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Parte III Cláudio Eduardo de Castro Aula 4 - Biogeografia ......................................................................................... 67 4.1 Biogeografia .................................................................................................................................. 67 4.1.1 Biomas brasileiros ............................................................................................................. 68 4.1.1.1 O Bioma Mata Atlântica ........................................................................................... 68 4.1.1.2 O Bioma Amazônico ................................................................................................. 69 4.1.1.3 O Bioma Cerrado ........................................................................................................ 71 4.1.1.4 O Bioma Caatinga ...................................................................................................... 72 4.1.1.5 O Bioma Pantanal ....................................................................................................... 73 4.1.1.6. O Bioma Pampa ......................................................................................................... 74 4.2 Trabalhos de campo em Biogeografia ................................................................................. 76 Referências ............................................................................................................................................ 84 SUMÁRIO PARTE 3 Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 67 Aula 4 - Biogeograia Objetivos • Entender o universo conceitual da biogeograia; • Apropriar-se do conceito de Bioma e dos variados biomas brasileiros; • Associar a diminuição dos biomas em quantidade e variedade, se- gundo a produção do espaço antrópico; • Desenvolver a capacidade de associar o que se viu até agora quanto à pedologia e climatologia aos biomas brasileiros; • Oferecer ferramentas para pesquisa local em biogeograia. 4.1 Biogeograia A biogeograia utiliza de variadas fontes cientíicas para seus objetivos, que é entender e classiicar a relação biológica de determinada área, em variadas escalas. Ela está ligada à ecologia, biologia, pedologia, geologia, climatologia botânica, zoologia e outras. Ela utiliza obrigatoriamente da associação de três fatores, os seres vivos, o clima e os solos. O Bioma, que é deinido como a relação entre o clima, a vegetação, a hidrograia e o relevo de uma determinada região, é a síntese biogeográica. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística (IBGE), são seis os biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. O mapa a seguir mostra suas localizações no território brasileiro Bioma Os biomas são as grandes formações vegetais presentes em diferentes continentes, cujas características comuns como fatores climáticos e latitude determinam uma única comunidade biológica dentro de uma área geográica deinida. Já as variações da vegetação encontradas dentro de um mesmo bioma - devido ao tipo de solo, topograia e disponibilidade de água - são conhecidas como ecossistemas. No Brasil, os biomas guardam 1/5 da biodiversidade mundial, com 50 mil espécies de plantas, cinco mil de vertebrados, 10 a 15 milhões de insetos e milhões de micro-organismos. Consultar o jogo: Missão Bioma. http://missaobioma. g1.globo.com/ Aula 4 - Biogeograia68 Figura 1 – Biomas brasileiros Fonte : IBGE, Atlas do Brasil, 2004 4.1.1 Biomas brasileiros 4.1.1.1 O Bioma Mata Atlântica A Mata Atlântica é detentora da segunda maior diversidade biológica do mundo. Nela encontram-se variados tipos de lorestas, a ombróila densa, com sua mata sempre verde, samambaias, bromélias e palmeiras, nas encostas da Serra do Mar e em ilhas entre os estados do Paraná e Rio de Janeiro. A loresta ombróila mista, nos planaltos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, com as araucárias (Araucária Angustifolia) símbolo do sul do Brasil. E, ainda, a floresta estacional semidecidual, cujas árvores perdem suas folhas na época seca, brejos, campos de altitude e manguezais. Por acompanhar o litoral do oceano Atlântico ela foi largamente removida pela ocupação humana desde a ocupação do Brasil pelos colonizadores europeus. Assim, 62% da população brasileira, responsável por 80% do PIB, encontram-se hoje no domínio do bioma. A destruição da Mata Atlântica está ligada aos sucessivos ciclos econômicos que tomaram conta do país desde Visitar o site da Organização SOS Mataatlântica http://www.sosma.org.br/ Ombróila signiica amigo das chuvas. Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 69 1500. Primeiro, com a extração de árvores como o pau-brasil, até sua quase extinção, passando à derrubada da loresta para o cultivo da cana-de-açúcar, até os plantios de café no Sudeste do País, já no século XX. No mapa de urbanização do Brasil, podemos notar a grande concentração de população e a maior concentração de grandes cidades nas faixas litorâneas. Figura 2 – População urbana no Brasil em 2000 Fonte : IBGE, Atlas do Censo Demográfico, (2000) O mapa mostra a concentração da população urbana no Brasil através de círculos. Podemos notar que as maiores cidades estão no litoral e em poucos pontos no interior do país. A ocupação pelo litoral, desde a chegada dos europeus, pressionou os biomas ali encontrados, bem como a Caatinga, durante o ciclo da cana-de-açúcar (como veremos logo mais). Com o advento da agricultura moderna e a interiorização da capital federal, áreas do interior passaram a receber núcleos urbanos voltados à produção agropecuária intensiva, pressionando também os biomas de Cerrado e Amazônia. O sul do país teve o pampa e a loresta subtropical pressionados a partir do século XVII, primeiro de portugueses dos Açores, depois italianos, alemães e poloneses. Algumas áreas, como a loresta de araucárias no Sul, têm sua situação próxima à extinção. No Paraná, restam apenas 0,8% da área original. Nas áreas do Nordeste a ocupação pela cana-de-açúcar criou o problema de haver sobrado atualmente espécies em apenas um ou dois fragmentos, que seriam literalmente riscadas do mapa caso estas áreas fossem desmatadas, que totalizam 178 espécies de árvores. 4.1.1.2 O Bioma Amazônico A Amazônia ocupa aproximadamente mais de 4.000.000 de km2, ou 40% do Brasil. Ela se constitui de variados tipos de loresta, mas diferentemente da Mata Atlântica, a unidade que possibilita sua existência, não é pela proximidade do oceano, mas pela associação de fatores, como o luxo de massas de ar hemisféricos. As lorestas se apresentam em forma de Terra Firme (loresta estacional), de Igapó, e de Campos Alagados e de Várzea. Nela ocorrem também savanas Visitar o site da Organização Instituto Socioambiental – ISA. http//:socioambiental.org.br e o do INPA, http://www.inpa.gov.br/ amazonia.html Aula 4 - Biogeograia70 (como o cerrado brasileiro), refúgios de vegetação montanhosa e formações pioneiras. Mesmo sendo o bioma mais preservado, quase 20% dela foi devastada. Hoje, ela não é mais considerada o ‘pulmão’ do planeta, mas sim um importante regulador climático, responsável por amenizar os efeitos do aquecimento que possivelmente o homem esteja causando ao planeta. Ela é considerada um grande ‘resfriador’ atmosférico e supera a Mata Atlântica em diversidade, com cerca de 30 milhões de espécies. A paisagem biogeográica amazônica abriga inúmeros povos indígenasque se valem diretamente da natureza para a manutenção de sua vida. Os conhecimentos desses povos vêm possibilitando a descoberta de produtos úteis à medicina, à saúde e ao uso em cosméticos e tratamentos de embelezamento. Seu potencial extrativo é muito grande, porém necessita de planejamento e manejo sustentável. Observe o quadro a seguir. FLORESTA CARACTERÍSTICA TERRA FIRME São as que estão em regiões mais altas, por isso nunca são inundadas pelos rios, mas a grande pluviosidade e o calor possibilitam que tenham árvores grandes, como a castanheira e as palmeiras. MATA DE IGAPÓ São as que se situam em terrenos baixos, quase sempre inundadas. A vegetação é de porte pequeno (arbustos, cipós e musgos) entremeada por árvores. É aqui que se encontram as plantas como a Vitória-Régia, plantas aquáticas ixadas no fundo das águas calmas cujas folhas boiam na superfície. MATA DE VÁRZEA Sofrem inundações periódicas em ciclos anuais. Nas porções mais elevadas o período inundado é curto, e há uma mistura de espécies de Terra Firme e Igapó, nas que têm períodos ais longos inundados a vegetação é adaptada. Quadro 1 Fonte : do autor Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 71 4.1.1.3 O Bioma Cerrado Este é o segundo maior bioma da América do Sul, com área de mais de 2 milhões de km2, , no Brasil ocupa 22% da área do território, nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal. Há ocorrências de cerrado também no Amapá, Roraima e Amazonas. Por ocorrer nas geologias antigas e de solos mais profundos, ocupa em geral o centro da plataforma sul-americana, em planaltos que são divisores de águas das bacias hidrográficas da Amazônia, do Tocantins, do São Francisco e do Prata. O Cerrado apresenta grande abundância de espécies endêmicas (que ocorrem somente nele), mas vem sofrendo uma excepcional perda de habitat. A diversidade biológica dele abriga 11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas. Existe uma grande diversidade de habitats, que determinam uma notável alternância de espécies entre diferentes itoisionomias, de mamíferos conhecem-se 199 espécies, da avifauna, cerca de 837 espécies, os peixes somam mais de 1.200 espécies, repteis são 180 espécies e anfíbios 150. No ambiente do Cerrado vivem populações que utilizam dos recursos naturais de forma tradicional, como: várias etnias indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras e vazanteiros. A importância destas comunidades é o conhecimento tradicional de sua biodiversidade, que se apresentam mais de 10 tipos de frutos comestíveis regularmente consumidos pela população local e vendidos nos centros urbanos, como os frutos do Pequi (Caryocar brasiliense), Buriti (Mauritia lexuosa), Mangaba (Hancornia speciosa), Cagaita (Eugenia dysenterica), Bacupari (Salacia crassifolia), Cajuzinho do cerrado (Anacardium humile), Araticum (Annona crassifolia) e as sementes do Barú (Dipteryx alata). Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o bioma brasileiro que mais sofreu alterações e remoção com a ocupação humana, pela necessidade de produção de carne e grãos para exportação, tem havido um progressivo esgotamento dos recursos naturais da região. Nas três últimas décadas, o Cerrado vem Visitar o site da PortalBrasil. http://www.portalbrasil. net/cerrado_conservacao. htm Aula 4 - Biogeograia72 sendo degradado pela expansão da fronteira agrícola brasileira. Além disso, o bioma Cerrado é palco de uma exploração extremamente predatória de seu material lenhoso para produção de carvão. 4.1.1.4 O Bioma Caatinga Cerca de 11% do território brasileiro é de caatinga, conhecida também como Sertão Nordestino, estendendo-se pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais. É rica em biodiversidade, abrigando 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes e 221 abelhas. A população que vive nela soma aproximadamente 27 milhões de pessoas, que dependem dos recursos do bioma para sobreviver. Nela praticam-se diversas atividades econômicas voltadas para ins agrosilvipastoris e industriais, especialmente nos ramos farmacêutico, de cosméticos, químico e de alimentos. O clima da Caatinga é semiárido (entre 500 e 900 mm/ano de chuvas), com períodos de chuva entre março e junho, mas as ‘trovoadas’, como são chamadas as precipitações pelo sertanejo, nem sempre ocorrem todos os anos e em toda a área a pluviosidade varia muito, tendo períodos de até cinco anos sem chuva. Essa semiaridez força a vegetação a se prevenir dos períodos secos, assumindo características morfológicas (aspecto da vegetação) de proteção, como: folhas cobertas por serosidade, espinhos e cascas grossas para evitar perdas de água, no período seco as árvores e arbustos secam e perdem as folhas e assumem um aspecto esbranquiçado. Dessa característica esbranquiçada é que lhe deu o nome, ‘mata branca’ do tupi-guarani. A sua ocupação pelo europeu iniciou com o ciclo da cana-de-açúcar no litoral nordestino, na zona da mata (que se implantou na ata Atlântica do litoral a partir do século XVI e XVII), para criação de bovinos e caprinos como alimento para a atividade açucareira. Desde então ela vem sendo descaracteriza, restando pouco do bioma em estado natural. Visitar o site da Associação Caatinga. http://www.acaatinga.org. br/index.php/sobre/ Vídeo Caatinga http://www.youtube.com/ watch?v=w4UW3HUfxxw Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 73 Atualmente, o bioma vem sendo desmatado de forma acelerada, devido, principalmente, ao consumo de lenha nativa para a população de baixa renda para ins domésticos (já que não tem outra forma de obter combustível para a cozinha), indústrias, ao sobrepastoreio (pastejo além do que suporta a ecologia do bioma) e a conversão para pastagens e agricultura. O Ministério do Meio Ambiente estima em 46% de área desmatada do bioma. 4.1.1.5 O Bioma Pantanal O Pantanal é o de menor extensão territorial no Brasil, com área aproximada de 150.355 km², ou 1,76% do território brasileiro. Ele é uma planície aluvial, inluenciada por rios que drenam a bacia do Alto Paraguai, e tem inluência do clima de outros biomas: a Amazônia, o Cerrado e Mata Atlântica. Terrenos aluviais São terrenos baixos e planos junto aos cursos de água e formadas pela deposição de materiais aluviais provenientes da erosão de montante, constituídos por areia, silte e argila. Fonte : www.noticiaanimal.com.br/bicho-do-dia Fonte : http://caliandradocerradogo.blogspot.com.br O Cabeça-Seca (Mycteria americana) pode ser encontrado em todo o Brasil, mas principalmente no Pantanal. No continente americano, habita do sul dos Estados Unidos até a Argentina. Sempre próximo à água, sendo uma ave gregária (vive em bandos) e de hábitos diurnos. O Tuiuiú é conhecido também por Jaburu, Jabiru, Tuiuguaçú, Tuinim, Tuim- de-Papo-Vermelho (Mato Grosso), Cauauá (Amazônia), Tuiuiú-Coral e Jaburu- Moleque. A palavra “jaburu” em tupi-guarani é uma alusão ao modo de andar da ave, “da que é inchada”. É encontrada desde a Região Norte até São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e Bahia, e desde o México até o Paraguai, o Uruguai e o norte da Argentina. Com até 1,60m de altura e até 3m de envergadura (medida de uma ponta da asa aberta à outra), utiliza-se, principalmente, das correntes de ar quente ascendentes para voar. O Renascimento da vida no Pantanal, da rede Globo. http://www.youtubeEsse bioma também se estende ao Paraguai e Bolívia, nos quais recebe o no nome de Chaco. O Pantanal é um dos mais preservados do país, com 86,77% de sua cobertura vegetal nativa. A maior parte da vegetação é pouco mais de 81%, entre cerrados típicos, cerrados gramíneos (savana estépica), formações pioneiras e áreas de tensão ecológica ou contatos lorísticos (ecótonos e encraves). A vegetação lorestal (loresta estacional semi-decidual e lo res ta estacional decidual) representa 5,07%, os outros 11,54% do bioma são alterados por ação antrópica, utilizados para a criação extensiva de gado em pastos plantados e pouco é utilizado para lavoura. Algumas espécies ameaçadas da avifauna, principalmente, persistem em quantidades expressivas no Pantanal, como o Cabela Seca e o Tuiuiú (este como símbolo do bioma). Figura 3 – Tuiuiú Figura 4 – Cabeça- Seca Aula 4 - Biogeograia74 O Pantanal abriga 263 espécies de peixes, 41 espécies de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos sendo 2 endêmicas. Segundo a Embrapa Pantanal, quase duas mil espécies de plantas já foram identiicadas no bioma e classiicadas de acordo com seu potencial, e algumas apresentam vigoroso potencial medicinal. No pantanal também encontram-se comunidades tradicionais cuja vida se liga à natureza de forma direta, como: as indígenas, quilombolas, os coletores de iscas ao longo do Rio Paraguai. No decorrer dos anos essas comunidades inluenciaram diretamente na formação cultural da população pantaneira. 4.1.1.6. O Bioma Pampa O bioma Pampa restringe-se ao estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, ocupando uma área de 176.496 km², que equivale a 63% do território gaúcho e 2,07% do território brasileiro. Ele apresenta serras a planícies, morros e coxilhas. As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, formações arbustivas, banhados e aloramentos rochosos. O bioma também é compartilhado por terras do Uruguai e Argentina. Em sua paisagem predominam os campos, entremeados por capões de mata, matas ciliares e banhados. A paisagem vegetal dos campos pampeanos – se comparada à das lorestas e das savanas – é mais simples e menos exuberante, mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços ambientais. O conhecimento desse bioma ainda não conseguiu dar conta de sua totalidade, mas estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, são mais de 450 espécies (campim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode e cabelos-de- porco). Essas gramíneas compõem os campos naturais que também conta com espécies de leguminosas (150 espécies) como a babosa-do-campo, o amendoim-nativo e Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 75 Figura 5 – Gaúcho reunindo bovinos no Pampa Fonte : http://mochilabrasil.uol.com.br/destinos/uruguai-dos-pampas-ao-litoral O pampa é utilizado para a criação de animais de corte, como os bovinos e os ovinos. Esses animais foram introduzidos no bioma quando o europeu chegou ao sul do Brasil, no Uruguai e Argentina, países por onde o Pampa se estende. Como as gramíneas nativas não se desenvolveram com a existência de animais herbívoros, o pastejo realizado por esses animais vem causando manchas de solo sem vegetação que têm sido erodidos pela ação dos fortes ventos vindos do sul (minuano). Esse fenômeno, de áreas sem vegetação com sedimentos erodidos pelo vento, é denominado de ARENIzAÇÃO. o trevo-nativo. Nas áreas de aloramentos rochosos podem ser encontradas muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana) arbusto endêmicos. A fauna possui quase 500 espécies de aves, dentre elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o caminheiro- de-espora (Anthus correndera), o sabiá-do-campo (Mimus saturninus) e o pica- pau do campo (Colaptes campestres). Os mamíferos terrestres somam pouco mais de 100 espécies, incluindo o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja), o tatu-mulita (Dasypus hybridus e várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp). Há expressiva quantidade de espécies endêmicas, como o beija- lor-de-barba-azul (Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) algumas ameaçadas de extinção. Desde a colonização europeia, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal atividade econômica da região. A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado a uma rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa. Estimativas contabilizam que restavam em 2008 apenas 36,03% da vegetação nativa. Aula 4 - Biogeograia76 O bioma Pampa insere-se no contexto de áreas de campos temperados. Cerca de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja isionomia se caracteriza pela cobertura vegetal desses campos, mas pouco resta de todos eles. 4.2 Trabalhos de campo em Biogeograia Os trabalhos de campo em biogeograia é hoje um procedimentos de apreensão e análise da espacialização dos seres vivos no ambiente estudado em relação com os demais fatores do meio, considerando a ação antrópica. Ele utiliza principalmente a observação e a descrição (método empírico). Os trabalhos de campo em biogeograia podem diagnosticar diversas situações e conirmar dados obtidos durante estudos de gabinete, integrando diferentes escalas de abordagem. Para tanto, utilizam-se procedimentos de pesquisa quantitativos (inventário, registro e levantamento de dados diversos) e qualitativos (observação e descrição), que possibilitam importantes interpretações das causas destas condições e a elaboração de mapas temáticos. Ele pode ser resumido em três etapas: • Etapa de Planejamento (em gabinete); • Etapa de Execução (em campo); • Etapa de Elaboração do Relatório (em gabinete). Na etapa de planejamento, devemos procurar organizar as atividades a serem realizadas em campo, elaborando-se um plano de trabalho. É importante e necessário que se procure obter um conhecimento prévio da área a ser, consultando-se livros, artigos e outros documentos impressos, e mapas, fotos aéreas, e outras fontes. Pode ser interessante também conhecer o signiicado dos nomes dos lugares (topônimos), pois a partir do nome, que em muitos casos foi nomeado pelo aspecto de sua paisagem, como Apicum-Açu (grande apicum) Buritizal (muitos Buritis), Anajatuba (concentração de palmeira Anajá), Juazeiro (uma Para inalizarmos nossa apreensão sobre a biogeograia assista ao ilme Mudanças globais na vegetação. http:// videoseducacionais.cptec. inpe.br/swf/mud_clima/09_ mudancas_globais_da_ vegetacao/09_mudancas_ globais_da_vegetacao.swf Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 77 árvore da caatinga), Cedral (muitos Cedros). É possível obter informações importantes sobre a história e a geograia da área. Esta etapa envolve também o levantamento dos recursos e equipamentos (roupas e instrumentos) necessários à pesquisa. A etapa empírica é a execução do campo, que, de acordo com o tempo disponível para realização, da dimensão do projeto e procedimentos utilizados (dependendo do tamanho da área estudada, dos recursos existentes etc.) pode ser organizada para facilitar a obtenção dos resultados. O caderno de campo permite importantesregistros, que ajudarão em trabalhos posteriores. Na terceira etapa o pesquisador escreverá o relatório das atividades realizadas no campo. Nele constarão todas as informações que o pesquisador julgar pertinentes, serão relacionadas as informações recolhidas no campo com as obtidas em gabinete, de modo que se obtenha um quadro representativo da área estudada. O que equivale dizer que o relatório de campo é um trabalho de caracterização, onde o pesquisador relatará suas observações e constatações aos leitores. Esse trabalho corresponde então ao entendimento do trabalho de campo enquanto método cientíico (sistemático, objetivo e organizado). Caso o trabalho de campo seja entendido apenas como a ida ao local de estudo, poderá facilmente ser comparado a uma excursão ou viagem de reconhecimento (que possuem objetivos distintos). Uma forma das pesquisas de campo em biogeograia é a que procura entender a qualidade vegetacional de uma determinada área. Uma ferramenta nesse sentido é a que adaptamos de Passos e Ugidos (1996; PASSOS, 2012), baseada em trabalhos do francês Bertrand (1966), é a pirâmide de vegetação. As etapas desse trabalho são a contagem do número de indivíduos da vegetação, a abundância dominância e a sociabilidade. Na área de vegetação que se quer estudar devemos marcar com trena um quadrado de 30 a 50 metros. Nele fazemos caminhadas de reconhecimentos em faixas até cobrirmos toda a área, nas quais contamos o número de espécies existentes, dividindo-as entre estratos arbóreo, arborescente (árvores jovens), arbustivo, subarbustivo e herbáceo. Ao lado da ocorrência devemos anotar se as plantas são muito jovens, jovens, adultas jovens, adultas e adultas senis. Para classiicar a medida das plantas, devemos considerar a altura do estrato. Aula 4 - Biogeograia78 Quadro 3 - Características das classes de cobertura pelos estratos Fonte: do autor Estrato arbóreo acima de 10 m Estrato arborescente de 3 a 10m; Estrato arbustivo de 0,5 a 3 m; Estrato herbáceo de 0 a 0,5 m. Pode haver casos nos quais as herbáceas são maiores que os 0,5 metros e as árvores abaixo dos 10 metros, bem como nos outros estratos, é conveniente fazer-se a pesquisa com uma pessoa conhecedora da vegetação local para se estabelecer esses parâmetros, já que estes são para lorestas úmidas. Tendo contado todas as espécies e anotado sua fase de crescimento, faz- se a contagem de todas agrupando os totais de cada estrato segundo sua qualiicação e percentagens. ClASSE CARACTERÍSTICAS 5 cobrindo entre 75% e 100% 4 cobrindo entre 50% e 75% 3 cobrindo entre 25% e 50% 2 cobrindo entre 10% e 25% 1 cobertura baixa, superando a 10% Por exemplo, no estrato arbóreo tivemos uma quantidade de árvores de 234, no arborescente 88, no arbustivo 232 e no herbáceo 116. O total de espécies foi de 670, o que caracteriza os estratos para as seguintes percentagens aproximadas: arbóreo, 35% (classe 3); arborescentes, 13% (classe 2); arbustivo, 35% (classe 3); herbáceo, 17% (classe 2). Passamos então para a sociabilidade que qualiica como os indivíduos se organizam no fragmento estudado. Vejamos o quadro de classes e as características de sociabilidade. Fonte: do autor Quadro 2 - Altura dos estratos vegetacionais Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 79 Quadro 4 - Características de sociabilidade segundo as classes Fonte: do autor ClASSE CARACTERÍSTICAS de SOCIABIlIDADE 5 população contínua, manchas densas 4 crescimento em pequenas colônias - manchas densas pouco extensas 3 crescimento em grupos 2 agrupados em 2 ou 3 1 indivíduos isolados A distribuição social dos estratos são então, anotados juntos às percentagens, o estrato arbóreo, que teve em nosso exemplo 35% e está na classe 3 de concentração dos totais, pode ser qualificada segundo a sociabilidade, como contínua (Classe 1), pequenas colônia (Classe 2), em grupos (Classe 3), grupos pequenos de 2 a 3 (Classe 2) ou isoladas (Classe1). Assim para todos os outros estratos. Finalmente, devemos pensar na dinâmica de cada estrato. Esta fase, depois de estarmos no campo, termos contado os indivíduos e classiicado sua sociabilidade, nos faz analisar que caminho está tomando o fragmento estudado. Ele pode estar equilibrado, quando as características encontradas forem parecidas com o bioma ao qual pertence, ou estar em progresso regenerativo, se estiver havendo crescimento da população jovem de determinado estrato, ou ainda regressivo, se houverem poucos indivíduos. Ao inal deste caderno você encontrará material, em anexo, para executar a pesquisa de campo em biogeograia. São: a Planilha de campo, o quadro para resumo das classes e um modelo em branco para construção de uma pirâmide. Na planilha de campo deve ser discriminada a espécie e na quantidade marcar-se a ocorrência por riscos em quadrados, como no modelo (Quadro )4. Desta forma, usa-se uma linha para várias ocorrências e se evita o uso de mais linhas que dificultam a totalização. Se para cada categoria de vegetação for necessário mais de uma folha, numere no espaço superior reservado para isso. Aula 4 - Biogeograia80 Quadro 5 - Exemplo de preenchimento de icha de campo vegetacional Totalizando cada espécie, somamos todas da categoria arbórea, aborescente, arbustiva e herbácea para depois somarmos todas e chegarmos às percentagens. Tendo feito as percentagens, lançamos na planilha. Quadro 6 -Exemplo de totais de espécies em percentagens encontradas em campo Fonte: do autor Fonte: do autor Agora passamos a representar a sociabilidade, segundo o que percebemos em campo, como anotado na planilha. O exemplo é do estrato arbóreo, que foi designado como distribuído por todo o terreno. Como essa característica serve à maioria das espécies arbóreas, ela é escolhida. Com a inalidade de construirmos uma pirâmide completa, atribuímos valores de sociabilidade aos outros estratos, quais sejam: arborescente – 2; arbustivo – 4; herbáceo – 1. Quadro 7 -Exemplo de sociabilidades vegetacionais Fonte: do autor A última etapa é a da dinâmica dos estratos. Neste aspecto marcamos por sentido de setas, para progresso a seta é para cima, regresso a seta é para baixo, equilíbrio a seta é dupla horizontal. Para o estrato arbóreo de nosso exemplo, os participantes do trabalho devem discutir qual a qualiicação dinâmica. Aqui entendemos, por ser loresta, que está em progresso, já que Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 81 há signiicativa quantidade de arbustos e até herbáceas. Os outros estratos foram entendidos assim: arborescente – equilibrado; arbustivo – progresso; herbáceo – regressivo. Ficando assim, então: Quadro 8 - exemplo de dinâmicas vegetacionais Fonte: do autor Estes procedimentos se repetem para todos os estratos. A observação do quadro de totalização já nos permite perceber em que estágio o fragmento estudado está, se em recuperação e em que estágio, se recuperado, se altamente degradado e longe de se recuperar. Feito este diagnóstico no campo, ações podem ser propostas para acelerar a recuperação, desde um replantio intenso (para locais muito degradados), até a opção de deixar que a área se recupere (em locais nos quais a quantidade de vegetação do bioma esteja presente). Para efeitos visuais podemos, ainda, construir a pirâmide vegetacional. Nela o eixo ‘Y’ se refere às percentagens obtidas na contagem, o ‘X’ às categorias de sociabilidade. Ao lado de cada patamar de estrato, marcam-se as setas que estão na legenda conforme a dinâmica de cada estrato. Iniciamos pela parte inferior dos estratos. Primeiro marcamos a percentagem de herbáceas e sua qualiicaçãoem sociabilidade, 17% sociabilidade 1. Figura 6 - Marcação do estrato herbáceo na pirâmide vegetacional Fonte: do autor Aula 4 - Biogeograia82 Repetimos esses passos para todos os estratos e teremos a pirâmide vegetacional construída. Figura 7 -Pirâmide vegetacional com todos os estratos Fonte: do autor Notem que as percentagens de cada estrato estão sobre os inferiores, totalizando 100%. Na parte inferior, observem que há uma descrição do solo, devemos preencher esta informação se foram feitas anotações sobre o solo da área. Essa informação é importante para se ter uma ideia mais completa de como está se processando o ciclo de nutrientes, a profundidade do horizonte ‘A’ e se há presença de restos em decomposição sobre o solo. A pirâmide mostra, visualmente, o que se fez na pesquisa de campo. Ao lê-la podemos entender que há predominância de árvores, e arbustos que tendem a se estabelecer sobre as outras espécies, e o solo ainda guarda características de loresta, com nutrientes da decomposição das folhas e galhos da vegetação. Universidade Estadual do Maranhão - UEMA / e-Tec Brasil 83 Atividades de aprendizagem 1. Bioma é o objeto da biogeograia. Dê uma deinição para bioma e para biogeograia. 2. A produção do espaço pelo homem pode por em risco a existência da biodiversidade, nesse sentido, explique qual é o bioma brasileiro mais degradado pelo homem, e por quê? 3. O pampa vem sofrendo risco à sua biodiversidade pelo processo de arenização dos solos. Quais fatores concorrem para que isso ocorra? 4. Hoje, o cerrado é o bioma mais pressionado quanto à ocupação. Explique o por quê? Resumo Nesta aula, estudamos a biogeografia. Ela desenvolveu seu universo de pesquisa nas relações dos elementos da natureza que originam as paisagens vegetais. Por isso, o conceito de Bioma foi o norteador deste item de nossos estudos. Assim especificamos os diferentes biomas brasileiros, relacionando-os aos fatores formadores. Tratamos da diminuição dos espaços das paisagens naturais, dado o avanço das atividades humanas e propusemos uma atividade em biogeograia para construir habilidades e competências na análise direta das ações antrópicas, procurando apresentar mais esta ferramenta para a formação do técnico em controle ambiental. Aula 4 - Biogeograia84 Referências BERTRAND, G. Pour une etude geographique de la vegetation. Revue Geographique des Pyrenees et du Sud-Ouest. Toulouse. v. 37, p.129 - 145. 1966. IBGE. Atlas do Censo Demográico. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. _______. Atlas do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. PASSOS, M. M. A geograia e as novas tecnologias. Revista Geonorte, Edição Especial, V.4, N.4, p.136 – 145, 2012. PASSOS, M. M. dos & UGIDOS, M. A. L. Estudo biogeográico da vegetação - as pirâmides. Sudoeste do Mato Grosso. Presidente Prudente: UNESP, 1996. TEIXEIRA, W.et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oicina de textos, 2000. TEREZO, C. F. Novo Dicionário de Geograia. São Paulo: LivroPronto, 2007.
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