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Controle de Constitucionalidade no Direito da União Europeia

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TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 1 
Aula 4: Controle de Constitucionalidade ............................................................................... 2 
Introdução .......................................................................................................................... 2 
Conteúdo ............................................................................................................................ 4 
A “constitucionalização” do direito europeu e um novo paradigma jurídico ....... 4 
Características expressas por Jónatas Machado ......................................................... 4 
As pretensões constitucionais do direito da União Europeia ................................... 5 
Atribuição de competência ............................................................................................. 6 
Direito europeu e direito Constitucional ...................................................................... 6 
A relação entre o direito da UE e o direito constitucional segundo as principais 
cortes constitucionais ....................................................................................................... 7 
Uma outra perspectiva de análise: a influência do direito nacional ao direito da 
UE ........................................................................................................................................ 11 
Os interesses nacionais e os limites dos direitos da UE ........................................... 11 
Estrutura normativa do direito (parte 1) – direito primário ..................................... 12 
Direito primário ................................................................................................................ 13 
Tratados instituidores e de revisão .............................................................................. 13 
Protocolos adicionais, declarações e atos de complementação ........................... 16 
Princípios gerais do direito da UE ................................................................................. 17 
Princípios gerais do direito ............................................................................................ 18 
Conclusão ......................................................................................................................... 19 
Atividade proposta .......................................................................................................... 20 
 .................................................................................................................................. 20 Notas
Aprenda Mais ................................................................................................................... 21 
Referências ....................................................................................................................... 21 
Exercícios de fixação ..................................................................................................... 24 
 ........................................................................................................ 26 Chaves de resposta
 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 2 
 
Introdução 
O Direito da União Europeia, como um instituto que vem sendo construído 
paulatinamente no decorrer do tempo, ainda apresenta contornos teóricos que 
precisam ser melhor delineados. Aliás, como foi visto na Aula 2, a relação entre 
o Estado nacional e a União Europeia vem sendo vista como o único exemplo 
de transconstitucionalidade (ou mesmo interconstitucionalidade, como 
denominam os europeus) que relaciona o direito de Estado nacional com uma 
ordem supranacional. Nesse sentido, é possível pensar na relação mantida 
entre a ordem constitucional nacional e a ordem constitucional 
(supraconstitucional) europeia. 
 
Para tanto, estará em pauta um dos grandes temas político-jurídicos dos 
últimos tempos, que é o direito comunitário como ordem específica. É 
revolucionário porque coloca em xeque algumas das concepções mais caras 
estabelecidas tanto pelo direito como pela filosofia política moderna, ou seja, a 
questão da soberania dos Estados nacionais e a possibilidade de 
reconhecimento de uma ordem jurídica superior àquela estatal, o que tende a 
estabelecer um novo ponto de referência para novos estudos acerca do 
fenômeno jurídico. De toda forma, no mínimo, teremos que enfrentar o diálogo 
que tais ordens devem manter de forma a não evidenciar uma crise (grave) de 
fonte do direito. 
 
Para tratar desse tema, recorreremos às instituições que vêm sendo criadas 
pela União Europeia, mais especificamente o que diz respeito a uma possível 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 3 
constituição europeia. Ainda que se chegasse à conclusão de que não se trata 
verdadeiramente de uma “revolução” sob o olhar teórico-filosófico, a ideia de 
um direito europeu deve, ao menos, ser vista como um instrumento viabilizador 
de uma nova Teoria Geral do Estado. Isso porque, não apenas refunda a 
relação entre os Estados europeus, mas, também, cria novas possibilidades de 
emanação de poder por entes metaestatais (e, consequentemente, prevê um 
direito que supera as condições inerentes à Vestfália). 
 
É importante que tenhamos em conta que muito do que estudamos em 
Sociologia Política, Relações Internacionais e Teoria Geral do Estado vem 
sofrendo grandes modificações em razão dessa experiência de um direito 
regional. Embora esteja ocorrendo de forma mais consequente apenas no 
interior do continente europeu, parece inevitável que esteja produzindo um 
novo paradigma que, mais cedo ou mais tarde, será seguido pelas regiões do 
planeta. É bom que nos familiarizemos com essas novas tendências. 
 
Objetivo: 
Analisar, em um quadro de transformação paradigmática do quadro jurídico-
político, a relação “interconstitucional” (em um quadro transconstitucional) 
entre o direito primário constitucional comunitário e o direito dos Estados-
membros no sistema da União Europeia. 
 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 4 
Conteúdo 
A “constitucionalização” do direito europeu e um novo 
paradigma jurídico 
Estamos chegando ao final de nossa disciplina e esta será a nossa última aula. 
Hoje, estudaremos sobre a União Europeia e a nova visão 
interconstitucional. 
 
O direito da União Europeia coloca em questão diversos pontos fundamentais 
da discussão jurídico-políticas da atualidade. Se, por um lado, aponta 
claramente para o esgotamento do modelo de Estado nacional de Vestfália, por 
outro, parece questionar o próprio conceito de constituição estatal. Notem que 
falamos de conceito de “constituição dos Estados nacionais”, mas não o 
conceito de “constituição” como ordem jurídica fundante (este parece estar 
sendo submetido a transformações, sendo a União Europeia o maior laboratório 
conhecido para tais experiências). 
 
De qualquer forma, não se quer assinar o atestado de óbito antecipado dos 
Estados nacionais; até porque, eles ainda lutam pelas suas prerrogativas, 
mesmo aqueles que participam do bloco europeu. As correntes que rivalizam, 
na verdade, participam do amplo debate que ajuda a redefinir o papel das 
ordens jurídicas nacionais em face de uma suposta ordem “supraconstitucional” 
(no âmbito das relações transconstitucionais), bem como o papel de um direito 
que, paulatinamente, busca seus fundamentos em fontes diversas daquelas 
tradicionalmente estabelecidas por um Estado cujo conceito, fortemente 
marcado pela dimensão territorial, parece estar em crise. 
 
Características expressas por Jónatas Machado 
Agora que já fizemos uma introdução sobre o assunto desta aula, começaremos 
nosso estudo citando as características do direito da UE segundo Jónatas 
Machado(apoiada por grande parte da doutrina europeia sobre o tema), 
explicitadas em meados da década de 60. 
 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 5 
 Atipicidade – Porque é distinto do direito nacional e do direito 
internacional. 
 
 Autonomia – Porque possui suas próprias fontes, instâncias e 
procedimentos de interpretação e aplicação. Além disso, no que se 
refere aos conceitos utilizados, frequentemente apresenta definições 
distintas daquelas assumidas na ordem jurídica nacional. 
 
 Uniformidade – Porque o significado de suas normas não pode variar 
de um Estado-membro a outro, ou seja, assumir interpretações diversas, 
conforme a tradição do direito naquele país ou a tendência de um 
determinado tribunal nacional, pois isso acarretaria no esvaziamento de 
uma ordem jurídica europeia. Aqui, vale a pena fazer uma conexão com 
nossas abordagens acerca do que estudamos sobre 
transconstitucionalismo. 
 
 Integração – O direito da UE deve se integrar com a ordem jurídica dos 
Estados-membros, sendo que, aos tribunais nacionais, cabe a tarefa de 
garantir esta vinculação, cooperando com a jurisdição da UE (novamente 
se faz presente os conceitos de transconstitucionalização). 
 
As pretensões constitucionais do direito da União Europeia 
Tratemos das questões de ordem constitucional ou transconstitucional, como 
queiram. A primazia do direito europeu originário e derivado, e o efeito direto 
de muitas de suas normas acabam por significar que este modelo deve ser 
aplicado pelas autoridades legislativas, administrativas e jurisdicionais. Essa 
primazia faz com que nos aproximemos de uma natureza jurídica muito vizinha 
àquilo que conhecemos como “federação”. 
 
O direito europeu, com sua pretensão de incondicionalidade, rejeita a mera 
contingência e acaba por limitar as prerrogativas de soberania estatal (ponto 
crucial na nova geopolítica). Isso implica na necessidade de garantir não 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 6 
apenas a subordinação do direito nacional ao seu próprio direito, como, 
também, fazer com que os tribunais estatais respeitem a jurisprudência 
europeia. 
 
Atribuição de competência 
Mesmo que se fale em princípio da atribuição de competência que busca 
estabelecer uma específica divisão de funções entre Estados e União, a verdade 
é que, cada vez mais, os doutrinadores entendem haver uma supremacia 
material do direito europeu sobre o direito dos Estados, quando entram eles em 
conflito, o que implica na “desaplicação” de atos nacionais contrários ao direito 
da UE. Para tanto, é importante ressaltar que se faz necessário que os tribunais 
nacionais entendam dessa forma e atuem nesse sentido. 
 
Independentemente da rejeição do chamado Projeto de Tratado Constitucional, 
o fato é que a jurisprudência do TJUE (Tribunal de Justiça da UE) continua 
prevalecendo. Mas isso não implica dizer que não existam muitas controvérsias 
sobre o tema, pois, o que está em pauta (e é fortemente questionado) é 
exatamente o poder do TJUE em dizer a última palavra. 
 
Direito europeu e direito Constitucional 
A questão sobre a primazia do direito europeu sobre o direito constitucional dos 
Estados vem sendo avaliada de forma diversa pelos diversos tribunais 
constitucionais, sendo que grande parte da doutrina europeia entende que, se o 
Tratado de Lisboa não foi aceito com Constituição sob uma perspectiva formal, 
devemos considerar que representa uma constituição sob a perspectiva 
material, pois trata tanto da organização dos órgãos da UE como, também, de 
direitos fundamentais (temas constitucionais por excelência). 
 
Sobre pretensões constitucionais do direito europeu, muito se discute, e não 
sem razão. Afinal, quem concede a última palavra acerca da validade ou não no 
âmbito estatal de uma norma emanada por um órgão da UE? Essa é uma 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 7 
questão fundamental para o processo de organização da União Europeia e, 
consequentemente, para o futuro do bloco. 
 
A relação entre o direito da UE e o direito constitucional segundo 
as principais cortes constitucionais 
Para entender melhor a relação entre direito da União Europeia e o direito 
constitucional, conheça agora as principais cortes constitucional. 
 
1ª posição: a primazia do direito europeu 
Os Tribunais têm entendido que o direito da UE é dotado de primazia de 
aplicação, conduzindo a sua precedência – mas não a invalidade – sobre o 
direito nacional contrário. Com isso, os tribunais não controlam a validade do 
direito europeu (ou seja, a sua juridicidade), mas desaplicam o direito nacional 
contrário ao direito da UE, seguindo, para tanto, a jurisprudência do TJUE. 
 
Essa visão reforça a ideia de que os tribunais nacionais não devem decidir 
sobre a validade de interpretação fora dos limites estabelecidos pelo TJUE. 
Tendo em vista que a UE trata das mais variadas áreas do direito, parece-nos 
que o já abordado tema da redução de soberania, mais uma vez, se confirma a 
partir desta informação, mesmo porque, se temos por pressuposto a máxima 
kelseniana de que a regra inferior deve buscar fundamento de validade na 
regra superior, temos que as normas do direito europeu podem ser tidas, sob 
um consequente ponto de vista, como normas superiores. 
 
De qualquer forma, esses desenvolvimentos do TJUE acabam por retratar o 
espírito expresso nos Tratados, desde suas origens. Os países que aceitaram, 
posteriormente, os Tratados, fizeram-no aceitando plenamente a competência 
do TJUE, principalmente quando este afirma que o direito comunitário 
(usaremos essa terminologia – muito conhecida e consagrada entre os juristas 
europeus – como sinônimo de direito da UE) possui o primado sobre o direito 
nacional. Aliás, na entrada em vigor do Tratado de Lisboa, encontra-se a 
denominada Declaração 17, que estabelece o primado do direito europeu. 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 8 
Para os que defendem a primazia do direito da UE, leia uma possível insistência 
de algumas cortes constitucionais de negar tal primazia. 
 
2ª posição: a primazia do direito nacional 
Em vários níveis possíveis de profundidade, como no caso anterior, observamos 
que há quem entenda que o direito da UE se submete ao direito constitucional 
nacional e, por via de consequência, ao próprio sistema jurídico nacional. 
Para os que pensam nessa direção, o direito europeu é um direito internacional, 
sem que possam ser pensadas, neste âmbito, categorias como 
supranacionalidade, direito constitucional europeu etc. Isso porque, quem 
mantém essa visão rejeita (em maior ou menor grau, conforme a linha 
argumentativa) a contestação do princípio de soberania nacional. 
 
Nesse sentido, a Corte polonesa afirmou, em 2005 (Decisão K18/04), que, 
havendo confronto normativo entre normas europeias e as elaboradas pelo 
sistema polonês, ou se altera a Constituição, de forma a se obter a 
congruência, ou abandona-se, pura e simplesmente, a UE. Também não se 
pode deixar de comentar a famosa posição da Corte Constitucional alemã sobre 
o tema. Aliás, as visões da Corte alemã devem ser vistas sempre com maior 
grau de atenção em razão do imenso prestígio que a ela desfruta no cenário 
jurídico-constitucional mundial. Como já afirmamos na Aula 2, a influência 
atravessa os oceanos e, pela via da cross fertilization, chega até mesmo a 
irradiar-se em muitas das decisões do nosso STF. 
 
Desde há muito, acompanhando no tempo, podemos observar que, em 1974, 
em uma decisão que ficou conhecida como Solange I, o Tribunal germânico 
afirmou que controlaria a constitucionalidade de atos comunitários contrários à 
Constituição alemã enquanto a Europanão lhe garantisse a proteção adequada. 
Posteriormente, outra decisão (Solange II, e, 1986) veio a mitigar essa decisão, 
afirmando que o Tribunal dispensaria o cumprimento dela logo que uma 
proteção comparável à oferecida pela Carta alemã fosse assegurada pela 
legislação da Comunidade. 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 9 
Em 1993, uma nova decisão (Solange III) voltou à carga, informando que 
examinaria atos da UE que viessem a violar princípios fundamentais da 
identidade constitucional alemã, ainda que o TJUE entendesse não ter 
ultrapassado tal limite. Na oportunidade, criticou ainda o TJUE por um suposto 
excesso no entendimento sobre a primazia do direito europeu sobre os direitos 
estatais. Essa Corte se posiciona no sentido de que os Estados permanecem 
constitucionalmente soberanos e, portanto, detentores da competência das 
competências. Essa é a visão que vem predominando, ainda que proporcione 
ao direito e aos tribunais europeus, alguma deferência. 
 
Na mais recente e relevante decisão após o Tratado de Lisboa de 2009, o 
Tribunal alemão foi ainda mais adiante, afirmando que não hesitaria em 
reforçar seu controle de identidade e o seu controle ultra vires sobre os atos da 
UE, salientando a primazia da Constituição, do Estado e do povo alemães. Essa 
decisão, que se utiliza, em tintas fortes, do conceito de soberania e povo, foi 
criticada por muitos, em razão de seu conteúdo excessivamente nacionalista e 
soberanista. Na verdade, alegam esses críticos que tais linhas acabam por 
retomar alguns pontos em comum com valores que contribuíram para acarretar 
a II Guerra e o Holocausto, além de identificar as matérias que considera 
intransferíveis ao âmbito da soberania estatal alemã. 
 
3ª posição: paridade entre direito da UE e direito nacional 
Uma terceira visão é aquela que rompe com visões mais tradicionalistas 
(estatistas e soberanista) e configuram-se como um novo espaço para novas 
concepções, coadunando-se com ideais, tais como: partilha, coordenação, rede 
de soberanias (com relativização delas), governance by network. Ou seja, nessa 
terceira perspectiva, a visão é de que o primado da União Europeia se limite 
materialmente às competências que os Estados nacionais abriram mão em 
favor daquela (UE). 
 
Em princípio, essa posição poderia abrir espaço para uma manifestação dos 
Tribunais nacionais no sentido de controlar os limites do que viria a ser matéria 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 10 
de um e de outro. Todavia, de acordo com o entendimento do TJUE, essa 
hipótese não deve ser levada em conta, já que esse primado não advém 
somente da permissão estabelecida pelas constituições estaduais. 
 
O Artigo 8º, §4º, da Constituição portuguesa reconhece as pretensões 
constitucionais europeias, o que nos leva a crer que reconhece que é do TJUE a 
palavra decisiva sobre a interpretação dos direitos fundamentais, dos princípios 
conformadores e das competências da UE e suas instituições; mas, também, 
dos impulsos constituintes emanados da própria UE. Sem dúvida que se essa 
não é a solução definitiva; é, ao menos, aquela que abre caminho para o 
diálogo. 
 
A maior dificuldade encontra-se com os tribunais superiores, que têm de 
abdicar das tradicionais categorias das ciências jurídico-políticas, com as quais 
sempre forjou a base de suas decisões (conceitos cristalizados, como os de 
Estado, povo, constituição, soberania, já não possuem mais as mesmas 
configurações de outrora). 
 
Uma posição interessante nesse sentido é o tomado pela Corte espanhola, que 
distingue primazia e supremacia, afirmando que a supremacia da Constituição 
espanhola de 1978 é compatível com as regras de aplicação que proporcionam 
prioridade ao direito europeu. Independentemente da indefinição de o que esse 
jogo de palavras venha a significar realmente, a verdade é que esta é uma 
tentativa de ainda guardar uma honrosa posição às constituições nacionais. 
 
Em uma linha mais mitigada, o Tribunal Constitucional Italiano, embora tenha 
procurado sustentar uma posição monista, reconhecendo a primazia do direito 
da UE, afirmou que não abriria mão de proteger os direitos fundamentais, caso 
entendesse que eles poderiam vir a ser ameaçados. Pode ser considerada 
violação ao princípio da boa-fé nas relações internacionais, bem como violação 
ao princípio europeu de cooperação leal, constante no Artigo 4º, §3º, do TUE. 
 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 11 
Uma outra perspectiva de análise: a influência do direito nacional 
ao direito da UE 
Agora que já temos uma boa base teórica e conhecemos os princípios, 
analisaremos, nesta parte da aula, o fenômeno de forma invertida, ou seja, a 
influência do direito nacional no direito da UE. E é natural que isso ocorra, já 
que a experiência jurídica estatal pode ser fonte de inspiração para o direito 
europeu dentro de um quadro dialógico em que as influências partem de ambas 
as direções. Vamos conhecer alguns pontos relevantes. 
 
Em um primeiro olhar, podemos observar que os princípios estruturantes da UE 
(dignidade humana, liberdade, igualdade, não discriminação, democracia, 
pluralismo, proteção das minorias, o Estado de Direito, a justiça, a 
solidariedade, entre outros) são, igualmente, princípios conformadores das 
constituições estaduais. E foram essas, na vivência histórica, que consolidaram 
tais princípios. 
 
Em um segundo olhar, podemos pensar que, também, os modelos 
administrativos e regulatórios do direito estadual são fontes de inspiração para 
o direito da UE. Assim, aproveitando-se de um modelo existente em muitos 
países participantes da UE, esta vem trocando seu paradigma administrativo, de 
maneira a abandonar a tradicional linha da administração direta e assumir um 
tipo de administração independente. 
 
Os interesses nacionais e os limites dos direitos da UE 
A possibilidade de que a aplicação de algumas normas de direito da UE venham 
a trazer grande impacto em interesses essenciais e vitais dos Estados-membros 
podem ser ensejadores da aplicação das chamadas cláusulas de 
salvaguarda. 
 
Mas o que seria essa cláusula de salvaguarda? 
 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 12 
Permitem aos Estados-membros a tomada de medidas provisórias para a 
proteção de interesses não econômicos, como a moralidade pública, a ordem 
pública, a proteção da saúde e da vida de pessoas e animais ou de preservação 
de plantas ou outros interesses mencionados no Artigo 36 do TFUE. 
 
Essas medidas são sujeitas a um processo de controle da UE e das 
denominadas cláusulas de necessidade. 
 
Mas o que seria essa cláusula de necessidade? 
 
Encontrada, por exemplo, no Artigo 346 do TFUE, afirma que nenhum Estado é 
obrigado a fornecer informações cuja divulgação considere contrária aos 
interesses essenciais da sua própria segurança. Também em referência a 
situações de estado de sítio ou de emergência, ocasionadas por graves 
perturbações internas, guerras ou ameaças de guerras, envolvimento no 
cumprimento de obrigações assumidas em sede de manutenção da paz e da 
segurança internacional que possam levar os Estados-membros a tomar 
medidas que afetem o mercado interno, previstas no Artigo 114 do TFUE. 
 
O direito da UE visa garantir que os Estados não abusarão dessas cláusulas 
para garantirem para si, para seus cidadãos e para as empresas nacionais, 
posições de privilégio ou vantagem em face dos demais Estados, cidadãos dos 
outros países ou empresas de outros Estados da UE. Para tanto, prevê-se a 
possibilidade de interpor uma ação direta (pelos outros Estados ou pela 
Comissão) para o TJUE, por violação ao previsto nos Artigos 258e 259 do 
TFUE. 
 
Estrutura normativa do direito (parte 1) – direito primário 
Como nos ordenamentos estaduais, também o direito jurídico comunitário 
está estruturado sob uma base hierárquica. Sob a perspectiva das fontes, 
podemos identificar claramente dois graus de análise. Vejamos. 
 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 13 
A - Chamado direito primário, que constitui o parâmetro material e formal do 
direito europeu, o que o leva a ser considerado verdadeiro bloco de 
constitucionalidade da UE. 
B - O chamado direito secundário ou derivado, que, como se pode deduzir, 
busca seu fundamento de validade no direito primário. 
 
Ainda nesta aula, enfrentamos a questão da “constitucionalidade” – ao 
menos na perspectiva material do direito europeu. Portanto, aproveitaremos a 
oportunidade para tratarmos do que é comumente chamado de direito primário 
(faz parte deste o que grande parte da melhor doutrina chama de “direito 
constitucional da UE”). 
 
Direito primário 
Como dissemos anteriormente, o direito primário assume uma posição de 
supremacia hierárquica no quadro do direito comunitário, ainda que devamos 
entendê-lo como um direito constitucional que emerge, não apenas da vontade 
popular, mas da vontade soberana dos Estados. 
 
Por compreender um conjunto diversificado de instrumentos e princípios 
dotados de mesma posição hierárquica, seu conjunto é considerado parâmetro 
de aferimento de validade de todo o direito secundário (ou mesmo o que 
chamam de direito terciário e demais instâncias normativas da UE). 
 
Tal bloco é composto pelos Tratados instituidores das comunidades, os 
protocolos adicionais, os atos de complementação, os atos de adesão e os 
princípios gerais do direito comunitário. É o que veremos a seguir. 
 
Tratados instituidores e de revisão 
A União Europeia, como se sabe, tem seu alicerce originário nos tratados CECA 
de 1951 (Tratado de Paris), e CEE e CEEA, ambos de 1957 (Tratado de Roma). 
Como observamos, desde então, eles vêm sendo sucessivamente alterados. 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 14 
Em uma ordem cronológica e com o propósito de ajudá-los, enumeramos e 
apresentamos as principais características dos tratados instituidores e de 
revisão. 
 
1965 – Tratado de Fusão: estabeleceu um conselho único e uma comissão única 
para as três comunidades europeias – a Comunidade Econômica Europeia (CEE), a 
Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CEAA) e a Comissão Europeia da Energia 
Atómica (Euratom ou CEEA). 
1986 – O Ato Único Europeu: tratou-se de um instrumento institucional 
novo que alterou, pela primeira vez, o Tratado de Roma, consagrando o 
regresso ao voto majoritário no Conselho Europeu na medida em que alargava 
o campo das decisões majoritárias ao domínio do mercado interno. 
1992 – Tratado de Maastricht: também conhecido como Tratado da 
União Europeia (TUE), foi assinado a 7 de fevereiro de 1992, na cidade 
holandesa de Maastricht. Foi um marco significativo no processo de unificação 
europeia, fixando à integração econômica, até então existente entre diversos 
países europeus, uma unificação política. O seu resultado mais evidente foi a 
substituição da denominação Comunidade Europeia pelo termo atual União 
Europeia. 
1997 – Tratado de Amsterdã: introduziu pequenas modificações ao Tratado 
da União Europeia (TUE): criou um "espaço de liberdade, segurança e justiça", 
renumerou as disposições dos tratados, separou os tratados institutivos das três 
Comunidades (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, Comunidade 
Econômica Europeia e Comunidade Europeia da Energia Atômica) do tratado 
institutivo da União Europeia e reforçou o poder do pilar comunitário e 
regulamentar à cooperação reforçada. O Tratado da Amsterdã conferiu ainda 
maiores garantias em matéria de direitos fundamentais, tendo entrado em vigor 
a 1º de maio de 1999. 
2001 – Tratado de Nice: Foi o tratado que abriu a via para a reforma 
institucional necessária ao alargamento da União Europeia aos países 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 15 
candidatos do Leste e do Sul da Europa. Algumas das suas disposições foram 
adaptadas pelo Tratado de Adesão, assinado em Atenas, em abril de 2003, que 
entrou em vigor em 1º de maio de 2004, dia do alargamento. As principais 
alterações introduzidas pelo Tratado de Nice incidem sobre a limitação da 
dimensão e composição da Comissão Europeia, a extensão da votação por 
maioria qualificada, uma nova ponderação dos votos no Conselho Europeu e a 
flexibilização do dispositivo de cooperação reforçada. 
2009 – Tratado de Lisboa: este tratado emenda o Tratado da União 
Europeia (TUE, Maastricht, 1992) e o Tratado que estabelece a Comunidade 
Europeia (Roma, 1957). Nesse processo, o TCE (Tratado da Constituição 
Europeia) foi renomeado para Tratado sobre o Funcionamento da União 
Europeia (TFUE). Importantes mudanças incluíram, entre outras: o aumento de 
decisões por votação por maioria qualificada no Conselho da União Europeia; o 
aumento do Parlamento Europeu; mudanças no processo legislativo através da 
extensão da co-decisão com o Conselho da União Europeia; eliminação dos Três 
Pilares e a criação de um Presidente do Conselho Europeu, com um mandato 
mais longo, e um Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros; e 
o estabelecimento de uma Política de Segurança, apresentando uma posição 
unida sobre as políticas da UE. O Tratado também fez com que a Carta da 
União, em matéria de direitos humanos, a Carta dos Direitos Fundamentais, se 
tornasse juridicamente vinculativa. 
De toda essa série de tratados que configuram o processo de integração 
europeia, temos hoje as versões consolidadas do TUE e do TFUE, que, 
juntamente com a Carta dos Direitos Fundamentais, integram os Tratados que 
regem a UE e, por conseguinte, formam a base do direito originário da UE. 
 
Podemos encontrar nesses instrumentos: a) normas sobre os valores, 
princípios, objetivos e as regras que regem a integração europeia; b) 
regulação dos órgãos, os procedimentos e as formas através dos quais 
se desenvolve a atividade da UE. 
 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 16 
Uma das questões mais interessantes e que têm gerado duros embates no seio 
da UE é o entendimento estabelecido pelo TJUE de que esses instrumentos 
normativos, não apenas regulam as relações entre os Estados-membros, mas, 
igualmente, afetam o ordenamento jurídico interno de cada um deles. 
 
Nessa via, considera-se que esses Tratados possuem um número relevante de 
normas de tipo self-executing (estão excluídas, por óbvio, as normas 
programáticas e as de grande generalidade). Essa autoexecutoriedade faz com 
que esses Tratados devam ser aplicados no âmbito do direito dos Estados-
membros e julgados diante de seus tribunais. Essa medida (aplicabilidade direta 
das normas), mesmo que polêmica, auxilia na realização dos objetivos definidos 
pelos Tratados. 
 
Protocolos adicionais, declarações e atos de complementação 
Em julho de 2007, quando foi finalizada a Ata de Conferência dos 
Representantes dos Governos dos Estados-membros, foi adotado não 
apenas o Tratado de Lisboa, mas, também, um amplo conjunto de protocolos 
anexados ao TUE e ao TFUE. 
 
Esses documentos referem-se a matérias várias, tais como o papel dos 
Parlamentos nacionais, a aplicação dos princípios da subsidiariedade e da 
proporcionalidade, o Eurogrupo, a cooperação estruturada permanente na 
política comum de segurança e defesa, a adesão à CEDH, o mercado interno e 
concorrência, o exercício das competências partilhadas, entre muitos outros. 
 
 
 TÓPICOS DE DIREITOCONSTITUCIONAL 17 
 
Atenção 
 Nesse rol de protocolos, declarações e atos de 
complementação, estão compreendidas as condições de adesão 
de Estados-terceiros e os atos de adesão de todos os Estados-
membros para além dos seis membros fundadores. Nesses 
documentos, cuja natureza (claro!) é de direito primário, estão 
contidos conteúdos que atribuem a esses Estados direitos e 
deveres diversos daqueles estabelecidos nos Tratados. Não é 
uma violação ao princípio de igualdade, mas, sim, uma prática 
natural, já que evidencia a transitoriedade de algumas situações 
jurídicas no momento da adesão, até que este processo se 
consolide definitivamente, passando tais membros a ter, em 
face dos demais, uma situação de igualdade formal e material 
de direitos e obrigações. 
 
Princípios gerais do direito da UE 
A individualização dos princípios gerais do direito comunitário é 
produto da obra do Tribunal de Justiça da União Europeia, que colmatou 
algumas lacunas normativas presentes nos tratados comunitários com o 
propósito de suprir ausências em face do caráter eminentemente econômico 
destes. Nesse sentido, estabeleceu um direito comunitário não escrito. 
 
A Corte de Justiça (outro nome designado à Tribuna de Justiça da União 
Europeia – TJUE), na Sentença 309, de 18 de dezembro de 1997, afirmou que 
os princípios gerais do direito são partes integrantes do ordenamento 
comunitário somente na medida em que são coligados a situações 
disciplinadas pelo próprio Direito Comunitário. 
 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 18 
Em particular, essa sentença faz referimento à proteção de direitos individuais, 
reconhecidos e tutelados pelo ordenamento comunitário, mas somente com 
referência a situações disciplinadas pelo próprio ordenamento. 
 
Princípios gerais do direito 
Como vimos, então, os princípios gerais do direito são colocados no vértice das 
fontes do direito comunitário e representam proposições jurídicas estruturantes 
pelas quais se expressam as aspirações valorativas da própria ordem jurídica. 
Não podem ser inobservados, nem pelas instituições comunitárias, nem pelas 
instituições nacionais no exercício de suas competências, já que orientam a 
interpretação e aplicação do ordenamento, preenchendo-o em suas 
insuficiências. 
 
Importante ressaltar que o TJUE é a única instituição competente para realizar 
esse processo hermenêutico com o propósito de preencher as muitas lacunas 
do direito comunitário. No decorrer de nossos estudos de direito da UE, é 
possível reconhecer duas categorias de princípios gerais do direito. 
 
1ª – Princípios gerais do direito compartilhados com os dos sistemas 
jurídicos nacionais, já que, sendo estes comuns a todos os ordenamentos 
jurídicos, acabam, também, por formar a base comum do ordenamento 
comunitário. 
 
Entre esses, convém recordar: a dignidade humana e a liberdade do Estado de 
Direito Democrático. Este último engloba muitos princípios fundantes, tais 
como: igualdade, democracia, legalidade, participação, deliberação, 
transparência, proibição de arbítrio, segurança jurídica, proteção da confiança, 
proibição da retroatividade, a proporcionalidade (estudada na Aula anterior e 
que é hoje um dos mais importantes princípios de sistemas jurídicos 
ocidentais), o due process of law, a boa-fé, o non venire contra factum 
proprium, a confiança no terceiro de boa-fé. Mais recentemente, o TJUE fez 
explícitas referências a princípios, tais como: desenvolvimento equilibrado e 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 19 
sustentável, à melhoria da qualidade do ambiente, igualdade entre homens e 
mulheres. 
 
2ª – Princípios gerais próprios do direito comunitário: nesta categoria, 
podemos citar: solidariedade entre Estados-membros, cooperação leal, do 
equilíbrio institucional, responsabilidade comunitária dos Estados, não 
discriminação dos cidadãos dos vários Estados-membros, respeito pela 
identidade nacional dos Estados, de coesão econômica e social, da 
subsidiariedade, liberdade de pessoas e bens, da unidade e autonomia do 
direito da UE, primazia e efeito direto do direito comunitário, entre outros. 
Todos podem ser extraídos dos textos escritos do ordenamento comunitário ou 
mesmo deduzidos da natureza ou da finalidade da organização. 
 
Conclusão 
Para alguns autores, em opinião bastante respeitável, tendo em vista a 
perspectiva monista das relações entre direito internacional e direito 
comunitário, os princípios gerais do direito internacional, o direito 
consuetudinário e os tratados de direito internacional (mesmo quando a 
UE não seja parte) acabam por integrar o direito da UE, na qualidade de direito 
primário. 
 
Como você pode perceber, a assunção de uma estrutura como a União 
Europeia exige repensar toda a estrutura de fontes do direito, bem como 
estabelecer um canal amplo de diálogo entre todas as ordens jurídicas 
envolvidas no processo de formação do bloco. 
 
As relações entre os entes envolvidos só pode alcançar algum sucesso a partir 
da busca por consensos obtidos por diálogos regidos por regras democráticas, 
mas, também, pela self-restraint (autorrestrição) que cada parte envolvida deve 
exercer a fim de permitir a atuação de todos os demais envolvidos no processo, 
reconhecendo suas maiores competências e habilidades em áreas específicas. 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 20 
O importante é que a reengenharia do processo não perca de vista que o 
objetivo último é oferecer maior qualidade de vida e acesso crescente a direitos 
fundamentais a cidadãos que na UE são concomitantemente europeus e 
nacionais. O interconstitucionalismo europeu, como espécie 
transconstitucional, não pode ter outra pretensão. 
 
Atividade proposta 
Como se sabe, alguns países recusam o rótulo de “constituição” ao Tratado de 
Lisboa. Quais os argumentos que podem levar o referido Tratado, mesmo não 
sendo taxado como uma constituição sob o ponto de vista formal, a ser 
considerado sob a perspectiva “material”? 
 
Chave de resposta: Duas são as características fundantes de uma 
constituição: a organização administrativo-política e a proposição de um rol de 
direitos fundamentais. Ora, o Tratado de Lisboa, embora não seja oficialmente 
denominado “Constituição Europeia”, não apenas organiza política-
administrativamente os Estados-membros, mas estabelece um rol mínimo de 
direitos fundamentais que devem ser respeitados por todos os países 
aderentes, caracterizando, assim, uma constituição, mesmo que apenas sob o 
prisma material. 
 
Constitucionalidade: Caracteriza-se, em princípio, como um mecanismo de 
correção presente em determinado ordenamento jurídico, consistindo em um 
sistema de verificação da conformidade de um ato (lei, decreto, etc.) em 
relação à Constituição. Não se admite que um ato hierarquicamente inferior à 
Constituição confronte suas premissas, caso em que não haveria harmonia das 
próprias normas, gerando insegurança jurídica para os destinatários do sistema 
jurídico. 
 
 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 21 
Aprenda Mais 
 
 
Material complementar 
 
Para saber mais sobre as fontes do direito da União Europeia, leia o 
artigo As fontes do direito da União Europeia, disponível em 
nossa biblioteca virtual. 
 
 
Material complementar 
 
Para saber mais sobre a Constituição da União Europeia, leia o 
artigo A Constituição Europeia – Entre o Programa e a 
Norma, disponível em nossa biblioteca virtual. 
 
Referências 
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Europea. 2. ed. Torino: G. Giappichelli Editore, 2010. 
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Memorial da América Latina e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010. 
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BIN, Roberto; CARETTI. Profili costituzionali dell`Unione europea. 2. ed. 
Bologna: Il Mulino, 2005. 
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BUSTAMNTE-PÉREZ, Rogelio. História da União Europeia. Coimbra: Coimbra 
Editora, 2004. 
 
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itinerários dos discursos sobre a historicidade constitucional. Coimbra: 
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Coimbra: Almedina, 2006. 
CUNHA, Paulo de Pitta e. A Integração Europeia no Dobrar do Século. 
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HESPANHA, António Manuel. Cultura Jurídica Europeia: síntese de Um 
Milénio. Sintra: Publicações Europa-América, 2003. 
MACHADO, Jónatas E. M. Direito da União Européia. Coimbra: Coimbra 
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NEVES, Marcelo. Transconstitucionalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009. 
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Tribunal Constitucional: 35º aniversário da Constituição de 1976. (Vol. I). 
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 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 24 
Exercícios de fixação 
Questão 1 
Sobre a possibilidade de existência de uma “constituição europeia”, pode-se 
afirmar que: 
a) Não pode ser considerada tal hipótese, já que não houve uma 
Assembleia Nacional Constituinte para elaborá-la. 
b) Embora não tenha sido reconhecida formalmente, é razoável entender 
que o Tratado de Lisboa e os chamados tratados instituidores acabam 
por configurar uma Constituição em seu sentido material. 
c) A doutrina tem considerado que o Tratado de Lisboa é formal e, 
materialmente, a própria constituição europeia. 
d) Não pode ser considerada a possibilidade de uma instituição como a 
europeia possuir constituição, pois não se trata de Estado Nacional. 
 
Questão 2 
Sobre a União Europeia e os países-membros, é possível afirmar: 
a) Trata-se de um exemplo de instituição em que a relação de soberania 
entre os países permanece intacta, não havendo interferência recíproca 
entre suas ordens constitucionais. 
b) Embora possa se pensar em interferência entre ordens jurídicas dos 
países membros, não se pode pensar na existência de uma ordem 
jurídica europeia, pois isso colocaria em risco a soberania dos países. 
c) O fenômeno da interconstitucionalidade é claramente observado no 
âmbito da União Europeia, já que há influência recíproca entre as ordens 
jurídicas dos países-membros, bem como entre estes e a própria União 
Europeia. 
d) A União Europeia representou o fim das Constituições dos países-
membros, todos submetidos a uma Constituição Europeia. 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 25 
Questão 3 
São características do direito europeu, exceto: 
a) Tipicidade 
b) Autonomia 
c) Uniformidade 
d) Integração 
 
Questão 4 
Analise as assertivas abaixo: 
I – O direito primário europeu constitui o parâmetro material e formal do Direito 
Europeu. 
II – O direito primário é derivado, pois busca seu fundamento de validade no 
direito constitucional europeu. 
III – O direito primário é o conjunto de normas de direitos fundamentais 
europeus. 
IV – O direito primário europeu é considerado verdadeiro bloco de 
constitucionalidade da EU. 
São corretas as seguintes assertivas: 
a) I e II 
b) II e III 
c) I e IV 
d) II e IV 
 
Questão 5 
Analise as assertivas abaixo: 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 26 
I – A maior parte da doutrina entende que o Tratado de Lisboa representa uma 
constituição europeia, ao menos em uma perspectiva material. 
II – Mesmo interesses específicos dos países-membros podem representar 
limitações aos direitos estabelecidos pela União Europeia. 
III – Se o direito europeu influencia o direito dos países-membros da União 
Europeia, a verdade é que o direito europeu não sofre influência do direito dos 
países-membros. 
Está(ão) correta(s) a(s) seguinte(s) assertiva(s): 
a) Somente a assertiva I 
b) Somente a assertiva II 
c) Somente a assertiva III 
d) As assertivas I e II 
 
Exercícios de fixação 
Questão 1 - B 
Justificativa: Embora não seja o Tratado de Lisboa considerado uma 
constituição formal, pela ausência de concordância por parte de algumas 
populações de Estados-membros, o fato de os países-membros se submeterem 
a normas de organização da União Europeia e de direitos fundamentais 
consagradas nos diversos Tratados acaba por configurar verdadeira 
constituição, ao menos na sua definição material. 
 
Questão 2 - C 
Justificativa: Os países-membros permanecem possuindo constituições próprias, 
embora haja uma crescente influência recíproca entre elas. Por outro lado, 
temos que considerar que as normas de organização da União Europeia e os 
direitos fundamentais consagradas nos diversos Tratados configuram 
 
 TÓPICOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL 27 
verdadeira constituição (na perspectiva material) e que, entre esta e as 
constituições dos países-membros, dá-se uma relação permanente. 
 
Questão 3 - A 
Justificativa: Na verdade, a característica é a atipicidade e não o contrário. Isso 
porque o direito europeu é distinto do direito nacional e do direito internacional. 
Estão corretas as demais características (autonomia, já que possui suas 
próprias fontes, instâncias e procedimentos de interpretação e aplicação; 
uniformidade, já que o significado de suas normas não pode variar de um 
Estado-membro a outro; e Integração, já que o direito da UE deve buscar a 
integração com a ordem jurídica dos Estados-membros). 
 
Questão 4 - C 
Justificativa: O direito primário europeu é considerado o conjunto de normas 
que assume uma posição de supremacia hierárquica no quadro do direito 
comunitário, ainda que devamos entendê-lo como um direito constitucional que 
emerge, não apenas da vontade popular, mas da vontade soberana dos 
Estados. Compreende um conjunto diversificado de instrumentose princípios 
dotados de mesma posição hierárquica, sendo o seu conjunto considerado 
parâmetro de aferimento de validade de todo o direito secundário (ou mesmo o 
que chamam de direito terciário e demais instâncias normativas da UE). Tal 
bloco é composto pelos Tratados instituidores das comunidades, os protocolos 
adicionais, os atos de complementação, os atos de adesão e os princípios gerais 
do direito comunitário. 
 
Questão 5 - D 
Justificativa: A única assertiva errada é a terceira, já que, da mesma forma 
como há influência do direito europeu sobre o direito dos países-membros, as 
jurisprudências estabelecidas pelos países-membros influenciam a 
jurisprudência e a produção legislativa da União Europeia.

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