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Caderno de Estudo - Parte 3.pdf

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Parte III
Cláudio Eduardo de Castro
Aula 4 - Biogeografia ......................................................................................... 67
4.1 Biogeografia .................................................................................................................................. 67
 4.1.1 Biomas brasileiros ............................................................................................................. 68
 4.1.1.1 O Bioma Mata Atlântica ........................................................................................... 68
 4.1.1.2 O Bioma Amazônico ................................................................................................. 69
 4.1.1.3 O Bioma Cerrado ........................................................................................................ 71
 4.1.1.4 O Bioma Caatinga ...................................................................................................... 72
 4.1.1.5 O Bioma Pantanal ....................................................................................................... 73
 4.1.1.6. O Bioma Pampa ......................................................................................................... 74
4.2 Trabalhos de campo em Biogeografia ................................................................................. 76
Referências ............................................................................................................................................ 84
SUMÁRIO
PARTE 3
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 67
Aula 4 - Biogeograia 
Objetivos
•	 Entender o universo conceitual da biogeograia;
•	 Apropriar-se do conceito de Bioma e dos variados biomas brasileiros;
•	 Associar a diminuição dos biomas em quantidade e variedade, se-
gundo a produção do espaço antrópico;
•	 Desenvolver a capacidade de associar o que se viu até agora quanto 
à pedologia e climatologia aos biomas brasileiros;
•	 Oferecer ferramentas para pesquisa local em biogeograia.
4.1 Biogeograia
A biogeograia utiliza de variadas fontes cientíicas para seus objetivos, que 
é entender e classiicar a relação biológica de determinada área, em variadas 
escalas. Ela está ligada à ecologia, biologia, pedologia, geologia, climatologia 
botânica, zoologia e outras. Ela utiliza obrigatoriamente da associação de três 
fatores, os seres vivos, o clima e os solos.
O Bioma, que é deinido como a relação entre o clima, a vegetação, a 
hidrograia e o relevo de uma determinada região, é a síntese biogeográica.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística (IBGE), são seis 
os biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e 
Pantanal. O mapa a seguir mostra suas localizações no território brasileiro
Bioma
Os biomas são as grandes 
formações vegetais 
presentes em diferentes 
continentes, cujas 
características comuns 
como fatores climáticos 
e latitude determinam 
uma única comunidade 
biológica dentro de uma 
área geográica deinida. 
Já as variações da vegetação 
encontradas dentro de um 
mesmo bioma - devido ao 
tipo de solo, topograia e 
disponibilidade de água 
- são conhecidas como 
ecossistemas. 
No Brasil, os biomas 
guardam 1/5 da 
biodiversidade mundial, 
com 50 mil espécies de 
plantas, cinco mil de 
vertebrados, 10 a 15 milhões 
de insetos e milhões de 
micro-organismos. 
 
Consultar o jogo: Missão 
Bioma. http://missaobioma.
g1.globo.com/
Aula 4 - Biogeograia68
Figura 1 – Biomas brasileiros
Fonte : IBGE, Atlas do Brasil, 2004
4.1.1 Biomas brasileiros
4.1.1.1 O Bioma Mata Atlântica
A Mata Atlântica é detentora da segunda maior diversidade 
biológica do mundo. Nela encontram-se variados tipos de 
lorestas, a ombróila densa, com sua mata sempre verde, 
samambaias, bromélias e palmeiras, nas encostas da Serra do 
Mar e em ilhas entre os estados do Paraná e Rio de Janeiro. A 
loresta ombróila mista, nos planaltos do Rio Grande do Sul, 
Santa Catarina e Paraná, com as araucárias (Araucária Angustifolia) símbolo 
do sul do Brasil. E, ainda, a floresta estacional semidecidual, cujas árvores 
perdem suas folhas na época seca, brejos, campos de altitude e manguezais.
Por acompanhar o litoral do oceano Atlântico ela foi largamente removida 
pela ocupação humana desde a ocupação do Brasil pelos colonizadores 
europeus. Assim, 62% da população brasileira, responsável por 80% do PIB, 
encontram-se hoje no domínio do bioma. A destruição da Mata Atlântica está 
ligada aos sucessivos ciclos econômicos que tomaram conta do país desde 
Visitar o site da Organização 
SOS Mataatlântica
http://www.sosma.org.br/
Ombróila signiica amigo 
das chuvas.
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 69
1500. Primeiro, com a extração de árvores como o pau-brasil, até sua quase 
extinção, passando à derrubada da loresta para o cultivo da cana-de-açúcar, 
até os plantios de café no Sudeste do País, já no século XX. No mapa de 
urbanização do Brasil, podemos notar a grande concentração de população e 
a maior concentração de grandes cidades nas faixas litorâneas.
Figura 2 – População urbana no Brasil em 2000
Fonte : IBGE, Atlas do Censo Demográfico, (2000)
O mapa mostra a 
concentração da população 
urbana no Brasil através de 
círculos. Podemos notar 
que as maiores cidades 
estão no litoral e em poucos 
pontos no interior do país. A 
ocupação pelo litoral, desde 
a chegada dos europeus, 
pressionou os biomas ali 
encontrados, bem como a 
Caatinga, durante o ciclo 
da cana-de-açúcar (como 
veremos logo mais). Com 
o advento da agricultura 
moderna e a interiorização 
da capital federal, áreas do 
interior passaram a receber 
núcleos urbanos voltados 
à produção agropecuária 
intensiva, pressionando 
também os biomas de 
Cerrado e Amazônia.
O sul do país teve o pampa 
e a loresta subtropical 
pressionados a partir do 
século XVII, primeiro de 
portugueses dos Açores, 
depois italianos, alemães e 
poloneses.
Algumas áreas, como a loresta de araucárias no Sul, têm sua situação 
próxima à extinção. No Paraná, restam apenas 0,8% da área original. Nas áreas 
do Nordeste a ocupação pela cana-de-açúcar criou o problema de haver 
sobrado atualmente espécies em apenas um ou dois fragmentos, que seriam 
literalmente riscadas do mapa caso estas áreas fossem desmatadas, que 
totalizam 178 espécies de árvores.
4.1.1.2 O Bioma Amazônico
A Amazônia ocupa aproximadamente mais de 4.000.000 
de km2, ou 40% do Brasil. Ela se constitui de variados 
tipos de loresta, mas diferentemente da Mata Atlântica, 
a unidade que possibilita sua existência, não é pela 
proximidade do oceano, mas pela associação de fatores, 
como o luxo de massas de ar hemisféricos. 
As lorestas se apresentam em forma de Terra Firme (loresta estacional), de 
Igapó, e de Campos Alagados e de Várzea. Nela ocorrem também savanas 
Visitar o site da Organização 
Instituto Socioambiental 
– ISA.
http//:socioambiental.org.br
e o do INPA,
http://www.inpa.gov.br/
amazonia.html
Aula 4 - Biogeograia70
(como o cerrado brasileiro), refúgios de vegetação montanhosa e formações 
pioneiras. Mesmo sendo o bioma mais preservado, quase 20% dela foi 
devastada. Hoje, ela não é mais considerada o ‘pulmão’ do planeta, mas sim 
um importante regulador climático, responsável por amenizar os efeitos do 
aquecimento que possivelmente o homem esteja causando ao planeta. Ela é 
considerada um grande ‘resfriador’ atmosférico e supera a Mata Atlântica em 
diversidade, com cerca de 30 milhões de espécies.
A paisagem biogeográica amazônica abriga inúmeros povos indígenasque se valem diretamente da natureza para a manutenção de sua vida. Os 
conhecimentos desses povos vêm possibilitando a descoberta de produtos 
úteis à medicina, à saúde e ao uso em cosméticos e tratamentos de 
embelezamento. Seu potencial extrativo é muito grande, porém necessita de 
planejamento e manejo sustentável. Observe o quadro a seguir. 
FLORESTA CARACTERÍSTICA
TERRA FIRME
São as que estão em regiões mais altas, por isso nunca 
são inundadas pelos rios, mas a grande pluviosidade e o 
calor possibilitam que tenham árvores grandes, como a 
castanheira e as palmeiras.
MATA DE IGAPÓ
São as que se situam em terrenos baixos, quase sempre 
inundadas. A vegetação é de porte pequeno (arbustos, 
cipós e musgos) entremeada por árvores. É aqui que 
se encontram as plantas como a Vitória-Régia, plantas 
aquáticas ixadas no fundo das águas calmas cujas 
folhas boiam na superfície.
MATA DE VÁRZEA
Sofrem inundações periódicas em ciclos anuais. Nas 
porções mais elevadas o período inundado é curto, e 
há uma mistura de espécies de Terra Firme e Igapó, nas 
que têm períodos ais longos inundados a vegetação é 
adaptada.
Quadro 1 
Fonte : do autor
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 71
4.1.1.3 O Bioma Cerrado
Este é o segundo maior bioma da América do Sul, 
com área de mais de 2 milhões de km2, , no Brasil ocupa 
22% da área do território, nos estados de Goiás, 
Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, 
Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e 
Distrito Federal. Há 
ocorrências de cerrado também no Amapá, Roraima e Amazonas.
Por ocorrer nas geologias antigas e de solos mais profundos, ocupa em geral o 
centro da plataforma sul-americana, em planaltos que são divisores de 
águas das bacias hidrográficas da Amazônia, do Tocantins, do São Francisco 
e do Prata. 
O Cerrado apresenta grande abundância de espécies endêmicas (que 
ocorrem somente nele), mas vem sofrendo uma excepcional perda de habitat. 
A diversidade biológica dele abriga 11.627 espécies de plantas nativas já 
catalogadas. Existe uma grande diversidade de habitats, que determinam 
uma notável alternância de espécies entre diferentes itoisionomias, de 
mamíferos conhecem-se 199 espécies, da avifauna, cerca de 837 espécies, os 
peixes somam mais de 1.200 espécies, repteis são 180 espécies e anfíbios 150.
No ambiente do Cerrado vivem populações que utilizam dos recursos naturais 
de forma tradicional, como: várias etnias indígenas, quilombolas, geraizeiros, 
ribeirinhos, babaçueiras e vazanteiros. A importância destas comunidades é 
o conhecimento tradicional de sua biodiversidade, que se apresentam mais
de 10 tipos de frutos comestíveis regularmente consumidos pela população
local e vendidos nos centros urbanos, como os frutos do Pequi (Caryocar
brasiliense), Buriti (Mauritia lexuosa), Mangaba (Hancornia speciosa), Cagaita
(Eugenia dysenterica), Bacupari (Salacia crassifolia), Cajuzinho do cerrado
(Anacardium humile), Araticum (Annona crassifolia) e as sementes do Barú
(Dipteryx alata).
Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o bioma brasileiro que mais sofreu 
alterações e remoção com a ocupação humana, pela necessidade de produção 
de carne e grãos para exportação, tem havido um progressivo esgotamento 
dos recursos naturais da região. Nas três últimas décadas, o Cerrado vem 
Visitar o site da PortalBrasil.
http://www.portalbrasil.
net/cerrado_conservacao.
htm
Aula 4 - Biogeograia72
sendo degradado pela expansão da fronteira agrícola brasileira. Além disso, o 
bioma Cerrado é palco de uma exploração extremamente predatória de seu 
material lenhoso para produção de carvão.
4.1.1.4 O Bioma Caatinga
Cerca de 11% do território brasileiro é de caatinga, conhecida 
também como Sertão Nordestino, estendendo-se pelos estados 
de Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande 
do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais. É rica em 
biodiversidade, abrigando 178 espécies de mamíferos, 591 de 
aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes e 
221 abelhas. A população que vive nela soma aproximadamente 27 
milhões de pessoas, que dependem dos recursos do bioma para 
sobreviver. Nela praticam-se diversas atividades econômicas voltadas para 
ins agrosilvipastoris e industriais, especialmente nos ramos farmacêutico, de 
cosméticos, químico e de alimentos.
O clima da Caatinga é semiárido (entre 500 e 900 mm/ano de chuvas), com 
períodos de chuva entre março e junho, mas as ‘trovoadas’, como são chamadas 
as precipitações pelo sertanejo, nem sempre ocorrem todos os anos e em toda 
a área a pluviosidade varia muito, tendo períodos de até cinco anos sem chuva. 
Essa semiaridez força a vegetação a se prevenir dos períodos secos, assumindo 
características morfológicas (aspecto da vegetação) de proteção, como: folhas 
cobertas por serosidade, espinhos e cascas grossas para evitar perdas de água, 
no período seco as árvores e arbustos secam e perdem as folhas e assumem 
um aspecto esbranquiçado. Dessa característica esbranquiçada é que lhe deu 
o nome, ‘mata branca’ do tupi-guarani.
A sua ocupação pelo europeu iniciou com o ciclo da cana-de-açúcar no litoral 
nordestino, na zona da mata (que se implantou na ata Atlântica do litoral a 
partir do século XVI e XVII), para criação de bovinos e caprinos como alimento 
para a atividade açucareira. Desde então ela vem sendo descaracteriza, 
restando pouco do bioma em estado natural.
Visitar o site da Associação 
Caatinga.
http://www.acaatinga.org.
br/index.php/sobre/
Vídeo Caatinga
http://www.youtube.com/
watch?v=w4UW3HUfxxw
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 73
Atualmente, o bioma vem sendo desmatado de forma acelerada, devido, 
principalmente, ao consumo de lenha nativa para a população de baixa renda 
para ins domésticos (já que não tem outra forma de obter combustível para 
a cozinha), indústrias, ao sobrepastoreio (pastejo além do que suporta a 
ecologia do bioma) e a conversão para pastagens e agricultura. O Ministério 
do Meio Ambiente estima em 46% de área desmatada do bioma.
4.1.1.5 O Bioma Pantanal
O Pantanal é o de menor extensão territorial no Brasil, com 
área aproximada de 150.355 km², ou 1,76% do território 
brasileiro. Ele é uma planície aluvial, inluenciada por rios que 
drenam a bacia do Alto Paraguai, e tem inluência do clima 
de outros biomas: a Amazônia, o Cerrado e Mata Atlântica. 
Terrenos aluviais
São terrenos baixos e planos 
junto aos cursos de água e 
formadas pela deposição 
de materiais aluviais 
provenientes da erosão de 
montante, constituídos por 
areia, silte e argila.
Fonte : www.noticiaanimal.com.br/bicho-do-dia Fonte : http://caliandradocerradogo.blogspot.com.br 
O Cabeça-Seca (Mycteria 
americana) pode ser 
encontrado em todo o 
Brasil, mas principalmente 
no Pantanal. No continente 
americano, habita do sul 
dos Estados Unidos até a 
Argentina. Sempre próximo 
à água, sendo uma ave 
gregária (vive em bandos) e 
de hábitos diurnos.
O Tuiuiú é conhecido 
também por Jaburu, Jabiru, 
Tuiuguaçú, Tuinim, Tuim-
de-Papo-Vermelho (Mato 
Grosso), Cauauá (Amazônia), 
Tuiuiú-Coral e Jaburu-
Moleque. A palavra “jaburu” 
em tupi-guarani é uma 
alusão ao modo de andar da 
ave, “da que é inchada”.
É encontrada desde a Região 
Norte até São Paulo, Santa 
Catarina e Rio Grande do Sul 
e Bahia, e desde o México 
até o Paraguai, o Uruguai 
e o norte da Argentina. 
Com até 1,60m de altura 
e até 3m de envergadura 
(medida de uma ponta 
da asa aberta à outra), 
utiliza-se, principalmente, 
das correntes de ar quente 
ascendentes para voar.
O Renascimento da vida no 
Pantanal, da rede Globo.
http://www.youtubeEsse bioma também se estende ao Paraguai e Bolívia, nos quais recebe o no 
nome de Chaco.
O Pantanal é um dos mais preservados do país, com 86,77% de sua cobertura 
vegetal nativa. A maior parte da vegetação é pouco mais de 81%, entre 
cerrados típicos, cerrados gramíneos (savana estépica), formações pioneiras 
e áreas de tensão ecológica ou contatos lorísticos (ecótonos e encraves). A 
vegetação lorestal (loresta estacional semi-decidual e lo res ta estacional 
decidual) representa 5,07%, os outros 11,54% do bioma são alterados por ação 
antrópica, utilizados para a criação extensiva de gado em pastos plantados e 
pouco é utilizado para lavoura.
Algumas espécies ameaçadas da avifauna, principalmente, persistem 
em quantidades expressivas no Pantanal, como o Cabela Seca e o Tuiuiú 
(este como símbolo do bioma).
Figura 3 – Tuiuiú Figura 4 – Cabeça- Seca
Aula 4 - Biogeograia74
O Pantanal abriga 263 espécies de peixes, 41 espécies de anfíbios, 113 
espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos sendo 2 
endêmicas. Segundo a Embrapa Pantanal, quase duas mil espécies de plantas 
já foram identiicadas no bioma e classiicadas de acordo com seu potencial, e 
algumas apresentam vigoroso potencial medicinal.
No pantanal também encontram-se comunidades tradicionais cuja vida se 
liga à natureza de forma direta, como: as indígenas, quilombolas, os coletores 
de iscas ao longo do Rio Paraguai. No decorrer dos anos essas comunidades 
inluenciaram diretamente na formação cultural da população pantaneira.
4.1.1.6. O Bioma Pampa
O bioma Pampa restringe-se ao estado do Rio Grande do Sul, no 
Brasil, ocupando uma área de 176.496 km², que equivale a 63% 
do território gaúcho e 2,07% do território brasileiro. Ele apresenta 
serras a planícies, morros e coxilhas. As paisagens naturais do 
Pampa se caracterizam pelo predomínio dos campos nativos, 
mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, 
matas de pau-ferro, formações arbustivas, banhados e aloramentos rochosos. 
O bioma também é compartilhado por terras do Uruguai e Argentina.
Em sua paisagem predominam os campos, entremeados por capões de mata, 
matas ciliares e banhados. A paisagem vegetal dos campos pampeanos – se 
comparada à das lorestas e das savanas – é mais simples e menos exuberante, 
mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços 
ambientais.
O conhecimento desse bioma ainda não conseguiu dar conta de sua totalidade, 
mas estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas, 
com notável diversidade de gramíneas, são mais de 450 espécies 
(campim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode e cabelos-de-
porco). Essas gramíneas compõem os campos naturais que também conta 
com espécies de leguminosas (150 espécies) como a babosa-do-campo, o 
amendoim-nativo e 
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 75
Figura 5 – Gaúcho reunindo bovinos no Pampa
Fonte : http://mochilabrasil.uol.com.br/destinos/uruguai-dos-pampas-ao-litoral
O pampa é utilizado para 
a criação de animais de 
corte, como os bovinos e os 
ovinos. Esses animais foram 
introduzidos no bioma 
quando o europeu chegou 
ao sul do Brasil, no Uruguai 
e Argentina, países por 
onde o Pampa se estende. 
Como as gramíneas nativas 
não se desenvolveram com 
a existência de animais 
herbívoros, o pastejo 
realizado por esses animais 
vem causando manchas de 
solo sem vegetação que 
têm sido erodidos pela 
ação dos fortes ventos 
vindos do sul (minuano). 
Esse fenômeno, de áreas 
sem vegetação com 
sedimentos erodidos pelo 
vento, é denominado de 
ARENIzAÇÃO.
o trevo-nativo. Nas áreas de aloramentos rochosos podem ser encontradas
muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do
Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia
farnesiana) arbusto endêmicos.
A fauna possui quase 500 espécies de aves, dentre elas a ema (Rhea americana), 
o perdigão (Rynchotus rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o caminheiro-
de-espora (Anthus correndera), o sabiá-do-campo (Mimus saturninus) e o pica-
pau do campo (Colaptes campestres). Os mamíferos terrestres somam pouco
mais de 100 espécies, incluindo o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus),
o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão
(Galictis cuja), o tatu-mulita (Dasypus hybridus e várias espécies de tuco-tucos
(Ctenomys sp). Há expressiva quantidade de espécies endêmicas, como o beija-
lor-de-barba-azul (Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha
(Melanophryniscus atroluteus) algumas ameaçadas de extinção.
Desde a colonização europeia, a pecuária extensiva sobre os campos nativos 
tem sido a principal atividade econômica da região. A progressiva introdução 
e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm 
levado a uma rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais 
do Pampa. Estimativas contabilizam que restavam em 2008 apenas 36,03% da 
vegetação nativa.
Aula 4 - Biogeograia76
O bioma Pampa insere-se no contexto de áreas de campos temperados. Cerca 
de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja isionomia se caracteriza 
pela cobertura vegetal desses campos, mas pouco resta de todos eles.
4.2 Trabalhos de campo em Biogeograia
Os trabalhos de campo em biogeograia é hoje um procedimentos de 
apreensão e análise da espacialização dos seres vivos no ambiente estudado 
em relação com os demais fatores do meio, considerando a ação antrópica. Ele 
utiliza principalmente a observação e a descrição (método empírico).
Os trabalhos de campo em biogeograia podem diagnosticar diversas 
situações e conirmar dados obtidos durante estudos de gabinete, integrando 
diferentes escalas de abordagem. Para tanto, utilizam-se procedimentos de 
pesquisa quantitativos (inventário, registro e levantamento de dados diversos) 
e qualitativos (observação e descrição), que possibilitam importantes 
interpretações das causas destas condições e a elaboração de mapas temáticos. 
Ele pode ser resumido em três etapas:
• Etapa de Planejamento (em gabinete);
• Etapa de Execução (em campo);
• Etapa de Elaboração do Relatório (em gabinete).
Na etapa de planejamento, devemos procurar organizar as atividades a serem 
realizadas em campo, elaborando-se um plano de trabalho. É importante 
e necessário que se procure obter um conhecimento prévio da área a ser, 
consultando-se livros, artigos e outros documentos impressos, e mapas, fotos 
aéreas, e outras fontes.
Pode ser interessante também conhecer o signiicado dos nomes dos lugares 
(topônimos), pois a partir do nome, que em muitos casos foi nomeado 
pelo aspecto de sua paisagem, como Apicum-Açu (grande apicum) 
Buritizal (muitos Buritis), Anajatuba (concentração de palmeira Anajá), 
Juazeiro (uma 
Para inalizarmos nossa 
apreensão sobre a 
biogeograia assista ao 
ilme Mudanças globais 
na vegetação. http://
videoseducacionais.cptec.
inpe.br/swf/mud_clima/09_
mudancas_globais_da_
vegetacao/09_mudancas_
globais_da_vegetacao.swf
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 77
árvore da caatinga), Cedral (muitos Cedros). É possível obter informações 
importantes sobre a história e a geograia da área. Esta etapa envolve também 
o levantamento dos recursos e equipamentos (roupas e instrumentos)
necessários à pesquisa.
A etapa empírica é a execução do campo, que, de acordo com o tempo 
disponível para realização, da dimensão do projeto e procedimentos utilizados 
(dependendo do tamanho da área estudada, dos recursos existentes etc.) 
pode ser organizada para facilitar a obtenção dos resultados. O caderno de 
campo permite importantesregistros, que ajudarão em trabalhos posteriores.
Na terceira etapa o pesquisador escreverá o relatório das atividades realizadas 
no campo. Nele constarão todas as informações que o pesquisador julgar 
pertinentes, serão relacionadas as informações recolhidas no campo com as 
obtidas em gabinete, de modo que se obtenha um quadro representativo 
da área estudada. O que equivale dizer que o relatório de campo é um 
trabalho de caracterização, onde o pesquisador relatará suas observações e 
constatações aos leitores. Esse trabalho corresponde então ao entendimento 
do trabalho de campo enquanto método cientíico (sistemático, objetivo e 
organizado). Caso o trabalho de campo seja entendido apenas como a ida ao 
local de estudo, poderá facilmente ser comparado a uma excursão ou viagem 
de reconhecimento (que possuem objetivos distintos).
Uma forma das pesquisas de campo em biogeograia é a que procura entender 
a qualidade vegetacional de uma determinada área. Uma ferramenta nesse 
sentido é a que adaptamos de Passos e Ugidos (1996; PASSOS, 2012), baseada 
em trabalhos do francês Bertrand (1966), é a pirâmide de vegetação. As etapas 
desse trabalho são a contagem do número de indivíduos da vegetação, a 
abundância dominância e a sociabilidade. 
Na área de vegetação que se quer estudar devemos marcar com trena um 
quadrado de 30 a 50 metros. Nele fazemos caminhadas de reconhecimentos 
em faixas até cobrirmos toda a área, nas quais contamos o número de espécies 
existentes, dividindo-as entre estratos arbóreo, arborescente (árvores jovens), 
arbustivo, subarbustivo e herbáceo. Ao lado da ocorrência devemos anotar 
se as plantas são muito jovens, jovens, adultas jovens, adultas e adultas senis. 
Para classiicar a medida das plantas, devemos considerar a altura do estrato.
Aula 4 - Biogeograia78
Quadro 3 - Características das classes de cobertura pelos estratos
Fonte: do autor
Estrato arbóreo acima de 10 m
Estrato arborescente de 3 a 10m;
Estrato arbustivo de 0,5 a 3 m;
Estrato herbáceo de 0 a 0,5 m.
Pode haver casos nos quais as herbáceas são maiores que os 0,5 metros e as 
árvores abaixo dos 10 metros, bem como nos outros estratos, é conveniente 
fazer-se a pesquisa com uma pessoa conhecedora da vegetação local para se 
estabelecer esses parâmetros, já que estes são para lorestas úmidas.
Tendo contado todas as espécies e anotado sua fase de crescimento, faz-
se a contagem de todas agrupando os totais de cada estrato segundo sua 
qualiicação e percentagens. 
ClASSE CARACTERÍSTICAS
5 cobrindo entre 75% e 100%
4 cobrindo entre 50% e 75%
3 cobrindo entre 25% e 50%
2 cobrindo entre 10% e 25%
1 cobertura baixa, superando a 10%
Por exemplo, no estrato arbóreo tivemos uma quantidade de árvores de 234, 
no arborescente 88, no arbustivo 232 e no herbáceo 116. O total de espécies 
foi de 670, o que caracteriza os estratos para as seguintes percentagens 
aproximadas: arbóreo, 35% (classe 3); arborescentes, 13% (classe 2); arbustivo, 
35% (classe 3); herbáceo, 17% (classe 2).
Passamos então para a sociabilidade que qualiica como os indivíduos 
se organizam no fragmento estudado. Vejamos o quadro de classes e as 
características de sociabilidade.
Fonte: do autor
Quadro 2 - Altura dos estratos vegetacionais
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 79
Quadro 4 - Características de sociabilidade segundo as classes
Fonte: do autor
ClASSE CARACTERÍSTICAS de SOCIABIlIDADE
5 população contínua, manchas densas
4 crescimento em pequenas colônias - manchas densas pouco 
extensas
3 crescimento em grupos
2 agrupados em 2 ou 3
1 indivíduos isolados
A distribuição social dos estratos são então, anotados juntos às percentagens, 
o estrato arbóreo, que teve em nosso exemplo 35% e está na classe 3 de 
concentração dos totais, pode ser qualificada segundo a sociabilidade, 
como contínua (Classe 1), pequenas colônia (Classe 2), em grupos (Classe 3), 
grupos pequenos de 2 a 3 (Classe 2) ou isoladas (Classe1). Assim para todos 
os outros estratos. 
Finalmente, devemos pensar na dinâmica de cada estrato. Esta fase, depois 
de estarmos no campo, termos contado os indivíduos e classiicado sua 
sociabilidade, nos faz analisar que caminho está tomando o fragmento 
estudado. Ele pode estar equilibrado, quando as características encontradas 
forem parecidas com o bioma ao qual pertence, ou estar em progresso 
regenerativo, se estiver havendo crescimento da população jovem de 
determinado estrato, ou ainda regressivo, se houverem poucos indivíduos. 
Ao inal deste caderno você encontrará material, em anexo, para executar a 
pesquisa de campo em biogeograia. São: a Planilha de campo, o quadro para 
resumo das classes e um modelo em branco para construção de uma pirâmide.
Na planilha de campo deve ser discriminada a espécie e na 
quantidade marcar-se a ocorrência por riscos em quadrados, como no 
modelo (Quadro )4. Desta forma, usa-se uma linha para várias ocorrências 
e se evita o uso de mais linhas que dificultam a totalização. Se para 
cada categoria de vegetação for necessário mais de uma folha, numere no 
espaço superior reservado para isso.
Aula 4 - Biogeograia80
Quadro 5 - Exemplo de preenchimento de icha de campo vegetacional
Totalizando cada espécie, somamos todas da categoria arbórea, aborescente, 
arbustiva e herbácea para depois somarmos todas e chegarmos às 
percentagens. Tendo feito as percentagens, lançamos na planilha.
Quadro 6 -Exemplo de totais de espécies em percentagens encontradas em campo
Fonte: do autor
Fonte: do autor
Agora passamos a representar a sociabilidade, segundo o que percebemos 
em campo, como anotado na planilha. O exemplo é do estrato arbóreo, que 
foi designado como distribuído por todo o terreno. Como essa característica 
serve à maioria das espécies arbóreas, ela é escolhida. Com a inalidade de 
construirmos uma pirâmide completa, atribuímos valores de sociabilidade 
aos outros estratos, quais sejam: arborescente – 2; arbustivo – 4; herbáceo – 1.
Quadro 7 -Exemplo de sociabilidades vegetacionais
Fonte: do autor
A última etapa é a da dinâmica dos estratos. Neste aspecto marcamos por 
sentido de setas, para progresso a seta é para cima, regresso a seta é para 
baixo, equilíbrio a seta é dupla horizontal. Para o estrato arbóreo de nosso 
exemplo, os participantes do trabalho devem discutir qual a qualiicação 
dinâmica. Aqui entendemos, por ser loresta, que está em progresso, já que 
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 81
há signiicativa quantidade de arbustos e até herbáceas. Os outros estratos 
foram entendidos assim: arborescente – equilibrado; arbustivo – progresso; 
herbáceo – regressivo. Ficando assim, então:
Quadro 8 - exemplo de dinâmicas vegetacionais
Fonte: do autor
Estes procedimentos se repetem para todos os estratos. A observação do 
quadro de totalização já nos permite perceber em que estágio o fragmento 
estudado está, se em recuperação e em que estágio, se recuperado, se 
altamente degradado e longe de se recuperar. Feito este diagnóstico no 
campo, ações podem ser propostas para acelerar a recuperação, desde um 
replantio intenso (para locais muito degradados), até a opção de deixar que 
a área se recupere (em locais nos quais a quantidade de vegetação do bioma 
esteja presente).
Para efeitos visuais podemos, ainda, construir a pirâmide vegetacional. Nela o 
eixo ‘Y’ se refere às percentagens obtidas na contagem, o ‘X’ às categorias de 
sociabilidade. Ao lado de cada patamar de estrato, marcam-se as setas que 
estão na legenda conforme a dinâmica de cada estrato. 
Iniciamos pela parte inferior dos estratos. Primeiro marcamos a percentagem 
de herbáceas e sua qualiicaçãoem sociabilidade, 17% sociabilidade 1.
Figura 6 - Marcação do estrato herbáceo na pirâmide vegetacional
Fonte: do autor
Aula 4 - Biogeograia82
Repetimos esses passos para todos os estratos e teremos a 
pirâmide vegetacional construída.
Figura 7 -Pirâmide vegetacional com todos os estratos
Fonte: do autor
Notem que as percentagens de cada estrato estão sobre os inferiores, 
totalizando 100%.
Na parte inferior, observem que há uma descrição do solo, devemos 
preencher esta informação se foram feitas anotações sobre o solo da área. 
Essa informação é importante para se ter uma ideia mais completa de como 
está se processando o ciclo de nutrientes, a profundidade do horizonte ‘A’ e se 
há presença de restos em decomposição sobre o solo.
A pirâmide mostra, visualmente, o que se fez na pesquisa de campo. Ao 
lê-la podemos entender que há predominância de árvores, e arbustos que 
tendem a se estabelecer sobre as outras espécies, e o solo ainda guarda 
características de loresta, com nutrientes da decomposição das folhas e 
galhos da vegetação.
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 83
Atividades de aprendizagem
1. Bioma é o objeto da biogeograia. Dê uma deinição para bioma e para
biogeograia.
2. A produção do espaço pelo homem pode por em risco a existência da
biodiversidade, nesse sentido, explique qual é o bioma brasileiro mais
degradado pelo homem, e por quê?
3. O pampa vem sofrendo risco à sua biodiversidade pelo processo de
arenização dos solos. Quais fatores concorrem para que isso ocorra?
4. Hoje, o cerrado é o bioma mais pressionado quanto à ocupação. Explique 
o por quê?
Resumo
Nesta aula, estudamos a biogeografia. Ela desenvolveu seu universo 
de pesquisa nas relações dos elementos da natureza que originam as 
paisagens vegetais. Por isso, o conceito de Bioma foi o norteador deste 
item de nossos estudos. Assim especificamos os diferentes biomas 
brasileiros, relacionando-os aos fatores formadores.
Tratamos da diminuição dos espaços das paisagens naturais, dado o avanço 
das atividades humanas e propusemos uma atividade em biogeograia para 
construir habilidades e competências na análise direta das ações antrópicas, 
procurando apresentar mais esta ferramenta para a formação do técnico em 
controle ambiental.
Aula 4 - Biogeograia84
Referências
BERTRAND, G. Pour une etude geographique de la vegetation. Revue 
Geographique des Pyrenees et du Sud-Ouest. Toulouse. v. 37, p.129 - 145. 
1966.
IBGE. Atlas do Censo Demográico. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.
_______. Atlas do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2004.
PASSOS, M. M. A geograia e as novas tecnologias. Revista Geonorte, Edição 
Especial, V.4, N.4, p.136 – 145, 2012.
PASSOS, M. M. dos & UGIDOS, M. A. L. Estudo biogeográico da vegetação - 
as pirâmides. Sudoeste do Mato Grosso. Presidente Prudente: UNESP, 1996.
TEIXEIRA, W.et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oicina de textos, 2000.
TEREZO, C. F. Novo Dicionário de Geograia. São Paulo: LivroPronto, 2007.

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