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2. Compatibilidade tecnológica e economias de rede (parte 1) Compatibilidade Compatibilidade de processos produtivos => impactos na produtividade dos trabalhadores Compatibilidade de consumo => pessoas gostam de consumir os mesmos produtos – Compatibilidade aumenta o bem-estar dos consumidores Compatibilidade Definição: dois produtos são ditos compatíveis se partilham o mesmo padrão tecnológico, de modo a poderem ser utilizados conjuntamente Compatibilidade downstream: ocorre quando modelos novos de determinado produto são compatíveis com versões antigas, mas o inverso não ocorre Exemplos de compatibilidade/incompatibilidade: – Arquivos de música – Caixas eletrônicos – Atualizações de softwares/ sistemas operacionais Externalidades de rede Diz-se que a preferência dos consumidores exibe externalidades de rede se a utilidade de um consumidor aumenta com o número de consumidores que utilizam a mesmo produto Exemplos de economia de rede: – Telefones Número de assinantes aumenta benefício do consumidor – Sistemas operacionais Desenvolvimento de aplicativos/softwares para sistemas operacionais mais utilizados aumenta com número de usuários => benefícios ao consumidor Compatibilidade tecnológica e payoff da firma Se a,b > max{c,d} => convergência tecnológica (firmas produzem com mesmo padrão), ou seja, (α, α) e (β, β) são equilíbrios de Nash Se c,d > max{a,b} => firmas produzem com padrões distintos, (α,β) e (β, α) são equilíbrios de Nash Firma B Padrão α Padrão β Firma A Padrão α a b c d Padrão β d c b a Questões de investigação 1. Quais os impactos das economias de rede sobre o comportamento do consumidor e o equilíbrio de mercado? 2. O que leva as firmas a adotarem (ou não) padrões compatíveis? Qual o impacto destas decisões sobre o bem-estar dos consumidores? 1. Externalidades de rede Ocorrem quando a utilidade do consumidor aumenta com o número de consumidores do mesmo produto Caso A: demanda interdependente no setor de telecomunicações – Utilidade do consumidor aumento com nº de usuários de telefone Caso A: Demanda interdependente por serviços telefônicos Continuum de potenciais utilizadores de serviços telefônicos x Є [0,1] Baixos valores de x: alta propensão a pagar por serviços telefônicos Altos valores de x: baixa propensão a pagar por serviços telefônicos Demanda interdependente por serviços telefônicos n: número efetivo de consumidores que assinam serviço telefônico, 0 ≤ n ≤ 1 Utilidade do consumidor x, 0 ≤ x ≤ 1 Ux = n(1-x) - p se assina telefone = 0 caso contrário Utilidade exibe externalidades de rede, já que depende de n Demanda agregada por serviços telefônicos Considere o consumidor que, a um dado preço p, é indiferente a assinar ou não o serviço telefônico, logo ^ x )1( )1(0 , .)1(0 ^^ ^^ ^ ^ xxp pxx temosxnComo pxn Demanda agregada por serviços telefônicos Para cada preço p0 há dois níveis de demanda – Nível baixo xL: equilíbrio de demanda instável (qq aumento no número de assinantes leva ao equilíbrio com nível alto) – Nível baixo: massa crítica dado o preço p0 Qualquer mudança no quantidade de assinantes leva ao ponto xH Demanda agregada por serviços telefônicos L x0 ^0 1 p0 x p H x0 ^1/2 1/4 Problema do monopolista Hipóteses: – monopólio no setor de serviços telefônicos – Custo marginal de novo assinante negligível Problema do monopolista x x CSO xx x CPO xxxxpxMax x 620 : 320 : )1()())(()( 2 2 2 ^ 2 ^^^ ^ Lucro da firma na presença de externalidades de rede ^ x 4/27 1/3 0 1 ^ x 2/3 Proposição O preço ótimo do monopolista é selecionado de tal forma que o número de assinantes ultrapassa a metade da população mas não alcança a cobertura universal do serviço Caso B: padronização X diferenciação de tecnologias Dois marcas (tecnologias) de produto: A e B Continuum de consumidores, população de tamanho 1 Consumidores heterogêneos – a consumidores preferem marca A (0<a<1) – b consumidores preferem marca B (0<b<1) – a + b =1 Padronização X diferenciação de tecnologias Utilidade dos consumidores do tipo A (UA) UA = xA caso compre A = xB - δ caso compre B Utilidade dos consumidores tipo B UB = xB caso compre B = xA - δ caso compre A onde xA: total de consumidores que compram A xB: total de consumidores que compram B xA + xB = 1 δ: desutilidade de consumir marca menos desejada Definição 1. Se xA=1 e xB=0 há padronização do produto com tecnologia A 2. Se xA=0 e xB=1 há padronização do produto com tecnologia B 3. Se xA>0 e xB>0 há coexistência das duas tecnologias 4. Uma alocação de consumidores (xA, xB) é um equilíbrio se nenhum consumidor tem incentivos a mudar para tecnologia concorrente, dado que os demais consumidores não mudam suas escolhas Equilíbrio Condições para equilíbrio com padronização do mercado Se δ<1 dois equilíbrios existem – xA=1 (e xB=0) : padronização em A – xA=0 (e xB=1) : padronização em B Se δ>1, não há equilíbrio com padrão tecnológico único Equilíbrio Equilíbrio com coexistência de 2 padrões tecnológicos – Condições para existência de equilíbrio com xA=a e xB=b (a+b =1) Consumidor A não muda para B se a > (b-δ) => a > (1- δ)/2 Consumidor B não muda para A se b > (a-δ) => b > (1- δ)/2 Proposição: Se número de cada tipo de consumidor é suficientemente alto, então existe um equilíbrio de coexistência de padrões tecnológicos. Formalmente, se a,b > (1- δ)/2, então xA=a e xB=b. Corolário: quando δ>1, equilíbrio com coexistência de dois padrões de tecnologia sempre existe Padrões tecnológicos e eficiência Bem-estar social = soma das utilidades dos consumidores W=aUA+bUB padrãoforBseba coexistemiastecnoseba padrãoforAseba W )1( log )1( 22 Padrões tecnológicos e eficiência Se há mais consumidores do tipo A que do tipo B (a>b), então padronização na tecnologia A é socialmente mais desejável que na tecnologia B Quando coexistência de tecnologias é socialmente ótimo? Bem-estar com coexistência supera bem-estar com padronização em A se a2 + b2 > a + b – bδ => a < δ/2 Similarmente, Bem-estar com coexistência supera bem-estar com padronização em B se a2 + b2 > a – aδ + b=> b < δ/2 Contudo, estas condições não podem ser atendidas se δ < 1, pois teríamos a + b < δ/2 + δ/2 < 1 Proposição 1. Se efeito da externalidade de rede for superior à desutilidade de consumir o produto menos preferido (δ<1), então coexistência de tecnologias é socialmente ineficiente 2. Se δ>1, coexistência de tecnlogias é socialmente ótima se a < δ/2 e b < δ/2 Falhas de mercado Proposição: um equilíbrio em que a indústria adota padronização na tecnologia menos preferível do ponto de vista social pode existir Quando ocorre? δ < 1 e tecnologia menos popular já instalada(maioria usa pior tecnologia) => melhor tecnologia não consegue entrar no mercado Exemplo: teclados QWERT x DVORAK QWERTY X DVORAK Teclado QWERTY Teclado DVORAK Falhas de mercado Um equilíbrio em que duas tecnologias coexistem na economia pode não ser socialmente ótimo Exemplo: a=b=0,5 e δ = 0,6 (<1) – Como a,b > (1- δ)/2, coexistência de tecnologias é um equilíbrio – Mas δ<1, logo coexistência é ineficiente Proposição: se coexistência de tecnologias é eficiente (xA=a e xB=b), então um equilíbrio com coexistência existe e é único Demonstração: se coexistência é eficiente, então δ>1. Como a>0 e b>0, condição para equilíbrio de coexistência é atendida. Ademais, com δ>1 não há equilíbrio com padrão tecnológico único. 2. Abordagem de serviços complementares (support services) Existência de efeitos de rede sem externalidades de rede – Muitas vezes utilidade dos consumidores não aumenta com número de consumidores que o utilizam, mas com a complementaridade do produto com outros produtos/serviços Sistemas operacionais (Windows, Linux, etc.) Geralmente tanto externalidades de rede quanto efeitos de rede estão presentes – Exemplo: Microsoft Office Efeitos de rede: desenvolvimento de aplicativos, compatibilidade Externalidades de rede: facilidade de troca de arquivos Efeitos de rede : modelo de serviços complementares Escolha entre computadores (hardware) A e B pi: preço do computador i Consumidor – Orçamento Y – Compra um computador e softwares específicos para o tipo de computador – Gastos com software: Ei = Y – pi Efeitos de rede : modelo de serviços complementares Seja Ni: número de softwares compatíveis com computador i Consumidores indexados de acordo com δ - preferência por sistema B – no intervalo [0,1] – δ uniformemente distribuído na população 0 1 ↑δ => aumento de preferência por B (e reduz preferência por A) ^ Efeitos de rede: modelo de serviços complementares Utilidade do consumidor com preferência δ Consumidor indiferente entre A e B BusaseN AusaseN U B A 1 BA NN ^^ 1 Efeitos de rede: modelo de serviços complementares Total de usuários de A: Total de usuários de B: ^ ^ 1 B A (*) 1 ^ ^ A B A B N N Efeitos de rede: modelo de serviços complementares Proposição: hardware com maior participação de mercado é servido por maior quantidade de softwares Indústria de softwares: – Hipótese: número de pacotes de software compatível com hardware i (i=A,B) é proporcional ao gasto agregado dos consumidores com este tipo de software )(11 )( ^^ ^^ BBB AAA pYEN pYEN Efeitos de rede: modelo de serviços complementares Substituindo NA e NB em (*), temos BA A BA A ppY pY EE E 2 ^ Proposição Um aumento no preço do hardware pA implica 1) redução de usuários de A (δA) 2) aumento de usuários de B (δB) 3) redução de softwares compatíveis com A (NA) e aumento de softwares compatíveis com B (NB) 4) redução de bem-estar de usuários A e aumento do bem-estar de usuários B Logo, podem existir efeitos de rede sem que ocorram externalidades de rede ↑pA => ↓δA => ↑δB => ↑NB => ↑U B 3. Aplicação empírica: valorando externalidades de rede no mercado de planilhas eletronicas – Gandal (1994) Mercado de planilhas eletrônicas: – Software dominante (na época): Lotus 1-2-3 – Externalidade de rede: compatibilidade de planilhas com Lotus 1-2-3 aumenta possibilidade de transferir arquivos para maior número de usuários – Efeitos de rede: compatibilidade com Lotus 1-2-3 permite acesso à aplicativos importantes (TSP – análises estatísticas; Paradox – gestão de dados) Aplicação empírica: valorando externalidades de rede no mercado de planilhas eletronicas – Gandal (1994) Objetivo do artigo: mensurar valor atribuído à compatibilidade de planilhas com a plataforma Lotus 1-2-3, de modo a captar impacto de externalidades de rede Estratégia: comparação entre preços de planilhas compatíveis e não compatíveis com Lotus 1-2-3 Equação estimada Período da estimação: 1986-1991 Variável dependente: log(preço da planilha) Variáveis explicativas relacionadas a externalidades/efeitos de rede – LOCOMP: dummy para compatibilidade com plataforma Lotus – EXTDAT: dummy para possibilidade de acessar bases de dados remotas – LANCOM: possibilidade de trabalhar em rede local Equação estimada Conclusão Planilhas compatíveis com Lotus mais caras que as não compatíveis: evidência empírica a favor de externalidade/efeitos de rede no mercado de planilhas eletrônicas 4. Pirataria de software e externalidades de rede Pirataria de software e externalidades de rede Tendência das empresas do setor de software em eliminar os sistemas de proteção contra cópia pirata Possíveis explicações: – Consumidores insatisfeitos com dificuldade de instalação/bugs de instalação decorrentes do mecanismo de segurança – Externalidade de redes Pirataria de software e externalidade de rede Hipótese: o benefício de se usar determinado software aumenta com o número de usuários que legal ou ilegalmente utilizam o mesmo software Pirataria de software Impactos econômicos da pirataria: – Queda nas vendas diretas (efeito negativo) – Aumento da base de usuários => aumento na demanda pelo software (efeito positivo) Questões Por que observa-se esta tendência de eliminação dos sistemas de proteção dos software? Sob quais condições econômicas vale a pena produzir um software com proteção contra pirataria ou, ao contrário, eliminar os sistemas de poretção? Modelo Firma monopolista produz um software Consumidores heterogêneos: – Usuários pró-assistência (tipo O): usuários que atribuem valor aos serviços de suporte ao usuário, assistência técnica, etc. proporcionados pela firma aos usuários legais – Usuários independentes (tipo I): usuários que não derivam qualquer utilidade/não atribuem valor aos serviços de suporte e assistência Modelo Tamanho total da população: 2ƞ – Usuários pró-assistência (tipo 0): ƞ – Usuários independentes (tipo I): ƞ Hipóteses: – Venda casada: firmas vendem serviços de suporte juntamente com o software (não é possível comprar software ou os serviços de suporte individualmente) – Usuários de cópia ilegal não têm acesso a serviços de suporte. Modelo q: número total de usuários (legais e ilegais) do software Utilidade do usuário tipo O onde σ > 0 utilidade atribuída aos serviços de suporte softwareusanãose softwarepirateiaseq softwarecomprasepq U O 0 )1( Modelo softwareusanãose softwarepirateiaseq softwarecomprasepq U I 0 Utilidade do usuário tipo I (independente) Proposição 1. Usuários pró-assistência (tipo O) preferem compraro software a pirateá-lo se p ≤ σq 2. Se o software não possui proteção contra cópias, consumidores independentes (tipo I) nunca compram o software Estratégias da firma monopolista Política de não proteção (np): qualquer consumidor pode piratear o software sem custo, mas usuários piratas não têm acesso aos serviços de suporte Política de proteção (p): firma adota um sistema de segurança (a custo zero) que torna cópia ilegal impossível de ser realizada Qual a melhor estratégia para a firma, adotar ou não uma política de proteção? Caso 1: software desprotegido Qualquer usuário pode piratear software Usuários independentes nunca compram software (proposição 2) Preço máximo que monopolista pode cobrar: pnp = σ2ƞ Lucro do monopolista Πnp = 2σƞ2 Caso 2: software protegido Software é impossível de ser pirateado Duas estratégias para a firma (hipótese: σ>1) – Colocar um preço mais alto e vender apenas para usuários do tipo O (equilíbrio de preço alto) – Colocar preço mais baixo e atender os dois tipos de usuário (equilíbrio de preço baixo) Caso 2: software protegido Equilíbrio de preço alto (H) – Preço máximo que monopolista pode cobrar pp,H = (1+σ)ƞ onde pp,H = preço no caso da política de cópia protegida (p) e equilíbrio de preço alto (H) – Lucro do monopolista Πp,H = (1+σ)ƞ2 Caso 2: software protegido Equilíbrio de preço baixo (L) Preço máximo que monopolista pode cobrar – pp,L = 2ƞ Lucro do monopolista Πp,L = 4ƞ2 Caso 2: software protegido Comparando os lucros dos equilíbrios de preços alto e baixo, temos que Πp,H > Πp,L se e somente se σ ≥ 3 Nota: caso 0 < σ < 1, temos pp,L > pp,H e pp,L é o preço que maximiza lucro Caso 2: software protegido Logo, caso software seja protegido, temos o preço e lucro do monopolista são dados por 34 3)1( 32 3)1( 2 2 se se e se se p pp Firma deve ou não proteger seu software? Quando σ > 3, Πnp =2σƞ2 > Πp =(1+σ)ƞ2 => monopolista escolhe política de software desprotegido Quando 2 ≤ σ < 3, Πnp =2σƞ2 > Πp =4ƞ2 => monopolista escolhe política de software desprotegido Quando σ < 2, Πp =4ƞ2 > Πnp =2σƞ2 => monopolista escolhe política de software protegido Proposição (a) Política de software desprotegido é mais lucrativa que política de proteção caso o valor que usuários do tipo O atribuem ao suporte seja alto (σ≥2) (b) Política de proteção é mais lucrativa que deixar software desprotegido caso indivíduos do tipo O atribuam pouco valor aos serviços de suporte (σ<2) Proposição: representação gráfica Πp,L > Πnp > Πp,H Πnp > Πp,L > Πp,H Πnp > Πp,H > Πp,L σ 0 2 3 Não proteger proteger Exemplo: Considere o mercado para um determinado software. Existem 100 consumidores tipo 0 que atribuem valor aos serviços de suporte ao usuário fornecidos pela firma que produz o software, e outros 100 consumidores do tipo I que não atribuem valor aos serviços de suporte. Suas funções utilidade são dadas por: onde q representa o número total de usuários (ou seja, q inclui os usuários de cópias legais e também os piratas) e p o preço do software. Suponha que o custo de produção seja zero e que a firma que produz o software só ofereça serviços de suporte para usuários de cópias legais. 1) Mostre que, caso a firma não utilize um sistema antipirataria no software (sofware desprotegido), os consumidores do tipo I têm incentivos a piratear e nunca comprariam cópias legais do software. 2) Calcule o preço do software que maximiza o lucro da firma no caso de software desprotegido. 3) Suponha agora que a firma pode utilizar um sistema de proteção que impossibilita a cópia pirata (software protegido). O custo do sistema de proteção é nulo. Calcule o preço do software que maximiza o lucro da firma nestas circunstâncias. 4) Comparando o lucro da firma nas situações dos itens (b) e (c), vale a pena para a firma instalar o sistema de proteção no software? softwareousanãose softwareopirateiaseq softwarecomprasepq U softwareousanãose softwareopirateiaseq softwarecomprasepq U I 0 "" 0 "" 400 0
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