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A StuDocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade Direito da União Europeia – Resumos Direito da União Europeia A/B/C/D (Universidade Catolica Portuguesa) A StuDocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade Direito da União Europeia – Resumos Direito da União Europeia A/B/C/D (Universidade Catolica Portuguesa) Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos https://www.studocu.com/pt/document/universidade-catolica-portuguesa/direito-da-uniao-europeia-abcd/resumos/direito-da-uniao-europeia-resumos/4938037/view?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos https://www.studocu.com/pt/course/universidade-catolica-portuguesa/direito-da-uniao-europeia-abcd/3404277?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos https://www.studocu.com/pt/document/universidade-catolica-portuguesa/direito-da-uniao-europeia-abcd/resumos/direito-da-uniao-europeia-resumos/4938037/view?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos https://www.studocu.com/pt/course/universidade-catolica-portuguesa/direito-da-uniao-europeia-abcd/3404277?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos Direito da União Europeia – Exame 02/06/2017 Introdução – Do Tratado da Comunidade ao Tratado de Lisboa A Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), criada no Tratado de Paris (1951) por seis Estados (Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo), marca o início da cooperação político-económica entre os países europeus. Destinada a vigorar 50 anos (2002), nasceu da necessidade de se garantir a paz numa Europa destruída, auxiliando a reconstrução da Alemanha e promovendo a sua reconciliação, principalmente, com a França, prevenindo, assim, novas ameaças e promovendo valores que caraterizam a atual União (artigos 2º e 3º, TUE). Por outro lado, com o Tratado CECA é aplicado o método de integração funcionalista (método comunitário), isto é, promove-se a integração económica num domínio limitado – carvão e aço -, mas fundamental. Neste processo os limites ou transferências de soberania eram apenas mínimos. Foram adotados mais dois tratados: os Tratados de Roma (1957), criando a Comunidade Europeia de Energia Atómica (CEEA) e a Comunidade Económica Europeia (CEE), com a participação dos mesmos seis Estados. Passaram a existir três Comunidades na Europa, com órgãos distintos, salvo o Parlamento Europeu e o Tribunal de Justiça, comuns às três. Em 1965, o Tratado de Bruxelas fundiu as instituições, surgindo um único Conselho e uma única Comissão nas três Comunidades. Em 1987, entrou em vigor o Ato Único Europeu, que estabeleceu 31 de Dezembro de 1992 como data limite para a conclusão de um mercado único, no espaço europeu, no interior do qual deve ser assegurada a livre circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais. O Ato Único Europeu alterou tratados anteriores, tendo introduzido no Tratado CEE novas políticas comunitárias, regras relativas à cooperação política europeia e são operadas reformas no plano institucional. Em 1993, entrou em vigor o Tratado de Maastricht (ou Tratado da União Europeia), que criou uma União Europeia assente em três pilares e num quadro institucional único. O primeiro pilar pressupõe que a Comunidade Europeia (CEE) vai coexistir com a União Europeia; o segundo pilar abrangia a Política Externa e de Segurança Comum (PESC); e o terceiro pilar referia-se à Cooperação no Domínio da Justiça e Assuntos Internos (JAI), estabelecendo mecanismos de cooperação intergovernamental. A par destas novidades, foram introduzidas várias alterações ao Tratado da Comunidade Europeia (TCE): foi criado o estatuto da cidadania europeia; introduzido o processo de codecisão, processo em que o poder legislativo é partilhado entre o Conselho e o Parlamento Europeu; foram ampliadas as competências do Parlamento Europeu, como, por exemplo, o direito de petição; foram alargados os casos em que o Conselho decide por maioria qualificada; foram desenvolvidas políticas comunitárias existentes e introduzidas novas, como, por exemplo, no domínio da educação; e previu-se a criação de uma União Económica e Monetária que conduzisse a uma moeda única e a um Banco Central Europeu. Por fim, o TUE previu a realização de uma conferência intergovernamental que procedesse à revisão do Tratado, o que se sucedeu com o Tratado de Amsterdão, em 1997, cujas dificuldades no processo adiaram a sua entrada em vigor para 1999. O Tratado de Amsterdão renumerou os artigos dos tratados anteriores. Além disso, previu a possibilidade de o Conselho sancionar um Estado infrator de valores fundamentais em que assenta a União, suspendendo os seus direitos de voto no seio do Conselho (artigo 7º, TUE). Reduziu o terceiro pilar à cooperação policial e judiciária em matéria penal e criou um novo título, relativo aos vistos, asilo, imigração e outras políticas ligadas à livre circulação de pessoas. Além disso, o acervo de Schengen, acordos que visam garantir a livre circulação das pessoas, foi integrado através de um protocolo anexo. Finalmente, o Tratado de Amsterdão desenvolveu e modificou a PESC, introduziu o conceito de Europa de geometria variável ou a Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos duas velocidades, na medida em que permite que alguns Estados avancem mais rapidamente no processo de integração europeia, instituindo entre si uma cooperação reforçada. Dada a necessidade de reformar as instituições da União, de modo a permitir a adesão de doze novos Estados, foi assinado, em 2001, o Tratado de Nice, que entrou em vigor em 2003. Entre as principais modificações, destacam-se as seguintes: redução dos casos de votação por unanimidade e alargamento das matérias sujeitas a votação por maioria qualificada; fixação de um número máximo de deputados no Parlamento Europeu, o qual viu ampliadas as suas competências; limitação do número de comissários, prevendo-se a instauração de um sistema de rotação; reforço das competências do presidente da Comissão; e o processo de cooperação reforçada passou a estar previsto nos três pilares, com alterações. Apesar destas alterações, a reforma das instituições ficou aquém das expectativas. Só com a assinatura do Tratado de Lisboa, em 2007, foi dado um novo impulso ao processo de integração europeia. O Tratado de Lisboa, em vigor em 2009, teve por objetivo aumentar a legitimidade democrática da União Europeia e reforçar a sua eficácia e coerência no plano das relações externas. Para o efeito, introduziu alterações ao TUE e ao TCE, redenominado TFUE, destacando-se as seguintes: é dissolvida a estrutura tripartida da União; a União passa a dispor de personalidade jurídica, aderindo à Convenção Europeia dos Direitos do Homem; é atribuída à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia o mesmo valor jurídico dos Tratados; é concedida aos Estados-membros a possibilidade de se retirarem da União e opera-se a renovação de algumas competências das instituições europeias, sendo expandida e consolidada a sua capacidade de atuação.Quando à questão da (dupla) legitimidade da União, esta funda-se numa união de Estados e de cidadãos (artigo 1º, TUE). Há, pois, uma dupla legitimidade da União, que obriga a equilíbrios institucionais, designadamente entre o Conselho e o Parlamento. Por um lado, os Estados atribuem competências à União (artigo 5º, TUE) e pretendem ser tratados de forma igual (regra da unanimidade). Por outro lado, os cidadãos passam a estar no centro do direito da União, como transparece a jurisprudência do Tribunal, quando estabelece que a cidadania europeia deve ser considerada o estatuto fundamental dos cidadãos dos Estados-Membros. Com o Tratado de Lisboa procurou reforçar-se a legitimidade da União, clarificando a repartição de competências entre os Estados e a União, uma vez que o TFUE passou a incluir um elenco de competências exclusivas (artigo 3º), competências partilhadas ou concorrentes (artigo 4º) e “competência para desenvolver ações destinadas a apoiar, coordenar ou completar a ação dos Estados-Membros” (artigo 6º), e alargando a proteção dos cidadãos europeus, designadamente, através da atribuição de caráter obrigatório à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Além dos seis Estados-membros fundadores, aderiram às Comunidades, hoje União, os seguintes Estados: em 1973, o Reino Unido e a Irlanda; em 1981, a Grécia; em 1986, Portugal e Espanha; e em 1995, a Áustria, a Suécia e a Finlândia. Em 2004, deu-se o grande alargamento: Malta, Chipre, Polónia, Hungria, Eslováquia, República Checa, Eslovênia, Estónia, Letónia e Lituânia. Em 2007, aderiram a Roménia e Bulgária e, em 2013, a Croácia aderiu à União. Em aberto continua a discussão quanto à natureza da União Europeia, porque se persiste em partir da contraposição entre Federação e Confederação. São apontadas as seguintes diferenças: (1) a Confederação nasce de um tratado internacional, enquanto a Federação funda-se numa constituição; (2) a Confederação é uma organização internacional, uma associa- ção de Estados soberanos, enquanto numa Federação as entidades federadas perdem parte dos seus poderes soberanos; (3) os Estados podem retirar-se da Confederação, ao contrário do que se passa numa Federação; (4) as instituições na Confederação são geralmente constituídas por representantes dos governos associados, que se reúnem periodicamente, ao passo que as instituições federais têm caráter permanente; (5) as decisões da Confederação são geralmente votadas por unanimidade, já o direito federal segue, em princípio a regra da maioria; (6)o Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 direito confederal não tem primazia sobre os direitos dos Estados e tem de ser recebido nesses ordenamentos, enquanto o direito federal prevalece sobre o das entidades federadas e é diretamente aplicável; (7) o orçamento da Confederação resulta das contribuições voluntárias dos Estados, enquanto o próprio Estado federal tem um orçamento próprio; (8) os conflitos de competências são regulados num Estado federal pelo Tribunal Federal, ao passo que numa Confederação as soluções serão interestaduais; (9) nas Confederações as normas têm como destinatários apenas os Estados, ao passo que nas Federações as normas federais podem ser invocadas pelos cidadãos. Nesta perspetiva, a União Europeia apresenta caraterísticas tanto de uma Federação como uma Confederação. Assemelha-se a uma Federação, pois tem instituições permanentes, a interpretação e apreciação de validade das normas é da competência exclusiva do Tribunal de Justiça, as normas da União podem ter efeito direto e têm primazia sobre o direito dos Estados-Membros e a União dispõem de um orçamento próprio. No entanto, compara-se a uma Confederação, na medida em que os Tratados da União só podem ser revistos por unanimidade, os Estado-Membros têm o direito de se retirar da União e o orçamento é limitado. Parte I – Quadro Institucional da União Europeia 1. Fontes de Direito da União Europeia e Processos de Decisão A doutrina distingue entre direito primário ou originário e direito derivado ou secundário. O direito primário abrange as disposições dos Tratados iniciais e as dos Tratados que os alteraram, os protocolos e anexos aos Tratados e a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Os Tratados, TUE e TFUE, têm o mesmo valor jurídico (artigo 1º, TFUE) e encontram-se no topo da hierarquia das normas. O TUE institui a União Europeia, que substitui e sucede à Comunidade Europeia (artigo 1º, TUE), e contém disposições relativas aos princípios democráticos, instituições, cooperações reforçadas, ação externa da União e política externa e de segurança comum. Já o TFUE “organiza o funcionamento da União e determina os domínios e as regras de exercício das suas competências” (artigo 1º/1, TFUE). O valor hierarquicamente superior dos Tratados resulta dos artigos 19º, do TUE, e 263º, do TFUE, que conferem ao Tribunal competência para anular os atos das instituições que violem os Tratados, bem como do artigo 218º/11, do TFUE, que permite ao Tribunal apreciar a compatibilidade de um projeto de acordo internacional com os Tratados. O artigo 218º do TFUE estabelece, assim, o procedimento regra a seguir pela União quando celebra acordos internacionais com Estados terceiros ou organizações internacionais. A existência de disposições incompatíveis nas Convenções, celebradas anteriormente entre os Estados-Membros e Estados terceiros, com os Tratados da União deve ser eliminadas (artigo 351º, TFUE). Se tais Convenções são posteriores à entrada em vigor dos Tratados, não poderão ser invocadas e os Estados infratores poderão ser alvo de uma ação por incumprimento. Além dos Tratados, o direito originário integra a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que se tornou obrigatória com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Por fim, importa referir os princípios gerais de direito da União que, apesar de os Tratados não lhes fazerem menção expressa, exceto no artigo 340º do TFUE, foram sendo construídos pela jurisprudência do Tribunal a partir de princípios comuns aos Estados-Membros, tendo alguns deles sido incorporados no texto dos próprios Tratados, como, por exemplo, o artigo 5º do TUE relativo ao princípio da subsidiariedade. Numa posição hierarquicamente inferior aos Tratados, mas superior aos atos unilaterais das instituições, encontram-se os acordos internacionais, como resulta dos artigos 216º/2 e 218º/11, do TFUE. Na base da pirâmide hierárquica das fontes de Direito da União está o direito derivado ou secundário, que corresponde aos atos unilaterais adotados pelas instituições da União, Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos previstos nos Tratados. O artigo 13º do TUE consagra o princípio das competências atribuídas, nos termos do qual as instituições da União só podem adotar os atos unilaterais quando tal competência esteja prevista nos Tratados. A partir da entrada em vigor do Tratado de Lisboa, o artigo 288º to TFUE refere como atos típicos de direito derivado, os regulamentos, as diretivas e as decisões, vistos como atos vinculativos, e ainda as recomendações e pareceres, referidos como atos não vinculativos. A estes acrescem os atos atípicos, como, por exemplo, comunicações ou declarações. O regulamento da União visa uniformizar a legislação dos Estados e corresponde, num paralelismo, à lei dos Estados-Membros. Trata-se de um ato normativo geral e abstrato, que se aplica a categorias abstratas de pessoas, determinadas a partir de critérios objetivos, e tem efeitos erga omnes. É obrigatório em todos os seus elementos, não podendo ser aplicado de forma incompleta ou seletiva pelosEstados-Membros. E é diretamente aplicável em todos os Estados-Membros, isto é, aplica-se de forma simultânea e uniforme em toda a União, sem ser necessária a sua receção pelo direito interno. As diretivas são atos sui generis, que visam harmonizar a legislação do Estados- Membros, os seus destinatários. Assim, as diretivas obrigam quanto ao resultado a alcançar, deixando liberdade aos Estados-Membros quanto à forma e meios de transposição para o direito interno. No ordenamento português, as diretivas têm de ser transpostas por lei, decreto- lei ou decreto-legislativo regional (artigo 112º/8, CRP). Por outro lado, muitas diretivas são detalhadas e precisas, reduzindo a margem de apreciação dos Estados. Neste casos, se a diretiva não for transposta no prazo e contiver disposições que atribuam direitos aos particulares, poderão ser invocados por estes contra o Estado num tribunal nacional (princípio do efeito direto vertical das diretivas, afirmado, nomeadamente, nos acórdãos Van Duyn [41/74] e Ratti [148/78]); isto, sem prejuízo de, no plano da União, a Comissão intentar uma ação por incumprimento contra o Estado, no Tribunal de Justiça (artigo 258º, TFUE). As decisões da União abrangem atos individuais, obrigatórios em todos os seus elementos, para os destinatários visados – Estados-Membros ou particulares. As recomendações e os pareceres não são vinculativos, pelo que, em princípio, não po- dem ser objeto de recurso para os tribunais da União. As recomendações convidam geralmente à adoção de um certo comportamento, ao passo que os pareceres são opiniões sobre os mais diversos assuntos, adotados geralmente no contexto de um procedimento de decisão da União. É preciso ter em conta que certos pareceres são vinculativos, no sentido que sendo dado um parecer negativo o ato não pode ser adotado (por exemplo, artigos 218º/11, TFUE, e 49º, TUE). Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, foi ainda introduzida a distinção entre atos legislativos, delegados e de execução. Nos termos do artigo 289º do TFUE, “os atos jurídicos adotados por processo legislativo constituem atos legislativos” e existem dois processos de adoção de atos legislativos: o processo legislativo ordinário e os processos legislativos especiais. O processo legislativo ordinário, previsto no artigo 249º do TFUE, é o processo regra e corresponde ao processo de codecisão, no qual para a adoção do ato é necessária a concordância de duas instituições: Parlamento Europeu e Conselho da União Europeia. O processo legislativo ordinário abrange várias fases. Começa com uma proposta da Comissão apresentada ao Parlamento Europeu e ao Conselho. A Comissão detém, deste modo, praticamente, o monopólio da iniciativa legislativa, devendo a proposta ser devidamente fundamentada, ou seja, a Comissão tem de explicar a necessidade do ato, a escolha do tipo de ato e a adequação da medida proposta. Por outras palavras, a Comissão deve respeitar, nomeadamente, o princípio da subsidiariedade e proporcionalidade (artigo 5º, TUE). Em seguida, numa primeira leitura, o Parlamento Europeu estabelece a sua posição e, se o Conselho aprovar, o ato é adotado. Todavia, se o Conselho não aprovar, adota a sua posição e transmite-a ao Parlamento Europeu, sendo ainda informado da posição da Comissão. Em segunda leitura, e no prazo de três meses, o Parlamento Europeu pode: (1) aprovar a posição do Conselho, ou não pronunciar-se, o ato é adotado; (2) rejeitar a posição do Conselho e o ato não é adotado; (3) propor emendas à posição do Conselho em primeira leitura, sendo Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 ouvida a Comissão sobre o texto alterado. Depois, o Conselho, em segunda leitura, pode: (1) aprovar as emendas e considera-se o ato adotado, devendo o Conselho votar por unanimidade se a Comissão tiver dado parecer negativo sobre as emendas introduzidas pelo Parlamento Europeu; (2) não aprova as emendas e é convocado o Comité de Conciliação. Em seguida, o Comité de Conciliação procura, num prazo de seis semanas, chegar a acordo sobre um projeto comum, sendo que, se não o conseguir, o ato não é adotado. Todavia, se apresentar tal projeto comum, é realizada uma terceira leitura pelo Parlamento Europeu e Conselho, sendo o ato adotado se chegarem a acordo. Os processos legislativos especiais, por seu turno, abrangem, designadamente, os casos em que o Conselho decide sozinho, geralmente depois da consulta ou da aprovação do Parlamento Europeu, vendo-se como exemplo a adesão de novos Estados (artigo 49º, TUE) ou a adoção de medidas para combater a discriminação (artigo 19º/1, TFUE). Além destes, temos os processos legislativos especiais em que o Parlamento Europeu é o único a decidir, depois do parecer ou aprovação da Comissão ou aprovação do Conselho; são, por exemplo, os casos em que adota regulamentos para estabelecer o estatuto e as condições gerais de exercício das funções dos deputados europeus (artigo 223º, TFUE), regulamenta as regras de exercício do direito de inquérito (artigo 226º, TFUE) e regulamenta o estatuto e as condições de exercício das funções do Provedor de Justiça (artigo 228º, TFUE). Por contraposição, são atos não legislativos os adotados pelos Conselhos ou pela Comissão fora dos ditos processos legislativos, como, por exemplo, nomeações de órgãos, etc.. O artigo 290º refere a categoria de atos delegados, que podem ser adotados pela Comis- são. Quanto aos atos de execução, o artigo 291º/1 do TFUE estabelece que “os Estados- Membros tomam as medidas de direito interno necessárias à execução dos atos juridicamente vinculativos da União”. Na União, a competência de execução cabe, em primeiro lugar, à Comissão, e só excecionalmente ao Conselho. Por fim, o elenco das fontes de direito da União fica incompleto sem referência à jurisprudência do Tribunal de Justiça. Este procede, nos termos do artigo 267º do TFUE, à interpretação de todo o Direito da União, apreciando ainda a validade do direito derivado, e dessa forma define o sentido e alcance de tal direito, prosseguindo uma função quase legislativa. 2. As instituições da União Europeia São sete as instituições da União, nos termos do artigo 13º/1 do TUE. 2.1. Parlamento Europeu (artigo 14º, TUE) O Parlamento Europeu é composto por representantes dos cidadãos da União, eleitos por um mandato de cinco anos (artigo 14º/2 e 3, TUE), por sufrágio universal direto. O número de deputados ao Parlamento Europeu não pode ser superior a setecentos e cinquenta e um, inclu- indo o Presidente, e varia entre seis e noventa e seis membros por Estado, sendo a sua composição fixada, por unanimidade, de forma degressivamente proporcional pelo Conselho Europeu (artigo 14º/2, TUE). Os deputados reúnem-se em grupos políticos constituídos em formato de partidos políticos europeus, segundo a respetiva afinidade ideológica, sendo o voto exercido individualmente e a título pessoal, não estando os deputados sujeitos a quaisquer ordens ou instruções. O Parlamento Europeu exerce, juntamente com o Conselho, a função legislativa e a função orçamental. Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, o processo de aprovação do orçamento foi simplificado, nos termos do artigo 312º a 314º do TFUE. No plano legislativo, o Parlamento Europeu viu reforçado o seu poder normativo, adquirido com a criação do processo de codecisão, enquanto o Conselho foi, deste modo, perdendo o domínio do processo legislativo, uma vez que doravante a generalidade dos atos apenas serão adotados com a concordância das duas instituições. De facto, o processo de codecisão, redenominado processo legislativo ordinário (artigo 294º, TFUE), passou a ser a regra, solução que permite sedimentar o caráter democrático da legislação europeia. Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com)lOMoARcPSD|7662024 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos O Parlamento exerce ainda um controlo político sobre a Comissão, isto é, coloca-lhe questões, fiscaliza a sua atividade executiva e pode mesmo demiti-la, votando uma moção de censura (artigos 230º e 234º, TFUE). Desenvolve funções consultivas, nomeadamente no âmbito da política externa e de segurança comum, quanto aos seus principais aspetos e opções fundamentais (artigo 36º, TUE) e pode ser necessária a sua aprovação quanto à celebração de acordos internacionais (artigo 218º/6/a, TFUE) e no processo de adesão de novos Estados (artigo 49º, TUE). Finalmente, o Parlamento Europeu pode adotar o seu regimento (artigo 232º, TFUE), constituir comissões de inquérito temporárias para analisar “alegações de infração ou de má administração na aplicação do direito da União” (artigo 226º, TFUE), receber petições “sobre qualquer questão que se integre nos domínios de atividade da União e lhe diga diretamente respeito” (artigo 227º, TFUE), eleger o Provedor de Justiça (artigo 228º, TFUE), interpor recursos de anulação e intentar ações de omissão para garantir o cumprimento do direito da União Europeia (artigos 263º e 265º, TFUE), submeter ao Conselho projetos de revisão dos Tratados (artigo 48º, TUE) r vetar atos delegados ou mesmo revogar a delegação (artigo 290º, TFUE). Em suma, baseando-se o funcionamento da União na democracia representativa (artigo 10º, TUE), o Parlamento Europeu assegura que “os cidadãos europeus estão diretamente representados ao nível da União”. Aos Parlamentos Nacionais é confiado o desempenho de várias tarefas. Nos termos do artigo 12º do TUE, os Parlamentos Nacionais participam no processo de revisão dos Tratados (artigo 48º, TUE), são informados do pedido de adesão de novos Estados (artigo 49º, TUE), participam na cooperação interparlamentar entre os Parlamentos Nacionais e o Parlamento Europeu (Protocolo n.º 1) e podem vetar o uso de passarelas da regra de votação da unanimidade para a maioria qualificada e do processo legislativo especial para o processo legislativo ordinário (artigos 48º/7, TUE, e 81º/3, TFUE). Mas, a tarefa mais importante é a de atuarem como vigilantes ex ante do princípio da subsidiariedade, garantindo que as decisões são adotadas ao nível mais próximo das populações (artigo 12º/b e 5º, TUE). A Comissão envia diretamente aos Parlamentos Nacionais os seus documentos de consulta e os projetos de atos legislativos (Protocolo n.º 1), podendo os Parlamentos Nacionais invocar o sistema de alerta precoce, isto é: no prazo de oito semanas a contar do envio do projeto, os Parlamentos podem formular um parecer fundamentado sobre a inobservância do princípio da subsidiariedade (Protocolo n.º 2). Se o parecer representar pelo menos um terço dos votos atribuídos aos Parlamentos Nacionais (19), ou de um quarto (14) nos domínios de liberdade segurança e justiça, ou maioria simples no quadro do processo legislativo ordinário (29), o projeto deve ser reanalisado (artigo 7º, Protocolo n.º 2). Assim, é contemplada no direito primário a possibilidade de os parlamentos Nacionais obrigarem ao reexame de um projeto de ato legislativo, ainda que nos dois primeiros seja o autor do projeto do ato legislativo a decidir se este deve ser ou não mantido (procedimento de cartão amarelo), ao passo que, na terceira hipótese, se a Comissão decidir manter a proposta, a decisão final é transferida para o legislador da União (Parlamento Europeu e Conselho) que a pode manter ou não (procedimento de cartão laranja). 2.2. Conselho Europeu (artigo 15º, TUE) Apesar de não exercer a função legislativa, são as conclusões do Conselho Europeu que geralmente definem o quadro, no âmbito do qual as outras instituições irão adotar medidas concretas. O Conselho Europeu reúne-se duas vezes por semestre e é composto pelos Chefes de Es- tado ou de Governo dos Estados-Membros, pelo seu Presidente e pelo Presidente da Comissão, participando ainda nos seus trabalhos o Alto Representante da União para os Negócios Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 Estrangeiros e a Política de Segurança (estes não votam no Conselho Europeu, nos termos do artigo 235º/1 do TFUE). O Conselho Europeu tem por missão definir “as orientações e prioridades políticas gerais da União” (artigo 15º, TUE), as “orientações gerais da política externa e de segurança comum” incluindo matérias “com implicações no domínio da defesa” (artigo 26º, TUE), bem como as “orientações estratégicas da programação legislativa e operacional no espaço de liberdade, segurança e justiça” (artigo 68º, TFUE). Pode ainda ser solicitada a intervenção do Conselho Europeu com vista a obtenção de consenso, designadamente no domínio da segurança social e da cooperação judiciária em matéria penal, sempre que um membro do Conselho considere que o projeto de ato legislativo prejudica aspetos fundamentais do seu ordenamento jurídico (artigos 48º, 82º e 83º, TFUE). Além disso, o Conselho Europeu, com base em relatórios do Conselho, adota conclusões sobre as orientações gerais das políticas económicas dos Estados-Membros e da União (artigo 121º, TFUE) e sobre a situação do emprego da União (artigo 148º, TFUE). Avalia, ainda, periodicamente as ameaças com que a União se depara (artigo 222º, TFUE) e participa nos processos de revisão dos Tratados (artigo 48º, TUE) e de adesão de novos Estados (artigo 49º, TUE). Finalmente, compete ao Conselho Europeu estabelecer a lista de formações do Conselho (artigo 236º, TFUE), fixar o sistema de rotação para escolha dos membros da Comissão (artigo 244º, TFUE), nomear a Comissão Europeia (artigo 17º, TUE) e a Comissão Executiva do Banco Central Europeu (artigo 283º, TFUE), permitir que a regra de votação do Conselho por unanimidade em certos casos passe a maioria qualificada (artigo 312º, TFUE) e alterar o regime especial de associação aplicável a certos países e territórios ultramarinos (artigo 355º, TFUE). Com os sucessivos alargamentos e a necessidade de ser garantida continuidade à estratégia europeia, os Estados-Membros defenderam a eleição de um Presidente do Conselho Europeu, com poderes acrescidos, que representasse externamente a União no âmbito da Política Externa e da Segurança Comum. Esta foi a solução seguida no Tratado de Lisboa. Assim, o Presidente do Conselho Europeu, eleito por maioria qualificada, por um mandato de dois anos e meio, renovável uma vez, garante a continuidade da atividade do Conselho Europeu, mantém a cooperação com as outras instituições, informando-as devidamente dos assuntos debatidos nas reuniões, e assegura a representação externa da União no domínio da Política Externa e de Segurança Comum (artigo 15º, TUE). Simultaneamente, foi criada a figura do Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, com a missão de representar a União no plano internacional. O Alto Representante é nomeado pelo Conselho Europeu, por maioria qualificada, com o acordo do Presidente da Comissão (artigo 18º, TUE), sendo apoiado no desempenho das suas funções por um serviço europeu para a ação externa (artigo 27º, TUE). O Alto Representante tem como missão conduzir a PESC da União (artigo 18º, TUE), dando voz à União no contexto internacional; e nesse domínio emite pareceres (artigo 329º, TFUE), apresenta propostas (artigos 215º, 218º e 222º, TFUE) e recomendações (artigo 218º, TFUE) e assegura ligações com outras organizações internacionais (artigo 220º, TFUE). Além disso, é mandatário do Conselho no que se refere à Política Comum de Segurança e Defesa (PCSD), que é abrangido pelo PESC (artigo 42º, TUE), preside ao Conselho dos Negócios Estrangeiros e é um vice-presidenteda Comissão, incumbindo-lhe assegurar a unidade e coerência da ação externa da União. 2.3. Conselho da União Europeia (artigo 16º, TUE) O Conselho, instituição que representa os interesses dos Estados-Membros na União, a par do Conselho Europeu, é composto “por um representante de cada Estado-Membro ao nível ministerial, com poderes para vincular o Governo do respetivo Estado-Membro e exercer o direito de voto” e “reúne-se por convocação do seu Presidente, por iniciativa deste, de um dos seus membros ou da Comissão” (artigo 237º, TFUE), sendo as reuniões públicas quando versem sobre um projeto de ato legislativo. Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos A composição do Conselho varia em função dos assuntos a tratar, podendo, deste modo, apresentar várias formações. O artigo 16º/6 do TUE impõe a existência de duas formações – o Conselho de Assuntos Gerais e o Conselho dos Negócios Estrangeiros -, sendo a lista de outras formações adotada pelo Conselho Europeu segundo o artigo 236º do TFUE. Auxiliam o Conselho, no desempenho das suas tarefas, o COREPER (artigo 240º/1, TFUE) e um Secretário-Geral (artigo 240º/2, TFUE) com competências para desempenhar tarefas sobretudo de índole administrativa. O Conselho exerce, juntamente com o Parlamento Europeu, a função legislativa, através do procedimento legislativo ordinário (artigo 294º, TFUE), e a função orçamental (artigo 16º/1, TUE), competindo-lhe igualmente definir e coordenar as políticas nos termos dos Tratados (nomeadamente, artigo 121º, TFUE). Além deste procedimento, o TFUE estabelece o recurso a processos legislativos especiais, isto é, processos conducentes à adoção de um regulamento, diretiva ou decisão pelo Parlamento Europeu com a participação do Conselho ou deste com a participação do Parlamento (artigo 289º/2, TFUE). Refira-se, a título de exemplo, o artigo 352º do TFUE, que permite ao Conselho colmatar eventuais lacunas do TFUE, o artigo 19º do TFUE, relativo à aplicação do princípio da não discriminação, o artigo 308º do TFUE, sobre a alteração do Banco Europeu de Investimento pelo Conselho, o artigo 311º do TFUE, sobre o sistema de recursos próprios da União, e o artigo 314º do TFUE, no contexto da elaboração do orçamento da União. Os atos adotados por processo legislativo são designados, à luz do artigo 289º/3 do TFUE, como atos legislativos e podem delegar na Comissão o poder de adotar atos não legislativos de alcance geral (artigo 290º/1, TFUE). O Tratado de Lisboa, deste modo, introduziu a distinção entre atos legislativos e não legislativos. Para o desempenho das suas funções , nomeadamente legislativas, o Conselho delibera geralmente por maioria qualificada e, pontualmente, por maioria simples ou unanimidade. De acordo com os artigos 16º/4 do TUE e 238º/2 do TFUE, a maioria qualificada é uma “dupla maioria”, isto é, corresponde a, pelo menos, 55% dos membros do Conselho (16), devendo estes representar Estados-Membros que reúnam, no mínimo, 65% da população da União. A minoria de bloqueio deve ser composta por, pelo menos, quatro Estados que representem mais de 35% da população da União. Quanto o Conselho não delibere sob proposta da Comissão ou do Alto Representante, a maioria qualificada deve corresponder, no mínimo, a 72% dos membros do Conselho (21), representando Estados que reúnam, pelo menos, 65% da população da União. Na hipótese de nem todos os membros do Conselho participarem na votação aplica-se o disposto no artigo 238º/3 do TFUE. O Conselho tem ainda competências para participar no processo de celebração de acor- dos internacionais (artigo 218º, TFUE), autorizar as cooperações reforçadas que os Estados- Membros desejem instituir entre si para reforçar o processo de integração europeia (artigo 20º, TUE e artigos 326º a 334º do TFUE), receber os projetos de revisão dos Tratados (artigo 48º/2, TUE) e os pedidos de adesão de novos Estados-Membros, devendo, neste último caso, atender aos critérios de elegibilidade aprovados pelo Conselho Europeu (artigo 49º, TUE). Além disso, cabe ao Conselho verificar o risco de violação dos valores referidos no artigo 2º do TUE e sancionar os Estados por esse facto (artigo 7º, TUE), bem como celebrar, por maioria qualificada, o acordo de saída de um Estado que pretenda retirar-se da União (artigo 50º, TUE). Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, transformou-se o Conselho numa “segunda câmara legislativa”. No regime anterior, existia vários obstáculos à consideração do Conselho como uma verdadeira “câmara legislativa”: as suas reuniões eram secretas, não era uma instituição eleita diretamente, nem estava sujeita ao controlo parlamentar. Com o Tratado de Lisboa, são consagradas algumas soluções que respondem, em parte, às preocupações enunciadas. Com o artigo 16º/8 do TUE, foi possibilitada as reuniões do Conselho serem tornadas públicas, permitindo aos seus eleitores conhecer a posição dos seus representantes, os quais passam a assumir responsabilidade pelas votações efetuadas – Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 princípio da transparência. Por outro lado, a possibilidade de os Parlamentos Nacionais fiscalizarem a priori o princípio da subsidiariedade, obrigando as várias instituições, incluindo o Conselho, a comunicar os respetivos projetos legislativos, reforça o controlo parlamentar sobre o processo legislativo europeu. 2.4. Comissão Europeia (artigo 17º, TUE) A Comissão Europeia é a instituição que representa os interesses da União, como disposto no artigo 17º/1 do TUE. A partir de 1 de Novembro de 2014, a Comissão é composta por um número de membros, incluindo o seu Presidente e o Alto Representante, correspondente a dois terços do número dos Estados-Membros. No entanto, deliberando por unanimidade, o Conselho Europeu alterou o número para equivalente ao número de Estados (artigo 17º/4 e 5, TUE). Quanto à designação da Comissão, o Tratado de Lisboa mantém o duplo grau de legitimi- dade democrática, ao envolver neste processo os Conselhos e o Parlamento Europeu. O processo, estabelecido no artigo 17º/7 do TUE, desenrola-se nos seguintes termos: (1) O Conselho Europeu, tendo em conta as eleições para o Parlamento Europeu, e deliberando por maioria qualificada, propõe ao Parlamento Europeu um candidato ao cargo de Presidente da Comissão; (2) O candidato é eleito pelo Parlamento Europeu por maioria dos membros que o compõem; (3) O Conselho e o Presidente eleito adotam, de comum acordo, a lista dos possíveis comissários, com base nas sugestões dos Estados; (4) O Presidente, o Alto Representante e os restantes membros da Comissão são sujeitos a um voto de aprovação do Parlamento; (5) A Comissão é nomeada pelo Conselho Europeu deliberando por maioria qualificada. A Comissão atua colegialmente, deliberando por maioria (artigo 250º/1, TFUE), sob a orientação do seu Presidente, que representa a Comissão, determina a sua organização interna, convoca reuniões, nomeia vice-presidentes e distribui as responsabilidades da Comissão pelos seus membros (artigos 17º/6 do TUE e 248º do TFUE). Quanto às suas competências, a Comissão tem, nos termos do artigo 17º do TFUE, “funções de coordenação, de execução e de gestão”, cabendo-lhe a execução do orçamento e a gestão dos programas. Acresce, atualmente, a possibilidade prevista no artigo 291º/2 do TFUE, de os Estados-Membros conferirem competências de execução à Comissão, isto é, estão em causa apenas poderes de execução e o exercício desses poderes pela Comissão é obrigatório, uma vez verificada a condição enunciada no Tratado: necessidade decondições uniformes de execução desses atos. Além disso, a Comissão assegura a representação externa da União (artigo 17º, TUE), negoceia acordos com países terceiros ou organizações internacionais (artigo 207º/3, TFUE), toma a iniciativa da programação anual e plurianual da Comissão para obter acordos interinstitucionais (artigo 295º, TFUE) e vela pela aplicação do direito da União. De facto, a Comissão Europeia detém amplos poderes de fiscalização relativamente aos Estados (pode, por exemplo, intentar uma ação por incumprimento contra o Estado infrator do direito da União [artigos 258º a 260º, TFUE] e, quando tal ação tiver por fundamento o incumprimento da obrigação de transposição de uma diretiva da União, pode obter a condenação do Estado infrator no pagamento de uma quantia fixa ou de uma sanção pecuniária compulsória, sem necessitar de intentar uma segunda ação por incumprimento contra esse Estado), a outras instituições comunitárias (pode intentar ações de omissão ou recursos de anulação contra atos das instituições que violem o direito da União [artigos 263º e 265º, TFUE]) e a particulares (pode proceder às verificações necessárias [artigo 284º, TFUE] aplicar sanções, especialmente no domínio da concorrência [artigos 101º e 102º, TFUE]). Finalmente, a Comissão Europeia detém o poder de iniciativa legislativa quanto aos atos legislativos da União, podendo alterar a proposta a todo o tempo, ao contrário do Conselho que, em princípio só pode fazê-lo por unanimidade (artigo 293º, TFUE). A apresentação das propostas pode ser feita por iniciativa da Comissão, a pedido do Parlamento Europeu (artigo 225º, TFUE) ou do Conselho (artigo 241º, TFUE) e, na hipótese de Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos não apresentar a proposta solicitada, a Comissão é obrigada a informar a instituição requerente dos motivos para tal. Em certas situações, a iniciativa legislativa é atribuída a outras instituições ou órgãos da União: Parlamento Europeu (artigos 223º/2, 226º e 228º/4, TFUE), Tribunal de Justiça (artigo 257º, TFUE), Banco Central Europeu (artigo 129º, TFUE) ou Banco Europeu de Investimento (artigo 308º, TFUE). Além destes, podem pedir à Comissão para apresentar propostas os Estados-Membros e os cidadãos da União. Os Estados-Membros que pretendam instituir uma cooperação reforçada num dos domínios dos Tratados devem, nos termos do artigo 329º do TFUE, dirigir um pedido nesse sentido à Comissão (ou ao Conselho, se essa cooperação for no âmbito da PESC), e podem propor atos no quadro da cooperação judiciária em matéria penas e da cooperação policial e administrativa (artigo 76º, TFUE). A iniciativa de cidadania vem reforçar os elementos de democracia direta nos Tratados e traduz-se, segundo os artigos 11º do TUE e 24º do TFUE, na possibilidade de pelo menos “um milhão” de cidadãos da União “nacionais de um número significativo de Estados-Membros poderem tomar a iniciativa de convidar a Comissão a apresentar uma proposta adequada em matérias sobre as quais esses cidadãos considerem necessário um ato jurídico da União para aplicar os Tratados”. Por fim, se a Comissão considerar que num determinado Estado-Membro existe ou poderá ocorrer um défice orçamental excessivo, envia um parecer ao Estado-Membro em causa e poderá apresentar propostas ao Conselho, o qual adotará ou não sanções nos termos do artigo 126º do TFUE. 2.5. Tribunal de Justiça da União Europeia (artigo 19º, TUE) O TJUE inclui, nos termos do artigo 19º/1 do TUE, o Tribunal da Justiça, o Tribunal Geral e Tribunais Especializados. O n.º 2 da mesma disposição acrescenta que os Estados-Membros devem estabelecer “as vias de recurso necessárias para assegurar uma tutela jurisdicional efetiva nos domínios abrangidos pelo direito da União”, reforçando a ideia de que o direito da União Europeia é aplicado fundamentalmente pelos tribunais nacionais. O Tribunal de Justiça é composto de um juiz por cada Estado-Membro, assistido por advogados-gerais, nomeados, de comum acordo, pelos governos dos Estados-Membros por seis anos, sendo necessário a consulta a um comité, o qual dará um parecer sobre a adequação dos candidatos ao exercício das funções de juiz ou de advogado-geral nos tribunais da União (artigo 253º e 255º, TFUE). Quanto às suas competências, o TJ dá pareceres sobre a compatibilidade de convenções internacionais com o Direito da UE (artigo 218º/11, TFUE), decide com fundamento em cláusula compromissória (artigo 272º, TFUE), tem iniciativa legislativa em certas áreas (artigo 257º, TFUE), coopera com os Tribunais Nacionais (artigo 267º, TFUE) e decide recursos de anulação, ações de omissão e ações por incumprimento (artigo 258º a 260º, 263º e 265º, TFUE). Foi alargada a legitimidade ativa e passiva nos recursos de anulação e ações de omissão intentados. Nos termos do artigo 269º do TFUE, o TJ é competente para se pronunciar sobre a legalidade de uma to adotado pelo Conselho Europeu ou pelo Conselho, com fundamento no artigo 7º, apenas a pedido do Estado-Membro envolvido e somente quanto à observância das disposições processuais previstas no referido artigo . Além disso, o TJ fiscaliza as ações e omissões do Conselho, Comissão e Parlamento Europeu, as omissões e os atos do BCE, que não sejam recomendações ou pareceres, e as omissões e os atos do Conselho Europeu e dos órgãos ou organismos da União destinados a produzir efeitos jurídicos em relação a terceiros (artigo 263º, 1ª p., e 265º, 1º p., TFUE). Acresce que o artigo 263º, 4º p., do TFUE simplifica o acesso dos particulares aos tribunais da União, isto é, qualquer pessoa singular ou coletiva pode interpor recurso contra os atos de que seja destinatária ou lhe digam direta e individualmente respeito. Por fim, nos termos do artigo 8º do Protocolo n.º 2, o “TJUE é competente para conhecer dos recursos, com fundamento em violação do princípio da subsidiariedade por um ato legislativo, que sejam interpostos nos termos do artigo 263º do TFUE por um Estado-Membro, ou por ele transmitidos, em conformidade com o seu ordenamento jurídico interno, em nome do seu Parlamento Nacional”. Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 No domínio da cooperação com os tribunais nacionais, o TJ é competente, à luz da reda- ção do artigo 267º do TFUE, para decidir a título prejudicial sobre a validade e a interpretação dos atos adotados pelas instituições e pelos órgãos ou organismos da União, podendo igualmente pronunciar-se com a maior brevidade possível sobre uma questão prejudicial suscitada em processo pendente perante um órgão jurisdicional, relativamente a uma pessoa que se encontre detida. Segundo o artigo 275º do TFUE, o TJUE não dispõe, em princípio, de competências no domínio da PESC, exceto nos casos previstos nos artigos 275º do TFUE e 40º do TUE. O Tribunal Geral foi criado para fazer face ao crescente volume de trabalho do TJ e apre- senta um composição e funcionamento semelhantes aos do TJ. Funciona como instância de re- curso em relação às decisões dos tribunais especializados (artigo 256º, TFUE), mas continua a ser competente para conhecer em primeira instância os recursos de anulação, as ações de omissão e as ações de responsabilidade. Finalmente, os tribunais especializados podem ser criados por processo legislativo ordinário (artigo 257º, TFUE) e estão encarregues de conhecer em primeira instância certas categorias de recurso em matérias específicas, sendo as respetivas decisões objeto de recurso para o TG. O Tratado de Lisboa veio reforçar as competências do Tribunal de Justiça. Este exerce as funções de um Tribunal Constitucional e preocupa-se em garantir a eficáciado direito da União e em promover um certa visão federalista da Europa, quase assumindo o papel de legislador, ao recorrer a uma interpretação teleológica-sistemática (também dita funcional). Este método de interpretação encontra-se estabelecido na jurisprudência do TJ, desde o acórdão Van Gend & Loos (26/62), onde o Tribunal afirmou expressamente que, para interpretar as disposições do Tratado, teria em conta o “espírito, economia e conteúdo” das disposições em causa. Assim, coloca-se a questão, não de saber se o TJ criou lei, mas sim qual é o fim das Comunidades, hoje União Europeia. Ora, essa finalidade encontra-se estabelecida no sistema legal, nos preâmbulos dos Tratados e nos princípios gerais de Direito da União, tendo estes últimos adquirido na jurisprudência do TJ uma posição de superioridade hierárquica em relação a certas disposições normativas consideradas, sobretudo, de índole técnica. 2.6. Banco Central Europeu (artigos 282º a 284º TFUE) e Tribunal de Contas (artigos 285º a 287º TFUE) O Banco Central Europeu, criado pelo Tratado de Lisboa, exerce as suas competências de forma independente das instituições, órgãos ou organismos da União, dos governos dos Estados-Membros ou outras entidades (artigo 130º, TFUE). Além disso, o artigo 282º/3 do TFUE expressa a independência do BCE, nomeadamente na gestão das suas finanças, solução que procura evitar pressões políticas sobre a instituição em causa. É ainda confirmado que o objetivo do Sistema Europeu dos Bancos Centrais (SEBC), dirigido pelos órgãos de decisão do Banco Central Europeu (Conselho do Banco Central Europeu e Comissão Executiva), é a manutenção da estabilidade dos preços (artigo 127º, TFUE), acrescentado o artigo 3º/4 do TUE que a União “estabelece uma União económica e monetária cuja moeda é o euro”. O presidente e vice-presidente são nomeados pelo Conselho Europeu por maioria qualificada (artigo 283º/2, TFUE). O Tribunal de Contas, criado pelo Tratado de Bruxelas, é composto por um juiz por Estado-Membro e tem por missão examinar “as contas da totalidade das receitas e despesas da União” (artigo 285º, TFUE). De entre as alterações introduzidas pelo Tratado de Lisboa, destaca-se a referência ao exercício das funções, pelos seus membros, “com total independência no interesse geral da União” (artigo 285º, TFUE), nomeadamente no interesse dos contribuintes europeus, promovendo a “credibilidade do processo de integração europeia”. Por último, o artigo 9º do TUE, além das instituições, refere os órgãos e organismos da União. Quanto aos órgãos da União, destacam-se o BEI (artigo 308º e seguintes, TFUE), o Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos Provedor de Justiça (artigo 228º, TFUE), o Comité Económico e Social (artigo 301º e seguintes, TFUE) e o Comité das Regiões (artigo 305º, TFUE). Princípios Fundamentais de Direito da União Europeia 1. Princípio das Competências Atribuídas e Princípio das Competências Implícitas Acórdão 22/70, AETR Competências atribuídas e implícitas O acórdão AETR estabeleceu o princípio das competências implícitas no plano internacio- nal, na medida em que reconheceu a existência de uma competência para concluir um acordo internacional onde ela não existia expressamente conferida pelo Tratado. A União rege-se pelo princípio das competências atribuídas, consagrado no artigo 5º do TUE. Trata-se de um princípio fundamental que reflete a ideia de que também a União se rege pelo princípio da especialidade e de que não pode criar a sua própria competência, isto é, não tem a competência das competências. Acresce que o princípio das competências atribuída tra- duz a chamada repartição vertical de competências entre os Estados e a União. O princípio das competências não é, todavia, um princípio absoluto. A doutrina e a jurisprudência têm identificado um conjunto de desvios a este princípio. O acórdão AETR fundou a existência de um deles, ao consagrar a ideia de que as competências da União podem advir implicitamente do texto dos Tratados. No acórdão AETR, o TJUE deu o primeiro passo para a transferência do mesmo princípio para o plano das relações internacionais. Partindo do artigo que conferia personalidade jurídica à Comunidade, o TJUE concluiu que este dispunha de capacidade para atuar no plano internacional, devendo a concreta competência para celebrar determinado acordo internacional ser determinada no contexto de todo o Tratado, e podendo advir tanto de uma atribuição expressa pelas suas disposições, como decorrer implicitamente do Tratado ou de outras disposições adotadas pelas instituições. Assim, o TJUE concluiu pela existência de competência internacional da Comunidade, tendo considerado que existe uma competência externa implícita quando o acordo internacional possa afetar ou alterar o âmbito de aplicação das normas da União. O TJUE fundou esta competência internacional, em todos os domínios que correspondem aos objetivos do Tratado, no princípio da cooperação leal, que impõe aos Estados-Membros a obrigação de facilitar à União o cumprimento da sua missão e de se abster de tomar qualquer medida suscetível pôr em perigo a realização dos objetivos do Tratado. Em conclusão, o TJUE estabeleceu um princípio do paralelismo de competências internas e internacionais, mas que o mesmo não opera ilimitadamente, havendo que analisar no caso concreto quais as implicações que a celebração de um acordo internacional acarreta para a legislação da União. Princípio da preempção Tendo estabelecido o princípio das competências implícitas, o acórdão AETR encontra-se, ainda associado a um outro princípio fundamental, estreitamente associado com o princípio do primado: o princípio da preempção. Este diz respeito à repartição de competências entre os Estados-Membros e a União. Trata-se, portanto, de um princípio que determina quem tem competência para adotar atos em determinada matéria. Assim, o princípio da preempção ilustra os casos em que os Estados-Membros estão precludidos de atuar, uma vez que as competências da União prevalecem. A cláusula das competências necessárias O acórdão AETR relaciona-se, ainda, com o mecanismo atualmente previsto no artigo 352º do TFUE, conhecido como a cláusula dos poderes necessários, não por esta disposição ter Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 sido diretamente invocada no processo, como também por permitir, igualmente, uma extensão das competências da União para além do estabelecido no Tratado. O artigo estabelece, portanto, um processo decisório especificamente desencadeado para permitir o alargamento de certas competências da União. Distingue-se, assim, do princípio das competências implícitas que se trata de um princípio interpretativo de fonte inteiramente jurisprudencial e que opera cronologicamente numa fase anterior à atuação da cláusula dos poderes necessários, uma vez que esta implica a prévia determinação da ausência de competência, expressa ou implícita, nos Tratados. O artigo 253º do TFUE não opera de forma ilimitada, tendo a jurisprudência do TJUE determinado que o mesmo tem de respeitar o acervo comunitário e que não pode determinar um salto qualitativo na integração. Na versão atual, os Tratados consagram, ainda, um conjunto de competências expressa- mente atribuídas à União no plano internacional, de que é exemplo as competências no domínio da política comercial comum (artigo 207º, TFUE). O artigo 3º/2 do TFUE passou ainda a dispor que a União dispõe de competência exclusiva para celebrar acordos internacionais quando tal celebração esteja prevista num ato legislativo da União,seja necessária para lhe dar a possibilidade de exercer a sua competência interna, ou seja, suscetível de afetar regras comuns ou de alterar o alcance das mesmas. Os Tratados em vigor reconhecem, assim, três diferentes categorias de competência ex- terna exclusiva da União: (1) quando a conclusão do acordo for prevista num ato legislativo; (2) quando a conclusão é necessária para permitir à União o exercício da competência internar; (3) e quando a conclusão possa afetar as regras comuns ou alterar o seu âmbito de aplicação (acórdão 22/70, AETR). Por fim, foi ainda anexada uma Declaração aos Tratados em matéria de delimitação de competências (Declaração n.º 18). 2. Princípio da Uniformidade na Interpretação e Aplicação do Direito da União Europeia Acórdão 61/65, Vaassen-Göbbels Reenvio Prejudicial O reenvio prejudicial constitui um mecanismo de colaboração entre os tribunais nacionais e o TJUE. Os primeiros são também trinais ordinários de Direito da União, aplicando-o nos litígios que lhes cabe resolver, sendo natural que esses tribunais tenham dúvidas na interpretação das normas da UE. O artigo 267º do TFUE permite-lhes esclarecerem essas dúvidas junto do TJ, colocando-lhe “questões prejudiciais”, isto é, questões cuja não resolução prejudica o prosseguimento da causa. O reenvio prejudicial serve ainda para resolver dúvidas relativas à validade das normas de Direito derivado da UE. Sempre que, num caso concreto, um tribunal nacional deva aplicar normas da União e tenha dúvidas quanto à sua interpretação ou validade, pode suspender o processo e dirigir as suas questões ao TJ. O reenvio prejudicial permite concretizar o princípio da uniformidade na interpretação e aplicação do Direito da UE, na medida em que, como o Tribunal vai responder da mesma forma às perguntas colocadas por diferentes tribunais substancialmente idênticas, esses tribunais terão de aplicar de maneira uniforme o Direito da União. Por regra, os tribunais nacionais não estão obrigados a reenviar estas questões ao TJ, po- dendo, portanto, suceder que as partes no processo chamem a atenção para dúvidas pertinentes de interpretação ou validade do DUE e o tribunal opte por não apresentar essas dúvidas ao TJ. Assim, haveria o risco de os tribunais nacionais aplicarem o direito da União no sentido em que cada um entendesse mais adequado, podendo esse entendimento variar de tribunal para tribunal, estando em causa a aplicação uniforme do DUE. No entanto, o artigo 267º prevê que, em certas circunstâncias, os tribunais nacionais estão obrigados a submeter a questão ao TJ. Tal sucede quando não é possível recorrer das decisões desses tribunais (tribunais supremos) ou quando as decisões de tribunais inferiores que julguem uma causa são de última instância. É esta obrigatoriedade excecional do reenvio Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos que garante a intervenção do TJ no esclarecimento de questões prejudiciais e, portanto, garante a uniformidade na interpretação e aplicação do DUE. Subsequentemente, surgiram dúvidas quanto ao mecanismo de reenvio prejudicial, à questão de saber se os tribunais que decidem em última instância estão sempre obrigados a reenviar questões ao TJ e à possibilidade de os tribunais nacionais desaplicarem as normas da UE por as considerarem inválidas, sem reenviarem essa questão de validade ao TJ, que são respondidas pelos acórdãos CILFIT e Foto-Frost. Um outro problema diz respeito aos órgãos nacionais que podem reenviar questões ao TJ, sendo este objeto dos acórdãos Vaassen- Göbbels e Dorsch Consult. Órgão jurisdicional nacional No caso Vaassen-Göbbels, esteve em causa a delimitação das entidades nacionais que podem fazer uso do mecanismo do reenvio prejudicial (“órgão jurisdicional de um dos Estados- Membros” [artigo 267º, TFUE]). A qualificação de um órgão nacional como “jurisdicional” poderia resultar de razões diversas, consistindo uma hipótese em aceitar a qualificação feita pelos ordenamentos jurídicos nacionais. O problema desta opção é que a mesma acarretaria a possibilidade de órgãos com exatamente as mesmas caraterísticas, mas localizados em Estados-Membros diferentes, poderem reenviar ou estarem impossibilitados de o fazer consoante a respetiva ordem jurídica os qualificasse como “jurisdicionais” ou não. Foi defendido, no caso Vaassen-Göbbels, a possibilidade de uma interpretação “comunitária” da noção de “órgão jurisdicional nacional”, pois assim o exigem as necessidades de interpretação e de aplicação uniformes do Tratado. É preciso ter em conta que, face à letra do artigo 267º, os particulares que sejam partes no litígio perante uma jurisdição nacional não podem, eles próprios, suscitar as questões prejudiciais, apenas podem pedir ao juiz do processo que o faça, como o próprio TJ esclareceu em diferentes casos, nomeadamente, o do Município de Barcelos (C-408/09). Assim, o Tribunal estava destinado a procurar um equilíbrio entre estas diversas razões e pretensões, exprimindo a conceção de “órgãos jurisdicional nacional” que temos hoje esse equilíbrio evolutivo. Para compreender melhor a jurisprudência, é necessário saber se a noção de “órgão jurisdicional nacional” deve ser encarada como um conceito ou um tipo. O “conceito” implica a identificação de um conjunto de caraterísticas necessárias e suficientes para se concluir que, a serem preenchidas num caso concreto, a realidade conceptual está presente. Se alguma dessas caraterísticas não se verificar, a conclusão é a oposta. O “conceito” é, portanto, um forma rígida de pensar, baseada na distinção entre realidades distintas e inconfundíveis. Assim, procurar um conceito de “órgão jurisdicional nacional” seria, neste contexto, prejudicial à busca do equilíbrio referido. Uma outra categoria que se adapta melhor ao desenvolvimento jurisprudencial é o “tipo”, que é uma imagem à qual a realidade pode ser mais ou menos aproximada. Para verificarmos se, num caso concreto, um “tipo” está presente, não é preciso que a realidade em causa seja exatamente igual ao modelo que esteve na base da construção do “tipo”, o “arquétipo”, isto é, o mesmo preenche algumas caraterísticas. Assim, no caso concreto, o órgão deve ser suficientemente semelhante ao “tribunal de direito comum” para se poder dizer que faz parte do “órgão jurisdicional nacional”. O preenchimento do tipo de “órgão jurisdicional nacional” aconteceu através da enuncia- ção de diversas caraterísticas que são identificáveis nos “tribunais de direito comum” dos diversos Estados-Membros. Na verdade, no caso Vaassen-Göbbels, a questão de qualificação como “órgão jurisdicional nacional” colocou-se porque o Scheidsgerecht não era qualificado pelo direito holandês como “órgão jurisdicional”, mas o TJ acabou por reconhecê-lo essa qualidade. Aliás, a hipótese contrária também é possível: o direito nacional qualificar um órgão como “tribunal” e, não obstante, o TJ não lhe reconhecer a qualidade de “órgão jurisdicional nacional”. Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 Caraterísticas No caso Vaassen-Göbbels, enunciaram-se cinco caraterísticas cuja verificação lhes permitiu considerar o Scheidsgerecht como “órgão jurisdicional nacional”. O órgão (1) tinha sido criado nos termos da lei holandesa, (2) era permanente, (3) era a instância processual obrigatória quanto aos litígios em causa, (4) devia aplicar regras de Direito (5) e estava sujeito a regras de processo semelhantes às que regem o funcionamento dos tribunais, prevendo, nomeadamente, a audiência em contraditório. O TJ enunciou, assim, um conjunto de caraterísticas do Scheidsgerechtque lhe parecia bastar para qualificar o mesmo de “órgão jurisdicional nacional” nos termos do artigo 267º do TFUE. Estas caraterísticas são, então, a permanência do órgão, a natureza contraditória do processo, a origem legal, o caráter obrigatória da jurisdição e a aplicação de normas de direito. Origem Legal: o Tribunal não exige que o órgão tenha sido criado por ato do Estado- Membro com força de lei; apenas exige que haja um determinado envolvimento das autoridades públicas. Permanência: o TJ não responde a questões formuladas por órgãos criados temporaria- mente para resolver um litígio determinado. Só se as questões são formuladas por órgãos que são criados por lei para resolver todos os casos que, no futuro, caiam no seu âmbito de competência é que o TJ admite essas questões. Caráter obrigatório da jurisdição: uma jurisdição tem caráter obrigatório se, independentemente de acordo entre as partes, qualquer uma delas pode iniciar um processo judicial nesse órgão e a outra parte fica, desse modo, sujeita ao julgamento subsequente. Não se conhece nenhum caso em que um organismo tenha sido qualificado de “órgão jurisdicional nacional” sem a sua jurisdição ter caráter obrigatório. Aplicação das regras de Direito: para que possa haver reenvio prejudicial, o organismo nacional deve ter dúvidas quanto à interpretação ou validade de normas de Direito da UE que sejam aplicáveis ao litígio que foi chamado a resolver. Assim, não se exige que o organismo nacional aplique outras regras de direito e permite-se que o mesmo julgue de acordo com a equidade. Natureza contraditória do processo: o processo seguido num tribunal tem natureza contraditória quando as partes em litígio têm de ser ouvidas e quando todas se podem pronunciar relativamente às questões pertinentes para a resolução do litígio, incluindo os argumentos apresentados pelas partes contrárias. O Tribunal nunca negou a qualificação de um organismo de reenvio como “órgão jurisdicional nacional” pelo facto de não cumprir este critério, mas considerou, em muitos casos, que o facto de organismo cumprir esse critério contribuía para qualificá-lo como “órgão jurisdicional nacional”. Tribunais arbitrais Um outro aspeto que contribuiu, no caso Vaassen-Göbbels, para a dúvida relativa à qualificação mencionada, foi o nome do órgão em causa: Tribunal Arbitral. Os tribunais arbitrais são, por regra, tribunais criados por convenção de arbitragem celebrada entre as partes de uma relação jurídica. As partes nessa relação não estão obrigatoriamente submetidas à competência desse tribunal. Trata-se de um entidade constituída para julgar aquele particular litígio entre as partes e que se extingue depois de desempenhada a sua tarefa. São as partes que designam os árbitros. É frequente que as partes determinem que os árbitros decidam de acordo com a equidade e não por aplicação das regras de Direito vigentes. O TJ, ao estipular as caraterísticas dos “órgãos jurisdicionais nacionais”, fez a escolha de os tribunais arbitrais “puros” não preencherem essas caraterísticas, logo, não se enquadram naquele tipo e, portanto, não podem reenviar questões prejudiciais. No entanto, o Scheidsgerecht foi considerado “órgão jurisdicional nacional”, porque foi demonstrado que, apesar do nome, o órgão em causa se assemelhava muito mais aos “tribunais de direito comum” do que a um verdadeiro tribunal arbitral. Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos Acórdão 54/96, Dorsch Consult O acórdão Dorsch Consult condensa, numa frase, um conjunto de caraterísticas consideradas relevantes para qualificar a entidade que usa o mecanismo de reenvio prejudicial como “órgão jurisdicional nacional”. Assim, para esse efeito, “o Tribunal de Justiça tem em conta um conjunto de elementos, tais como a origem legal do órgão, a sua permanência, o caráter obrigatório da sua jurisdição, a natureza contraditória do processo, a aplicação pelo órgão das normas de direito, bem como a sua independência” (n.º 23). As cinco primeiras caraterísticas constavam do acórdão Vaassen-Göbbels. O acórdão Dorsch Consult acrescenta, portanto, a caraterística da independência e, adicionalmente, são discutidas duas interpretações possíveis do elemento do “caráter obrigatório da jurisdição”. Refere-se ainda outro elemento que, noutros acórdãos, o TJ tem considerado importante: a necessária “resolução de litígios” por parte do organismo nacional de reenvio. Independência A invocação deste elemento mostrou-se necessária quando determinados órgãos nacio- nais, considerados administrativos ou que não exerciam funções jurisdicionais, começaram a colocar questões prejudiciais ao TJ. Assim, as caraterísticas que haviam permitido distinguir os “órgãos jurisdicionais nacionais” mostraram-se inúteis quando foi preciso diferenciar estes dos órgãos administrativos. O TJ começou por exigir a verificação de caraterísticas da independência aquando do reenvio de questões prejudiciais pelos órgãos que exercem a função de Ministério Público, que dirige o inquérito criminal e exerce a ação penal, acusando em tribunal os suspeitos da prática de crimes. O Ministério Público, exercendo essa função, é uma parte no processo, não lhe cabendo decidir com independência o litígio em causa. O mesmo não se verifica na figura do “juiz de instrução”, que, durante o inquérito criminal, garante o respeito dos direitos do arguido e decide sobre medidas preventivas a aplicar ao arguido propostas pelo Ministério Público. O TJ concluiu que o mesmo devia ser considerado “órgão jurisdicional nacional”, pois funcionava como um terceiro imparcial entre o Ministério Público e o arguido. No caso Dorsch Consult, estava em causa um reenvio por parte de uma “comissão federal de fiscalização de adjudicação de contratos públicos” (autoridade administrativa), organismo criado por lei para responder a recursos interpostos por candidatos à adjudicação desses contratos que se considerassem ilicitamente prejudicados. A questão essencial colocou- se quanto à exigência da independência, tendo sido distinguindo dois aspetos, a imparcialidade e a inamovibilidade. No que diz respeito à imparcialidade, o Tribunal considerou que o facto de não poderem resolver processos em que tivessem participado como funcionários, bastava para assegurar a sua imparcialidade. O desenvolvimento jurisprudencial levou à diferenciação de dois aspetos da imparcialidade, consistentes na separação orgânica e na separação funcional. A separação orgânica existe quando o organismo está inserido na mesma estrutura organizatório do órgão administrativo sobre cujas atuações é chamado a pronunciar-se. A separação funcional significa que os membros do organismo de reenvio não devem estar vinculados por ordens ou instruções recebidas por órgãos administrativos, isto é, não podem ser subordinados hierárquicos de outros órgãos administrativos. Quanto ao segundo aspeto, a inamovibilidade, trata-se de garantir que os titulares do ór- gão jurisdicional não possam ser arbitrariamente removidos do seu lugar, de modo a não se sentirem tentados a julgar os litígios no sentido querido por aqueles que os podem demitir, mas de acordo com as regras de Direito aplicáveis. Caráter jurisdicional da decisão Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 Foi exigido no acórdão Dorsch Consult este elemento, perguntando-se se as decisões dos organismos que reenviam as questões ao TJ vinculam as partes, tal como sucede com as sentenças ou acórdãos dos tribunais de direito comum. Só no caso em que a sua decisão é vinculativa é que tem “caráter jurisdicional”. Resolução delitígios Estes elementos não foram suficientes para distinguir os órgãos que exercem funções jurisdicionais dos órgãos que exercem funções administrativas, suscitando a necessidade de invocar um novo elemento distintivo. Assim, para determinar se um organismo nacional deve ser qualificado “órgão jurisdicional”, é necessário verificar qual a natureza específica das funções que exerce no contexto normativo particular em que tem de recorrer ao TJ. O que permitiu, nestes casos, efetuar a distinção foi a inexistência de qualquer litígio entre as partes que tivesse de ser resolvido pelos juízes. Decisão em última instância O facto de o organismo nacional de reenvio decidir em última instância parece conter a virtualidade de compensar a inexistência de um conjunto vasto de outros elementos. A caraterística de que o organismo nacional decida em última instância, sem hipótese de recurso para tribunais ordinários, não é um requisito que tenha de estar sempre verificado para se concluir pela presença de um “órgão jurisdicional nacional”. De outro modo, não se compreenderia a distinção efetuada pelos parágrafos 2 e 3 do artigo 267º do TFUE entre as jurisdições que decidem em última instância , que estão obrigadas a reenviar, e aquelas cujas decisões são recorríveis, cujo reenvio é facultativo. Estas últimas, se aquele elemento fosse necessário, nunca poderiam reenviar. Assim, o elemento referido apenas permite, quando verificado, atenuar a não existência de outros elementos, mas não é ele próprio um requisito do “órgão jurisdicional nacional”. A verificação de um “órgão jurisdicional nacional” ou “órgão jurisdicional de um Estado- Membro” exigirá a invocação dos diversos elementos que foram sendo elencados nos acórdãos Vaassen-Göbbels e Dorsch Consult, sendo que um é de verificação indispensável – o caráter obrigatória da jurisdição -, outros devem verificar-se, apesar do seu conteúdo ser bastante flexível – a origem legal, a independência e a resolução de litígios -, outros potenciam a qualificação – o caráter jurisdicional da decisão, a aplicação de normas de direito e a permanência – e outro auxilia nessa qualificação, embora prescindível – a natureza contraditória do processo. Assim, de todos os elementos, o único que nunca foi posto em causa é o caráter obrigatória da jurisdição. Todos os outros elementos, num caso ou noutro não se encontravam preenchidos, não impediram que, concretamente, o TJ considerasse estar em causa um “órgão jurisdicional nacional”. Tudo depende de estar presente um número suficiente de elementos que permitam a conclusão de que o organismo está próximo do tribunal de direito comum. Acórdão 283/81, Cilfit Os órgãos jurisdicionais nacionais são aqueles que têm competência para dirimir a generalidade dos conflitos derivados da aplicação das normas da União Europeia. Esta solução comporta alguns riscos, como sendo a possibilidade de as normas europeias serem aplicadas de modo divergente pelos tribunais dos vários Estados-Membros. Por essa razão, o Tratado estabelece um procedimento através do qual o TJ é chamado a pronunciar-se a propósito de casos concretos. Essa intervenção ocorre a pedido dos juízes nacionais, aos quais cabe a possibilidade de submeterem ao TJ questões concretas quanto à interpretação ou a validade das normas europeias (artigo 267º, 1º parágrafo, TFUE). Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=direito-da-uniao-europeia-resumos É para acautelar a ocorrência destes riscos que o Tratado prevê que a competência do TJ para resolver questões prejudiciais possa ser provocada pelas jurisdições nacionais a dois títulos diversos, correspondentes ao segundo e terceiro parágrafo do artigo 267º do TFUE. O segundo parágrafo atribui a todos os órgãos jurisdicionais nacionais a faculdade de submeterem questões prejudiciais ao TJ, no âmbito de litígios que se encontrem a decidir. Para que possa proceder ao reenvio, basta que a entidade responsável pela resolução do litígio tenha a natureza de órgão jurisdicional, nos termos definidos nos casos Vaassen-Göbbels e Dorsch Consult, e que surja uma questão sobre a interpretação ou a validade do Direito da União. Neste caso, o reenvio é meramente facultativo, sendo efetuado a pedido do julgador e no seu interesse. O terceiro parágrafo, diferentemente, converte a faculdade em obrigação, para os órgãos jurisdicionais nacionais que julguem sem hipótese de recurso judicial previsto no direito interno. Teorias O que significa a expressão “insusceptibilidade de recurso judicial previsto no direito in- terno”? A teoria orgânica ou do litígio abstrato sintetiza que a questão faz apelo apenas aos tribunais nacionais supremos, aqueles que proferem decisões que são sempre irrecorríveis. Apresenta em seu favor três argumentos: (1) a convicção da tendencial menor importância dos processos resolvidos de modo definitivo pelos tribunais inferiores; (2) a necessidade de aliviar o TJ da sobrecarga excessiva; (3) a circunstância de os tribunais supremos serem formalmente responsáveis pela definição da orientação jurisprudencial dos restantes tribunais. Por sua vez, a teoria do litígio concreto vê a questão como abrangente, também, dos tribunais que, no caso concreto, decidem o litígio em definitivo. Funda-se: (1) na necessidade de se assegurar a coerência na aplicação do Direito da União sempre que ela seja definitiva; (2) no facto de, para as partes no litígio, haver interesse na aplicação consistente do Direito; (3) na demonstração de que as questões de Direito da União se destacam dos casos concretos, pelo que a menor importância destes não corresponderá necessariamente à menor importância daquelas. Há quem afirme que o Tribunal tem-se inclinado para a teoria do litígio concreto, sendo disso exemplo o caso Lyckeskog (99/2000), nomeadamente o n.º 15. Dispensa de reenvio Prejudicial No acórdão Cilfit, o TJ procede à interpretação do terceiro parágrafo do artigo 267º, concretamente quanto à questão de saber se a obrigação aí referida é automática, isto é, pediu-se ao Tribunal que desenvolvesse a delimitação dos contornos da obrigação de reenvio. O Tribunal começou por afirmar que o mecanismo do artigo 267º não está na disponibili - dade das partes (n.º 9). Isto é, a circunstância de as partes requererem ao julgador a submissão da questão ao TJ não é, por si só, suficiente para desencadear o processo de reenvio: é necessário que a questão a colocar ao Tribunal seja reconhecida pelo próprio juiz nacional. Esta aparente irrelevância das partes significa que a decisão de reenvio não tem de se fundar em pedido das partes e, embora frequentemente sejam elas a requerer ao juiz nacional a submissão da questão ao TJ, tal não deverá constituir condição necessária para apreciação da oportunidade de reenvio. No entanto, a irrelevância das partes não pode significar irrelevância do pedido: sempre que tiver sido requerido pelas partes, uma eventual rejeição do pedido de reenvio deverá ser fundamentada pelo tribunal, sob pena de nulidade da decisão; e, tratando- se de um órgão jurisdicional que decide sem hipótese de recurso, a recusa de reenvio deverá fundar-se numa das causas de dispensa admitidas pelo TJ. Em terceiro lugar, o direito nacional poderá prever o direito de recurso da decisão do juiz que decida o reenvio ou decline o seu pedido. O Tribunal enunciou três circunstâncias que podem fundamentar a decisão do julgador de última instância de não lhe submeter um questão de Direito da União. Descarregado por Melissa Sá (melissalexandrasa@gmail.com) lOMoARcPSD|7662024 Em primeiro lugar, cessa a obrigação de reenvio quando a questão for impertinente ou desnecessária, cumprindo, por conseguinte, completar a posição
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