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Profa. Daniela Aquino A composição de uma população é reflexo de uma dinâmica de longo tempo, dependente do comportamento da MORTALIDADE e FECUNDIDADE a que vem se somar o componente migratório. A diminuição da mortalidade e fecundidade provoca um decréscimo relativo e contínuo dos jovens e aumento crescente dos idosos, ficando estável o grupo intermediário (20 a 60 anos) TRATA-SE DO ENVELHECIMENTO DEMOGRÁFICO OU ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO (aumento do peso relativo dos > de certa idade) Taxa Bruta de Mortalidade Risco que uma pessoa que integra determinada população vir a morrer (TBM=O/P) Taxa de Fecundidade Relação entre nascimentos vivos e mulheres em idade reprodutiva Taxa Bruta de Natalidade Relação entre nascimentos vivos e população total Fenômeno caracterizado pela mudança de um regime de elevadas taxas de natalidade e mortalidade para um outro de descenso dessas taxas. O peso maior vem da queda da fecundidade (considere-se que a queda da Mortalidade produz ganhos de vidas em todas as idades) A transição de uma população mais jovem para uma outra, mais velha, ocorreu de forma lenta e gradual nos EUA e Europa Na América Latina a mortalidade e a natalidade permaneceram elevadas até meados da 3ª década do século XX Antes de 1890 a vida média, na AL era de cerca de 25 anos e nos 40 anos seguintes aumentou muito pouco, não chegando a 30 anos A partir de 1930 começa queda acentuada da mortalidade que não foi acompanhada pela natalidade (queda bem mais recente), com um crescimento vegetativo de monta Nas 3 décadas seguintes a vida média aumenta 22 anos 3,3 2,8 2,9 3,6 2 2,5 2,6 6,2 2 1,7 1,6 1,6 1,5 1,3 1,2 2,3 EUA Reino Unido França Canadá Japão Alemanha Itália Brasil 1960-1965 1995-2000 Brasil – 6,2 em 1960 / 5,8 em 1970 2,3 em 1999 QUEDA DE 60% EM 30 ANOS Taxa de fecundidade (IBGE, 2013) : 1,77 filhos por mulher Mulheres com maior escolaridade = fecundidade menor (2011) 3,07 filhos para mulheres com até 7 anos de estudo. 1,69 para aquelas com 8 anos ou mais de estudo. ___________________________________________________________________ Período Natalidade Mortalidade 1872 – 1890 46,5 30,2 1891 – 1990 46,0 27,8 1901 – 1920 45,0 26,4 1921 – 1940 44,0 25,3 1941 – 1950 44,4 20,6 1951 – 1960 43,3 13,4 1961 – 1970 37,7 9,4 1971 – 1980 33,0 8,1 1981 – 1991 25,0 8,0 1992 – 2000 22,0 5,4 2001- 2010 15,9 6,0 2013 14,8 6,0 ____________________________________________________________________ Fonte: IBGE, indicadores Sociais, 2013 População brasileira 202 milhões de pessoas Com mais de 60 anos (IBGE, 2011) 23,5 milhões – 12,1% do total Maioria composta por mulheres – 55,7% do total Com mais de 100 anos 30 mil Em 2020, serão 11,4% dos 219 milhões de brasileiros (25 milhões/15 milhões de mulheres • Nos próximos 30 anos a população idosa deverá ultrapassar 30 milhões e representará 13 % da população A feminização da população idosa, se explica, além da maior expectativa de vida, pelo: menor consumo, entre elas, de álcool e tabaco percepção mais acentuada das doenças e a consequente maior freqüência aos serviços de saúde (detecção precoce de doenças crônicas podem representar melhores prognóstico e tratamento) diferenças na exposição a riscos decréscimo das taxas de mortalidade materna Econômicas Políticas Sociais Demandas por serviços médicos e sociais Aumentado o risco de adoecer, aumenta, também o risco de incorrer em gastos elevados com o tratamento Estima-se que os gastos dos maiores de 60 anos é, em média, 8 vezes maior quando comparado com o de menores de 18 anos A faixa etária de 60 anos ou mais é a que mais cresce em termos proporcionais. Segundo projeções estatísticas, entre 1950 e 2025 a população de idosos no país terá crescido 16 vezes, contra 5 vezes a população total . Para a expectativa de vida, as projeções, ente 2000 e 2025, apontam que a mesma se aproximará dos 80 anos. Em 2000, a esperança de vida era de 70,5 anos. Em 2003, a esperança de vida estimada ao nascer no Brasil, para ambos os sexos, subiu para 71,3 anos. Entre 1980 e 2003 a esperança de vida, elevou-se em 8,8 anos: mais 7,9 anos para os homens e mais 9,5 anos para as mulheres. Em 2011 chegou a 74,1 anos (70,6 para homens e 77,7 para mulheres). Em 2013, 74,8, 71,3 para homens e 78,5 para mulheres. Nova realidade epidemiológica Necessidades médicas diferenciadas Doenças crônicas-degenerativas Uso intensivo dos serviços de saúde Por transição epidemiológica entende-se as alterações havidas, ao logo do tempo, nos padrões de morbi-mortalidade e invalidez, característicos de determinada população, habitualmente, em concomitância com mudanças demográficas e socio-econômicas As mudanças no padrão de mortalidade e morbidade concomitantes à transição demográfica, se convencionou chamar de TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA Caracterizada no Brasil por: Aumento da prevalência e mortalidade por doenças não-transmissíveis ou crônico- degenerativas A permanência de algumas doenças infecciosas Alta prevalência e mortalidade por causas externas (sobretudo entre os mais jovens) O processo envolve três mudanças básicas: substituição das doenças transmissíveis por doenças não-transmissíveis e causas externas migração da carga de morbi-mortalidade dos grupos mais jovens para os grupos mais idosos predomínio da mortalidade para uma situação em que a morbidade é que passa a ser o foco das atenções A teoria da transição epidemiológica foi formulada por primeira vez por Abdel Omran e aponta três estágios nas mudanças ocorridas na mortalidade (Omran, AR. The epidemiologic transition: a theory of the epidemiology of population change, 1971) Idade ou período das pandemias e da fome Caracterizado por mortalidade elevada e crescimento populacional lento ou mantido em níveis mínimos, ainda que a natalidade se mantivesse alta ou estável. Período ou idade de queda das pandemias Caracterizado pela queda da mortalidade, epidemias menos freqüentes e crescimento populacional sustentado (expectativa de vida em torno de 50 anos) Período de doenças degenerativas e produzidas pelo homem Mortalidade continua em queda e a fecundidade passa a ser crucial para o crescimento populacional. Um quarto estágio A idade do retardamento das doenças degenerativas (Olshansky e Ault (1986) consiste na presença persistente das causas de morte associadas às doenças degenerativas, mas com aumento da expectativa de vida. Caracterizado por sobreposição entre doenças infecciosas e crônico-degenerativas, no qual as doenças infecciosas permanecem como causas de adoecimento e morte para indivíduos de idade avançada. (por exemplo, idosos com câncer que morrem de pneumonia) Grupo A Países com mortalidade baixa e esperança de vida de 70 ou mais anos. Os problemas de saúde associam- se às enfermidades cardiovasculares, neoplasias e causas externas (principalmente, acidentes de trânsito). A mortalidade materna e infantil são baixas (causas perinatais e congênitas) Grupo B Países que já saíram ou estão ultrapassando o estágio intermediário de transição epidemiológica, têm esperança de vida entre 60 e 69 anos, com registros de fenômenos vitais em estado precário. As doenças infecciosas e parasitárias já estão, em grande medida, sob controle, assumindo destaque as doenças crônico- degenerativas. Grupo C Países em estágio intermediário da transição epidemiológica. Vida média entre 50 e 59 anos, sendo as doenças infecciosas ainda um problema de monta. A mortalidade infantil e pré-escolar (e, em alguns países, também a materna) têm nível elevado. O sistema de registro é muito precário (utilizam-se amostragens para mensuração de mortes e nascimentos) e os óbitos contam com registro de sua causa, quase na totalidade, para os ocorridos em hospitais. Grupo D Países que se encontram em estágio bem inicial da transição. Apresentam vida média abaixo de 50 anos, pressupondo-se serem as doenças infecciosas a causadora principal das mortes. Quase não disponibilidade de saneamento básico. A inexistência de dados demográficos é um sério obstáculo ao cômputo dos óbitos (mortalidade geral e infantil, assim como a materna que se pressupõe estarem bastante elevadas) Concomitante à mudança na composição populacional, ocorrem alterações na incidência e prevalência das doenças, assim como nas principais causas de morte As modificações nos padrões de morbimortalidade no caso brasileiro se expressam por Decréscimo na mortalidade infantil: 117,0/mil NV (década de 60) 50,2 (década de 80) 49,4/mil (1999) 29,6/mil (2000) 25,1/mil (2002) 16,0/ mil (2011) ►As DIP passam de 45,7% do total de óbitos nas capitais, em 1930 para 5,9%, em 1999. Nesse mesmo período as DCV aumentam de 11,8% para 31,3% ►Em 2001 as DCV foram a causa principal de morte para todas as regiões e em ambos sexos, seguidas das causas externas no Centro-oeste e neoplasias no Sul e Sudeste ►As taxas padronizadas de mortalidade para grupos de causas definidas em 1999 evidenciam que as DCV apresentavam uma taxa de 146,4/100 mil, seguidas de causas externas (70,2) e neoplasias (66,4) A mortalidade no Brasil (2001) Ressalte-se que os óbitos por causas mal definidas, ainda eram, em 1999, a segunda “causa” mais freqüente de morte e em 2001, foram a 1ª causa no Nordeste e a 2ª na Norte Na faixa etária jovem as causas externas representaram o principal grupo de causas de morte, com maio risco para os homens A partir dos 45 anos as DCV, seguidas das neoplasias e das causas externas são os principais grupos de causas. Com risco maior para os homens 23% dos óbitos masculinos ocorreram entre os 25 e os 44 anos, enquanto nas mulheres percentual foi de 11% Segundo a teoria clássica da chamada transição epidemiológica, todos os países passariam pelas etapas das doenças pestilenciais, pelo declínio das pandemias atingindo, finalmente, o das doenças degenerativas e criadas pelo homem. O Brasil, contudo, passa por um modelo polarizado de transição caracterizado pela coexistência de enfermidades infecciosas e degenerativas. Pressupõe uma evolução gradual dos problemas de saúde onde observam-se: Mudanças na Alta incidência, prevalência e mortalidade por doenças infecciosas, passando a Um estado em que passaram a predominar as doenças não-infecciosas, em especial cardio-vasculares, neoplasias e problemas associados a causas externas, transtornos mentais, diabetes e outras doenças crônicas e degenerativas. O perfil de morbi-mortalidade dominante no Brasil pode ser caracterizado como sendo misto, incluindo ► doenças crônico-degenerativas ou doenças crônicas não transmissíveis ► as relacionadas às chamadas ‘causas externas’ (suicídio, acidentes de trabalho e de trânsito, homicídios) ► convivendo com as doenças infecciosas e parasitárias DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS NO BRASIL NAS 2 DÉCADAS FINAIS DO SÉC.XX Doenças transmissíveis com tendência declinante Difteria, coqueluche, tétano (imunopreveníveis que junto com sarampo e pólio registraram 153.128 e 3.124 casos, em 1980 e 2000, tendo as mortes no período se reduzido de 5.495 para 277) Doença de Chagas, Hanseníase Febre tifóide (associada a condições sanitárias precárias), oncocercose, filariose Doenças transmissíveis persistentes • Tuberculose: (associação com AIDS em 25% desta última) • Leptospirose: Média anual de 3.324 casos entre 1994 e 2003 • Hepatites virais B e C • Meningites: (por meningococos com letalidade de 10% / 7.321 casos em 1996 e 2.923, em 2003 / Por H.influenzae B passível de redução com vacina eficaz a partir de 1999) • Leishmanioses: A LTA vem apresentando tendência de expansão geográfica (coeficientes de detecção entre 3,83 e 22,94/100 mil, entre 80 e 2003 / Da forma visceral, na década de 90, 90% dos casos se deram no NE onde se concentra, hoje, 74% dos casos • Esquistossomose Manutenção de alta prevalência c/expansão de áreas de ocorrência) • Malária Após uma tendência de redução – entre 2002/03 há incremento de 17,9% com 410.475 casos em 2003, na região amazônica) Fatores que contribuem para esse quadro: Urbanização Acelerada Alterações do Meio Ambiente Desmatamento Ampliação de Fronteiras Agrícolas Migração Doenças transmissíveis emergentes e reemergentes AIDS (crescimento acelerado até 1998 (25.732 casos novos que, em 2003, são 5.762 com 2.069 sendo em mulheres / Entre 80 e 2003: 277.154 casos, dos quais 197.340 em homens / Redução de 50% na letalidade entre 1995 e 1999) / Preocupa o incremento entre mulheres de 13 a 19 anos Cólera (Entre 1999 e 2001:168.598 casos com 2.035 óbitos / 734 casos em 2000 – PE e AL – 7 em 2001) Dengue (Incremento entre 1999 e 2002, ano em que se registraram 794.219 casos, com redução de 56,6%, no ano seguinte / O vetor, de difícil erradicação, ressurge no continente americano na década de 1970, com registro de surtos na Venezuela, Cuba, Paraguai) Hantavirose (1ºs casos em SP, 1993; além da região sul, foram detectados casos em MG, MT / Foram 338 casos até 2003. em 11 Estados) DEMOGRÁFICA ►ALTA FECUNDIDADE ALTA MORTALIDADE ►ALTA FECUNDIDADE REDUÇÃO DA MORTALIDADE EPIDEMIOLÓGICA “ERA DA FOME E DASPESTILÊNCIAS” EV 20 ANOS “ERA DO DECLÍNIO DAS PESTILÊNCIAS” EV 40 ANOS DEMOGRÁFICA DA FECUNDIDADE REDUÇÃO AINDA MAIOR DA MORTALIDADE MAIOR DA FECUNDIDADE REDUÇÃO AINDA MAIOR DA MORTALIDADE EPIDEMIOLÓGICA “ERA DAS DOENÇAS DEGENERATIVAS” EV 70 ANOS “ERA DO RETARDAMENTO DAS DOENÇAS DEGENERATIVAS” EV 80 ANOS O perfil epidemiológico da população brasileira se caracteriza pela predominância das enfermidades da modernidade, sem haver conseguido libertar-se da elevada morbidade por doenças do subdesenvolvimento A transição epidemiológica não se completa, mantendo-se diferente da ocorrida nos países industrializados Persiste e/ou aumenta a morbidade por doenças transmissíveis emergentes ou reemergentes (dengue, cólera, AIDS, tuberculose), ao passo que a violência se expande com rapidez nos centros urbanos, elevando-se a mortalidade, particularmente por homicídios entre jovens, predominantemente do sexo masculino. Lerner (1973) sugere que se considere a transição epidemiológica parte de um conceito mais amplo, o de transição em saúde que inclui elementos das concepções e comportamentos sociais, correspondentes a aspectos básicos da saúde nas populações humanas Transição das condições de saúde (mudanças na frequência, magnitude e distribuição das condições de saúde expressas pelas mortes, doenças e incapacidades) Transição da atenção sanitária (resposta social organizada às condições antes mencionadas, através dos sistemas de atenção à saúde e resultante do desenvolvimento social, econômico e tecnológico Apesar das melhoras observadas na última década e que se expressam nas mudanças em alguns indicadores de saúde, a exemplo da alteração favorável detectada no coeficiente de mortalidade infantil ou da esperança de vida ao nascer, o perfil sanitário brasileiro continua a apresentar complexidade e discrepâncias regionais significativas A melhoria alcançada, em alguns indicadores de saúde (morbidade ou mortalidade por doenças transmissíveis ou cardiovasculares), não atinge de forma uniforme os grupos populacionais ou as diferentes regiões, contribuindo para a persistência de carga de morbidade Mesmo que as políticas de saúde tenham potencial de ampliação para grupos ora excluídos, a redução de causas e riscos implica na articulação com outras políticas públicas Um dos maiores desafios para a Saúde Pública brasileira no presente século será atender a demanda por assistência da crescente proporção de idosos, portadores de doenças crônico-degenerativas e grande parte deles com baixo nível socio- econômico-educacional.
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