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TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 1 Aula 4: Controle de Constitucionalidade ............................................................................... 2 Introdução .......................................................................................................................... 2 Conteúdo ............................................................................................................................ 4 A “constitucionalização” do direito europeu e um novo paradigma jurídico ....... 4 Características expressas por Jónatas Machado ......................................................... 4 As pretensões constitucionais do direito da União Europeia ................................... 5 Atribuição de competência ............................................................................................. 6 Direito europeu e direito Constitucional ...................................................................... 6 A relação entre o direito da UE e o direito constitucional segundo as principais cortes constitucionais ....................................................................................................... 7 Uma outra perspectiva de análise: a influência do direito nacional ao direito da UE ........................................................................................................................................ 11 Os interesses nacionais e os limites dos direitos da UE ........................................... 11 Estrutura normativa do direito (parte 1) – direito primário ..................................... 12 Direito primário ................................................................................................................ 13 Tratados instituidores e de revisão .............................................................................. 13 Protocolos adicionais, declarações e atos de complementação ........................... 16 Princípios gerais do direito da UE ................................................................................. 17 Princípios gerais do direito ............................................................................................ 18 Conclusão ......................................................................................................................... 19 Atividade proposta .......................................................................................................... 20 .................................................................................................................................. 20 Notas Aprenda Mais ................................................................................................................... 21 Referências ....................................................................................................................... 21 Exercícios de fixação ..................................................................................................... 24 ........................................................................................................ 26 Chaves de resposta TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 2 Introdução O Direito da União Europeia, como um instituto que vem sendo construído paulatinamente no decorrer do tempo, ainda apresenta contornos teóricos que precisam ser melhor delineados. Aliás, como foi visto na Aula 2, a relação entre o Estado nacional e a União Europeia vem sendo vista como o único exemplo de transconstitucionalidade (ou mesmo interconstitucionalidade, como denominam os europeus) que relaciona o direito de Estado nacional com uma ordem supranacional. Nesse sentido, é possível pensar na relação mantida entre a ordem constitucional nacional e a ordem constitucional (supraconstitucional) europeia. Para tanto, estará em pauta um dos grandes temas político-jurídicos dos últimos tempos, que é o direito comunitário como ordem específica. É revolucionário porque coloca em xeque algumas das concepções mais caras estabelecidas tanto pelo direito como pela filosofia política moderna, ou seja, a questão da soberania dos Estados nacionais e a possibilidade de reconhecimento de uma ordem jurídica superior àquela estatal, o que tende a estabelecer um novo ponto de referência para novos estudos acerca do fenômeno jurídico. De toda forma, no mínimo, teremos que enfrentar o diálogo que tais ordens devem manter de forma a não evidenciar uma crise (grave) de fonte do direito. Para tratar desse tema, recorreremos às instituições que vêm sendo criadas pela União Europeia, mais especificamente o que diz respeito a uma possível TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 3 constituição europeia. Ainda que se chegasse à conclusão de que não se trata verdadeiramente de uma “revolução” sob o olhar teórico-filosófico, a ideia de um direito europeu deve, ao menos, ser vista como um instrumento viabilizador de uma nova Teoria Geral do Estado. Isso porque, não apenas refunda a relação entre os Estados europeus, mas, também, cria novas possibilidades de emanação de poder por entes metaestatais (e, consequentemente, prevê um direito que supera as condições inerentes à Vestfália). É importante que tenhamos em conta que muito do que estudamos em Sociologia Política, Relações Internacionais e Teoria Geral do Estado vem sofrendo grandes modificações em razão dessa experiência de um direito regional. Embora esteja ocorrendo de forma mais consequente apenas no interior do continente europeu, parece inevitável que esteja produzindo um novo paradigma que, mais cedo ou mais tarde, será seguido pelas regiões do planeta. É bom que nos familiarizemos com essas novas tendências. Objetivo: Analisar, em um quadro de transformação paradigmática do quadro jurídico- político, a relação “interconstitucional” (em um quadro transconstitucional) entre o direito primário constitucional comunitário e o direito dos Estados- membros no sistema da União Europeia. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 4 Conteúdo A “constitucionalização” do direito europeu e um novo paradigma jurídico Estamos chegando ao final de nossa disciplina e esta será a nossa última aula. Hoje, estudaremos sobre a União Europeia e a nova visão interconstitucional. O direito da União Europeia coloca em questão diversos pontos fundamentais da discussão jurídico-políticas da atualidade. Se, por um lado, aponta claramente para o esgotamento do modelo de Estado nacional de Vestfália, por outro, parece questionar o próprio conceito de constituição estatal. Notem que falamos de conceito de “constituição dos Estados nacionais”, mas não o conceito de “constituição” como ordem jurídica fundante (este parece estar sendo submetido a transformações, sendo a União Europeia o maior laboratório conhecido para tais experiências). De qualquer forma, não se quer assinar o atestado de óbito antecipado dos Estados nacionais; até porque, eles ainda lutam pelas suas prerrogativas, mesmo aqueles que participam do bloco europeu. As correntes que rivalizam, na verdade, participam do amplo debate que ajuda a redefinir o papel das ordens jurídicas nacionais em face de uma suposta ordem “supraconstitucional” (no âmbito das relações transconstitucionais), bem como o papel de um direito que, paulatinamente, busca seus fundamentos em fontes diversas daquelas tradicionalmente estabelecidas por um Estado cujo conceito, fortemente marcado pela dimensão territorial, parece estar em crise. Características expressas por Jónatas Machado Agora que já fizemos uma introdução sobre o assunto desta aula, começaremos nosso estudo citando as características do direito da UE segundo Jónatas Machado(apoiada por grande parte da doutrina europeia sobre o tema), explicitadas em meados da década de 60. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 5 Atipicidade – Porque é distinto do direito nacional e do direito internacional. Autonomia – Porque possui suas próprias fontes, instâncias e procedimentos de interpretação e aplicação. Além disso, no que se refere aos conceitos utilizados, frequentemente apresenta definições distintas daquelas assumidas na ordem jurídica nacional. Uniformidade – Porque o significado de suas normas não pode variar de um Estado-membro a outro, ou seja, assumir interpretações diversas, conforme a tradição do direito naquele país ou a tendência de um determinado tribunal nacional, pois isso acarretaria no esvaziamento de uma ordem jurídica europeia. Aqui, vale a pena fazer uma conexão com nossas abordagens acerca do que estudamos sobre transconstitucionalismo. Integração – O direito da UE deve se integrar com a ordem jurídica dos Estados-membros, sendo que, aos tribunais nacionais, cabe a tarefa de garantir esta vinculação, cooperando com a jurisdição da UE (novamente se faz presente os conceitos de transconstitucionalização). As pretensões constitucionais do direito da União Europeia Tratemos das questões de ordem constitucional ou transconstitucional, como queiram. A primazia do direito europeu originário e derivado, e o efeito direto de muitas de suas normas acabam por significar que este modelo deve ser aplicado pelas autoridades legislativas, administrativas e jurisdicionais. Essa primazia faz com que nos aproximemos de uma natureza jurídica muito vizinha àquilo que conhecemos como “federação”. O direito europeu, com sua pretensão de incondicionalidade, rejeita a mera contingência e acaba por limitar as prerrogativas de soberania estatal (ponto crucial na nova geopolítica). Isso implica na necessidade de garantir não TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 6 apenas a subordinação do direito nacional ao seu próprio direito, como, também, fazer com que os tribunais estatais respeitem a jurisprudência europeia. Atribuição de competência Mesmo que se fale em princípio da atribuição de competência que busca estabelecer uma específica divisão de funções entre Estados e União, a verdade é que, cada vez mais, os doutrinadores entendem haver uma supremacia material do direito europeu sobre o direito dos Estados, quando entram eles em conflito, o que implica na “desaplicação” de atos nacionais contrários ao direito da UE. Para tanto, é importante ressaltar que se faz necessário que os tribunais nacionais entendam dessa forma e atuem nesse sentido. Independentemente da rejeição do chamado Projeto de Tratado Constitucional, o fato é que a jurisprudência do TJUE (Tribunal de Justiça da UE) continua prevalecendo. Mas isso não implica dizer que não existam muitas controvérsias sobre o tema, pois, o que está em pauta (e é fortemente questionado) é exatamente o poder do TJUE em dizer a última palavra. Direito europeu e direito Constitucional A questão sobre a primazia do direito europeu sobre o direito constitucional dos Estados vem sendo avaliada de forma diversa pelos diversos tribunais constitucionais, sendo que grande parte da doutrina europeia entende que, se o Tratado de Lisboa não foi aceito com Constituição sob uma perspectiva formal, devemos considerar que representa uma constituição sob a perspectiva material, pois trata tanto da organização dos órgãos da UE como, também, de direitos fundamentais (temas constitucionais por excelência). Sobre pretensões constitucionais do direito europeu, muito se discute, e não sem razão. Afinal, quem concede a última palavra acerca da validade ou não no âmbito estatal de uma norma emanada por um órgão da UE? Essa é uma TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 7 questão fundamental para o processo de organização da União Europeia e, consequentemente, para o futuro do bloco. A relação entre o direito da UE e o direito constitucional segundo as principais cortes constitucionais Para entender melhor a relação entre direito da União Europeia e o direito constitucional, conheça agora as principais cortes constitucional. 1ª posição: a primazia do direito europeu Os Tribunais têm entendido que o direito da UE é dotado de primazia de aplicação, conduzindo a sua precedência – mas não a invalidade – sobre o direito nacional contrário. Com isso, os tribunais não controlam a validade do direito europeu (ou seja, a sua juridicidade), mas desaplicam o direito nacional contrário ao direito da UE, seguindo, para tanto, a jurisprudência do TJUE. Essa visão reforça a ideia de que os tribunais nacionais não devem decidir sobre a validade de interpretação fora dos limites estabelecidos pelo TJUE. Tendo em vista que a UE trata das mais variadas áreas do direito, parece-nos que o já abordado tema da redução de soberania, mais uma vez, se confirma a partir desta informação, mesmo porque, se temos por pressuposto a máxima kelseniana de que a regra inferior deve buscar fundamento de validade na regra superior, temos que as normas do direito europeu podem ser tidas, sob um consequente ponto de vista, como normas superiores. De qualquer forma, esses desenvolvimentos do TJUE acabam por retratar o espírito expresso nos Tratados, desde suas origens. Os países que aceitaram, posteriormente, os Tratados, fizeram-no aceitando plenamente a competência do TJUE, principalmente quando este afirma que o direito comunitário (usaremos essa terminologia – muito conhecida e consagrada entre os juristas europeus – como sinônimo de direito da UE) possui o primado sobre o direito nacional. Aliás, na entrada em vigor do Tratado de Lisboa, encontra-se a denominada Declaração 17, que estabelece o primado do direito europeu. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 8 Para os que defendem a primazia do direito da UE, leia uma possível insistência de algumas cortes constitucionais de negar tal primazia. 2ª posição: a primazia do direito nacional Em vários níveis possíveis de profundidade, como no caso anterior, observamos que há quem entenda que o direito da UE se submete ao direito constitucional nacional e, por via de consequência, ao próprio sistema jurídico nacional. Para os que pensam nessa direção, o direito europeu é um direito internacional, sem que possam ser pensadas, neste âmbito, categorias como supranacionalidade, direito constitucional europeu etc. Isso porque, quem mantém essa visão rejeita (em maior ou menor grau, conforme a linha argumentativa) a contestação do princípio de soberania nacional. Nesse sentido, a Corte polonesa afirmou, em 2005 (Decisão K18/04), que, havendo confronto normativo entre normas europeias e as elaboradas pelo sistema polonês, ou se altera a Constituição, de forma a se obter a congruência, ou abandona-se, pura e simplesmente, a UE. Também não se pode deixar de comentar a famosa posição da Corte Constitucional alemã sobre o tema. Aliás, as visões da Corte alemã devem ser vistas sempre com maior grau de atenção em razão do imenso prestígio que a ela desfruta no cenário jurídico-constitucional mundial. Como já afirmamos na Aula 2, a influência atravessa os oceanos e, pela via da cross fertilization, chega até mesmo a irradiar-se em muitas das decisões do nosso STF. Desde há muito, acompanhando no tempo, podemos observar que, em 1974, em uma decisão que ficou conhecida como Solange I, o Tribunal germânico afirmou que controlaria a constitucionalidade de atos comunitários contrários à Constituição alemã enquanto a Europanão lhe garantisse a proteção adequada. Posteriormente, outra decisão (Solange II, e, 1986) veio a mitigar essa decisão, afirmando que o Tribunal dispensaria o cumprimento dela logo que uma proteção comparável à oferecida pela Carta alemã fosse assegurada pela legislação da Comunidade. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 9 Em 1993, uma nova decisão (Solange III) voltou à carga, informando que examinaria atos da UE que viessem a violar princípios fundamentais da identidade constitucional alemã, ainda que o TJUE entendesse não ter ultrapassado tal limite. Na oportunidade, criticou ainda o TJUE por um suposto excesso no entendimento sobre a primazia do direito europeu sobre os direitos estatais. Essa Corte se posiciona no sentido de que os Estados permanecem constitucionalmente soberanos e, portanto, detentores da competência das competências. Essa é a visão que vem predominando, ainda que proporcione ao direito e aos tribunais europeus, alguma deferência. Na mais recente e relevante decisão após o Tratado de Lisboa de 2009, o Tribunal alemão foi ainda mais adiante, afirmando que não hesitaria em reforçar seu controle de identidade e o seu controle ultra vires sobre os atos da UE, salientando a primazia da Constituição, do Estado e do povo alemães. Essa decisão, que se utiliza, em tintas fortes, do conceito de soberania e povo, foi criticada por muitos, em razão de seu conteúdo excessivamente nacionalista e soberanista. Na verdade, alegam esses críticos que tais linhas acabam por retomar alguns pontos em comum com valores que contribuíram para acarretar a II Guerra e o Holocausto, além de identificar as matérias que considera intransferíveis ao âmbito da soberania estatal alemã. 3ª posição: paridade entre direito da UE e direito nacional Uma terceira visão é aquela que rompe com visões mais tradicionalistas (estatistas e soberanista) e configuram-se como um novo espaço para novas concepções, coadunando-se com ideais, tais como: partilha, coordenação, rede de soberanias (com relativização delas), governance by network. Ou seja, nessa terceira perspectiva, a visão é de que o primado da União Europeia se limite materialmente às competências que os Estados nacionais abriram mão em favor daquela (UE). Em princípio, essa posição poderia abrir espaço para uma manifestação dos Tribunais nacionais no sentido de controlar os limites do que viria a ser matéria TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 10 de um e de outro. Todavia, de acordo com o entendimento do TJUE, essa hipótese não deve ser levada em conta, já que esse primado não advém somente da permissão estabelecida pelas constituições estaduais. O Artigo 8º, §4º, da Constituição portuguesa reconhece as pretensões constitucionais europeias, o que nos leva a crer que reconhece que é do TJUE a palavra decisiva sobre a interpretação dos direitos fundamentais, dos princípios conformadores e das competências da UE e suas instituições; mas, também, dos impulsos constituintes emanados da própria UE. Sem dúvida que se essa não é a solução definitiva; é, ao menos, aquela que abre caminho para o diálogo. A maior dificuldade encontra-se com os tribunais superiores, que têm de abdicar das tradicionais categorias das ciências jurídico-políticas, com as quais sempre forjou a base de suas decisões (conceitos cristalizados, como os de Estado, povo, constituição, soberania, já não possuem mais as mesmas configurações de outrora). Uma posição interessante nesse sentido é o tomado pela Corte espanhola, que distingue primazia e supremacia, afirmando que a supremacia da Constituição espanhola de 1978 é compatível com as regras de aplicação que proporcionam prioridade ao direito europeu. Independentemente da indefinição de o que esse jogo de palavras venha a significar realmente, a verdade é que esta é uma tentativa de ainda guardar uma honrosa posição às constituições nacionais. Em uma linha mais mitigada, o Tribunal Constitucional Italiano, embora tenha procurado sustentar uma posição monista, reconhecendo a primazia do direito da UE, afirmou que não abriria mão de proteger os direitos fundamentais, caso entendesse que eles poderiam vir a ser ameaçados. Pode ser considerada violação ao princípio da boa-fé nas relações internacionais, bem como violação ao princípio europeu de cooperação leal, constante no Artigo 4º, §3º, do TUE. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 11 Uma outra perspectiva de análise: a influência do direito nacional ao direito da UE Agora que já temos uma boa base teórica e conhecemos os princípios, analisaremos, nesta parte da aula, o fenômeno de forma invertida, ou seja, a influência do direito nacional no direito da UE. E é natural que isso ocorra, já que a experiência jurídica estatal pode ser fonte de inspiração para o direito europeu dentro de um quadro dialógico em que as influências partem de ambas as direções. Vamos conhecer alguns pontos relevantes. Em um primeiro olhar, podemos observar que os princípios estruturantes da UE (dignidade humana, liberdade, igualdade, não discriminação, democracia, pluralismo, proteção das minorias, o Estado de Direito, a justiça, a solidariedade, entre outros) são, igualmente, princípios conformadores das constituições estaduais. E foram essas, na vivência histórica, que consolidaram tais princípios. Em um segundo olhar, podemos pensar que, também, os modelos administrativos e regulatórios do direito estadual são fontes de inspiração para o direito da UE. Assim, aproveitando-se de um modelo existente em muitos países participantes da UE, esta vem trocando seu paradigma administrativo, de maneira a abandonar a tradicional linha da administração direta e assumir um tipo de administração independente. Os interesses nacionais e os limites dos direitos da UE A possibilidade de que a aplicação de algumas normas de direito da UE venham a trazer grande impacto em interesses essenciais e vitais dos Estados-membros podem ser ensejadores da aplicação das chamadas cláusulas de salvaguarda. Mas o que seria essa cláusula de salvaguarda? TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 12 Permitem aos Estados-membros a tomada de medidas provisórias para a proteção de interesses não econômicos, como a moralidade pública, a ordem pública, a proteção da saúde e da vida de pessoas e animais ou de preservação de plantas ou outros interesses mencionados no Artigo 36 do TFUE. Essas medidas são sujeitas a um processo de controle da UE e das denominadas cláusulas de necessidade. Mas o que seria essa cláusula de necessidade? Encontrada, por exemplo, no Artigo 346 do TFUE, afirma que nenhum Estado é obrigado a fornecer informações cuja divulgação considere contrária aos interesses essenciais da sua própria segurança. Também em referência a situações de estado de sítio ou de emergência, ocasionadas por graves perturbações internas, guerras ou ameaças de guerras, envolvimento no cumprimento de obrigações assumidas em sede de manutenção da paz e da segurança internacional que possam levar os Estados-membros a tomar medidas que afetem o mercado interno, previstas no Artigo 114 do TFUE. O direito da UE visa garantir que os Estados não abusarão dessas cláusulas para garantirem para si, para seus cidadãos e para as empresas nacionais, posições de privilégio ou vantagem em face dos demais Estados, cidadãos dos outros países ou empresas de outros Estados da UE. Para tanto, prevê-se a possibilidade de interpor uma ação direta (pelos outros Estados ou pela Comissão) para o TJUE, por violação ao previsto nos Artigos 258e 259 do TFUE. Estrutura normativa do direito (parte 1) – direito primário Como nos ordenamentos estaduais, também o direito jurídico comunitário está estruturado sob uma base hierárquica. Sob a perspectiva das fontes, podemos identificar claramente dois graus de análise. Vejamos. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 13 A - Chamado direito primário, que constitui o parâmetro material e formal do direito europeu, o que o leva a ser considerado verdadeiro bloco de constitucionalidade da UE. B - O chamado direito secundário ou derivado, que, como se pode deduzir, busca seu fundamento de validade no direito primário. Ainda nesta aula, enfrentamos a questão da “constitucionalidade” – ao menos na perspectiva material do direito europeu. Portanto, aproveitaremos a oportunidade para tratarmos do que é comumente chamado de direito primário (faz parte deste o que grande parte da melhor doutrina chama de “direito constitucional da UE”). Direito primário Como dissemos anteriormente, o direito primário assume uma posição de supremacia hierárquica no quadro do direito comunitário, ainda que devamos entendê-lo como um direito constitucional que emerge, não apenas da vontade popular, mas da vontade soberana dos Estados. Por compreender um conjunto diversificado de instrumentos e princípios dotados de mesma posição hierárquica, seu conjunto é considerado parâmetro de aferimento de validade de todo o direito secundário (ou mesmo o que chamam de direito terciário e demais instâncias normativas da UE). Tal bloco é composto pelos Tratados instituidores das comunidades, os protocolos adicionais, os atos de complementação, os atos de adesão e os princípios gerais do direito comunitário. É o que veremos a seguir. Tratados instituidores e de revisão A União Europeia, como se sabe, tem seu alicerce originário nos tratados CECA de 1951 (Tratado de Paris), e CEE e CEEA, ambos de 1957 (Tratado de Roma). Como observamos, desde então, eles vêm sendo sucessivamente alterados. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 14 Em uma ordem cronológica e com o propósito de ajudá-los, enumeramos e apresentamos as principais características dos tratados instituidores e de revisão. 1965 – Tratado de Fusão: estabeleceu um conselho único e uma comissão única para as três comunidades europeias – a Comunidade Econômica Europeia (CEE), a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CEAA) e a Comissão Europeia da Energia Atómica (Euratom ou CEEA). 1986 – O Ato Único Europeu: tratou-se de um instrumento institucional novo que alterou, pela primeira vez, o Tratado de Roma, consagrando o regresso ao voto majoritário no Conselho Europeu na medida em que alargava o campo das decisões majoritárias ao domínio do mercado interno. 1992 – Tratado de Maastricht: também conhecido como Tratado da União Europeia (TUE), foi assinado a 7 de fevereiro de 1992, na cidade holandesa de Maastricht. Foi um marco significativo no processo de unificação europeia, fixando à integração econômica, até então existente entre diversos países europeus, uma unificação política. O seu resultado mais evidente foi a substituição da denominação Comunidade Europeia pelo termo atual União Europeia. 1997 – Tratado de Amsterdã: introduziu pequenas modificações ao Tratado da União Europeia (TUE): criou um "espaço de liberdade, segurança e justiça", renumerou as disposições dos tratados, separou os tratados institutivos das três Comunidades (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, Comunidade Econômica Europeia e Comunidade Europeia da Energia Atômica) do tratado institutivo da União Europeia e reforçou o poder do pilar comunitário e regulamentar à cooperação reforçada. O Tratado da Amsterdã conferiu ainda maiores garantias em matéria de direitos fundamentais, tendo entrado em vigor a 1º de maio de 1999. 2001 – Tratado de Nice: Foi o tratado que abriu a via para a reforma institucional necessária ao alargamento da União Europeia aos países TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 15 candidatos do Leste e do Sul da Europa. Algumas das suas disposições foram adaptadas pelo Tratado de Adesão, assinado em Atenas, em abril de 2003, que entrou em vigor em 1º de maio de 2004, dia do alargamento. As principais alterações introduzidas pelo Tratado de Nice incidem sobre a limitação da dimensão e composição da Comissão Europeia, a extensão da votação por maioria qualificada, uma nova ponderação dos votos no Conselho Europeu e a flexibilização do dispositivo de cooperação reforçada. 2009 – Tratado de Lisboa: este tratado emenda o Tratado da União Europeia (TUE, Maastricht, 1992) e o Tratado que estabelece a Comunidade Europeia (Roma, 1957). Nesse processo, o TCE (Tratado da Constituição Europeia) foi renomeado para Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE). Importantes mudanças incluíram, entre outras: o aumento de decisões por votação por maioria qualificada no Conselho da União Europeia; o aumento do Parlamento Europeu; mudanças no processo legislativo através da extensão da co-decisão com o Conselho da União Europeia; eliminação dos Três Pilares e a criação de um Presidente do Conselho Europeu, com um mandato mais longo, e um Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros; e o estabelecimento de uma Política de Segurança, apresentando uma posição unida sobre as políticas da UE. O Tratado também fez com que a Carta da União, em matéria de direitos humanos, a Carta dos Direitos Fundamentais, se tornasse juridicamente vinculativa. De toda essa série de tratados que configuram o processo de integração europeia, temos hoje as versões consolidadas do TUE e do TFUE, que, juntamente com a Carta dos Direitos Fundamentais, integram os Tratados que regem a UE e, por conseguinte, formam a base do direito originário da UE. Podemos encontrar nesses instrumentos: a) normas sobre os valores, princípios, objetivos e as regras que regem a integração europeia; b) regulação dos órgãos, os procedimentos e as formas através dos quais se desenvolve a atividade da UE. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 16 Uma das questões mais interessantes e que têm gerado duros embates no seio da UE é o entendimento estabelecido pelo TJUE de que esses instrumentos normativos, não apenas regulam as relações entre os Estados-membros, mas, igualmente, afetam o ordenamento jurídico interno de cada um deles. Nessa via, considera-se que esses Tratados possuem um número relevante de normas de tipo self-executing (estão excluídas, por óbvio, as normas programáticas e as de grande generalidade). Essa autoexecutoriedade faz com que esses Tratados devam ser aplicados no âmbito do direito dos Estados- membros e julgados diante de seus tribunais. Essa medida (aplicabilidade direta das normas), mesmo que polêmica, auxilia na realização dos objetivos definidos pelos Tratados. Protocolos adicionais, declarações e atos de complementação Em julho de 2007, quando foi finalizada a Ata de Conferência dos Representantes dos Governos dos Estados-membros, foi adotado não apenas o Tratado de Lisboa, mas, também, um amplo conjunto de protocolos anexados ao TUE e ao TFUE. Esses documentos referem-se a matérias várias, tais como o papel dos Parlamentos nacionais, a aplicação dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade, o Eurogrupo, a cooperação estruturada permanente na política comum de segurança e defesa, a adesão à CEDH, o mercado interno e concorrência, o exercício das competências partilhadas, entre muitos outros. TÓPICOS DE DIREITOCONSTITUCIONAL 17 Atenção Nesse rol de protocolos, declarações e atos de complementação, estão compreendidas as condições de adesão de Estados-terceiros e os atos de adesão de todos os Estados- membros para além dos seis membros fundadores. Nesses documentos, cuja natureza (claro!) é de direito primário, estão contidos conteúdos que atribuem a esses Estados direitos e deveres diversos daqueles estabelecidos nos Tratados. Não é uma violação ao princípio de igualdade, mas, sim, uma prática natural, já que evidencia a transitoriedade de algumas situações jurídicas no momento da adesão, até que este processo se consolide definitivamente, passando tais membros a ter, em face dos demais, uma situação de igualdade formal e material de direitos e obrigações. Princípios gerais do direito da UE A individualização dos princípios gerais do direito comunitário é produto da obra do Tribunal de Justiça da União Europeia, que colmatou algumas lacunas normativas presentes nos tratados comunitários com o propósito de suprir ausências em face do caráter eminentemente econômico destes. Nesse sentido, estabeleceu um direito comunitário não escrito. A Corte de Justiça (outro nome designado à Tribuna de Justiça da União Europeia – TJUE), na Sentença 309, de 18 de dezembro de 1997, afirmou que os princípios gerais do direito são partes integrantes do ordenamento comunitário somente na medida em que são coligados a situações disciplinadas pelo próprio Direito Comunitário. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 18 Em particular, essa sentença faz referimento à proteção de direitos individuais, reconhecidos e tutelados pelo ordenamento comunitário, mas somente com referência a situações disciplinadas pelo próprio ordenamento. Princípios gerais do direito Como vimos, então, os princípios gerais do direito são colocados no vértice das fontes do direito comunitário e representam proposições jurídicas estruturantes pelas quais se expressam as aspirações valorativas da própria ordem jurídica. Não podem ser inobservados, nem pelas instituições comunitárias, nem pelas instituições nacionais no exercício de suas competências, já que orientam a interpretação e aplicação do ordenamento, preenchendo-o em suas insuficiências. Importante ressaltar que o TJUE é a única instituição competente para realizar esse processo hermenêutico com o propósito de preencher as muitas lacunas do direito comunitário. No decorrer de nossos estudos de direito da UE, é possível reconhecer duas categorias de princípios gerais do direito. 1ª – Princípios gerais do direito compartilhados com os dos sistemas jurídicos nacionais, já que, sendo estes comuns a todos os ordenamentos jurídicos, acabam, também, por formar a base comum do ordenamento comunitário. Entre esses, convém recordar: a dignidade humana e a liberdade do Estado de Direito Democrático. Este último engloba muitos princípios fundantes, tais como: igualdade, democracia, legalidade, participação, deliberação, transparência, proibição de arbítrio, segurança jurídica, proteção da confiança, proibição da retroatividade, a proporcionalidade (estudada na Aula anterior e que é hoje um dos mais importantes princípios de sistemas jurídicos ocidentais), o due process of law, a boa-fé, o non venire contra factum proprium, a confiança no terceiro de boa-fé. Mais recentemente, o TJUE fez explícitas referências a princípios, tais como: desenvolvimento equilibrado e TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 19 sustentável, à melhoria da qualidade do ambiente, igualdade entre homens e mulheres. 2ª – Princípios gerais próprios do direito comunitário: nesta categoria, podemos citar: solidariedade entre Estados-membros, cooperação leal, do equilíbrio institucional, responsabilidade comunitária dos Estados, não discriminação dos cidadãos dos vários Estados-membros, respeito pela identidade nacional dos Estados, de coesão econômica e social, da subsidiariedade, liberdade de pessoas e bens, da unidade e autonomia do direito da UE, primazia e efeito direto do direito comunitário, entre outros. Todos podem ser extraídos dos textos escritos do ordenamento comunitário ou mesmo deduzidos da natureza ou da finalidade da organização. Conclusão Para alguns autores, em opinião bastante respeitável, tendo em vista a perspectiva monista das relações entre direito internacional e direito comunitário, os princípios gerais do direito internacional, o direito consuetudinário e os tratados de direito internacional (mesmo quando a UE não seja parte) acabam por integrar o direito da UE, na qualidade de direito primário. Como você pode perceber, a assunção de uma estrutura como a União Europeia exige repensar toda a estrutura de fontes do direito, bem como estabelecer um canal amplo de diálogo entre todas as ordens jurídicas envolvidas no processo de formação do bloco. As relações entre os entes envolvidos só pode alcançar algum sucesso a partir da busca por consensos obtidos por diálogos regidos por regras democráticas, mas, também, pela self-restraint (autorrestrição) que cada parte envolvida deve exercer a fim de permitir a atuação de todos os demais envolvidos no processo, reconhecendo suas maiores competências e habilidades em áreas específicas. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 20 O importante é que a reengenharia do processo não perca de vista que o objetivo último é oferecer maior qualidade de vida e acesso crescente a direitos fundamentais a cidadãos que na UE são concomitantemente europeus e nacionais. O interconstitucionalismo europeu, como espécie transconstitucional, não pode ter outra pretensão. Atividade proposta Como se sabe, alguns países recusam o rótulo de “constituição” ao Tratado de Lisboa. Quais os argumentos que podem levar o referido Tratado, mesmo não sendo taxado como uma constituição sob o ponto de vista formal, a ser considerado sob a perspectiva “material”? Chave de resposta: Duas são as características fundantes de uma constituição: a organização administrativo-política e a proposição de um rol de direitos fundamentais. Ora, o Tratado de Lisboa, embora não seja oficialmente denominado “Constituição Europeia”, não apenas organiza política- administrativamente os Estados-membros, mas estabelece um rol mínimo de direitos fundamentais que devem ser respeitados por todos os países aderentes, caracterizando, assim, uma constituição, mesmo que apenas sob o prisma material. Constitucionalidade: Caracteriza-se, em princípio, como um mecanismo de correção presente em determinado ordenamento jurídico, consistindo em um sistema de verificação da conformidade de um ato (lei, decreto, etc.) em relação à Constituição. Não se admite que um ato hierarquicamente inferior à Constituição confronte suas premissas, caso em que não haveria harmonia das próprias normas, gerando insegurança jurídica para os destinatários do sistema jurídico. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 21 Aprenda Mais Material complementar Para saber mais sobre as fontes do direito da União Europeia, leia o artigo As fontes do direito da União Europeia, disponível em nossa biblioteca virtual. Material complementar Para saber mais sobre a Constituição da União Europeia, leia o artigo A Constituição Europeia – Entre o Programa e a Norma, disponível em nossa biblioteca virtual. Referências ADAM, Roberto; TIZZANO, Antonio. Lineamenti di Diritto dell`Unione Europea. 2. ed. Torino: G. Giappichelli Editore, 2010. BARBOSA, Rubens. Mercosul e a integraçãoregional. São Paulo: Fundação Memorial da América Latina e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010. BILANCIA, Francesco. L`Europa. Roma: Latenza, 2009. BIN, Roberto; CARETTI. 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TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 24 Exercícios de fixação Questão 1 Sobre a possibilidade de existência de uma “constituição europeia”, pode-se afirmar que: a) Não pode ser considerada tal hipótese, já que não houve uma Assembleia Nacional Constituinte para elaborá-la. b) Embora não tenha sido reconhecida formalmente, é razoável entender que o Tratado de Lisboa e os chamados tratados instituidores acabam por configurar uma Constituição em seu sentido material. c) A doutrina tem considerado que o Tratado de Lisboa é formal e, materialmente, a própria constituição europeia. d) Não pode ser considerada a possibilidade de uma instituição como a europeia possuir constituição, pois não se trata de Estado Nacional. Questão 2 Sobre a União Europeia e os países-membros, é possível afirmar: a) Trata-se de um exemplo de instituição em que a relação de soberania entre os países permanece intacta, não havendo interferência recíproca entre suas ordens constitucionais. b) Embora possa se pensar em interferência entre ordens jurídicas dos países membros, não se pode pensar na existência de uma ordem jurídica europeia, pois isso colocaria em risco a soberania dos países. c) O fenômeno da interconstitucionalidade é claramente observado no âmbito da União Europeia, já que há influência recíproca entre as ordens jurídicas dos países-membros, bem como entre estes e a própria União Europeia. d) A União Europeia representou o fim das Constituições dos países- membros, todos submetidos a uma Constituição Europeia. TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 25 Questão 3 São características do direito europeu, exceto: a) Tipicidade b) Autonomia c) Uniformidade d) Integração Questão 4 Analise as assertivas abaixo: I – O direito primário europeu constitui o parâmetro material e formal do Direito Europeu. II – O direito primário é derivado, pois busca seu fundamento de validade no direito constitucional europeu. III – O direito primário é o conjunto de normas de direitos fundamentais europeus. IV – O direito primário europeu é considerado verdadeiro bloco de constitucionalidade da EU. São corretas as seguintes assertivas: a) I e II b) II e III c) I e IV d) II e IV Questão 5 Analise as assertivas abaixo: TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 26 I – A maior parte da doutrina entende que o Tratado de Lisboa representa uma constituição europeia, ao menos em uma perspectiva material. II – Mesmo interesses específicos dos países-membros podem representar limitações aos direitos estabelecidos pela União Europeia. III – Se o direito europeu influencia o direito dos países-membros da União Europeia, a verdade é que o direito europeu não sofre influência do direito dos países-membros. Está(ão) correta(s) a(s) seguinte(s) assertiva(s): a) Somente a assertiva I b) Somente a assertiva II c) Somente a assertiva III d) As assertivas I e II Exercícios de fixação Questão 1 - B Justificativa: Embora não seja o Tratado de Lisboa considerado uma constituição formal, pela ausência de concordância por parte de algumas populações de Estados-membros, o fato de os países-membros se submeterem a normas de organização da União Europeia e de direitos fundamentais consagradas nos diversos Tratados acaba por configurar verdadeira constituição, ao menos na sua definição material. Questão 2 - C Justificativa: Os países-membros permanecem possuindo constituições próprias, embora haja uma crescente influência recíproca entre elas. Por outro lado, temos que considerar que as normas de organização da União Europeia e os direitos fundamentais consagradas nos diversos Tratados configuram TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 27 verdadeira constituição (na perspectiva material) e que, entre esta e as constituições dos países-membros, dá-se uma relação permanente. Questão 3 - A Justificativa: Na verdade, a característica é a atipicidade e não o contrário. Isso porque o direito europeu é distinto do direito nacional e do direito internacional. Estão corretas as demais características (autonomia, já que possui suas próprias fontes, instâncias e procedimentos de interpretação e aplicação; uniformidade, já que o significado de suas normas não pode variar de um Estado-membro a outro; e Integração, já que o direito da UE deve buscar a integração com a ordem jurídica dos Estados-membros). Questão 4 - C Justificativa: O direito primário europeu é considerado o conjunto de normas que assume uma posição de supremacia hierárquica no quadro do direito comunitário, ainda que devamos entendê-lo como um direito constitucional que emerge, não apenas da vontade popular, mas da vontade soberana dos Estados. Compreende um conjunto diversificado de instrumentose princípios dotados de mesma posição hierárquica, sendo o seu conjunto considerado parâmetro de aferimento de validade de todo o direito secundário (ou mesmo o que chamam de direito terciário e demais instâncias normativas da UE). Tal bloco é composto pelos Tratados instituidores das comunidades, os protocolos adicionais, os atos de complementação, os atos de adesão e os princípios gerais do direito comunitário. Questão 5 - D Justificativa: A única assertiva errada é a terceira, já que, da mesma forma como há influência do direito europeu sobre o direito dos países-membros, as jurisprudências estabelecidas pelos países-membros influenciam a jurisprudência e a produção legislativa da União Europeia.
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