ao consumo próprio. 1.3 Fixação de Regime Jurídico É imperioso enfatizar quais são os desdobramentos da caracterização da atividade de um sujeito de direitos como empresária, pois dela decorre sua submissão ao conjunto de regras e princípios do Direito de Empresa (regime jurídico empresarial). Logo, diretrizes e preceitos civilistas incompatíveis com o regramento empresarialista cederão espaço àquelas que disciplinam a matéria com maior especificidade. Sob essa perspectiva, cabe apontar os seguintes efeitos práticos, já os comparando com as atividades não empresariais, as quais se submetem ao regime jurídico civil: REGIME CARACTERÍSTICAS PRÓRIA Civil Subordinação dos atos ao registro civil Sujeição ao procedimento de insolvência civil Impossibilidade de se valer da recuperação (extra) judicial; 16 Ilegitimidade para ação renovatória da locação empresarial; Empresarial Subordinação dos atos ao registro empresarial Sujeição ao procedimento de execução concursal (falência); Possibilidade de se valer da recuperação (extra) judicial; Legitimidade para ação renovatória da locação empresarial; Percebe-se, assim, que a noção de empresa é o principal alicerce de todo o conteúdo didático da disciplina de Direito Empresarial, pois permite a apreensão de seus institutos jurídicos peculiares, notadamente, as figuras do empresário e do estabelecimento empresarial. Em razão disso, é recorrentemente cobrada nas provas de concurso, conforme se pode verificar na parte de exercícios deste material. 1.4 O Empresário 1.4.1 Conceito e Espécies O Código Civil de 2002, em seu art. 966, caput, nos traz o conceito de empresário como sendo aquele que exerce, profissionalmente, atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. A essa atividade exercida se dá o nome de “empresa”. Esse conceito legal será mais bem detalhado a seguir. Por enquanto, é importante mencionar que a expressão “empresário” pode ser concebida em sentido amplo para abarcar o empresário pessoa física (empresário individual) e o empresário pessoa jurídica (sociedade empresária ou empresa individual de responsabilidade limitada - EIRELI). Em sentido estrito, empresário é a pessoa física que exerce empresa, ou seja, o empresário individual. 17 Empresário (em sentido amplo)7 Empresário Individual (ou empresário em sentido estrito) Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) Sociedade Empresária Pessoa Física que exerce atividade econômica organizada, conforme o art. 966 do CC. Pessoa Jurídica INDIVIDUAL exercente de atividade econômica organizada de acordo com o art. 966 do CC. Pessoa Jurídica, formada, em regra, por PLURALIDADE de membros (sócios), cujo objeto social se destina ao exercício de atividade empresária (art. 966 do CC) * Exceção: sociedade limitada com sócio único Mesmo sendo pessoa física, terá CNPJ. Pode ser simples ou empresária. Atualmente, a sociedade limitada poderá ser unipessoal Saliente-se que a própria sociedade é quem é empresária, e não os seus sócios. Isso porque é ela que organiza, sob sua titularidade, ou seja, em seu nome a atividade de produção ou circulação de bens ou serviços. Assim, sócio de sociedade empresária não é considerado empresário, mas sim um empreendedor, quando, além de ter aportado capital, também colabora com seus serviços na organização da atividade (ex. sócio diretor) ou mero investidor, caso não participe da condução dos negócios. Em se tratando do empresário individual, trata-se de pessoa natural que exerce empresa, tendo responsabilidade direta e ilimitada (todo o seu patrimônio responde por todas as obrigações, tenha ou não relação com o exercício da atividade). A doutrina entende que o 7 Questão 8 18 empresário individual deve responder primeiro com os bens afetados à exploração da empresa e, apenas subsidiariamente, com os bens não afetados. Nesse sentido: Enunciado 5 da I Jornada de Direito Comercial: Quanto às obrigações decorrentes de sua atividade, o empresário individual tipificado no art. 966 do Código Civil responderá primeiramente com os bens vinculados à exploração de sua atividade econômica, nos termos do art. 1.024 do Código Civil. Consigne-se que o fato de ser pessoa natural não impede que o empresário individual seja inserido no Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas - CNPJ para fins tributários. Assim, por mais estranho que pareça, um empresário individual terá um número de CNPJ para poder identificar os negócios praticados que se relacionam ao exercício da atividade empresária. 1.4.2 Caracterização Conforme mencionado anteriormente, o Código Civil Brasileiro de 2002 recepcionou a Teoria da Empresa e, por isso, adotou o conceito jurídico indeterminado de empresário em seu artigo 966. No entanto, a precisa interpretação desse dispositivo legal requer análise em diferentes etapas, técnica hermenêutica denominada de “Exegese Quadripartite”8. Essa técnica hermenêutica se concentra nos seguintes pontos relevantes , sintetizado pelo fluxograma abaixo em quatro estágios interpretativos: 8 PARENTONI, Leonardo Netto et alii. Análise quadripartite do artigo 966 do Código Civil de 2002. Jornal da Faculdade de Direito da UFMG (O Sino do Samuel). Belo Horizonte, Ano X, n. 78, p. 3, out. 2004. 19 Uma vez visualizadastais etapas, cabe detalhá-las da seguinte forma: 1ª parte: O caput dispõe que, em regra, as atividades industriais, comerciais e de prestação de serviços são empresariais. A contrario sensu, valendo-se da ideia de exclusão, não estando presentes os elementos da atividade empresária (atividade econômica, exercida de forma profissional e organizada e direcionada à produção ou à circulação de bens ou serviços), a atividade exercida será civil. 2ª parte: São exceções aquelas decorrentes de “profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística”, previstas no parágrafo único, ainda que com o concurso de auxiliares. 3ª parte: A parte final do parágrafo único considera empresariais atividades que, embora decorrentes de profissão intelectual, contenham elemento de empresa, situação que se configura quando a atividade intelectiva for absorvida pela organização dos fatores de produção, sendo apenas mais um dos elementos da empresa, ou seja, constitui apenas uma das etapas do Art. 966, caput • Regra (caput): • Atividade empresarial (indústria, comércio, serviços) Art. 966, p.u., 1a • Exceção (p. u., 1ª parte): • Atividade intelectual científica, artística e literária Art. 966, p.u., 2a • Limites da exceção ou “exceção da exceção! (p.u., parte final): • "Elemento de Empresa” Situações Especiais • Tratamento legal diferenciado (outros dispositivos legais) • Ex. (art. 1.089, CC/02): cooperativas (sempre civis) e S/As (sempre empresárias) 20 processo de produção ou circulação de mercadorias ou serviços. Sendo assim, apenas o exercício das atividades exclusivamente intelectuais está excluído do conceito previsto no caput do art. 966. Isso porque a presença do “elemento de empresa” redireciona a esse preceito a caracterização da atividade, determinando-a como empresária. Em outras palavras, “elemento de empresa” é conceito legal indeterminado que, uma vez verificado, remete a atividade intelectual à regra do caput, categorizando-a como atividade empresária. Ei OABeiro, é importante dar uma lida no texto dos enunciados 193, 194 e 195 das Jornadas de Direito Civil do CJF, que, respectivamente estabelecem: “o exercício das atividades de natureza exclusivamente intelectual está excluído do conceito de empresa”; “os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida”; e “a expressão ‘elemento de empresa’ demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial”. 4ª parte: Por disposição legal específica, algumas atividades, ainda que insertas nas hipóteses do caput ou do parágrafo único, devem sujeitar-se a regime jurídico especial. São exemplos: a) cooperativa (art. 4º e 18, § 6º, da Lei nº 5.764/1971); b) sociedade anônima (art. 1.089, CC/02). A primeira jamais poderá praticar atividades empresariais por expressa disposição da legislação especial enquanto a segunda sempre praticará atividades empresarias, qualquer que seja seu objeto social. Apesar de registradas na Junta Comercial (art. 18 da Lei nº 5.764/71), as 21 Cooperativas são sempre sociedades simples, exercendo atividade civil por força de lei (art. 982 do CC/02). Sendo assim, não importa se uma cooperativa de produtores rurais pratica a mesma atividade que uma indústria dedicada ao agronegócio, porque ela sempre será considerada não empresária. Por outro lado, uma sociedade anônima sempre será considerada empresária, ainda que tenha como fim social atividade relacionada com a prática de atos filantrópicos. Infere-se, então, que a natureza intelectual, seja ela artística, científica ou literária, geralmente, impede o enquadramento como empresário daquele que a pratica. No entanto, Fábio Ulhoa Coelho invoca exceção que confirma a regra: Há uma exceção, prevista no mesmo dispositivo legal, em que o profissional intelectual se enquadra no conceito de empresário. Trata-se da hipótese em que o exercício da profissão constitui elemento de empresa. Para compreender o conceito legal, convém partir de um exemplo. Imagine o médico pediatra recém-formado, atendendo seus primeiros clientes no consultório. Já contrata pelo menos uma secretária, mas se encontra na condição geral dos profissionais intelectuais: não é empresário, mesmo que conte com o auxílio de colaboradores. Nesta fase, os pais buscam seus serviços em razão, basicamente, de sua competência como médico. Imagine, porém, que, passando o tempo, este profissional amplie seu consultório, contratando, além de mais pessoal de apoio (secretária, atendente, copeira etc.), também enfermeiros e outros médicos. Não chama mais o local de atendimento de consultório, mas de clínica. Nesta fase de transição, os clientes ainda procuram aqueles serviços de medicina pediátrica, em razão da confiança que depositam no trabalho daquele médico, titular da clínica. Mas a clientela se amplia e já há, entre os pacientes, quem nunca foi atendido diretamente pelo titular, nem o conhece. Numa fase seguinte, cresce mais ainda aquela unidade de serviços. Não se chama mais clínica, e sim hospital pediátrico. Entre os muitos funcionários, além dos médicos, enfermeiros e atendentes, há contador, advogado, nutricionista, administrador hospitalar, seguranças, motoristas e outros. Ninguém mais procura os serviços ali oferecidos em razão do trabalho pessoal do médico que os organiza. Sua individualidade se perdeu na organização empresarial. Neste momento, aquele profissional intelectual tornou-se elemento de empresa. Mesmo que continue clinicando, sua maior contribuição para a prestação dos serviços naquele hospital pediátrico é a de organizador dos fatores de produção. Foge, 22 então, da condição geral dos profissionais intelectuais e deve ser considerado, juridicamente, empresário.9 Outro exemplo seria o do cartunista Maurício Ricardo, que, até pouco tempo produzia charges eletrônicas para a Rede Globo de Televisão. No início de sua carreira, as produzia de modo basicamente “artesanal”, e, mesmo tendo colaboradores, não poderia ser considerado empresário, pois, em sua organização profissional, preponderava o caráter artístico de sua atividade intelectual. Contudo, ao contratar diversos colaboradores e produzir conteúdos para diversos clientes (ex. sítio eletrônico da UOL, programa Big Brother da Globo), teve o caráter artístico de seu trabalho “dissolvido” em meio a diversos outros componentes da atividade empresarial. Daí porque, nessa última situação, a produção de charges tornou-se tão somente um dos elementos de atividade empresária de muito maior vulto. Um último exemplo seria o de uma sociedade que presta serviços publicitários, que consistem na consultoria e elaboração de estratégias de marketing, estudos de mercado, criação de logotipos e slogans, não é empresária, porque esses serviços são de natureza exclusivamente intelectual. Por outro lado, caso a mesma sociedade, além de prestar os serviços mencionados, comercialize cartazes, folders, materiais publicitários e espaços em outdoors, será empresária, por associar elementos de empresa a seus serviços de natureza intelectual. Além de denotar a abrangência da teoria da empresa, a expressão em análise também nos permite concluir que só restará caracterizada a empresa quando a produção ou circulação de bens ou serviços destinar-se ao mercado, e não ao consumo próprio. 1.1.1 Empresário Rural O empresário rural tem a faculdade de se registrar ou não perante o Registro Público de Empresas Mercantis. Se não for registrado, não é considerado empresário, exercendo atividade civil. Se optar pelo registro na Junta Comercial, equiparar-se-á a empresário para todos os fins(art. 971 do CC/02). Este registro terá natureza jurídica constitutiva, sendo exceção à regra de que o registro do empresário na Junta Comercial tem natureza meramente declaratória (uma vez que, via de regra, considera-se empresário em razão da atividade exercida, e não em 9 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial : direito de empresa.23. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. pp. 36-40. 23 decorrência de registro). O empresário rural só pode pedir recuperação e falir se for registrado, já que são institutos restritos aos exercentes de empresa. 1.1.2 Empresário Casado Duas situações que envolvem o casamento assumem grande relevância para o Direito Empresarial, são elas: 1. A da possibilidade de cônjuges contratarem sociedade entre si ou com terceiros; e 2. A do empresário casado e os reflexos na outorga conjugal para determinados atos. O art. 977 do CC/02 faculta aos cônjuges contratarem sociedade entre si ou com terceiros, desde que não estejam casados sob o regime de comunhão universal de bens ou no de separação obrigatória. Essa regra é relevante para o estudo de sociedades empresárias. Estabelece ser possível que marido e mulher figurem como sócios na mesma sociedade, desde que não sejam casados na comunhão universal ou separação obrigatória de bens. Há dispensa de outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus reais os imóveis da empresa. No que tange ao instituto do empresário individual, importante analisar o art. 978 do CC/02, que estabelece que “o empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real”. Essa regra abrange tão somente o empresário individual, já que, em se tratando de sociedade empresária, a titular da empresa é a própria sociedade. No entanto, por indicar condição não prevista na lei, causa certa polêmica o seguinte enunciado da II Jornada de Direito Comercial da CJF: Enunciado 58 da I Jornada de Direito Comercial: O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro público de empresas mercantis. 24 A corrente majoritária entende que o art. 978 é especial em relação ao art. 1.647, I, do CC/02, podendo o empresário individual casado, sem necessidade de outorga conjugal, em qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real. Uma segunda corrente entende que deveria ser feita uma averbação no Cartório de Registro de Imóveis e na Junta Comercial afetando o bem ao exercício da atividade, autorizando a sua alienação ou que seja posto ônus real. Importante consignar que os pactos e declarações antenupciais do empresário serão arquivados e averbados no Registro Civil e no Registro Público de Empresas Mercantis (art. 979 do CC/02) 10 e que eventual decretação ou homologação da separação judicial do empresário ou reconciliação não poderá ser oposta a terceiro antes de arquivado e averbado no Registro Público de Empresas Mercantis (art. 980 do CC/02). Vejamos como esse assunto foi cobrado: (XXII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Fagundes e Pilar são noivos e pretendem se casar adotando o regime de separação de bens mediante celebração de pacto antenupcial. Fagundes é empresário individual e titular do estabelecimento Borracharia Dona Inês Ltda. ME. Celebrado o pacto antenupcial entre os nubentes, o advogado contratado por Fagundes providenciará o arquivamento e a averbação do documento A) no Registro Público de Empresas Mercantis e a publicação na imprensa oficial. B) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Pessoas Naturais. C) no Registro Civil de Pessoas Naturais e a publicação na imprensa oficial . D) no Registro Público de Empresas Mercantis e no Registro Civil de Títulos e Documentos. 10 Vide questão 07 25 Observação: A questão acima citada e seu respectivo comentário encontram-se na bateria de questões ao final dessa apostila, ok? 😊 Além disso, a terminação “ME”, presente na questão, não é mais utilizada atualmente 1.2 Dos requisitos de regularidade 1.2.1 Da Inscrição A inscrição do empresário antes do início de sua atividade é obrigatória (art. 967 do CC/02). Para a maioria da doutrina, conforme será melhor especificado em sede de análise dos Registro Públicos, esse ato tem natureza declaratória. O registro das sociedades empresárias, por sua vez, assumirá natureza constitutiva A inscrição deve ser feita mediante requerimento que contenha: o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; a firma, com a respectiva assinatura autógrafa que poderá ser substituída pela assinatura autenticada com certificação digital ou meio equivalente que comprove a sua autenticidade; o capital; o objeto e a sede da empresa, conforme art. 968 do CC/02. A inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos. À margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes. 1.2.2 Da capacidade 11O art. 972 do CC/02 exige que para o exercício da atividade de empresário a pessoa natural esteja em pleno gozo da capacidade civil (os que não forem incapazes) e não seja legalmente impedido (falido não reabilitado, magistrados, membros do MP, militares da ativa, etc.). Tem-se, portanto, os requisitos para que a pessoa física exerça atividade econômica como empresário individual: a capacidade civil e a ausência de impedimentos legais. 11 Vide questão 09 26 No que tange à capacidade civil, a regra é que o incapaz não pode ser empresário individual, ressalvadas duas situações: a da incapacidade superveniente e do sujeito incapaz que herda a atividade empresarial. Assim, há idade mínima para iniciar a atividade como empresário individual (16 anos, sendo o exercício da empresa causa de emancipação nos termos do art. 5º, parágrafo único, inciso V, do Código Civil). Não há, contudo, idade mínima para dar continuidade a uma empresa anteriormente iniciada por seus pais (que faleceram) ou pelo autor da herança, devendo o menor ser representado ou assistido (princípio da preservação da empresa) (art. 974 do CC/02). No mesmo sentido, pode o empresário continuar a empresa por ele exercida enquanto capaz no caso de incapacidade superveniente. Em tais hipóteses, será necessária autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros (art. 974, §1º, do CC/02). A prova da emancipação e da autorização do incapaz e a de eventual revogação desta serão INSCRITAS ou AVERBADAS NO REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS. O uso da nova firma caberá, conforme o caso, ao gerente; ou ao representante do incapaz; ou a este, quando puder ser autorizado (art. 976 do CC/02) Como forma de proteção ao incapaz, não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que ele já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo da empresa, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização (art. 974, §2º,do CC/02). Não se exige idade mínima para ser sócio ou titular de EIRELI (por analogia às sociedades limitadas), mas este sócio menor deverá integralizar todo o capital, não poderá ser administrador e deve estar assistido ou representado. 27 IDADE MÍNIMA EMPRESÁRIO INDIVIDUAL Dezesseis anos para iniciar (causa de emancipação). Não há idade mínima para continuar. Deve estar representado ou assistido SÓCIO TITULAR DE EIRELI Não há idade mínima. O menor deve estar representado ou assistido, não pode ser administrador, todo o capital da sociedade deve ser integralizado. Se o menor for emancipado, tem plena capacidade de ser sócio. No que tange aos sujeitos legalmente impedidos de exercer empresa, trata-se de situação em que os sujeitos exercem função ou possuem condição incompatível com a atividade empresarial. Para conhecer esses impedimentos, é necessário conhecer algumas legislações específicas. Certas pessoas, como membros do MP e magistrados, não podem ser empresários individuais, mas podem ser sócias de sociedade empresária, desde que não exerçam administração. Se exercerem, apesar da proibição, serão responsabilizados pelas obrigações. No mesmo sentido, as pessoas impedidas de ser empresários podem ser titulares de EIRELI, desde que não a administrem. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas (art. 973 do CC/02). Consigne-se que, acaso incapaz o sujeito, e seu o representante ou assistente for pessoa que, por disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, deve ser nomeado, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes. Por exemplo, caso um menor de 16 anos herde a empresa antes exercida por seus pais e o seu tutor seja impedido de exercer empresa (por ser ele um Promotor de Justiça, por exemplo), ele deverá, com aprovação do juiz, nomear gerente. Do mesmo modo, será nomeado gerente em todos os casos em que o juiz entender ser conveniente. Contudo, a aprovação do juiz não exime o representante ou assistente do menor ou do interdito da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados (art. 975 do CC/02). 28 1.2.3 Ausência de impedimento legal Há alguns casos previstos expressamente em lei que proíbem a pessoa de exercer atividade empresarial. É preciso atentar para o fato de que a proibição é para o exercício de empresa, não sendo vedado, pois, que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez que, nesse caso, quem exerce a atividade empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus sócios. Em suma: os impedimentos se dirigem aos empresários individuais, e não aos sócios de sociedades empresárias. Assim, são impedidos de exercer atividade de empresa como empresários individuais: Membros do Ministério Público, da Magistratura, Servidores militares da ativa das Forças Armadas e das Polícias Militares para exercer o comércio individual ou particular de sociedade comercial, salvo se acionista ou quotista, obstada a função de administrador; Empresários falidos, enquanto não forem reabilitados (Lei de Falências, art. 195); Leiloeiros (o art. 36, do Decreto nº 21.891/32 proíbe os leiloeiros de exercerem a empresa direta ou indiretamente, bem como constituir sociedade empresária, sob pena de destituição); Corretores (art. 20, da Lei 6.530/78); Despachantes aduaneiros (art. 10, inciso I, do Decreto nº 646/92); Cônsules, nos seus distritos, salvo os não-remunerados (Decreto nº 4.868/82, art. 11 e Decreto 3.529/89, art. 82); Médicos, para o exercício simultâneo da farmácia, drogaria ou laboratórios farmacêuticos e os farmacêuticos, para o exercício simultâneo da medicina (Decreto nº 19.606/31 c/c Decreto 20.877/31 e Lei 5.991/73). Segundo o STJ, para ter farmácia, o médico teria que pedir desligamento do Conselho de Medicina (REsp 796.560/AL); 29 Pessoas condenadas a pena que vede, ainda que temporariamente o acesso a cargos públicos, ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação (art. 1.011, §1º, CC); Servidores públicos civis da ativa (Lei 1.711/52) e servidores federais (Lei 8112/90, art. 117, X, inclusive Ministros de Estado e ocupantes de cargos públicos comissionados em geral). Aqui é importante observar que o funcionário público pode participar como sócio cotista, comanditário ou acionista, sendo obstada a função de administrador; Devedores do INSS (art. 95, §2º, da Lei nº 8.212/91). Destaque-se que o Código Civil estabelece, em seu art. 973, que “a pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas”. Portanto, as obrigações contraídas por um “empresário” impedido não são nulas. Ao contrário, elas terão plena validade em relação a terceiros de boa-fé que com ele contratarem. 1.3 Da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) A EIRELI não é uma sociedade, mas sim pessoa jurídica de direito privado diversa (art. 44, VI, do CC/02). No Direito Brasileiro, as únicas sociedades unipessoais existentes são a Sociedade Unipessoal de Advogado e a Subsidiária Integral da Sociedade Anônima. A EIRELI não é sociedade. A EIRELI será constituída por uma única pessoa, física ou jurídica (Instrução Normativa nº 38/2017 do Departamento de Registro Empresarial e Integração - DREI), titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior 30 salário-mínimo vigente no País. A pessoa natural que constituir EIRELI, contudo, somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.12 O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social. A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária em um único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração. Em regra, uma sociedade se dissolve quando ocorrer a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180 dias. Não ocorrerá a dissolução, contudo, se o sócio remanescente requerer a transformação para empresário individual ou para EIRELI. Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional. Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas. A limitação da responsabilidade daquele que exerce atividade econômica por meio de EIRELI foi reafirmada pela Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019), publicada em 30/04/2019, que incluiu o §7º ao art. 980-A do CC/02, em determinação de que “somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual de responsabilidade limitada, hipótese em que não se confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio do titular que a constitui, ressalvados os casos de fraude”. Importante consignar que dispositivo de redação semelhante foi vetado anteriormente (§4º do art. 980-A do CC/02), sob o argumento de que se aplicariam as regras das sociedades limitadas, inclusive quanto à separação do patrimônio. . 31 EIRELI titularizada por incapaz No dia 8 de março de 2019, a Instrução Normativa 55 do Departamento Nacional de RegistroEmpresarial e Integração - DREI foi publicada no Diário Oficial da União - DOU. Essa instrução altera o manual de registro da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI para permitir que incapaz seja titular dessa modalidade de pessoa jurídica, desde que representado/assistido e sem exercer a administração, que deve ficar a cargo de terceiro. Perceba que essa norma tudo tem a ver com o §3º do art. 974 do CC/02,13 pois estabelece as mesmas exigências impostas para que o incapaz participe de sociedade. Portanto, equipara o titular da EIRELI a um sócio meramente investidor, muito embora, na EIRELI, ele não ocupe jamais essa posição, mas, tão somente, de proprietário/titular. Pessoa Jurídica como titular de EIRELI O novo manual instituído pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI), por meio da publicação da Instrução Normativa n. 38, em 3 de março de 2017, prevê, expressamente, em seu item 1.2.59, a possibilidade de pessoa jurídica, nacional ou estrangeira, ser titular de EIRELI. O novo Manual de Registro de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada passou a vigorar em todo o território brasileiro a partir do dia 2 de maio de 2017, respeitados os 60 dias de vacatio legis. 13 Vide questão 03 32 1.4 Microempreendedor Individual, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte Não só o empresário e o sócio podem ser classificados, mas também a empresa. Essa, para efeitos tributários, pode ser categorizada de acordo com o fluxo financeiro que gera. Tem- se, então, as seguintes qualificações: Microempresa: para o empresário individual ou as sociedades empresárias (exceto a anônima) que percebam receita bruta anual de R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) Empresa de Pequeno Porte: para o empresário individual ou as sociedades empresárias (exceto a anônima) que percebam receita bruta anual de R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais) (conforme alteração determinada pela LC 155/2016 sobre a LC 123/2006). Microempreendedor Individual: é uma espécie particular de pequena empresa na qual pode se enquadrar, tão somente, o empresário individual que não exceda a receita bruta anual de R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais), cf. § 1º do art. 18- A da LC 123/06. 1.5 Estabelecimento empresarial Também chamado de estabelecimento comercial, fundo de comércio ou azienda (artigos 1.142 ao 1.149 do CC). Estabelecimento é todo complexo de bens organizado para exercício da empresa, pelo empresário ou por sociedade empresária, sendo imprescindível para o exercício da atividade empresarial. Só fazem parte do estabelecimento os bens que estão diretamente relacionados à atividade empresarial. Assim sendo, o estabelecimento não se confunde com a empresa, uma vez que esta, conforme visto, corresponde a uma atividade. Da mesma forma, o estabelecimento não se confunde com o empresário, já que este é uma pessoa física ou jurídica que explora essa atividade empresarial e é o titular dos direitos e obrigações dela decorrentes. Mas, embora estabelecimento, empresa e empresário sejam noções que não se confundem, são conceitos que se inter-relacionam, podendo-se dizer, pois, que o 33 estabelecimento, como complexo de bens usado pelo empresário no exercício de sua atividade econômica, representa a projeção patrimonial da empresa ou o organismo técnico-econômico mediante o qual o empresário atua. Bens corpóreos ou materiais: móveis, utensílios, mercadoria, maquinários, o próprio imóvel, veículos e todos os demais bens que o empresário utiliza para o bom desenvolvimento e organização de sua atividade econômica. Obs.: Bem imóvel não é o estabelecimento, mas sim elemento integrante do estabelecimento. Isso porque estabelecimento é diferente de patrimônio; Bens incorpóreos ou imateriais: compreendem, principalmente, os bens industriais (registro de desenho industrial, marca registrada, patente de invenção, de modelo de utilidade, nome empresarial e título de estabelecimento) e o ponto (local ao qual a atividade econômica é explorada). O enunciado 7 da I Jornada de Direito Comercial apresenta interessante exemplo de bem incorpóreo que compõe o estabelecimento empresarial. Enunciado 7, CJF: O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para todos os fins de direito. Estabelecimento não é sujeito de direito, mas objeto de direito. Sujeito de direito é o empresário individual ou a sociedade empresária. É objeto unitário de direito (art. 1.143, CC). Por isso o empresário pode vender, arrendar ou dar em usufruto o estabelecimento, pois trata-se simplesmente de um objeto. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. O estabelecimento comercial tem natureza jurídica de universalidade de fato, sendo composto de bens, direitos e interesses, materiais e imateriais, necessários, úteis e efetivamente aplicados ao exercício da empresa. 34 A reunião de bens do estabelecimento decorre da vontade do empresário ou da sociedade empresária, e não da vontade da lei. Logo, trata-se de uma universalidade de fato. O estabelecimento como universalidade de fato constitui um conjunto de bens materiais e imateriais que serve ao exercício de atividades econômicas. Universalidade de direito é aquele conjunto de bens que são reunidos por vontade da lei. Exemplo: herança e massa falida. Não se trata o estabelecimento empresarial, portanto, de unidade complexa de bens destinados a um fim determinado em lei (universitas juris), mas de um conjunto de bens com finalidade vinculada do seu dono, que é o empresário (universitas rerum ou facti). A doutrina brasileira majoritária, seguindo mais uma vez as ideias suscitadas pela doutrina italiana, sempre considerou o estabelecimento empresarial uma universalidade de fato, uma vez que os elementos que o compõem formam uma coisa unitária exclusivamente em razão da destinação que o empresário lhes dá, e não em virtude de disposição legal. Ao se afirmar que o estabelecimento empresarial não é sujeito de direito, o que se pretende afastar é a noção de personalização desse complexo de bens, presente em a lgumas proposições da segunda metade do século XIX, principalmente na Alemanha, que procuravam criar um conceito legal capaz de justificar a relativa autonomia entre a empresa e o empresário. Falava-se na tese da empresa em si. A tentativa de personalização do estabelecimento, contudo, não logrou êxito, inclusive no direito brasileiro. Segundo o disposto na legislação brasileira, é um equívoco considerar o estabelecimento empresarial uma pessoa jurídica. Sujeito de direito é a sociedade empresária, que, reunindo os bens necessários ou úteis ao desenvolvimento da empresa, organiza um complexo de características dinâmicas próprias. A ela, e não ao estabelecimento empresarial, imputam-se as obrigações e asseguram-se os direitos relacionados com a empresa. No âmbito do direito privado, cujos princípios gerais, à luz do art. 109 do CTN, são informadores para a definição dos institutos de direito tributário, a filial é uma espécie de estabelecimento empresarial, fazendo parte do acervo patrimonial de uma única pessoa jurídica, partilhando dos mesmos sócios, contrato social e firma ou denominação da matriz. Nessa condição, consiste, conforme doutrina majoritária, em uma universalidade de fato, não ostentando personalidade jurídica própria, não sendo sujeito de direitos, tampouco uma pessoa 35 distinta da sociedade empresária. Cuida-se de um instrumento de que se utiliza o empresário ou sóciopara exercer suas atividades (REsp 1.355.812/RS). Imaginemos a seguinte situação prática: no acervo patrimonial de determinada padaria há dois imóveis. O primeiro é sede da sociedade empresária, enquanto o segundo, localizado em outra unidade da federação, encontra-se alugado. Os valores recebidos a título de aluguéis desse segundo imóvel são aplicados no ativo patrimonial da referida sociedade empresária. Nessa situação, é correto afirmar que o imóvel alugado não faz parte do estabelecimento empresarial da mencionada pessoa jurídica. Ora, aquele imóvel faz parte do patrimônio da padaria, mas não integra o estabelecimento. A padaria possui um patrimônio e dentro dele há um estabelecimento. Isso porque só faz parte do estabelecimento os bens que estão diretamente relacionados à atividade empresarial. Assim, estabelecimento é diferente de patrimônio. O estabelecimento integra o patrimônio, mas não significa que o estabelecimento é o patrimônio. PATRIMÔNIO = estabelecimento + outros bens não relacionados diretamente a atividade empresarial O estabelecimento empresarial não compreende os débitos da empresa. Os débitos fazem parte do patrimônio da empresa e não do estabelecimento comercial. Sendo o estabelecimento uma universalidade de fato, ou seja, um complexo de bens organizado pelo empresário, ele não compreende os contratos, os créditos e as dívidas, por representarem matéria de direito. Eis mais uma distinção que pode ser feita, portanto, entre estabelecimento e patrimônio, uma vez que este, ao contrário daquele, compreende até mesmo as relações jurídicas – direitos e obrigações – do seu titular. 36 1.5.1 Trespasse Trespasse é o nome que se dá para o contrato de compra e venda de estabelecimento empresarial. O trespasse não se confunde com a cessão de cotas. Na cessão de cotas, não existe transferência da titularidade do estabelecimento, mas, tão somente, a transferência das cotas sociais. É alteração apenas do quadro societário. Na transferência da participação societária, o estabelecimento empresarial não muda de titular. Tanto antes como após a transação, o estabelecimento pertencia e continua a pertencer à sociedade empresária, à mesma pessoa jurídica, que apenas tem a sua composição de sócios alterada. Na cessão de cotas ou alienação de controle, o objeto da venda é a participação societária, ou seja, as cotas ou as ações, conforme a espécie societária. Trespasse implica a transferência do conjunto de bens organizados pelo alienante ao adquirente, de modo que este possa prosseguir com a exploração da atividade empresarial. TRESPASSE CESSÃO DE COTAS Provoca a transferência da titularidade do estabelecimento. Não ocorre a transferência da titularidade estabelecimento, mas sim a modificação do quadro social (alteração dos sócios). Para que o trespasse produza seus efeitos entre o alienante e o adquirente, não é necessário nenhum tipo de publicidade. Porém, para que o contrato de trespasse produza efeitos perante terceiros, é preciso que haja averbação na junta comercial, bem como publicação na imprensa oficial. Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial. O art. 1.144 CC estabelece que para o contrato de trespasse produzir efeitos perante terceiros, será preciso: 37 Averbação do contrato na Junta Comercial; Publicação na imprensa oficial. Os prazos para a averbação ou publicação são indeterminados, cabendo ao interesse das partes do contrato a publicidade imediata, levando em consideração a desoneração de responsabilidades e efetividade da execução de direitos ou créditos. 1.5.2 Eficácia do trespasse A eficácia do trespasse é garantida pelos bens que permanecem com o devedor, que devem ser suficientes para saldar sua dívida. Caso não sejam, deve-se observar a regra do art. 1.145, que estabelece o PAGAMENTO DE TODOS OS CREDORES ou AUTORIZAÇÃO DE TODOS OS CREDORES. É feita uma notificação dos credores, para que se manifestem, no prazo de 30 dias, dizendo se são contra ou a favor do trespasse. O silêncio, aqui, é entendido como consentimento. Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.14 A Súmula 451 do STJ autoriza a penhora da sede do estabelecimento comercial. Porém, esta medida é excepcional, devendo ocorrer apenas em caso de não se encontrar outros bens para penhora. Súmula 451, STJ: É legítima a penhora da sede do estabelecimento comercial. Segundo definiu o STJ em sede de recurso repetitivo, a penhora de imóvel no qual se localiza o estabelecimento da empresa é excepcionalmente permitida quando inexistentes outros bens passíveis de penhora e desde que não seja servil à residência da família (REsp 1.114.767/RS, Rel. Ministro Luiz Fux, Corte Especial, julgado em 02/12/2009, DJe 04/02/2010). O art. 862 do novo CPC prevê que, “quando a penhora recair em estabelecimento comercial, industrial ou agrícola [leia-se, genericamente, estabelecimento empresarial] (...), o juiz 14 Questão 06 38 nomeará administrador-depositário, determinando-lhe que apresente em 10 (dez) dias o plano de administração”. Apresentado o referido plano, o juiz ouvirá as partes e decidirá (§1º). O §2º, porém, prevê que “é lícito às partes ajustar a forma de administração e escolher o depositário, hipótese em que o juiz homologará por despacho a indicação”. Corroborando o entendimento jurisprudencial do STJ, no sentido de que a penhora de estabelecimento empresarial é medida excepcional, o art. 865 do novo CPC determina o seguinte: “a penhora de que trata esta subseção somente será determinada se não houver outro meio eficaz para a efetivação do crédito”. A violação do art. 1.145 do CC enseja ato de falência. O credor pode requerer a falência do empresário que venda bens sem respeitar o art. 1.145 do CC (sem o consentimento de todos os credores ou não permanecendo com bens suficientes para solver seu passivo), pois esse ato é considerado como ato de falência, conforme previsto no art. 94, III, “c” da Lei 11.101/05. 1.5.3 Responsabilidade do adquirente e do alienante O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados. Mas atenção: a regra do art. 1.146 não se aplica para as dívidas trabalhistas ou tributárias15. Com relação às dívidas trabalhistas, aplica-se a regra da sucessão trabalhista, prevista nos arts. 10, 448 e 448-A, da CLT. A responsabilidade pelas dívidas trabalhistas recairá exclusivamente sobre o adquirente. O alienante só terá responsabilidade solidária se o trespasse houver sido fraudulento (com base no Código Civil). Já no que toca às dívidas tributárias, aplica-se a regra do art. 133, do CTN. Assim, em se tratando de dívidas tributárias ou de dívidas trabalhistas, não se aplica o disposto no art. 1.146 do Código Civil, uma vez que a sucessão tributária e a sucessão trabalhista possuem regimes jurídicos próprios, previstos em legislação específica (arts. 133 do CTN e 448 da CLT, respectivamente). Exceção: não haverá sucessão trabalhista quando o trespasse decorrer de recuperação judicial ou falência (arts. 60 e 141 da Lei 11.101/2005). Quando se tratar de compra realizada no 15 Vide Questão 02 39 processo de falência ou recuperação judicial (por meio de leilão), o adquirentedo estabelecimento não responde pela falência ou pelas dívidas tributárias, trabalhistas ou decorrentes de acidente de trabalho, nos termos do art. 141, II da Lei 11.101/05. O alienante (devedor primitivo) continua solidariamente obrigado, mas apenas no prazo de um ano, desde que a dívida esteja regularmente contabilizada. Caso se trate de dívida vencida, conta-se um ano da DATA DA PUBLICAÇÃO NA IMPRENSA OFICIAL; Caso se trate de dívida vincenda, conta-se um ano a partir da DATA DO VENCIMENTO. Enunciado 233, CJF: Art. 1.142: A sistemática do contrato de trespasse delineada pelo Código Civil nos arts. 1.142 e ss., especialmente seus efeitos obrigacionais, aplica-se somente quando o conjunto de bens transferidos importar a transmissão da funcionalidade do estabelecimento empresarial. Ou seja, essa sistemática, sobretudo para efeitos obrigacionais, só se aplica quando o conjunto de bens transferidos importar a transmissão da funcionalidade do estabelecimento empresarial. Justificou-se tal posicionamento sob a alegação de que, para se falar em trespasse de estabelecimento, é necessário que haja transferência de elementos suficientes à preservação de sua finalidade como tal, ou seja, a universalidade adquirida deve ser idônea a operar como estabelecimento, ainda que tenham sido decotados alguns de seus elementos originais. Difere da situação de transferência de participação em sociedade (transferência de cotas), onde a responsabilidade do sócio que transferiu perdura por um prazo de 2 anos. Isso porque o art. 1.003 do CC preconiza que o cedente responde solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio, até 2 anos depois de averbada a modificação do contrato. 40 1.2. Concorrência Antes do CC, não havia nenhuma referência legal que impedisse a concorrência. Portanto, o que acontecia, na prática empresarial, era a confecção de um contrato, onde se inseria uma cláusula chamada “cláusula de não-restabelecimento”. Hoje, a cláusula de não-restabelecimento está prevista no art. 1.147 do CC. Assim, a cláusula de não-restabelecimento está implícita aos contratos de trespasse, na forma do art. 1.147 do CC, de modo que se faz necessária cláusula expressa a fim de que seja possível a concorrência. O contrato de trespasse irá definir sobre a possibilidade de concorrência do alienante do estabelecimento. Na omissão do contrato de trespasse, aplica-se a regra do art. 1.147 do CC. Ou seja, não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos 5 anos subsequentes à transferência. A cláusula de não restabelecimento fixada por prazo indeterminado é considerada abusiva. Segundo o STJ, as partes não podem prever que a cláusula de “não restabelecimento” será por prazo indeterminado. O ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não aceita que cláusulas que limitem ou vedem direitos sejam estabelecidas por prazo indeterminado (REsp 680.815/PR, Min. Raul Araújo, j. 20/03/2014 – inf. 554). 41 É possível que seja ampliado, mas ele não pode ser fixado em prazo indeterminado e, no caso concreto, é possível que tal ampliação seja considerada abusiva se ampliar demais a restrição. Nesse sentido: Enunciado 490, CJF: A ampliação do prazo de 5 anos de proibição de concorrência pelo alienante ao adquirente do estabelecimento, ainda que convencionada no exercício da autonomia da vontade, pode ser revista judicialmente, se abusiva. Ainda de acordo com o STJ, é válida a cláusula contratual de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente. Isso porque esse tipo de cláusula protege a concorrência e os efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de clientela, sendo esses valores jurídicos reconhecidos constitucionalmente (REsp 1.203.109/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/5/2015 – Inf. 561). O limite geográfico dessa limitação deve ser definido casualmente em função da natureza do comércio. Deve-se analisar se o eventual restabelecimento do alienante configura, de fato, concorrência ao adquirente. O elemento teleológico da norma referida não é a proibição do restabelecimento do alienante, e sim a proibição da concorrência desleal ao adquirente. Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial, a cláusula que estabeleça dever de abstenção de contratação com sociedade empresária concorrente pode sim irradiar efeitos após a extinção do contrato, desde que por um prazo certo e em determinado lugar específico (limitada temporária e espacialmente). Ex.: João resolveu montar um quiosque no shopping para vender celulares, cartões pré- pagos etc. Para isso, ele fez um contrato com a operadora de celular “XXX” por meio da qual ele somente iria vender os produtos e serviços dessa operadora e, em troca, ela ofereceria a ele preços diferenciados, consultoria e treinamento para abrir a loja. No contrato assinado com a operadora, havia uma cláusula dizendo que João estava proibido, por 6 meses após a extinção do contrato, de contratar com qualquer empresa concorrente naquela cidade. Essa cláusula de não concorrência é válida. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, a proibição prevista persistirá durante o prazo do contrato (art. 1.147, parágrafo único). 42 1.5.4 Sub-rogação nos contratos de exploração É preciso entender que o contrato de trespasse não garante a clientela, que é mera situação de fato. A clientela não é elemento integrante do estabelecimento empresarial. Por conta disso, a fim de que a clientela se mantenha, o trespasse gera a sub-rogação automática do adquirente nos contratos estipulados para a exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal. Havendo justa causa, os terceiros podem rescindir o contrato em 90 dias, contados da publicação da transferência. Assim dispõe o art. 1.148: Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em 90 dias a contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante. O art. 1.148 do CC traz uma regra importante: o adquirente terá a garantia que todos os contratados de exploração do estabelecimento continuarão em vigor. A jurisprudência e o Enunciado 234 do CJF entendem que nos contratos de trespasse ocorre a sub-rogação automática de todos os contratos, exceto o contrato de locação, em respeito ao art. 13 da Lei de Inquilinato (Lei 8.245/91). Enunciado 234, CJF: Art. 1.148: Quando do trespasse do estabelecimento empresarial, o contrato de locação do respectivo ponto não se transmite automaticamente ao adquirente. Fica cancelado o enunciado nº 64. A Lei de Locação (art. 13) prevê a anuência por escrito do locador do imóvel objeto da transferência do contrato de locação. O STJ entende que o contrato de locação, fugindo a regra do art. 1.148, não é transferido automaticamente, dependendo da anuência do locador. STJ: Transferência do fundo de comércio. Trespasse. Efeitos: continuidade do processo produtivo; manutenção dos postos de trabalho; circulação de ativos econômicos. Contrato de locação. Locador. Avaliação de características individuais do futuro inquilino. Capacidade financeira e idoneidade moral. Inspeção extensível, também, ao eventual prestador da garantia fidejussória. Natureza pessoal do contrato de locação. 43 Desenvolvimento econômico. Aspectos necessários: proteção ao direito de propriedade e a segurança jurídica. Afigura-se destemperado o entendimento de que o art. 13 da Lei do Inquilinato não tenha aplicação às locações comerciais, pois, prevalecendo este posicionamento, o proprietário do imóvel
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