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FUNDAMENTOS E TRANSFORMAÇÕES DO DIREITO À IMAGEM - CARLOS AFFONSO

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FUNDAMENTOS E TRANSFORMAÇÕES DO DIREITO À IMAGEM 
 
 
Carlos Affonso Pereira de Souza 
 
Doutor e Mestre em Direito Civil na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Vice-Coordenador do 
Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas/RJ (FGV 
Direito Rio). Professor dos cursos de graduação e pós-graduação da FGV Direito Rio e da PUC-Rio. 
Membro da Comissão de Direito Autoral, Direitos Imateriais e Entretenimento da OAB/RJ. 
 
 
1. Um direito da personalidade midiático: 
 
 A tutela concedida pelo ordenamento jurídico aos direitos da personalidade 
procura resguardar alguns dos aspectos mais essenciais da condição humana, desde a 
própria vida até a autoria de obras intelectuais. A variedade de objetos de proteção tem 
levado a doutrina há mais de um século a debater sobre quais e quantos são os direitos 
da personalidade. De toda forma, se existe dúvida sobre a enumeração desses direitos, é 
certo que nenhum deles - dos mais usualmente consagrados até aqueles cujo trabalho de 
afirmação ainda está em curso - está à margem das transformações sociais, econômicas 
e tecnológicas. 
 
 Especialmente no caso do direito à imagem, as transformações tecnológicas 
representam um fator notório de aceleração na complexidade das questões que são 
trazidas aos cuidados do ordenamento jurídico. O desenvolvimento das chamadas 
tecnologias de informação e comunicação (TICs) causam um impacto considerável na 
pesquisa e na aplicação desse direito, cujos próprios contornos vão se amoldando de 
acordo com as tendências do progresso tecnológico. 
 
 A transmissão de informações através dessas tecnologias, por sua vez, tem sido 
crescentemente realizada através de imagens. Essa utilização da imagem como forma de 
comunicação direta, abrangente e que, em diversas vezes, chega a suplantar o poder 
informativo de textos escritos, traz a imagem para o centro das discussões sobre 
modernas tecnologias e a sua adaptação pelo direito. Seja estática ou em movimento, a 
imagem nunca esteve em tamanha evidência. 
 
 Por isso podemos dizer que o direito à imagem é verdadeiramente o mais 
midiático dos direitos da personalidade. Ele caracteriza o momento em que se vive a 
crescente exploração (e porque não banalização?) da imagem como forma direta de 
comunicação. 
 
2. Definição do direito à imagem: 
 
 A imagem, objeto de proteção jurídica através do direito da personalidade aqui 
apontado, pode ser definida como a representação através da pintura, escultura, 
fotografia, filme e outras formas intelectuais de um tema qualquer, inclusive, da pessoa 
humana.1 
 
 
1
 CHAVES, Antonio. Tratado de Direito Civil, t. I. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1982; p. 536. 
A primeira, e mais conhecida, acepção do direito à imagem é justamente aquela 
que se vincula à retratação de alguém. Trata-se de uma definição atrelada à reprodução 
dos aspectos fisionômicos de outrem. Intimamente relacionado ao desenvolvimento da 
fotografia, essa acepção do direito à imagem ganhou importância no século passado, 
chegando mesmo a se confundir com a própria totalidade da esfera de proteção desse 
direito. 
 
 Sendo assim, a proteção do direito à imagem residiria na possibilidade de 
alguém se opor à divulgação de retrato ou fotografia na qual a mesma figurasse sem a 
sua autorização. Caberia apenas à pessoa decidir se, como, quando e por quem a sua 
imagem seria capturada e divulgada para terceiros. 
 
 Essa concepção de direito à imagem, todavia, não bastou para gerar a autonomia 
do direito. A independência do direito à imagem com relação ao direito à honra é uma 
conquista recente. Até o início dos anos oitenta do século passado a doutrina buscava 
uma definição sobre essa forma de proteção do aspecto plástico da pessoa, 
diferenciando tal tutela daquela que o ordenamento jurídico confere à honra. Em outras 
palavras, era comum se proteger a imagem da pessoa apenas quando a sua honra fosse 
afetada pela divulgação da fotografia sem a sua autorização ou de modo diverso daquele 
previamente contratado.2 
 
 Para além da fisionomia, um novo conceito de direito à imagem foi sendo 
engendrado pela doutrina3 e aplicado pela jurisprudência4 nos últimos anos. Trata-se da 
aplicação da tutela da imagem para aspectos que não são físicos da pessoa retratada, 
mas sim pertinentes ao seu comportamento em sociedade. Atributos da pessoa, como o 
seu jeito, modo, humor, elementos de difícil definição, mas de suma importância para a 
identificação da mesma, passaram a ser protegidos.5 
 
2
 Nesse sentido, afirmava Orlando Gomes: “Todo homem tem direito à própria imagem. Mas seria 
impraticável exigir a sua autorização prévia para a publicação. Além de constituir um estorvo, nenhum 
cabimento teria a exigência, uma vez que, a mais das vezes a reprodução é inofensiva. Inconveniente, 
portanto, estatuir que a publicação de sua imagem dependeria de sue consentimento. A tutela desse direito 
há de orientar-se no sentido de reprimir o abuso no seu exercício, permitindo-lhe que impeça a 
publicação, mas tão somente se, da reprodução, resultar atentado à sua honra, boa fama e 
respeitabilidade.” (in Código Civil – Projeto Orlando Gomes. Rio: Forense, 1985; p. 21). 
3
 Vide, nesse sentido: ARAÚJO, Luiz Alberto David. A Proteção Constitucional da Própria Imagem. 
Belo Horizonte: Del Rey, 1996; pp. 81 e ss, e TEPEDINO, Gustavo. BARBOZA, Heloisa Helena. 
MORAES, Maria Celina Bodin de. Código Civil Interpretado - Parte Geral e Obrigações. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2004, pp. 51/52. 
4
 Um dos casos mais comentados sobre a proteção da imagem fora do espectro dos aspectos fisionômicos 
pode ser encontrado na decisão do Tribunal do Estado do Rio de Janeiro que proibiu a veiculação de obra 
audiovisual na qual famosa apresentadora de programas infantis aparecia em cenas íntimas com um 
menor. A proteção da “imagem” da apresentadora foi um dos argumentos relevantes para obstar a 
exibição do referido filme. Conforme consta do voto do Desembargador Thiago Ribas Filho: “Após o 
lançamento da fita [no cinema], ocorrido em 1982, a 2ª Autora se projetou, nacional e internacionalmente, 
com programas infantis na televisão, criando uma imagem que muito justamente não quer ver atingida, 
cuja vulgarização atingiria não só ela própria como a das crianças que são o seu público, ao qual se 
apresenta como símbolo da liberdade infantil, de bons hábitos e costumes, e da responsabilidade das 
pessoas.” (TJRJ, Apelação Cível nº 3819/91, Des. Thiago Ribas Filho, j. em 27.02.92). 
5
 É importante diferenciar a proteção concedida à imagem, na sua acepção “atributo”, àquela concedida à 
honra. Se por um lado o direito à honra objetiva protege o bom conceito que terceiros têm da pessoa, a 
imagem-atributo protege aspectos comportamentais independentemente de uma análise sobre se esses 
aspectos favorecem ou desfavorecem o conceito que terceiros poderiam ter de seu titular. Esses 
comportamentos, na verdade, podem tanto aboná-la como desaboná-la, dependendo do avaliador, mas 
não é esse o foco da proteção, mas sim a tutela dos atributos enquanto comportamentos que se aderem ao 
 
 Entende-se aqui que proteger apenas a imagem como fisionomia deixaria a 
descoberto uma série de hipóteses em que atributos de identificação relevantes são 
utilizados por terceiro para se aproveitar da vinculação que o público faria entre tais 
comportamentos e a pessoa da vítima. 
 
 Para facilitar o tratamento encontrado nos tribunais nacionais, convencionou-se 
denominar a primeira acepção do direito à imagem de “imagem-retrato”, ao passo que a 
segunda, focada em aspectos comportamentais, recebeu a designação de “imagem-
atributo”. 
 
 Pode-se questionar se a proteção do comportamento, conformeacima desenhada, 
está mesmo bem enquadrada dentro da categoria chamada “imagem-atributo”. Se por 
um lado parece que o direito à identidade poderia também proteger esse objeto, é 
importante legitimar a construção da imagem-atributo. Essa construção possui a 
vantagem de se aproveitar da forma vulgar e usual de menção a essas características da 
pessoa (fala-se muito em manchar a “imagem” ou a “imagem” que alguém passa). 
Adicionalmente, vale destacar que é justamente essa faceta da imagem que tem recebido 
grande atenção por parte da doutrina e jurisprudência graças ao desenvolvimento 
tecnológico e à sua utilização para fins publicitários. 
 
3. O uso autorizado da imagem 
 
 A imagem pode ser utilizada com ou sem consentimento de seu titular. Embora 
nem sempre o seu uso inconsentido vá representar uma afronta a interesse juridicamente 
protegido, legitimando uma eventual ação indenizatória, cumpre explicitar algumas 
questões concernentes à autorização do uso de imagem propriamente dita. 
 
 O direito à imagem encontra-se tutelado no Código Civil no artigo 20. O 
dispositivo, que afirma a possibilidade de autorização do uso da imagem, além de 
estabelecer algumas hipóteses nas quais a mesma poderá ser utilizada sem o 
consentimento de seu titular, está assim redigido: 
 
“Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à 
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou 
a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser 
proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe 
atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins 
comerciais.” 
 
 É importante destacar que a autorização para uso de imagem deve ser 
interpretada restritivamente. Dessa forma, a autorização para a publicação da imagem 
 
que comumente se chama de “imagem” da pessoa (ou a “imagem” que alguém passa, em sentido leigo). 
Tais aspectos podem até ser, em geral, pouco abonadores da pessoa, como o fato dela ser agressiva, 
insensível ou rabugenta. A pessoa pode ainda, e a prática é cada vez mais comum no que diz respeito a 
pessoas notórias, se valer desses atributos para fins publicitários. Esse comportamento em nada se 
confunde com o direito à honra. Sobre a extensão da imagem-atributo e seu uso publicitário, seja 
permitido fazer referência a SOUZA, Carlos Affonso Pereira de. “Contornos Atuais do Direito à 
Imagem.” Revista Trimestral de Direito Civil v.13 (jan-mar/2003). Rio de Janeiro: Padma; pp. 38/44. Em 
outro sentido, entendendo que esse uso da palavra “imagem” na verdade oculta uma referência apenas à 
reputação da pessoa, vide GARCIA, Enéas Costa. Responsabilidade Civil dos Meios de Comunicação. 
São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002; p. 112. 
por um meio não pressupõe a sua divulgação por outro que não aquele contratado. 
Nesse particular a autorização para a utilização da imagem se assemelha deveras com a 
proteção outorgada ao direito autoral, sendo, conforme comanda a legislação, restritiva 
a interpretação dos negócios envolvendo tal categoria de direitos.6 
 
 Uma parte substancial dos conflitos envolvendo direito à imagem decorre não do 
uso inconsentido de todo da imagem alheia, mas sim do uso para finalidades e de 
formas distintas daquelas contratadas. A imagem envolve aspectos da personalidade que 
o seu titular pode não querer que sejam expostos de modo não previamente avençado. 
Por esse motivo faz-se necessário ater-se à regra da interpretação restritiva dos contratos 
envolvendo direito à imagem, justamente para tutelar uma forma relevante de expressão 
da personalidade através de sua própria imagem. 
 
 A interpretação restritiva dos contratos envolvendo direito à imagem, todavia, 
não amarra o julgador de eventual conflito apenas à letra do termo assinado entre as 
partes. É importante aqui perceber como a informalidade do trato social e o avanço das 
tecnologias contribuem para modificar a dinâmica e a evolução do próprio direito. 
 
 Nesse particular, não raramente a autorização para uso da imagem se dá de 
forma apenas verbal, ou mesmo de forma tácita. No caso da fotografia, pode-se afirmar 
que o consentimento obtido através de forma tácita é quase tão usual quanto a 
celebração de termos por escrito, uma vez que a simples pose para foto já pode consistir 
em concordância para a sua captura. 
 
 Mas se a pose para foto pode ser considerada como consentimento tácito para a 
sua captura, a destinação dessa fotografia pode ser objeto de grande controvérsia. 
Hipóteses como essas demonstram como o julgador não pode ficar preso a eventuais 
acertos verbais e deve sim levar todas as circunstâncias do caso em consideração para 
decidir sobre a existência de dano indenizável ou, ao contrário, que a pretensa vítima é 
que deveria ter sido mais cautelosa na exposição de sua imagem.7 
 
 Fotógrafos que tiram fotos em festas e eventos vestindo uniforme ou roupas que 
identificam o periódico, revista ou website para o qual trabalham podem ser um bom 
indicador sobre o uso para o qual se destinará aquela foto. Mas apenas essa informação 
pode não ser o bastante. A forma através da qual a fotografia será exibida pode ser fonte 
de danos em si. 
 
Por isso é importante ressaltar que mesmo imagens autorizadas para certo 
veículo de comunicação podem ensejar ações indenizatórias se a sua exposição lesionar 
interesses legítimos da pessoa retratada. Esses são os casos de legendas8 ou inserção da 
 
6
 Lei nº 9610/98, art. 4º “Interpretam-se restritivamente os negócios jurídicos sobre os direitos autorais”. 
7
 Um exemplo sobre como o conjunto probatório deve ir além do termo assinado, ou dos testemunhos 
sobre o acerto verbal, celebrados entre as partes pode ser retirado do caso apreciado pelo STJ de modelo 
que alegava ter sofrido danos morais pela publicação em revista de ensaio fotográfico no qual aparecia 
nua. Foi determinante para a decisão de improcedência do pedido o fato de ter-se provado que a mesma 
havia pedido aos fotógrafos e redatores que fossem tiradas as fotos “mais ousadas possíveis” e que 
fossem escritas “as coisas mais absurdas para chocar todo mundo” (STJ, Resp nº 230306/RJ, Min. Sálvio 
Figueiredo Teixeira; j. em 18.05.2000). 
8
 O STJ já apreciou e condenou a empresa responsável pela publicação de jornal quando tal veículo 
publicou “sem autorização, uma foto da recorrente ao lado de um ex-namorado com a notícia de que se 
casariam naquele dia, quando na verdade, o homem da foto se casaria com outra mulher. O fato veio a 
imagem em contextos que constrangem a pessoa retratada sem que a mesma pudesse 
inferir que tal uso seria realizado.9 
 
4. O uso indevido da imagem e suas repercussões 
 
O uso indevido da imagem alheia pode originar danos de natureza material ou 
moral. A Constituição, no art. 5º, V, afirma que “é assegurado o direito de resposta, 
proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”. 
Essa expressão poderia gerar alguma confusão ao dar a entender que o chamado “dano à 
imagem” seria uma terceira espécie de reparação dos danos sofridos, em adição ao dano 
material e moral. 
 
Não parece ser esse o caso. Por mais que a expressão tenha se tornado popular 
em contratos e em ações judiciais, para fins de quantificação do dano causado não existe 
uma categoria autônoma, distinta do dano material e moral, denominada “dano à 
imagem”.10 
 
Essa percepção em nada enfraquece a indenização buscada pela vítima dado que, 
lesionado o seu direito à imagem, caberá à mesma obter a competente reparação pelosdanos materiais e morais sofridos. 
 
O enquadramento do dano moral por lesão à imagem historicamente tem 
encontrado nos tribunais superiores um entendimento que o identifica com a regra do 
chamado dano moral in re ipsa. Segundo esse entendimento, o dano moral existiria a 
partir do momento em que tal direito da personalidade é utilizado de forma indevida, 
não cabendo a discussão sobre o grau de sofrimento experimentado pela vítima na 
afirmação do dever de indenizar (an debeatur). A intensidade do sofrimento seria 
apenas uma questão de quantificação (quantum debeatur). 
 
O direito à imagem foi inclusive um dos principais vetores para se aplicar a 
compreensão do dano moral in re ipsa no Superior Tribunal de Justiça durante os anos 
noventa do século passado e desse ponto em diante. Algumas decisões emblemáticas 
foram determinantes nessa trajetória, chegando-se mesmo a se identificar a construção 
do dano moral in re ipsa com a evolução da jurisprudência sobre direito à imagem no 
referido tribunal. Nesse sentido, decidiu o STJ: 
 
“Cuidando-se de direito à imagem, o ressarcimento se impõe pela só constatação de 
ter havido a utilização sem a devida autorização. O dano está na utilização indevida 
para fins lucrativos, não cabendo a demonstração do prejuízo material ou moral. O 
dano, neste caso, é a própria utilização para que a parte aufira lucro com a imagem 
não autorizada de outra pessoa. Já o colendo Supremo Tribunal Federal indicou que 
a ‘divulgação da imagem da pessoa, sem o seu consentimento, para fins de 
 
causar grande constrangimento moral, pois, segundo narra o julgado, a recorrente estava noiva e com 
casamento marcado com outro homem.” (Resp nº 1.053.534/RN, Min. Fernando Gonçalves; j. em 
23.09.2008). 
9
 Nesse sentido veja-se o caso apreciado pelo STJ envolvendo uma colônia de naturistas que contratou a 
exibição de imagens de sua comunidade em certo programa de televisão de cunho jornalístico e terminou 
por ver as mesmas imagens sendo utilizadas pela emissora também para aumentar a audiência de popular 
programa de auditório. STJ, Resp nº 838.550/RS, Ministro Cesar Asfor Rocha; j. em 13.02.2007. 
10
 E a própria Constituição Federal auxilia a resolver essa questão ao afirmar no artigo 5º, X, que “[s]ão 
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra, e a imagem das pessoas, assegurado o direito de 
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.” 
publicidade comercial, implica em locupletamento ilícito à custa de outrem, que 
impõe a reparação do dano.’”11 
 
 Mais recentemente os tribunais tem definido o dano moral como aquele dano à 
dignidade da pessoa humana. Nessa esteira, o filtro para se evitar a banalização da 
indenização não seria a verificação de lesão a direito da personalidade, mas sim a 
violação da dignidade que, em si, guarda uma medida, ainda que elástica, de restrição a 
demandas frívolas ou nas quais exista pouca lesividade dos interesses em questão.12 
 
Embora o Código Civil não avance na matéria, a prática jurisprudencial dos 
últimos anos consolidou uma metodologia que não é típica do direito à imagem, mas 
que nele encontra forte aplicação: trata-se da ponderação de interesses em casos de 
conflitos entre direitos fundamentais. A colisão entre direitos fundamentais não é rara. 
Usualmente adversários de uma ação judicial invocam, cada um do seu lado, direitos 
fundamentais que legitimam o seu pleito. Caberá ao magistrado ponderar os interesses 
em jogo e decidir qual direito será prestigiado no caso concreto em detrimento do outro. 
 
No caso do direito à imagem, usualmente a liberdade de expressão entra em rota 
de colisão com a sua tutela. De um lado têm-se um terceiro que busca divulgar uma foto 
ou de certa forma se utilizar da imagem (mesmo que na concepção de “atributo”) de 
alguém. Essa manifestação do pensamento poderia ser protegida pela liberdade de 
expressão. De outro lado da contenda encontra-se justamente o titular do direito à 
imagem que busca impedir essa utilização ou ser indenizado pelo dano que a mesma 
causou. 
 
É relevante lembrar que nos casos clássicos de conflito entre liberdade de 
expressão e direito à imagem, não é apenas a vontade de se expressar que está em jogo 
por parte do suposto ofensor. O direito à informação do público que veria a foto ou o 
vídeo é preciso sempre ser levado em consideração. Nessas hipóteses, não raramente o 
 
11
 Resp nº 138.883/PE, Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. em 04.08.1998. Em sede doutrinária a 
tese do dano moral in re ipsa também encontrou boa recepção. Nesse sentido, afirma Sergio Cavalieri 
Filho: “Nesse ponto a razão se coloca ao lado daqueles que entendem que o dano moral está ínsito na 
própria ofensa, decorre da gravidade do ilícito em si. (...) Em outras palavras, o dano moral existe in re 
ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto está 
demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou facti, que 
decorre das regras de experiência comum; provado que a vítima teve o seu nome aviltado, ou a sua 
imagem vilipendiada, nada mais ser-lhe-á exigido provar, por isso que o dano moral está in re ipsa; 
decorre inexoravelmente da gravidade do próprio fato ofensivo, de sorte que, provado o fato, provado está 
o dano moral.” (in Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 2008; p. 86). 
12
 Nesse sentido veja-se a seguinte decisão do STJ, que justamente utiliza a dignidade como filtro para 
medir se críticas feitas por um advogado a certo magistrado poderiam gerar dano moral à imagem e à 
honra: RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS E MORAIS. 
ENTREVISTA DE ADVOGADO. REFERÊNCIA A JULGADOS. 1. O dano moral deve ser visto como 
violação do direito à dignidade, estando nela inseridos a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da 
honra e da imagem. Dessa forma, havendo agressão à honra da vítima, é cabível indenização. 2. Críticas à 
atividade desenvolvida pelo homem público, in casu, o magistrado, são decorrência natural da atividade 
por ele desenvolvida e não ensejam indenização por danos morais quando baseadas em fatos reais, 
aferíveis concretamente.3. Respaldado nas disposições do § 2º do art. 7º da Lei n. 8.906/94, pode o 
advogado manifestar-se, quando no exercício profissional, sobre decisões judiciais, mesmo que seja para 
criticá-las. O que não se permite, até porque nenhum proveito advém para as partes representadas pelo 
advogado, é crítica pessoal ao Juiz.” (STJ, Resp nº 531353/MT, Ministra Nancy Andrighi; j. em 
02.09.2008). Sobre a vinculação entre dignidade da pessoa humana e dano moral na perspectiva civil-
constitucional, vide MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2003; pp. 182/192. 
Poder Judiciário tem prestigiado o direito à informação mesmo que a pessoa retratada 
venha a ter a sua imagem explorada sem consentimento. Entende-se que um motivo de 
ordem pública suplanta a tutela da imagem. 
 
O Superior Tribunal de Justiça já teve oportunidade de apreciar decisão do 
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que condenou revista especializada em 
fofocas por publicar, com grande destaque, foto na qual famoso ator de novelas, casado, 
beijava uma figurante no estacionamento da locação. Reconheceu-se no caso que houve 
abuso por parte do veículo de imprensa. 
 
É de se destacar nesse caso que o TJRJ já havia reduzido em oito vezes a 
indenização concedida em primeira instância por compreender que o ator, dada a sua 
notoriedade, sofre uma redução na esfera de proteção de alguns direitosda 
personalidade como a imagem e a privacidade. Segundo consta do voto da Ministra 
Nancy Andrighi: 
 
“Doutrina e jurisprudência são pacíficas no entendimento de que pessoas públicas 
e/ou notórias têm seu direito de imagem mais restrito que pessoas que não ostentem 
tal característica. 
(...) 
Não se desconhece, inclusive, que em certas profissões – por exemplo atores e 
atrizes de televisão, músicos, dançarinas, jogadores de futebol – a divulgação das 
chamadas "fofocas" chegam, em certos casos, até mesmo a beneficiar-lhes, 
contribuindo com a idéia de glamour que ronda tais carreiras. 
(...) 
A situação do recorrido é especial, pois se trata de pessoa pública, por isso os 
critérios para caracterizar violação da privacidade são distintos daqueles desenhados 
para uma pessoa cuja profissão não lhe expõe. Assim, o direito de informar sobre a 
vida íntima de uma pessoa pública é mais amplo, o que, contudo, não permite tolerar 
abusos.” 13 
 
Casos como o narrado tratam da delicada fronteira entre o privado e o público, 
além de explicitar que o regime de proteção dos direitos da personalidade, mais 
notadamente da imagem e da privacidade, de pessoas notórias sofre uma redução dada a 
sua condição. Essas pessoas, conforme Prosser e Keaton, “podem ser definidas como 
aquelas que, por suas conquistas, modo de vida, ou mesmo pela profissão ou ofício 
 
13
 Resp nº 1082878/RJ, Min. Nancy Andrighi; j. em 14.10.2008. O referido acórdão está assim ementado: 
RESPONSABILIDADE CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO 
INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS. EXISTÊNCIA DO ILÍCITO, COMPROVAÇÃO DO 
DANO E OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. PESSOA PÚBLICA. ARTISTA DE TELEVISÃO. 
LIMITAÇÃO AO DIREITO DE IMAGEM. JUROS MORATÓRIOS. INCIDÊNCIA. HONORÁRIOS 
ADVOCATÍCIOS E CUSTAS PROCESSUAIS. REPARTIÇÃO. 
- Ator de TV, casado, fotografado em local aberto, sem autorização, beijando mulher que não era sua 
cônjuge. Publicação em diversas edições de revista de “fofocas”; 
- A existência do ato ilícito, a comprovação dos danos e a obrigação de indenizar foram decididas, nas 
instâncias ordinárias, com base no conteúdo fático-probatório dos autos, cuja reapreciação, em sede de 
recurso especial, esbarra na Súmula 7/STJ; 
- Por ser ator de televisão que participou de inúmeras novelas (pessoa pública e/ou notória) e estar em 
local aberto (estacionamento de veículos), o recorrido possui direito de imagem mais restrito, mas não 
afastado; 
- Na espécie, restou caracterizada a abusividade do uso da imagem do recorrido na reportagem, realizado 
com nítido propósito de incrementar as vendas da publicação; 
- A simples publicação da revista atinge a imagem do recorrido, artista conhecido, até porque a fotografia 
o retrata beijando mulher que não era sua cônjuge;” 
adotado, que fazem gerar interesse público sobre suas atividades, negócios e caráter, 
tornam-se personalidades públicas. Em outras palavras, são celebridades.”14 
 
Vale lembrar que a eventual restrição do direito à imagem em nome da liberdade 
de expressão, ou mesmo da liberdade de imprensa, não legitima que o jornalista 
publique matéria sem o necessário apuro investigativo e de forma que possa confundir o 
destinatário da comunicação. Em tais casos, os tribunais já condenaram empresas 
jornalísticas por matérias que se mostraram tendenciosas ou nas quais não se narrou o 
acontecido com a exatidão que a ética jornalística demanda.15 
 
Da mesma forma, se é verdade que o direito à imagem não é um direito 
inabalável, que obste a tutela de outros direitos da personalidade, a própria liberdade de 
expressão também pode ser objeto de abusos. Dentre os vários casos envolvendo 
campanhas eleitorais, vale lembrar que o direito de resposta, tradicionalmente 
concedido quando um candidato é atacado por outro, não pode se constituir em arma 
para, como que na Lei de Talião, venha-se a ferir com igual gravidade aquele ofensor 
original.16 
 
 
14
 DOBBS, Dan, KEETON, Robert e OWEN, David. Prosser and Keeton on Torts. St. Paul: WestGroup, 
2004; pp. 859/860. 
15
 Nesse sentido, vide STJ, Agr. Reg. Em Agr. Instr. nº 1029932/RJ; Min. Fernando Gonçalves; j. em 
21.08.2008. Seguindo consta da ementa do referido acórdão: “APELAÇÃO. PUBLICAÇÃO DE 
MATÉRIA JORNALÍSTICA IMPUTANDO AO AUTOR A PRÁTICA DE CRIME. INFORMAÇÃO 
DESTORCIDA E INCOMPATÍVEL COM A VERDADE DOS FATOS. DANO MORAL CONFIGURADO. 
1. A natural diminuição dos limites da privacidade de homens e vida pública não autoriza o abuso de 
direito, consubstanciado na divulgação tendenciosa ou manipulada de fatos que não reflitam com exatidão 
os acontecimentos e, muito menos, permite a divulgação de versões truncadas de fatos sem relação direta 
com a realidade. (...)” 
16
 Nesse sentido, o STJ apreciou caso em que dois políticos trocaram exaltadas manifestações em época 
eleitoral, sendo curioso o fato de que a indenização recaiu inclusive sobre aquele que, uma vez atacado e 
obtendo direito de resposta, abusou desse direito e proferiu, de sua própria parte, outras ofensas contra o 
ofensor original: “Posto seja livre a manifestação do pensamento - mormente em épocas eleitorais, em 
que as críticas e os debates relativos a programas políticos e problemas sociais são de suma importância, 
até para a formação da convicção do eleitorado -, tal direito não é absoluto. Ao contrário, encontra rédeas 
tão robustas e profícuas para a consolidação do Estado Democrático de Direito quanto o direito à livre 
manifestação do pensamento: trata-se dos direitos à honra e à imagem, ambos condensados na máxima 
constitucional da dignidade da pessoa humana. 3. Na espécie, é incontroverso que o ora recorrente 
imputou ao recorrido a criação, no Estado do Rio de Janeiro, de associação alcunhada "fetranscoca", que 
consistiria em suposta ligação entre o recorrente e seus co-partidários com o tráfico ilícito de 
entorpecentes, com o escopo de "manipular e influenciar as eleições, inclusive financiando e elegendo 
candidatos, tudo com o dinheiro circulante no tráfico de drogas". Salta aos olhos, portanto, que não se 
trata de "simples manifestação do seu pensamento e do exercício de seu legítimo direito de crítica ", 
como pretende demostrar o recorrente. Ao reverso, as afirmações de que o recorrido teria se associado ao 
tráfico de drogas carioca, com vistas a obter proveito eleitoral, revela ofensa direta à sua pessoa, pois se 
trata de prática cuja reprovabilidade é evidente. (...) 4. O pedido reconvencional, por outro lado, também 
deve ser julgado procedente. Isso porque as declarações verberadas pelo ora recorrido, segundo as quais o 
recorrente seria "pessoa sem caráter, que foi puxada pelos fundilhos das calças, um 'desequilibrado', 
'traidor' e 'fascista'" transbordam os limites dos direitos de resposta e manifestação do pensamento, 
igualmente, garantidos constitucionalmente. Isso decorre do fato de que os predicados irrogados à pessoa 
do recorrente não revelam qualquer intuito de resposta à acusação anterior - de que haveria uma 
'fetranscoca' arquitetada pelo recorrido. Em realidade, a pretexto de responder às agressões anteriormente 
sofridas, utiliza-se do mesmo instrumento de que fez uso seu adversário político: ofensas diretas à honra 
do ora recorrente. 5. Não se há confundir direito de resposta com direito de vingança, porquanto aquele 
não constitui crédito ao ofendido para que possa injuriar ou difamar o seu ofensor. (STJ, Resp nº 
296391/RJ, Ministro Luis Felipe Salomão; j. em 19.02.2009). 
Os limites entre imagem e liberdade de expressão podem ser encontrados na 
proibição do abuso de ambos os lados. Conforme explicitado pelo Ministro Jorge 
Scartezzini em acórdão sobre a matéria: 
 
“A responsabilidade civil decorrente de abusos perpetrados por meio da imprensa 
abrangea colisão de dois direitos fundamentais: a liberdade de informação e a tutela 
dos direitos da personalidade (honra, imagem e vida privada). A atividade 
jornalística deve ser livre para informar a sociedade acerca de fatos cotidianos de 
interesse público, em observância ao princípio constitucional do Estado 
Democrático de Direito; contudo, o direito de informação não é absoluto, vedando-
se a divulgação de notícias falaciosas, que exponham indevidamente a intimidade ou 
acarretem danos à honra e à imagem dos indivíduos, em ofensa ao fundamento 
constitucional da dignidade da pessoa humana.”17 
 
 Uma limitação freqüentemente encontrada pelo direito à imagem é a preservação 
do debate público, fomentado até mesmo através de charges e caricaturas. Por mais que 
o Direito não necessariamente tenha os mecanismos adequados para medir a fronteira 
entre o humor crítico e a ofensa à honra e à imagem de terceiro, os magistrados não 
raramente são chamados a buscar esse equilíbrio. O Superior Tribunal de Justiça, a 
analisar caso que envolvia uma série de críticas feitas à famosa organização não 
governamental, entendeu que a criação de uma charge que se valia do símbolo original 
da entidade criticada não feria o direito à imagem, não gerando dano moral 
indenizável.18 
 
Casos como esses demonstram como a tutela do direito à imagem conforme 
prevista no artigo 20 do Código Civil é insuficiente para tratar da diversidade de 
situações que a realidade dos meios de comunicação coloca ao Direito. Notoriedade da 
pessoa retratada, a sua presença em local público, a utilização da imagem para fins 
humorísticos ou de crítica, dentre outras hipóteses desafiam o dispositivo do Código 
Civil a uma leitura constitucional que possa garantir o equilíbrio entre a tutela da 
imagem e demais interesses. 
 
 
17
 Resp nº 818764/ES, Min. Jorge Scartezzini; j. em 15.02.2007. 
18
 Resp nº 744.537/RJ, Min. Nancy Andrighi; j. em 13.05.2009. O referido acórdão foi assim ementado: 
“DANO MORAL - INDENIZAÇÃO - AÇÃO MOVIDA POR ONG - ENTIDADE NÃO 
GOVERNAMENTAL - CONTRA OUTRA ONG E SEUS DIRIGENTES - ALEGAÇÃO DE QUE VEM 
SENDO DIFAMADA EM DIVERSAS ATIVIDADES E PUBLICAÇÕES, INCLUSIVE MEDIANTE A 
DISTRIBUIÇÃO NO CONGRESSO NACIONAL DE APOSTILA CUJA CAPA OSTENTARIA 
'CHARGE' OFENSIVA DO SÍMBOLO DA ENTIDADE AUTORA - LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
RECONHECIDA - MERO DEBATE DE COMUNICAÇÃO ENTRE ENTIDADES ANTAGÔNICAS - 
EXISTÊNCIA DE DANO MORAL AFASTADA - RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. Não se 
configura dano moral indenizável, mas mero debate de comunicação na realização de atividade e 
publicações, por parte de ONG - Entidade Não Governamental - contra ONG que lhe seja adversa, ainda 
que ocorra divulgação de 'charge' da imagem símbolo da autora em publicação distribuída.” 
É importante perceber que, no caso, foi-se levado em conta não apenas o aspecto de crítica realizado 
através da charge, mas também a notoriedade das atividades desempenhadas pela ONG, o que 
naturalmente atrairia a atenção de terceiros. Segundo consta do voto do Ministro Castro Filho: “A 
Constituição Federal (artigos 5º, incisos IV e XIV) assegura a plena liberdade de informação e opinião, 
possibilitando a quem lê ou participa de palestras ou debates, questionar os pontos controvertidos. Da 
mesma forma, pode-se reconhecer não revelar a charge bom gosto visual. Entretanto, revela cunho irônico 
e cômico. Se assim não fosse, não seria uma charge. Em suma, as publicações e a exposição de opiniões 
dos réus recorridos devem ser encaradas como critica ao comportamento de uma figura pública. Refletem 
o pensamento de oposição ao comportamento de uma ONG, que recebe doações de centenas de milhares 
de pessoas de todo o mundo. E é justamente esse fato público e notório que está sendo retratado de forma 
crítica pelos réus.” 
5. Uma interpretação constitucional para o artigo 20 do Código Civil 
 
 Existe uma inquietação nítida com a interpretação literal do artigo 20 do Código 
Civil. Se lido em sua literalidade ele submeteria os veículos de comunicação cuja 
atividade pudesse ser enquadrada como sendo de finalidade comercial a apenas duas 
possibilidades nas quais a imagem de terceiro poderia ser utilizada: ou essa imagem 
seria devidamente autorizada, ou a sua publicação se daria se assim fosse necessário à 
manutenção da ordem pública ou administração da Justiça.19 
 
 Esse apertado rol de possibilidades mostra o descompasso do dispositivo perante 
as complexidades trazidas pela ponderação entre direitos fundamentais e o 
desenvolvimento tecnológico. Caso fosse efetivamente aplicado conforme disposto, o 
artigo 20 do Código Civil tornaria o direito à imagem verdadeiramente superior aos 
demais interesses que podem ser tutelados através de outros direitos fundamentais, 
notadamente no que diz respeito ao direito à informação e o exercício da liberdade de 
expressão. Essa ponderação prévia, feita fora dos ditames constitucionais, não pode ser 
aceita. 
 
 Nesse sentido é preciso construir uma interpretação constitucional para o artigo 
20. Essa interpretação deve assegurar um locus para o direito à imagem que não elimine 
a liberdade de expressão alheia, mas que possa sopesar os direitos em jogo, garantindo a 
competente reparação quando a imagem for lesionada. 
 
 No intuito de se garantir certa prevenção de danos, e ao mesmo tempo prestigiar 
o direito à imagem, decisões judiciais têm impedido a publicação de livros, filmes e 
demais obras intelectuais que eventualmente utilizem a imagem alheia sem autorização. 
Esse sopesamento nunca é fácil, mas é importante compreender que, se por um lado é 
verdade que a imagem da pessoa retratada poderá ser afetada com a publicação, o 
direito possui mecanismos em sede de responsabilidade civil para compensar o dano 
causado. 
 
Ao contrário, caso a publicação venha a ser obstada no seu nascedouro, é 
importante que o magistrado observe o impacto que essa restrição causa na construção 
do direito à informação e da liberdade de expressão, notadamente em um País que viveu 
há poucas décadas um explícito e severo regime de censura, com restrições estatais à 
livre manifestação do pensamento. 
 
Nessa direção, Luis Roberto Barroso afirma que a proibição de uma publicação 
para que se tutele a imagem deve ser “providência inteiramente excepcional”. Segundo 
o autor, poderiam ser definidos alguns parâmetros constitucionais para guiar o 
magistrado em casos de colisão entre direitos fundamentais como os aqui analisados. 
Tais parâmetros seriam: (i) a veracidade do fato narrado; (ii) a licitude do meio 
empregado na obtenção da informação; (iii) a verificação se a pessoa retratada é 
personalidade pública ou estritamente privada; (iv) o local do fato; (v) a natureza do 
fato; (vi) a existência de interesse público na divulgação em tese; (vii) a existência de 
 
19
 Adicionalmente, o referido dispositivo ainda vincula, em certa medida, a indenização por lesão à 
imagem à lesão à honra, em conformidade com o antigo Projeto Orlando Gomes de Código Civil. Para 
uma crítica à essa vinculação vide JABUR, Gilberto Haddad. Liberdade de Pensamento e Direito à Vida 
Privada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000; pp. 126/127 e SAHM, Regina. Direito à Imagem no 
Direito Civil Contemporâneo. São Paulo, Atlas, 2002; p. 236. 
interesse público na divulgação de fatos relacionados com a atuação de órgãos públicos; 
e (viii) a preferência por sanções a posteriori, que não envolvam a proibição prévia da 
publicação.20 
 
Percebendo a insuficiência das limitações impostas ao direito à imagem na 
redação do artigo 20, e compreendendo a necessidade de sua ponderação com outros 
direitos fundamentais, a IV Jornada de Direito Civil aprovou o enunciado nº 279, que 
assim dispõe: 
 
“a proteçãoda imagem deve ser ponderada com outros interesses 
constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso à 
informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-se-á em conta a 
notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e, 
ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica), 
privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de informações.” 
 
Em caso de uso efetivamente indevido, como visto no item anterior, os tribunais 
vem construindo ao longo das últimas décadas uma jurisprudência que prestigia a tutela 
da imagem e garante ao lesado a competente indenização. 
 
6. Legitimidade para a tutela da imagem de pessoa falecida: 
 
O já referido artigo 20, além de tutelar o direito à imagem e à honra, apresenta 
em seu parágrafo único um comando que disciplina a legitimação para a defesa desses 
direitos de pessoa falecida. O mencionado dispositivo assim está redigido: 
 
“Art. 20. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou ausente, são partes legítimas 
para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.” 
 
Uma vez morto ou ausente o seu titular, o dispositivo determina quem terá 
legitimidade para requerer as medidas de proteção da imagem e da honra do de cujus, 
transferindo-se essa caracterização de pleno direito para o cônjuge, os ascendentes e os 
descendentes. Conforme salienta Caio Mario da Silva Pereira, esta faculdade é exercida 
cumulativamente, e não sucessivamente, o que significa que todos esses indivíduos 
possuem a referida legitimidade.21 
 
Deve-se ressaltar que o fato dessa legitimidade não ser sucessiva, mas sim 
cumulativa, não significa que todos vão exercê-la nas mesmas condições e obter 
resultados idênticos em suas demandas. O grau de ligação afetiva e de proximidade com 
a pessoa falecida será determinante para o deslinde dessas ações. 
 
Embora exista certa controvérsia sobre o fundamento da ação proposta pelos 
legitimados do parágrafo único do artigo 20, doutrina e jurisprudência tem comentado e 
aplicado o dispositivo, tornando efetiva a tutela da imagem após a morte de seu titular. 
 
Se, por um lado, o dispositivo acima estende, de certo modo, a legitimidade 
quanto à defesa da imagem e da honra para além da figura do lesado, não se quer com 
 
20
 BARROSO, Luís Roberto. Temas de Direito Constitucional, v.III. Rio de Janeiro: Renovar, 2005; pp. 
113/117. 
21
 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora Forense, 
p. 259. 
isso negar a intransmissibilidade própria dos atributos da personalidade.22 Nesse 
sentido, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça: 
 
“Os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam como 
principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, deixa de 
merecer proteção a imagem de quem falece, como se fosse coisa de ninguém, porque 
ela permanece perenemente lembrada nas memórias, como bem imortal que se 
prolonga para muito além da vida, estando até acima desta, como sentenciou 
Ariosto. Daí porque não se pode subtrair da mãe o direito de defender a imagem de 
sua falecida filha, pois são os pais aqueles que, em linha de normalidade, mais se 
desvanecem com a exaltação feita à memória e à imagem de falecida filha, como são 
os que mais se abatem e se deprimem por qualquer agressão que possa lhes trazer 
mácula. Ademais, a imagem de pessoa famosa projeta efeitos econômicos para além 
de sua morte, pelo que os seus sucessores passam a ter, por direito próprio, 
legitimidade para postularem indenização em juízo.”23 
 
É importante destacar ainda que o parágrafo único do art. 20 deve ser lido em 
consonância com o artigo 12 do Código Civil, considerada norma de caráter geral, 
conforme propõe o enunciado nº 5 da I Jornada de Direito Civil (2002), promovida pelo 
Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal: 
 
“1) as disposições do art. 12 têm caráter geral e aplicam-se, inclusive, às situações 
previstas no art. 20, excepcionados os casos expressos de legitimidade para requerer 
as medidas nele estabelecidas; 2) as disposições do art. 20 do novo Código Civil têm 
a finalidade específica de regrar a projeção dos bens personalíssimos nas situações 
nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos de legitimação que se 
conformem com a tipificação preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas 
subsidiariamente as regras instituídas no art. 12.”24 
 
O STJ, vale lembrar, já decidiu que o espólio não é legitimado para pleitear a 
competente ação indenizatória por lesão à imagem “em nome próprio”.25 O mesmo 
tribunal, mais recentemente, afirmou que, a partir da interpretação sistemática dos 
artigos 12 e 943 do Código Civil, pode-se perceber que o direito à indenização, seja de 
ordem material como moral, foi assegurado pelo Código Civil aos sucessores do lesado, 
transmitindo-se com a herança. 
 
Essa construção leva em conta que o objeto da sucessão é o direito de ação, o 
qual possui natureza patrimonial, e não o direito moral que, por ser de natureza 
personalíssima, não poderia ser transmitido.26 
 
7. O direito à imagem na Internet 
 
O aspecto midiático do direito à imagem pode ser comprovado pelas inúmeras 
decisões judiciais que tratam da sua aplicação em obras audiovisuais veiculadas através 
da televisão e do cinema. Mas é com o aumento exponencial do uso da Internet no 
 
22
 TEPEDINO, Gustavo. BARBOZA, Heloisa Helena. MORAES, Maria Celina Bodin de. Código 
Civil Interpretado - Parte Geral e Obrigações. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 20. 
23
 STJ, REsp. nº 268.660, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, julg. 21.11.2000. 
24
 http://daleth.cjf.jus.br/revista/enunciados/IJornada.pdf, acessado em 19.07.2010. 
25
 STJ, Resp nº 913.131/BA, Min. Carlos Fernando Mathias; j. em 16.10.2008. “4. Tratando-se de feito 
ajuizado pelo espólio conjuntamente com os herdeiros, sendo evidente que o dano moral pleiteado pela 
família da falecida constitui direito pessoal deles, não por herança mas por direito próprio, carece de 
legitimidade, consequentemente, o espólio, para pleitear indenização em nome próprio.” 
26
 STJ, Resp nº 978.651/SP, Min. Denise Arruda; j. 17.02.2009. 
Brasil que esse aspecto ganha ainda maior evidência, enfatizando como é mediante a 
exploração da imagem que boa parte da comunicação nos tempos atuais tem se 
desenvolvido. Se por um lado pode-se questionar se o advento da Internet está fazendo 
com que os seus usuários leiam menos, por outro é bastante claro que o poder de 
transmissão de uma mensagem através de uma simples imagem tem alcançado 
contornos inesperados na rede dada a facilidade de tratamento e difusão de tais imagens. 
 
Dois são os principais problemas na afirmação da tutela da imagem na Internet: 
(i) a adequação dos remédios oferecidos pelo Direito à vítima de tal dano, uma vez que 
a informação na rede se propaga e perdura de forma inédita na história dos meios de 
comunicação; e (ii) o efetivo regime de responsabilização dos agentes do dano, 
residindo aqui o problema da responsabilização de provedores e daqueles que realizam a 
utilização indevida da imagem. 
 
Com relação ao primeiro problema é importante ressaltar que a função precípua 
da responsabilidade civil é compensar a vítima do dano. Essa compensação é 
constantemente desafiada pelo simples fato da lesão à imagem na Internet se perpetuar 
indefinidamente através da veiculação da foto, vídeo ou texto que causou originalmente 
o dano. A facilidade com que informações são trocadas na rede trazem duas questões 
adicionais, pois, de um lado dificulta a quantificaçãodo dano e, por outro, coloca em 
pauta a existência de um eventual “direito ao esquecimento”. 
 
Sobre a questão da efetiva compensação do dano causado, em situações em que 
a imagem foi amplamente divulgada na rede, é comum que a vítima selecione certo 
número de provedores que hospedaram ou divulgaram a sua imagem de forma lesiva. 
Pode causar perplexidade essa discricionária opção por um ou outro veículo de 
comunicação na rede, mas deve-se também ponderar que não seria possível à vitima 
ingressar com ações judiciais contra absolutamente todos os responsáveis por websites 
que divulgaram a imagem lesiva em casos de grande repercussão. 
 
De toda forma, não se deve deixar de perseguir o responsável original pelo dano 
causado. Antes de se responsabilizar os provedores que hospedaram a foto ou o texto, 
ou ainda aqueles que exibiram o vídeo, é relevante não perder de vista que alguém, em 
primeiro lugar, é o responsável original pela veiculação desse conteúdo. 
 
Em tempos de internet colaborativa, ou seja, de websites cujo conteúdo não é 
criado pelas empresas que operam essas ferramentas, mas sim pelos seus próprios 
usuários que escrevem textos e inserem fotos e vídeos, é preciso não perder de vista a 
conduta desse usuário e buscar a sua responsabilização caso o dano seja constatado. 
 
Essa medida de responsabilização do agente do dano original possui ainda um 
efeito didático na rede uma vez que reforça a compreensão básica de que nem tudo é 
permitido no ambiente online, ao mesmo tempo em que afasta a premissa de que os 
provedores, por simplesmente difundirem a imagem que gera dano, seriam sempre 
responsabilizados por esse fato, conforme se verá logo em seguida. 
 
É relevante destacar, em termos mais práticos, que se a lesão ao direito à 
imagem é contínua, isso significa que o prazo prescricional para a promoção da ação 
indenizatória conta-se do último ato praticado. Nesse sentido já decidiu o STJ que a 
pessoa retratada em foto original de 1969, que constou de forma não autorizada de capa 
de disco, ainda poderia ingressar com ação indenizatória depois do relançamento do 
disco, agora em formato de CD, no ano de 2002. Isso se dá porque, em tais situações, o 
termo a quo envolvendo violação continuada da imagem contar-se-ia do último ato 
praticado.27 
 
Uma segunda questão derivada da perpetuação das informações na rede é o 
debate sobre o chamado direito ao esquecimento. A sua aplicação é especialmente 
problemática no que diz respeito ao direito à imagem tendo em vista a facilidade com 
que uma foto ou vídeo são publicados online. 
 
Se o ditado afirma que a rede nunca esquece, o Direito poderia, através de uma 
ordem judicial, obrigar determinado website a apagar certa informação, foto ou vídeo 
que revelasse eventual condenação judicial de um terceiro? Especialmente controvertido 
no que diz respeito à sua fronteira com a proteção da imagem na acepção de “imagem-
atributo”, o direito ao esquecimento já foi aplicado pelos tribunais nacionais sobre 
informação existente na rede mundial de computadores. 
 
Um cirurgião plástico, condenado por negligência na prestação de sua atividade 
em 2002, obteve uma decisão judicial na 2ª Turma Recursal do Juizado Especial de 
Belo Horizonte que lhe garantiu a retirada de matéria jornalística sobre a referida 
condenação de um website de notícias jurídicas.28 
 
O segundo problema principal para a reparação do dano causado à imagem na 
Internet é a indefinição sobre o regime e a forma de responsabilização dos provedores 
de serviços que hospedam e divulgam essa imagem. O caso paradigmático no direito 
brasileiro foi a condenação dos provedores que divulgaram um vídeo no qual a modelo 
Daniela Cicarelli aparecia em cenas íntimas com o seu namorado em local público. 
 
O Juízo da 23ª Vara Cível da Capital/SP, ao apreciar o caso em primeira 
instância, indeferiu a tutela antecipada e negou o pedido de retirada do vídeo dos 
websites operados pelas empresas-ré, entendendo, a partir das peculiaridades do caso 
concreto, que não havia violação aos direitos da personalidade uma vez que os autores 
se expuseram por livre e espontânea vontade em local público. 
 
O referido juízo ponderou as alegações das partes, mitigando o disposto no 
artigo 20 do Código Civil ao restringir o direito à imagem em uma situação em que os 
autores, sendo pessoas notórias, expuseram em local público um momento “não-
corriqueiro” que sabidamente despertaria a atenção de terceiros. 
 
27
 STJ, Resp nº 1014624/RJ, Ministro Vasco Della Giustina; j. Em 10.03.2009. 
28
 A referida decisão afirma que "a primazia conferida pela Constituição ao interesse coletivo, realiza-se 
pela proteção à necessidade dos indivíduos de receberem informações verdadeiras e capazes de bem 
expressar o pensamento de quem as produziu, o que não autoriza, contudo, qualquer violação à 
intimidade ou à privacidade, direitos da personalidade, considerados hierarquicamente superiores a outros 
direitos" (2ª Turma Recursal do Juizado Especial de Belo Horizonte, Recurso 0024.2009.381.956-3; j. em 
30.10.2009). Parece controvertida a afirmação de primazia dos direitos da personalidade sobre os demais, 
mas o fato é que a decisão carece, como muitas outras que tratam de informações divulgadas na rede, de 
maior efetividade. Isso ocorre porque, em 19.07.2010, ao se procurar na Internet pelo nome do cirurgião 
não se encontra mais a notícia sobre a sua condenação no website jurídico, mas logo em seguida estão, 
nos resultados da chave de busca, o link para a decisão que o condena por negligência no website do 
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, além de outras matérias repercutindo tanto a condenação original 
como a ordem para retirada de conteúdo do website jurídico. 
 
Fundamentando a sua decisão nos limites do direito à intimidade, o juiz Gustavo 
Santini reconheceu que o mesmo não é absoluto, podendo sofrer restrições que levem 
em consideração as circunstâncias e peculiaridades do caso. Nesse sentido: 
 
“[A] proteção à intimidade não pode ser exaltada a ponto de conferir imunidade 
contra toda e qualquer veiculação de imagem de uma pessoa, constituindo uma 
redoma protetora só superada pelo expresso consentimento, mas encontra limites de 
acordo com as circunstâncias e peculiaridades em que ocorrida a captação.”29 
 
Nas razões de mérito, o magistrado de primeiro grau levou em consideração uma 
informação concedida pelo paparazzo a uma revista masculina, de que havia mais de 
200 pessoas na praia no momento da filmagem, denotando uma conduta negligente por 
parte dos autores, especialmente se for levada em consideração a facilidade com a qual 
tais imagens poderiam ser capturadas. Sendo assim: 
 
“(...) o estrépito resultou da conduta (casal conhecido, trocando carícias íntimas na 
praia), e não propriamente da divulgação do vídeo no site do co-réu Youtube e das 
fotos e links nos sites dos co-réus Globo e IG. (...) com os recursos atuais da 
tecnologia, os autores deveriam saber que suas imagens poderiam ser captadas por 
qualquer um e colocadas na internet. Deixaram que sua intimidade fosse observada 
em local público, razão pela qual não podem argumentar com violação da 
privacidade, honra ou imagem para cominar polpudas multas justamente aos co-
réus.”30 
 
 O juízo a quo indeferiu o pedido entendendo que os autores deveriam ter 
maturidade suficiente para suportar as conseqüências de seus atos, acatando, ainda, o 
argumento de que a conduta dos autores viola o princípio da boa-fé objetiva, tendo em 
vista que os autores expuseram em público e voluntariamente a troca de carícias, 
alegando posteriormente que este momento não poderia ser veiculado publicamente. 
 
Em sede de agravo de instrumento, após o indeferimento da tutela antecipada,o 
Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu liminar determinando a retirada do vídeo dos 
websites das empresas-ré, sob pena de multa diária de R$ 250 mil. 
 
A decisão do Tribunal de Justiça determinou que as empresas operadoras dos 
blackbones da internet brasileira, providenciassem filtros que inviabilizassem o acesso, 
pelos brasileiros, ao filme do casal. Contudo, por conta da redação dúbia da decisão, a 
determinação acabou provocando o bloqueio integral do site YouTube, tornando-o 
inacessível, temporariamente, para milhões de usuários, despertando ainda mais o 
interesse público pelo caso e transparecendo a falta de conhecimento dos aplicadores do 
direito em questões relacionadas à internet. 
 
Em junho de 2008, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo reformou a 
sentença a quo, julgando procedente a ação e determinando a remoção dos filmes e 
fotografias do casal, bem como dos links que remetem a este conteúdo. 
 
 
29
 Íntegra da decisão disponível em: www.terra.com.br/noticias/Cicarelli_Youtube.doc, acessado em 
19.07.2010. 
30
 Idem. 
Conforme se extrai do acórdão, o colegiado atribuiu maior peso aos direitos da 
personalidade, concluindo que “a reserva da vida privada é absoluta” e, portanto, pouco 
suscetível a restrições: 
 
“(...) a ingerência popular que se alardeou a partir da comercialização do vídeo 
produzido de forma ilícita pelo paparazzo espanhol, afronta o princípio de que a 
reserva da vida privada é absoluta, somente cedendo por intromissões lícitas. A 
notícia do fato escandaloso ainda pode ser admitida como lícita em homenagem da 
liberdade de informação e comunicação, o que não se dá com a incessante exibição 
do filme, como se fosse normal ou moralmente aceito a sua manutenção em sites de 
acesso livre. Há de ser o Judiciário intransigente quando em pauta a tutela da esfera 
íntima das pessoas que não autorizaram a gravação das cenas e a transmissão 
delas.”31 
 
O referido acórdão demonstra a dificuldade do regime de ponderação entre 
direitos fundamentais e como o desenvolvimento tecnológico coloca em xeque as 
fronteiras do direito à imagem, especialmente no que diz respeito à veiculação da 
mesma na rede. 
 
Cumpre destacar que como alguns dos websites mais populares no Brasil são, na 
verdade, operações de empresas que prestam o mesmo serviço no exterior, os tribunais 
já decidiram que não compete à vítima do dano ter que processar a matriz, ou principal 
empresa do grupo econômico, no exterior, podendo a competente ação indenizatória ser 
movida no Brasil.32 
 
O regime de responsabilização dos provedores de serviços na rede foi um dos 
temas mais debatidos no processo colaborativo de criação de um Marco Civil para a 
Internet no Brasil. Esse processo, ocorrido no primeiro semestre de 2010, consistiu no 
desenvolvimento de uma plataforma através da qual foram debatidos os princípios e a 
efetiva redação de um anteprojeto de lei que viesse a tratar dos direitos fundamentais na 
rede.33 
 
De forma majoritária, os usuários que participaram do processo apontaram que 
os provedores não deveriam ser responsabilizados, de antemão, pelo conteúdo exibido 
em suas páginas, afastando assim o regime de responsabilização objetiva em prol de um 
 
31
 Íntegra da decisão disponível em http://s.conjur.com.br/dl/acordao_cicarelli.pdf, acessado em 
19.07.2010. 
32
 Nesse sentido, vide: “RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ANTECIPAÇÃO DE 
TUTELA. RETIRADA DE PÁGINA DA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES. CONTEÚDO 
OFENSIVO À HONRA E À IMAGEM. ALEGADA RESPONSABILIDADE DA SOCIEDADE 
CONTROLADORA, DE ORIGEM ESTRANGEIRA. POSSIBILIDADE DA ORDEM SER 
CUMPRIDA PELA EMPRESA NACIONAL. 1. A matéria relativa a não aplicação do Código de Defesa 
do Consumidor à espécie não foi objeto de decisão pelo aresto recorrido, ressentindo-se o recurso 
especial, no particular, do necessário prequestionamento. Incidência da súmula 211/STJ. 2. Se empresa 
brasileira aufere diversos benefícios quando se apresenta ao mercado de forma tão semelhante a sua 
controladora americana, deve também, responder pelos riscos de tal conduta. 3. Recurso especial não 
conhecido.” (STJ, Resp nº 1.021.987/RN, Min. Fernando Gonçalves; j. em 07.10.2008.) 
33
 A plataforma do Marco Civil da Internet e seus comentários podem ser visualizados em 
www.culturadigital.br/marcocivil, acessado em 19.07.2010. Esse processo foi desenvolvido através de 
uma parceria entre o Ministério da Justiça e o Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Fundação 
Getulio Vargas/RJ. 
mecanismo que ponderasse a liberdade e a diversidade de conteúdo encontrado na 
rede.34 
 
Em seguida, para não criar um sistema que simplesmente não responsabilizasse 
o provedor pelo conteúdo gerado por seu usuário, determinou-se que a responsabilidade 
por conteúdos publicados por terceiros ficaria condicionada ao recebimento e 
descumprimento de ordem judicial específica, ou seja, somente após decisão judicial, os 
provedores ou equivalentes seriam obrigados a remover conteúdos de terceiros, tais 
como comentários anônimos em um blog, entradas de fóruns ou vídeos postados pelos 
usuários. 
 
O artigo 20 da minuta do Marco Civil da Internet brasileira, conforme constante 
do encerramento das discussões online, assim está redigido: 
 
“Art.20. O provedor de serviço de internet somente poderá ser responsabilizado por 
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após intimado para cumprir 
ordem judicial a respeito, não tomar as providências para, no âmbito do seu serviço 
e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como 
infringente.” 
 
Percebe-se então que, seja por conta da perpetuação das informações no 
ambiente da Internet, seja pela indefinição na forma pela qual provedores e usuários 
devem ser responsabilizados, o direito à imagem atravessa um período de grande 
evidência nos debates jurídicos relacionados com a regulação da rede mundial de 
computadores. O assunto não é novo, mas certamente os últimos anos têm apontado 
para a formação de interessantes contornos na definição do lugar da tutela da imagem 
com relação ao progresso tecnológico. 
 
Referências: 
 
ARAÚJO, Luiz Alberto David. A Proteção Constitucional da Própria Imagem. Belo 
Horizonte: Del Rey, 1996. 
 
BARROSO, Luís Roberto. Temas de Direito Constitucional, v.III. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2005. 
 
CHAVES, Antonio. Tratado de Direito Civil, t. I. São Paulo, Revista dos Tribunais, 
1982. 
 
DOBBS, Dan, KEETON, Robert e OWEN, David. Prosser and Keeton on Torts. St. 
Paul: WestGroup, 2004. 
 
FILHO, Sergio Cavalieri. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 2008. 
 
34
 Nesse sentido, afirma Ronaldo Lemos sobre a responsabilidade civil na Internet: “O que chama a 
atenção quanto à responsabilidade do intermediário no Brasil, é que, diferentemente de outros países, não 
foi estabelecido nenhum critério legal para isenção ou atribuição de responsabilidade ao intermediário, 
mediante o recebimento de notificação. Dessa forma, o provedor de acesso à Internet por temor e 
incerteza quanto ao resultado de uma eventual decisão judicial, fica propenso a efetivamente retirar o 
conteúdo, sem qualquer verificação de sua legitimidade, não tendo, ao contrário, nenhum incentivo para 
fazer de modo diferente. Note-se que não há qualquer regime de previsão de ‘porto seguro’ no país que 
especificamente isentem o provedor de responsabilidade, caso ele cumpra determinados requisitos.” (in 
Direito, Tecnologia e Cultura. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005; p. 125). 
 
GARCIA, Enéas Costa. Responsabilidade Civil dos Meios de Comunicação. São Paulo: 
Juarez de Oliveira,2002. 
 
GOMES, Orlando. Código Civil – Projeto Orlando Gomes. Rio: Forense, 1985. 
 
JABUR, Gilberto Haddad. Liberdade de Pensamento e Direito à Vida Privada. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2000 
 
LEMOS, Ronaldo. Direito, Tecnologia e Cultura. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. 
 
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana. Rio de Janeiro: Renovar, 
2003; pp. 182/192. 
 
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. 1. Rio de Janeiro: 
Editora Forense, 2008. 
 
SAHM, Regina. Direito à Imagem no Direito Civil Contemporâneo. São Paulo, Atlas, 
2002. 
 
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de. “Contornos Atuais do Direito à Imagem.” Revista 
Trimestral de Direito Civil v.13 (jan-mar/2003). Rio de Janeiro: Padma; pp. 33/72. 
 
TEPEDINO, Gustavo. BARBOZA, Heloisa Helena. MORAES, Maria Celina Bodin de. 
Código Civil Interpretado - Parte Geral e Obrigações. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. 
 
 
STJ, Resp nº 230306/RJ, Min. Sálvio Figueiredo Teixeira; j. em 18.05.2000. 
STJ, Resp nº 1.053.534/RN, Min. Fernando Gonçalves; j. em 23.09.2008. 
STJ, Resp nº 838.550/RS, Min. Cesar Asfor Rocha; j. em 13.02.2007. 
STJ, Resp nº 138.883/PE, Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. em 04.08.1998. 
STJ, Resp nº 531353/MT, Min. Nancy Andrighi; j. em 02.09.2008 
STJ, Resp nº 1082878/RJ, Min. Nancy Andrighi; j. em 14.10.2008. 
STJ, Agr. Reg. Em Agr. Instr. nº 1029932/RJ; Min. Fernando Gonçalves; j. em 
21.08.2008. 
STJ, Resp nº 296391/RJ, Min. Luis Felipe Salomão; j. em 19.02.2009. 
STJ, Resp nº 818764/ES, Min. Jorge Scartezzini; j. em 15.02.2007. 
STJ, Resp nº 744.537/RJ, Min. Nancy Andrighi; j. em 13.05.2009. 
STJ, REsp. nº 268.660, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, julg. 21.11.2000. 
STJ, Resp nº 913.131/BA, Min. Carlos Fernando Mathias; j. em 16.10.2008. 
STJ, Resp nº 978.651/SP, Min. Denise Arruda; j. 17.02.2009. 
STJ, Resp nº 1014624/RJ, Min. Vasco Della Giustina; j. Em 10.03.2009. 
STJ, Resp nº 1.021.987/RN, Min. Fernando Gonçalves; j. em 07.10.2008. 
TJRJ, Apelação Cível nº 3819/91, Des. Thiago Ribas Filho, j. em 27.02.92. 
2ª Turma Recursal do Juizado Especial de Belo Horizonte, Recurso 0024.2009.381.956-
3; j. em 30.10.2009.

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