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CAPÍTULO 9 A democracia relativa e Os anos Geisel (Marcos Napolitano)

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BRASIL 3 - “A democracia relativa”: Os anos Geisel
Há quem diga que Geisel tenha sido o presidente que passou para a história como aquele que iniciou o processo de abertura e conseqüentemente a transição política. Um bordão usado por Elio Gaspari exemplifica a situação do regime antes e depois de Geisel “havia uma ditadura sem ditador. No fim do seu governo, havia um ditador sem ditadura”. Antes de Geisel havia um sistema que era permeado, apesar de ter outra aparência, por presidentes fracos, generais submetidos de baixo para cima aos cuidados dos quartéis. Geisel então personifica esse autoritarismo que era exercido antes nos quartéis pelo dinossauros das forças armadas e que agora entraria em cena política. Foi um período muito ambíguo, o autoritarismo caminhava ao lado de um desejo que parecia ser cada vez mais latente, o de abertura política e fim dos problemas sociais que apareceram depois do golpe. 
O governo de Geisel foi complexo, dinâmico e contraditório até em suas atitudes, pois o anticomunista convicto que era, foi o primeiro a reconhecer o regime comunista de Angola em 1975. Mandava em um regime conhecido como braço direito do imperialismo norte americano, mas entra em conflito com Tio San no final do seu mandato por conta do acordo nuclear com a Alemanha e pelos direitos Humanos. Censurava a oposição mas patrocinava uma política cultural que beneficiava artistas contrários ao regime. Em suma, essas e outras políticas mostram uma clara necessidade de reforçar a notoriedade do Estado e, conseqüentemente, dotar o regime e o governo de instrumentos para levar a mudança para o governo civil, mas com mão de ferro. Mas, mesmo com isso, a ambigüidade se torna latente novamente em seu mandato, pois apesar de manter e querer assegurar a ordem pela força, negociava a retirada de militares do poder, contendo os atores mais radicais e repressores em nome da “paz social” e da ordem publica. 
PARA NAPOLITANO “os desvios do regime é que puseram o caráter “redentor” e cívico da revolução (golpe) em xeque” 
Pelas declarações da mídia, de personalidades políticas e de estudiosos sobre a ditadura, existia uma relação quase direta entre o governo Geisel e a abertura política e o fim do regime. Todavia, a marca do governo Geisel (dualidade) fica evidente nesse sentido novamente, pois quando se olham isoladamente os saldos repressivos do seu governo fica impossível acreditar em alguma distensão, por exemplo, em seu governo houve 39 opositores desaparecidos e 42 mortos pela repressão. A imprensa, as artes e toda cultura censurada, além do fechamento do Congresso por 15 dias. 
O projeto de abertura então seria caracterizado por um modo de institucionalização do regime, a agenda previa a transição presidencial que se iniciaria em 1977 e se reafirmaria em 1978, seguida no caso, da indicação do general Figueiredo para a presidência. Nesse contexto já era latente a pressão das ruas e do sistema político (alguns atores políticos em especial) e é através disso que a abertura se transforma em um projeto de transição democrática, ainda que de longo prazo. O processo final dessa transição, a partir de 1982, foi pensado pelos liberais em negociação com os militares, pois seria vantajosa pra ambos, garantido uma retirada sem punição as violações aos direitos humanos e sem mudanças bruscas no modelo econômico, ao passo que retomariam de maneira gradual as liberdades civis. 
Geisel havia entrado para a presidência em janeiro de 1974, e para a extrema direita militar, a volta do grupo que ele fazia parte, o grupo “castelista” poderia significar o aumento da corrupção, inicio de um processo de transição política e desmontagem do aparato repressivo. E a sociedade civil encarava a situação dessa maneira, a necessidade de iniciar uma normalização da vida política era urgente, pois era a idéia desde o golpe em 1964, após o fim da ameaça comunista, a idéia seria de estabilizar o país e devolve-los a população. 
Com Geisel então, consegue-se aquilo que seria o marco inicial do assunto em questão, foi criado a idéia de volta da Democracia. O problema esbarra quando a democracia que estava se evidenciando com a distensão do regime seria outorgada e não conquistada, podendo deixar os atores sociais reféns das decisões do governo. Mesmo assim, cria-se a imagem de que os movimentos sociais voltaram a ser atores na luta pela democracia a partir do momento em que a abertura foi desencadeada. O governo esperava um gradual, mas seguro aperfeiçoamento democrático, empenhando um dialogo honesto e estimulando maior participação das elites responsáveis e do povo em geral. 
O governo falava em democracia, intelectuais, os partidos, as elites, os liberais, a esquerda radical, todos falavam em democracia, embora houvessem vários sentidos para a palavra. O governo por exemplo, via a democracia como um mero debate de idéias e “criticas construtivas”. E a derrota da esquerda armada, unido a violência sem limite e o terror do estado, acabaram por mostrar a urgência desse debate. O fato é que os tema de tortura e desaparecimento, tornaram-se cada vez mais inconvenientes para as consciências liberais ou religiosas, mesmo de cores mais conservadoras. O assassinato de figuras importantes da sociedade civil e lideranças estudantis, fizeram com que boa parte das instituições se voltassem contra a repressão desmedida do estado, e aqui fica claro novamente a volta do caráter ambíguo do governo Geisel, que trás o termo de subtítulo de uma democracia que estava sendo outorgada mas que era relativa, uma abertura não tão aberta assim..
A igreja já estava quase totalmente contraria ao regime após todas as atrocidades e repressão, até a OAB que viu com certo entusiasmo o golpe militar, agora se distanciava do estado após o AI-5 e as as suas posições durante o ano de 1974.
O governo tinha então as eleições legislativas de 1974 como estratégia, mas não deu certo e a derrota só atenuou ainda mais as tensões e o colocando panos frios na idéia de abertura e institucionalização do regime. Outro período repressivo se formava no horizonte da sociedade, pois o agora derrotado governo, se via cada vez mais distante de conseguir legitimar o seu já frágil regime. 
É então que em 1975 é proferido o discurso conhecido como “pá de cal”, onde rejeita o fim do AI-5 e praticamente isola o Estado Brasileiro e declara guerra contra a sociedade civil. Porem, pelo menos na idéia da população, era necessário continuar com os projeto e debates que envolviam a questão democrática. O cenário então era de um Estado irredutível e autoritário, contra uma sociedade cansada do regime e que exigia os seus direitos e fortalecia a questão democrática como centro do debate. 
Em agosto de 1976, atentados da extrema direita contra a ABI e a OAB aprofundaram a desconfiança dos liberais e da oposição como um todo na capacidade do governo de controlar o mostro que ele mesmo criara, o governo estava isolado. 
Geisel e suas medidas armamentistas, rompe com os EUA e começa a ser criticado no cenário político internacional, mostrando que os descontamentos não eram somente internos, mas também externos. A denuncia de que o Brasil não respeitava os direitos humanos fez com que a credibilidade caísse ainda mais. 
Mesmo assim o governo Geisel não se deu por vencido, apesar das pressões, no maximo estancou os problemas, colocando para baixo as perspectivas democráticas para os anos seguintes. Apesar disso, o governo parecia ter o controle do roteiro de sua sonhada instucionalização do modelo político autoritário, propondo uma abertura mais lenta e gradual do que segura. Mas novo atores entrariam em cena.

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