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APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS ERGONÔMICOS PARA ANÁLISE DO POSTO DE TRABALHO DE EMBALAGEM DE UMA INDÚSTRIA DO SETOR ALIMENTÍCIO: UM ESTUDO DE CASO ELCIO YAMAGUTI JUNIOR - elcio_dm@hotmail.com UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL - UFMS ELIZANGELA VELOSO SAES - elizangelaveloso@yahoo.com.br UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL - UFMS LIGIA PAULA DA SILVA TOSCANO SAES - ligiasaes@hotmail.com UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL - UFMS Área: 4 - ERGONOMIA E SEGURANÇA DO TRABALHO Sub-Área: 4.7 - ERGONOMIA DOS PROCESSOS DE PRODUÇÃO Resumo: O PRESENTE ARTIGO TEM O INTUITO DE ANALISAR ERGONOMICAMENTE O POSTO DE EMBALAGEM AUTOMATIZADA E MANUAL DE UMA MICROEMPRESA DO SETOR ALIMENTÍCIO, LOCALIZADA NO ESTADO DE SÃO PAULO. PARA QUE ESSA ANÁLISE FOSSE REALIZADA FORAM ESTUDADOS DIVERSSOS PONTOS RELACIONADOS AO POSTO DE TRABALHO, ENTRE ELES: DISTÂNCIAS, MÉTODOS, ALCANCES, PESOS MANUSEADOS E CARACTERÍSTICAS INERENTES AO POSTO DE TRABALHO. DIANTE DISSO, CINCO MELHORIAS NO POSTO DE TRABALHO FORAM APRESENTAS. ESSENCIALMENTE, ESSAS MELHORIAS CONCENTRAM-SE NA DIMINUIÇÃO E ADEQUAÇÃO DOS ESFORÇOS, APERFEIÇOAMENTO E MUDANÇAS DOS MÉTODOS, ADEQUAÇÃO DAS ZONAS DE ALCANCE, MELHORIAS DA PRODUTIVIDADE E FORMAS DE APROPRIAÇÃO DOS RESULTADOS E MELHORIAS NA SEGURANÇA DO OPERADOR. COMO RESULTADOS DESSAS PROPOSTAS DESTACAM-SE MAIOR SATISFAÇÃO PESSOAL DO OPERADOR, MAIOR SEGURANÇA NO POSTO DE TRABALHO E MELHOR PRODUTIVIDADE. Palavras-chaves: ERGONOMIA; MELHORIAS; MÉTODOS. XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 2 APPLICATION OF ERGONOMIC PRINCIPLES FOR ANALYSIS OF PACKAGE WORKSTATION OF A FOOD INDUSTRY SECTOR: A CASE STUDY Abstract: THIS ARTICLE HAS THE PURPOSE OF ANALYZING ERGONOMICALLY THE AUTOMATED AND MANUAL PACKAGING WORKSTATION OF A MICRO ENTERPRISE FOOD SECTOR, LOCATED IN THE STATE OF SÃO PAULO. FOR THIS ANALYSIS TO BE PERFORMED, IT WAS STUDIED SEVERAL ITEMS RELLATED TO WORKSTATION, BETWEEN THEM: DISTANCES, METHODS, REACHES, HANDLED WEIGHTS AND INHERENT CHARACTERISTICS TO WORKSTATION. THUS, FIVE IMPROVEMENTS IN WORKSTATION WERE SUBMITTED. ESSENTIALLY, THESE IMPROVEMENTS FOCUS ON THE REDUCTION AND ADEQUATION OF EFFORTS, IMPROVEMENT AND CHANGE OF METHODS, SUITABILITY OF REACH AREAS, IMPROVEMENTS OF PRODUCTIVITY AND RESULTS APPROPRIATION OF WAYS AND IMPROVEMENTS IN OPERATOR SAFETY. AS RESULTS OF THESE PROPOSALS, ARE HIGHLIGHTED BETTER PERSONAL SATISFACTION, GREATER SAFETY IN WORKSTATION AND BETTER PRODUCTIVITY. Keyword: ERGONOMICS; IMPROVEMENTS; METHODS. XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 3 1. Introdução Diante de um mercado que se torna cada vez mais competitivo, as empresas procuram meios de diferenciação, planejando metas e objetivos de acordo com o mercado em que estão inseridas para que consigam sobreviver no mundo dos negócios. Com o aumento constante das microempresas e da concorrência, é necessário que o empreendedor trace boas estratégias, crie e invista em inovações, tecnologia e melhorias nos postos de trabalho, aumentando lucros, vantagens competitivas e reduzindo custos produtivos. Segundo a ERGOWEB (2016), a busca por melhoria no posto de trabalho teve início em 1857 pelo biólogo polonês Wojciech Jastrzebowski por meio de um texto nomeado de “Based Upon The Truths Drawn From The Science of Nature” (Com Base nas Verdades Extraídas da Ciência da Natureza) e vem evoluindo e atingindo diferentes tipos de serviços e processos com o passar do tempo. Atualmente, a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é empregada, a fim de buscar soluções ergonômicas que propiciem a melhoria na condição de trabalho do operador e, consequentemente, mais lucro às empresas. Segundo Iida (2005, p. 2), “Existem diversas definições de ergonomia. Todas procuram ressaltar o caráter interdisciplinar e o objeto de seu estudo, que é a interação entre o homem e o trabalho, no sistema homem-máquina-ambiente”. Nesse contexto, destaca-se a importância dos estudos direcionados a Análises Ergonômicas nos Postos de Trabalho, as quais se iniciam em setores que apresentam incidência de acidentes, reclamações relacionadas a dores, monotonia do trabalho, afastamentos, rotatividade e índices de absenteísmos mais elevados. Assim, apresenta-se a proposta do presente trabalho que busca analisar o posto de trabalho do processo de embalagem de doces de uma microempresa do setor alimentício, localizada no interior do estado de São Paulo. 2. Referência da literatura O termo ergonomia foi proposto em 1950, formado pelos termos gregos ergon que significa trabalho e nomes, que significa regras, leis naturais (MURRELL, 1965 apud IIDA, 2005). A Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) define a ergonomia como uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos, a XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 4 fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Segundo Slack, Chambers e Johnston, (2015), são os aspectos fisiológicos, ou seja, como o corpo humano se adequa ao ambiente de trabalho. 2.1 Análise ergonômica do posto de trabalho (AET) Segundo Iida (2005, p.17) “a abordagem ergonômica ao nível do posto de trabalho faz a analise da tarefa, da postura e dos movimentos do trabalhador e de suas exigências físicas e cognitivas”. A AET propõe a análise dos diversos pontos relacionados ao posto de trabalho: postura do corpo, esforços realizados, levantamento e transporte de cargas, pesos manuseados, arranjo físico do posto de trabalho, distâncias percorridas, movimento de alcance, aspectos cognitivos, entre outros. Dentre esses, quatro pontos serão detalhados em razão da sua aplicabilidade no presente estudo, a citar: postura, levantamento e transporte de cargas e arranjos físicos. 2.1.1 Postura A postura destaca-se que “está relacionada com o movimento do corpo e que uma boa postura é aquela em que o trabalhador pode modificá-la como quiser, o ideal é que ele possa adotar uma postura livre em função da atividade exercida no ambiente de trabalho, ou seja, uma postura que possa lhe convir em determinado instante conforme sua vontade ou necessidade” (MORO, 2000 apud TAKEDA, 2010, p. 36). De acordo com Iida (2005) posturas inadequadas podem causar altos índices de fadiga, dores corporais, afastamento do trabalho e doenças ocupacionais, com isso conclui-se que o redesenho dos postos de trabalho, visando a ergonomia, podem amenizar esses fatores. 2.1.2 Levantamento e transporte de cargas Segundo Bridger (2003) apud Iida (2005, p. 179), o levantamento de cargas esporádico está relacionado diretamente com a capacidade muscular, além de que, 60% dos problemas musculares são causados por levantamento de cargas. Com isso em vista, e com a informação de que ao levantar um peso, todo o esforço é transferido para a coluna vertebral, mostra-se fundamental a suavização de certos esforços durante a realização da tarefa. Iida (2005) cita que todo o esforço realizado para levantamento de pesos deve ser feito de maneira que a coluna permaneça ereta e não inclinada, seguindo o pressuposto de que a carga concentrada de maneira axial (costas inclinadas) tem efeito “cortante”e é muito prejudicial a saúde. XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 5 2.1.3 Arranjo físico Já quanto aos arranjos, Slack, Chambers e Johnston, (2015) destacam que “os arranjos físicos das operações de manufatura devem suprir as necessidades espaciais inerentes aos equipamentos e postos de trabalho, compostos de processos de transformação e de fluxos físicos de insumos e materiais tangíveis, levando-se em consideração os espaços, nas dimensões horizontais e verticais, bem como das atividades e circulação de pessoas” a fim de que as distâncias percorridas pelo operador sejam as menores possíveis. Diante disso, oito aspectos devem ser observados em relação a um bom arranjo físico. 3. Método aplicado Para o desenvolvimento desse trabalho, um estudo de caso foi desenvolvido em uma microempresa do setor alimentício responsável pelo processo de embalagem de doces e artigos para festa, cujo foco da análise foi o posto de embalagem manual e automatizada de doces. A escolha do método se justifica pelo propósito de buscar entender as operações por meio da visão de indivíduos envolvidos onde a problemática acontece, definindo-se uma pesquisa empírica utilizando como base evidências qualitativas e quantitativas. (GANGA, 2012). A análise das atividades que constituem o posto de trabalho em estudo foi realizada por meio de entrevistas não estruturadas e observações in loco, quanto ao horizonte de tempo destaca-se que os estudos foram realizados ao longo de x semanas ou meses, caracterizando o estudo como transversal (YIN, 2001). 4. Apresentação do caso e diagnóstico O processo de embalagem, foco de estudo, é realizado de forma manual e automatizada por apenas 1 (um) operador. O espaço físico desses setores corresponde a 20x10 metros, o qual engloba também o setor de estoque, matéria-prima, bem como alguns setores auxiliares: banheiros e bebedouro. A figura 1 apresenta a planta baixa dos setores descritos acima. XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 6 Figura 1: Planta baixa da empresa. Fonte: Autores (2016) A seguir, os principais pontos para AET sugeridos por Iida (2005) (apresentados na seção 2) serão analisados. A destacar: esforços realizados, distâncias percorridas, pesos manuseados, áreas e incidência de acidentes. 4.1 Esforços realizados Em relação ao processo de embalagem automatizada, destacam-se as seguintes atividades: a) Carregamento dos sacos de matéria-prima do estoque até o local de abastecimento da máquina: essa atividade é marcada pelo esforço físico do operador em carregar manualmente os sacos de matéria-prima entre os setores descritos, totalizando uma distância percorrida de 6,5 m (na situação (i)) ou, outra distância de 9,5 m (na situação (ii)) além de um peso adicional de 10 Kg (referente a um saco). Observa-se que essa atividade é repetida em média 5 vezes/dia; b) Abastecimento da máquina: em razão da granulometria dos produtos a serem embalados, essa atividade pode ser realizada de duas maneiras (figura 2): (i) para produtos com diâmetros acima de 7,5 mm, o operador abastece a máquina através do silo alimentador (que de forma automatizada, por vibração, leva matéria-prima até uma esteira que, por sua vez, é levada até o topo da máquina onde existem balanças e começa o processo de transformação); (ii) para produtos inferiores ao diâmetro acima descrito, o operador abastece diretamente as balanças da máquina (altura de 2,8 m), utilizando uma escada disponibilizada pela empresa (apresentando alta periculosidade devido às más condições e instabilidade XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 7 mecânica). Aqui, observa-se que o abastecimento manual do silo ocorre em razão do desperdício na esteira para produtos cujo diâmetro são inferiores a 7,5 mm; Figura 2: Situações do posto de trabalho automatizado. Fonte: Autores (2016) c) Embalagem: essa atividade é executada de duas formas: (i) automatizada através da máquina descrita acima; (ii) manualmente em que Kits de diferentes produtos são montados. Para a execução dessa atividade, o operador coloca produtos prontos no caixote de estocagem, os deslocamentos do corpo do operador referem-se a uma inclinação de 30º para colocar os produtos finais de embalagens manuais nos caixotes plásticos, além de uma rotação em seu tronco de 90º, devido à movimentação necessária para se virar ao caixote que fica à sua esquerda. A Figura 3 mostra essa atividade: Figura 3: Trabalho manual de armazenamento de produtos já embalados. Fonte: Autores (2016) d) Transporte de caixotes com produtos já embalados até o estoque da empresa: Aqui, o operador realiza o transporte dos caixotes contendo produtos embalados manualmente e de forma automatizada até o estoque. Destaca-se que existe um setor para estocagem, sendo que as caixas são dispostas ao longo de toda a empresa. XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 8 4.2 Distâncias percorridas Já quanto a distâncias percorridas pelo operador ao longo de sua jornada de trabalho, três trajetórias essenciais foram descritas: acesso aos banheiros e consumo de água, abastecimento da máquina e transporte de produto acabado até o estoque. a) Trajeto que dá acesso ao WC e bebedouro: para ir ao banheiro ou tomar água, o operador deve percorrer uma distância de 11,4 metros, saindo de seu setor produtivo e indo à áreas supracitadas; b) Abastecimento da máquina: para abastecer a máquina, em razão do tipo de abastecimentos (dependendo do tipo de produto a ser embalado, conforme descrito no item da seção 4.1), operador pode percorrer dois percursos. Ambos os percursos partem de onde está localizado o estoque de matéria-prima, no entanto, um trajeto é finalizado na escada (totalizando 6,5 metros) e o outro apenas no silo alimentador (total de 9,5 metros); c) Transporte de produtos acabados até o estoque: o operador realiza uma variação muito grande de distâncias percorridas, devido ao fato de que a empresa não possui um local específico para armazenagem, o produto embalado fica espalhado por todo seu espaço físico; As distâncias percorridas em cada um dos trajetos discutidos estão representadas no diagrama de espaguete (detalhes sobre esse diagrama vide TOMPKINS, 2010) da Figura 4. Figura 4: Diagrama de Espaguete – distâncias percorridas. Fonte: Autores (2016) XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 9 4.3 Pesos manuseados Os pesos manuseados referem-se basicamente as sacas de gomas (material que abastece a máquina) e os caixotes plásticos (produtos já acabados que são transportados até o estoque). As sacas de gomas têm formato retangular e apresentam um peso líquido de 10 kg (quilogramas). A cada remessa de produção as sacas são transportadas manualmente até a máquina de embalagem, percorrendo uma distância de 4,5 metros. Os caixotes plásticos reservados para guardar produtos finais são armazenados no estoque, apresentam formato retangular com dimensão 0,56m x 0,36m x 0,31m e peso aproximado de 0,8 kg (vazios). A cada remessa de produção os caixotes são transportados manualmente atéo centro produtivo, em uma distância de 9,5 metros. Os caixotes preenchidos com o produto final (gomas embaladas) são transportados do centro produtivo até o estoque percorrendo distâncias variadas de acordo com a disponibilidade de vagas no estoque. Os caixotes cheios pesam em média 12 kg (tomando como base a produção gomas embaladas). O operário ao manusear os pesos nos trajetos descritos anteriormente acaba por manter a postura incorreta no momento de agachar para pegar a saca ou o caixote, sobrecarregando a coluna. Diante da literatura apresentada pode destacar que o desgaste físico ocorrido pelo mal manuseio de pesos pode ocasionar sobrecarga nas articulações e coluna vertebral. Assim, a atividade muscular é impactada e se torna intensa provocando o desequilíbrio corpóreo. 4.4 Áreas No posto de embalagem automatizado, não existem bancadas ou mesas, no entanto, o operador também tem a função de atuar no processo de embalagem manual. Nesse caso, o operador tem disponível uma mesa de dimensões 4,3m (comprimento) x 0,7m (largura) x 0,76m (altura). Para trabalhar nessa mesa, o operário tem disponível uma cadeira de altura fixa, não giratória de 42 cm (até o assento), conforme dimensões já apresentadas na figura 3. 4.5 Incidência de acidentes O principal acidente relatado refere-se a frequentes queimaduras nas mãos do operador, decorrentes do processo de manutenção corretiva. O operador, em situações em que a embalagem fica presa na máquina, a retira com a máquina operando e, por diversas vezes, queima suas mãos e antebraço. XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 10 5. Propostas e melhorias Decorrentes das questões analisadas em relação aos postos de trabalho e da literatura apresentada seguem as 5 (cinco) propostas de melhorias. 5.1 Diminuição e adequação dos esforços Para diminuir o impacto dos pesos manuseados e da postura incorreta do operador propõe-se a aquisição de um carrinho transportador que suporte massas a cima de 30 kg, para que seja possível percorrer a distância de 9,5 m de forma mais rápida, dinâmica e com ergonomia correta. Essa melhoria influi na diminuição do gasto energético do operador, na diminuição das cargas manuseadas por ele e na distância percorrida durante o dia de trabalho aumentando a sua disponibilidade. Essa aquisição é viável para a empresa, pois o investimento é baixo (de R$50,00 a R$100,00) e vai dinamizar as formas de transportes atuais. 5.2 Aperfeiçoamento e mudanças dos métodos Com aquisição do carinho de transporte pode-se também reorganizar a sequência de operações de forma a eliminar tarefas que não agregam valor aos produtos. Logo, propõe-se que o operador analise o estoque antes de ligar a máquina, havendo o planejamento da produção, a fim de levantar todas as informações necessárias para produção. Em seguida, o mesmo deverá transportar toda a matéria prima que será necessária para a produção do dia, evitando transições desnecessárias. Aqui, observa-se que em razão do porte da empresa e do fluxo de produção questões relacionadas à programação da produção via softwares ou departamentos específicos não se faz necessária. 5.3 Adequação das zonas de alcance A fim de eliminar os problemas referentes a zona de alcance no processo de embalagem manual (item “c” na seção 4.1), propõe-se que o operador use um caixote vazio embaixo do caixote que será abastecido, suavizando os movimentos executados. Dessa forma, o caixote a ser abastecido, que atualmente está a 31 cm de altura, passará a ter 62 cm diminuindo em 50% sua inclinação e não representa nenhum custo adicional a empresa. A figura 5 simula a otimização citada. XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 11 Figura 5: Trabalho manual otimizado. Fonte: Autores (2016) Além das melhorias acima descritas, considerando o arranjo físico no estudo ergonômico (destacado na secção 2.1), observou-se que a distância percorrida pelo operador até o bebedouro e os sanitários é de 11,5m, acarretando desperdício de tempo e esforço desnecessário. A solução para este problema, sem envolver custos ao empregador, é mover a estante de estoque em 1,20m - mínimo estabelecido pela NR23 (Norma regulamentadora de Proteção contra incêndios). Dessa forma a passagem fica desobstruída e a distância percorrida passa a ser aproximadamente 3m, diminuindo em 74% do trajeto. Figura 6: Novo caminho para bebedouro e banheiros. Fonte: Autores (2016) Além das propostas de melhoria acima, propõe-se também que a empresa faça a aquisição de uma cadeira com altura regulável. O motivo é que a mesa é fixa e tem 2 centímetros a mais de altura do que o indicado pela literatura ergonômica (seção 2), além de XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 12 não dispor de uma cadeira giratória com altura regulável. Então para amenizar essa situação, é indicado que a empresa adquira esse novo item, de modo a reduzir possíveis dores, cansaços, e monotonias oriundas do processo de embalagem manual, representando um investimento de R$150,00. Gonçalves et al. (2009) destaca que “Dentre várias considerações, na opção por um modelo de cadeira, deve-se levar em conta principalmente a dimensão do encosto, a textura, a quantidade de ajustes possíveis, a inclinação do assento e se há espuma injetada” (GONÇALVES et al, 2009 apud TAVARES et al, 2015, p. 5). Assim, essa aquisição se mostra justificada. A comparação entre as figuras 3 e 5 exemplifica essa melhoria. 5.4 Melhoria da produtividade e formas de apropriação dos resultados Os dois principais problemas da produtividade estão relacionados a produtos com granulometria inferior a 0,75 cm. Nesses casos, quando a máquina faz o processo com matérias primas com esse diâmetro ocorre desperdício da mesma, pois a máquina contém uma esteira de transporte cheia de orifícios. Essa esteira transporta os produtos para a balança e seus orifícios são necessários no controle de unidade dos produtos em geral (conforme já destacado na seção 4.1 no item c). Para frear esse desperdício, a empresa faz com que o operador realize o trabalho da esteira e coloque manualmente os produtos com granulometria inferior a 0,75 cm diretamente na balança. Para alcança-la o operador utiliza uma escada, subindo por ela com uma caixa carregada com aproximadamente 10 kg da matéria prima especificada. O uso dessa escada é inapropriado para esta função, pois ela não apresenta apoios laterais e nem degraus com largura adequada. Dessa forma, o operador ao subir por ela, tem que ao mesmo tempo segurar a caixa carregada e se equilibrar no único apoio localizado na parte superior da mesma. Para solucionar esse problema é necessário que haja a troca da escada de uso doméstico por uma trepadeira industrial que tem apoios laterais, degraus com maior largura e uma base com apoio frontal em que o operador pode realizar seus movimentos com mais espaço e estabilidade. Sua altura total será de 2,20 m e sua altura útil de 1,50 m. O custo aproximado dessa aquisição será de R$800,00. Segundo o NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Healt – o limite máximo para o levantamento de cargas para qualquer sexo é de 23kg, portanto, o operador continuará fazendo o carregamento dessas caixas com matéria prima até a balança localizada XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão deOperações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 13 no topo da máquina visto que, as caixas pesam aproximadamente 10kg (menos da metade proposta). 5.5 Melhorias na segurança do operador Para a melhoria da execução do manuseio da máquina, será necessário a compra de luvas longas de proteção térmica que, segundo distribuidoras de materiais de segurança, custarão em média R$ 35,00 cada. Esse é um material de segurança, portanto sua aquisição deve ser continua, já que deverão ser trocadas sempre que atingirem um estágio de conservação ruim que prejudique sua função. É uma aquisição simples, mas fundamental, visto que o operário está sujeito a queimaduras em todos os momentos que a máquina permanece ligada, devido a alta temperatura em que a máquina trabalha na região de “selamento” dos pacotes. 6. Conclusões Este trabalho teve como objetivo realizar uma Analise Ergonômica do Trabalho (AET) no processo produtivo de uma microempresa de embalagem de doces e artigos de festa infantil localizada no interior de São Paulo. Assim, foi possível observar como as condições de trabalho influem na execução de funções de um operador e também como é possível fazer mudanças significativas com pouco custo. A análise ocorreu no setor de embalagem de doces devido a sua maior complexidade e diversidade de situações de trabalho (situações de embalagem automatizada). O acompanhamento da atuação da empresa ocorreu durante duas visitas técnicas e conversas informais com a gerência. Com a obtenção de informações quantitativas e qualitativas foi possível relatar todo o processo produtivo, tanto da embalagem manual, quanto da embalagem automatizada, as necessidades do operador e as necessidades da empresa. Observando o setor foi possível propor mudanças nas áreas de: adequação de esforços, aperfeiçoamento e mudança de métodos, zonas de alcance, melhoria da produtividade e segurança no operador. Foram propostas cinco mudanças, das quais três referem-se á aquisições (cadeira giratória com regulagem de altura, carrinho de transporte e trepadeira industrial) e duas não terão custos ao proprietário (alocação da caixa vazia a embaixo da caixa de estoque e realocação da estante de estoque no layout). Com essas propostas é possível melhorar o posto de trabalho e corrigir e prevenir erros que influenciavam na produtividade da empresa. A falta de roteiro de produção definido e a informalidade nas operações dificultaram a coleta e a análise de dados para a pesquisa. XXIII SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Gestão de Operações em Serviços e seus Impactos Sociais Bauru, SP, Brasil, 9 a 11 de novembro de 2016 14 Como proposta futura recomenda-se treinamento para conscientização do funcionário do uso do EPI e manuseio correto da máquina. 7. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA (ABERGO). Disponível em: <http://www.abergo.org.br/internas.php?pg=o_que_e_ergonomia>. Acesso em: 06 jul. 2016. CIKALA. Disponível em: <http://www.cikala.com.br/carrinho-cromado-com-rodas-para-bagagem-malas- viagens-capacidade-de-100kg?utm_source=google&gclid=CM7mj-vqzc0CFVQHkQodUlMDfQ>. Acesso: em 05 jul. 2016. DISTRINOX. Disponível em: <http://www.distrinox.com.br/luva-de-latex-termica-resistente-a-corte-coral- danny-dasl530/p>. Acesso em: 05 jul. 2016. E-CADEIRAS. Disponível em: <http://www.e-cadeiras.com.br/produto/1972915/cadeira-de-escritorio- operacional-luxo-azul-15018>. Acesso em: 05 jul. 2016. ERGOWEB. 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